Biografia de Euripedes Barsanulfo – palestra 28.2.18
Biografia de Euripedes Barsanulfo
Estudo CELC – Sueli Padilha- 28/02/2018
1ª PARTE
Nasceu em Sacramento, MG, em 01/05/1880. Desencarnou em 01/11/1918, com 38 anos de idade. Filho de Hermógenes de Araújo “seu Mogico” e de Jerônima Pereira de Almeida “dona Meca”. Terceiro filho de 15 irmãos. Seu Mogico e dona Meca não gozavam de boa saúde.
Ele sofria do mal de béri-béri (doença causada pela falta de vitamina B1 no organismo/fraqueza/cãibras) e ela de “ataques nervosos”, bastava uma notícia desagradável, uma emoção mais forte e Dona Meca, pálida, caía desmaiada. Eurípedes Barsanulfo, quando criança passou a sofrer de maleita (mesmo que malária (picada de pernilongo/febre desânimo). “Seu ”Mogico vivia com a família perto da Estação da Estrada de Ferro Mogiana, e trabalhava como gerente no armazém de secos e molhados. O salário era pequeno e as dificuldades enormes.
Era costume os meninos usarem camisolas até Oito anos e D.Meca costurava um bolsinho onde o menino guardava um pedaço de pele de porco e um pedaço de rapadura. Ele chupava a pele o dia todo para enganar a fome. Com apenas cinco anos de idade passou a colaborar com o pai no trabalho. Quase da altura do balcão, atendia os fregueses, fazia embrulhos e, às vezes, podia ser visto em frente à Estação Cipó, mesmo nos dias de chuva, com os pés descalços no barro vermelho, tomando conta de cavalos ou bestas de carga; quando não carregando pesadas malas de viajantes comerciais. Recebia em troca moedas de cobre que eram colocadas, à noitinha, nas mãos de D. Meca, dizendo que guardasse para o dia em que faltasse pão em casa. Conta-se que, aos quatro anos, desejoso de possuir uma moeda para comprar doces, seus coleguinhas mais velhos sugeriram-lhe que fizesse uma com caco de telha. Não perdeu tempo, pegou um pedaço de telha e o esfregou em uma pedra até ficar redondinha como uma moeda, lá se foi, alegre, comprar o desejado doce. O dono do armazém, sorrindo, deu-lhe a guloseima escolhida. “Seu”Mogico, mais uma vez, transferiu a família para o centro de Sacramento, onde, com economias, e o auxílio de bons amigos, adquiriu uma loja de fazendas e miudezas em geral,colocando o nome de “Casa Mogico” que servia ao mesmo tempo de loja e residência.
A vida, melhorava para o casal, não obstante o beri-béri de “Seu” Mogico e os “ataques nervosos”de Dona ‘Meca. E o aumento da prole. Com seis anos de idade, aprendera a ler e fazer as contas Em seguida, ingressou no Colégio Miranda. Sacramento não oferecia possibilidade maior à juventude estudiosa, e Eurípedes, desejoso de progredir, sugeriu a idéia de matricular-se em um colégio, em São Paulo ou na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, então capital do Império e onde se encontrava a Corte de D. Pedro II.
“Seu” Mogico, aceitou a idéia, mas D. Meca, só de pensar em separar-se do filho, teve um ataque nervosos e perdeu os sentidos. Eurípedes então continuou em Sacramento, estudando na condição de autodidata. (quem se instrui por esforço próprio sem ajuda de mestres) Com uma vontade férrea, e inteligentíssimo, com o auxílio do mestre Inácio Martins de Melo dominou o idioma francês, falando-o com desenvoltura. Sua cultura avolumava-se, mesmo porque as mais importantes obras publicadas em qualquer língua eram traduzidas para o francês e Eurípedes as recebia pelo reembolso postal das melhores livrarias do Rio de Janeiro, graças à compreensão e ajuda monetária de seu pai, um homem progressista.
Seu tratamento com o próximo revestia-se, sempre, da maior dignidade. Para Eurípedes, brancos e negros, pobres e ricos, eram iguais, e a todos tratava de “senhor” ou “senhora”,; inclusive, a seus próprios irmãos, irmãs e alunos. Essa dignidade transparecia em seu modo de trajar. Usava sobrecasaca que lhe descia até os joelhos, colarinho alto e engomado, gravata borboleta, chapéu coco – roupas da época, que suas irmãs Edirite e Maria Neomísia mantinham sempre muito limpas. Era, constantemente, visto com um guarda-chuva. E, nunca abria o guarda-chuva, se ao seu lado estivessem amigos desprevenidos, a fim de não ficar em situação privilegiada…
Com menos de dezoito anos de idade, havia montado em sua própria residência uma pequenina farmácia homeopática a fim de curar os enfermos dos arredores da cidade que viviam em casebres miseráveis, conseguira o cargo de gerente na firma, colaborar com o pai no trabalho.
Antes de completar os vinte anos de idade fora co-fundador da Irmandade de São Vicente de Paulo.
A instalação da farmácia homeopática a serviço dos pobres e as suas visitas quase diárias às favelas de Sacramento eram evidentes sintomas de que, em breve, Eurípedes Barsanulfo iria revelar-se médium curador. E mais: que sua conversão ao Espiritismo seria fácil. Eurípedes, sem o notar, já procedia como um autêntico espírita, não obstante católico praticante! Mas, não podia ele, ainda, ser despertado para as grandes realidades do mundo espiritual, e, sem deixar transparecer, os Espíritos Guias trabalhavam sua mediunidade, que iria revelar-se poderosa…Entre esses Espíritos encontrava-se o Dr. Bezerra de Menezes, o médico dos pobres. De nada o apostolo suspeitava. Eurípedes continuava firme no propósito de bem servir a coletividade; quer no campo da cultura (como diretor do grêmio lítero-musical sacramentano e peças teatrais) quer no divino campo da caridade, visitando os aflitos, distribuindo remédios, resolvendo problemas alheios, repartindo seu salário entre os mais necessitados.
Eurípedes Barsanulfo nunca faltou a um compromisso e era escravo do relógio: nas reuniões foi sempre o primeiro a chegar.
Visando prestar mais um serviço de utilidade pública, pois instruir o povo de todas as formas, era seu lema, aos vinte e um anos de idade lançou a “Gazeta de Sacramento”. Por dois anos Eurípedes publicou artigos, abordando os mais variados assuntos, inclusive, literários. Suas realizações em prol do povo, nessa época, não cessavam. E, em companhia de amigos mais o padre Pedro Ludovico de Santa Cruz, e intelectuais da cidade, Eurípedes Barsanulfo fundou o Liceu Sacramento, cujas portas se abriram em 31 de janeiro de 1902, A instituição progrediu rapidamente adquirindo alto conceito, junto à população.
Amado pelo povo, muitas vezes foi ele solicitado pelos velhos políticos de Sacramento, para que entrasse na política, e, sempre amável, recusava o convite. “Seu” Mogico, ao ter notícia do convite mostrou-se alegre com a possibilidade de ver o filho vereador. Insistia para que Eurípedes se tornasse líder político..Seu pai pedia que aceitasse o convite assim poderia auxiliar mais pessoas. “Seu”Mogico tinha razão. A política, usada no sentido Cristão, é instrumento de progresso coletivo. Assim acabou por aceitar o convite.
E em 1902 tornou-se vereador na Câmara Municipal de Sacramento.
Eurípedes Barsanulfo, agora, ocupava quatro postos de muita responsabilidade – o de jornalista, o de vereador, o de professor no Liceu Sacramento e do se secretário da Irmandade de São Vicente de Paulo.
Após quatro anos pediu seu desligamento como vereador, por não concordar com as idéias dos colegas.
Moço culto, educado e bem apessoado, os parentes, vez ou outra, falavam-lhe em casamento, lembrando moças da sociedade. Eurípedes, então, com um sorriso nos lábios respondia; – Casar? Não posso…já estou casado com a pobreza! (entre as moças que sonhavam casar com Eurípedes destacava-se Maria Gonçalves dos Santos, então com dezesseis anos de idade e sua aluna brilhante (mais tarde ela faria parte do corpo de professores do Colégio Allan Kardec). Certa vez, durante a aula, Eurípedes captou-lhe o pensamento e disse: Senhorita Maria Gonçalves, não convém pensar em casamento…. Eu desencarnarei solteiro e a senhorita, também. Não continue, pois, com essas divagações românticas… E a profecia cumpriu-se: desencarnaram ambos solteiros)
2ª PARTE
Em 1905, aos vinte e cinco anos de idade, a Espiritualidade lhe marcara um encontro com a Doutrina Espírita.
Antes de Eurípedes Barsanulfo converter-se ao Espiritismo alguns parentes realizavam sessões mediúnicas em Santa Maria, lugarejo distante 14 quilômetros do centro de Sacramento – uma região montanhosa com terra vermelha e algumas casas rústicas. As sessões em Santa Maria eram realizadas na casa de Honorato Ferreira Cunha (tio de Eurípedes ) situada na Fazenda Santa Maria, de propriedade do capitão Joaquim Gonçalves e sua esposa Ana Petronilha de Araújo; tios de “Seu”Mogico e, portanto, tios-avós de Eurípedes.
No dia 28 de agosto de 1900, foi fundado pelo grupo o Centro Espírita “Fé e Amor” que tinha como médiuns Joaquim Gonçalves de São Roque (médium de efeitos físicos e responsável principal pelas sessões com a “mesa girante”); José Ferreira da Cunha (médium vidente); João Candido (médium passista e receitista); Luiz Ferreira da Cunha e João Pereira de Almeida (médiuns curadores); Mariano da Cunha Junior (médium receitista mecânico e de efeitos físicos) e Jason Ferreira da Cunha e Aristides de Oliveira, dois caboclos analfabetos que trabalhavam na fazenda e dotados de várias mediunidades. Participava, também, das sessões a madrinha de Eurípedes, a Sra. Emerenciana Mendonça, médium de efeitos físicos e cura – entre outras senhoras. Quase todos os participantes, pois, tinham parentesco entre si.
O Centro Espírita “Fé e Amor” atendia, gratuitamente, os enfermos com uma farmácia homeopática. As receitas eram psicografadas por João Candido e Mariano da Cunha Júnior.
As sessões, ricas de fenômenos eram assistidas por lavradores das redondezas e suas famílias.
Eurípedes Barsanulfo, até então, não procurava inteirar-se a fundo do que sucedia em Santa Maria. Ouvia, apenas, falar que inúmeros parentes seus haviam se tornado espírita; inclusive, um irmão de sua mãe. Entre os parentes convertidos à Doutrina Espírita havia um, porém, a quem Eurípedes dedicava especial afeição – seu tio Mariano da Cunha Júnior, homem sem cultura, porém inteligente e bom. Fora materialista, mas havia desenvolvido a mediunidade e agora transferira-se para Santa Maria… Quando soube que o tio se convertera ao Espiritismo, difamado pelo clero como a “doutrina de Satanás”, Eurípedes, muito católico, lhe disse: O senhor, que foi materialista, está agora ligado a essa doutrina…. Como foi isso possível? Tio Mariano, que por estranha coincidência trazia na mão a obra de Léon Denis, “Depois da Morte”, respondeu, tranquilamente: Coisas do destino, meu sobrinho… pouco entendo de Espiritismo para poder responder certo a você, que é moço culto e inteligente. Mas, já que gosta tanto de ler, trago aqui um livro que lhe recomendo… leia com atenção e veja se o Espiritismo é doutrina de Satanás. Esse livro não põe a gente louco, não. Eurípedes pegou a obra, folheou-a e leu ao acaso as seguintes palavras de Léon Denis: “Aos nobres e grandes Espíritos que me revelaram o mistério augusto do destino, a lei do progresso na imortalidade, cujos ensinos consolidaram em mim o sentimento da justiça, o amor da sabedoria, o culto do dever, cujas vozes dissiparam as minhas duvidas, apaziguaram a minhas inquietações; às almas generosas que me sustentaram na luta, consolaram na prova e elevaram meu pensamento até as alturas luminosas em que assenta a Verdade eu dedico estas páginas”.
Curiosa, esta dedicatória, observou Eurípedes, olhando o tio. Passou a noite inteira lendo o livro de Léon Denis. Admirou-lhe o estilo fluente, sonoro, elegante; surpreendeu-se com os conceitos filosóficos sobre a Vida e a Morte, que lhe pareceram absolutamente corretos; encontrou na reencarnação a única explicação racional para os desequilíbrios físicos, morais e sociais. O destino do ser humano além-túmulo não mais lhe era uma esfinge indecifrável…Encontrou respostas para bem compreender os Evangelhos sobretudo o “Sermão da Montanha” que lera com devoção na Bíblia que ganhou de presente do pároco da cidade.( O Padre disse que não era para falar para ninguém porque o livro era proibido pela igreja )
O livro luminoso de Denis era uma revelação fantástica! Escrito com uma lógica de ferro, quem poderia, sem sofismas, refutá-lo? A Doutrina Católica parecia-lhe, agora comparada à Doutrina Espírita, como que um conto de carochinha… E Eurípedes, ao devolver a grande obra disse: Meu tio, por essa eu não esperava! De fato, este livro é um monumento!- Fique com ele. É um presente. E Eurípedes releu-o. A segunda leitura consolidou a primeira impressão e, o que lhe parecia estranho, é que havia aceitado com naturalidade os princípios espíritas; aceitara-os sem lhes opor nenhuma barreira! Agora, para continuar na Doutrina Católica só havia um meio – provar que o fenômeno espírita não existia e que, portanto, o livro de Léon Denis não passava de devaneios filosóficos, não obstante a lógica.
Dias depois, tio Mariano voltou a Sacramento e disse a Eurípedes : Você precisa ir a Santa Maria e ver os espíritos se comunicarem. Pois aceito seu convite! Gostei do livro de Léon Denis, li-o duas vezes; mas, agora, quero os fatos. A prova de que a verdade está com a Doutrina Espírita. Em 1902 Eram constantes os comentários sobre os fatos que lá ocorriam há alguns anos: Ouviam-se vozes, assobios, pedras caiam sobre as casas, animais eram assustados por alguma coisa invisível. Pessoas iletradas e ignorantes falavam e escreviam de forma literária impecável. Vai ficar admirado quando ouvir Jason ou o Aristides, em transe, comentar as parábolas do Evangelho. Dias depois, os dois seguiram a cavalo para Santa Maria, conversando sobre os diversos aspectos da Doutrina dos Espíritos.
Quando chegaram, já a enorme porta rústica da casa de Honorato Ferreira da Cunha havia sido retirada do
batente e colocada sobre dois cavaletes, no meio da sala, servindo de mesa. A sessão teve início com uma sentida prece. Ali estava Aristides seu conhecido que tinha um coração de ouro mas o cérebro vazio. Pensou: Se é verdade que os Espíritos se comunicam com os vivos, rogo a João Evangelista que me esclareça com o médium Aristides.
Seu pedido foi atendido. Surpreso e profundamente emocionado ouviu preleção de rara beleza e sabedoria pela
boca de um médium de pouca cultura, totalmente incapaz de tal proeza. Era comprovação da veracidade da comunicação. A bela mensagem esclarecida terminou com a saudação; “Paz! João, o Evangelista.
(Francisco Cândido Xavier conta que nos tempos evangélicos, Eurípedes fora educado por Inácio, pupilo de João, que se tornara grande propagador da Boa Nova na Antioquia. Adolescente ainda, Eurípedes substituira o benfeitor na pregação na Palestina, onde manteve contatos com João e onde fora martirizado).
Mariano da Cunha Junior entrou em transe e o espírito Dr. Bezerra de Menezes disse, após cumprimentar os presentes: Enfim, Eurípedes Barsanulfo, você está entre nós. Louvado seja Deus! Alegre-se, meu filho, porque sua hora é chegada. Há entre nós um espírito de alta hierarquia que deseja lhe falar… Devo retirar-me…E, em seguida, manifestou-se através do tio Mariano, outra entidade. – “Quem será? ” – Pensou Eurípedes. O espírito captou-lhe o pensamento. Sou seu Espírito Protetor. Como se chama? Em minha última existência na Terra deram-me o nome de Vicente de Paulo. São Vicente de Paulo? – Sim. Eu e você, Eurípedes, somos amigos de outras vidas. Você já foi em França, eclesiástico, médico, professor… E tem agora uma missão importante a realizar no Brasil. Lendo o livro de Léon Denis recordou ensinamentos… Sabe agora que a Verdade, pregada por Jesus, não se encontra na Doutrina Católica. Pois bem, meu filho, apesar da Irmandade São Vicente de Paulo ter o meu nome afaste-se dela. É o meu primeiro conselho. Não esconda sua nova posição religiosa; pelo contrário, propague-a aos quatro ventos, é meu segundo conselho. Nada tema porque eu o assisto desde seu nascimento. Que missão cumprirei? Perguntou Eurípedes. Os Espíritos do senhor realizarão com você diversos trabalhos. A Caridade, meu filho, é a nossa bandeira. O trabalho principal será o de curar e Bezerra de Menezes o auxiliará nesse setor. Tudo está planificado e Jesus, em verdade, é quem nos dirige. Nessa noite se revelara vários dons mediúnicos que haveriam, mais tarde, de ampliar-se; vidência, audição, psicofonia, psicografia, efeitos físicos, cura e bicorporeidade…
Terminada a sessão, Eurípedes lembrou-se da mensagem sobre o sermão da Montanha e, abraçando seu tio Mariano, pediu-lhe perdão por o ter ironizado quando se converteu ao espiritismo. Pediu ao tio, que o acompanhasse à casa de Carlos. E, cada qual com uma lanterna de querosene caminharam dentro da noite.
Carlos morava em um casebre. Eurípedes bateu na porta. Carlos, assustado, veio atender, segurando uma vela. Estava muito doente. Eurípedes, então, teve um gesto surpreendente: abraçou-o, disse-lhe palavras de conforto, recordou-lhe passagens do Evangelho, beijou-o na face e nas mãos. E tomou o caminho de volta. Tio Mariano falou; Como disse São Vicente de Paulo, você de ser um missionário… teve coragem de beijar um leproso.
Em seguida, Eurípedes, munido de documentos pertencentes à Irmandade foi a Igreja-Matriz ver o padre Maia. Devolveu-lhe a papelada e, com bondade disse que não mais poderia continuar na instituição, pois havia abraçado a Verdade do Espiritismo.
O padre levou um choque. – Você está louco, Barsanulfo? Deixar a doutrina de Deus pela do diabo! Que houve? Um homem de cultura meter-se com Satanás! Está endemoninhado? Eurípedes não respondia. E ouviu todas as palavras ofensivas com profunda humildade. À despedida, porém, disse: – Deixo o Catolicismo, é verdade, padre Maia, mas o senhor pode ter certeza de que continua a ter em mim o mesmo amigo. E saiu da igreja. Em menos de meia hora toda a cidade seria sacudida com a novidade; o próprio padre Maia se incumbiu de divulgá-la, taxando Eurípedes Barsanulfo de “endemoninhado”….
Momento mais difícil dar a notícia aos seus pais. Falou, primeiro, com sua mãe, católica praticante. Quando, Eurípedes disse que se tornara espírita, Dona Meca, ficou pálida, quis falar e não pode – caiu desmaiada no assoalho…
Eurípedes, embora atacado pelos padres e ridicularizado pelos beatos de Sacramento, não escondia sua nova religião. Uma vez por semana, no largo da praça, pregava a Doutrina Espírita ao povo, mesmo em noite de chuva. Ia a pé sozinho. Primeiramente, abria o “Evangelho Segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec, e lia um trecho, à medida em que a emoção aumentava sob o influxo de São Vicente de Paulo ou Santo Agostinho. Ao fim de algumas semanas a maioria dos moradores já esperavam suas pregações.
As igrejas, nem mesmo aos domingos ficavam repletas., e os padres redobraram no púlpito a campanha de descrédito contra Eurípedes Barsanulfo. O médium, todavia, jamais erguia a voz contra os opositores ferrenhos.
Em 27 de janeiro de 1905, em sua residência fundou um centro espírita que tomou o nome de Grupo Espírita “Esperança e Caridade”.( 25 anos). O trabalho mediúnico de Eurípedes tomava proporções imensas; ele alimentava-se pouco,dois ovos crus pela manhã e, no almoço, frutas e empadinhas especiais que sua irmã Mariquinha lhe preparava. E dormia, de quatro a cinco horas por dia; sono, aliás, constantemente interrompido por pessoas que pediam remédios ou que as acompanhasse para fazer um parto ou uma cirurgia mediúnica urgente. Em verdade, nem de madrugada ele tinha descanso.
Foi nessa época que teve a belíssima vivência na espiritualidade que o fez dedicar-se de corpo e alma, por toda vida, à causa espírita e à prática do Evangelho. A ninguém revelou a sublime ocorrência que se tornou pública com o relato do espírito Hilário Silva, psicografada por Francisco Candido Xavier, 60 anos depois.
Narra, esse espírito, em “A vida escreve” que, Eurípedes em admirável desdobramento, foi até à espiritualidade superior, onde, em indescritível paisagem, avistou um homem que meditava sob intensa luz. Reconhecendo Jesus, fortemente emocionado percebeu que o Messias chorava. Pensando nos homens que ainda não O haviam compreendido, perguntou, angustiado, se chorava pelos descrentes do mundo. Respondeu-lhe o Senhor : “Não meu filho, não sofro pelos descrentes aos quais devemos amor. Choro por todos que conhecem o Evangelho e não o praticam…”
Pela pressão da igreja, o Liceu Sacramento estava em dificuldades, muitos pais tiraram os alunos da escola e não havia outra alternativa a não ser encerrar as atividades A igreja continuava sua campanha difamatória e à noite em seu quarto enquanto meditava, fechou os olhos e começou a escrever. E teve uma visão: do céu descia sobre o pequeno quarto uma luz fulgurante. Eurípedes deixou o lápis deslizar sobre o papel. A mensagem era de Maria, mãe de Jesus, e estimulava-o a enfrentar com muito amor seus opositores, pois os venceria a todos. E o sublime Espírito aconselhou-o a dar ao estabelecimento o nome de COLÉGIO ALLAN KARDEC (o colégio era um compromisso assumido por Eurípedes Barsanulfo antes de reencarnar). No dia seguinte, o apostolo mandou esculpir em uma placa de metal o nome do Colégio e colocou-a na entrada do prédio. E, assim, foi criado o primeiro colégio Espírita em todo o mundo! A orientação pedagógica de Eurípedes Barsanulfo tinha algumas raízes na pedagogia pestalozziana… (entendimento e diálogo com os alunos) Ele fazia-se amigos dos alunos e, assim, era respeitado. Jamais impôs castigos. Para ele, a finalidade máxima da educação consistia em formar no homem um caráter virtuoso e despertar-lhe o sentimento religioso. A educação não visava, apenas, o acumulo de conhecimentos; devia levar o educando aos caminhos do bem. Fundou a “Associação Amiguinhos dos Pobres”. Aos sábados, faziam leilão do que haviam conseguido com parentes e amigos: roupas, livros usados, frutas, objetos, e com o dinheiro apurado, Eurípedes e os pequenos responsáveis pela associação beneficente compravam comida para distribuir aos pobres. Ele incumbia os alunos dos cursos médio e superior de tomar conta, inclusive, à noite, dos enfermos mais pobres, já velhos e abandonados em choupanas deploráveis. E, havia, ainda este ponto de contato com o método Pestalozzi: Ele gostava de dar aula na natureza. Conhecimentos de astronomia, eram assimilados pelos alunos durante a contemplação do céu. Conta José Vieira, ex aluno do Colégio Allan Kardec, que em 1910 apareceu no céu de Sacramento o cometa periódico Halley (aparece a cada 75 anos) com sua cauda luminosa com milhões de quilômetros. E Eurípedes, rodeado pelos alunos dos cursos médio e superior, durante todas aquelas noites em que se demorou o cometa deu ao lar livre magistrais aulas de astronomia. Era comum, Eurípedes levar seus alunos ao campo e transmiti-lhes conhecimentos de botânica ou zoologia. Pegava, então, uma planta ou um inseto e classificava-os aproveitando o momento para falar de Deus. Essa pedagogia dinâmica era empregada, inclusive, nas aulas que dava às crianças sobre o Evangelho. Conhecedor da importância dos exercícios físicos para a saúde, ministrava aulas de ginástica diariamente para todos os alunos.
É evidente que com um método educacional tão avançado o Colégio Allan Kardec logo se tornou respeitado, não obstante seu jovem diretor ser espírita. Sua fama espalhou-se e começou, então, a receber alunos de outras cidades: Uberaba, Franca, Ribeirão Preto…
Eurípedes Barsanulfo, na condição de instrumento de espíritos de elevada hierarquia, curava, inclusive, moléstias que eram na época um desafio à medicina, tais como lepra e a não menos temível tuberculose, que dizimava, anualmente, milhares e milhares de vidas em nosso país… Essas curas levaram seu nome além das fronteiras: e Sacramento, cidade humilde, tornou-se famosa. Chegavam diariamente, centenas de enfermos, a maioria sem recurso e trazidas em velhas carroças puxadas por bois ou no lombo das bestas de carga. Com o crescente aumento da população flutuante, os poucos hotéis superlotados, as famílias, condoídas, abriam as portas de sua residência para abrigar doentes. (Quando ficavam preocupados que os medicamentos estavam acabando, Eurípedes dizia para não se preocupar que a Dama de Branco iria resolver)
É evidente que o clero, vendo o povo forasteiro procurar o médium ao invés da igreja, redobrou, com maior fúria, a campanha contra o Colégio Allan Kardec e o Grupo Espírita “Esperança e Caridade”; mas, é verdade, também que beatos e até sacerdotes ganharam dinheiro à custa do médium – como o jovem padre Pedro Ludovico de Santa Cruz, da Igreja-Matriz, ex amigo e depois o inimigo mais ferrenho de Eurípedes Barsanulfo, mandando construir inúmeras casas que foram transformadas em pensões…Eurípedes Barsanulfo dividia agora o tempo entre a farmácia, o Grupo Espírita “Esperança e Caridade”e o Colégio Allan Kardec.
3ª PARTE
Alguns relatos dos casos mediúnicos antológicos, conforme foram transmitidos: casos de cura, cirurgia, partos, premonições, clarividência, bicorporeidade, psicografia, efeitos físicos, etc.
PRIMEIRO CASO DE OBSESSÃO – Eurípedes Barsanulfo mandara construir no porão do Colégio Allan Kardec quartos com grades de ferro, onde eram colocados obsediados perigosos, então considerados “loucos”, pela maioria dos psiquiatras, pois os sintomas psicológicos assemelhavam-se aos da loucura por lesões cerebrais. Esses infelizes haviam sido internados em hospícios e, sendo violentos, eram trazidos por seus familiares a Sacramento algemados e escoltados por soldados. O tratamento espiritual era ministrado à noite, quando as atividades escolares já haviam cessado. Eurípedes Barsanulfo e médiuns auxiliares levavam, então, os obsediados ao salão nobre e, sobre a orientação do espírito Bezerra de Menezes efetivava-se a cura com passes, doutrinação e prece. (Curou também sua mãe do processo obsessivo que a fazia desmaiar)
VISÃO PREMONITÓRIA DO TRATADO DE VERSALHES – Eurípedes previra com muita antecedência a Primeira Guerra Mundial, iniciada em agosto de 1914. E em meados de outubro de 1918, ficou sabendo o que, então, nenhum chefe de nação suspeitava, o fim da guerra. Estava o médium ministrando uma aula, quando, de súbito, entrou em transe sonambúlico e viu, no Palácio de Versalhes, na célebre Sala dos Espelhos, em França, o Tratado de Paz com a assinatura de líderes políticos – Deu o nome de quem assinou e a hora exata. Ao abrir os olhos, Eurípedes relatou aos alunos emocionado o que vira. – Graças a Deus, em breve o mundo estará em paz!. Oito meses depois, em 28 de junho de 1919, o tratado de Paz foi assinado – exatamente na Sala dos Espelhos, no Palácio de Versalhes…
PARTO MEDIÚNICO (E BI-LOCAÇÃO) – Certa vez, disse Eurípedes, sorrindo após o transe durante uma aula: – Prestem atenção. Acabo de estar em uma residência atrás da igreja do Rosário, fazendo um parto difícil. O marido não sabe que já é pai e está a caminho daqui. Vem a cavalo e com roupa de montaria. Ele está, neste momento, apeando em frente ao colégio. Vai agora subir os degraus da escada. Quando ele entrar na sala os senhores devem ficar em pé e depois sentar. Atenção… Ele vai entrar…E o homem com chapéu e roupa de montaria entrou muito aflito, pedindo a Eurípedes que fosse, urgentemente, fazer o parto, pois a mulher estava passando mal. Acalme-se, respondeu o médium, sorrindo. Fiz o parto há cinco minutos atrás…- Não é possível, “seu” Eurípedes. Há cinco minutos atrás eu teria visto o senhor pelo caminho. O senhor não me viu porque eu fui em espírito. Mas, eu vi o senhor. Pode voltar para a sua casa, sossegado. A menina que nasceu é bonita e forte. O homem, porém, duvidou e, temendo pela vida da mulher, levou Eurípedes… A parturiente, com a filhinha deitada ao lado, ao ver o médium, exclamou:- O senhor não precisava vir de novo, “seu”Eurípedes… Eu e o bebê estamos passando bem! Eurípedes, então, regressou, rápido, ao colégio para continuar a aula interrompida.
CASO DA SRA EDALIDES – Relatado pela própria irmã de Eurípedes ; a sra. Edalides Míllan da Cunha. Contou-nos ela que estava grávida e passava mal, quando Eurípedes, no Colégio Allan Kardec, recebera o seguinte aviso telepático enviado pelo Dr. Bezerra de Menezes: “Venha à casa de sua irmã Edalides. A vida dela está em perigo. O médium encerrou mais cedo a aula e foi vê-la; encontrou-a prostada e com muita dor. Contou-lhe, então, o ocorrido no colégio e acrescentou em semi-transe mediúnico: Agora, o Dr. Bezerra está me informando que a senhora necessita com urgência de uma intervenção cirúrgica. O Dr. Bezerra de Menezes se propõe a retirar a criança que está morta há dias dentro de seu ventre. Não podemos perder um minuto mais! A sra Edalides ficou estarrecida com a notícia: a criança já havia completado seis meses! Com ela morta sua vida corre perigo, insistiu Eurípedes. A sra Edalides olhou o irmão mediunizado, fez uma prece e autorizou a operação. Eurípedes , então, sem empregar anestesia material, usando instrumental precário, retirou a criança, já em estado putrefação.
CASO MARIA MODESTO CRAVO. Em 1916, adoecera, em Uberaba, moça de 17 anos tida como louca. Família pobre, porém, unida pelos laços fraternos tudo fez para amparar aquela que um desequilíbrio mental obrigava a uma vigília constante. Levaram-na em cinco médicos, sem que os recursos da sua ciência conseguissem um alívio sequer.
Agravara-se muito o estado de saúde da enferma, porquanto a perna esquerda estava bastante inchada, com manchas roxas, enormes. Alarmada, a família volta ao consultório do médico, este diz que infelizmente, todos os sintomas, são de gangrena e, nesses casos, só a amputação da perna poderá resolver. Ante o diagnóstico tão sombrio, a família telegrafou a Eurípedes Barsanulfo e este, pediu que a levassem a Sacramento para onde seguiu, imediatamente. Naquela mesma noite, na sua residência, Eurípedes, com o seu sorriso de sempre, foi logo proporcionando esperanças, consolo e tranquilidade. Ficaria sã do desequilíbrio mental e, quanto a gangrena, não passava do efeito da atuação do espírito obsessor! …Dois dias depois, apenas aplicando água fluída para banhar a perna, a gangrena havia desaparecido e, dezoito dias depois, estava completamente livre do desequilíbrio mental! .(médium que auxiliava Dr.Inácio Ferreira no sanatório em Uberaba relatado no livro CINZAS DO TEMPO) Eurípedes pediu que ela viesse morar em Sacramento pois tinha uma missão a cumprir
A MENINA MÉDIUM – Trazida da Fazenda Palhares para Sacramento, a fim de ser tratada por Eurípedes, a menina Rita tinha dois problemas: o corpo estava tomado pelo fogo selvagem e Rita revelara-se, de súbito, uma notável médium de efeitos físicos, o que deixara seus pais atônitos… Por intermédio dela processava-se o fenômeno da “voz direta”: a menina exteriorizava o ectoplasma e com ele o espírito formava as cordas vocais, podendo, desta forma, articular palavras. O espírito manifestante era Guia de Rita e respondia às perguntas que lhe faziam, dando, assim, provas da sobrevivência.
PNEUMONIA = O filho de Afonso de Almeida morador de Uberaba, estava doente e o prognóstico dos médicos era muito grave. Foi então à Sacramento pedir auxílio à Eurípedes. À noite ainda sem notícias, uma pessoa da família cuidava do menino, quando repentinamente viu surgir, no quarto, Eurípedes em pessoa, envolto em grande luminosidade. A princípio assustou-se, mas logo se tranquilizou ao reconhecer o médium. Eurípedes lhe disse que a criança estava com grave pneumonia que deveria colocá-la de bruços e aplicar cataplasma de farinha de mandioca sobre o pulmão esquerdo. Recomendou que lhe desse água fluída e que tivesse fé. ”Eurípedes olhou para o canto do quarto, sorriu, e… lentamente desapareceu. Seu sorriso despertou a atenção da pessoa que ouvia suas instruções que, curiosa, se perguntava do porque daquele sorriso. No dia seguinte, o pai do menino retornou com os medicamentos e contou que Eurípedes ao voltar do transe mediúnico, sorrindo, lhe dissera que tinha estado em sua casa e lá vira uma toquinha vermelha. A mesma que ele agora via, em um canto do quarto. Eurípedes dera, também para ele, uma prova indiscutível. A criança recuperou-se plenamente.
= Certa vez uma Senhora pediu auxílio à Eurípedes para pagar o dentista para sua filha (120 mil réis) dinheiro de mês todo que recebia do pai como guarda livros. Imediatamente deu a quantia solicitada. Seu pai considerou um absurdo, achando uma exploração. Eurípedes demonstrando compreensão e tolerância evangélicas respondeu com mansuetude: “Pai, toda pessoa que pede, por força das circunstâncias, sempre se encontra em necessidade.” Se a carência não for material será, sem dúvida espiritual.
Durante seis anos consecutivos Eurípedes desenvolveu com relativo sossego sua dupla missão: a mediúnica e a de educador, ambas a exigir total abnegação. Dir-se-ia que os perseguidores o haviam esquecido…
Em 1913, porém, estando com trinta e três anos de idade viu-se, pela primeira vez, obrigado a defender, publicamente, as verdades espirituais. Duas polêmicas teve ele de sustentar quase ao mesmo tempo com líderes católicos; uma pela imprensa, outra em praça pública – e em ambas Eurípedes Barsanulfo, amparado pela Espiritualidade Superior, fez a Doutrina Espírita sair vitoriosa.
O PRIMEIRO DEBATE FOI COM O PADRE FELICIANO YAGUE, DE CAMPINAS, missionário do Imaculado Coração de Maria e considerado notável pregador e homem de muita cultura. Veio a Sacramento a convite dos padres da Igreja Matriz com um único objetivo: destruir com a sua poderosa dialética a influência de Euripedes Barsanulfo e, pois, o famoso Colégio Allan Kardec…
Padre Yague chegou apoiado por intensa publicidade. E, no domingo pela manhã, na Igreja Matriz estava superlotada de curiosos. Compareceram, inclusive, chefes políticos da região. Terminado a missa, padre Yague subiu ao púlpito e, exaltado, fez desabar sobre o Espiritismo uma tempestade de inverdades, classificando os espíritas de “adeptos do diabo”. A figura de Eurípedes Barsanulfo o padre deixou para o fim do “sermão”. Arrasou-a, inclusive, com impropérios e, para provar que a Doutrina Espírita era diabólica, cometeu um grave erro: desafiou o médium para um debate em praça pública…
Eurípedes desdobrava-se com muita facilidade e fora, em espírito, ouvir a pregação do padre. Aceito o desafio, ficou estabelecido que seria no dia vinte e oito de outubro (1913), a uma hora da tarde, no coreto, da Praça da Matriz.O padre Feliciano, então, prontificou-se a provar que O Espiritismo é o ateísmo; Que os fenômenos do Espiritismo não se podem explicar sem intervenção diabólica; Que o Espiritismo não é nem religião e nem ciência. A pedido de Eurípedes e com a concordância do padre Yague, mandou que se lavrasse uma ata da reunião, o que foi feito, imediatamente. Era uma medida de precaução: com a ata assinada, nenhuma das partes poderia fugir ao compromisso… No dia marcado vieram caravanas espíritas de todos os lados. Agruparam-se na Praça da Matriz cerca de duas mil pessoas! No coreto já se viam Eurípedes Barsanulfo ao lado de seu desafiante padre Yague, o coronel José Afonso de Almeida, padre Julião Nunes e o padre Pedro Ludovico de Santa Cruz; este último, é preciso que se diga, por força das circunstâncias, possuía um clube de jogo de baralho, era banqueiro do jogo do bicho e carregava dentro da batina dois revolveres.
O padre iniciou suas observações, insultando o Espiritismo e os espíritas, “doutrina do demônio e seus adeptos, loucos passíveis das penas eternas”, numa demonstração de falso zelo religioso. Eurípedes deu início ao seu discurso sob a inspiração de Santo Agostinho. As frases fluíam de sua boca, cheias de sabedoria e bondade. Eram elas compreendidas, inclusive, pelos homens mais simples. Então, todos os andaimes do edifício construído pelo padre Yague com sofismas e expressões violentas começaram a ruir; No final da polêmica Eurípedes estava, ainda, como que transfigurado. A multidão, aplaudindo, quiseram carregá-lo nos braços, mas, o médium pediu calma e rodeado por parentes e amigos regressou, rápido, à sua casa.
No dia seguinte, sem que ninguém notasse, o padre Feliciano Yague tomou o caminho para Campinas, mas
seus opositores não satisfeitos, contratam jagunços para eliminar sua vida. Mas sempre Eurípedes era avisado, com avisos assim: -Cuidado, na próxima esquina dois jagunços esperam para eliminá-lo. Não abra a janela, pois do lado de fora um homem veio matá-lo. Uma noite, embora avisado de que dois assassinos espreitavam na esquina da Câmara Municipal para sua morte, ele roga a Deus uma prece, aproxima-se dos criminosos, retira o chapéu e cumprimenta com muito amor e, sem olhar para trás, segue sua rota a caminho do bem, sem nada lhe acontecer.
O SEGUNDO DEBATE foi com o Dr.Joao Teixeira Alves, presidente do Círculo Católico de Uberaba, médico e pai do governador de Goiás. Residindo em Uberaba, tornar-se-ia o mais furioso obsessor do médium. Eurípedes Barsanulfo devolvera a saúde a dezenas de pessoas que nenhuma melhora haviam obtido no consultório do médico Uberabense. Apresentou denúncia criminal contra Eurípedes, alegando que o acusado, dizendo-se médium, praticava a medicina em todos os seus ramos: fazia intervenções cirúrgicas, ministrava remédios, pretendendo a cura de moléstias curáveis e incuráveis. Notificado, compareceu perante as autoridades e confirmou ser médium e exercer a caridade com o auxílio dos Espíritos. A notícia, causou revolta em numerosas pessoas que o admiravam. A todos Eurípedes aconselhava confiança e respeito às autoridades. Consciente de sua missão continuou a cuidar de seus doentes, sem temor, dentro das atividades que lhe eram habituais, sempre auxiliado pelos Bons Espíritos. Na cumeeira do Colégio Allan Kardec Ismael (Mentor Espiritual do Brasil), disse aos seus ouvidos “Não temas, Eurípedes. Daqui serei o sustentáculo!”. Por sua vez, ao lado de Eurípedes, responde Dr. Bezerra: “Daqui serei eu”! Cartas e abaixo assinados em profusão foram enviados para as autoridades, em sua defesa. O processo arrastou-se durante meses; nenhum juiz queria dar o pronunciamento final, até que em Maio de 1918 o magistrado de Uberaba determinou seu arquivamento por estar prescrito. Sacramento, com alegria, comemorou festivamente o evento. Eurípedes, humildemente, a todos agradecia e pedia tranquilidade e respeito para com todos. Ao final de longa expectativa, acusações e perseguições, terminava o episódio com mais uma vitória da liberdade e da caridade.
FINAL
DESENCARNE DE EURÍPEDES BARSANULFO.
Em meados de outubro de 1918 teve Eurípedes a visão premonitória do célebre “Tratado de Versalhes. Nesse mesmo dia, verificou-se com o médium outro fenômeno. Quem o diz é seu irmão carnal Homilton Wilson: “Nesta mesma oportunidade comunicou aos familiares e alguns confrades que um espírito lhe segredara que uma grande pedra do céu cairia sobre o edifício do Colégio Allan Kardec no dia primeiro de novembro de 1918. Ele interpretou este aviso como sendo a data de sua desencarnação.”
Eurípedes pediu aos alunos do Colégio Allan Kardec que avisassem os parentes que no dia primeiro de novembro uma pessoa benquista em Sacramento iria desencarnar, mas que ninguém se lamentasse, pois essa pessoa fazia mais falta no espaço que na Terra . Estava com trinta e oito anos de idade e gozava boa saúde.
Foi em 1918 que uma terrível gripe pneumônica espalhou-se pelo mundo. Surgiu, primeiramente, na Espanha e, por isso, ficou conhecida como “gripe espanhola”. Seu vírus, abrindo caminho para o ataque bacteriano, ocasionava o colapso circulatório e em vinte e quatro horas matava pessoas com menor resistência. A gripe espanhola fez desencarnar milhões de criaturas. Em Portugal, no espaço de um ano, mais de cem mil pessoas sucumbiram. Em nosso país, a epidemia começou no Rio de Janeiro e logo alastrou-se. Morreu tanta gente no Estado de São Paulo, que diariamente abriam-se compridas valas em todos os cemitérios…
Em Uberaba e redondezas chegaram a morrer, aproximadamente, seiscentas pessoas por dia no começo da epidemia. Não existiam as sulfamidas; os remédios mais usados eram, então, o quinino e aspirina…
Sacramento não poderia escarpar à epidemia. Zófimo Borges, aluno do Colégio Allan Kardec em seu depoimento narra que estava em aula e Eurípedes Barsanulfo o chamou, enquanto escrevia uma receita. Terminada, ele recomendou que fosse correndo à farmácia e dissesse à sua irmã Edirite que aprontasse com urgência aquela receita e que assim que ele estivesse com o remédio voltasse imediatamente para casa. Fez o que ele mandou. Quando se aproximou da casa começou quase a se arrastar e com febre alta. Era a gripe espanhola!
A cidade estava sob o poder do vírus e horas depois Eurípedes desdobrava-se com centenas de doentes com febre de quarenta graus. Odilon José Ferreira, que era farmacêutico prático foi chamado por Eurípedes para auxiliar devido ao grande movimento de pessoas com essa enfermidade. Zófimo ora ficava na farmácia, ora ia aplicar injeções. Trabalhavam das seis às vinte e quatro horas. E assim eram atendidas gratuitamente centenas de doentes da cidade e de fora, pois Eurípedes enviava medicamentos pelo correio a doentes de vários lugares.
No dia vinte e três de outubro Eurípedes Barsanulfo foi atingido pelo temível vírus. Mas ele não quis parar de trabalhar, socorrendo os outros. Com febre alta, roxo e cansado, Eurípedes receitava e orientava o serviço na farmácia. Na noite de trinta e um de outubro de 1918 começou a entrar em estado de coma. Ficou até meia noite, quando, abrindo os olhos e sorrindo disse: “Graças, Senhor, estou salvo! ” Todos julgaram que ele dava graças a Deus por estar livre da doença. Ficaram muito alegres. Os alunos, que lá estavam, foram para o quintal e cantaram o hino do Colégio Allan Kardec. Eurípedes, disse para sua mãe, respirando com dificuldade: – Se tiver de fechar a farmácia, feche-a, mas não o colégio. Desejo que meu corpo seja enterrado em sepultura rasa,que o caixão seja comum e vistam meu corpo com roupa velha.
Sua mãe em lágrimas beijou-lhe a face, concordando. E veio para a sala, onde foi amparada por “seu ”Mogico, enquanto o filho amado ressonava. Dona Meca, então, minutos depois, ouviu o espírito Dr. Bezerra de Menezes dizer: – Vá ao quarto ver o seu filho, ele está se desprendendo…
Ela foi, pôs a mão na cabeça de Eurípedes e o apóstolo desencarnou. Aguardavam-no os Mensageiros de Jesus. Eram seis horas da manhã do dia primeiro de novembro de 1918. A profecia cumprira-se!
A notícia comoveu os habitantes de Sacramento. Imensa multidão formou-se logo à frente da casa de “seu” Mogico. Quem vestiu o corpo de Eurípedes e o colocou no caixão foi Edalides, irmã do Médium, auxiliada por Lourival, ex aluno do Colégio Allan Kardec. Seria enterrado em sepultura rasa, conforme seu desejo. O corpo do apóstolo foi levado da residência de “seu”Mogico, à tarde, sob uma chuva fina persistente. O trajeto era de um quilometro e meio. Milhares de pessoas acompanharam o enterro. Dois dias depois, o jornal “Lavoura do Comércio” (o mesmo que publicara a denúncia do médico Joao Teixeira contra Eurípedes), redimia-se com a seguinte nota: “Notícias de Sacramento dizem haver falecido ali, de gripe espanhola, o Sr. Eurípedes Barsanulfo. O morto era um nome muito atacado nesta zona pelas virtudes cristãs e pela sólida moral que revestia o seu caráter. Em Sacramento, além de manter com grande proveito para a mocidade um colégio muito acreditado, exercia também o sacerdócio da caridade, que distribuía a mãos cheias por todos os desgraçados que o procuravam, custeando com a sua bolsa uma casa de misericórdia.
Muito combatido pela doutrina espírita que professava como um convencido, nunca, entretanto desmentiu a sua fé nem fugiu aos princípios que defendia, fossem quais fossem as consequências que disso lhe pudesse advir. Morreu em seu posto de honra como um abnegado e um justo. A sua vida foi um apostolado de amor e caridade”.
VIDAS PASSADAS DE EURÍPEDES BARSANULFO
– Em França, fora, respectivamente, eclesiástico, médico e professor. (Vicente de Paulo)
– No início da Idade Média, seu nome, era Francisco Bernardone, mas o povo o chamava de Francisco de Assis… O traço comum, que ressalta com vigor em ambas as reencarnações e que sugere tratar-se de uma só personalidade é a caridade. São Francisco e Eurípedes Barsanulfo praticavam-na com espontaneidade e sem interrupção. Que na Itália como no Brasil, em todos os momentos esse Espírito surpreendente foi o Evangelho vivo! E, por isso, mesmo, viu o Cristo, segundo Hilário Silva, através do médium Chico Xavier.
– Outro inegável traço de identidade é o extremado amor a Deus e o Cristo. Os dois chamavam o sol, a lua, os animais de irmãos. Um estudo comparativo das duas reencarnações mostraria que há traços psicológicos de identidade, inclusive, entre as duas famílias. Tanto o pai de São Francisco de Assis como o de Eurípedes Barsanulfo tinham a mesma profissão: comerciante. E eram comerciantes do mesmo gênero, ou seja, donos de loja de roupas e fazendas.)
– A mais antiga das encarnações de Eurípedes, que temos notícia, teria ocorrido à época do nascimento de Jesus. Corina Novelino, quando psicografou o romance mediúnico “A Grande Espera”, cuja trama se passa entre os Essênios, referiu que o personagem Marcos era Eurípedes. Nessa ocasião como jovem Essênio conheceu Jesus adolescente, Pregador ardoroso de novas e elevadas idéias foi considerado blasfemo e amotinador,e, por esses motivos, flagelado e condenado à morte na fogueira.
(Essênio=Cairbar Schutel /Josafá = Bezerra Menezes/Lisandro = Eurípedes Barsanulfo/Marcos)
– Francisco Cândido Xavier conta que nos tempos evangélicos, Eurípedes fora educado por Inácio, pupilo de João, que se tornara grande propagador da Boa Nova na Antioquia. Adolescente ainda, Eurípedes substituira o benfeitor
na pregação na Palestina, onde manteve contatos com João e onde fora martirizado.
– Ao tempo de Constantino, reencarnou novamente como Rufo, um cristão escravo de Roma, que viveu nas Gálias, onde foi morto por venerar Jesus. – Rufo é personagem do romance “Ave Cristo”, do Espírito Emmanuel, psicografado por Francisco Cândido Xavier.
NA ESPIRITUALIDADE
No quintal da harmoniosa casa e Colégio Allan Kardec, existe uma mangueira onde Barsanulfo lia e meditava. Acima dela, em região espiritual, este fervoroso discípulo de Jesus construiu um lar para abrigar os espíritos que se perderam na invigilância, os obsedados de toda a espécie, e deu-lhe o nome de Sanatório Esperança. Seu sublime trabalho continua além das estrelas.( Dr.Inácio Ferreira e Maria Modesto Cravo são diretores )
Nos livros “Cidade no Além” e “Imagens do Além” de Heigorina Cunha e Espírito Lúcius está o desenho da planta baixa da Colônia Espiritual de Eurípedes Barsanulfo, localizada no espaço que fica sobre a cidade de Sacramento. Colônia que a médium, em desdobramento, visitou sob o amparo do Espírito Lúcius.
Quando a médium mostrou seus desenhos para Chico Xavier ele lhe disse que essa era uma das colônias de Eurípedes e citou uma outra que fica sobre a cidade de Palmelo (GO). (Fundada por Jeronymo Cândido Gomide que foi aluno de Eurípedes no Colégio Allan Kardec)
Fontes pesquisadas:
Livro EURÍPEDES BARSANULFO “O APÓSTOLO DA CARIDADE” ( Jorge Rizzini )
Livro EURÍPEDES BARSANULFO “ O MISSIONÁRIO DA MEDIUNIDADE” ( Homero Moraes Barros)
Livro “EURÍPEDES O HOMEM E A MISSÃO “ ( Corina Novelino )
Site Centro Espírita Eurípedes Barsanulfo de Sacramento – MG