Arte na Visão da Doutrina Espírita – palestra 29.3.17
Arte na Visão da Doutrina Espírita
Tarcila – CELC 29.3.17
1-O que é arte
2-Arte material
3-Arte no dia a dia
4-Arte espiritual
5-Arte como essência Divina – O Bom e o Belo caminham juntos
6-Escala espírita
7-Arte e as Inspirações
8-Responsabilidade espiritual com a arte que produzimos e com a que consumimos
9- exemplos – Memórias de um suicida/ Memórias do Padre Germano/
O que é Arte?
Para começar essa conversa é importante lembrarmo-nos das diferenças entre aquilo a que chamamos de arte e aquilo que é considerado arte pelos instrutores espirituais. Assim como todas as coisas que nos rodeiam e que são criadas pelo homem e não por Deus, tudo vai depender da condição espiritual desse homem. Quando nos referimos a arte, o argumento é o mesmo. Um homem/espírito com maior evolução espiritual poderá produzir uma arte que se aproxime mais do conceito espiritual de arte do que o homem/espírito com menor evolução espiritual.
Arte- entendimento material
Aqui no mundo material, o conceito de arte se aproxima do “meio de expressão de sentimentos e sensações, sua história, sua cultura”. Um caminho para o homem expor aquilo que pensa e sente e tocar as pessoas por meio dessa arte. Muitas vezes a valorização da arte se dá pelo domínio técnico apresentado, ou pelo potencial que arte tem para tocar os sentimentos ou sentidos das pessoas. Não é mais um critério no meio artístico, considerar se essa arte apresenta mais ou menos sentido de beleza, ou, muito menos, de aproximação com o sentido Divino de Belo.
Arte (material) no dia a dia
Nesse sentido, a Arte nos rodeia em todas as coisas em seu aspecto de criação. Desde as vestimentas, imagens decorativas de forma geral, estamparias, músicas, filmes, novelas, danças, teatros, etc. Essas manifestações preenchem o nosso dia a dia, enquanto humanidade, mais do que nos damos conta. E, muitas vezes por não nos darmos conta, permitimos que essas manifestações façam parte de nossa vida, sem um critério de seleção.
Nos permitimos utilizar uma roupa, sem pensar na estampa, se ela apresenta uma imagem positiva ou negativa. Nos permitimos ouvir qualquer tipo de música, qualquer tipo de imagem na TV ou cinema, por exemplo. Filmes de terror fazem parte do gosto principalmente juvenil. Mas, de fato, o que será que está por detrás dessas imagens? Ou das músicas mais grosseiras?
Arte- entendimento espiritual
Consolador -161 – Que é arte?
– A arte pura é a mais elevada contemplação espiritual por parte das criaturas. Ela significa a mais profunda exteriorização do ideal, a divina manifestação desse “mais além” que polariza as esperanças da alma. O artista verdadeiro é sempre o “médium” das belezas eternas e o seu trabalho, em todos os tempos, foi tanger as cordas mais vibráteis do sentimento humano, alçando-o da Terra para o Infinito e abrindo em todos os caminhos a ânsia dos corações para Deus, nas suas manifestações supremas de beleza, de sabedoria, de paz e de amor.
O Espiritismo na Arte Capítulo I – Arquitetura e Escultura
A beleza é um dos atributos divinos. Deus pôs nos seres e nas coisas esse encanto misterioso que nos atrai, nos seduz, nos cativa e enche a alma de admiração, às vezes de entusiasmo.
A arte é a busca, o estudo, a manifestação dessa beleza eterna da qual percebemos, aqui na Terra, apenas um reflexo. Para contemplá-la em todo o seu esplendor, em todo o seu poder, é preciso subir de grau em grau em direção à fonte de onde ela emana, e isso é uma tarefa difícil para a maioria entre nós. Pelo menos podemos conhecê-la pelo espetáculo que o Universo oferece aos nossos sentidos e também pelas obras que ela inspira aos homens de gênio.
O Espiritismo na Arte Capítulo II – A Inspiração
A arte, sob suas formas diversas, como dissemos no artigo anterior, é a expressão da beleza eterna, uma manifestação da poderosa harmonia que rege o Universo; é o raio de luz que vem do alto e que dissipa as brumas, as obscuridades da matéria, e nos faz
entrever os planos da vida superior. A arte é, por si mesma, plena de ensinamentos, de revelações, de luz. Ela arrasta a alma em direção às regiões da vida espiritual, que é a verdadeira vida, e que a alma anseia tornar a encontrar um dia.
Então, o que não é Arte, na visão da doutrina espírita?
Os ensaios técnicos sobre alguma linguagem artística nem sempre correspondem ao modelo espiritual de arte. Saber desenhar, pintar, compor uma música, espiritualmente falando, não significa fazer arte. Visto que pode se distanciar do objetivo principal da harmonia Divina.
Qual o nosso objetivo na terra:
- Qual o fim objetivado com a reencarnação?
“Expiação, melhoramento progressivo da Humanidade. Sem isto, onde a justiça?”
Objetivo da Arte – O Espiritismo na arte
Dissemos que o objetivo essencial da arte é a procura e a realização da beleza; é, ao mesmo tempo, a procura de Deus, pois que Deus é a fonte primeira e a realização perfeita da beleza física e moral. Quanto mais a inteligência se apura, se aperfeiçoa e se eleva, mais se impregna da idéia do belo. O objetivo essencial da evolução, portanto, será a procura e a conquista da beleza, a fim de realizá-la no ser e nas suas obras. Tal é a norma da alma na sua ascensão infinita.
Para que possamos ter uma referência do que é Beleza, do que é Harmonia, vamos ver o que nos diz Kardec:
Teoria da Beleza (Obras Póstumas)
Harmonia
Paris, 4 de fevereiro de 1869.
A beleza, do ponto de vista puramente humano, é uma questão muito discutível e muito discutida. Para a apreciarmos bem, precisamos estudá-la como amador desinteressado. Aquele que estiver sob o encantamento não pode ter voz no capítulo. Também entra em linha de conta o gosto de cada um, nas apreciações que se fazem. Belo, realmente belo só é o que o é sempre e para todos; e essa beleza eterna, infinita, é a manifestação divina em seus aspectos incessantemente variados; é Deus em suas obras e nas suas leis! Eis aí a única beleza absoluta. É a harmonia das harmonias e tem direito ao título de absoluta, porque nada de mais belo se pode conceber. Quanto ao que se convencionou chamar belo e que é verdadeiramente digno desse título, não deve ser considerado senão como coisa essencialmente relativa, porquanto sempre se pode conceber alguma coisa mais bela, mais perfeita. Somente uma beleza existe e uma única perfeição: Deus. Fora dele, tudo o que adornarmos com esses atributos não passa de pálido reflexo do belo único, de um aspecto harmonioso das mil e uma harmonias da Criação. Há tantas harmonias, quantos objetos criados, quantas belezas típicas, por conseguinte, determinando o ponto culminante da perfeição que qualquer das subdivisões do elemento animado pode alcançar. — A pedra é bela e bela de modos diversos. — Cada espécie mineral tem suas harmonias e o elemento que reúne todas as harmonias da espécie possui a maior soma de beleza que a espécie possa alcançar. A flor tem suas harmonias; também ela pode possuí-las todas ou insulanamente e ser diferentemente bela, mas somente será bela quando as harmonias que concorrem para a sua criação se acharem harmonicamente fusionadas. — Dois tipos de beleza podem produzir, por fusão, um ser híbrido, informe, de aspecto repulsivo. — Há então cacofonia! Todas as vibrações, insuladamente, eram harmônicas, mas a diferença de tonalidade entre elas produziu um desacordo, ao encontrarem-se as ondas vibrantes; daí o monstro!
Descendo a escala criada, cada tipo animal dá lugar às mesmas observações e a ferocidade, a manha, até a inveja poderão dar origem a belezas especiais, se estiver sem mistura o princípio que determina a forma. A harmonia, mesmo no mal, produz o belo. Há o belo satânico e o belo angélico; a beleza enérgica e a beleza resignada. Cada sentimento, cada feixe de sentimentos, contanto que seja harmônico, produz um particular tipo de beleza, cujos aspectos humanos são todos, não degenerescências, mas esboços. É, pois, certo dizermos, não que somos mais belos, porém que nos aproximamos cada vez mais da beleza real, à medida que nos elevamos para a perfeição. Todos os tipos se unem harmonicamente no perfeito. Daí o ser este o belo absoluto. — Nós que progredimos possuímos apenas uma beleza relativa, debilitada e combatida pelos elementos desarmônicos da nossa natureza. Lavater.
Harmonia
Influência perniciosa das ideias materialistas
OBRAS PÓSTUMAS – Sobre as artes em geral; sua regeneração pelo Espiritismo
Leu-se no Courrier de Paris du Monde Illustré, de 19 de dezembro de 1868:
“Carmouche escreveu mais de duzentas comédias e comédias musicadas, e é muito justo se o nosso tempo sabe o seu nome. É que ela é terrivelmente fugaz, essa glória dramática que excita tanto a cobiça. A menos que haja assinado obras-primas excepcionais, acha-se condenado a ver o seu nome cair no esquecimento, logo que se deixe de combater. Durante a luta mesmo, ignora-se o maior número. O público, com efeito, não se preocupa, quando olha o cartaz, senão com o título da peça; pouco lhe importa o nome daquele que a escreveu. Tentai vos lembrar de quem assinou tal ou tal obra encantadora, da qual guardastes a lembrança; quase sempre estareis na impossibilidade de vos responder. E quanto mais avancemos, tanto mais isso será assim: as preocupações materiais se substituem, cada vez mais, às preocupações artísticas.
“Precisamente a esse propósito, Carmouche contava uma anedota típica. Conversando, dizia, com o meu alfarrabista, acerca do seu comerciozinho, ele se manifestava assim: ‘Isto não vai mal, meu senhor, mas modifica-se; os artigos que se vendem já não são os mesmos de antes. Outrora, quando me surgia um rapaz de 18 anos, nove vezes em dez era à procura de um dicionário de rimas; hoje, é para me pedir um manual das operações da Bolsa’.”
As preocupações de ordem material se sobrepõem aos cuidados artísticos; mas, como não ser assim, quando os maiores esforços se fazem para concentrar todos os pensamentos do homem na vida carnal e para destruir nele toda esperança, toda aspiração que ultrapasse essa existência?
É lógica, inevitável semelhante consequência para aquele que nada vê fora do círculo estreito da efêmera vida presente. Quando a criatura nada percebe atrás de si, nada adiante de si, nada acima de si, em que pode ela concentrar seus pensamentos senão no ponto onde se encontra? O que há de sublime na arte é a poesia do ideal, que nos transporta para fora da esfera acanhada de nossas atividades. Mas, o ideal paira exatamente nessa região extramaterial onde só se penetra pelo pensamento; que a vista corporal não pode varar, mas que a imaginação concebe. Ora, que inspiração pode o Espírito haurir da ideia do nada? O pintor que unicamente houvesse visto o céu brumoso, as estepes áridas e monótonas da Sibéria e que julgasse estar ali todo o Universo, poderia conceber e descrever o brilho e a riqueza de tons da natureza tropical? Como querereis que os vossos artistas e os vossos poetas vos transportem a regiões que eles não vêem com os olhos da alma, que não compreendem e nas quais nem mesmo creem? O Espírito somente pode identificar-se com o que sabe ou crê ser a verdade e essa verdade, embora de ordem moral, se lhe torna uma realidade que tanto melhor ele exprime, quanto melhor a sente. Se à inteligência da coisa junta a flexibilidade do talento, faz que suas próprias impressões se transmitam às almas dos outros. Mas, que impressões pode provocar nos outros aquele que não as tem? Para o materialista, a realidade é a Terra; seu corpo é tudo, pois que, além dele, nada mais há, visto que a sua própria mente se extingue com a desorganização da matéria, como o fogo com o combustível. Não pode, portanto, com a linguagem da arte, exprimir senão o que vê e sente. Ora, se ele só vê e sente a matéria tangível, unicamente isso lhe é possível exprimir. Nada pode haurir de onde apenas vê o vazio. Se se aventura por um mundo que desconhece, entra aí como cego e, malgrado aos esforços que empregue para elevar-se ao diapasão do idealismo, fica no terra-a-terra, como um pássaro sem asas. A decadência das artes, neste século, resultou inevitavelmente da concentração dos pensamentos sobre as coisas materiais, concentração essa que, a seu turno, é o resultado da ausência de toda crença, de toda fé na espiritualidade do ser. O século apenas colhe o que semeou. Quem semeia pedras não pode colher frutas. As artes não sairão do torpor em que jazem, senão por meio de uma reação no sentido das idéias espiritualistas. Como poderiam o pintor, o poeta, o literato, o músico ligar seus nomes a obras duráveis, quando, em sua maioria, eles próprios não crêem no futuro de seus trabalhos; quando não se apercebem de que a lei do progresso, força invencível que arrasta os Universos pela estrada do infinito, lhes pede mais do que descoradas cópias das criações magistrais dos artistas dos tempos idos! Toda gente se lembra dos Fídias, dos Apeles, dos Rafaéis, dos Miguéis Ângelos, luminosos faróis que se destacam da obscuridade dos séculos transcorridos, como fúlgidas estrelas em meio de profundas trevas; mas, quem se lembrará de notar o claror de uma lâmpada a lutar contra o brilho do Sol de um dia de verão? O mundo caminhou a passos gigantescos desde os tempos históricos; os filósofos dos povos primitivos gradualmente se transformaram. As artes que se apoiam nas filosofias que lhes são a consagração idealizada, também tiveram que se modificar e transformar. É matematicamente certo dizer-se que, sem crença, as artes carecem de vitalidade e que toda transformação filosófica acarreta necessariamente uma transformação artística paralela. Em todas as épocas de transformação, as artes periclitam, porque a crença em que se estribam não basta às aspirações engrandecidas da Humanidade e porque, não estando ainda adotadas pela grande maioria dos homens os novos princípios, os artistas não ousam explorar, senão de modo hesitante, a mina desconhecida que se lhes abre sob os passos. Durante as épocas primitivas, em que os homens unicamente conheciam a vida material, em que a Filosofia divinizava a natureza, a Arte buscou, antes de tudo, a perfeição da forma. A beleza corporal era, então, a qualidade capital; a arte se aplicou em a reproduzir e idealizar. Mais tarde, a Filosofia enveredou por nova senda; os homens, progredindo, reconheceram que acima da matéria havia uma potência criadora e organizadora, que recompensava os bons, punia os maus e fazia da caridade uma lei. Um mundo novo, o mundo moral se edificou sobre as ruínas do mundo antigo. Dessa transformação nasceu uma arte nova que fez palpitasse a alma sob a forma e junto à percepção plástica a expressão de sentimentos que os antigos desconheceram.
A idéia viveu sob a matéria; mas revestiu as formas severas da Filosofia em que a arte se inspirava. Às tragédias de Ésquilo, aos mármores de Milo, sucederam as descrições e as pinturas das torturas físicas e morais dos réprobos. A arte se elevou; revestiu caráter grandioso e sublime, porém ainda sombrio. Ela está toda, com efeito, na pintura do inferno e do céu da Idade Média, na de sofrimentos eternos, ou de uma beatitude muito distante, colocada tão alto, que nos parece quase inacessível; é talvez por isso que ela nos toca tão pouco, quando a vemos reproduzida na tela ou no mármore. Também hoje, ninguém ousaria contestá-lo, o mundo está num período de transição, solicitado violentamente por hábitos obsoletos, crenças precárias do passado e verdades novas, que lhe são progressivamente desvendadas.
Assim como a arte cristã sucedeu à arte pagã, transformando- a, a arte espírita será o complemento e a transformação da arte cristã. O Espiritismo, efetivamente, nos mostra o porvir sob uma luz nova e mais ao nosso alcance. Por ele, a felicidade está mais perto de nós, está ao nosso lado, nos Espíritos que nos cercam e que jamais deixaram de estar em relação conosco. A morada dos eleitos, a dos condenados já não se acham insuladas; há incessante solidariedade entre o céu e a Terra, entre todos os mundos de todos os Universos; a ventura consiste no amor mútuo de todas as criaturas que chegam à perfeição e numa constante atividade, com o objetivo de instruir e conduzir àquela mesma perfeição os que se tornaram retardatários. O inferno está no próprio coração do culpado, que tem nos remorsos o seu castigo, não mais, todavia, eterno, e ao mau, que toma o caminho do arrependimento, se depara de novo a esperança, sublime consolação dos desgraçados. Que inesgotáveis fontes de inspiração para a arte! Que obras-primas de todos os gêneros as novas ideias suscitarão, pela reprodução das cenas tão multiplicadas e várias da vida espírita! Em vez de representar despojos frios e inanimados, ver-se-á uma mãe tendo ao lado a filha querida em sua forma radiosa e etérea; a vítima a perdoar ao seu algoz; o criminoso a fugir em vão ao espetáculo, de contínuo renascente, de suas ações culposas! o insulamento do egoísta e do orgulhoso, em meio da multidão; a perturbação do Espírito que volve à vida espiritual, etc., etc. E, se o artista quiser elevar-se acima da esfera terrestre, aos mundos superiores, verdadeiros Edens onde os Espíritos adiantados gozam da felicidade que conquistaram, ou, se desejar reproduzir alguns aspectos dos mundos inferiores, verdadeiros infernos onde reinam soberanamente as paixões, que cenas emocionantes, que quadros palpitantes de interesse se lhe depararão!
Sem dúvida, o Espiritismo abre à arte um campo inteiramente novo, imenso e ainda inexplorado. Quando o artista houver de reproduzir com convicção o mundo espírita, haurirá nessa fonte as mais sublimes inspirações e seu nome viverá nos séculos vindouros, porque, às preocupações de ordem material e efêmeras da vida presente,
sobreporá o estado da vida futura e eterna da alma.
O Artista – Quem é?
Consolador -162 – Todo artista pode ser também um missionário de Deus?
– Os artistas, como os chamados sábios do mundo, podem enveredar, igualmente, pelas cristalizações do convencionalismo terrestre, quando nos seus corações não palpite a chama dos ideais divinos, mas, na maioria das vezes, têm sido grandes missionários das ideias, sob a égide do Senhor, em todos os departamentos da atividade que lhes é próprios, como a literatura, a música, a pintura, a plástica.
Sempre que a sua arte se desvencilha dos interesses do mundo, transitórios e perecíveis, para considerar tão somente a luz espiritual que vem do coração uníssono como cérebro, nas realizações da vida, então o artista é um dos mais devotados missionários de Deus, porquanto saberá penetrar os corações na paz da meditação e do silêncio, alcançando o mais alto sentido da evolução de si mesmo e de seus irmãos em humanidade.
163 – Pode alguém se fazer artista tão só pela educação especializada em
uma existência?
– A perfeição técnica, individual de um artista, bem como as suas mais notáveis características, não constituem a resultante das atividades de uma vida, mas de experiências seculares na Terra e na esfera espiritual, porquanto o gênio, em qualquer sentido, nas manifestações artísticas mais diversas, é a síntese profunda de vidas numerosas, em que a perseverança e o esforço se casaram para as mais brilhantes florações da espontaneidade.
164 – Como devemos compreender o gênio?
O gênio constitui a súmula dos mais longos esforços em múltiplas existências de abnegação e de trabalho, na conquista dos valores espirituais. Entendendo a vida pelo seu prisma real, muita vez desatende ao círculo estreito da vida terrestre, no que se refere às suas fórmulas convencionais e aos seus preconceitos, tornando-se um estranho ao seu próprio meio, por suas qualidades superiores e inconfundíveis.
Esse é o motivo por que a ciência terrestre, encarcerada nos cânones do convencionalismo, resume observar no gênio uma psicose condenável, tratando-o, quase sempre, como a célula enferma do organismo social, para glorifica-lo, muitas vezes, depois da morte, tão logo possa aprender a grandeza da sua visão espiritual na paisagem do futuro.
165 – Como poderemos entender o psiquismo dos artistas, tão diferente do que caracteriza o homem comum?
O artista, de um modo geral, vive quase sempre mais na esfera espiritual que propriamente no plano terrestre. Seu psiquismo é sempre a resultante do seu mundo íntimo, cheio de recordações infinitas das existências passadas, ou das visões sublimes que conseguiu apreender nos círculos de vida espiritual, antes da sua reencarnação no mundo. Seus sentimentos e percepções transcendem aos do homem comum, pela sua riqueza de experiências no pretérito, situação essa que, por vezes, dá motivos à falsa apreciação da ciência humana, que lhe classifica os transportes como neurose ou anormalidade, nos seus erros de interpretação. É que, em vista da sua posição psíquica especial, o artista nunca cede às exigências do convencionalismo do planeta, mantendo-se acima dos preconceitos contemporâneos, salientando-se que, muita vez, na demasia de inconsiderações pela disciplina, apesar de suas qualidades superiores, pode entregar-se aos excessos nocivos à liberdade, quando mal dirigida ou falsamente aproveitada. Eis por que, em todas as situações, o ideal divino da fé será sempre o antídoto dos venenos morais, desobstruindo o caminho da alma para as conquistas elevadas da perfeição.
166 – No caso dos artistas que triunfaram sem qualquer amparo do mundo e se fizeram notáveis tão só pelos valores da sua vocação, traduzem suas obras alguma recordação da vida no Infinito?
– As grandes obras primas da arte, na maioria das vezes, significam a concretização dessas lembranças profundas. Todavia, nem sempre constituem um traço das belezas entrevistas no Além pela mentalidade que as concebeu, e sim recordações de existências anteriores, entre as lutas e as lágrimas da Terra. Certos pintores notáveis, que se fizeram admirados por obras levadas a efeito sem os modelos humanos, trouxeram à luz nada mais nada menos que as suas próprias recordações perdidas no tempo, na sombra apagada da paisagem de vidas que se foram. Relativamente aos escritores, aos amigos da ficção literária, nem sempre as suas concepções obedecem à fantasia, porquanto são filhas de lembranças inatas, com as quais recompõem o drama vivido pela sua própria individualidade nos séculos mortos. O mundo impressivo dos artistas tem permanentes relações com o passado espiritual, de onde eles extraem o material necessário à construção espiritual de suas obras.
167 – Os grandes músicos, quando compõem peças imortais, podem ser também influenciados por lembranças de uma existência anterior?
– Essa atuação pode verificar-se no que se refere às possibilidades e às tendências, mas, no capítulo da composição, os grandes músicos da Terra, com méritos universais, não obedecem a lembranças do pretérito, e sim a gloriosos impulsos das forças do Infinito, porquanto a música na Terra é, por excelência, a arte divina. As óperas imortais não nasceram do lodo terrestre, mas da profunda harmonia do Universo, cujos cânticos sublimes foram captados parcialmente pelos compositores do mundo, em momentos de santificada inspiração. Apenas desse modo podereis compreender a sagrada influência que a música nobre opera nas almas, arrebatando-as, em quaisquer ocasiões, às ideias indecisas da Terra, para as vibrações do íntimo com o Infinito.
168 – Os Espíritos desencarnados cuidam igualmente dos valores artísticos no plano invisível, para os homens?
– Temos de convir que todas as expressões de arte na Terra representam traços de espiritualidade, muitas vezes estranhos à vida do planeta. Através dessa realidade, podereis reconhecer que a arte, em qualquer de suas formas puras, constitui objeto da atenção carinhosa dos invisíveis, com possibilidades outras que o artista do mundo está muito longe de imaginar. No Além, é com o seu concurso que se reformam os sentimentos mais impiedosos, predispondo as entidades infelizes às experiências expiatórias e purificadoras. E é crescendo nos seus domínios de perfeição e de beleza que a alma evolve para Deus, enriquecendo-se nas suas sublimes maravilhas.
169 – A emotividade deve ser disciplinada?
– Qualquer expressão emotiva deve ser disciplinada pela fé, porquanto a sua expansão livre, na base das incompreensões do mundo, pode fazer-se acompanhar de graves consequências.
170 – Com tantas qualidades superiores para o bem, pode o artista de gênio transformar-se em instrumento do mal?
– O homem genial é como a inteligência que houvesse atingido as mais perfeitas condições de técnica realizadora; essa aquisição, porém, não o exime da necessidade de progredir moralmente, iluminando a fonte do coração. Em vista de numerosas organizações geniais não haverem alcançado a culminância de sentimento é que temos contemplado, muitas vezes, no mundo, os talentos mais nobres encarcerados em tremendas obsessões, ou anulados em desvios dolorosos, porquanto, acima de todas as conquistas propriamente materiais, a criatura deve colocar a fé, como o eterno ideal divino.
171 – De modo geral, todos os homens terão de buscar os valores artísticos para a personalidade?
– Sim; através de suas vidas numerosas a alma humana buscará a aquisição desses patrimônios, porquanto é justo que as criaturas terrenas possam levar da sua escola de provações e de burilamento, que é o planeta, todas as experiências e valores, suscetíveis de serem encontrados nas lutas da esfera material.
172 – Existem, de fato, uma arte antiga e uma arte moderna?
– A arte evolve com os homens e, representando a contemplação espiritual de quantos a exteriorizam, será sempre a manifestação da beleza eterna, condicionada ao tempo e ao meio de seus expositores. A arte, pois, será sempre uma só, na sua riqueza de motivos, dentro da espiritualidade infinita. Ponderemos, contudo, que, se existe hoje grande número de talentos com a preocupação excessiva de originalidade, dando curso às expressões mais extravagantes de primitivismo, esses são os cortejadores irrequietos da glória mundana que, mais distanciados da arte legítima, nada mais conseguem que refletir a perturbação dos tempos que passam, apoiando o domínio transitório da futilidade e da força. Eles, porém, passarão como passam todas as situações incertas de um cataclismo, como zangões da sagrada colmeia da beleza divina, que, em vez de espiritualizarem a Natureza, buscam deprimi-la com as suas concepções extravagantes e doentias.
Papel da Arte
Possiblidade reabilitação do espírito pela Arte
Consolador -168 – Os Espíritos desencarnados cuidam igualmente dos valores artísticos no plano invisível, para os homens?
– Temos de convir que todas as expressões de arte na Terra representam traços de espiritualidade, muitas vezes estranhos à vida do planeta. Através dessa realidade, podereis reconhecer que a arte, em qualquer de suas formas puras, constitui objeto da atenção carinhosa dos invisíveis, com possibilidades outras que o artista do mundo está muito longe de imaginar. No Além, é com o seu concurso que se reformam os sentimentos mais impiedosos, predispondo as entidades infelizes às experiências expiatórias e purificadoras. E é crescendo nos seus domínios de perfeição e de beleza que a alma evolve para Deus, enriquecendo-se nas suas sublimes maravilhas.
O Espiritismo na Arte Capítulo II – A Inspiração
A arte bem compreendida é um poderoso meio de elevação e de renovação. É a fonte dos mais puros prazeres da alma; ela embeleza a vida, sustenta e consola na provação e traça para o espírito, antecipadamente, as rotas para o céu. Quando a arte é sustentada, inspirada por uma fé sincera, por um nobre ideal, é sempre uma fonte fecunda de instrução, um meio incomparável de civilização e de aperfeiçoamento. Porém, em nossos dias, muito freqüentemente ela é aviltada, desviada do seu objetivo, escravizada por mesquinhas teorias de escola e, principalmente, considerada como um meio de chegar à fortuna, às honras terrestres. Emprega-se a arte para adular as más paixões, para superexcitar os sentidos, e assim faz-se da arte um meio de aviltamento. Quase todos aqueles que receberam a sagrada missão de conduzir as almas para o alto se eximiram dessa tarefa. Eles se tornaram culpados de um crime, recusando-se a instruir e a esclarecer as sociedades, perpetuando a desordem moral e todos os males que se precipitam sobre a humanidade. Esse comportamento explica a decadência da arte em nossa época e a ausência de obras importantes. O pensamento de Deus é a fonte das altas e sãs inspirações. Se nossos artistas soubessem beber nessa fonte, nela encontrariam o segredo das obras imperecíveis e as maiores felicidades. O Espiritismo vem lhes oferecer os recursos espirituais de que nossa época tem necessidade para se regenerar. Ele nos faz compreender que a vida, em sua plenitude, é apenas a concepção e a realização da beleza eterna. Viver é sempre subir, sempre crescer, sempre acrescentar em si o sentimento e a noção do belo. As grandes obras só se elaboram no recolhimento e no silêncio, à custa de longas meditações e de uma comunhão mais ou menos consciente com o mundo superior. O alarido das cidades não é conveniente ao vôo do pensamento; ao contrário, a calma da natureza, a paz profunda das montanhas, facilitam a inspiração e favorecem a eclosão do talento. Assim, confirma-se, uma vez mais, o provérbio árabe: “O barulho é para os homens, o silêncio é para Deus!”
A Arte em nosso dia a dia – a questão da harmonia (revista espírita de 1861 pg 105)
Grandes nomes da Arte (Devassando o Invisível – Yvonne Pereira)
Camilo Castelo Branco
Chopin – Frédéric Chopin —, este último considerado suicida na Pátria Espiritual, dado o descaso com que se ativera relativamente à própria saúde corporal; (Memórias de um suicida)
Surpreendeu-nos então a notícia, ali ventilada, de que o gênio de Victor Hugo se confirmava na Terra desde muitos séculos, partindo da Grécia para a Itália e a França, sempre deixando após si um rastro luminoso de cultura superior e de Arte. Seu Espírito, pois, em várias idades diferentes tem sido venerado por muitas gerações, cabendo-lhe positivamente a glória de que se cerca em planos intelectuais. Quanto ao outro, Chopin, alma insatisfeita, que somente agora compreendeu que com o humilde carpinteiro de Nazaré encontrará o segredo dos sublimes ideais que a saciarão, em miríficas expansões de música arrebatadora, transportada da magia dos sons para o deslumbramento da expressão real, deu nos o dramático poema das suas migrações terrenas, uma delas anterior mesmo ao advento do Grande Emissário, mas já a serviço da Arte, cultivando as Belas Letras como poeta inesquecível, que viveu em pleno império da força, na Roma dos Césares!”
Yvonne Pereira comenta em seu livro Devassando o Invisível, que alguns artistas renomados sofrem por serem ainda espíritos sem maiores condições morais. Camilo castelo Branco (pg 27) tentou várias vezes se comunicar, para avisar que não havia morrido, mas as pessoas não acreditavam, e então ele utilizava um codinome.
“Mas, porque não aceitavam Camilo, o escritor? Porque o grande Camilo não se poderia comunicar com qualquer médium, em qualquer Centro Espírita, para falar aos seus irmãos de humanidade, como tanto desejava, se, como Espírito desencarnado, não passava de entidade sofredora, carente de consolo e estímulo para a reabilitação,
embora na Terra houvesse sido mestre da língua portuguesa, romancista emérito? Pois sabemos que o talento, o saber, os títulos honoríficos conferidos pela Terra, a um cidadão desprovido dos dotes morais e qualidades honrosas do caráter e do coração, nada representam na Pátria Espiritual, e até que, na maioria das vezes, somente servem para confundi-lo e sobrecarregá-lo de responsabilidades, porquanto justamente os cérebros mais burilados de cultura são os que deveriam conhecer melhor as leis do Bem e da Justiça, únicas moedas valorizadas no Além-Túmulo. Por isso mesmo, o amigo Camilo Castelo Branco, Espírito necessitado de aprendizado rigoroso, ansioso por servir à causa da Verdade entre os homens, buscando lenitivo para suas muitas dores nas narrativas e lições que, extraídas da própria experiência, sempre desejou oferecer aos encarnados, a fim de aplanar caminhos para os seus resgates futuros, não conseguiu nem médiuns nem Centros Espíritas que lhe aceitassem a palavra, porque os homens o endeusaram tanto, graças a sua copiosa literatura, que até mesmo os espíritas esqueceram que ele, espiritualmente, não passava de entidade vulgar, pela situação moral que seus desacertos terrenos lhe acarretaram no mundo invisível. Muito mais radiosos e sublimes serão Bezerra de Menezes e Emmanuel, almas peregrinas, cuja inefável bondade e elevação de vistas as tornam angelicais por excelência, podendo mesmo asseverar-se que são das individualidades espirituais mais elevadas que se têm comunicado intimamente com a Terra. E, no entanto, aí estão, sem se diminuírem ao se comunicarem conosco. E todos nós os aceitamos, com raríssimas exceções.”
Primeira lição de o Esteta
– A essência da arte, seus domínios
– Criação artística no plano espiritual
Mecanismos da Mediunidade menciona o limite de nossa capacidade de ouvir as ondas sonoras e enxergar a variação das cores (Pg 22)
(15 de Novembro de 1921)
“Estou feliz por vos falar de uma arte que foi minha preocupação constante. Tendes cem vezes razão em defender a causa da arte e colocá-la em paralelo na Terra e no espaço. A arte é de essência divina, é uma manifestação do pensamento de Deus, uma radiação do cérebro e do coração de Deus transmitida sob a forma artística. No entanto, muitas coisas do plano divino não podem ser transmitidas aos homens. A arte, sob forma de inspiração, faz parte desse todo maravilhoso que compõe o Universo. É o relâmpago, ou antes, é a centelha que estabelece a relação entre Deus e suas criaturas. Vós podeis vos perguntar quais são os reflexos que guardamos da arte após haver passado séries de existências em diferentes mundos. Eu vou tentar vos dizer. Em vossa Terra, a arte ainda é uma coisa pouco importante e vos contentais com isso. A arte existe em todos os domínios: no do pensamento, no da escultura, no da música. É neste último que ela se manifesta melhor e torna-se acessível a mais cérebros. Primeiro, quando o espírito humano encarna na Terra e que traz, seja da sua vida no espaço, seja em consequência de um trabalho anterior nas vidas terrestres, uma certa noção do ideal estético, quando chega à maturidade na sua vida terrestre, sua bagagem artística se exterioriza sob a forma de inspirações ligadas a uma qualidade mestra que nós chamaremos de o gosto junto ao sentido do belo. Eis aí, pois, o artista criado e pronto para trabalhar sobre a matéria. Quando esse artista realizou uma vida de trabalho, ele retorna ao espaço. Lá se libertará do seu ser uma quantidade imensa de pensamentos que ele deseja concretizar. Nesse meio fluídico, ele terá todos os materiais necessários para reconstituir o que seu pensamento aprisionado na carne não pôde realizar em uma só existência. O espírito não possui órgão visual, mas o pensamento reúne todos os sentidos. Primeiro, ele recebe em sua memória as mais belas coisas que sensibilizaram seu cérebro na existência precedente. Se ele viveu em um meio elevado, graças às diretrizes adquiridas, os quadros que passarão em seu pensamento serão verdadeiramente inspirados pelo culto do belo. Portanto, nosso ser espiritual, em nome do seu trabalho, será, em pouco tempo, transferido a um meio fluídico suficientemente puro, livre de parcelas materiais, e de lá poderá receber, pela lembrança, o reflexo artístico de suas vidas anteriores. Por um simples querer, tudo se concretizará com a ajuda dos fluidos ambientes. Esse espírito era pintor? Seu pensamento refletirá os quadros dos mestres que ele conheceu e amou. Era escultor? As formas antigas ou clássicas, ou aquelas da sua época aparecerão sobre a tela do seu pensamento. Depois, com o tempo, outros espíritos, não-atraídos pela arte, mas desejosos de se elevarem em direção a um plano superior, se agruparão em torno dos seres que, por seu trabalho e seu adiantamento, planam em regiões fluídicas mais puras. Esses seres, que se aproximam do artista, receberão mais facilmente o pensamento deste último; por um trabalho prolongado, se estabelecerá uma fusão entre o espírito do profano e o espírito do artista. Pouco a pouco, o profano receberá em seu pensamento os quadros e as cenas artísticas do seu mestre espiritual e poderá, então, experimentar alegrias estéticas muito grandes e se tornar, ele mesmo, artista em uma futura existência, porquanto terá recebido os primeiros elementos da arte no contato com um ser mais avançado do que ele. É assim que, geralmente, os meios artísticos se perpetuam da Terra ao espaço, do espaço à Terra, e nos outros mundos, visto que existem aqueles em que os meios de criação artística são mais ricos do que em vosso globo. Devo acrescentar que os espíritos, por trocas de pensamentos, podem criar formas com a ajuda da sucessão de cores que é infinita no espaço: quanto mais os planos são elevados, mais a sucessão de cores é desenvolvida. Na atmosfera terrestre não podemos exteriorizar nosso pensamento de uma forma clara e precisa. É como se vós quisésseis projetar vosso pensamento sobre uma tela cinzenta em lugar de uma tela branca. Às vezes os espíritos se reúnem, através de seus pensamentos, trocam formas, criam quadros variados. Se um espírito que viveu em um mundo superior se encontra no meio deles, ele faz seus irmãos menos privilegiados aproveitarem os recursos artísticos que ele pôde adquirir. O criador dessas cenas tem o poder de destruir imediatamente o que seu pensamento criou. Portanto, essas cenas são passageiras e pessoais ao espírito; mas aqueles que têm o desejo de se elevar podem aproveitar essa projeção artística, constituída pela combinação de moléculas fluídicas emanadas do meio ambiente.”
Inspiração da arte
Na questão 100 em diante, do Livro dos Espíritos, é mencionada a Escala Espírita, onde eles são classificados como de terceira, segunda ou primeira ordem, de acordo com o distanciamento ou predomínio material sobre eles.
Ao mesmo tempo, sabemos que estamos em um mundo de Provas e Expiações, onde o mal predomina, e consequentemente os espíritos de terceira ordem, que demonstram o predomínio da matéria sobre seus pensamentos. Sabemos também a influência que os espíritos exercem sobre nosso pensamento, como colocado na questão 459 do LE.
459 (Livro dos Espíritos) . Influem os Espíritos em nossos pensamentos e em nossos atos?
“Muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto, que, de ordinário, são eles que vos dirigem.”
No lIvro Ação e Reação (capítulo 4):
Hilário, que observava atentamente o duelo íntimo entre a enferma prostrada e a forma-pensamento que se lhe superpunha à cabeça, falou comovido:
– Lembro-me de haver manuseado, há muitos anos, na Terra, um livro da autoria de Collin de Plancy, aprovado pelo arcebispo de Paris, trazendo a descrição minuciosa de diversos demônios, e creio haver visto uma figura gravada nessa obra, semelhante à que
temos sob nossa direta observação.
Silas adiantou, confirmando:
– Isso mesmo. É o demônio Belfegor, segundo as anotações de Jean Weier, que imprevidentes autoridades da Igreja permitiram se espalhasse nos círculos católicos. Conhecemos o livro a que se refere. Tem criado empecilhos tremendos a milhares de
criaturas que inadvertidamente acolhem tais símbolos de Satanás, oferecendo-os a Espíritos bestializados que os aproveitam para formar terríveis processos de fascinação e possessão.
Capítulo 21 – desdobramento
Concentração e desdobramento (Mecanismos da Mediunidade)
Quantos se entregam ao labor da arte, atraem, durante o sono, as inspirações para a obra que realizam, compreendendo-se que os Espíritos enobrecidos assimilam do contacto com as Inteligências superiores os motivos corretos e brilhantes que lhes palpitam nas criações, ao passo que as mentes sarcásticas ou criminosas, pelo mesmo processo, apropriam-se dos temas infelizes com que se acomodam, acordando a ironia e a irresponsabilidade naqueles que se lhes ajustam aos pensamentos, pelo trabalho a que se dedicam. Desdobrando-se no sono vulgar, a criatura segue o rumo da própria concentração, procurando, automaticamente, fora do corpo de carne, os objetivos que se casam com os seus interesses evidentes ou escusos. Desse modo, mencionando apenas um exemplo dos contatos a que aludimos, determinado escritor exporá ideias edificantes e originais no que tange ao serviço do bem, induzindo os leitores à elevação de nível moral, ao passo que outro exibirá elementos aviltantes, alinhando escárnio ou lodo sutil com que corrompe as emoções de quantos se lhe entrosam à maneira de ser.
Citações de Memórias de um suicida. Momentos em que são citadas a arte, a beleza.
Nem assim, como vemos, deixávamos totalmente de exercer atividades. Aprendíamos, ainda! Progredíamos em conhecimentos obtendo, nas citadas reuniões, noções de Arte Clássica Transcendental, de que eram dignos expoentes não apenas nossos mestres, como outros que caridosamente nos visitavam, e até nossas vigilantes, que ensaiavam com eles nova modalidade de servir a Deus e à Criação, isto é, utilizando-se do Belo, empregando a Beleza!… pois convém acentuar que nossos mestres, em sendo cientistas, também se revelavam estetas, enamorados da Suprema Beleza que se origina do Sempiterno Artista!
A cada lição do Evangelho do Senhor, esplanada pelo jovem catedrático, a cada exemplo apreciado do Mestre Inesquecível, seguiam-se testemunhos nossos, na prática entre os humanos e os desventurados sofredores, assim como análises através de temas que deveríamos desenvolver e apresentar a uma junta examinadora, a qual verificaria nosso aproveitamento e compreensão da matéria. Freqüentemente, pois, produzíamos peças vazadas em temas elevados e inspirados no Evangelho, na Moral como na Ciência, romances, poemas, noticiários, etc., etc. Uma vez aprovados, estes trabalhos poderiam ser por nós ditados ou revelados aos homens, porquanto instrutivos e educativos, convenientes, por isso mesmo, à sua regeneração; e o faríamos através da operosidade mediúnica, subordinados a uma filosofia, ou servindo-nos de sugestões e inspirações a qualquer mentalidade séria capaz de captarnos as ideias em torno de assuntos moralizadores ou instrutivos. E quando reprovados repetiríamos a experiência até concordar plenamente o tema com a Verdade que esposávamos e também com as expressões da Arte, de que não poderíamos prescindir.
Os dias consagrados a tais exames eram festivos para todo o Burgo da Esperança.
Legítimos certames de uma Arte Sagrada — a do Bem —, o encanto que de tais reuniões se destacava ultrapassava todas as concepções de beleza que antes poderíamos ter! Esforçavam-se as vigilantes na decoração dos ambientes, na qual entravam jogos e efeitos de luzes transcendentes indescritíveis em linguagem humana, enquanto luminares de nossa Colônia, como Teócrito, Ramiro de Guzman e Aníbal de Silas se revelavam artistas portadores de dons superiores, quer na literatura como na música e oratória descritiva, isto é, na exposição mental, através de imagens, das produções próprias. De outras esferas vizinhas desciam caravanas fraternas a emprestarem brilho artístico e confortativo às nossas experimentações. Nomes que na Terra se pronunciam com respeito e admiração acorriam bondosamente a reanimar-nos para o progresso, ativando em nossos corações humílimos o desejo de prosseguir nas pelejas promissoras.
Não faltaram mesmo em tais assembleias o estimulo genial de vultos como Victor Hugo e Frédéric Chopin —, este último considerado suicida na Pátria Espiritual, dado o descaso com que se ativera relativamente à própria saúde corporal; ambos, como muitos outros, cujos nomes surpreenderiam igualmente o leitor, exprimiam a magia dos seus pensamentos, dilatados pelas aquisições de longo período na Espiritualidade, através de criações intraduzíveis para as apreciações humanas do momento!
Tivemos, assim, ocasião de ouvir o grande compositor que viveu na Terra mais de uma experiência carnal, sempre consagrando à Arte ou às Belas Letras as suas melhores energias mentais, traduzir sua música em imagens e narrações, numa variedade atordoadora de temas, enquanto que o gênio de Hugo mostrava em lições inapreciáveis de beleza e instrução a realidade mental de suas criações literárias! O poder criador desta mentalidade, a quem a Terra ainda não esqueceu e que a ela voltará ainda a serviço da Verdade, servindo a sob prismas surpreendentes, verdadeira missão artística a serviço d’Aquele que é a Suprema Beleza, deslumbrava nossa sensibilidade até às lágrimas, atraindo-nos para a adoração ao Ser Divino porventura com idêntico fervor, idêntica atração com que a faziam Aníbal de Silas e Epaminondas de Vigo valendo-se do Evangelho da Redenção e da Ciência. Era o pensamento do grande Hugo vivificado pela ação da realidade, concretizado de forma a podermos conhecer devidamente as nuanças primorosas das suas vibrações emotivas transubstanciadas em assuntos encantadores da epopeia do Espírito através de migrações terrenas e estágios no Invisível, o que equivale dizer que também ele colaborava na obra de nossa reeducação. Surpreendeu nos então a notícia, ali ventilada, de que o gênio de Victor Hugo se confirmava na Terra desde muitos séculos, partindo da Grécia para a Itália e a França, sempre deixando após si um rastro luminoso de cultura superior e de Arte. Seu Espírito, pois, em várias idades diferentes tem sido venerado por muitas gerações, cabendo-lhe positivamente a glória de que se cerca em planos intelectuais. Quanto ao outro, Chopin, alma insatisfeita, que somente agora compreendeu que com o humilde carpinteiro de Nazaré encontrará o segredo dos sublimes ideais que a saciarão, em miríficas expansões de música arrebatadora, transportada da magia dos sons para o deslumbramento da expressão real, deu-nos o dramático poema das suas migrações terrenas, uma delas anterior mesmo ao advento do Grande Emissário, mas já a serviço da Arte, cultivando as Belas Letras como poeta inesquecível, que viveu em pleno império da força, na Roma dos Césares! Quanto a nós outros, os ensaios que deveríamos levar a efeito seriam igualmente.
Ora, um dos grandes incentivos que nos ofereciam para a conformidade com a situação, eram justamente as reuniões de Arte e Moral a que já tivemos ocasião de nos referir, as quais, no decorrer do tempo, assumiram panorama especial por nos servirem à causa da reabilitação particular, nos exemplos, nas demonstrações, nas análises que nos forneciam, indicando-nos caminhos a seguir, exemplificação a imitar, etc., etc. Assim era, que, nos parques da Cidade, cuja extensão não conseguíramos até então avaliar, existiam recantos portadores de uma espécie de beleza sugestiva inconcebível a um ser humano, tal era a superioridade ideal do conjunto como de cada pormenor, tais as nuanças evocativas que atraíam o pensamento para o domínio da Harmonia na Arte. Tratava-se particularmente de residências, habitações, em que a arquitetura, como a arte decorativa, sobrepujariam tudo quanto os clássicos terrenos têm imaginado de mais nobre e mais belo; de miniaturas de cidades ou aldeamentos pitorescos e lindos, com lagos graciosos marginados de alfombras floridas e odoríferas; de templos consagrados ao cultivo das Belas Letras como das Artes em geral, notadamente da Música e da Poesia, que ali notamos atingir proporções vertiginosas, inimagináveis para qualquer pensador terreno, como no caso de Frederic Chopin, a quem tivemos ocasião de assistir transfigurar a magia dos sons, em encantamento de vocabulário poético traduzido em sequência arrebatadora de visões ideais, as quais ultrapassavam nossas possibilidades quanto à ideia do Belo, arrancando-nos lágrimas de enternecimentos inéditos, assim auxiliando o despertar de faculdades espirituais que em nosso ego jaziam latentes! Dir-se-ia mesmo serem a Música e a Poesia as artes preferidas pelos iniciados — se fora possível afirmar tais predileções em mentes como aquelas, educadas sob os mais adiantados princípios do Ideal que poderíamos conceber! E até reproduções exatas, porém apresentadas em sublime estado de quintessência, lidimamente aformoseadas até à reverência, porque construídas fluidicamente, sob pressão de vontades adestradas na superioridade das concepções magnânimas do Amor e do Bem, — das paisagens evocativas da peregrinação messiânica, cenários sugestivos e atraentes dos primeiros acordes da palavra imortal que descera das Regiões Celestes para consolo dos sofredores e liberação dos oprimidos!
Foi-nos concedida, assim, a satisfação gratíssima de palmilhar ao longo do lago de Genesaré como de Tiberíades e de outros locais saudosos, testemunhas do divino apostolado do Senhor; e, tais eram as sugestões de que impregnavam essas reproduções, que era como se o Divino Amigo houvesse dali se afastado desde apenas poucos momentos, pois recebíamos ainda, em nossas repercussões mentais, o doce murmúrio de sua voz como que emitindo os últimos acordes, que se diriam vibrando no ar, da melodia inesquecível que tão bem há calado no coração dos deserdados, faz dois mil anos: “Vinde a mim, vós que sofreis, e eu vos aliviarei. Aprendei comigo, que sou brando e humilde de coração, e achareis repouso para vossas almas…”
Em presença dessas augustas expressões de amor e veneração ao Mestre, concedidas pelas nobres entidades executoras da beleza do burgo onde vivíamos, muitas vezes abismei-me em meditações profundas e enternecedoras, enquanto deixava rolar doridas lágrimas de arrependimento à evocação daquele ano 33, que, agora, eu Poderia recordar com facilidade —, quando, madeiro ao ombro, paciente, humilde, resignado, o Messias, agora venerado em meu coração, então galgava a encosta rumando ao Calvário, ao passo que eu vociferava demoniacamente, exigindo com presteza o seu suplício! No entanto, à entrada de cada um desses locais via-se o distintivo da Legião e o nome das servidoras que os imaginavam e realizavam, pois convém esclarecer serem todas essas minúcias realizadas pela mente feminina sediada nos serviços educativos do nosso Instituto. Em cada dia de reunião, eram oferecidas aos circunstantes, como em particular aos internos, horas gratíssimas de sublime aprendizado, durante o qual nos ofertavam comoventes exemplos de abnegação, de dedicação ao próximo, de humildade e paciência, como de heroísmo e valor moral frente à adversidade, os quais caíam em nosso âmago como generoso estímulo ao progresso que necessitávamos tentar. Esse aprendizado, concedido pela empolgante elucidação extraída da própria história da Humanidade com suas lutas e dores inumeráveis, suas vitórias e reabilitações, era-nos ministrado, conforme foi esclarecido, por nossos próprios mestres e mentores ou pelas caravanas visitadoras que até nós desciam no intuito fraterno de contribuir para nosso conforto e progresso. Porém, muitos dramas fortes, vividos pelas próprias damas da Vigilância, assim como por personagens destacadas de nossa Colônia, como Ramiro de Guzman e os dois de Canalejas, foram-nos permitidos conhecer como exemplificação e advertência, muitos apresentados mesmo como modelos dignos de serem imitados. E esses dramas mais não eram do que a narrativa, que faziam, das lutas sustentadas durante as experiências do progresso, dos sacrifícios testemunhados na encarnação ou através de labores incansáveis no Espaço. Sobre o que nos davam a conhecer, éramos convidados, depois, a opinar e fazer apreciações e comentários morais e artísticos, observando nós outros, entre muitas outras coisas importantes para o nosso reajuste nos campos da Moral, o fato surpreendente de encontrar-se o homem rodeado das mais formosas expressões de uma Arte superior entre todas, durante as lides profundas de cada dia: — a Arte gloriosa de aprender a desenvolver em si mesmo os valores espirituais que se encontram latentes em suas profundezas anímicas! Um dia, finalmente, fomos informados de que tocara a vez de nossas bondosas vigilantes apresentarem o fruto de suas meditações fulgentes, de sua sensibilidade nobremente inclinada para os ideais superiores. Grande alvoroço agitou nosso grupo, como seria natural; a expectativa emocionava-nos, e foi apossados de incontida satisfação que, no dia aprazado, nos dirigimos para os locais criados por aquelas ternas amigas, cujo fraternal desvelo mantinha sempre acesa em nosso imo a chama do afeto sacrossanto da Família, o desejo do lar, o respeito de nós mesmos. Rita de Cássia era poetisa. Seu sensível feitio de crente convicta e seu formoso caráter fortalecido no fervor diário de atos de amor e dedicação ao próximo, quer no seio da sociedade em que espiritualmente vivia ou no desempenho de tarefas ao seu cuidado confiadas para as operosidades em planos terrenos, deixavam-se embalar ao ritmo de legítima inspiração. Ela própria viera ao Internato requisitar nossa presença, conduzindo-nos à sua residência, onde então entramos pela primeira vez. Tratava-se de mimoso santuário arquitetado sob domínio de sugestões comovedoras da sua grande piedade filial, pois ela o imaginara através de saudades santificadoras e resignadas daqueles que foram seus pais na Terra, os quais muito a haviam amado, pois Ritinha era modelo de filha amorosa e terna, agradecida e respeitadora! A sua residência de Cidade Esperança ela imprimira, portanto, o conjunto minucioso, porém elevado por singular aformoseamento, do lar paterno, sob cujos desvelos vivera sua curta existência planetária, a última vez, em Portugal, extinta lá pelos idos de 1790… Entardecia suavemente. Tonalidades mansas mesclavam de reverberações variegadas a atmosfera melancólica da Cidade Universitária, que se diria penetrada de fluidos lucilantes e regeneradores, os quais, alindando-a, lenificando-a, a todas as mentes ali aquarteladas induziam a vibrações ternas, a todos os corações mobilizando para ritmos superiores. Eram em número diminuto os convidados da formosa entidade que recepcionava aquela tarde. Seus pupilos, alguns amigos mais íntimos e os mestres iniciados, cuja presença seria indispensável — pois que também ela aprendia ao contacto das lúcidas mentalidades que a nós outros educavam, era toda a assistência. Entre os amigos notamos com prazer os dois de Canalejas, Joel Steel, a quem a menina parecia render culto fraterno fervoroso, e Ramiro de Guzman. Todos reunidos, a jovem poetisa chamou-nos para certo recanto ameno do jardim, onde o efeito dos últimos raios do Astro Rei, casando-se aos fluidos ambientes, realizavam arrebatador matiz, coisa que, para nós outros, pobres desconhecedores dos fascinantes motivos comuns ao mundo espiritual, se afigurou um retalho do céu para ali transplantado como bênção encantadora e consolativa. Penetramos, porém, então, como que numa câmara de dimensões amplas e agradáveis, verdadeiro escrínio de sonho, cuja graciosidade e doce beleza seriam como atestados mimosos da gentileza da sua criadora, menina cuja mente, não obstante muito esclarecida, aprazia-se em conservar a delicada sensibilidade das quinze primaveras. Tratava-se de pequeno salão ao ar livre, engrinaldado de rosas trepadeiras cujo aroma deliciava, estimulando o senso do Belo, o anseio pelo melhor. Artísticas e originais poltronas alinhavam-se em semicírculo, as quais, como estruturadas em ramarias de arbustos floridos, predispunham graciosamente o recinto, qual se esperassem anjos ou fadas para reunião seleta, enquanto acima o firmamento docemente azulado deixava escorrer a claridade longínqua dos planetas e dos sóis multicores, entornando também com ela a harmonia esplendente da sua celestial beleza…
Uma harpa, que se diria estruturada com essências aurifulgentes, muito belas e translúcidas, destacava-se ao lado de pequena mesa de construção idêntica, artística qual joia de filigrana, e sobre ela um livro — um grande álbum —, primor fluídico, luminoso qual pequena estrela azul, despertando imediatamente a atenção dos presentes. Sentou-se Ritinha de Cássia à mesa, depois de haver disposto os convidados nas poltronas, permanecendo nós outros, os tutelados, em primeiro plano. Tomou do livro a gentil preceptora, abrindo-o em seguida. Tratava-se da mais recente coleção de suas composições poéticas, ilibadas criações de sua mente voltada para ideais superiores, nos campos da nobre e meritória arte de bem versejar. Os caracteres luminosos, como acionados por almo e indefinível magnetismo, cintilavam como decalcados em estrias beijadas pelos revérberos das estrelas distantes que, conosco, partilhavam da harmonia do entardecer. Solicitou a jovem anfitriã ao irmão Ramiro de Guzman que a acompanhasse ao som da harpa, no que foi gentilmente atendida. Acordes clássicos de suave melodia ondularam pelo recinto florido e perfumado, dando a estranha impressão, porém, de que orquestração completa fazia-se ouvir apoiada somente na proteção sugestiva oferecida pelo divinal instrumento. Então, no silêncio harmonioso da formosa Cidade Universitária, sob o flóreo dossel das rosas cintilantes e a bênção fulgurante das estrelas, Ritinha entrou a declamar suas produções poéticas. E nós, que, por essa época, apenas acabávamos de ambientarmos ao local; nós, que, apesar disso, já recebêramos formosas lições de Moral, de Filosofia e de Ciência, fomos também agraciados com visões inéditas de indescritível beleza literária, até então inconcebíveis às nossas mentes! Ritinha lia no seu álbum. Mas, sua leitura superior, sua declamação mais do que maravilhosa — divina! —, artisticamente entonada por vibrações cuja arrebatadora doçura ultrapassava a possibilidade de uma descrição em linguagem terrena, sugeriam encantamentos, emoções inimagináveis, enquanto de Guzman completava a fascinação da peça com os acordes da música elevada e pura! Espírito habilitado já para os carreiros do progresso franco, Rita de Cássia de Forjaz Frazão, cujo nome era, por si mesmo, poesia, também era das poucas vigilantes que sabiam plenamente criar as cenas do pensamento, coordená-las, dar lhes vida, contornando-as de feição moral e pedagógica, realizando, num mesmo trabalho mental, o belo da Arte, a moral da Lei, a Utilidade da lição que prenda por apontar o sagrado dever de cada um servir à causa da Verdade com os dotes intelectuais e mentais que possuir! Nós outros, o grupo dos dez delinquentes presentes, havíamos cultivado as Belas Letras quando encarnados no globo terráqueo. Nenhum de nós, porém, soubera enobrecer o dom magnânimo conferido pelo labor continuado do Pensamento, aplicando-o a serviço regenerador dos leitores. Servíramos, quando muito, à nossa própria bolsa, à vaidade e ao orgulho, satisfeitos por nos julgarmos privilegiados, senhores de situação especial, à parte dos demais homens, mas em verdade apenas produzindo banalidades fadadas ao olvido, quando, com teorias errôneas, não virulássemos a mente impressionável de um ou outro leitor, tão frívolo quanto nós, que nos levasse a sério. Eis, porém, que, além-túmulo, uma menina de apenas quinze anos apresentava-nos o padrão do intelectual moralizado, ensinando-nos a servir à nobre causa da redenção própria e alheia enquanto cultivava o que fosse agradável e lindo, oferecendo-nos, assim, a proveitosa lição que caiu nas sutilezas do nosso entendimento, confundindo-nos e envergonhando-nos à lembrança do desperdício dos valores intelectuais que possuímos.
Entrementes, enquanto declamava a gentil poetisa, lendo em seu álbum cor de estrelas, de sua mente ebúrnea evolavam ondas luminosas, que, atingindo todo o recinto ornamentado de rosas, absorvia-o em suas vibrações dulcíssimas, a tudo impregnando do seu franco poder sugestivo. As cenas descritas nos versos cantantes e deliciosos corporificavam-se ao redor de nós, estabeleciam vida e movimento arrastando-nos à ilusão inefável de estarmos presentes em todos os cenários e passagens, assistindo, quais comparsas fabulosos, às elegias ou epopeias, aos doces romances de amor magnificamente contados através dos mais lindos e perfeitos poemas que até aquela data pudemos conceber! O desfile poético que a Terra venera como patrimônio imortal,legado pelos gênios que a têm visitado, daria pálida ideia do que presenciamos naquele entardecer lenificante do Burgo da Esperança! Os versos cantavam de preferência a Natureza, assim da Terra que do Espaço, e de alguns outros planetas habitados, já por ela estudados atenciosamente, louvando em arrebatados haustos ou glorificando em doçuras de prece a obra da Divina Sabedoria, envolta sempre nas miríficas expressões da Beleza e da Perfeição! Aqui, eram os mares e oceanos deslumbrantes, retratados habilmente à nossa vista; à proporção que declamava a poetisa, positivando a suntuosa beleza que hes é própria. À página seguinte vinham as odes triunfais às montanhas altaneiras e imponentes, monumentos eternos da Natureza à glória da Criação, ricas depositárias de valores inestimáveis, como escrínios sagrados onde o Onipotente ocultou tesouros até que os homens, por si mesmos, dignamente deles se apossem, como herdeiros que são da divina herança! Mais adiante, a exuberância das selvas, mundos ignotos diante dos quais a criatura medíocre se intimida e recua, mas que ao idealista emociona e revigora de fervor no respeito a Deus. As selvas! Sacrário fecundo e profuso, como o oceano, em cujo seio turbilhões de seres iniciam o giro multimilenar na ascensão para os pináculos do Existir, e seres, como toda a Criação, batizados nas bênçãos vivificadoras do Sempiterno, que os dirige através da perfeição suprema de suas leis! Mas não era tudo: — acolá, em mais outra página, floresciam elegias dizendo dos panoramas humanos em demanda da redenção; histórias emocionantes, atraentes, de amigos da própria poetisa, e que perlustraram caminhos sacrificiais, por atingirem ditosos planos na escala espiritual!…
Ao arrebatador anseio poético de Ritinha, nossas mentes com ela vibravam, captando suas mesmas emoções, as quais penetravam nossas fibras espirituais quais refrigerantes bálsamos propiciadores de tréguas às constantes penúrias pessoais que nos diminuíam. E era como se estivéssemos presentes, com seu pensamento, em todo aquele fastígio imaginado: — vogando pelos mares imensos, galgando montanhas suntuosas para descortinar horizontes arrebatadores; alçando espaços estelíferos, mergulhando no éter irisado para o êxtase da contemplação harmoniosa da marcha dos astros; coparticipando de dramas e acontecimentos narrados eloqüentemente, nas altas, sublimes expressões a que só a legítima poesia será capaz de nos arrastar!
Em verdade, os temas apresentados não nos eram desconhecidos. Ela falara, simplesmente, de assuntos existentes em nossos conhecimentos. Justamente por isso era que podíamos sorver até ao deslumbramento a grandiosa beleza que de tudo irradiava. Todavia, suas análises de ordem superior revelavam feições inéditas para a nossa percepção, traduzindo o fato novidade empolgante para nossos espíritos engolfados nas conjeturas simplesmente humanas, quando o que presenciávamos agora era a classe elevada com que, literariamente, se poderia reportar ao plano divino! Quando sua voz silenciou e os sons da harpa esmaeceram nos acordes finais, nós outros, que desde muito nos desabituáramos de sorrir, deixamos expandir do seio reconfortado o sorriso bom de salutar satisfação. Ela própria usou da palavra, dirigindo-se a nós:
Matéria – DIMINUIÇÃO DE TUMORES COM MÚSICA DE BEETHOVEN
Mesmo quem não costuma escutar música clássica já ouviu, numerosas vezes, o primeiro movimento da “Quinta Sinfonia” de Ludwig van Beethoven. O “pam-pam-pam-pam” que abre uma das mais famosas composições da História, descobriu-se agora, seria capaz de matar células tumorais – em testes de laboratório. Uma pesquisa do Programa de Oncobiologia da UFRJ expôs uma cultura de células MCF-7, ligadas ao câncer de mama, à meia hora da obra. Um em cada cinco delas morreu, numa experiência que abre um nova frente contra a doença, por meio de timbres e frequências.
A estratégia, que parece estranha à primeira vista, busca encontrar formas mais eficientes e menos tóxicas de combater o câncer: em vez de radioterapia, um dia seria possível pensar no uso de frequências sonoras. O estudo inovou ao usar a musicoterapia fora do tratamento de distúrbios emocionais.
– Esta terapia costuma ser adotada em doenças ligadas a problemas psicológicos, situações que envolvam um componente emocional. Mostramos que, além disso, a música produz um efeito direto sobre as células do nosso organismo – ressalta Márcia Capella, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, coordenadora do estudo.
Como as MCF-7 duplicam-se a cada 30 horas, Márcia esperou dois dias entre a sessão musical e o teste dos seus efeitos. Neste prazo, 20% da amostragem morreu. Entre as células sobreviventes, muitas perderam tamanho e granulosidade.
O resultado da pesquisa é enigmático até mesmo para Márcia. A composição “Atmosphères”, do húngaro György Ligeti, provocou efeitos semelhantes àqueles registrados com Beethoven. Mas a “Sonata para 2 pianos em ré maior”, de Wolfgang Amadeus Mozart, uma das mais populares em musicoterapia, não teve efeito.
– Foi estranho, porque esta sonata provoca algo conhecido como o “efeito Mozart”, um aumento temporário do raciocínio espaço-temporal – pondera a pesquisadora. – Mas ficamos felizes com o resultado. Acreditávamos que as sinfonias provocariam apenas alterações metabólicas, não a morte de células cancerígenas.
“Atmosphères”, diferentemente da “Quinta Sinfonia”, é uma composição contemporânea, caracterizada pela ausência de uma linha melódica. Por que, então, duas músicas tão diferentes provocaram o mesmo efeito?
Aliada a uma equipe que inclui um professor da Escola de Música Villa-Lobos, Márcia, agora, procura esta resposta dividindo as músicas em partes. Pode ser que o efeito tenha vindo não do conjunto da obra, mas especificamente de um ritmo, um timbre ou intensidade. Em abril, exposição a samba e funk.
Quando conseguir identificar o que matou as células, o passo seguinte será a construção de uma sequência sonora especial para o tratamento de tumores. O caminho até esta melodia passará por outros gêneros musicais. A partir do mês que vem, os pesquisadores testarão o efeito do samba e do funk sobre as células tumorais.
– Ainda não sabemos que música e qual compositor vamos usar. A quantidade de combinações sonoras que podemos estudar é imensa – diz a pesquisadora.
Outra via de pesquisa é investigar se as sinfonias provocaram outro tipo de efeito no organismo. Por enquanto, apenas células renais e tumorais foram expostas à música. Só no segundo grupo foi registrada alguma alteração.
A pesquisa também possibilitou uma conclusão alheia às culturas de células. Como ficou provado que o efeito das músicas extrapola o componente emocional, é possível que haja uma diferença entre ouví-la com som ambiente ou fone de ouvido.
– Os resultados parciais sugerem que, com o fone de ouvido, estamos nos beneficiando dos efeitos emocionais e desprezando as consequências diretas, como estas observadas com o experimento – revela Márcia.
Livros consultados
Livro dos espíritos (Allan Kardec)
Obras Póstumas (Allan Kardec)
Revista espírita 1961 (Allan Kardec)
O Consolador (Emmanuel/ Chico Xavier)
O espiritismo na Arte (Léon Denis)
Mecanismos da Mediunidade (André Luiz/ Chico Xavier)
Memórias do Padre Germano (Amália Domingos Soler)
Pensamento e Vontade (Ernesto Bozzano)
Devassando o Invisível (Yvone Pereira)
Memórias de um suicida (Yvone Pereira)
Assim, se sabemos de tudo isso, cabe a cada um de nós selecionar o tipo de arte a que damos acesso em nossas mentes e corações. Cabe a cada um de nós o esforço de procurar elementos mais elevados, que nos ajudem também a progredir nessa escala espiritual.