Vida e Obra de Cairbar Shutel
CAIRBAR DE SOUZA SHUTEL
Palestra Vida e Obra – Jane – CELC 30.09.15
“Bem-aventurados todos os trabalhadores da seara divina da verdade e do amor, pois deles é o reino imortal da suprema ventura!”Emmanuel (Brasil Coração do Mundo, Pátria do Evangelho).
Q320 LE- Os Espíritos ficam sensibilizados, ao lembrarem-se deles os que amaram sobre a Terra?
– Às vezes, mais do que podeis crer; se são felizes, essa lembrança aumenta-lhes a felicidade; se são infelizes, são para eles um alívio.
- Em 22 de setembro de 1868, época em que o Brasil envolvia-se na aventura que a História denomina a “Guerra do Paraguai na sede da Corte Imperial do Brasil, então Rio de Janeiro nascia um dos maiores vultos do Espiritismo brasileiro: Cairbar de Souza Shutel.
- (Dr Bezerra nasceu em 1831 no Ceará e em 1889 é declarada República no Brasil )
- Filho do negociante Anthero de Souza Schutel, filho de fazendeiros catarinenses e Rita Tavares Schutel, natural também de Tijucas SC.
- O Senhor Anthero de Souza Schutel, pai de Cairbar, era um negociante de móveis de relativo sucesso, mas, perdeu todos os bens da família em cassinos do RJ. Capital de 800.000 habitantes e da boemia. Faleceu em 24 de Abril de 1878, repentinamente, aos 33 anos. Logo a seguir, em 12 de setembro, a esposa que havia enviuvado grávida, dá a luz a um menino, Antero, mas acometida de febre puerperal vem a falecer no dia 24 do mesmo mês. Antero só viveria por 4 anos.
Quando a mãe pressentiu a morte, chamou Cairbar à cabeceira, e este compareceu à sua presença desalinhado…, ao que ela retrucou: “Vai se arrumar, meu filho”. Quando ele voltou, com sua roupinha de marinheiro; ela explicou-lhe o porquê do pedido: “É que eu quero que você seja assim toda a sua vida. Sempre bem alinhado e sem nunca dormir antes de limpar os sapatos para o dia seguinte”. E de fato, assim o seria Cairbar para o resto de sua vida, sempre bem trajado à época.
OBS: Cairbar Schutel era um homem de atitudes inusitadas. Naquela época era costume engraxar os sapatos. Fazia parte da boa aparência estar com os sapatos sempre limpos e engraxados. Assim, toda semana Schutel engraxava seus sapatos e os de todos seus funcionários, da farmácia, da gráfica e da redação… Perguntaram a ele por que fazia isto e ele respondeu:… essas criaturas me servem tão bem, assim estarão sempre bem apresentáveis. Com essa simples atitude valorizava seus funcionários e conquistava a amizade e respeito de todos.
- Órfão de pai e de mãe antes dos dez anos de idade, foi socorrido pelo avô, Dr Henrique Schutel, que tomou o neto a seus cuidados, matriculando o menino no Imperial Colégio D. Pedro II, onde Cairbar estudou por apenas dois anos. Não desejando continuar os estudos, abandonou a casa do avô, e aos treze anos se tornou independente, trabalhando como prático de farmácia, de manhã até tarde da noite.
- Na flor da mocidade Shutel se deparou com um Rio de Janeiro ainda mais efervescente e influenciado pelos prazeres da vida material. Inconsequente como muitos jovens, Cairbar desenvolve hábitos semelhantes ao do pai: boêmio e jogador nas noites cariocas. No entanto, seu organismo logo começa a apresentar sinais de cansaço das rotinas de trabalho diurno e noites sem dormir. Debilitado é aconselhado por médico amigo a mudar de vida e se possível de cidade, para não se tornar um tuberculoso e vir à morte prematura.
- Esse ritmo de vida, para um jovem em fase de desenvolvimento físico, acabou por torná-lo anêmico e debilitado nas funções pulmonares.
- Só restou a ele, então, o recurso de consultar um médico, que foi incisivo em seu diagnóstico: “Sua saúde está precaríssima e você numa encruzilhada: ou sai do Rio imediatamente ou encomende já seu túmulo, porque você se encontra a um passo da tuberculose! Saia já do Rio“.
- E como naquele tempo, por ser fatal, temia-se muito a tuberculose, dirigiu-se no mesmo dia ao proprietário da farmácia, pediu para acertar suas contas, despediu-se do avô e encaminhou-se a estação ferroviária D. Pedro II.
- 1891 – Cairbar Schutel, que não fazia sequer suposição para onde poderia ir, olha na estação o mapa ferroviário e se fixa no final da linha: Araraquara. “É para lá que vou” resolve. Compra a passagem, em São Paulo faz baldeação e, no dia seguinte, se encontra num local em que há alguns dias antes nunca sonhara estar.
Havia trocado a encantadora Capital do País, com sua forte influência francesa, por uma pequenina cidade, à época, do sertão paulista. Descendo do trem, seu primeiro ato foi perguntar onde ficava a melhor farmácia da cidade. “É a Farmácia Moura”, lá trabalhou por 2 anos e desenvolvendo seus conhecimentos sobre a manipulação de medicamentos, mas como todo bom jovem logo pediu suas contas ao patrão, melindrado por uma advertência.
- De Araraquara Shutel teve uma breve passagem por Piracicaba onde se empregou na Farmácia Neves de propriedade de Samuel Castro Neves. Talvez aí teve seu primeiro contato com o Espiritismo, através do, Sr. Oseas de Castro Neves, um dos primeiros estudiosos da doutrina na região.
- 1894 – ei-lo novamente em Araraquara, quando compra um pequeno sítio em que passa a cultivar frutas e verduras, além de estabelecer-se na cidade com um pequeno comércio de tabacaria e venda de bilhetes de loteria.
- 1895 – neste ano muda-se para Itápolis, antiga vila das redondezas, antes de estabelecer-se na, também, vila de Matão. Nessa humilde cidade, Caírbar Schutel acalentou o propósito de servir à coletividade, o que fez com que batalhasse arduamente para que Matão subisse à categoria de Município.
- Em 1897 o Deputado Dr. Francisco Toledo Malta, aos 27 dias do mês de agosto, consegue a promulgação do Decreto criador do Município de Matão”.
Conseguindo atingir esse objetivo, foi escolhido o primeiro Intendente do novo município, cargo equivalente ao de prefeito: de 28 de março de 1899 a 7 de outubro do mesmo ano, e, de 18 de agosto de 1900, a 15 de outubro também de 1900. Militando na política por algum tempo, não enfrentava obstáculos. Deve- se a ele a edificação do prédio da Câmara Municipal, o que fez com seus próprios recursos financeiros.
- Assim, onde não havia nenhuma botica, Cairbar escolhe este novo município para aportar e montar sua farmácia na Rua do Comércio.
- Após sua conversão ao Espiritismo, abandonou o campo político, passando a dedicar- se inteiramente à nova Doutrina.
Se nas fotos existentes dele sua fisionomia parece carrancuda, séria, na intimidade, relatam os que com ele conviveram, era uma pessoa alegre, jovial e de boa prosa.
Não raras vezes ouvia-se dele uma piada, uma irreverência, mas, sempre muito respeitador, era, acima de tudo, um cultivador da disciplina para si próprio e para seus comandados.
E para quem quiser ter uma descrição exata de seu tipo físico: altura, 1,70 mts; cabelos, grisalhos; barba, cavanhaque; rosto, oval; cor, branca; olhos castanhos; boca, regular; sinais particular… José da Cunha, assim o definia: “Era honesto, muito trabalhador e sério, e percebia-se que era um trabalhador que gostava de tudo em que se envolvia, por isso o fazia com satisfação íntima e alegria. Essa alegria tinha seus momentos certos, quando ele gostava de contar suas piadas e ria a valer. Era muito carinhoso com as crianças e aos pobres nada negava. Era um caridoso por excelência, e, se alguma coisa dele mais se marcou, foi a caridade”.
Na tribuna Cairbar emocionava e empolgava, sua voz cativava, a par de uma dicção extraordinária. Tinha um conhecimento que a gente não sabe nem calcular, enfim, o dom da palavra e de arrebatar multidões.
Schutel reunia em si todas as qualidades de um verdadeiro cristão, sendo um gigante na defesa da Doutrina Espírita. Seria capaz de entregar sua camisa, até a própria vida, se preciso, em favor de alguém, de qualquer pessoa que precisasse dele, mas na hora em que dissessem algo que procurasse denegrir os princípios espíritas, ele era um gigante que se levantava e defendia, por todos os meios e com todas as forças, as ideias espíritas. O seu amor não se estendia só à Humanidade e às criaturas, como também aos animais e às plantas, principalmente às flores que ele mesmo cultivava.
Cairbar desenvolveu as faculdades de psicografia, psicofonia, vidência, audiência e cura.
Família Shutel
Os Schutel, eram uma família ilustre de imigrantes suíços, frequentadores da Corte do Império.
Estando a Suíça ladeada por três povos: os alemães, franceses e os italianos; ao mesmo tempo falando três idiomas; possuindo três religiões predominantes; sua história atesta ser o povo mais pacífico do planeta, onde toda a vizinhança ou as diferenças internas nunca levaram a nação a aventuras bélicas. Seria ideal, portanto, para sua missão, uma descendência e formação junto a esse povo, que lhe transmitiria, em seus primeiros anos de vida, sentimento de paz e fraternidade que ele haveria de cultivar e aperfeiçoar no decorrer de sua existência.
Cairbar demonstrando ser espírito altamente preparado para a missão a que foi chamado a desempenhar na presente encarnação, nunca quis tirar proveito de sua descendência ilustre e preferiu começar sua vida do nada a servir-se da influência de seus parentes para ganhar algum cargo ou função importante no Império.
Ex: No livro “As Minhas Memórias”, Garcia Redondo descreve Dr. Henrique Schutel, avô de Cairbar como “O anjo Bom da Pobreza de Santa Catarina”.
Do mesmo Dr. Henrique Schutel, conta-se que aportou no Rio de Janeiro a convite de D. Pedro II para cuidar da saúde de sua Imperatriz.
Ex: Duarte Paranhos Schutel, tio de Cairbar, foi médico, político, jornalista, literato e abolicionista. Destacou-se como um dos médicos mais dedicados no surto de varíola de 1872, considerado um dos mais violentos da história de SC. Cecília e Emília, suas filhas, tocavam piano com a Princesa Isabel, no Rio.
O casamento
Residia a menina Maria Elvira da Silva e Lima junto com a família no vilarejo de Itápolis. Ainda jovem foi iludida e abandonada em um relacionamento amoroso, corriqueiro aos dias de hoje, mas na época uma tragédia e escândalo. Da infelicidade da moça veio o abandono e o desprezo da família, tendo ela ido morar em Araraquara, onde vem a conhecer Cairbar Schutel.
Cairbar, desprendido e sem preconceito, apaixona-se por ela e passa a viver maritalmente com ela, até que, depois de tornar-se espírita, resolve regularizar a situação do casal com a união Civil, numa cerimônia simples, em 31 de agosto de 1905; no vilarejo de Itápolis, onde sua esposa houvera sido tão maldosamente comentada. Apesar de não ter filhos, o casal sempre viveu harmoniosamente e D. Mariquinhas foi para Cairbar uma companheira dedicada e leal que sempre o apoiou em sua missão, ambos jamais deixaram de atender aqueles que os procuravam.
Abraçou-se à Doutrina em igual tempo que o companheiro e embora não lhe tivesse o mesmo estudo e dedicação, foi na obra de caridade que mais se sobressaiu, engajando-se com Cairbar na luta por um mundo melhor para os
desvalidos materialmente. Numa estratégica e obscura retaguarda, mas porque não dizer, glorificada, fez-se a companheira ideal, a esposa desvelada e compreensiva, cuja felicidade era ver o desenvolvimento das tarefas altruísticas do esposo junto ao Ideal abraçado. D. Mariquinhas teve um começo de vida difícil, sofrido, como já foi descrito, mas isso só teve o condão de lhe realçar suas qualidades e méritos Dona Mariquinhas teve uma doença de pele, que provavelmente tenha sido “lupus”, mas por bom tempo imaginou-se ser hanseníase. Dr. Agripino Dantas Martins, encomendando rigorosos exames, constatou que não.
Cairbar, preocupado com a moléstia da esposa, trocou correspondência com Eurípides Barsanulfo em Sacramento, para orientar-se com o amigo, que passou a lhe enviar remédios à base de plantas medicinais. Ela costumava tomar banho com esses produtos, sendo um deles à base de uma pimenta verde.
Abraçou-se à Doutrina em igual tempo que o companheiro e embora não lhe tivesse o mesmo estudo e dedicação, foi na obra de caridade que mais se sobressaiu, engajando-se com Cairbar na luta por um mundo melhor para os desvalidos materialmente.
A moléstia tinha períodos de esmorecimento, mas no geral, foram muitos anos de sofrimento, com manchas dolorosas espalhadas pelo corpo inchado e causando muitas dores e mal-estar à doente, que a tudo enfrentava sem uma queixa sequer.
O Espiritismo havia lhe ensinado tratar-se de uma provação, à qual necessitava ser suportada com resignação.
Por influência de D. Mariquinhas, Schutel e seu grupo construíram a Vila Espírita, um conglomerado de seis casinhas na Vila Santa Cruz, onde eles abrigavam e cuidavam dos pobres atingidos pela epidemia de febre amarela. Cairbar, em todos os momentos a seu lado, não se descurou um instante da presença da esposa, sendo lhe nessas horas o enfermeiro dedicado e o amigo reconhecido. Esposo amoroso, que soube compreender a doença insidiosa da esposa e durante quarenta anos em que ela assim esteve, tratou-a com todo desvelo e dedicação que só confirmariam o espírito cristão de Cairbar.
D. Mariquinhas desencarnou em 22 de janeiro de 1940 tendo nascido em setembro de 1870, e coincidentemente desencarnou exatamente no dia em que era comemorado o segundo ano da desencarnação de seu esposo.
Mereceu ser conhecida como “A mãe da Pobreza”, pela sua dedicação às tarefas de assistência aos necessitados e ao seu esposo Cairbar Schutel.
Conversão
Católico de nascimento, assim, que chegou em Matão, Cairbar encontrou a cidade sem nenhuma capela para os ofícios religiosos. Empreendedor e resoluto que era juntou-se a Calixto Prado, que era carpinteiro, e outros habitantes, levantaram uma pequena Igreja, à qual denominaram Capela do Bom Jesus de Matão. Era um católico ativo, puxava procissões e costumava colocar cruzes na estrada quando morria alguém no local, além de narrar várias benções recebidas por promessas solicitadas à nossa Senhora Aparecida.
Entretanto, já adulto e vivendo em Matão, em 1904 passou a receber, em sonhos, a visita constante de seus pais. Insatisfeito com as explicações de um padre para o fenômeno, Schutel procurou Quintiliano José Alves e Calixto Prado, que realizavam
reuniões de práticas espíritas domésticas, logrando então entender a realidade do mundo espiritual.
Já nas primeiras reuniões como inexperientes e sem estudo foram alvos de pedidos fúteis, como perguntas sobre animais perdidos mas Cairbar persistia a fim de que se revelassem a existência de seres inteligentes por detrás dos fenômenos. Com a continuidade dos trabalhos, começou ocorrer a vinda de diversos espíritos que davam o nome e diziam-se sofredores precisando de “tantas” missas e “tantas” velas. Shutel se intrigou com tais peditórios que não paravam, em todas as reuniões, ficando pesado ao bolso dos iniciantes e constrangedor pois tinham que explicar ao padre.
“… Foi quando comentando esses fatos com seu amigo João P. Rosa e Silva, também
simpatizante do Espiritismo, morador em Itápolis, e caixeiro-viajante, este lhe presenteia com um exemplar de “O Reformador”. Caibar lê avidamente a Revista e no dia seguinte solicita pelo Correio as obras da Codificação Kardequiana e o livro “Estudos Filosóficos” de Bezerra de Menezes que apareciam anunciados na providencial publicação espiritista. Chegando os livros, passa cerca de um mês estudando minuciosamente o conteúdo daquele manancial de conhecimentos, que viria a preencher integralmente sua alma sedenta de saber espiritual. Estava completada a conversão.
Não foi necessário mais do que essa leitura para compreender que estava diante, não de conhecimentos novos para seu Espírito, mas rememorando um cabedal já familiar, o qual vinha de encontro às suas indagações mais íntimas desta encarnação.
O monumento de lógica apresentado pelo “Livro dos Espíritos” deu a Caibar respostas às dúvidas que se acumularam durante o tempo em que sua profissão de fé foi o catolicismo; o “Livro dos Médiuns” veio sanar as imperfeições do caráter amadorístico e curioso que imprimia às experimentações de tiptologia; e o “Evangelho Segundo o Espiritismo” tocou profundamente o coração daquele que viria mais tarde a ser chamado “O Pai dos Pobres de Matão”…
Depois da leitura das obras básicas, na próxima sessão de que participou, Caibar agora com conhecimento de causa, disse ao primeiro Espírito que pediu missas:
“Olhe aqui, o que o irmão precisa é de preces. Como espírito desencarnado, você já deveria saber que o que vale é a oração, a vibração de amor que podemos oferecer a vocês através da prece sincera. Por isso, a partir de hoje, não atenderemos mais aos pedidos de missas e velas, mas oraremos pelos espíritos necessitados”.
E assim desapareceram-se os pedidos de missas, e, mais tarde, o espírito de um padre confessou que era só ele “os espíritos” que faziam tais pedidos e que se divertia muito ao se ver atendido tão ingenuamente pelo grupo…
O que fazer agora? Despojar-se do homem velho e angariar forças para enfrentar os percalços do homem novo.
… O primeiro teste enfrentado por Cairbar Schutel foi com o folclórico vigário Antonio Cezarino, que, quando soube que seu “fiel” estava se envolvendo com Espiritismo, mandou um recado a ele através de Belarmino de Castro, proprietário da linha de “Trolley” que unia dois municípios: “Diga ao Schutel que eu vou a Matão especialmente para lhe dar uma surra de relho e ensiná-lo a nunca mais se meter com esse negócio de Espiritismo. Belarmino diga-lhe que quem pode mais chora menos. Você está vendo aquela trame-la da porta? Pois bem, ela fica sempre ali atrás. Avise a ele que ela está preparada, e com o espírito que vier será recebido.”
Ex:… Como católico Cairbar tinha em sua casa um oratório, onde fazia suas obrigações religiosas recomendadas pela igreja. Ali tinha seus santos, castiçais, velas … Após sua conversão para o Espiritismo, não mais encontrou justificativa para ter esse oratório. E o que fazer com aquilo? Depois de muito meditar tomou uma decisão: Com muito respeito desmontou tudo, embalou e transportou tudo para uma pequena capela à beira quase abandonada na estrada do sítio da família Gonçalves. Schutel limpou o recinto com carinho e lá montou pessoalmente o Oratório, com todos os seus adereços, como estava em sua casa. E dizia: Não é justo destruir o que pode servir àqueles que ainda sustentam sua fé nesse caminho. Que sirva, de algum modo, a alguém.
1ª Passso : 1905- A fundação do centro espírita “Amantes da Pobreza” e o nascimento de “O Clarim”
Convertido à Doutrina dos Espíritos, cede, inicialmente, uma sala em sua própria casa para o início do funcionamento do Centro Espírita “Amantes da Pobreza”, um dos primeiros a serem fundados no interior de São Paulo. Aí começam as perseguições…
… Já era de se esperar o confronto ríspido entre católicos e espíritas quando se muda para Matão o violento padre João Batista Van Esse. A disputa entre os dois começou através das páginas de “O Matão”, jornal leigo da cidade, que publicou a polêmica religiosa. Eram de ofensas pessoais ao grupo e a doutrina espírita. Mas por conta da ironia do destino, o reverendo prestou excelente serviço a Causa espírita. Aguçou o espírito inquieto de Cairbar que extraiu do episódio a ideia de fundar um jornal:
Que melhor maneira de desfazer as diatribes ditas de cima do púlpito, senão através de um órgão de imprensa?
Sim, seria o ideal. Mas e o nome para ele?
“Não queremos um jornal para gritar de alto e bom som que nossa profissão de fé agora é a espírita?” obtemperou alguém – “Então chama-lo-emos “O Clarim”.
“O Clarim”para replicar as inverdades e ofensas do vigário.
O subserviente subdelegado Otávio Mendes, temeroso das consequências trágicas que tal confrontação poderia ter, dirigiu-se a Schutel e contou que o Padre havia combinado com seus fiéis conduzir a procissão de sexta-feira santa até à frente do Centro Espírita e lá atentar contra a Casa, incendiando-a.
“Por que?” – indaga Schutel.
“Não sei. Só vim aqui para prevenir o senhor que estão fazendo um complô para empastelar o Centro. Por isso, aconselho ao senhor não abri-lo nesse dia”, “Muito bem. Então agora eu vou dar um aviso ao senhor, Como autoridade policial dessa Comarca, o senhor tome todas as providências cabíveis, porque eu vou abrir o Centro à hora de costume e vou pronunciar a palestra que já havia sido marcada. Caso aconteça alguma tragédia eu responsabilizarei o senhor. Meu Centro não é clandestino, tem alvará, e vai continuar funcionando normalmente”.
Em seguida, Schutel envia telegramas para o Governador do Estado, para o Chefe de Polícia e para o Comandante da 2ª Região Militar, dando conta do que se passava em Matão, exigindo também providências dessas autoridades.
Chegando o dia, ele abriu o Centro às 19h00 e dispensou mulheres e crianças. Ficaram só os homens, já prevenidos do risco a que se exporiam e receberam uma ordem: quando Cairbar desse um alerta, todos deveriam se jogar ao chão.
Abriram-se todas as portas e janelas do salão e teve início a conferência feita por Cairbar…
Meia hora depois, a procissão começa a se aproximar do centro com o Padre Van Esse na frente, secundado por seus fiéis. Entoavam suas cantigas e ladainhas, como de costume, com toda a certeza esquecidos que iriam cometer um ato indigno…
As vestes “sagradas” serviam para ocultar punhais, porretes, pedras e revólveres.
Talvez com isso imaginassem poder expurgar o demônio e seus seguidores malignos à comunidade…
Quase em frente ao Centro, a procissão, entre excitada e agitada, aumenta o vozerio sob a batuta do vigário e desperta a ira do advogado Abel Fortes, chefe político temido, que morava nos arredores, e cuja esposa convalescia de difícil parto acontecido naquele dia. Apreensivo e indignado, o advogado sobe num muro, interrompe o orador, que já inflamava a turba para o deplorável cometimento, e fala, por sua vez, ameaçando responsabilizar o Padre e seus acompanhantes se algo acontecesse à sua esposa e filho, além de lembrar contundentemente o desrespeito que estava se perpetrando contra a Constituição de 24 de fevereiro de 1891. E reiterou, que embora não fosse espírita e não tivesse procuração de Schutel para defendê-lo, que ele estava com a razão, pois agia dentro de seu direito de liberdade de expressão e de religião.
E sua alocução foi tão violenta, exaltada e cheia de ameaças, que o povo, temeroso, começou a evacuar o local, a princípio calma, mas depois, tão atabalhoadamente como um “estouro de boiada”, que muitos caíram, foram pisoteados e o Padre Van Esse… bem, o Padre teve sua batina enroscada numa cerca de arame farpado e quase volta à Igreja sem a dita cuja… Enquanto isso, no “Amantes da Pobreza”, quase que indiferentes à algaravia que se processava lá fora, prosseguia a bela preleção de Cairbar Schutel.
Mas o episódio não se findara aí para Cairbar.
No dia seguinte, durante a sessão, ele iria sofrer séria advertência dos Espíritos: “Schutel, então que belo cristão você está pretendendo ser! Você confiou em um carabina e dois revólveres e se esqueceu de confiar em nós, aqui do Outro Lado, que estávamos dando toda a cobertura e proteção a você! Onde está a sua fé? Quando é que você vai aprender a confiar em seus guardiões?”
E o Espírito continuou sua descompostura em Schutel, que chorou muito, pediu perdão e desfez-se de todas as armas que tinha em casa.
A ordem que ele houvera dado para que todos se deitassem ao seu aviso, era devido a que, nas gavetas da mesa, ele trazia escondido armas para proteger o Centro na eventualidade de uma invasão. Caso acontecesse, ele pretendia defende-lo até as últimas consequências.
Do lado da Igreja, o Padre Van Esse, depois do fiasco a que se expôs, foi transferido para Araraquara.
Foi protagonista, porém, de uma atitude digna e bela: procurou Cairbar Schutel para despedir-se e teve com ele o seguinte diálogo: “Schutel, brigamos, e nenhum logrou convencer o outro. Eu, entretanto, estou convencido de que você é um homem de bem…”
“Perdoemos-nos um ao outro, os nossos excessos”.
“Bons amigos e irmãos em Cristo, embora cada um O procure por caminho diferente.”
”Você é um homem de bem. Por isso vim despedir-me de você”.
E trocaram um cordial abraço de despedida.
A próxima etapa a ser vencida, no entanto, passou a ser a impressão. Quem é que se arriscaria a desafiar o Clero e indispor-se contra uma sociedade inflexível, à época, como era a católica?
Cairbar descobriu essa pessoa. Era Francisco Veloso, um progressista intrépido, de Taubaté, que imprimia o jornal “Alvião”, anarquista. Chamava-se a Tipografia “Norte de São Paulo”, era localizada na Rua Piedade, n.º 30, e Cairbar sempre foi grato a este senhor, que rodou o jornal até que a primeira máquina impressora do “Clarim” fossa adquirida em 1907. O editor do jornal “Alvião” era Ernesto Penteado, também espírita, mas mais afeito à política.
O ano de 1910 foi para nós de grandes dificuldades financeiras que ameaçavam nova suspensão do jornal por tempo indeterminado. Entretanto, calamos essa dificuldade e a resolução que tínhamos de não prosseguir por falta de dinheiro.
Dia 9 de janeiro de 1911, o correio nos trouxe uma carta que capeava um cheque de três contos de réis. Era de um desconhecido para nós, com quem nunca tivemos relação nem mesmo por cartas; apenas sabíamos da sua existência pelo nome: Luiz Carlos de Oliveira Borges, membro de uma ilustre família de Dourado. Foi, então, que reatamos a velha amizade que em existências anteriores nos ligava e o parentesco em espírito que nos unia novamente.
Daí para cá esse grande amigo não mais se separou de nós e do nosso querido O Clarim, que cresceu, fortaleceu-se no grande campo do pensamento.
Nos seus oitenta anos de existência, “O Clarim” apenas uma vez deixou de circular. A tiragem normal era de 10.000 exemplares semanais, mas em épocas de dificuldades o jornal circulava quinzenal ou mensalmente. De algumas edições especiais chegaram a ser tirados até 47.000 exemplares, principalmente na época de Finados, quando Cairbar os enviava a espíritas de diversas cidades de todo o Brasil e até mesmo do Exterior, para serem distribuídos gratuitamente nos cemitérios.
Por isso, “O Clarim”, um pequeno grande periódico, tão querido dos espíritas, representa um orgulho para a imprensa espírita brasileira, pelo exemplo extraordinário de pioneirismo, tenacidade e ânimo forte, que empolgou e espargiu luz a várias gerações de espíritas da Pátria do Cruzeiro.
Atualmente, ele sai do prelo com 8 páginas, é mensal, e tem tiragem de 4.500 exemplares.
Obs: Outro costume do nosso Cairbar, era pagar passagens de trem de ida e volta a cidades perto de Matão para pessoas que iam distribuindo “O Clarim” gratuitamente aos viajantes; ou então, ele próprio ficava na Estação esperando as composições para distribuí-lo durante as paradas.
E tinha gente que pegava o jornal com dois pauzinhos, senão com pano ou com papel para não contagiar as mãos, punha-o no meio da rua e botava fogo… Isso acontecia semanalmente em Matão.
Notas do Clarim págs. 72 a 80 (O Bandeirante do Espiritismo)
EX: Curso de Esperanto
“Sob o título em epígrafe, “O Clarim”, em 4/7/1914, iniciou o Curso desse idioma em capítulos, constituindo-se no 1.º jornal espírita a fazê-lo”.
Antes de passarmos às outras polêmicas sustentadas na época por Cairbar Schutel, transcrevemos um trecho do Editorial da Revista “O Reformador”, da FEB, n.º 15, Ano XXIII, o qual revela a posição da Entidade, discordante desses debates: “Carta que nos foi transmitida de uma das cidades do interior de São Paulo, nos informa ir ali um combate polêmico, a propósito de nossa Doutrina, entre confrades que ali sustentam galhardamente a sua propaganda, e o clero local por um de seus representantes:
Antes de tudo, seja-nos lícito insistir na opinião que nestas colunas mais de uma vez temos emitido, isto é: que reputamos inútil toda controvérsia com os sectários da Igreja de Roma; primeiro porque o Espiritismo repousa sobre fatos e sobre verdades, suficientemente demonstrados e demonstráveis, para se impor à aceitação de quantos não estejam obcecados pelo espírito de sistema ou de fanatismo, como de resto vai por toda a parte acontecendo, e daí, da certeza do seu triunfo e universalização inevitáveis, a tranquilidade com que devemos nos conduzir em face de gratuitos adversários, para os quais só devemos ter um sentimento – o da indulgência pela sua voluntária ou involuntária cegueira; e, em segundo lugar, porque ninguém melhor que os membros da Igreja sabem, pelos estudos que têm ocultamente feito, que com o Espiritismo está a Verdade, que ele é o Consolador Prometido por Jesus. (…)”
Acreditamos que as polêmicas no início da missão de Cairbar Schutel desempenharam um papel importantíssimo para ele, não só para forçá-lo ao estudo
e à reflexão, como também para despertar-lhe no íntimo sentimento de apego à Doutrina.
Pelas páginas de “O Alvião”, de Taubaté, foi travada mais uma polêmica de Cairbar, desta vez com o Padre Antonio B. de Camargo, que “cutucou a onça com vara curta”, como diria o matuto do sertão, ao enviar um folheto ao nosso biografado contendo críticas ao Espiritismo.
Como só podia acontecer, Cairbar publicou uma série de artigos fazendo luz às trevas que o Padre quis atirar à Doutrina dos Espíritos. Outras numerosas polêmicas foram travadas por Cairbar com protestantes e católicos em jornais, praças públicas e recintos fechados, incluindo-se no rol dos opositores, D. Joaquim Domingues de Oliveira, de Florianópolis; Padre Bento Rodrigues, de São Carlos; – Monsenhor Nascimento Castro, de Rio Claro; Dr. A. Felício dos Santos, também de Rio Claro, e outros. Estes debates públicos deram origem a diversos livros como “Imortalidade da Alma”, “O Diabo e a Igreja”, “Cartas a Esmo”, e grande número de artigos publicados em jornais da Capital e Interior de São Paulo, que fizeram a Doutrina com toda a sua pureza ser conhecida por milhares de pessoas.
Mas talvez a polêmica que tenha tido mais repercussão tenha sido a com o Professor Faustino Ribeiro Júnior, um médium curador, que diz-se, tirava proveito material dessa mediunidade, e que, convertido ao Protestantismo, publicou uma serie de artigos no periódico “Alpha”, de Rio Claro, atacando o Espiritismo, mas todos eles brilhantemente refutados por Cairbar Schutel.
Dessa contenda intelecto-religiosa, surgiu a obra “Espiritismo e Protestantismo – em face dos Evangelhos e da Ciência”.
Cairbar se empolgava tanto quando assacavam inverdades contra o Espiritismo, que chegou ao ponto de diversas vezes ficar aos domingos pela manhã do lado de fora da igreja escutando o sermão do Padre, para depois ir até o “Clarim”, redigir a resposta a seus ataques, imprimi-la em Boletim e distribuí-lo à tardezinha na porta do Templo.
E é com ar de superioridade que ele anuncia que faria em seu sermão uma prédica contra a Doutrina Espírita e que ofereceria direito a réplica. Cairbar preparou-se condignamente para esse dia, mas – pudera – doce ilusão! O direito lhe é negado, e ele se vê obrigado a responder com uma Carta Aberta à população duas horas depois da infeliz alocução do vigário.
Hospital da Caridade
O sentimento de amor ao próximo teve nele incomparável paradigma. Estava sempre solícito e pronto para socorrer um enfermo ou um obsediado. Atos de renúncia e de desapego eram comuns em sua vida. Sua residência chegou a ser transformada em hospital de emergência para doentes mentais e obsediados. Em vista do crescente número de enfermos, em 1912 alugou uma casa mais ampla, na qual tratava com maiores recursos e com mais liberdade todos aqueles que apelavam para a sua ajuda fraternal.
Cairbar sempre preocupado com a comunidade e trazendo no coração aquela profunda compaixão pelos pobres e desvalidos, vislumbra com o crescimento da cidade a necessidade de um Hospital.
Assim, surgiu a ideia do “Amantes da Pobreza” fundar um pequeno Hospital, modesto como as suas possibilidades, mas que fosse um fulcro que pudesse resultar futuramente num nosocômio que atendesse às necessidades do lugar.
E mais uma vez, o Bandeirante, o desbravador Cairbar Schutel, com sua visão futurística e seu coração sensível, favorece a comunidade, que não lhe retribuía na medida de seu valor, com a fundação do Hospital de Caridade em 10/03/1912 e em 22/11/1913 o próprio Clarim informa que “O Centro Espírita “Amantes da Pobreza” fechou o Hospital de Caridade, que durante o seu funcionamento foi mantido pelo mesmo Centro”.
Visitas à cadeia pública
Em julho de 1914 o C.E. “Amantes da Pobreza” estendeu suas atividades à Cadeia Pública de Matão, mais especialmente Cairbar Schutel, adquiriu o costume de ir visitar os presos semanalmente, lá dava passes e nunca ia de mãos vazias, sempre levava alguma coisinha para eles especialmente na Páscoa e no Natal.
Este costume, Schutel conservou até o fim de sua vida, sendo que os próprios policiais lhe solicitavam a presença sempre que lá era internado algum “louco”, já que com a ausência de Hospitais Psiquiátricos na época, esses infelizes eram jogados nas Cadeias Públicas mesmo.
Ex: Cura de obsidiados pág. 111 e 112 Negra Quitéria( O Bandeirante do Espiritismo).
Com a autorização do Exmo. Sr Delegado Regional, Dr. Pedro de Oliveira Ribeiro Júnior, o nosso companheiro C. Schutel realizou uma série de Palestras morais aos presidiários da Cadeia de Araraquara, com temáticas sobre: A existência da Alma, sua Imortalidade, a evolução do espírito…
A mediunidade de cura de Cairbar
Ele próprio dirigia um grupo de desobsessão, cujos doentes ficavam num quarto ao lado e aos domingos haviam os trabalhos públicos com palestras. Não havia, porém, os passes depois das reuniões. Eles eram aplicados em casos particulares.
Cairbar Schutel não fornecia apenas os remédios à cura das pessoas, mas ele mesmo, um predestinado nas questões do Espírito, oferecia através de sua mediunidade o tratamento providencial para os males físicos.
Cairbar sabia ser amigo até dos seus próprios inimigos. Sempre inspirava simpatia e respeito. Sempre feliz no seu receituário, tornou- se, dentro em pouco, o Médico dos Pobres e o Pai da Pobreza, de Matão. Além de prescrever o medicamento, ele o dava gratuitamente aos necessitados. Sua residência tomou- se um refúgio para os pobres da cidade. Muitas pessoas eram socorridas pela sua generosidade. Muitos recebiam socorros da mais variada espécie, em víveres, em roupas e, sobretudo assistência espiritual.
Inúmeros casos citaríamos que S. Cairbar aplicou sua mediunidade de cura, visitas à enfermos em fazendas, residências, em outras cidades, de outras cidades que vinham até sua farmácia a procura de seu auxílio quando os médicos da matéria já não não tinham mais o que fazer.
Pág. 55 Cairbar na Intimidade
Centro Espírita do Bairro Alto – Cairbar Shutel na Intimidade
Na cidade de Matão, já existia, na época de Cairbar Schutel, como até hoje ainda existe, um bairro chamado Bairro Alto, onde residia uma família de negros, a qual seguia e praticava os rituais próprios da Umbanda.
Durante a noite, na hora do culto, essa família fazia muito barulho com os instrumentos que usava. Os vizinhos, sentindo incômodo, deram queixa à polícia.
Certa noite, enquanto a família estava reunida em sessão, já a altas horas, a polícia chegou e prendeu todos os que ali estavam presentes. Foram homens, mulheres e crianças para a delegacia de polícia.
Sabendo do ocorrido, Shutel, imediatamente, procurou o delegado, pedindo a soltura dos presos, mas ele se negou, intransigentemente, a atender ao pedido. Afinal, era uma prisão legal. Schutel insistia na libertação. Como os argumentos não demoviam o delegado, teve uma ideia: pediu que confiasse todos os presos À sua guarda pessoal. Ele, Schutel, se responsabilizaria por eles.
Considerando o prestígio que ele tinha na comunidade, o delegado acabou cedendo e entregou todos os presos a Schutel, que os levou para casa, pedindo-lhes que não mais fizessem as reuniões até ele voltar. Todos concordaram.
Matão era uma cidade que pertencia À comarca de Araraquara. Lá, Schutel conseguiu registrar no mesmo dia, o Centro Espírita Bairro Alto.
Legalizado o referido centro, passou Schutel, então, a frequentá-lo semanalmente, levando para aquelas pessoas os ensinamentos da Doutrina Espírita, orientando os frequentadores, que foram, assim, deixando os rituais e o mediunismo aplicando-se ao Espiritismo.
Nunca mais houve reclamações.
O carinho pelos animais
Durante muitos anos quem transportou Schutel foi um burrico muito bem cuidado, e quando o muar caiu doente ele emprestou um guindaste para levantá-lo e poder medicá-lo. A despeito de todos os esforços de Schutel “veterinário”, o muar veio a falecer vitimado por uma generalizada paralisia. Enterrou-o, o dono, com muito pesar. Com a morte do burro, Cairbar adquiriu um veloz cavalo tordilho a quem logo se apegou. Esse cavalo, que recebeu o original nome de “Cabrito”, chegou a disputar parelhas e era muito mimado pelo dono.
Cabrito, que ficava solto no quintal da casa, acostumou-se a pôr a cabeça nas janelas pedindo balas ou açúcar cristal que Cairbar estava acostumado a oferecer-Ihe.
Quando Cabrito começou a ficar velho e cansado, Schutel adquiriu, a muito custo, um Fordeco 28 e aposentou o cavalo. Muitos quiseram compra-lo mais Schutel dizia: Não vendo. O Cabrito está aposentado. Ficará comigo até seu fim. É um bom animal e já fez com dignidade o seu trabalho até aqui.
Outro Ex: O cachorro Rolf (O Bandeirante do Espiritismo)
1925- A fundação da Revista Internacional de Espiritismo R.I.E
Não diríamos ter sido mais um órgão de divulgação espírita no Brasil, mas a Revista Internacional de Espiritismo foi, na realidade, um capítulo todo da história do Espiritismo, já que representou um marco na proclamação das virtudes da nova Doutrina em seu tríplice aspecto: religioso, científico e filosófico. Cairbar desejava um periódico capaz….
Sua linha editorial era de sempre manter o alto nível dos artigos, que pendiam mais para o ramo cientifico e experimental dos fenômenos e, como o próprio nome já indicava, internacional, publicava em suas páginas colaborações dos grandes pesquisadores mundiais do Espiritismo e do Animismo da primeira metade do século.
“colocar a candeia à vista de todos”. Sim, a luz tinha que brilhar e a R.I.E. seria uma oportunidade de levar aos cultos e poderosos, numa linguagem mais elaborada, as experiências que se realizavam no mundo para se provar a imortalidade da alma e a comunicabilidade dos Espíritos, objetivo este um tanto diferente de “O Clarim”, que, como ele próprio definia, “era feito para os mais humildes e de menos cultura.
Hoje a R.I.E está presente em 32 países. E esse sonho só foi possível graças ao Sr. Luís Carlos de Oliveira Borges, descendente de tradicional família paulista, Barões de Dourados, da cidade de Dourados, foi a Matão conhecer o editor do jornal que tanto apreciava. Dessa primeira visita firmou-se uma amizade sólida, sincera e tomando-se de amores pela obra da Casa Editora, Borges se empenha em auxiliar Shutel, no amparo financeiro e futuramente também trabalhou como um dos chefes de “o Clarim”.
Conferências Radiofônicas
Cairbar Schutel é tido por toda a família espírita como o precursor da divulgação espírita pelo Rádio, mas, a bem da verdade histórica, ele pode ser considerado um dos pioneiros, mas não o precursor. Em carta ao próprio Schutel dirigida, Henrique Andrade, do Rio de Janeiro, além de animá-lo ao prosseguimento das palestras radiofônicas, faz um relato de sua experiência pessoal no campo da radiofonia já em 1932, quatro anos portanto antes de Schutel, e devido à importância do documento, que restabelece uma parte da nossa história.
Associação “São Vicente de Paulo”
Esta Associação, como o próprio nome já nos induz pensar, era de orientação católica, foi fundada em maio de 1907, e tinha por princípios estatutários o auxilio a pessoas carentes, idosas e doentes, principalmente os hansenianos (leprosos). Acredite se quiser, mas Cairbar pertenceu a ela muitos anos e até o cargo de Presidente ocupou. Foi, sem dúvida, uma lição a toda a comunidade de que devemos exercer a caridade em qualquer circunstância sem nos preocuparmos com o rótulo. O “Pai da Pobreza de Matão” foi convocado a mais esta missão e, sendo ela de amor ao próximo, não titubeou em aceitá-la.
Cairbar Schutel e seus livros
Os livros surgem em Cairbar Schutel em decorrência de três fatores: em primeiro lugar, as polêmicas a que foi conduzido pela ação dos padres católicos e pastores protestantes; em segundo lugar, pela oportunidade de abordagem de determinados temas, que o momento oferecia; finalmente, para cumprir antigas aspirações que o autor alimentava. Muitos desses livros tiveram sucessivas edições e foram estudados por diversas gerações, nas escolas e cursos mantidos por instituições espíritas. Eles ultrapassaram as divisas da pacata Matão e espalharam-se por todo o País, indo até o exterior. Cairbar não é um intelectual de formação acadêmica. E um autodidata. Seus conhecimentos foram acumulados através do esforço do dia-a-dia, entre a luta pela sobrevivência e o descanso. Considera-se ele um divulgador, aquele que tem a tarefa de levar a mensagem ao público e com ela exercer algum tipo de persuasão. Sua linguagem é simples, direta, como convém ao jornalista que trabalha com a informação. Não podendo se aprofundar em pesquisas e pião dispondo dos recursos culturais dos grandes centros urbanos, vale-se muitíssimo da inspiração e da intuição, E só assim consegue desenvolver os diversos e simultâneos momentos de sua vida; é o farmacêutico, o amigo dos pobres, o diretor do jornal e da revista, o homem que deve responder às críticas dos adversários da doutrina; o orador, o marido e o administrador. O escritor, enfim, que não escreve apenas, mas deve coordenar a composição gráfica, efetuar as revisões, dirigir a impressão, distribuir os livros, cuidar da cobrança.
1- Espiritismo e Protestantismo (Filosófico) /1911 / O Clarim.
Descrição: Em 1908, em Rio Claro, SP, Cairbar Schutel e Faustino Ribeiro Júnior polemizaram sobre espiritismo e protestantismo através das páginas do jornal Alfa. Quase um século se passou desde aqueles dias, mas o assunto e o modo como foi desenvolvido não perderam seu frescor.
2- Histeria e Fenômenos Psíquicos / 1911
Descrição: Um pequeno opúsculo sobre os fenômenos psíquicos.
3- O Batismo – 1914 (Dissertações), O Clarim.
Descrição: Neste sucinto trabalho, encontram-se esclarecimentos sobre a prática que vem sendo ministrada de modo errôneo pelas religiões. Reúne páginas escritas por Cairbar mas não foi preparado pelo autor. Por isso foi recolhido pela editora.
4- O Diabo e a Igreja (Dissertações) / 1914 /
Descrição: Este livrinho responde categoricamente a todas às injúrias do Padre Bento Rodrigues e de Monsenhor Seckler, que publicaram vários artigos atacando injustamente o Espiritismo.
5- Espiritismo para as Crianças (Doutrinário) /1918 / O Clarim
Descrição: E um pequeno resumo da Doutrina Espírita dedicado à meninada.
6- Interpretação Sintética do Apocalipse (Dissertações) / 1918 /
Descrição: É o livro das predições que narra àquilo que havia de suceder no mundo religioso.
7- Cartas a esmo l – A Vida no Outro Mundo (Vida no Além), 1929
Descrição: Reúnem publicadas em 1918 em resposta à “Carta Pastoral” do Bispo de Florianópolis, em que a Eminência da Igreja Romana combatia o Espiritismo. O objetivo é o esclarecimento da verdade.
8- Médiuns e Mediunidades (Mediunidade) /1923 / O Clarim.
Descrição: Entre outros preciosos livros escritos por Cairbar Schutel, o presente volume é muito útil para o médium. Capítulo de leitura obrigatória é “Psicologia dos médiuns”, no qual o Autor fala dos embusteiros.
9- Gênese da Alma – setembro de 1924
Descrição: Vejo homens de fronte erguida para o alto e outros curvados em busca dos tesouros da Terra; vejo bons e vejo maus, uns inteligentes e outros estúpidos, uns santos e outros diabos; vejo sãos e enfermos, bonitos e feios. Pergunto-lhes donde vieram, quem são e para onde vão, mas nenhum deles me responde!” Eis a chave deste livrinho precioso!
10- Espiritismo e Materialismo – dezembro de 1925
Descrição:Este pequeno opúsculo vem nos falar aos nossos corações que a imortalidade, a reencarnação e o além túmulo não são meras miragens como tentam demonstram os sistemas de ideias materialistas mais sim são verdades eternas para os nossos espíritos eternos.
11- Fatos Espíritas e as Forças X… – maio de 1926
Descrição: O objetivo deste livro de bolso é orientar os leitores, encaminhando-os para o estudo do Espiritismo. Uma doutrina que lhes pode garantir uma visão mais ampla da Vida em suas obras fundamentais.
12- Parábolas e Ensinos de Jesus – janeiro de 1928
Descrição:Sintonizado com o plano superior, mas também com seu lúcido raciocínio, o autor analisa os ensinos de Jesus, comenta suas parábolas, trazendo luz para o entendimento da essência dos textos evangélicos.
13- O Espírito do Cristianismo – fevereiro de 1930
Descrição: Volume complementar a “Parábolas e Ensinos de Jesus”, oferece os tesouros da religião vivam em linguagem direta, de Espírito a Espírito, sem dogmas para se compreender o espírito do Cristianismo.
14- A Vida no Outro Mundo – outubro de 1932
Descrição: Neste livro Cairbar procura estudar as formas de vida, constituição e disciplina dos mundos habitados, bem como das colônias espirituais existentes no espaço.
15- Vida e Atos dos Apóstolos – fevereiro de 1933
Descrição: Trata-se de compilação dos “Atos dos Apóstolos”, comentada e ampliada pelo Autor com dados históricos obtidos sobre a vida daqueles discípulos de Jesus Apóstolo e sua ação.
16- Preces espíritas – 1936
Descrição: Uma coleção de preces extraída do cap.28 de “O Evangelho Segundo O Espiritismo”. Cairbar Schutel incluiu textos sobre Desencarnação, Religião, Oração, além da Prece de Cáritas. Vida e Atos dos Apóstolos (Evangélico) /1933 / O Clarim.
17- Conferências Radiofônicas – setembro de 1937
Descrição: Uma série de conferências transmitidas pela Rádio Cultura de Araraquara nos anos de 1936 e 1937, com uma análise cuidadosa e imparcial do Espiritismo. Vários assuntos abordados, como: imortalidade da alma, espiritismo científico e cristão, a morte e a vida em face do cristianismo e do espiritismo, etc.
FALECIMENTO
Aconteceu no dia 13 de janeiro de 1938. O corpo do lidador quedou-se doente e no peito um coração dá sinais de fadiga: o fim estava próximo, ou melhor, o começo, pois abençoada é a morte que é a entrada para a Verdadeira Vida, na libertação do Espírito que entrega seu corpo alquebrado à Natureza e ascende ao Solar dos Justos.
“Mas “seo” Schutel”, exclama Antoninha, “o senhor que não consegue nem se deitar, está caminhando até a sala?” E era apropriada a pergunta, porque há oito dias ele estava dormindo sentado, numa cadeira de vime, sem reclinar a cabeça em
razão do coração que doía muito. Antoninha não havia se preocupado apenas pelo arrojo do adoentado, mas notara nele uma transformação, uma fisionomia e um estado de alma que nunca houvera sentido antes. Ele lhe responde, a princípio, com a mudez do coração. Sua expressão facial denotava uma emoção que os lábios não conseguiriam exprimir
por palavras. Queria confidenciar algo à amiga, mas o pudor, ou quem sabe o medo de a iniquidade humana tomá-lo por delirante, o fazia catarse. O silêncio ainda era sua linguagem. Não se sabe quanto tempo passou assim, até que rendeu-se à alegria que lhe corria por entre as veias e explodiu seu coração numa confissão à amiga:
“Antoninha, desculpe-me minha filha, mas você nem imagina o que vai pela minha alma! Estava aqui, relutando comigo mesmo, para resolver se me abria com você ou guardava só para mim, mas a você, que tem sido a amiga de tantos anos, não poderia me furtar a contar. Antoninha… eu vi Jesus! Não diga para ninguém, mas.., eu vi Jesus… e ele me consolou! Não quero que ninguém saiba, porque tenho consciência de que não fiz nada para merecer tanta graça, mas o fato é que Ele me apareceu!” E no dia 29, às 10h00 da manhã, Dr. Hudson veio visitá-lo e disse: “Olhe, Schutel, você tem que tomar mais injeções. Seu estado não é muito grave, mas acho que você tem que tomar mais injeções”.
Enquanto o médico descia à farmácia para buscar o medicamento, Cairbar começou a expirar e D. Antoninha, sentindo a gravidade do estado do doente, apressou-se em chamar o médico de volta para socorrê-lo. Dr. Hudson, então,
aplicou-lhe rapidamente a injeção. A cabeça de Schutel estava caída para o lado, parecendo haver ele deixado de respirar, mas lentamente ele volta a si e com muita dificuldade fala aos amigos: “Eu tive de voltar. Tive de voltar porque vocês fizeram tanto empenho… parece que vocês não queriam que eu fosse embora. Eu voltei, mas fiquem sabendo que o desencarne é certo”.
E virando-se para o Dr. Hudson dirige-lhe a palavra:
“Doutor, o senhor se empenhou com tanto amor para que eu ficasse aqui, mas não será possível. Chegou minha hora de partir. Eu já estava do Outro Lado da Barreira sem dores e sem aflição, mas eu voltei porque não pude deixar de atender
às orações que estão fazendo para me segurar aqui. O senhor pode fazer a injeção, mas quero que todos saibam que, como espíritas, será necessário que deem o testemunho do que têm pregado a vida inteira: a morte é uma libertação, por isso não devemos temê-la ou lamentá-la”.
… Ainda há pouco vocês conversavam na redação sobre o túmulo que vão erguer para mim. Nada disso. Espírita não precisa de túmulo. Quero uma coisa simples, uma lápide apenas, e se vocês quiserem escrever algo nela, escrevam isto: “Vivi, vivo e viverei porque sou imortal”.
Dizem algumas comunicações mediúnicas que o Espírito Cairbar Schutel está, no mundo espiritual, encarregado pela divulgação do Espiritismo na Terra; sendo confirmada tal informação, essa nobre tarefa está muito dirigida, porque o movimento espírita deve muito ao querido “Bandeirante do Espiritismo”, assim como à sua digníssima esposa Dª. Maria Elvira da Silva Schutel, pois, como diz a sabedoria popular, ao lado de um grande homem há sempre uma grande mulher!
No Velório: Cairbar Shutel na Intimidade
Durante o velório de Cairbar Schutel, várias cenas emocionantes aconteceram.
O corpo ficou sendo velado na sala de sua casa, onde hoje está localizada a redação do jornal O CLARIM e da REVISTA INTERNACIONAL DO ESPIRITISMO. Verdadeira multidão, quase a cidade toda, para lá se locomoveu, a prestar sua última homenagem àquele que foi um exemplo vivo do bem e do amor.
Um fato marcante e que demonstra a evolução de Schutel aconteceu em um quarto, próximo da sala onde se dava o velório.
Nesse recinto, estavam reunidos vários amigos, entre eles, o Dr. Hudson D. Ferreir (médico que o assistiu em sua enfermidade), José Maria Gonçalves, Ítalo Ferreira e o dentista Urbano de Assis Xavier (médium de muitas qualidades e de absoluta confiança de Cairbar Schutel).
Enquanto faziam uma prece, o referido médium recebeu uma bela e comovente comunicação de Cairbar Schutel, Espírito, cujo corpo ainda estava sendo velado na sala contígua.
João Leão Pita, colaborador e fiel amigo de Schutel, tinha vindo da cidade de Piracicaba, onde residia, para o sepultamento.
A sua chegada ao local onde se velava o corpo de Schutel foi emocionante. Aproximou-se do caixão, olhou aquele corpo inerte e, com sua voz possante, disse:
– Schutel, eu sei quem tu és.
E, comovido, proferiu uma palestra, relatando aos presentes as homenagens e a recepção que o Espírito de Cairbar Schutel estava recebendo na Espiritualidade.
Todos choravam de emoção diante do que ouviam.
Manifestações de Cairbar
A Revista Internacional de Espiritismo, edição de janeiro de 1970, página 348, reproduziu matéria de Herculano Pires, publicada no Diário de São Paulo, assinada com o pseudônimo que costumava usar: Irmão Saulo, com o título Os mortos voltam.
Referida matéria, pouco mais de uma nota, apresenta em seu primeiro parágrafo uma síntese biográfica da Cairbar Schutel, destacando que ele, Cairbar, “(…) dedicou sua vida a ensinar que os mortos voltam, pois a morte não existe (…)”. E descreve o autor como ele mesmo, Schutel, voltou depois da morte.
Transcrevemos parcialmente: “A primeira volta de Cairbar se deu em seu próprio leito de morte. Foi a 30 de janeiro de 1938.
Quase todos o consideravam morto. Cairbar reanimou-se de súbito e falou:
“Por que me chamaram? Eu já estava do outro lado da barreira, sem dores, sem aflições”. Depois de conversar com os presentes, tornou a partir e o corpo se inteiriçou.
A segunda volta foi no dia seguinte, quando velavam o corpo. Cairbar manifestou-se através do médium Urbano de Assis Xavier e falou aos presentes diante do próprio corpo. Declarou que não podia deixar passar aquela oportunidade de vir ele mesmo comprovar o que pregava.
A terceira volta de Cairbar deu-se na Inglaterra, através da médium Sra. Wood, na presença do espiritista português Frederico Duarte. A médium, que jamais conhecera Cairbar, descreveu-o. Frederico lhe dirigiu uma pergunta mental em português, que ele respondeu, prometendo voltar a falar-lhe mais tarde.
Essa quarta volta realizou-se de maneira dramática, pois Cairbar materializou-se no Circuito Espírita de Manchester, a 27 de junho de 1938, servindo-se das faculdades da médium Sra. Bulloc. O velho Cairbar, em ‘carne e osso’, atravessou a sala e apertou a mão de Frederico Duarte diante de todos os presentes, dizendo-lhe animadoras palavras.
Assisti pessoalmente a várias manifestações de Cairbar Schutel, mas a que mais me impressionou verificou-se no Congresso Espírita da Alta Paulista, realizado em Marília em 1946.
Cairbar serviu-se do médium Urbano de Assis Xavier e fez uma preleção doutrinária como se fosse um participante encarnado dos trabalhos.
José da Costa Filho, discípulo e auxiliar em Matão, estava presente e a seguir conversou com o mestre na presença de todo o auditório.
A primeira obra psicografada em que se faz menção ao Espírito Cairbar Schutel é Voltei, atribuída ao Espírito Irmão Jacob, psicografada por Chico Xavier, publicada em 1949 pela Editora FEB – Federação Espírita Brasileira.
Voltei irmão Jacob – pseudônimo de Frederico Fígner
… Na segunda noite recebeu a visita de Guillon e Cairbar. Estavam remoçados e disseram que não viviam naquela colônia. Quanto a Bezerra, Sayão e Bittencourt Sampaio optaram por ficar junto aos infelizes da Terra, embora já pudessem alçar voos para planos superiores. Convidaram-no a ir ao RJ.
Volta ao Rio. Amparado por Guillon e Cairbar, sentiu que estavam volitando em linha reta, mais rápido e mais alto. Viu a ponte já conhecida. Descobriu que há rotas espirituais que favorecem o deslocamento. Jacob sentiu desejo de se materializar em plena avenida para dar testemunho e Guillon riu…
Estudos e dissertações em torno da obra “O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO” de Allan Kardec
Em teu nome, Senhor!… Mestre! Estudando a mensagem libertadora de Allan Kardec, em O Evangelho segundo o Espiritismo, nós, os companheiros desencarnados de quantos se encontram ainda em rudes lições na escola física, escrevemos este livro, em teu nome. Nele se refletem os pensamentos daqueles servos menores de teus Servos Maiores, aos quais confiaste, em círculos mais estreitos de ação, a sublime tarefa de reviver o espírito da verdade, nos tempos calamitosos de transição que o Planeta atravessa. … A esta série de estudos pertencem, também, os livros Religião dos Espíritos, Seara dos Médiuns e Justiça Divina… O Espírito da Verdade Com todos eles, Senhor, rumo à Era Nova, nós – gotas pequeninas de inteligência no oceano da Infinita Sabedoria de Deus – partilhamos os lances aflitivos da Terra traumatizada por angústias apocalípticas, em busca de paz e renovação, trabalhando pelo mundo melhor, na certeza de que permaneces conosco e de que, como outrora, diante da tempestade, repetirás aos nossos ouvidos, tomados de inquietação: – ”Tende bom ânimo! Sou eu, não temais.” (Uberaba, 9 de outubro de 1961) Eurípedes Barsanulfo, Bezerra de Menezes, Cairbar Schutel, Anália Franco, Hilário Silva, André Luiz, Emmanuel, Meimei e outros.
Mensagens de Cairbar no livro “O Espírito da Verdade”.
Médiuns e mediunidades
Cap. XXVI – Item 10 No falso pressuposto de que haja médiuns e mediunidades mais importantes entre si, recordemos o velho apólogo que Menê- nio Agripa contou ao povo amotinado de Roma, a fim de sossegar lhe o espírito em discórdia. “Se o cérebro, por reter a ideação fulgurante, desprezasse o estômago ocupado na tarefa obscura da digestão, a cabeça não conseguiria pensar; se os olhos, por refletirem a luz, declarassem guerra aos intestinos por serem eles vasos seletores de resíduos, decerto que, a breve tempo, a retina seria espelho morto nas trevas, e se o tronco, por sentir-se guindado a pequena altura, condenasse os pés por viverem ao contato do solo, rolaria o corpo sem equilíbrio.” E, de nossa parte, ousaríamos acrescentar à antiga fábula que tudo, no campo da sequência da natureza, é solidariedade e cooperação. Se os braços desaparecerem, os pés se fazem mais ágeis; em sobrevindo a surdez, acusa o olhar penetração mais intensa; se a visão surge apagada, o tacto mais amplamente se desenvolve; se o baço é extirpado, a medula óssea trabalha com mais afinco, de modo a satisfazer as necessidades do sangue. Qual acontece no mundo orgânico, a Doutrina Espírita é um grande corpo de revelações e de bênçãos, no qual cada médium possui tarefa específica. Esse esclarece… Aquele consola… Francisco Cândido Xavier / Waldo Vieira – O Espírito da Verdade 29 Outro pensa feridas… Aquele outro anula perturbações… Esse incorpora sofredores angustiados… Aquele transmite elucidações de instrutores devotados à grande beneficência… Outro recebe a palavra construtiva… Aquele outro se incumbe da mensagem santificante… Como é fácil observar, o passe curativo é irmão da prece confortadora, a desobsessão é o reverso da iluminação espiritual e o verbo fulgente da praça pública é outra face do livro que o silêncio abençoa. Em nossa esfera de serviço, portanto, já que prescindimos do profissionalismo religioso, não existem médiuns-pastores, médiuns-gerentes, médiuns-líderes ou médiuns-diretores, porquanto a cada qual de nós cabe uma parte do grande apostolado de redenção que nos foi atribuído pela Espiritualidade Maior. E se todos nós, em conjunto, temos um mentor a procurar e a ouvir de maneira especialíssima, no plano da consciência e no santuário do coração, esse Mentor é Nosso Senhor Jesus-Cristo – o Sol do Amor Eterno – a cuja luz, no grande dia de nossos mais altos ajustamentos, deveremos revelar em nós mesmos a divina essência da Sua lição divina: – ”A cada qual por suas obras” Cairbar Schutel
36 O filho do orgulho Cap. VII – Item 11 O melindre – filho do orgulho – propele a criatura a situar-se acima do bem de todos. É a vaidade que se contrapõe ao interesse geral. Assim, quando o espírita se melindra, julga-se mais importante que o Espiritismo e pretende-se melhor que a própria tarefa libertadora em que se consola e esclarece. O melindre gera a prevenção negativa, agravando problemas e acentuando dificuldades, ao invés de aboli-los. Essa alergia moral demonstra má-vontade e transpira incoerência, estabelecendo moléstias obscuras nos tecidos sutis da alma. Evitemos tal sensibilidade de porcelana, que não tem razão de ser. Basta ligeira observação para encontrá-la a cada passo: É o diretor que tem a sua proposição refugada e se sente desprestigiado, não mais comparecendo às assembleias. O médium advertido construtivamente pelo condutor da sessão, quanto à própria educação mediúnica, e que se ressente, fugindo às reuniões. O comentarista admoestado fraternalmente para abaixar o volume da voz e que se amua na inutilidade. O colaborador do jornal que vê o artigo recusado pela redação e que se supõe menosprezado, encerrando atividades na imprensa. A cooperadora da assistência social esquecida, na passagem de seu aniversário, e se mostra ferida, caindo na indiferença. O servidor do templo que foi, certa vez, preterido na composição da mesa orientadora da ação espiritual e se desgosta por sentir-se infantilmente injuriado. O doador de alguns donativos cujo nome foi omitido nas citações de agradecimento e surge magoado, esquivando-se a nova cooperação. O pai relembrado pela professora das aulas de moral cristã, com respeito ao comportamento do filho, e que, por isso, se suscetibiliza, cortando o comparecimento da criança. O jovem aconselhado pelo irmão amadurecido e que se descontenta, rebelando-se contra o aviso da experiência. A pessoa que se sente desatendida ao procurar o companheiro de cuja cooperação necessita, nos horários em que esse mesmo companheiro, por sua vez, necessita de trabalhar a fim de prover a própria subsistência. O amigo que não se viu satisfeito ante a conduta do colega, na instituição, e deserta, revoltado, englobando todos os demais em franca reprovação, incapaz de reconhecer que essa é a hora de auxílio mais amplo. O espírita que se nega ao concurso fraterno somente prejudica a si mesmo. Devemos perdoar e esquecer se quisermos colaborar e servir. A rigor, sob as bênçãos da Doutrina Espírita, quem pode dizer que ajuda alguém? Somos sempre auxiliados. Ninguém vai a um templo doutrinário para dar, primeiramente. Todos nós aí comparecemos, antes de tudo, para receber, sejam quais forem as circunstâncias. Fujamos à condição de sensitivas humanas, convictos de que a honra reside na tranquilidade da consciência, sustentada pelo dever cumprido. Francisco Cândido Xavier / Waldo Vieira – O Espírito da Verdade 81 Com a humildade não há o melindre que piora aquele que o sente, sem melhorar a ninguém. Cabe-nos ouvir a consciência e segui-la, recordando que a suscetibilidade de alguém sempre surgirá no caminho, alguém que precisa de nossas preces, conquanto curtas ou aparentemente desnecessárias. E para terminar, meu irmão, imagine se um dia Jesus se melindrasse com os nossos incessantes desacertos… Cairbar Schutel
58 Seja voluntário Cap. XX – Item 4 Seja voluntário na evangelização infantil. Não aguarde convite para contribuir em favor da Boa Nova no coração das crianças. Auxilie a plantação do futuro. Seja voluntário no Culto do Evangelho. Não espere a participação de todos os companheiros do lar para iniciá-lo. Se preciso, faça-o sozinho. Seja voluntário no templo espírita. Não aguarde ser eleito diretor para cooperar. Colabore sem impor condições, em algum setor, hoje mesmo. Seja voluntário no estudo edificante. Não espere que os outros lhe chamem a atenção. Estude por conta própria. Seja voluntário na mediunidade. Não aguarde o desenvolvimento mediúnico, sistematicamente sentado à mesa de sessões. Procure a convivência dos Espíritos Superiores, amparando os infelizes. Seja voluntário na assistência social. Não espere que lhe venham puxar o paletó, rogando auxílio. Busque os irmãos necessitados e ajude como puder. Seja voluntário na propaganda libertadora. Não aguarde riqueza para divulgar os princípios da fé. Dissemine, desde já, livros e publicações doutrinárias. Seja voluntário na imprensa espírita. Não espere de braços cruzados a cobrança da assinatura. Envie o seu concurso, ainda que modesto, dentro das suas possibilidades. Sim, meu amigo. Não se sinta realizado. Cultive espontaneidade nas tarefas do bem. “A sementeira, é grande e os trabalhadores são poucos.” Vivemos os tempos da renovação fundamental. Atravessemos, portanto, em serviço, o limiar da Era do Espírito! Ressoam os clarins da convocação geral para as fileiras do Espiritismo. Há mobilização de todos. Cada qual pode servir a seu modo. Aliste-se enquanto você se encontra válido. Assuma iniciativa própria. Apresente-se em alguma frente de atividade renovadora e sirva sem descansar. Quase sempre, espírita sem serviço é alma a caminho de tenebrosos labirintos do umbral. Seja voluntário na Seara de Jesus, Nosso Mestre e Senhor! Cairbar Schutel
96 Sê compassivo Cap. XIII – Item 17 Sem compaixão não há caridade. As lágrimas vertidas ao calor vívido da piedade corroem as densas cadeias da provação. Desterremos de nós a insensibilidade crua diante das telas de angústia que se desenrolam em nossa estrada. A piedade é a simpatia espontânea e desinteressada que se antepõe à antipatia gratuita moral e material, junto daqueles que no-la despertam, sem o que se torna infrutífera. Quando o sofrimento alheio não nos sensibiliza, a Orientação Divina estatui venhamos a experimentá-lo igualmente para avaliar a dor do próximo e nos predispormos a ampará-lo. Só a piedade consoladora traz alegria ao espírito, criando elevação e valor. Fujamos à compaixão aparente que se manifesta em lágrimas de crocodilo, gestos e exclamações pomposas, nos cená- rios artificiais do fingimento. Mede-se a comiseração pelo devotamento e solicitude fraternais que promove. Deve-se-lhe o despovoamento gradativo das zonas de purgação moral da Espiritualidade. Deixa-te enternecer ante os painéis comovedores das crises de pranto, vezes e vezes temperadas em sangue e suor; contudo, não te detenhas aí: busca dirimi-las. Perlustra as vielas ínvias da necessidade e beneficia as almas que se agitam em desespero, dentro da jaula do próprio corpo. Tem dó, não
apenas dos quadros gritantes de falência íntima, mas também dos padecimentos mascarados de silêncio e de orgulho, ingenuidade e inexperiência. Inunda de amor os corações mantidos sob o vácuo do tédio. Protege a infância desvalida, pois os pequenos viajores da carne carecem de guias. Favorece com a moeda e abençoa com a palavra os pedintes andrajosos somente acariciados pelos cães que vagueiam nas ruas. E na certeza de que a piedade sincera jamais expressa covardia a derruir o bem, nem ridículo a excitar o riso alheio, acatemo-la como força de renovação das almas e luz interior da Verdadeira Vida, eternizada por Deus. Sê compassivo. Cairbar Shutel
Obras atribuídas ao Espírito Cairbar Schutel
1. Psicografada pelos médiuns Chico Xavier e Waldo Vieira
- O Espírito da Verdade (co-autoria espiritual com vários espíritos) – 1961
2. Coordenadas por Abel Glaser (coordenador de grupo de médiuns)
- Alvorada Nova – 1992
- Conversando sobre Mediunidade – Retratos de Alvorada Nova – 1993
- Eustáquio – Quinze séculos de uma trajetória – 1995
- Fundamentos da Reforma Íntima – 1999
- Apêndice Doutrinário: Família Material e Família Espiritual in Baviera – Saga Secular de Amor e Ódio (autor espiritual Rubião) – 2000
- Guerra no Além – Interação entre os dois planos da vida (co-autoria espiritual com seus emissários) – 2010
Referências
MONTEIRO, Eduardo Carvalho; GARCIA, Wilson. Matão: Casa Editora O Clarim, 2009. LOURENÇO, Sérgio. Bauru: Editora CEAC, 2006.
www.espirito.org.br
http://www.autoresespiritasclassicos.com/
http://institutocairbarschutel.org/iografiacairbar/o-andeirantedoespiritismo/#.VaazVKRVi
http://www.espirito.org.br/portal/biografias/cairbar-schutel.html
http://www.netluz.org/textos/txt.asp?categoria1=txt79
XAVIER, Francisco Cândido; VIEIRA, Waldo. O Espírito da Verdade, por vários Espíritos. Rio de Janeiro: FEB, 1961.
XAVIER, Francisco Cândido. Voltei, pelo Espírito Irmão Jacob. Rio de Janeiro: FEB, 1949.
XAVIER, Francisco Cândido. Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho.
Livro dos Espíritos.