Apóstolo Pedro – palestra 25.7.18
Apóstolo Pedro
estudo – CELC – 25.7.18 – Giovanni
- Primeiro encontro com o Mestre
- Pescadores de homens
- O adversário invisível
- Pedro tenta caminhar sobre as águas
- Oscilação de Pedro no bem e no mal
- Quantas vezes perdoar?
- Os maiores inimigos
- Eu não vim para curar os sãos…
- Pedro cortou a orelha do soldado Malco
- A negação de Pedro
- Simão Pedro – Condutor dos discípulos
- A Casa do Caminho
- Cura do coxo de nascença
- Hesitações de Pedro
- Pedro argumentou para os discípulos aceitarem Paulo
- Pedro não aceitou dinheiro
- Pedro curou a mulher que estava em estado de Letargia
- A casa do caminho estava mudada
- Paulo e Pedro em Antioquia
- Pedro a favor dos Gentios
- Morte de Simão Pedro
- Encontro de Pedro com Humberto de Campos
- Primeira Epístola de Pedro – Ensinamentos
- Segunda Epístola de Pedro – Ensinamentos
- Outras passagens referentes ao Apóstolo Pedro
- Bibliografia
- PRIMEIRO ENCONTRO COM O MESTRE
Evangelho de João – Capítulo 1
35 No dia seguinte João estava outra vez ali, com dois dos seus discípulos 36 e, olhando para Jesus, que passava, disse: Eis o Cordeiro de Deus! 37 Aqueles dois discípulos ouviram-no dizer isto, e seguiram a Jesus. 38 Voltando-se Jesus e vendo que o seguiam, perguntou-lhes: Que buscais? Disseram-lhe eles: rabi (que, traduzido, quer dizer Mestre), onde pousas? 39 Respondeu-lhes: Vinde, e vereis. Foram, pois, e viram onde pousava; e passaram o dia com ele; era cerca da hora décima. 40 André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram João falar, e que seguiram a Jesus. 41 Ele achou primeiro a seu irmão Simão, e disse-lhe: Havemos achado o Messias (que, traduzido, quer dizer Cristo). 42 E o levou a Jesus. Jesus, fixando nele o olhar, disse: Tu és Simão, filho de João, tu serás chamado Cefas (rocha).
- PESCADORES DE HOMENS
Evangelho de Marcos – Capítulo 1
14 Ora, depois que João foi entregue, veio Jesus para a Galiléia pregando o evangelho de Deus 15 e dizendo: O tempo está cumprido, e é chegado o reino de Deus. Arrependei-vos, e crede no evangelho. 16 E, andando junto do mar da Galiléia, viu a Simão, e a André, irmão de Simão, os quais lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores. 17 Disse-lhes Jesus: Vinde após mim, e eu farei que vos torneis pescadores de homens. 18 Então eles, deixando imediatamente as suas redes, o seguiram. 19 E ele, passando um pouco adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam no barco, consertando as redes, 20 e logo os chamou; eles, deixando seu pai Zebedeu no barco com os empregados, o seguiram.
- O ADVERSÁRIO INVISÍVEL
Livro: Pontos E Contos – Capítulo 36
À frente do Senhor, nos arredores de Sídon, quatro dos discípulos, após viagem longa por diferentes caminhos, a serviço da Boa Nova, relatavam os sucessos do dia, observados pelo Divino Amigo, em silêncio:
– Eu – dizia Pedro sob impressão forte -, surpreendido por quadro constrangedor. Impiedoso capataz batia, cruel, sobre o dorso nu de três mães escravas, cujos filhinhos choravam, estarrecidos. Um pensamento imperioso de auxílio dominou-me. Quis correr, sem detença, e, em nome da Boa Nova, socorrer aquelas mulheres desamparadas. Certo, não entraria em luta corporal com o desalmado fiscal de serviço, mas poderia, com a súplica, ajudá-lo a raciocinar. Quantas vezes, um simples pedido que nasce do coração aplaca o furor da ira?
O apostolo fixou um gesto significativo e acentuou: – No entanto, tive receio de entrar na questão, que me pareceu intrincada…Que diria o perverso disciplinador? Minha intromissão poderia criar dificuldades até mesmo para nós…
Continuava Jesus silencioso, mas Simão Pedro caminhou para ele e indagou:
– Mestre, que dizes? Desejamos efetivamente praticar o bem, mas como agir dentro das normas de amor que nos traças, se nos achamos, em toda parte do mundo, rodados de inimigos?
O Amigo Celeste, porém, considerou, breve:
– Pedro, todos os fracassos do dia constituem a resultante da ação de um só adversário que muitos acalentam. Esse adversário invisível é o medo. Tiveste medo da opinião dos outros, Tiago sentiu medo da reprovação alheia, Bartolomeu asilou o medo da perseguição e Felipe guardou o medo da crítica…
Aflito, o pescador de Cafarnaum interrogou: – Senhor, como nos livraremos de semelhante inimigo?
O Mestre sorriu compassivo e respondeu: – Quando o tempo e a dor difundirem, entre os homens, a legítima compreensão da vida e o verdadeiro amor ao próximo, ninguém mais temerá.
Em seguida, talvez porque o silêncio pesasse em excesso, afastou-se sozinho, na direção do mar.
- PEDRO TENTA CAMINHAR SOBRE AS ÁGUAS
Evangelho de Mateus – Capítulo 14
22 Logo em seguida obrigou os seus discípulos a entrar no barco, e passar adiante dele para o outro lado, enquanto ele despedia as multidões. 23 Tendo-as despedido, subiu ao monte para orar à parte. Ao anoitecer, estava ali sozinho. 24 Entrementes, o barco já estava a muitos estádios da terra, açoitado pelas ondas; porque o vento era contrário. 25 A quarta vigília da noite, foi Jesus ter com eles, andando sobre o mar. 26 Os discípulos, porém, ao vê-lo andando sobre o mar, assustaram-se e disseram: É um fantasma. E gritaram de medo. 27 Jesus, porém, imediatamente lhes falou, dizendo: Tende ânimo; sou eu; não temais. 28 Respondeu-lhe Pedro: Senhor! se és tu, manda-me ir ter contigo sobre as águas. 29 Disse-lhe ele: Vem. Pedro, descendo do barco, e andando sobre as águas, foi ao encontro de Jesus. 30 Mas, sentindo o vento, teve medo; e, começando a submergir, clamou: Senhor, salva-me. 31 Imediatamente estendeu Jesus a mão, segurou-o, e disse-lhe: Homem de pouca fé, por que duvidaste?
Livro: Parábolas e Ensinos De Jesus – Segunda Parte
A vida de Jesus e seus feitos são verdadeiramente maravilhosos. O seu poder dominava todos os elementos; a sua sabedoria conhecia todos os mistérios; por isso a sua ação era prodigiosa. Médium Divino que resumiu todos os dons e conversava com todos os grandes Profetas do Além que o seguiam em sua Missão e o auxiliavam, Ele caminha por sobre o mar a pés enxutos, de acordo com a lei da levitação dos corpos que o Espiritismo ensina e explica atualmente. Seus discípulos, vendo-o caminhar sobre as águas, e como era noite, não o conheceram distintamente, julgando tratar-se da aparição de algum Espírito, fato que parece, tinham já observado várias vezes, dado o temor que lhes sobreveio e sua exclamação: “É um fantasma!” Depois de o Mestre se haver dado a conhecer, foram tomados de confiança e Pedro suplicou-lhe permissão para ir ao seu encontro “por cima das águas” Acedendo Jesus, Pedro sai da barca envolto nos fluidos de seu Mestre, e também auxiliado na levitação pelos Espíritos que acompanhavam a Jesus, até que, vacilando, isto é, perdendo a fé, perdeu o auxílio superior e se foi submergindo! Reconhecendo, cheio de temor, o desamparo divino, apela novamente para Jesus, sendo por este amparado; ao contato com o Nazareno, volta-lhe a fé, e foi transportado para a barca em companhia do Mestre. Este fato maravilhou tanto aos que estavam na barca, que adoraram a Jesus, dizendo: “Verdadeiramente és Filho de Deus!”.
- OSCILAÇÃO DE PEDRO NO BEM E NO MAL
Evangelho de Mateus – Capítulo 16
13 Tendo Jesus chegado às regiões de Cesaréia de Felipe, interrogou os seus discípulos, dizendo: Quem dizem os homens ser o Filho do homem? 14 Responderam eles: Uns dizem que é João, o Batista; outros, Elias; outros, Jeremias, ou algum dos profetas. 15 Mas vós, perguntou-lhes Jesus, quem dizeis que eu sou? 16 Respondeu-lhe Simão Pedro: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. 17 Disse-lhe Jesus: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelou, mas meu Pai, que está nos céus. 18 Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do hades não prevalecerão contra ela; 19 dar-te-ei as chaves do reino dos céus; o que ligares, pois, na terra será ligado nos céus, e o que desligares na terra será desligado nos céus. 20 Então ordenou aos discípulos que a ninguém dissessem que ele era o Cristo. 21 Desde então começou Jesus Cristo a mostrar aos seus discípulos que era necessário que ele fosse a Jerusalém, que padecesse muitas coisas dos anciãos, dos principais sacerdotes, e dos escribas, que fosse morto, e que ao terceiro dia ressuscitasse. 22 E Pedro, tomando-o à parte, começou a repreendê-lo, dizendo: Tenha Deus compaixão de ti, Senhor; isso de modo nenhum te acontecerá. 23 Ele, porém, voltando-se, disse a Pedro: Para trás de mim, Satanás, que me serves de escândalo; porque não estás pensando nas coisas que são de Deus, mas sim nas que são dos homens.
- QUANTAS VEZES PERDOAR?
Evangelho de Mateus – Capítulo 18
21 Então Pedro, aproximando-se dele, lhe perguntou: Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu hei de perdoar? Até sete? 22 Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete; mas até setenta vezes sete.
Livro: Boa Nova – Capítulo 10
Jesus sentiu de perto a delicadeza da situação que o lhe criara com a primeira investida dos inimigos gratuitos de sua doutrina; mas, aproveitou todas as oportunidades para as melhores lições na esfera do ensinamento.
No entanto, o mesmo não aconteceu a seus discípulos. Filipe e Simão Pedro chegaram a questionar seriamente com alguns senhores da região, trocando palavras ásperas, em torno das edificações do Messias. As gargalhadas irônicas, as apreciações menos dignas lhes acendiam no ânimo propósitos impulsivos de defesas apaixonadas. Não faltavam os que viam no Senhor um servo ativo do espírito do mal, um inimigo de Moisés, um assecla de príncipes desconhecidos, ou de traidores ao poder político de Ântipas. Tamanhas foram as discussões em Nazaré, que os seus reflexos nocivos se faziam sentir fortemente sobre toda a comunidade dos discípulos. Pedro e André advogavam a causa do Mestre com expressões incisivas e sinceras. Tiago aborrecia-se com a análise dos companheiros. Levi protestava, expressando o desejo de instituir debates públicos, de maneira a evidenciar-se a superioridade dos ensinos do Messias, em confronto com os velhos textos.
– Mestre, chamaram-vos servo de Satanás e reagimos prontamente! dizia Pedro, com sinceridade ingênua.
– Observávamos que por vós mesmo nunca oporíeis a contradita ajuntava Filipe, convicto de haver prestado excelente serviço ao Mestre bem-amado e por isso revidamos aos ataques com a maior força de nossas expressões.
Afinal, saindo de suas reflexões silenciosas, o Mestre interrogou:
– Acaso poderemos colher uvas nos espinheiros? De modo algum me empenharia em Nazaré numa contradita estéril aos meus opositores. Contudo, procurei ensinar que a melhor réplica é sempre a do nosso próprio trabalho, do esforço útil que nos seja possível. Nesse particular, não deixei de operar na minha esfera de ação, de modo a produzir resultados a nossa excursão à cidade vizinha, tornando-a proveitosa, sem desdenhar as palavras construtivas no instante oportuno. De que serviriam as longas discussões públicas, cheias de insultas e zombarias? Ao termo de todas elas, teríamos apenas menores probabilidades para o triunfo glorioso do amor e maiores motivos para a separatividade e odiosas dissensões. Só devemos dizer aquilo que o coração pode testemunhar mediante atos sinceros, porque, de outra forma, as afirmações são simples ruído sonoro de uma caixa vazia.
– Mestre atalhou Filipe, quase com mágoa —, a verdade é que a maioria de quantos compareceram às rogações de Nazaré falava mal de vós!
– Mas, não será vaidade exigirmos que toda gente tenha de nossa personalidade elevado conceito? Interrogou Jesus com energia e serenidade. Nas ilusões que as criaturas da Terra inventaram para a sua própria vida, nem sempre constitui bom atestado da nossa conduta o falarem todos bem de nós, indistintamente. Agradar a todos é marchar pelo caminho largo, onde estão as mentiras da convenção. Servir a Deus é tarefa que deve estar acima de tudo e, por vezes, nesse serviço divino, é natural que desagrademos aos mesquinhos interesses humanos. Filipe, sabes de algum emissário de Deus que fosse bem apreciado no seu tempo? Todos os portadores da verdade do céu são incompreendidos de seus contemporâneos. Portanto, é indispensável consideremos que o conceito justo é respeitável, mas, antes dele, necessitamos obter a aprovação legítima da consciência, dentro de nossa lealdade para com Deus.
– Mestre obtemperou Simão Pedro, a quem as explicações da hora calavam profundamente —, nos acontecimentos mais fortes da vida, não deveremos, então, utilizar as palavras enérgicas e justas?
– Em toda circunstância, convém naturalmente que se diga o necessário, porém, é também imprescindível que não se perca tempo.
Ambos os discípulos compreenderam e se puseram a meditar, enquanto o Cristo continuava:
– O que é indispensável é nunca perdermos de vista o nosso próprio trabalho, sabendo perdoar com verdadeira espontaneidade de coração. Se nos labores da vida um companheiro nos parece insuportável, é possível que também algumas vezes sejamos considerados assim. Temos que perdoar aos adversários, trabalhar pelo bem dos nossos inimigos, auxiliar os que zombam da nossa fé.
Nesse ponto de suas afirmativas, Pedro atalhou-o, dizendo: – Mas, para perdoar não deveremos aguardar que o inimigo se arrependa? E que fazer, na hipótese de o malfeitor assumir a atitude dos lobos sob a pele da ovelha?
– Pedro, o perdão não exclui a necessidade da vigilância, como o amor não prescinde da verdade. A paz é um patrimônio que cada coração está obrigado a defender, para bem trabalhar no serviço divino que lhe foi confiado. Se o nosso irmão se arrepende e procura o nosso auxílio fraterno, amparemo-lo com as energias que possamos despender; mas, em nenhuma circunstância cogites de saber se o teu irmão está arrependido. Esquece o mal o trabalha pelo bem. Quando ensinei que cada homem deve conciliar-se depressa com o adversário, busquei salientar que ninguém pode ir a Deus com um sentimento de odiosidade no coração. Não poderemos saber se o nosso adversário está disposto à conciliação; todavia, podemos garantir que nada se fará sem a nossa boa-vontade e pleno esquecimento dos males recebidos. Se o irmão infeliz se arrepender, estejamos sempre dispostos a ampará-lo e, a todo momento, precisamos e devemos olvidar o mal.
Foi quando, então, fez Simão Pedro a sua célebre pergunta: “Senhor, quantas vezes pecará meu irmão contra mim, que lhe hei de perdoar? Será até sete vezes?”
Jesus respondeu-lhe, calmamente: – Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete.
- OS MAIORES INIMIGOS
Livro: Luz Acima – Capítulo 31
Certa feita, Simão Pedro perguntou a Jesus: – Senhor, como saberei onde vivem nossos maiores inimigos? Quero combatê-los, a fim de trabalhar com eficiência pelo Reino de Deus.
Iam os dois de caminho entre Cafarnaum e Magdala, ao sol rutilante de perfumada manhã. O Mestre ouviu e mergulhou-se em longa meditação. Insistindo, porém, o discípulo, ele respondeu benevolamente: – A experiência tudo revela no momento preciso.
– Oh! – exclamou Simão, impaciente – a experiência demora muitíssimo.
O Amigo Divino esclareceu, imperturbável: – Para os que possuem “olhos de ver” e “ouvidos de ouvir”, uma hora, às vezes, basta ao aprendizado de inesquecíveis lições.
Pedro calou-se, desencantado. Antes que pudesse retornar às interrogações, notou que alguém se escondia por trás de velhas figueiras, erguidas à margem. O apóstolo empalideceu e obrigou o Mestre a interromper a marcha, declarando que o desconhecido era um fariseu que procurava assassiná-lo. Com palavras ásperas desafiou o viajante anônimo a afastar-se, ameaçando-o, sob forte irritação. E quando tentava agarrá-lo, à viva força, diamantina risada se fez ouvir. A suposição era injusta. Ao invés de um fariseu, foi André, o próprio irmão dele, quem surgiu sorridente, associando-se à pequena caravana. Jesus endereçou expressivo gesto a Simão e obtemperou: – Pedro, nunca te esqueças de que o medo é um adversário terrível.
Recomposto o grupo, não haviam avançado muito, quando avistaram um levita que recitava passagens da Torá e lhes dirigiu a palavra, menos respeitoso. Simão inchou-se de cólera. Reagiu e discutiu, longe das noções de tolerância fraterna, até que o interlocutor fugiu, amedrontado. O Mestre, até então silencioso, fixou no aprendiz os olhos muito lúcidos e inquiriu: – Pedro, qual é a primeira obrigação do homem que se candidata ao Reino Celeste?
A resposta veio clara e breve: – Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.
– Terás observado a regra sublime, neste conflito? – continuou o Cristo, serenamente – recorda que, antes de tudo, é indispensável nosso auxílio ao que ignora o verdadeiro bem e não olvides que a cólera é um perseguidor cruel.
Mais alguns passos e encontraram Teofrasto, judeu grego dado à venda de perfumes, que informou sobre certo Zeconias, leproso curado pelo profeta nazareno e que fugira para Jerusalém, onde acusava o Messias com falsas alegações. O pescador não se conteve. Gritou que Zeconias era um ingrato, relacionou os benefícios que Jesus lhe prestara e internou-se em longos e amargosos comentários, amaldiçoando-lhe o nome.
Terminando, o Cristo indagou-lhe: – Pedro, quantas vezes perdoarás a teu irmão?
– Até setenta vezes sete – replicou o apóstolo, humilde.
O Amigo Celeste contemplou-o, calmo, e rematou: – A dureza é um carrasco da alma.
Não atravessaram grande distância e cruzaram com Rufo Grácus, velho romano semiparalítico, que lhes sorriu, desdenhoso, do alto da liteira sustentada pelos escravos fortes. Marcando-lhe o gesto sarcástico, Simão falou sem rebuços: – Desejaria curar aquele pecador impenitente, a fim de dobrar-lhe o coração para Deus.
Jesus, porém, afagou-lhe o ombro e ajuntou: – Por que instituiríamos a violência no mundo, se o próprio Pai nunca se impôs a ninguém? E, ante o companheiro desapontado, concluiu: – A vaidade é um verdugo sutil.
Daí a minutos, para repasto ligeiro, chegavam à hospedaria modesta de Aminadab, um seguidor das ideias novas. À mesa, um certo Zadias, liberto de Cesárea, se pôs a comentar os acontecimentos políticos da época. Indicou os erros e desmandos da Corte Imperial, ao que Simão correspondeu, colaborando na poda verbalística. Dignitários e filósofos, administradores e artistas de além-mar sofreram apontamentos ferinos. Tibério foi invocado com impiedosas recriminações.
Finda a animada palestra, Jesus perguntou ao discípulo se acaso estivera alguma vez em Roma.
O esclarecimento veio depressa: – Nunca.
O Cristo sorriu e observou: – Falaste com tamanha desenvoltura sobre o Imperador que me pareceu estar diante de alguém que com ele houvesse privado intimamente. Em seguida, acrescentou: – Estejamos convictos de que a maledicência é algoz terrível.
O pescador de Cafarnaum silenciou, desconcertado.
O Mestre contemplou a paisagem exterior, fitando a posição do astro do dia, como a consultar o tempo, e, voltando-se para o companheiro invigilante, acentuou, bondoso: – Pedro, há precisamente uma hora procurava situar o domicilio de nossos maiores adversários. De então para cá, cinco apareceram, entre nós: o medo, a cólera, a dureza, a vaidade e a maledicência… Como reconheces, nossos piores inimigos moram em nosso próprio coração. E, sorrindo, finalizou: – Dentro de nós mesmos, será travada a guerra maior.
- EU NÃO VIM PARA CURAR OS SÃOS…
Livro: Relatos Da Vida – Capítulo: No Evangelho Nascente
Enquanto o Mestre ouvia alguns doentes na intimidade do lar de Simão Pedro, eis que um cavaleiro e duas damas se adiantam a consultá-lo.
Vinham de pontos diversos. Estranhos entre si. Contudo, partilhando a mesma expectativa, permutavam impressões dando-se a conhecer.
O rude pescador de Cafarnaum observava-os, atento.
As sussurrantes palavras que trocavam eram realmente chocantes. Supunham fosse Jesus um feiticeiro vulgar e buscavam-lhe os dons mágicos.
Eliakim, o recém-chegado, era um mercador de olhos astutos que proletava a obtenção de certa propriedade, pertencente a um dos tios que estava a morrer. Tratava-se de uma vinha fecunda, suscetível de aumentar-lhe os bens. Ambicionava-lhe a posse por baixo preço e não se resignaria a perdê-la. Ouvira tantas alusões a Jesus, que não vacilava em rogar-lhe a interferência. No condição de mago eficiente, o Cristo, decerto, lhe facultaria a realização do negócio, sem maior sacrifício.
Dea, a mulher mais idosa, trazia assunto mais grave. Pretendia vingar-se de antiga companheira que lhe transviara o marido. Via-se agoniada, infeliz. Preferia a morte à renúncia. Não perdoaria à impostora que lhe deixara o lar deserto. Vinha ao famoso Mestre, suplicar-lhe a intercessão de modo a matá-la. Recompensá-lo-ia dignamente desde que pudesse ver Efraim, o esposo, humilhado aos seus pés.
Ruth, a mais nova, passou a expor o caso que a preocupava. Queria casar-se, mas Salatiel, o noivo, parecia esquivar-se. Mostrava-se desinteressado, frio. Esperava que Jesus lhe auxiliasse, infundindo ao homem amado mais intensa afetividade, de vez que o moço ganhava distância, pouco a pouco.
O apóstolo registrava um ou outro apontamento, agastadiço. Ciente de que o Mestre atendia em sala próxima, demandou o interior e explicou-lhe a situação. Os consulentes revelavam o maior desrespeito.
Eliakim era um negociante voraz e ambas as mulheres pareciam subjugadas por apetites inferiores.
Jesus meditou alguns instantes e, fixando o discípulo, solicitou, prestimoso: – Pedro, as tarefas desta hora não me permitem serviços outros. Vai, porém, aos nossos hóspedes e socorre-os, ajudando-me a encontrar o caminho de melhor auxiliá-los.
O pescador voltou à presença dos forasteiros, dispondo-se a escutá-los, em nome do Salvador. Quando lhes anotou os propósitos de viva voz, enrubesceu, indignado. Levantou-se, trêmulo, e gritou sob forte crise de cólera:
– Malditos! Fora daqui! O Mestre não aceita ladrões e mulheres relapsas!…
Cravando o olhar no comerciante, sentenciou: – Vai roubar noutra parte! Que a vinha de teus parentes seja o inferno onde te cures da cupidez!
Aos ouvidos de Dea, brandou: – Assassina! Não somos teus sequazes… Certamente foste abandonada pelo marido em razão das chagas de ódio que te consomem o coração!… Mata como quiseres e deixa-nos em paz.
Em seguida, concentrando a atenção sobre Ruth, que tremia de medo, o apóstolo ordenou: – Saia daqui, amaldiçoada! A mulher que concorre à posse dos homens não passa de meretriz…
Amedrontados, os três abandonaram o recinto, precipitadamente. Impulsivo, Simão cerrou com barulho a porta sobre eles. Ao se voltar, porém, para trás, na atitude de quem triunfara no serviço que lhe coubera fazer, deu com Jesus, que o contemplava tristemente. Reparando que os olhos do amigo celeste se represavam de lágrimas que não chegavam a cair, o aprendiz, como criança estouvada que se humilha à frente do amor paterno, tentou afagar-lhe as mãos e falou em voz modificada:
– Senhor, porventura não estarás satisfeito? Poderemos, acaso, usar tratamento diverso para com aqueles que nos desfiguram o serviço? Não percebestes que os três se encontram sob o império de espíritos Satânicos?
Jesus acariciou-lhe os ombros, de leve, e respondeu: – Pedro, todos podem descobrir feridas, onde as feridas de destacam. Contudo, raros sabem remediá-las. Não te solicitei formulasses acusações. Para isso, o mundo está repleto de críticos e censores. Eliakim, efetivamente, traz consigo o gênio perverso da usura. Dea está sob a influência do monstro da vingança e Ruth sofre o assédio de vampiros da carne. Entretanto, notei que, ao ouvi-los, deste, por tua vez, guarida ao demônio da intolerância e da crueldade. Sombra por sombra, dá sempre um total de treva.
– Senhor, não me recomendaste, porém, socorrê-los?
– Sim – acentuou Jesus, melancólico -, mas não te roguei desiludi-los ou desprezá-los. Pedi me ajudasse a encontrar o caminho do auxílio e, como sabes. Pedro, eu não vim para curar os sãos…
Pesado silêncio invadiu a sala. E porque o Mestre regressasse aos enfermos, com paciência e humildade, o discípulo mergulhou a cabeça entre as mãos e, olhando para dentro de si mesmo, começou a enxugar as próprias lágrimas.
- PEDRO CORTOU A ORELHA DO SOLDADO MALCO
Evangelho de Mateus – Capítulo 26
47 E estando ele ainda a falar, eis que veio Judas, um dos doze, e com ele grande multidão com espadas e varapaus, vinda da parte dos principais sacerdotes e dos anciãos do povo. 48 Ora, o que o traía lhes havia dado um sinal, dizendo: Aquele que eu beijar, esse é: prendei-o. 49 E logo, aproximando-se de Jesus disse: Salve, Rabi. E o beijou. 50 Jesus, porém, lhe disse: Amigo, a que vieste? Nisto, aproximando-se eles, lançaram mão de Jesus, e o prenderam. 51 E eis que um dos que estavam com Jesus, estendendo a mão, puxou da espada e, ferindo o servo do sumo sacerdote, cortou-lhe uma orelha. 52 Então Jesus lhe disse: Mete a tua espada no seu lugar; porque todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão. 53 Ou pensas tu que eu não poderia rogar a meu Pai, e que ele não me mandaria agora mesmo mais de doze legiões de anjos? 54 Como, pois, se cumpririam as Escrituras, que dizem que assim convém que aconteça? 55 Disse Jesus à multidão naquela hora: Saístes com espadas e varapaus para me prender, como a um salteador? Todos os dias estava eu sentado no templo ensinando, e não me prendestes. 56 Mas tudo isso aconteceu para que se cumprissem as Escrituras dos profetas. Então todos os discípulos, deixando-o fugiram. (Lucas 22:51 – Jesus curou a orelha do soldado Malco; João 18:10 – Foi Pedro que feriu o soldado Malco)
- A NEGAÇÃO DE PEDRO
Evangelho de Mateus – Capítulo 26
30 E tendo cantado um hino, saíram para o Monte das Oliveiras. 31 Então Jesus lhes disse: Todos vós esta noite vos escandalizareis de mim; pois está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas do rebanho se dispersarão. 32 Todavia, depois que eu ressurgir, irei adiante de vós para a Galiléia. 33 Mas Pedro, respondendo, disse-lhe: Ainda que todos se escandalizem de ti, eu nunca me escandalizarei. 34 Disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que esta noite, antes que o galo cante três vezes me negarás. 35 Respondeu-lhe Pedro: Ainda que me seja necessário morrer contigo, de modo algum te negarei. E o mesmo disseram todos os discípulos.
Evangelho de Mateus – Capítulo 26
69 Ora, Pedro estava sentado fora, no pátio; e aproximou-se dele uma criada, que disse: Tu também estavas com Jesus, o galileu. 70 Mas ele negou diante de todos, dizendo: Não sei o que dizes. 71 E saindo ele para o vestíbulo, outra criada o viu, e disse aos que ali estavam: Este também estava com Jesus, o nazareno. 72 E ele negou outra vez, e com juramento: Não conheço tal homem. 73 E daí a pouco, aproximando-se os que ali estavam, disseram a Pedro: Certamente tu também és um deles pois a tua fala te denuncia. 74 Então começou ele a praguejar e a jurar, dizendo: Não conheço esse homem. E imediatamente o galo cantou. 75 E Pedro lembrou-se do que dissera Jesus: Antes que o galo cante, três vezes me negarás. E, saindo dali, chorou amargamente.
Livro: Boa Nova – Cap 26
O ato do Messias, lavando os pés de seus discípulos, encontrou certa incompreensão da parte de Simão Pedro. O velho pescador não concordava com semelhante ato de extrema submissão. E, chegada a sua vez, obtemperou, resoluto:
– Nunca me lavareis os pés, Mestre; meus companheiros estão sendo ingratos e duros neste instante, deixando-vos praticar esse gesto, como se fôsseis um escravo vulgar.
Em seguida a essas palavras, lançou à assembleia um olhar de reprovação e desprezo, enquanto Jesus lhe respondia:
– Simão, não queiras ser melhor que os teus irmãos de apostolado, em nenhuma circunstância da vida. Em verdade, assevero-te que, sem o meu auxílio, não participarás com meu espírito das alegrias supremas da redenção.
O antigo pescador de Cafarnaum aquietou-se um pouco, fazendo calar a voz de sua generosidade quase infantil. Terminada a lição e retomando o seu lugar à mesa, o Mestre parecia meditar gravemente.
Vendo que Jesus repetia uma vez mais aquelas recomendações de despedida, Pedro, dando expansão ao seu temperamento Irrequieto, adiantou-se, indagando:
– Afinal, Senhor, para onde ides?
O Mestre lhe lançou um olhar sereno, fazendo-lhe sentir o interesse que lhe causava a sua curiosidade e redarguiu:
– Ainda não te encontras preparado para seguir-me. O testemunho é de sacrifício e de extrema abnegação e somente mais tarde entrarás na posse da fortaleza indispensável. Simão, no entanto, desejando provar por palavras aos companheiros o valor da sua dedicação, acrescentou, com certa ênfase, ao propósito de se impor à confiança do Messias: Não posso seguir-vos? Acaso, Mestre, podereis duvidar de minha coragem? Então, não sou um homem? Por vós darei a minha própria vida. O Cristo sorriu e ponderou:
– Pedro, a tua inquietação se faz credora de novos ensinamentos. A experiência te ensinará melhores conclusões, porque, em verdade, te afirmo que esta noite o galo não cantará sem que me tenhas negado por três vezes. Julgai-me então, um espírito mau e endurecido a esse ponto? indagou o pescador, sentindo-se ofendido.
– Não, Pedro adiantou o Mestre, com doçura —, não te Suponho ingrato ou indiferente aos meus ensinos. Mas vais aprender, ainda hoje, que o homem do mundo é mais frágil do que perverso.
Pedro não quis acreditar nas afirmações do Messias e tão logo se verificara a sua prisão, no pressuposto de demonstrar o seu desassombro e boa disposição para a defesa do Evangelho do Reino, atacou com a espada um dos servos do sumo sacerdote de Jerusalém, compelindo o Mestre as mais severas observações.
O velho pescador de Cafarnaum sentiu a hostilidade com que teria de lutar, para socorrer o Messias, e experimento um frio angustioso no coração. Sua resolução parecia vencida. A alma ansiosa se deixava dominar por dúvidas e aflições. Começou a pensar nos seus familiares, em suas necessidades comuns, nas convenções de Jerusalém, que ele não poderia afrontar sem pesados castigos. Com o cérebro fervilhando de expectativas e cogitações de defesa própria, penetrou no extenso pátio, onde se adensava a multidão.
Para logo, uma das servas da casa se aproximou dele e exclamou, surpreendida:
– Não és tu um dos companheiros deste homem? indagou, designando a cela onde Jesus se achava encarcerado.
O pescador refletiu um momento e, reconhecendo que o instante era decisivo, respondeu, dissimulando a própria emoção:
– Estás enganada. Não sou. O apóstolo ponderou aquela primeira negativa e pôs-se a considerar que semelhante procedimento, aos seus olhos, era o mais razoável, porquanto tinha de empregar todas as Possibilidades ao seu alcance, a favor de Jesus.
Fingindo despreocupação, o irmão de André se dirigiu a uma pequena aglomeração de populares, onde cada qual procurava esquivar-se ao frio intenso da noite, aquentando-se junto de um braseiro. Novamente um dos circunstantes, reconhecendo-o, o interpelou nestes termos:
– Então, vieste socorrer o teu Mestre?
– Que Mestre? – perguntou o pescador de Cafarnaum, entre receoso e assustado. – Nunca fui discípulo desse homem.
Fornecida essa explicação, todo o grupo se sentiu a vontade para comentar a situação do prisioneiro. Longas horas passaram-se para Simão Pedro, que tinha o coração a duelar-se com a própria consciência, naqueles instantes penosos em que fora chamado ao testemunho. A noite ia adiantada, quando alguns servidores vieram servir bilhas de vinho. Um deles, encarando o discípulo com certo espanto, exclamou de súbito:
– É este!… É bem aquele discípulo que nos atacou a espada, entre as árvores do horto!…
Simão ergueu-se, pálido, e protestou:
– Estás enganado, amigo! Vê que isso não seria possível!… Logo que pronunciou sua derradeira negativa, os galos da vizinhança cantaram em vozes estridentes, anunciando a madrugada.
Pedro recordou as palavras do Mestre e sentiu-se perturbado por infinita angústia. Levantou-se cambaleante e, voltando-se instintivamente para a cela em que o Mestre se achava prisioneiro, viu o semblante sereno de Jesus a contemplá-lo através das grades singelas.
Presa de indizível remorso, o apóstolo retirou-se, envergonhado de si mesmo. Dando alguns passos, alcançou os muros exteriores, onde se deteve a chorar amargamente. Ele, que fora sempre homem ríspido e resoluto, que condenara invariavelmente os transviados da verdade e do bem, que nunca conseguira perdoar às mulheres mais infelizes, ali se encontrava, abatido como uma criança, em face de sua própria falta. Começava a entender a razão de certas experiências dolorosas de seus irmãos em humanidade. Em seu espírito como que desabrochava uma fonte de novas considerações pelos infortunados da vida. Desejava, ansiosamente, ajoelhar-se ante o Messias e suplicar-lhe perdão para a sua queda dolorosa.
Através do véu de lágrimas que lhe obscurecia os olhos, Simão Pedro experimentou uma visão consoladora e generosa. Figurou-se lhe que o Mestre vinha vê-lo, em espírito, na solidão da noite, trazendo nos lábios aquele mesmo sorriso sereno de todos os dias. Ante a emoção confortadora e divina, Pedro ajoelhou-se e murmurou:
– Senhor, perdoai-me!
Mas, nesse instante, nada mais viu, na confusão de seus angustiados pensamentos. Luar alvíssimo enfeitava de luz as vielas desoladas. Foi aí que o antigo pescador refletiu mais austeramente, lembrando as advertências amigas de Jesus, quando lhe dizia: “Pedro, o homem do mundo é mais frágil do que perverso!. . .“.
Livro: O Consolador – Pergunta 320
Que ensinamentos nos oferece a negação de Pedro?
– A negação de Pedro serve para significar a fragilidade das almas humanas, perdidas na invigilância e na despreocupação da realidade espiritual, deixando-se conduzir, indiferentemente, aos torvelinhos mais tenebrosos do sofrimento, sem cogitarem de um esforço legítimo e sincero, na definitiva edificação de si mesmas.
- SIMÃO PEDRO – CONDUTOR DOS DISCÍPULOS
Evangelho de João – Capítulo 21
15 Depois de terem comido, perguntou Jesus a Simão Pedro: Simão Pedro: Simão, filho de
João, amas-me mais do que estes? Respondeu- lhe: Sim, Senhor; tu sabes que te amo.
Disse-lhe: Apascenta os meus cordeirinhos. 16 Tornou a perguntar-lhe: Simão, filho de João, amas-me? Respondeu-lhe: Sim, Senhor; tu sabes que te amo. Disse-lhe: Pastoreia as minhas ovelhas. 17 Perguntou-lhe terceira vez: Simão, filho de João, amas-me? Entristeceu-se Pedro por lhe ter perguntado pela terceira vez: Amas- me? E respondeu-lhe: Senhor, tu sabes todas as coisas; tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta as minhas ovelhas.
Livro: Estante da Vida – Capítulo 40 – Por que, Senhor?
… E Nicodemos, o grande Nicodemos dos dias primeiros do Evangelho, passou a contar-nos;
– Depois da aparição do Senhor aos quinhentos da Galiléia, certo dia, ao entardecer, detive-me à beira do lago de suas pregações, rogando a Ele me dissipasse as dívidas. Ante os ensinamentos divinos, eu experimentava o entrechoque em torno das idéias de justiça e misericórdia, responsabilidade e perdão… De que maneira conciliar o bem e o mal? como estabelecer a diferença entre prêmio e castigo? Atormentado, perante as exigências da Lei de que eu era intérprete, supliquei-lhe a palavra e eis que, de súbito, o Excelso Benfeitor apareceu junto de mim… Prostrei-me na areia e Jesus, aproximando-se, tocou-me, de leve, a cabeça fatigada, e inquiriu:
– Nicodemos, que pretendes de mim?
– Senhor, ouvi dizer que deste a Pedro o papel de condutor dos teus discípulos… Porquê? não é ele o colaborador que te negou três vezes?!
– Exatamente por isso… Na dor do remorso pelas próprias fraquezas, Simão ganhará mais força para ser fiel… Mais que os outros companheiros, ele sabe agora quanto custa o sofrimento da deserção…
- A CASA DO CAMINHO
Livro: Paulo e Estevão – Parte 1 – Capítulo 3
— Mas é quase impossível — atalhou Tiago. — Estamos com quarenta e nove doentes acamados.
Pedro esboçou um sorriso generoso e obtemperou:
— Ora, Tiago, se estivéssemos pescando, seria justo nos eximíssemos desse ou daquele dever que exorbitasse a esfera das obrigações inadiáveis de cada dia, junto da família, cuja organização vem de Deus; mas agora o Mestre nos legou o trabalho de assistência a todos os seus filhos, no sofrimento. Presentemente, nosso tempo se destina a isso; vejamos, pois, o que é possível fazer.
Era por esse motivo que a residência de Pedro, doação de vários amigos do “Caminho”, regurgitava de enfermos e desvalidos sem esperança. Eram velhos a exibirem úlceras asquerosas, procedentes de Cesaréia; loucos que chegavam das regiões mais longínquas, conduzidos por parentes ansiosos de alívio; crianças paralíticas, da Iduméia, nos braços maternais, todos atraídos pela fama do profeta nazareno, que ressuscitava os próprios mortos e sabia restituir tranquilidade aos corações mais infortunados do mundo.
Natural era que nem todos se curassem, o que obrigava o velho pescador a agasalhar consigo todos os necessitados, com carinho de um pai. Recolhendo-se ali, com a família, era auxiliado particularmente por Tiago, filho de Alfeu, e por João; mas, em breve, Filipe e suas filhas instalavam-se igualmente em Jerusalém, cooperando no grande esforço fraternal. Tamanho o movimento de necessitados de toda sorte, que há muito Simão não mais podia entregar-se a outro ofício, no concernente à pregação da Boa Nova do Reino. A dilatação desses trabalhos vinculara o antigo discípulo aos maiores núcleos do judaísmo dominante. Obrigado a valer-se do socorro dos elementos mais notáveis da cidade, Pedro sentia-se cada vez mais escravo dos seus amigos benfeitores e dos seus pobres beneficiados, acorridos de toda parte, em grau de recurso supremo ao seu espírito de discípulo abnegado e sincero.
A casa dos apóstolos, em Jerusalém, apresentava um movimento de socorro aos necessitados cada vez maior, requerendo vasto coeficiente de carinho e dedicação. Eram loucos a chegarem de todas as províncias, anciães abandonados, crianças esquálidas e famintas. Não só isso. À hora habitual das refeições, extensas filas de mendigos comuns imploravam a esmola da sopa. Acumulando tarefas com ingente sacrifício, João e Pedro, com o concurso dos companheiros, haviam construído um pavilhão modesto, destinado aos serviços da igreja, cuja fundação iniciavam para difundir as mensagens da Boa Nova. A assistência aos pobres, entretanto, não dava tréguas ao labor das ideias evangélicas. Foi quando João considerou irrazoável que os discípulos diretos do Senhor menosprezassem a sementeira da palavra divina e despendessem todas as possibilidades de tempo no serviço do refeitório e das enfermarias, visto que, dia a dia, multiplicava o número de doentes e infelizes que recorriam aos seguidores de Jesus como a última esperança para os seus casos particulares. Havia enfermos que batiam à porta, benfeitores da nova instituição que requeriam situações especiais para os seus protegidos, amigos que reclamavam providências a favor dos órfãos e das viúvas.
Na primeira reunião da igreja humilde, Simão Pedro pediu, então, nomeassem sete auxiliares para o serviço das enfermarias e dos refeitórios resolução que foi aprovada com geral aprazimento. Entre os sete irmãos escolhidos, Estevão foi designado com a simpatia de todos.
- CURA DO COXO DE NASCENÇA
Atos dos apóstolos – Capítulo 3
1 Pedro e João subiam ao templo à hora da oração, a nona. 2 E, era carregado um homem, coxo de nascença, o qual todos os dias punham à porta do templo, chamada Formosa, para pedir esmolas aos que entravam. 3 Ora, vendo ele a Pedro e João, que iam entrando no templo, pediu que lhe dessem uma esmola. 4 E Pedro, com João, fitando os olhos nele, disse: Olha para nós. 5 E ele os olhava atentamente, esperando receber deles alguma coisa. 6 Disse-lhe Pedro: Não tenho prata nem ouro; mas o que tenho, isso te dou; em nome de Jesus Cristo, o nazareno, anda. 7 Nisso, tomando-o pela mão direita, o levantou; imediatamente os seus pés e artelhos se firmaram 8 e, dando ele um salto, pôs-se em pé. Começou a andar e entrou com eles no templo, andando, saltando e louvando a Deus. 9 Todo o povo, ao vê-lo andar e louvar a Deus, 10 reconhecia-o como o mesmo que estivera sentado a pedir esmola à Porta Formosa do templo; e todos ficaram cheios de pasmo e assombro, pelo que lhe acontecera. 11 Apegando-se o homem a Pedro e João, todo o povo correu atônito para junto deles, ao pórtico chamado de Salomão. 12 Pedro, vendo isto, disse ao povo: Varões israelitas, por que vos admirais deste homem? Ou, por que fitais os olhos em nós, como se por nosso próprio poder ou piedade o tivéssemos feito andar? 13 O Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, o Deus de nossos pais, glorificou a seu Servo Jesus, a quem vós entregastes e perante a face de Pilatos negastes, quando este havia resolvido soltá-lo. 14 Mas vós negastes o Santo e Justo, e pedistes que se vos desse um homicida; 15 e matastes o Autor da vida, a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, do que nós somos testemunhas. 16 E pela fé em seu nome fez o seu nome fortalecer a este homem que vedes e conheceis; sim, a fé, que vem por ele, deu a este, na presença de todos vós, esta perfeita saúde.
Atos dos apóstolos – Capítulo 4
18 E, chamando-os, ordenaram-lhes que absolutamente não falassem nem ensinassem em nome de Jesus. 19 Mas Pedro e João, respondendo, lhes disseram: Julgai vós se é justo diante de Deus ouvir-nos antes a vós do que a Deus; 20 pois nós não podemos deixar de falar das coisas que temos visto e ouvido. 21 Mas eles ainda os ameaçaram mais, e, não achando motivo para os castigar, soltaram-nos, por causa do povo; porque todos glorificavam a Deus pelo que acontecera; 22 pois tinha mais de quarenta anos o homem em quem se operara esta cura milagrosa.
- HESITAÇÕES DE PEDRO
Livro: Luz Acima – Capítulo 36
Logo depois de se estabelecerem os apóstolos em Jerusalém, em seguida às revelações do Pentecostes, ia o serviço de assistência social maravilhosamente organizado, não obstante as perseguições que se esboçavam, quando a casa acolhedora, dirigida por Simão Pedro, foi procurada por infeliz mulher.
Trazia consigo todos os estigmas das pecadoras. Fora lapidada e exibia manchas sanguinolentas na roupa em frangalhos. Pronunciava palavras torpes. Revelava-se semilouca e doente.
As senhoras do reduto cristão retraíram-se, alarmadas.
E o próprio Pedro, que recebera preciosas lições do Senhor, vacilou quanto à atitude que lhe seria adequada.
Como haver-se nas circunstâncias? Destinava-se aquele abrigo ao recolhimento de criaturas desventuradas; entretanto, como classificar a triste posição daquela mulher que, naturalmente, buscara o vaso da angústia nos excessivos gozos da vida? Não estaria a sofredora resgatando os próprios débitos? Se bebera com loucura na taça dos prazeres, não lhe caberia o fel da aflição? Dispunha-se a rogar-lhe que se afastasse do asilo, quando recordou a necessidade de orar. Se o caso era omisso nas disposições que regiam o instituto fraterno, tornava-se imperioso consultar a inspiração do Messias. O Mestre lhe ditaria o recurso. Buscar-lhe-ia, por isso, o conselho na prece ardente.
Enquanto a infortunada aguardava resposta, sob o apupo de pequena multidão que lhe contemplava as feridas, o apostolo buscou a solidão do santuário doméstico, e exorou a proteção do Amigo Divino, que fora crucificado.
Em breves instantes viu Jesus, nimbado de claridade resplandecente, não longe de suas mãos, que se estenderam suplicantes:
– Mestre – rogou Pedro, atacando diretamente o assunto, como quem sabia da brevidade daqueles momentos inesquecíveis -, temos à entrada uma pecadora reconhecidamente entregue ao mal! Ajuda-me, inspira-me!… que farei?!…
O Salvador entreabriu os lábios sublimes e falou: – Pedro, eu não vim curar os sãos…
O discípulo entendeu a referência, mas, ponderando a grave responsabilidade de quem administra, acentuou: – Senhor, estamos agora sem tua orientação direta e visível. Recebê-la-emos neste lar, para que? A fim de julgá-la?
Com o mesmo olhar sereno, Jesus replicou: Nesse mister permanecem na Terra numerosos juizes.
– Para fazer-lhe sentir a extensão dos erros? – indagou Simão, em lágrimas.
– Não, Pedro – tornou o Mestre -, para dar-lhe conhecimento da penúria em que vive, conta nossa irmã, nas vias públicas, milhares de bocas que amaldiçoam e outras tantas mãos que apedrejam.
– Para conferir-lhe a noção do padecimento em que se mergulhou por si mesma?
– Também não. Em tarefa ingrata como essa, vivem aqueles que a exploram, dando-lhe fome e sede, pranto e aflição…
– Para dizer-lhe das penas que a esperam neste e no “outro mundo”?
– Ainda não. Nesse labor terrível respiram os espíritos acusadores, que não hesitam na condenação em nome do Pai, olvidando as próprias faltas…
O ex-pescador de Cafarnaum, então, chorou, súplice, porque no íntimo desejava conformar-se com os ditames da justiça, exemplificando, simultaneamente, com o amor que o Cristo lhe havia legado. Arquejava, soluçante, ignorando como prosseguir nas indagações, mas Jesus dele se acercou, iluminado e benevolente… Enxugou-lhe as lagrimas que corriam abundantes e esclareceu:
– Pedro, para ferir e amaldiçoar, sentenciar e punir, a cidade e o campo estão cheios de maus servidores. Nosso ministério ultrapassa a própria justiça. O Evangelho, para ser realizado, reclama o concurso de quem ampara e educa, edifica e salva, consola e renuncia, ama e perdoa… Abre acesso à nossa irmã transviada e auxilia-a no reerguimento. Não a precipites em despenhadeiros mais fundos… Arranca-a da morte e traze-a para a vida… Não te esqueças de que somos portadores da Boa Nova da Salvação!…
Logo após, entrou em silêncio, diluindo-se-lhe a figura irradiante na claridade evanescente da hora vespertina…
O apóstolo levantou-se, deu alguns passos, atravessou extensa fileira de irmãos espantados, abriu, de manso, a porta e dirigiu-se à mulher, acolhedor:
– Entre, a casa é sua!
– Quem sois? – interrogou a infeliz, assombrada.
-Eu? – falou Pedro, com os olhos inchados de chorar.
E concluiu: – Sou seu irmão.
- PEDRO ARGUMENTOU PARA OS DISCÍPULOS ACEITAREM PAULO
Livro: Paulo e Estevão – Parte 2 – Capítulo 3
– Amigos, antes da enunciação de qualquer ponto de vista pessoal, conviria refletirmos na bondade infinita do Mestre. Nos trabalhos de minha vida, anteriores ao Pentecostes, confesso que as faltas de toda sorte aparecem no meu caminho de homem frágil e pecador. Não hesitava em apedrejar os mais infelizes e cheguei, mesmo, a advertir o Cristo para fazê-lo! Como sabeis, fui dos que negaram o Senhor na hora extrema. Entretanto, depois que nos chegou o conhecimento pela inspiração celeste, não será justo esquecermos o Cristo em qualquer iniciativa. Precisamos pensar que, se Saulo de Tarso procura valer-se de semelhantes expedientes para desferir novos golpes nos servidores do Evangelho, então ele é ainda mais desgraçado que antes, quando nos atormentava abertamente. Sendo, pois, um necessitado, de qualquer modo não vejo razões para lhe recusarmos mãos fraternas.
- PEDRO NÃO ACEITOU DINHEIRO
Atos dos apóstolos – Capítulo 8
9 Ora, estava ali certo homem chamado Simão, que vinha exercendo naquela cidade a arte mágica, fazendo pasmar o povo da Samária, e dizendo ser ele uma grande personagem; 10 ao qual todos atendiam, desde o menor até o maior, dizendo: Este é o Poder de Deus que se chama Grande. 11 Eles o atendiam porque já desde muito tempo os vinha fazendo pasmar com suas artes mágicas. 12 Mas, quando creram em Filipe, que lhes pregava acerca do reino de Deus e do nome de Jesus, batizavam-se homens e mulheres. 13 E creu até o próprio Simão e, sendo batizado, ficou de contínuo com Filipe; e admirava-se, vendo os sinais e os grandes milagres que se faziam. 14 Os apóstolos, pois, que estavam em Jerusalém, tendo ouvido que os da Samária haviam recebido a palavra de Deus, enviaram-lhes Pedro e João; 15 os quais, tendo descido, oraram por eles, para que recebessem o Espírito Santo. 16 Porque sobre nenhum deles havia ele descido ainda; mas somente tinham sido batizados em nome do Senhor Jesus. 17 Então lhes impuseram as mãos, e eles receberam o Espírito Santo. 18 Quando Simão viu que pela imposição das mãos dos apóstolos se dava o Espírito Santo, ofereceu-lhes dinheiro, 19 dizendo: Dai-me também a mim esse poder, para que aquele sobre quem eu impuser as mãos, receba o Espírito Santo. 20 Mas disse-lhe Pedro: Vá tua prata contigo à perdição, pois cuidaste adquirir com dinheiro o dom de Deus. 21 Tu não tens parte nem sorte neste ministério, porque o teu coração não é reto diante de Deus. 22 Arrepende-te, pois, dessa tua maldade, e roga ao Senhor para que porventura te seja perdoado o pensamento do teu coração; 23 pois vejo que estás em fel de amargura, e em laços de iniquidade. 24 Respondendo, porém, Simão, disse: Rogai vós por mim ao Senhor, para que nada do que haveis dito venha sobre mim. 25 Eles, pois, havendo testificado e falado a palavra do Senhor, voltando para Jerusalém, evangelizavam muitas aldeias dos samaritanos.
- PEDRO CUROU A MULHER QUE ESTAVA EM ESTADO DE LETARGIA
Atos dos apóstolos – Capítulo 9
36 Havia em Jope uma discípula por nome Tabita, que traduzido quer dizer Dorcas, a qual estava cheia de boas obras e esmolas que fazia. 37 Ora, aconteceu naqueles dias que ela, adoecendo, morreu; e, tendo-a lavado, a colocaram no cenáculo. 38 Como Lida era perto de Jope, ouvindo os discípulos que Pedro estava ali, enviaram-lhe dois homens, rogando-lhe: Não te demores em vir ter conosco. 39 Pedro levantou-se e foi com eles; quando chegou, levaram-no ao cenáulo; e todas as viúvas o cercaram, chorando e mostrando-lhe as túnicas e vestidos que Dorcas fizera enquanto estava com elas. 40 Mas Pedro, tendo feito sair a todos, pôs-se de joelhos e orou; e voltando-se para o corpo, disse: Tabita, levanta-te. Ela abriu os olhos e, vendo a Pedro, sentou-se. 41 Ele, dando-lhe a mão, levantou-a e, chamando os santos e as viúvas, apresentou-lha viva. 42 Tornou-se isto notório por toda a Jope, e muitos creram no Senhor.
- A CASA DO CAMINHO ESTAVA MUDADA
Livro: Paulo e Estevão – Parte 2 – Capítulo 3
Os expositores do Evangelho eram, mais frequentemente, Pedro e Tiago. O primeiro falava com profunda prudência, embora se valesse de maravilhosas expressões simbólicas. O segundo, entretanto, parecia torturado pela influência judaizante. Tiago dava a impressão de reingresso na maioria dos ouvintes, nos regulamentos farisaicos. Suas preleções fugiam ao padrão de liberdade e de amor em Jesus Cristo. Revelava-se encarcerado nas concepções estreitas do judaísmo dominante. Longos períodos de seus discursos referiam-se às carnes impuras, às obrigações para com a Lei, aos imperativos da circuncisão. A assembleia também parecia completamente modificada. A igreja assemelhava-se muito mais a uma sinagoga comum. Israelitas, em atitude solene, consultavam pergaminhos e papiros que continham as prescrições de Moisés. Saulo procurou, em vão, a figura impressionante dos sofredores e aleijados que vira no recinto, quando ali esteve pela primeira vez. Curiosíssimo, notou que Simão Pedro atendia-os numa sala contígua, com grande bondade. Aproximou-se mais e pôde observar que, enquanto a pregação reproduzia a cena exata das sinagogas, os aflitos se sucediam ininterruptamente na sala humilde do ex-pescador de Cafarnaum. Alguns saíam conduzindo bilhas de remédio, outros levavam azeite e pão.
Saulo impressionou-se. A igreja do “Caminho” parecia muito mudada. Faltava lhe alguma coisa. O ambiente geral era de asfixia de todas as ideias do Nazareno. Não mais encontrou ali a grande vibração de fraternidade e de unificação de princípios pela independência espiritual.
Após a primeira reunião, procurou oportunidade de estar a sós com o ex-pescador de Cafarnaum, a fim de se inteirar das inovações observadas.
— A tempestade que desabou sobre nós — explicou Pedro generosamente, sem qualquer alusão ao seu procedimento de outrora — levou-me a sérias meditações. Desde a primeira diligência do Sinédrio nesta casa, notei que Tiago sofrera profundas transformações. Entregou-se a uma vida de grande ascetismo e rigoroso cumprimento da Lei de Moisés. Pensei muito na mudança das suas atitudes, mas, por outro lado, considerei que ele não é mau. É companheiro zeloso, dedicado e leal. Calei-me para mais tarde concluir que tudo tem uma razão de ser. Quando as perseguições apertaram o cerco a atitude de Tiago, embora pouco louvável, quanto à liberdade do Evangelho, teve seu lado benéfico. Os delegados mais truculentos respeitaram-lhe o devocionismo moisaico e suas amizades sinceras no judaísmo nos permitiram a manutenção do patrimônio do Cristo. Eu e João tivemos horas angustiosas, na consideração desses problemas. Estaríamos sendo insinceros, falsearíamos a verdade? Ansiosamente rogamos a inspiração do Mestre. Com o auxílio de sua divina luz, chegamos a criteriosas conclusões. Seria justo lutar a videira ainda tenra com a figueira brava? Se fôssemos atender ao impulso pessoal de combater os inimigos da independência do Evangelho, esqueceríamos fatalmente, a obra coletiva. Não é lícito que o timoneiro, por testemunhar a excelência de conhecimentos náuticos, atire o barco contra os rochedos, com prejuízo de vida para quantos confiaram no seu esforço. Consideramos, assim, que as dificuldades eram muitas e precisávamos, enquanto mínima fosse a nossa possibilidade de ação, conservar a árvore do Evangelho ainda tenra, para aqueles que viessem depois de nós. Além do mais, Jesus ensinou que só conseguimos elevados objetivos neste mundo, cedendo alguma coisa de nós mesmos. Por intermédio de Tiago, o farisaísmo acede em caminhar conosco. Pois bem: consoante os ensinamentos do Mestre, caminharemos as milhas possíveis. E julgo mesmo que, se Jesus assim nos ensinou, é porque na marcha temos a oportunidade de ensinar alguma coisa e revelar quem somos.
Enquanto Saulo o contemplava com redobrada admiração pelos judiciosos conceitos emitidos, o Apóstolo rematava:
— Isso passa! A obra é do Cristo. Se fosse nossa, falharia por certo, mas nós não passamos de simples e imperfeitos cooperadores.
Saulo guardou a lição e recolheu-se pensativo. Pedro parecia-lhe muito maior agora, no seu foro íntimo. Aquela serenidade, aquele poder de compreensão dos fatos mínimos, davam-lhe ideia da sua profunda iluminação espiritual.
- PAULO E PEDRO EM ANTIOQUIA
Livro: Paulo e Estevão – Parte 2 – Capítulo 5
A igreja de Antioquia oscilava numa posição de imensa perplexidade. Perdera o sentido de unidade que a caracterizava, dos primórdios. Cada qual doutrinava do ponto de vista pessoal. Os gentios eram tratados com zombarias; organizavam-se movimentos a favor da circuncisão.
Fortemente impressionados com a situação, Paulo e Barnabé combinam um recurso extremo. Deliberam convidar Simão Pedro para uma visita pessoal à instituição de Antioquia. Conhecendo-lhe o espírito liberto de preconceitos religiosos, os dois companheiros endereçam-lhe longa missiva, explicando que os trabalhos do Evangelho precisavam dos seus bons ofícios, insistindo pela sua atuação prestigiosa.
A comunidade antioquiana regozijava-se. Os gentios não ocultavam o júbilo que lhes ia na alma. O generoso Apóstolo a todos visitava pessoalmente, sem distinção ou preferência. Antepunha sempre um bom sorriso às apreensões dos amigos que receavam a alimentação “impura” e costumava perguntar onde estavam as substâncias que não fossem abençoadas por Deus. Paulo acompanhava-lhe os passos sem dissimular íntima satisfação. Num louvável esforço de congraçamento, o Apóstolo dos gentios fazia questão de leva-lo a todos os lugares onde houvesse irmãos perturbados pelas ideias da circuncisão obrigatória. Estabeleceu-se, rapidamente, notável movimento de confiança e uniformidade de opinião. Todos os confrades exultavam de contentamento. Eis, porém, que chegam de Jerusalém três emissários de Tiago. Trazem cartas para Simão, que os recebe com muitas demonstrações de estima. Daí por diante, modifica-se o ambiente. O ex-pescador de Cafarnaum, tão dado à simplicidade e à independência em Cristo Jesus, retrai-se imediatamente. Não mais atende aos convites dos incircuncisos. As festividades íntimas e carinhosas, organizadas em sua honra, já não contam com a sua presença alegre e amiga. Na igreja, modificou as mínimas atitudes. Sempre em companhia dos mensageiros de Jerusalém, que nunca o deixavam, parecia austero e triste, jamais se referindo à liberdade que o Evangelho outorgara à consciência humana.
Em dado instante, o tecelão de Tarso olhou fixamente para o Apóstolo galileu e exclamou:
— Irmãos, defendendo o nosso sentimento de unificação em Jesus, não posso disfarçar nosso desgosto em face dos últimos acontecimentos. Quero referir me à atitude do nosso hóspede muito amado, Simão Pedro, a quem deveríamos chamar “mestre”, se esse título não coubesse de fato e de direito ao nosso Salvador.
A surpresa foi grande e o espanto geral. O Apóstolo de Jerusalém também estava surpreso, mas parecia muito calmo. Os emissários de Tiago revelavam profundo mal-estar. Barnabé estava lívido. E Paulo prosseguia sobranceiro:
— Simão tem personificado para nós um exemplo vivo. O Mestre no-lo deixou como rocha de fé imortal. No seu coração generoso temos depositado as mais vastas esperanças. Como interpretar seu procedimento, afastando-se dos irmãos incircuncisos, desde a chegada dos mensageiros de Jerusalém? Antes disso, comparecia aos nossos serões íntimos, comia do pão de nossas mesas. Se assim procuro esclarecer a questão, abertamente, não é pelo desejo de escandalizar a quem quer que seja, mas porque só acredito num Evangelho livre de todos os preconceitos errôneos do mundo, considerando que a palavra do Cristo não está algemada aos interesses inferiores do sacerdócio, de qualquer natureza.
Barnabé tomou a palavra, enquanto o orador fazia uma pausa, e considerou:
— Paulo, sou dos que lamentam tua atitude neste passo. Com que direito poderás atacar a vida pura do continuador de Cristo Jesus?
Temos, sim, um direito: — o de viver com a verdade, o de abominar a hipocrisia, e, o que é mais sagrado — o de salvar o nome de Simão das arremetidas farisaicas, cujas sinuosidades conheço, por constituírem o báratro escuro de onde pude sair para as claridades do Evangelho da redenção.
A palestra do ex-rabino continuou rude e franca. De quando em quando, Barnabé surgia com um aparte, tornando a contenda mais remida. Entretanto, em todo o curso da discussão, a figura de Pedro era a mais impressionante pela augusta serenidade do semblante tranquilo.
A polêmica ia cada vez mais ardida. Extremavam-se os partidos. A assembléia estava repleta de cochichos abafados. Era natural prever uma franca explosão.
Simão Pedro levantou-se. A fisionomia estava serena, mas os olhos estavam orvalhados de lágrimas que não chegavam a correr. Valendo-se de uma pausa mais longa, ergueu a VOZ que logo apaziguou o tumulto:
— Irmãos! — disse nobremente — Muito tenho errado neste mundo. Não é segredo para ninguém que cheguei a negar o Mestre no instante mais doloroso do Evangelho. Tenho medido a misericórdia do Senhor pela profundidade do abismo de minhas fraquezas. Se errei entre os irmãos muito amados de Antioquia, peço perdão de minhas faltas. Submeto-me ao vosso julgamento e rogo a todos que se submetam ao julgamento do Altíssimo. A estupefação foi geral. Compreendendo o efeito, o ex-pescador concluiu a justificativa, dizendo:
—Reconhecida a extensão das minhas necessidades espirituais e recomendando-me às vossas preces, passemos, irmãos, aos comentários do Evangelho de hoje.
A atitude ponderada de Simão Pedro salvara a igreja nascente. Considerando os esforços de Paulo e de Tiago, no seu justo valor, evitara o escândalo e o tumulto no recinto do santuário. À custa de sua abnegação fraternal, o incidente passou quase inapercebido na história da cristandade primitiva, e nem mesmo a referência leve de Paulo na epístola aos Gálatas, a despeito da forma rígida, expressional do tempo, pode dar ideia do perigo iminente de escândalo que pairou sobre a instituição cristã, naquele dia memorável.
Paulo de Tarso lembrou, então, que seria razoável promover em Jerusalém uma assembléia dos correligionários mais dedicados, para ventilar o assunto com maior amplitude. Simão Pedro anuiu de bom grado à proposta.
Epístola aos Gálatas – Capítulo 2
11 Quando, porém, Cefas veio a Antioquia, resisti-lhe na cara, porque era repreensível. 12 Pois antes de chegarem alguns da parte de Tiago, ele comia com os gentios; mas quando eles chegaram, se foi retirando e se apartava deles, temendo os que eram da circuncisão. 13 E os outros judeus também dissimularam com ele, de modo que até Barnabé se deixou levar pela sua dissimulação. 14 Mas, quando vi que não andavam retamente conforme a verdade do evangelho, disse a Cefas perante todos: Se tu, sendo judeu, vives como os gentios, e não como os judeus, como é que obrigas os gentios a viverem como judeus?
- PEDRO A FAVOR DOS GENTIOS
Livro: Paulo e Estevão – Parte 2 – Capítulo 5
— Irmãos — começou Pedro, enérgico e sereno —, bem sabeis que, de há muito, Deus nos elegeu para que os gentios ouvissem as verdades do Evangelho e cressem no seu Reino. O Pai, que conhece os corações, deu aos circuncisos e aos incircuncisos a palavra do Espírito Santo. No dia glorioso do Pentecostes as vozes falaram na praça pública de Jerusalém, para os filhos de Israel e dos pagãos. O Todo Poderoso determinou que as verdades fossem anunciadas indistintamente. Jesus afirmou que os cooperadores do Reino chegariam do Oriente e do Ocidente. Não compreendo tantas controvérsias, quando a situação é tão clara aos nossos olhos. O Mestre exemplificou a necessidade de harmonização constante: palestrava com os doutores do Templo; frequentava a casa dos publicanos; tinha expressão de bom ânimo para todos os que se baldavam de esperança; aceitou o derradeiro suplício entre os ladrões. Por que motivo devemos guardar uma pretensão de isolamento daqueles que experimentam a necessidade maior? Outro argumento que não deveremos esquecer é o da chegada do Evangelho ao mundo, quando já possuíamos a Lei. Se o Mestre no-lo trouxe, amorosamente, com os mais pesados sacrifícios, seria justo enclausurarmo-nos nas tradições convencionais, esquecendo o campo de trabalho? Não mandou o Cristo que pregássemos a Boa Nova a todas as nações? Claro que não poderemos desprezar o patrimônio dos israelitas. Temos de amar nos filhos da Lei, que somos nós, a expressão de profundos sofrimentos e de elevadas experiências que nos chegam ao coração através de quantos precederam o Cristo, na tarefa milenária de preservar a fé no Deus único; mas esse reconhecimento deve inclinar nossa alma para o esforço na redenção de todas as criaturas. Abandonar o gentio à própria sorte seria criar duro cativeiro, ao invés de praticar aquele amor que apaga todos os pecados. É pelo fato de muito compreendermos os judeus e de muito estimarmos os preceitos divinos, que precisamos estabelecer a melhor fraternidade com o gentio, convertendo-o em elemento de frutificação divina. Cremos que Deus nos purifica o coração pela fé e não pelas ordenanças do mundo. Se hoje rendemos graças pelo triunfo glorioso do Evangelho, que instituiu a nossa liberdade, como impor aos novos discípulos um jugo que, intimamente, não podemos suportar? Suponho, então, que a circuncisão não deva constituir ato obrigatório para quantos se convertam ao amor de Jesus Cristo, e creio que só nos salvaremos pelo favor divino do Mestre, estendido generosamente a nós e a eles também.
Atos dos Apóstolos – Capítulo 15
1 Então alguns que tinham descido da Judéia ensinavam aos irmãos: Se não vos circuncidardes, segundo o rito de Moisés, não podeis ser salvos. 2 Tendo Paulo e Barnabé contenda e não pequena discussão com eles, os irmãos resolveram que Paulo e Barnabé e mais alguns dentre eles subissem a Jerusalém, aos apóstolos e aos anciãos, por causa desta questão. 3 Eles, pois, sendo acompanhados pela igreja por um trecho do caminho, passavam pela Fenícia e por Samária, contando a conversão dos gentios; e davam grande alegria a todos os irmãos. 4 E, quando chegaram a Jerusalém, foram recebidos pela igreja e pelos apóstolos e anciãos, e relataram tudo quanto Deus fizera por meio deles. 5 Mas alguns da seita dos fariseus, que tinham crido, levantaram-se dizendo que era necessário circuncidá-los e mandar-lhes observar a lei de Moisés. 6 Congregaram-se pois os apóstolos e os anciãos para considerar este assunto. 7 E, havendo grande discussão, levantou-se Pedro e disse-lhes: Irmãos, bem sabeis que já há muito tempo Deus me elegeu dentre vós, para que os gentios ouvissem da minha boca a palavra do evangelho e cressem. 8 E Deus, que conhece os corações, testemunhou a favor deles, dando-lhes o Espírito Santo, assim como a nós; 9 e não fez distinção alguma entre eles e nós, purificando os seus corações pela fé. 10 Agora, pois, por que tentais a Deus, impondo aos discípulos um jugo que nem nossos pais nem nós pudemos suportar? 11 Mas cremos que somos salvos pela graça do Senhor Jesus, do mesmo modo que eles também. 12 Então toda a multidão se calou e escutava a Barnabé e a Paulo, que contavam quantos sinais e prodígios Deus havia feito por meio deles entre os gentios.
- MORTE DE SIMÃO PEDRO
Livro Antologia Mediúnica do Natal – Capítulo 61
Quando Simão Pedro foi arrancado aos grilhões do cárcere para o derradeiro sacrifício, sentia o coração varado de angústia, conquanto mostrasse o passo firme. O velho apóstolo, que transpusera os oitenta de idade, levantava a cabeça branca, destacando-se na turba à maneira de um pai atormentado por filhos inconscientes. Irmãos do Evangelho ladeavam-no, tristes, escondendo o próprio desespero, diante da serenidade com que ele, encanecido em duras experiências, se acomodava ao martírio. Mulheres e crianças emaranhavam-se, cortejo adentro, para beijar-lhe as mãos. Transeuntes, ainda mesmo adversos ao Cristianismo nascente, fitavam-no, respeitosos, quais se vissem um soberano humilhado e pobremente vestido, a caminho de inesperado triunfo… E até soldados da escolta, recordando vários companheiros que Simão transfigurara, ao curar-lhe os parentes enfermos, abeiravam-se dele com veneração e carinho… Apenas um dos pretorianos, Sertório Aniceto, destacado elemento na expedição, não poupava o sarcasmo. Desejando quebrar a atmosfera de reverência e de êxtase que se fazia, desdobrava impropérios: – Para diante, velho impudente! Judeu Sujo! Lixo humano, que envergonharia os postes da arena!… E mais à frente: – Não abuse da crendice do povo” Ladrão imundo, chegou seu fim!… Pedro, entretanto, contemplava o céu escaldante da tarde e orava em silêncio… Sentia-se, agora, fatigado e incapaz! Compreendia que a Boa Nova exigia servidores robustos e rogava ao Cristo enviasse obreiros novos e valorosos para a vinha do mundo… Mas não era só isso… No imo do coração, ardia-lhe a saudade do Mestre e ansiava retomar-lhe a companhia para sempre… Escalando a colina, via não longe o Campo de Marte, assinalado pelo monumento de Augusto, as cintilações do Tibre espreguiçando ao sol, o casario imenso, as termas e os jardins; no entanto, regressava pela imaginação à Galiléia distante, buscando Jesus em pensamento… Revia o lago de Genesaré, em seus dias mais belos, e as multidões simples e generosas com que o Senhor repartia o pão e a verdade, o consolo e a esperança… Por estranhos mecanismos da memória, respirava, de novo, o perfume das rosas de Betsaida, das romãzeiras de Dalmanuta, das quintas frutescentes de Magdala e dos pequenos vinhedos de Cafarnaum… Apesar do calor reinante, rememorava a pesca e supunha-se envolvido pelo sopro da brisa, quando a barca sobrestava as ondas calmas. Reconstituía, enlevadas, as pregações do Divino Amigo e parecia-lhe jornadear de retorno à família das crianças e dos enfermos, das mães sofredoras e dos velhinhos que ele próprio lhe entregara ao coração… Atingido o local do suplício, confiou-se automaticamente aos soldados que o desnudaram, e, como se estivesse hipnotizado pela ideia do reencontro, sofregamente aguardado quase nada percebeu dos martelos, rudemente manobrados, que lhe apresavam pés e mãos ao lenho que se lhe erguera de improviso… Em derredor, escutava os protestos velados das centenas de espectadores da lamentável exibição, de mistura com as preces dos companheiros agoniados… Detido, porém, na ânsia de repouso, Pedro não via que o tempo se escoava, sem que lhe desfechassem qualquer golpe… Aqui e além, grupos em orações e lágrimas salientavam-se de mãos postas; contudo, a morte tardava… Aniceto, entretanto, não o perdia de vista, e, reparando que o crepúsculo baixava, atirou-lhe pontiagudo calhau à cabeça e gritou: – Morre, bruxo! O apóstolo observou que o sangue esguichava, mas, sem qualquer reação, rendeu-se o invencível torpor, qual se fosse repentinamente anestesiado por brando sono. Semelhante impressão, contudo, perdurou por momentos. O ancião, após desalgemar-se do corpo, identificou-se espiritualmente, livre e eufórico, ao pé dos próprios despojos, e, alheio à algazarra em torno, contemplou o firmamento, onde os astros se inflamavam, como se dedos invisíveis acendessem lumes deslumbrantes para uma festa no céu… Espantado, observou que um homem descia do alto, como que materializado pela fulguração das estrelas, e, decorridos alguns instantes de assombro, viu Jesus a dois passos, a endereçar-lhe o inolvidável sorriso. – Mestre! – clamou, inclinando-se para beijar o chão que ele pisava. O Messias redivivo tomou-o nos braços e partiu, conchegando-o ao coração, qual se transportasse frágil criança. Por várias semanas restaurou-se Pedro na estância de luz que o Cristo lhe reservara. Junto dele, visitou paragens de inexprimível beleza, recolheu lições preciosas, presenciou espetáculos soberbos de grandeza cósmica e abraçou afeições inesquecíveis… Quando mais integrado se reconhecia no Plano Superior, eis que o Celeste Companheiro lhe anuncia nova separação.. Que o discípulo descansasse quanto quisesse, elevando-se às excelsas regiões… Ele, porém, devia ausentar-se… – Senhor, aonde vais? – indagou o apóstolo, penosamente surpreendido. E Jesus, indicando-lhe escuro recanto da vastidão, em que se adivinhava a residência planetária dos homens, informou, sereno: – Pedro, enquanto houver um gemido na Terra, não me será lícito repousar… – Então, Senhor, eu também… E, como outrora, demandaram, juntos, os quadros de ação, em que se lhes evidenciasse o amor sublime…
Atraídos por centenas de vozes, atravessaram Roma, parando, por fim, em espaçoso cemitério da Via Ápia, mergulhado na sombra noturna… A multidão cantava, glorificando o Senhor… Não obstante o Natal estivesse na lembrança de poucos, rememorava-se, ali, diante da imensidão constelada, a melodia dos mensageiros angélicos. Simão, fremindo de emotividade, começou a chorar de alegria. Anelava ser bom, aspirava a ser irmão da Humanidade, queria auxiliar a construção do Reino de Deus e homenagear a manjedoura de Belém, ofertando algo de si mesmo, em louvor do Evangelho… Nesse ínterim, aproximou-se Jesus e Disse-lhe ao ouvido: – Pedro, alguém te chama… O apóstolo voltou-se e, admirado, enxergou na pequena comunidade um homem triste, carregando nos braços um pequenino agonizante… Era Aniceto, a rogar-lhe, mentalmente, se lhe compadecesse do filhinho que a febre devorava. Qual se lhe registrasse a presença, expunha-lhe os remorsos que amargava e pedia-lhe perdão… O antigo pescador não hesitou. Depois de oscular-lhe a fronte suarenta, afagou a criança atribulada, impondo-lhe as mãos, e, ali mesmo, magneticamente tocado por forças renovadoras e intangíveis, o menino despertou, lúcido e refeito, enlaçando-se ao pai, à feição da ave assustada quase torna à segurança do ninho. Aniceto, no íntimo, compreendeu o socorro e a bênção que recebia e, renovado, começou a cantar em lágrimas de júbilo: “Glória a Deus nas alturas, paz na Terra e boa vontade para com os homens!…”. Para o rude legionário de César começava nova vida e para Simão Pedro o serviço continuou…
- ENCONTRO DE PEDRO COM HUMBERTO DE CAMPOS
Livro Crônicas de Além Túmulo – Capítulo 20
25 de agosto de 1936
Enquanto a Capital dos mineiros, dirigida pelos seus elementos eclesiásticos, se prepara, esperando as grandes manifestações de fé do segundo Congresso Eucarístico Nacional, chegam os turistas elegantes e os peregrinos invisíveis. Também eu quis conhecer de perto as atividades religiosas dos conterrâneos de Augusto de Lima.
Na Praça Raul Soares, espaçosa e ornamentada, vi o monumento dos congressistas, elevando-se em forma de altar, onde os altos religiosos serão celebrados. No topo, a custódia, rodeada de arcanjos petrificados, guardando o símbolo suave e branco da eucaristia, e, cá em baixo, nas linhas irregulares da terra, as acomodações largas e fartas, de onde o povo assistirá, comovido, às manifestações de Minas católica.
Foi nesse ambiente que a figura de um homem trajado à israelita, lembrando alguns tipos que em Jerusalém se dirigem, frequentemente, para o lugar sagrado das lamentações, aguçou a minha curiosidade incorrigível de jornalista.
– Um judeu?! – exclamei, aguardando as novidades de uma entrevista.
– Sim, fui judeu, há algumas centenas de anos – respondeu laconicamente o interpelado.
Sua réplica exaltou a minha bisbilhotice e procurei atrair a atenção da singular personagem.
– Vosso nome? – continuei.
– Simão Pedro.
– O Apóstolo?
E a veneranda figura respondeu afirmativamente, colando ao peito os cabelos respeitáveis da barba encanecida.
Surpreso e sedento da sua palavra, contemplei aquela figura hebraica, cheia de simplicidade e simpatia. Ao meu cérebro afluíam centenas de perguntas, sem que pudesse coordená-las devidamente.
– Mestre – disse-lhe, por fim -, Vossa palavra tem para o mundo um valor inestimável. A cristandade nunca vos julgou acessível na face da Terra, acreditando que vos conserváveis no Céu, de cujas portas resplandecentes guardáveis a chave maravilhosa. Não teríeis algumas mensagens do Senhor para transmitir à Humanidade, neste momento angustioso que as criaturas estão vivendo?
E o Apóstolo venerável, dentro da sua expressão resignada e humilde, começou a falar:
– Ignoro a razão por que revestiram a minha figura, na Terra, de semelhantes honrarias. Como homem, não fui mais que um obscuro pescador da Galiléia e, como discípulo do Divino Mestre, não tive a fé necessária nos momentos oportunos. O Senhor não poderia, portanto, conferir-me privilégios, quando amava todos os seus apóstolos com igual amor.
– É conhecida, na história das origens do Cristianismo, a vossa desinteligência com Paulo de Tarso. Tudo isso é verdadeiro?
– De alguma forma, tudo isso é verdade – declarou bondosamente o Apóstolo. – Mas, Paulo tinha razão. Sua palavra enérgica evitou que se criasse uma aristocracia injustificável, que, sem ele, teria que desenvolver-se fatalmente entre os amigos de Jesus, que se haviam retirado de Jerusalém para as regiões da Batanéia.
– Nada desejais dizer ao mundo sobre a autenticidade dos Evangelhos?
– Expressão autêntica da biografia e dos atos do Divino Mestre, não seria possível acrescentar qualquer coisa a esse livro sagrado. Muita iniquidade se tem verificado no mundo em nome do estatuto divino, quando todas as hipocrisias e injustiças estão nele sumariamente condenadas.
– E no capítulo dos milagres?
– Não é propriamente milagre o que caracterizou as ações práticas do Senhor. Todos os seus atos foram resultantes do seu imenso poder espiritual. Todas as obras a que se referem os Evangelistas são profundamente verdadeiras.
E, como quem retrocede no tempo, o Apóstolo monologou:
– Em Carfanaum, perto de Genesaré, e em Betsaida, muitas vezes acompanhei o Senhor nas suas abençoadas peregrinações. Na Samaria, ao lado de Cesaréia de Felipe, vi suas mãos carinhosas dar vistas aos cegos e consolação aos desesperados. Aquele sol claro e ardente da Galiléia ainda hoje ilumina toda a minha alma e, tantos séculos depois de minhas lutas no mundo, ao lado de alguns companheiros procuro reivindicar para os homens a vida perfeita do Cristianismo, com o advento do Reino de Deus, que Jesus desejou fundar, com o seu exemplo, em cada coração…
– Os filósofos terrenos são quase unânimes em afirmar que o Cristo não conhecia a evolução da ciência grega, naquela época, e que as suas parábolas fazem supor a sua ignorância acerca da organização política do Império Romano: seus apóstolos falam de reis e príncipes que não poderiam ter existido.
– A ação do Cristo – retrucou o Apóstolo – vai mais além que todas as atividades e investigações das filosofias humanas. Cada século que passa imprime um brilho novo à sua figura e um novo fulgor ao seu ensinamento. Ele não foi alheio aos trabalhos do pensamento dos seus contemporâneos. Naquele tempo, as teorias de Lucrécio, expandidas alguns anos antes da obra do Senhor, e as lições de Filon em Alexandria, eram muito inferiores às verdades celestes que Ele vinha trazer à Humanidade atormentada e sofredora…
E, quando a figura venerada de Simão parecia prestes a prosseguir na sua jornada, inquiri, abruptamente:
– Qual o vosso objetivo, atualmente, no Brasil?
– Venho visitar a obra do Evangelho aqui instituída por Ismael, filho de Abraão e de Agar, e dirigida dos espaços por abnegados apóstolos da fraternidade cristã.
– E estais igualmente associado às festas do segundo Congresso Eucarístico Nacional? – perguntei.
Mas, o bondoso Apóstolo expressou uma atitude de profunda incompreensão, ao ouvir as minhas derradeiras palavras.
Foi quando, então, lhe mostrei o rico monumento festivo, as igrejas enfeitadas de ouro, os movimentos de recepção aos prelados, exclamando ele, afinal:
– Não, meu filho!… Esperam-me longe destas ostentações mentirosas os humildes e os desconsolados. O Reino de Deus ainda é a promessa para todos os pobres e para todos os aflitos da Terra. A Igreja romana, cujo chefe se diz possuidor de um trono que me pertence, está condenada no próprio Evangelho, com todas as suas grandezas bem tristes e bem miseráveis. A cadeira de São Pedro é para mim uma ironia muito amarga… Nestes templos faustosos não há lugares para Jesus, nem para os seus continuadores…
– E que sugeris, Mestre, para esclarecer a verdade?
Mas, nesse momento, o Apóstolo venerando enviou-me um gesto compassivo e piedoso, continuando o seu caminho, depois de amarrar, resignadamente, o cordão das sandálias.
- PRIMEIRA EPÍSTOLA DE PEDRO – ENSINAMENTOS
Capítulo 1:
10 Desta salvação inquiririam e indagaram diligentemente os profetas que profetizaram da graça que para vós era destinada, 11 indagando qual o tempo ou qual a ocasião que o Espírito de Cristo que estava neles indicava, ao predizer os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a glória que se lhes havia de seguir. 12 Aos quais foi revelado que não para si mesmos, mas para vós, eles ministravam estas coisas que agora vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho; para as quais coisas os anjos bem desejam atentar.
Capítulo 3:
9 não retribuindo mal por mal, ou injúria por injúria; antes, pelo contrário, bendizendo; porque para isso fostes chamados, para herdardes uma bênção.
17 Porque melhor é sofrerdes fazendo o bem, se a vontade de Deus assim o quer, do que fazendo o mal.
Capítulo 4:
6 Pois é por isto que foi pregado o evangelho até aos mortos, para que, na verdade, fossem julgados segundo os homens na carne, mas vivessem segundo Deus em espírito.
8 tendo antes de tudo ardente amor uns para com os outros, porque o amor cobre uma multidão de pecados;
Livro O Consolador – Pergunta – 336 – O culpado arrependido pode receber da justiça divina o direito de não passar por determinadas provas?
-A oportunidade de resgatar a culpa já constitui em si mesma, um ato de misericórdia divina, e, daí, o considerarmos o trabalho e o esforço próprio como a luz maravilhosa da vida. Entendendo, todavia, a questão à generalidade das provas; devemos concluir ainda, com o ensinamento de Jesus, que “o amor cobre a multidão dos pecados”, traçando a linha reta da vida para as criaturas e representando a única força que anula as exigências da lei de talião, dentro do Universo infinito.
Capítulo 5:
2 Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, não por força, mas espontaneamente segundo a vontade de Deus; nem por torpe ganância, mas de boa vontade;
Livro Pão Nosso – Capítulo 26
Atendamos aos imperativos do serviço divino que se localiza em nossa paisagem individual, não através de constrangimento, mas pela boa-vontade espontânea, fugindo cada vez mais aos nossos interesses particularistas e de ânimo firme e pronto para servir ao bem, tanto quanto nos seja possível. Às vezes, é razoável preocupar-se o homem com a situação mundial, com a regeneração das coletividades, com as posições e responsabilidades dos outros, mas não é justo esquecermo-nos daquele “rebanho de Deus que está entre nós”.
- SEGUNDA EPÍSTOLA DE PEDRO – ENSINAMENTOS
Capítulo 1:
5 E por isso mesmo vós, empregando toda a diligência, acrescentai à vossa fé a virtude, e à virtude a ciência, 6 e à ciência o domínio próprio, e ao domínio próprio a perseverança, e à perseverança a piedade, 7 e à piedade a fraternidade, e à fraternidade o amor.
16 Porque não seguimos fábulas engenhosas quando vos fizemos conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, pois nós fôramos testemunhas oculares da sua majestade. 17 Porquanto ele recebeu de Deus Pai honra e glória, quando pela Glória Magnífica lhe foi dirigida a seguinte voz: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo; 18 e essa voz, dirigida do céu, ouvimo-la nós mesmos, estando com ele no monte santo. 19 E temos ainda mais firme a palavra profética à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma candeia que alumia em lugar escuro, até que o dia amanheça e a estrela da alva surja em vossos corações; 20 sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. 21 Porque a profecia nunca foi produzida por vontade dos homens, mas os homens da parte de Deus falaram movidos pelo Espírito Santo.
- OUTRAS PASSAGENS REFERENTES AO APÓSTOLO PEDRO
Sobre os Apóstolos – Livro: Parábolas e Ensinos de Jesus – 2ª Parte – Capítulo: Os apóstolos
Pedro estava presente na Transfiguração de Jesus– Mateus 17: 1 a 13
Pedro Julgador – Livro: Estante da Vida – Capítulo 19
Pedro dormiu e não vigiou e não orou com Jesus – Marcos 14: 32 a 42
Pedro ajudou a escolher o novo discípulo – Atos dos apóstolos 1: 21 a 26
Depois da Ressureição de Jesus – Livro: Lázaro Redivivo – Capítulo 28
Ensinamentos de Pedro – Atos dos apóstolos Capítulo 2
Cura de um paralítico – Atos dos apóstolos 9: 32 a 35
Pedro homem rude – Livro: Relatos da Vida – Capítulo: Pergunta no Ar
Pedro prega aos estrangeiros – Atos dos apóstolos – Capítulo 10
Prisões de Pedro – Atos dos apóstolos – 4: 1 a 22 / 5: 17 a 42 / 12: 3 a 11
Pedro conversando com Pio XI – Livro: Novas Mensagens – Capítulo: A “morte” de Pio XI
Pedro visitando a Terra – Livro: Histórias e Anotações – Capítulo: Pedro em Visita
- BIBLIOGRAFIA
Evangelho de Mateus
Evangelho de Marcos
Evangelho de João
Atos dos Apóstolos
Epístola aos Gálatas
Epístolas de Pedro
Livro: Boa Nova – Médium: Chico Xavier – Autor: Humberto de Campos
Livro: Pontos e Contos – Médium: Chico Xavier – Autor: Humberto de Campos
Livro: Estante da Vida – Médium: Chico Xavier – Autor: Humberto de Campos
Livro: Luz Acima – Médium: Chico Xavier – Autor: Humberto de Campos
Livro: Lázaro Redivivo – Médium: Chico Xavier – Autor: Humberto de Campos
Livro: Relatos da Vida – Médium: Chico Xavier – Autor: Humberto de Campos
Livro: Crônicas de Além Túmulo – Médium: Chico Xavier – Autor: Humberto de Campos
Livro: Novas Mensagens – Médium: Chico Xavier – Autor: Humberto de Campos
Livro: Histórias e Anotações – Médium: Chico Xavier – Autor: Humberto de Campos
Livro: Paulo e Estevão – Médium: Chico Xavier – Autor: Emmanuel
Livro: O Consolador – Médium: Chico Xavier – Autor: Emmanuel
Livro: Pão Nosso – Médium: Chico Xavier – Autor: Emmanuel
Livro: Parábolas e Ensinos de Jesus – Autor: Cairbar Schutel
Livro: Antologia Mediúnica do Natal – Médium: Chico Xavier – Diversos autores