Jesus na Samária
Jesus na Samária – Livro Boa Nova cap. 17 (Irmão X – Chico Xavier)
Tiago e André haviam trazido pão e algumas frutas e insistiam com Jesus para que se alimentasse. O Mestre, porém, aproveitou o instante para mais uma vez ensinar o caminho do Reino, com as suas palavras amigas, compondo parábolas singelas.
Muita gente se aglomerara para ouvi-lo. Eram viajantes que demandavam regiões diferentes, a par de grande grupo de samaritanos de opiniões exaltadas. A enorme assembleia se pôs a caminho, mas o Messias continuou espalhando as suas promessas de esperança e de consolação.
Nesse ínterim, Filipe consultou os companheiros e, aproximando-se de Jesus, rogou-lhe carinhosamente:
– Mestre, por favor, aceitai um pouco de pão! È indispensável cuidardes do sustento! Descansai e comei!…
– Não te preocupes, Filipe – disse o Messias, com reconhecimento -, não tenho fome. Aliás, recebo um alimento que talvez os meus próprios discípulos ainda não puderam conhecer.
– Qual? – atalhou o apóstolo, com interesse.
– Antes de tudo, meu alimento é fazer a vontade daquele Pai misericordioso e justo que a este mundo me enviou, a fim de ensinar o seu amor e a sua verdade.
Meu sustento é realizar a sua obra.
– È verdade – observou o discípulo, olhando a multidão que os acompanhava -, vedes melhor os corações e não podemos perder esta oportunidade de divulgação da Boa Nova. Levaremos para Cafarnaum mais este triunfo, porque é incontestável que obtivestes aqui, entre os samaritanos, um dos nossos maiores êxitos!…
Tiago e André ouviam, silenciosos, o diálogo.
Às palavras entusiásticas do apóstolo, o Mestre sorriu e acrescentou:
– Não é isso propriamente o que me interessa. O êxito mundano pode ser uma ondulação de superfície. O de que necessitamos, em todas as situações, é entender o que o Pai deseja de nós. Como todo o seu anelo é o do bem, eu trabalho, mas sem me prender ao anseio das vitórias imediatas.
E, dirigindo o olhar para a turba compacta de seus seguidores, exclamou para os companheiros:
– Acaso poderemos admitir que já somos compreendidos? Calemo-nos por alguns instantes, a fim de ouvirmos a opinião dos que nos seguem os passos.
Fez-se silêncio entre ele e os três discípulos, de modo que podiam ouvir distintamente os diálogos travados entre os que os acompanhavam.
– Acreditas que seja este homem o Cristo prometido? perguntava um samaritano de boa figura aos seus amigos. – De minha parte, não aceito semelhante impostura. Este nazareno é um explorador da piedade popular.
– É certo – concordava o interpelado -, mesmo porque, em sua terra, não chega a valer um denário. Pelos próprios parentes é tido como inimigo do trabalho e há quem duvide da sua preguiçosa cabeça.
– É um louco de boa aparência – dizia uma mulher idosa para a filha -, pelo menos essa é a opinião que já ouvi de habitantes de Cafarnaum; entretanto, cá para mim, acredito seja um grande velhaco. Por que se meteu com pescadores, quando alega ser tão sábio? Por que não se transfere para Jerusalém, ou mesmo para o Tiberíades? Bem sabe a razão disso.
Lá encontraria homens cultos que lhe confundiriam a presunção.
Mais próximo de Jesus, um rapaz sentenciava em voz discreta:
– Quando chegamos, foi ele achado sozinho com uma mulher. Que te parece esta circunstância?
– perguntava a um companheiro de caminhada. – Certamente desejava salvá-la a seu modo. . .
– replicou com malicioso riso o inquirido.
Num grupo vizinho, falava-se acaloradamente:
– Este homem é um espertalhão orgulhoso – dizia, convicto, um velhote -, só faz milagres junto das grandes multidões, para que sintam virtudes sobrenaturais nas suas mágicas.
– E não tem caridade – acrescentou outro -, pois ainda há pouco tempo, quando o procuraram em Cafarnaum para um sinal do céu, fugiu para o monte, sob o pretexto de fazer orações.
A noite começava a cair de todo. No alto já brilhavam as primeiras estrelas. Jesus sentou-se com os discípulos, à margem do caminho, para um momento de repouso.
André, Tiago e Filipe estavam espantados com o que tinham visto e ouvido.
Aparentemente o Mestre fora aureolado de imenso êxito; entretanto, verificaram a profunda incompreensão do povo. Foi então que Jesus, com a serenidade de todos os instantes, os esclareceu cheio da sua bondade imperturbável:
– Não vos admireis da lição deste dia. Quando veio, o Batista procurou o deserto, nutrindo-se de mel selvagem. Os homens alegaram que em sua companhia estava o espírito de Satanás. A mim, pelo motivo de participar das alegrias do Evangelho, chamam-me glutão e beberrão. Esta é a imagem do campo onde temos de operar.
Por toda parte encontraremos samaritanos discutidores, atentos aos êxitos e referências do mundo. Observai a estrada para não cairdes, porque o discípulo do Evangelho não se pode preocupar senão com a vontade de Deus, com o seu trabalho sob as vistas do Pai e com a aprovação da sua consciência.