Veneno Livre – Uma Lenda Israelita
Noé, o patriarca, depois do grande dilúvio, procurava preparar-se para lançar a terra ainda molhada a primeira vinha, quando lhe apareceu o Espírito das trevas, perguntando, insolente:
– Que desejas levantar, agora?
– Uma vinha – respondeu Noé, sereno.
O Espírito maligno indagou quanto aos frutos esperados da plantação.
– Sim – esclareceu o bondoso velho -, serão frutos doces e de bom sabor. As criaturas poderão deliciar-se com eles, em qualquer tempo, depois de colhidos.
Além disso, fornecerão milagroso caldo que se transformará facilmente em vinho, saboroso elixir capaz de adormece-las em suaves delírios de felicidade e repouso. . .
– Exijo sociedade nessa lavoura! – Gritou Satanás, arrogante.
Noé concordou sem restrições e o Gênio do Mal se encarregou de regar a terra e aduba-la, para o cultivo. Logo após, com a intenção de exaltar a crueldade, o Espírito maligno retirou quatro animais da arca enorme e passou a adubar e a regar com a saliva do bode, com o sangue do leão, com a gordura do porco e com o excremento do macaco.
À vista disso, quantos se entregam ao vício da embriaguez apresentam os trejeitos e os berros sádicos do bode ou a agressividade do leão, quando não caem na estupidez do porco ou na momice dos macacos.
O álcool intoxica temporariamente o corpo físico e o corpo espiritual, arroja a mente humana em primitivos estados vibratórios, detendo-a, de maneira anormal, na condição de qualquer bicho.
(Livro Cartas e Crônicas – Humberto de Campos)
(Livro Cartas e Crônicas – Humberto de Campos)