Apocalipse – interpretação (Caibar Schutel)
Interpretação Sintética do Apocalipse
Cairbar Schutel (1918)
Conteúdo resumido
É o livro das predições que narra aquilo que havia de suceder no mundo religioso. Trazendo um novo enfoque através da Doutrina Espírita sobre os acontecimentos futuros do nosso mundo e da nossa alma imortal.
Introdução
Cap. I, II, III E IV – Introdução do Apocalipse / 07
Cap. V – O livro dos sete selos / 09
Cap. VI – O primeiro selo / 11
Cap. VII – Ainda o sexto selo / 16
Cap. VIII – O Sétimo Selo / 17
Cap. IX – / 19
Cap. X – Anúncio da sétima trombeta / 21
Cap. XI – O início da besta / 23
Cap. XII – A mulher e o dragão / 25
Cap. XIII – As bestas e os seus caracteres / 28
Cap. XIV – A pregação do evangelho – Os tempos da ceifa / 40
Cap. XV E XVI – O sinal no céu – Os sete anjos – As sete últimas pragas / 43
Cap. XVII – Explicação e visão da grande prostituta / 50
Cap. XVIII – A queda da Babilônia / 52
Cap. XIX – A grande espiritualização – A vinda do Cristo / 55
Cap. XX – Prisão de Satanás por mil anos e sua libertação por pouco tempo – A liberdade dos mártires – O juízo final / 59
Cap. XXI – Novo Céu e nova Terra / 63
Cap. XXII – Remate final da visão – As últimas palavras do anjo / 66
Conclusão / 69
INTRODUÇÃO
Anexo ao Novo Testamento, ou Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, encontra-se um livro denominado APOCALIPSE DE SÃO JOÃO. Essa obra é o resultado de uma comunicação que o “desterrado de Patmos” recebeu do Espírito de Jesus.
É o livro das predições que narra, em linhas gerais, aquilo que havia de suceder no mundo religioso, e que está tendo o seu cumprimento literal.
Além das exortações, recomendações às diversas igrejas, a parte mais interessante e, por isso mesmo, a apocalíptica, é a que faz referência às Bestas, aos Dragões, e à grande Prostituta, que, no dizer do profeta, é a falsa Religião, que conduz os homens à perdição.
Baseados em diversos autores que têm mais ou menos aprofundado as suas pesquisas, removendo os mistérios que embaraçam a interpretação de tão extraordinária revelação, vamos estudar os principais trechos que, pode-se dizer, constituem o enredo de dita obra.
“Nada há escondido que não haja de aparecer; nada há oculto que não seja mais tarde revelado”, disse o incomparável Mestre.
Enquanto há ignorância, tudo é mistério, tudo é indecifrável; mas depois que o sol do progresso aquece as nossas almas, partem-se as cascas do mistério, rasga-se o véu da letra, e as coisas nos aparecem tais como são, a verdade ostentando a beleza da sua nudez.
O movimento da Terra, a gravitação dos corpos, a circulação do sangue, as vibrações, base da visão e da audição, foram outros tantos mistérios nas noites da ignorância. Mas a alavanca do progresso conseguiu remover as pedras que encerravam, no túmulo do preconceito, todos esses conhecimentos de que se ufana a geração deste século.
O “espelho de enigma” precede sempre a visão face a face, e, enquanto isso não acontece, cada qual vê os homens e as coisas através dos óculos da sua miopia e da mesma cor das suas opiniões preconcebidas. E por isso que muitos zoilos (maus críticos, invejosos), folheando as memoráveis páginas do Apocalipse, delas se servem como se fossem tintas de várias cores, onde costumam molhar a sua pena para satirizar fatos que não experimentaram e idéias que não estudaram.
Queremos referir-nos àqueles que, aproveitando-se dos nomes que o tornam admirados, abusam da estima de seus admiradores e, ultrapassando os limites do seu saber, crivam de setas envenenadas de sectarismo os fatos e a teoria espírita.
Foi prevendo a impressão que os conceitos desses escribas produzem no ânimo popular, propenso, quase sempre, a aceitar tudo o que é mau e a repelir o livre exame, que nos propusemos, em bem do ideal, a escrever a “Interpretação Sintética do Apocalipse”.
Mais de uma das ilustres personalidades do mundo católico, clérigos e leigos, têm tido a incrível coragem de, sem mesmo conhecerem a matéria de que tratam, afirmar que o “Dragão” e a “Besta”, caracterizados no Apocalipse de São João, são representados pela Maçonaria, pelo Espiritismo e por todos aqueles que não participam de suas idéias dogmáticas.
Felizmente, porém, não têm passado de afirmações gratuitas, sem apresentação de provas, despidas mesmo do espírito de raciocínio que deve acompanhar a todos os pesquisadores da Ciência ou da Religião.
Não queremos fazer crítica balofa, sem exame severo e meditação profunda, porque o nosso fim não é atacar agremiações nem personalidades, mas aclarar idéias, estudar questões que se ligam ao bem-estar geral, e, verberando o erro que subjuga as consciências, fazer brilhar a verdade, qual rútila estrela que nos mostra a Terra da Promissão.
Assim orientados, é que pretendemos penetrar os mistérios do Apocalipse, e, à semelhança do pescador de pérolas, oferecer, aos que nos lêem, a “pérola de raro valor”, de que fala a parábola evangélica.
Nota da Editora: A primeira edição deste livro ocorreu no dia 21 de setembro de 1918, com capa encadernada em percaline, ao preço de 2$500 (dois mil e quinhentos réis).
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EXPOSIÇÃO SINTÉTICA
A RELIGIÃO EM SUA MAIS SIMPLES EXPRESSÃO
A Religião é o laço que nos une a Deus, e a manifestação mais simples, e também, mais alta de religião, que o homem, com facilidade, concebe, é a caridade. A caridade é, pois, o expoente máximo da Religião.
Não dizemos que a Religião é a verdade, porque seria isso dificultar a conquista da Religião, que, com tanta sabedoria, tanto amor e tanto sacrifício, Jesus pôs ao alcance de todas as criaturas humanas.
A caridade se faz compreender por todos, e é a todos acessíveis. Mas a verdade só se alcança através dos grandes impulsos da inteligência. Esta, contudo, somente quando iluminada pela claridade, pode aspirar à contemplação interior de Deus. Por isso é que só a caridade salva.
Em resumo: a Religião, que ensina e conduz à caridade, tem o seu ponto de apoio no Evangelho de Jesus, porque foi este o maior Espírito que baixou a Terra, e soube, como nenhum outro, praticar a caridade em sua plenitude.
Eis, pois, o Código Religioso, em sua mais simples expressão:
EVANGELHO DE MATEUS
Capítulo V (43 a 48) – “Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem e caluniam, para serdes filhos do vosso Pai que está nos céus, o qual faz nascer o sol sobre bons e maus e vir chuvas sobre justos e injustos. Por que, se vós não amais senão os que vos amam, que recompensa haveis de ter? não fazem os publicanos também o mesmo? E se vós saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis nisso de especial? não fazem também assim os gentios?”
Capítulo VII (12): “Tudo o que quiserdes que os homens vos façam, fazei-o, assim, também, vós a eles; porque esta é a Lei e os Profetas.”
Capítulo XXII (37 a 40): “Amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de todo o teu entendimento e de toda a tua alma. Este é o grande e primeiro mandamento. E o segundo, semelhante ao primeiro, é: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas.
Esses artigos e parágrafos do Código Divino resumem todas as virtudes que o homem pode praticar para obter a sua “perfeição espiritual”. É, portanto, na obediência ativa dessa Lei que consiste a religiosidade.
DEDUÇÕES FILOSÓFICAS DA RELIGIÃO
A idéia religiosa traz, como conseqüência, a sobrevivência do Espírito à morte do corpo, e deste axioma derivam as condições físicas e morais do homem depois da morte. De onde se conclui que, para ser religioso, é preciso que o homem tenha fé nos seus destinos. Parece claro que ninguém pode ter “fé na vida futura”, sem que dela tenha noção; e, para que dela tenha noção, é preciso que estude, investigue, compreenda.
Ninguém pode, pois, ser religioso sem que estude a Religião sob os seus vários aspectos.
E o Apóstolo das gentes, interpretando a Religião pela caridade, diz em uma de suas epístolas: “Que a vossa caridade abunde em todos os conhecimentos para que aproveis o melhor e não tenhais tropeços no dia do Cristo”.
A Religião não dispensa os seus dois atributos: pureza e simplicidade. Estas condições, entretanto, que revestem a Religião, não a impedem de ser racional e experimental. E nesse sentido que a Religião manifesta, nas almas, o seu caráter verdadeiramente moral, pois representa a fé ativa e não a “fé cega”, obcecada, filha do fanatismo.
Essas considerações eram indispensáveis para entrarmos no tema “Apocalipse”, que pretendemos explicar.
INTRODUÇÃO DO APOCALIPSE – CAPÍTULOS I, II, III E IV
O autor do apocalipse abre o seu livro apresentando-o como uma revelação de Jesus Cristo, sobre as coisas que haviam de acontecer, inclusive a futura vinda do Mestre à Terra, em Espírito, e cercado da glória de seus anjos. (1)
(1) – Apocalipse, I, 7 (S. Mateus, XXV, 31 a 46)
Narra como se deu a sua visão e as palavras que ouviu “como a voz de trombeta”, e a recomendação que teve de se dirigir às “sete igrejas”, representadas por “sete candeeiros”, assistidas por “sete espíritos”, simbolizados por “sete estrelas”. (2)
(2) – Apocalipse, I, 10 a 20.
Nessa visão salienta-se a “espada de dois gumes” que sai da boca do excelso Espírito (Jesus). Essa espada é o símbolo do poder e da justiça. E a palavra divina, que no dizer de São Paulo, é a poderosa arma, com a qual será restabelecido o reinado do Cristo na Terra. É, finalmente, o Evangelho, o Verbo, essa espada que vibra golpes arrojados matando a hipocrisia, aniquilando o erro e defendendo os espíritos de boa vontade na luta terrível das “trevas” contra a “luz”.
Em seguida, transcreve as “cartas às sete igrejas”(1): Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia, cartas essas dignas de serem lidas, e que dispensam perfeitamente o trabalho de tradução, pois se acham escritas em linguagem popular e ao alcance de todos.
(1) – Apocalipse, II e III
No capítulo IV, o autor continua escrevendo sobre a sua visão cheia de quadros que se desdobram às suas vistas e que representam as letras com que se escrevem as “coisas espirituais”, que as palavras humanas não podem traduzir. A linguagem espiritual se manifesta por meio de símbolos que ferem a imaginação e dão uma idéia relativa das coisas que existem. Entretanto, não podem ser percebidas pelos nossos sentidos materiais, grosseiros.
Por exemplo nós lemos: “um mar de vidro semelhante ao cristal, (2) que representa o céu; as quatro criaturas viventes: o leão, o novilho, o homem e a águia voando” (3), que representam o poder, a criação, a sabedoria e a eternidade; todos entoando o cântico celeste: “Santo, santo, santo é o Senhor Deus Todo-poderoso, que era e que há de ser.”
(2) – Apocalipse, IV, 6
(3) – Apocalipse, IV, 7 e 8
Os Espíritos puros, mensageiros da Revelação, que é a pedra fundamental da igreja do Cristo, (4) são representados por ” 24 anciãos vestidos de roupas brancas, tendo nas suas cabeças coroas de ouro.” (1)
(4) – S. Mateus, XVI, 17 e 19
(1) – Apocalipse, IV, 4 e 5
O LIVRO DOS SETE SELOS – CAPÍTULO V
A VISÃO DO CORDEIRO
No CAPÍTULO V aparece, ao vidente um “livro selado com 7 selos”. E o “livro do futuro”, que, “fechado” para todos, só podia ser aberto pelo “Cordeiro”, Jesus, o Cristo, que “venceu para romper os 7 selos”. (1)
(1) – Apocalipse, V, 5.
Então, aparece, a João, o “Cordeiro” com sete chifres e sete olhos, que são os sete Espíritos de Deus enviados a toda a Terra”.
O número sete simboliza a perfeição, é o número completo, dá a idéia do desenvolvimento integral do Espírito. Vemos as sete virtudes, que encarnam a perfeição; as sete cores, os sete sons, as sete formas (cone, triângulo, círculo, elipse, parábola, hipérbole, trapézio); os sete dias, etc….O chifre, na velha poesia hebraica, é o símbolo da força.
Ao receber o Cordeiro o livro, desenrola-se um espetáculo maravilhoso: “Os quatro animais” e os “24 anciãos” caem, de joelhos, diante do Eleito; têm todos nas mãos cítaras e vasos de ouro cheios de incenso (as orações dos santos) (1), e cantam um cântico novo: “Tu, só tu és digno de pegar no livro e de lhe abrir os selos; porque tu foste morto e com o teu sangue ganhaste para Deus uma grande quantidade de eleitos de todas as tribos, de todas as línguas, de todos os povos, de todas as raças, e os elegeste, para nosso Deus, reino e sacerdotes, e reinarão sobre a Terra”. (2) No mesmo momento, João vê muitos anjos “ao redor do trono, das criaturas viventes e dos anciãos, e ouve-os clamando com uma grande voz: “Digno É o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, a riqueza, a sabedoria, a força, a honra, a glória, a bênção”. (3)
(1) – Apocalipse, VIII, 13
(2) – Apocalipse, XIV, 1
(3) – Apocalipse, V, 1 e 12
Vai começar a abertura do “livro”, e vão ser rasgados os selos.
O PRIMEIRO SELO – CAPÍTULO VI
“E vi quando o Cordeiro abriu um dos sete selos, e ouvi uma das quatro criaturas viventes dizendo, como em voz de trovão: Vem. Olhei, e eis um cavalo branco, e o que estava montado sobre ele tinha um arco; e foi-lhe dada uma coroa, e ele saiu vencendo e para vencer”. (1)
(1) – Apocalipse, VI, 1 e 2
A abertura do “primeiro selo” representa uma data grandiosa para a Terra, com o RENASCIMENTO do Cristianismo. E o aparecimento do Espiritismo, (2) sistematizado judiciosamente por Allan Kardec em suas obras fundamentais: “O Livro dos Espíritos”, “O Livro dos Médiuns”, “O Céu e o Inferno”, “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, “A Gênese”, e “Obras Póstumas”.
(2) – S. João, XIV, 15, 16, 17 e 26. XV, 26 e 27. XVI, 12, 13 e 14.
O cavaleiro que “trazia um arco”, e a quem foi dada uma coroa e “saiu vencendo e para vencer”, não pode ser outra personagem. E inegável que Allan Kardec “saiu vencendo”, pois as edições e reedições de suas obras, traduzidas em todas as línguas e espalhadas por todo o mundo, são provas concludentes da “sua vitória”. Os milhões de espíritas que, em toda a parte, procuram apresentar ao mundo o Cristianismo renascido, autêntico e belo, e o progresso, verdadeiramente maravilhoso que assinala as idéias espíritas, o atestam.
Não há, com efeito, na História, exemplo de outra doutrina que, em tão curto prazo, contasse tantos adeptos e se impusesse à sabedoria dos sábios, como esta que constitui o maior acontecimento do século 19. Entretanto, Allan Kardec não concluiu a sua tarefa, e voltará para completar a sua obra (1) e, portanto, para vencer.
(1) – Obras Póstumas, 5a. edição portuguesa, pág. 261 e 269.
O SEGUNDO SELO
As nações, assim como as sociedades e os indivíduos, têm a sua liberdade de ação, donde resulta o mérito ou o demérito de cada qual. Grande é a “liberdade individual”, maior é a das sociedades, e ainda mais ampla, é a das nações, e todos nós para o futuro só colheremos os frutos das sementes que plantarmos bons, quando estas são boas, e maus, quando forem más. Não existem nos “arquivos celestiais” livros que registrem antecipadamente os destinos dos indivíduos, das sociedades, das nações, mas, sim, “livros em branco onde se vão escrevendo os feitos dos indivíduos e da coletividade”, visto que há a liberdade individual e a coletiva. Mas, assim como nós podemos prever, da árvore que hoje nasce, o tempo da frutificação, a qualidade dos seus frutos, igualmente os Espíritos de grande elevação, para quem o TEMPO e o ESPAÇO não são medidos pelo metro e pelo pêndulo, podem remontar às profundezas do passado ou fazer com que seus olhares perscrutadores se estendam a uma parcela considerável do futuro, que os olhares humanos não podem abranger.
No caso de que tratamos, do Apocalipse, em que são abertos os “selos” do grandioso “Livro do Futuro”, nós já vimos que, apesar de tantos eleitos haver nas Regiões da Luz, só UM conseguiu reunir todos os atributos dos sete Espíritos, para poder chegar ao ponto culminante da HISTÓRIA DO MUNDO, que marcará o REINADO DE DEUS NA TERRA.
Em cada Espírito se assinala o DOM DA PREVISÃO; uns têm-no em pequena escala, outros em maior, de acordo sempre com a sua elevação moral e capacidade científica; mas para ver o que se acha descrito no Apocalipse, e foi transmitido ao Médium Extático desterrado em Patmos, eram precisos “SETE OLHOS”, que só AQUELE QUE VENCEU TODOS OS OBSTÁCULOS possuía, para “romper os sete selos” (1).
(1) – Apocalipse, V, 2 e 6.
Estas considerações deviam preceder a abertura do segundo selo, para que se não nos atribua a crença num “Deus Vingativo”, que tem às suas ordens “Espíritos do Mal”, a quem manda produzir a morte, a peste, a fome. Cremos que existem “instrumentos” que, no uso de sua liberdade, podem produzir o mal, assim como há missionários para o Bem. Cada um responderá pelos seus feitos. O mesmo Apocalipse, na parte referente ao Juízo, diz: “cada um foi julgado segundo SUAS OBRAS” (2).
(2) – Apocalipse XX, 12.
Vamos, agora, à interpretação do exposto no “segundo selo”:
“Saiu outro cavalo, VERMELHO, e ao que estava montado nele foi-lhe dado que tirasse da Terra a paz, e para que os homens se matassem uns aos outros, e foi-lhe entregue uma grande espada.
Não é preciso ter o dom de discernimento muito apurado para ver o Imperador da Alemanha, o Kaiser encarnando a personagem referida pelo profeta.
O trecho que se leu está em relação com o SERMÃO PROFÉTICO, (1) que descreve, com precisão matemática, tudo o que o mundo tem passado nestes últimos 19 séculos e o que vai passar para a realização do REINADO CRISTÃO na Terra.
(1) – S. Mateus XXIV.
Ainda uma consideração, acerca do último trecho do cap. VI do Apocalipse, versículo 4: “E foi-lhe entregue uma grande espada”.
Foi entregue por quem? – perguntará o leitor. Por todos aqueles, respondemos, que desviados dos preceitos evangélicos concorreram para a ereção da FORÇA contra o DIREITO.
TERCEIRO, QUARTO, QUINTO E SEXTO SELOS
Aberto o terceiro selo, aparece um cavalo PRETO e um cavaleiro que trazia uma balança na mão; é o COMERCIALISMO ganancioso, uma das grandes causas das tormentas por que passa o mundo. “Uma voz diz: uma medida de trigo por um dinheiro, três medidas de cevada por um dinheiro”: (1) – é a FOME.
(1) – Medida de um litro.
Ninguém ignora que a fome faz milhares de vítimas na Europa, na Ásia, na África, e já vem chegando à América. A carestia é a nota do dia e será a causa das revoluções intestinas de amanhã.
Ao abrir o quarto selo, João vê um cavalo AMARELO e, montado sobre ele, a MORTE; o Hades o seguia; “Foi-lhe dado poder sobre a quarta parte da Terra, para matar com a espada, com a fome, com a peste e pelas feras da Terra”. Esses grandes flagelos que açoitam a humanidade são conseqüências do rebaixamento do caráter. O cavalo AMARELO representa o desespero e a repulsa de tudo o que é santo, divino e verdadeiro e o declínio da humanidade para a animalidade, entregando-se, assim, à morte. O cavalo AMARELO encarna todos os “orientadores do povo” que criaram a falsa Política, a falsa Ciência e a falsa Religião.
A abertura do quinto selo aparece um início bem acentuado da DIFUSÃO ESPIRITUAL.(1) Os Espíritos dos mártires, os que trabalharam pela realização do Ideal Cristão se esforçam por uma RESSURREIÇÃO visível e tangível, no mundo, mas recomenda-se-lhes que “esperem um pouco até que seja completado o número dos co-servidores e irmãos”.
(1) – Joel II, 28 a 32; Atos dos Apóstolos II, 14 a 21 e 39; 1º. aos Coríntios XII, 4 a 11; XIV.
Na página “selada com o sexto selo” se vêem caracterizados os fenômenos sísmicos, os cataclismos pelos quais o mundo tem ultimamente passado, e por que ainda há de passar. Os terremotos, as inundações, os maremotos últimos, que tantas vítimas já têm feito, não são estranhos a essas previsões que assinalam o fim do capítulo VI do Apocalipse.
“As estrelas caindo do céu, como caem os figos de uma figueira agitada pelo vento” (2) – nos parecem bem uma manifestação ostensiva de Espíritos orientados por Jesus, para a implantação da Fé nos corações. E, com essas manifestações, os grandes e poderosos, os infratores da Lei começarão a fugir espavoridos; e, fustigados pelo remorso, serão abatidos dos falsos tronos que construíram para sua própria perdição. Eles não quiseram compreender o DEUS DE AMOR, e ficarão aterrorizados diante da Luz que os ofuscará.
(2) – Apocalipse VI, 12 a 17.
AINDA O SEXTO SELO – CAPÍTULO VII
Fenômenos Psíquicos – Começo da Espiritualização
Neste capítulo ainda está incluída parte dos fatos arquivados sob o “sexto selo”: – fenômenos atmosféricos, que prejudicarão as plantações, – quem sabe se uma grande seca? – mas que talvez não perdure a ponto de o prejuízo ser total, devido à intervenção de um ESPÍRITO SUPERIOR, (1) para que sejam primeiro “marcados” os servidores do CORDEIRO, (2) escolhidos “cento e quarenta e quatro mil”, de todas as partes do mundo, de todas as raças, representadas nas DOZE TRIBOS DE ISRAEL. (3).
(1) – Apocalipse, VII, 1.
(2) – Apocalipse, VII, 4 a 8.
(3) – Apocalipse, VII, 9 a 17.
No versículo 9, começa a grande espiritualização, confirmada pelas “comunicações espíritas”, dadas em todos os países. E, aos cristãos porque estão PASTOREADOS pelo BOM PASTOR, Deus enxugará toda a lágrima dos seus olhos, e eles beberão nas fontes da ÁGUA DA VIDA (4).
(4) – Apocalipse, VII, 17.
O SÉTIMO SELO – CAPÍTULO VIII
As orações dos santos e o som das trombetas
A abertura do “sétimo selo” principia salientando as “orações dos santos”, que, para nós, representam os “atos de amor a Deus e ao próximo, praticados pelos Espíritos de caridade e pelos encarnados que se dedicarem a esse trabalho”; elas se salientam tanto que chegam a abalar as potências inferiores do espaço, que atuarão de forma quase visível na sua luta contra o bem. Referimo-nos às “potências do mal”, pois, como é sabido entre os espíritas, a luta não é só no mundo visível, mas também no invisível.
Segue-se o “som das trombetas”.
As quatro primeiras trombetas são os avisos incessantes e reiterados, que já têm sido e continuam a ser feitos, dos cataclismos de ordem moral e material, por que tinham de passar, está passando e vai passar o nosso planeta. Tais são as erupções vulcânicas, os terremotos, os maremotos, as inundações, as tempestades, desmoronamentos de terras – cidades atiradas no abismo dos mares, como vai acontecer principalmente na Itália, país bem assinalado no Apocalipse, as guerras em terra, no mar e nos ares, os fenômenos atmosféricos, os eclipses, – ao que também se refere o cap. XXIV do Evangelho de S. Mateus, para não citar os dois outros evangelistas: Marcos e Lucas.
Entre a 4.ª e a 5.ª trombeta, voa uma ÁGUIA, que representa iam Espírito de sabedoria que se compadece dos habitantes da Terra, pois o período de transformação física, da Terra, e moral, dos habitantes, não cessou ainda, e mais três trombetas hão de soar.
“Ai, ai, ai dos que habitam sobre a terra por causa das outras vozes da trombeta dos três anjos, que ainda têm de tocar”! (1).
(1) – Apocalipse, VIII, 13.
CAPÍTULO IX
Ao som da quinta trombeta cai do céu na terra uma ESTRELA. Deve ser um Espírito decaído, um gênio altamente científico, mas atrasado em moral, o qual baixou a este mundo com uma nova invenção, que foi destinada aos artifícios de guerra – quem sabe se os aviões de artilharia, que lançam bombas nas cidades, levando o pânico às populações, mas que poucos estragos relativamente fazem, produzindo mais o terror que a destruição e a morte? “São gafanhotos alados que não fazem danos às ervas, mas atormentam os homens”!
Este é o primeiro ai.
Quando soou a sexta trombeta (2) apareceram diante do profeta os exércitos em pé de guerra; “os cavalos tinham cabeças como de leões, e das suas bocas saíam fogo e fumo e enxofre, e os que estavam montados sobre eles tinham couraças de fogo, de jacinto e de enxofre”. São os quatro anjos presos junto do grande rio Eufrates que foram soltos”.
(2) – Apocalipse, IX, 13.
Esta visão, que sucedeu imediatamente à do quinto selo, nos parece uma alusão clara às quatro nações: Alemanha, Áustria-Hungria, Turquia e Bulgária, (1) que foram, pode-se dizer, as potências promotoras da guerra e que mais próximas se acham do rio Eufrates.
(1) – Referência a acontecimento da Primeira Grande Guerra Mundial – 1.914 – 1.918.
A referência deste capítulo se encontrará – parece-nos – no capítulo VI, 2 e 3, já por nós explicado, lembrando os horrores ocasionados pela guerra, no momento em que escrevemos, com a circunstância de já se ter ela estendido por quase todo o mundo, sendo sustentada pelas quatro nações acima referidas.
Chamamos a atenção do leitor para a decadência moral, para a falta de sentimento religioso que lavra nas sociedades humanas, fato exarado no mesmo capítulo do Apocalipse pelas seguintes expressões: “Os outros homens, que não foram mortos por estas pragas, não se arrependeram das abras de suas mãos, para que não adorassem os demônios e os ídolos de ouro, de prata, de cobre, de pedra, de pau, que nem podem ver, nem ouvir, nem andar; e não se arrependeram dos seus homicídios nem das suas feitiçarias, nem da sua devassidão, nem dos seus furtos” (2).
(2) – Apocalipse, IX, 20 e 21.
ANÚNCIO DA SÉTIMA TROMBETA – CAPÍTULO X
Uma Revelação
Grandes acontecimentos serão anunciados pelo som da sétima trombeta. (1) “Nos dias do sétimo anjo, quando este estiver para tocar a trombeta, então se cumprirá o mistério de Deus, segundo ele anunciou aos seus servos, os profetas.”
(1) – Apocalipse, X, 7.
Que será?
Não precipitemos a revelação; continuemos na tradução e estudemos atentamente o capítulo X.
S. João viu descendo do céu “um anjo forte vestido de uma nuvem; o arco-íris estava sobre a sua cabeça, e o seu rosto era como o Sol, e os seus pés como colunas de fogo, e tinha na mão um livrinho aberto”.
Não há dúvida de que é um mensageiro de revelação. A sua fronte, a sua vestimenta, as luzes que aureolam a sua testa, simbolizada nas sete cores do íris, as colunas de fogo que o sustentam e que representam o fogo sagrado da Verdade, todos esses característicos assinalam bem uma alta personagem celestial; e o livrinho aberto, que traz na mão, é a REVELAÇÃO que havia de ser dada ao vidente.
“O anjo pôs o pé direito sobre o mar e o esquerdo sobre a terra, e bradou, com grande voz: os sete trovões fizeram soar as as suas vozes, mas ao profeta foi proibido escrever o que disseram os sete trovões”. Então o anjo levantou a mão direita para o céu e jurou que não haveria mais demora no cumprimento do mistério de Deus.
Uma voz do céu ordena ao profeta receber o livro, que está aberto na mão do anjo.
João se aproxima do mensageiro, pede-lhe o livro, e aquele lhe diz: “Toma-o e come-o, e te causará amargor no ventre, mas na tua boca será doce como mel”.
João tomou o livro, comeu-o, e outra voz lhe disse: “Cumpre que ainda “profetizes” a respeito de muitos povos, raças, línguas e reis”.
Que conterá o livro que o vidente recebeu? Sem dúvida é uma profecia, uma REVELAÇÃO, porque o “espírito do profeta está sujeito ao profeta”, como disse S. Paulo.
Mas, sobre que será a profecia?
Os últimos trechos do capítulo – “cumpre ainda que profetizes a respeito de muitos povos, línguas, raças e reis” – parecem indicar que o livro trata do DRAGÃO, das MULHERES e das BESTAS, tanto mais que, quando João o comeu, “causou-lhe amargor no ventre”.
A profecia é sempre doce na boca; quando é recebida, o coração se alegra, porque a alma exulta quando está em comunicação com o mundo espiritual. Mas, se a profecia nos anuncia coisas desagradáveis, que vão suceder, nos entristecemos (causa-nos amargor no ventre).
É bom lembrar desde já que duas são as BESTAS APOCALÍPTICAS; assim também teremos de encontrar, nos capítulos seguintes, duas MULHERES, uma que representa a RELIGIÃO, descrita no cap. XII, outra que representa a falsa RELIGIÃO, citada no capítulo XVII: 4, 5, 6.
O INÍCIO DA BESTA – CAPÍTULO XI
O dom do discernimento. As duas testemunhas e o espírito da profecia.
O cap. XI, que parece conter um resumo preparatório – os prolegômenos do livro que pelo “anjo foi entregue ao vidente”, – inicia a história da BESTA, bem caracterizada, como se vai ver, no capítulo XIII.
Depois de ter sido dada ao profeta a vara para medir o “templo de Deus, o altar e os que nele adoram” – medida essa que não pode ser outra que o dom do discernimento, (1) – aparecem, ao lado dos “gentios, que pisam a CIDADE SANTA, por quarenta e dois meses”, as duas testemunhas que, como sinal de protesto contra a falsa religiosidade, haviam de profetizar (com sacrifício) por mil duzentos e sessenta dias”.
(1) – l.ª aos Coríntios, XII, 10.
“Estas são as duas oliveiras e os dois candeeiros postos diante do Senhor da Terra”, (2) disse o anjo.
(2) – Apocalipse, XI, 4.
Entendemos por duas oliveiras, os dois Espíritos encarregados, um do ministério da Lei, outro do ministério dos profetas; (1) – e os candeeiros serão, talvez, os médiuns, através dos quais eles se manifestam. A oliveira produz o óleo, que é o símbolo da fé, e o candeeiro é o suporte, para que o óleo ardente produza a luz.
(1) – S. Mateus, XVII, 3.
Já tivemos ocasião de dizer que a revelação se manifesta por símbolos, por parábolas, para que os homens a interpretem. A palavra espiritual sempre aparece no mundo por meio de alegorias.
Os “poderes” concedidos às “testemunhas” significam a verdade da revelação, cujos fatos subjugarão a todos os seus inimigos.
A morte “por três dias e meio” das “testemunhas”, produzida pela BESTA, é a opressão que sofreu a Revelação, pela antiga e nova Roma, – a chacina dos cristãos, os processos de Loudun, finalmente, o martirológio dos médiuns pelo fogo e pelas mais selvagens torturas, que fizeram calar o mundo espiritual, fato este de que “se regozijaram vários povos, línguas e nações”, (2) que tinham sido atormentados em sua vaidade, em seu orgulho, em suas torpes paixões e vícios execrandos. Livres das censuras, das exortações para renegação, congratularam-se por poderem reerguer os seus ídolos prediletos.
(2) – Apocalipse, XI, 10.
Mas o espírito da profecia ressurgiu, como o Cristo no terceiro dia, e a confusão se estabeleceu entre os seus inimigos; ao soar da sétima trombeta, o céu se abrirá: – “veio o tempo dos mortos”, (haverá grande difusão de Espíritos) – e o mundo espiritual aparecerá aos olhos de todos.
Na interpretação do Apocalipse, como na dos Evangelhos e epístolas, o estudante não pode salientar capítulos e versículos, mas deve observar a relação que existe entre uns e outros, para compreender o pensamento dos escritores.
É assim que já demonstramos as relações existentes entre os Evangelhos e o Apocalipse; assim como – verá o leitor – a exposição de um versículo apocalíptico, que se acha no começo do CAPÍTULO, tem, às vezes, a sua explicação no final desse mesmo capítulo. Por exemplo: o versículo 18 é a explicação do versículo 8, do cap. XVII.
A MULHER E O DRAGÃO – CAPÍTULO XII
Perseguição aos cristãos.
A alusão à BESTA, feita no capítulo precedente, devia seguir o “grande sinal visto do céu” pelo evangelista: “Uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos seus pés e uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça”.
Essa MULHER, positivamente, não pode representar senão a RELIGIÃO. A sua vestidura coma o sol, representando a força criadora das almas; as doze, estrelas sobre a sua cabeça, o que é uma alusão aos doze apóstolos, que a representam nas doze tribos de Israel, conforme explicamos no capítulo sétimo; a lua sob seus pés simbolizando as fases progressivas com que ela se apresenta, são sinais bem característicos para orientar-nos na interpretação da visão descrita pelo solitário de Patmos.
“A mulher estava grávida, e com dores de parto, e gritava com ânsias de dar à luz”.
Este trecho é uma referência ao aparecimento do CRISTIANISMO, encarnado na pessoa de Jesus: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós”. (1)
(1) – Evangelho S. João I, 14.
Em seguida ao primeiro sinal, aparece um outro: “Um Dragão vermelho com sete cabeças e dez chifres e sobre as suas cabeças sete diademas. E a sua cauda levava após si a terça parte das estrelas do céu, e lançou-as sobre a terra; e o dragão parou diante da mulher que havia de dar à luz, para que, dando ela à luz, lhe tragasse o filho”.
É o IMPÉRIO ROMANO; o vermelho representa a púrpura imperial; as sete cabeças com os diademas são os sete Césares: Julio César, Augusto, Tibério, Calígula, Cláudio, Nero e Galba, que haviam reinado até o momento em que o desterrado de Patmos recebera a revelação apocalíptica. Os dez chifres são os dez procônsules, governadores das províncias.
As “‘estrelas” significam os Espíritos assistentes do Império Romano. A ameaça do DRAGÃO diante da MULHER se explica nas passagens do Evangelho, S. Mateus: II, 1 a 8; 13 a 15.
A fuga da MULHER para o DESERTO, por espaço de mil duzentos e sessenta dias, corresponde ao tempo em que a BESTA acentuou a sua fase de maior poderio, que durou quarenta e dois meses, (2) como se vai ver na tradução do capítulo seguinte.
(2) – Apocalipse, XIII, 5.
A RELIGIÃO foi execrada pelo Poder Romano, e os seus mandamentos foram substituídos pelos MANDAMENTOS DA IGREJA, pelos dogmas dos Concílios, pelos cultos exteriores, condenados expressamente pelos Evangelhos.
Foi, também, quando se deu a BATALHA NO CÉU: “Miguel e seus anjos batalharam contra o DRAGÃO, e os seus anjos. Mas não prevaleceram, nem mais o seu lugar se achou nos céus. E foi lançado o grande dragão, a antiga serpente, chamada Diabo e Satanás, que engana a todo mundo; ELE FOI LANÇADO NA TERRA E OS SEUS ANJOS FORAM LANÇADOS COM ELE”. (1 ).
(1) – Apocalipse, XII, 7 e 8.
Essa batalha, que se deu no Espaço (no céu), foi, pelo que se vê, decisiva; Os Espíritos aliados do DRAGÃO, e que em hostes maléficas dominavam o mundo, ficaram uns presos à baixa atmosfera da Terra, outros encarnaram, e, pelas suas obras, se tornaram conhecidos e detestados de todos os homens de boa vontade, a quem não cessaram de oprimir.
Os habitantes do Espaço, libertos dos terríveis inimigos, entoaram hosanas aos céus: “alegrai-vos, ó céus e os que neles habitam. Ai dos que habitam NA TERRA E NO MAR, porque o DIABO DESCEU A VÓS cheio de grande ira, SABENDO QUE TEM POUCO TEMPO”. (2).
(2) – Apocalipse, XII, 12.
E o DRAGÃO com todo o seu poder (embora esse poder fosse por pouco tempo) perseguiu a MULHER (a Religião), que enviara ao mundo o seu dileto Filho (Jesus); e dessa perseguição resultou o desaparecimento do sentimento religioso do cenário da Terra; até aqueles poucos que guardavam os mandamentos de Deus, e tem o testemunho de Jesus Cristo, sofreram a guerra, sem tréguas, do DRAGÃO, que os segregou do convívio social. (3)
(3) – Apocalipse, XI II, 3, 4.
Este capítulo aparece tão claro aos olhos daqueles que já viram desenrolar-se, diante de si, os quadros da história romana, que dispensava até as explicações que acabamos de dar.
A mensagem recebida pelo vidente realizou-se em toda a sua linha geral.
Vamos entrar no capítulo XIII do Apocalipse. É nele que encontraremos a chave do mistério de todo o livro, em que o profeta descreve o que viu e o que ouviu dos Espíritos que lhe abriram as portas do futuro, para que conhecesse as dores por que o mundo havia de passar.
A tradução do capítulo seguinte vai ser uma contribuição inestimável para o leitor que precisa firmar a sua opinião sobre a verdade religiosa.
AS BESTAS E OS SEUS CARACTERES – CAPÍTULO XIII
Chegamos ao capítulo XIII, chamado, pelo vidente, o capítulo da SABEDORIA, porque, para sua interpretação, não basta o auxilio da inspiração; é preciso estudo, conhecimento amplo, preciso, nítido das Escrituras e da História.
BESTA, em linguagem bíblica, significa O PODER INFERIOR, A FORÇA MATERIAL sobrepujando todos os direitos e sufocando todos os nobres sentimentos; é a DEIFICAÇÃO de um HOMEM, para quem se voltam todas as vistas e diante do qual todas as cabeças se curvam.
A história de Nabucodonosor é um exemplo frisante da BESTIALIDADE guindada ao “poder supremo”.
O seu SONHO, (1) que representa a sua própria pessoa alçada às culminâncias do PODER, dá a idéia perfeita da BESTA, expressão empregada, pelos profetas, para significar o absolutismo e a ignorância impondo leis e costumes, leis e costumes que só dominavam com o auxílio da FORÇA ARMADA.
(1) – Daniel, II.
No “livro de DANIEL”, este profeta, em suas visões, vê diversas BESTAS, uma que encarna os reis da Média e da Pérsia, outra que encarna o rei da Grécia, esta última representada por um BODE PELUDO (1).
(1) – Daniel, VIII, 21.
A BESTA é sempre um sinal da violência, do poder despótico.
Na idade média, eram chamados BESTAS, os instrumentos de GUERRA. Havia a BESTA DE GARRUCHA, com que se despediam garrochas, virotões, (setas curtas); a do BODOQUE, que servia para atirar balas de barro; a do PELOURO, com que se atiravam balas de chumbo; a do ESCORPIÃO, que arremessava setas ervadas com heléboro, uma erva venenosa, chamada, em Portugal, erva besteira.
Os soldados da idade média chamavam-se BESTEIROS, E se dividiam em besteiros da câmara, besteiros de cavalo, besteiros de garrucha, besteiros de fraldilha, besteiros do mar, besteiros do monte e besteiros do conto.
Estes últimos eram os besteiros arrolados, fornecidos pelos municípios, sendo, cada corpo de tropas, comandado pelo seu anadel (capitão de besteiros) e todos eles pelo anadelmor, e que, usando da BESTA, formavam, em Portugal, uma milícia semelhante à dos Yeomin ingleses, que também eram as bestas das comunas.
Traduzida, pois, a expressão enfática “BESTA”, que designa o PODER DAS TREVAS, em linguagem evangélica, vamos iniciar a tradução do capítulo, que sintetiza, pode-se dizer, todo o Apocalipse.
É pena que não pudéssemos obter um exemplar da obra “SPACIO DELA BESTIA TRIONFANTE” (Expulsão da Besta Triunfante), do inolvidável Giordano Bruno, livro que só conhecemos de nome, mas que dizem ser a sua mais famosa obra, que explica, antecipadamente, o motivo por que a Igreja o mandou queimar no dia 17 de fevereiro de 1600.
Mas entremos no assunto, sem nos esquecermos de que o cap. XIII acha-se intimamente ligado ao cap. XVII.
No cap. XIII, o vidente vê desenrolar-se ante seus olhos o quadro das BESTAS com todos os seus feitos.
No cap. XVII, UM DOS SETE ANJOS dá ao profeta a interpretação da sua visão.
Recomendamos a leitura de ambos os capítulos, para boa compreensão do estudo que fazemos.
A PRIMEIRA BESTA
“O vidente vê sair do MAR uma BESTA que se assemelha muito ao DRAGÃO. Tem sete cabeças e dez chifres; em cada cabeça um nome de blasfêmia. (1).
(1) – Apocalipse, XIII, 1.
A BESTA é semelhante ao LEOPARDO; (2) mas os seus pés são de URSO, a boca de LEÃO, e o DRAGÃO deu-lhe o seu poder e o seu trono e grande poderio.
(2) – Apocalipse, XIII, 4 e 5.
Uma BESTA surge do MAR; é esta que, em primeiro lugar, procuramos decifrar; a outra surge da TERRA.
A expressão MAR não significa – “a grande massa de água salgada que cobre aproximadamente três quartas partes do globo terráqueo”; – foi empregada pelo profeta em sentido figurado, e é uma alusão aos povos, às nações, que haviam de dar importância à BESTA, que, como veremos, depois adotou o título de UNIVERSAL, CATÓLICA.
No versículo 15 do cap. XVII do Apocalipse, quando o vidente escreve a explicação que o anjo lhe dá, explica bem o seu pensamento: “as ÁGUAS QUE VISTE, onde está sentada a prostituta, SÃO POVOS E MULTIDÕES, NAÇÕES E LÍNGUAS”.
As “SETE CABEÇAS”, diz o anjo no capítulo XVII, 9 e 10, “são sete montes sobre os quais está sentada a MULHER”. “São também sete reis; cinco caíram, um está, e o outro não veio ainda, e, quando vier, durará pouco tempo”.
E, no versículo seguinte, acrescenta: “E a besta, que era e já não é, é também o OITAVO REI e É UM DOS SETE e vai ser a perdição”.
Estes trechos fazem já descortinar, às nossas vistas, a grande cidade de ROMA, pois é a única no mundo fundada sobre sete montes: Capitolino, Palatino, Aventino, Coelio, Esquilino, Quirinal e Viminal.
Os SETE REIS devem ser as sete formas de governo que se sucederam em ROMA:
1a.) Monarquia Primitiva, ou o período de domínio dos sete reis: Rômulo, Numa Pompílio, Tulo Ostílio, Anco Márcio, Tarquínio Prisco, Sérvio Túlio e Tarquínio, o Soberbo.
2a.) República Aristocrática, em que governam os cônsules e senadores.
3a.) República Democrática, em que, ao lado dos senadores, havia os tribunos do povo, os quais tinham o direito de recusar as leis do Senado, quando eram prejudiciais ao povo.
4a.) O Triunvirato: o de César, Pompeu e Crasso, (que formam o 1.ª triunvirato); e o de Otávio, Antônio e Lépido (que formam o 2.ª triunvirato).
5a.) A Ditadura, forma de governo que por várias vezes imperou em Roma.
6a.) O Império Romano, que teve início no ano 29 antes de Cristo, do qual foi primeiro imperador Lépido, um dos membros do 2.ª triunvirato, recebendo do Senado o nome de Augusto.
7a.) Reino da Itália, proclamado por Odoacro, no ano de 475, e o reinado posterior da Casa de Sabóia.
O OITAVO REI, de que fala o versículo 11, do citado capítulo XVII, não pode ser outro senão o PAPADO, “QUE É DOS SETE”, diz o texto. – Ora, o PAPA, intitulando-se REI DOS REIS, como o fazia, e usando sobre a sua cabeça a tríplice coroa de ouro com brilhantes, é REI, e o É DOS REIS; reveste-se dos característicos de que fala S. João.
Mas continuemos o nosso estudo; já interpretamos o mistério das sete cabeças; vamos tratar agora dos DEZ CHIFRES.
Estes são, forçosamente, as DEZ NAÇÕES, que já tinham aparecido no tempo em que S. João recebeu a palavra profética de que nos ocupamos, as quais, depois do desmembramento do Império Romano, agiram de acordo com o PAPADO:
1a.) A França, que até 1870 conservou um exército em Roma para proteger o Papa.
2a.) A Espanha que foi um dos braços fortes da Inquisição, e que, até hoje, obedece à política de Roma.
3a.) Portugal, com as suas colônias, foco do fanatismo romano.
4a.) A Inglaterra, onde tanto sangue foi derramado por ocasião da reforma protestante.
5a.) A Itália, berço do Vaticano.
6a.) A Alemanha e suas possessões, onde, por ordem do Papa Eugênio IV, foram queimados, em um palheiro, mil partidários de João Huss.
7a.) A Áustria-Hungria, (1) que tanta força tem dado ao Papado.
(1) – Lembremo-nos de que o autor trata dos acontecimentos de acordo com a situação política das nações, na época, situação essa hoje bastante modificada.
8a.) A Rússia.
9a.) A Grécia.
10a.) A Península Escandinava, compreendendo a Suécia e a Noruega.
Foi sobre essas ÁGUAS: “povos, nações e línguas”, (2) que Roma assentou o seu poder e dominou pelo ferro e pelo fogo, como todos sabem. (Leia-se a “História dos Papas” e a “História de Roma”).
(2) – Apocalipse, XVII, 15.
Continuemos o estudo do capítulo XIII: “vi uma de suas cabeças como que ferida de morte, e a sua chaga mortal foi curada, e toda a Terra se maravilhou após a besta; adoraram o dragão que deu à besta o seu poder, dizendo:QUEM É SEMELHANTE A BESTA? QUEM PODERÁ BATALHAR CONTRA ELA?” (3).
(3) – Apocalipse, XIII, 4.
A cabeça ferida de morte, e depois curada, é o brado da REFORMA, com as teses afixadas em 31 de outubro de 1517, na principal igreja de Wittenberg, por Martinho Lutero, e a repercussão produzida no mundo pela audácia do grande reformador, que foi seguido por muitos outros, e precedido por homens eminentes que não cessavam de criticar os dogmas absurdos de Roma e a sua ação nefasta, sustentada pelos reis e imperadores.
É Wycliffe, é João Huss, Erasmo e tantos outros que lhes seguiram as pegadas, – Melanchthon, Farel, Calvino, etc…. etc….
O último trecho do versículo, que imprimimos com caracteres maiúsculos, é sempre repetido pelos padres e pelos católicos: quando se lhes observa o erro do papado e caducidade de suas doutrinas, eles bradam com todas as suas forças: – QUAL RELIGIÃO É SEMELHANTE À CATÓLICA? QUEM PODERÁ LUTAR CONTRA ELA, QUE SEMPRE FOI BATIDA, MAS NUNCA FOI VENCIDA?
Mas os padres ignoravam talvez que “a boca que lhes fora dada, para falar grandezas e blasfêmias”, (1) não duraria mais de 42 meses.
O poder “para fazer guerra aos santos e vencê-los, e para DOMINAR toda a língua, tribo, nação”, (2) não se podia estender ao infinito; o mal não se pode eternizar; só Deus e a sua Lei são eternos.
Mas procuremos a interpretação dos 42 MESES FATAIS, anunciados por S. João. Já dissemos que a linguagem apocalíptica é ordenada de alegorias, catacreses, metáforas; O Evangelho, em geral, é cheio de PARÁBOLAS edificantes, para prender melhor a nossa imaginação e nos obrigar a raciocinar, a estudar a parte esotérica, ou interior, espiritual.
É assim que devemos interpretar meses de trinta anos, em vez de meses de trinta dias, os referidos pelo profeta.
O calendário tem variado segundo os tempos e os povos. Por exemplo: o calendário dos romanos, importado dos sabinos e dos albanos, tinha, primitivamente, 304 dias, distribuídos por 10 meses. Numa Pompílio reformulou esse calendário, instituindo um ano de 355 dias, juntando, aos meses antigos, mais dois: januarius e februarius, e acrescentando (para harmonizar o ano lunar com o ano solar), de dois em dois anos, um mês suplementar a que chamou mercedonius ou mercidinus, que foi colocado entre februarius e maius. Júlio César suprimiu esse mês suplementar e estabeleceu o ano de 365 dias. O mesmo tem acontecido com a contagem do tempo em meses, dias e horas, etc..
As semanas de Daniel, por exemplo, eram de sete anos cada uma. Os Egípcios contavam, antigamente, um dia – Um ano. Depois, chamaram ano a uma só idade da lua, ou mês.
Mesmo no catolicismo romano há o DIA ARTIFICIAL; assim se chama o momento em que o Sol aparece no horizonte e há luz para os tratos e ofícios religiosos.
As HORAS DOS HEBREUS abrangiam, cada uma, três das nossas, AS HORAS DO ANO são as quatro estações, cada uma de três meses; inverno, primavera, estio, outono. Por isso Homero (como explica Eustáquio) introduz quatro deusas HORAS na sua Ilíada, as quais tinham por ofício: duas fechar o Ano, desde que os dias minguam, e duas abri-lo, desde que crescem.
Contando, pois, como dissemos, um dia apocalíptico por um ano, temos 30 x 42 = 1260 anos, que correspondem, justamente, aos 1260 dias, também de anos, tempo este predito pelo profeta no cap. XII, a acerca da fuga da mulher para o deserto, onde Deus lhe havia preparado um lugar para ser alimentada.
Newton, que escreveu um livro sobre as PROFECIAS DE DANIEL, que, como o Apocalipse, diz serem as BESTAS os inimigos do Reino de Deus, fez estudos elucidativos dessas ALIMÁRIAS, baseado na lista dos eclipses notados por Ptolomeu, e, estendendo-se em largas considerações astronômicas, citou o testemunho de muitos historiadores antigos, que trataram dos anos lunares e dos anos solares, nas suas interpretações bíblicas. É argumento deles que, tendo Deus “criado o sol e a lua para iluminarem a Terra, aquele para GOVERNAR o dia, e a outra para GOVERNAR a noite”, (1) o tempo poderia ser contado como ano solar ou lunar.
(1) – Gênese, de Moisés cap. I, 14 a 16.
E dessas deduções fazem considerações sobre as velhas bestas que representam o Reino Babilônico, o Império Medo-Persa, etc…
Mas continuemos a análise dos 120 dias do ano, e examinemos se, com efeito, não foi esse o período em que o PAPADO exerceu toda a soberania.
A História narra o surgimento do PAPADO no sétimo século, justamente no ano de 610 depois de Cristo. No ano 607, o Imperador Focas elevou o Papa ao supremo poder, mas só em 610, e, daí em diante, é que ele pôde exercer amplamente a sua supremacia. De 607 a 1866, temos exatamente, 1260 anos solares. Em 1866, como se sabe, acentuou-se uma ação terrível, em toda a parte, contra as doutrinas da IGREJA ROMANA e o PAPADO, o que fez estremecer os alicerces de Roma. Com o intuito de reforçá-los, Pio IX reuniu um Concílio, que decretou, em 1870, a INFALIBILIDADE DO PAPA. (2) No dia imediato, foi declarada a guerra franco-alemã. Em conseqüência da derrota da França, as tropas francesas, que guardavam Roma, servindo de braço forte ao Papa, foram retiradas e, no dia 20 de setembro, as tropas de Victor Emmanuel entraram em Roma e despojaram o Papa do seu PODER TEMPORAL.
(2) – “Roma e o Evangelho”, discurso do Bispo Strossmayer.
Interessante é que Focas, assassinado por ordem de Heracílio, morreu a 5 de outubro do ano de 610, e, dessa data a 1870, temos justamente 1260 anos.
São coincidências estas, mas que também concordam com as profecias apocalípticas que estamos estudando.
A OUTRA BESTA
O primeiro aspecto que o vidente nos apresenta a outra BESTA, “que subiu da terra”, (1) já nos dá a pensar na COMPANHIA DE JESUS – OS JESUÍTAS.
(1) – Apocalipse, XIII, 11.
“Ela tem dois chifres SEMELHANTES AO DO CORDEIRO, mas fala como o DRAGÃO”. Já dissemos ser o chifre o símbolo da força. No CORDEIRO o vidente viu sete chifres, que indicam todo o PODER, que aquele possui no mais alto grau.
Nesse OUTRO CORDEIRO (1), o profeta só vê DOIS CHIFRES, que podem representar os dois poderes, na aparência, distintos, mas que encarnam ambos a mesma idéia de domínio: PADRES E FRADES. – Nós vemos o Papa negro e o Papa branco, ALIMÁRIAS que se reforçam mutuamente.
(1) – Apocalipse, XIII, 11.
A outra BESTA surgiu do mar, mas esta surgiu da terra. Vamos procurar, pois, o seu nascimento, ou melhor ainda, o seu “surgimento”.
Diz a História que Inácio de Loiola, depois de ter fraturado a perna direita no cerco de Pamplona, vendo esvair-se os seus sonhos de glória militar, iniciou a leitura da “VIDA DOS SANTOS”, livro que lhe trouxeram, no seu leito de dor. Esse livro o impressionou tão vivamente que não tardou ele, Inácio de Loiola, a ter visões e êxtases.
Maravilhado pelo que via, dedicou-se ao estudo da “Teologia Católica”, e fundou, a 15 de agosto de 1534, a COMPANHIA DE JESUS.
Lutero já havia dado começo ao seu movimento reformatório, e Inácio de Loiola, concebendo o projeto de fortalecer o Catolicismo, assegurando-lhe o império sobre as almas, não relutou em pôr mãos à obra, obtendo do papa Paulo III, pela bula Regimini militantis Eclesia, datada de 17 de setembro de 1540, o reconhecimento da referida Companhia. Diz a História que “quando Loiola, Lainez e Lefevré apresentaram, ao Papa, os estatutos da ordem que queriam fundar, este ficou encantado pelo seu zelo e, sobretudo, pelo voto que eles faziam de se colocarem inteiramente à disposição da Santa Sé.”
Essa BESTA que “exerce todo o poder da primeira BESTA na sua presença e faz que a Terra e os que nela habitam adorem a primeira Besta, cuja chaga mortal foi curada, e faz grandes sinais e engana os habitantes da Terra”, (1) não pode ser mesmo outra senão o JESUITISMO.
(1) – Apocalipse, XI II, 13 e 14.
A sua semelhança com o CORDEIRO vem do nome de Jesus, que ela adotou, mas se diferencia do Senhor, porque fala como o DRAGÃO.
Os versículos 16 e 17 dizem: “E faz que todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e servos, ponham um sinal na sua mão direita ou nas suas testas, e que ninguém possa comprar ou vender senão aquele que tiver o sinal, ou nome da besta, ou o número do seu nome”.
E conclui o evangelista com o seguinte trecho: “Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento conte o número da besta, porque é o NUMERO DE UM HOMEM; e o seu número é 666”. (1)
(1) – Apocalipse, XIII, 18.
OS SINAIS APOCALÍPTICOS E O NÚMERO 666
A RELIGIÃO ROMANA é uma instituição em que predominam o SÍMBOLO E O MISTÉRIO.
Todos os seus sacramentos são sinais: o batismo é um sinal (diz o catecismo); a crisma é um sinal; o casamento é um sinal; enfim, todos os seus ritos não passam de sinais dos dogmas decretados pelos papas e pelos concílios, dogmas que têm por explicação final: MISTÉRIO!
O próprio “deus” concebido pelo Catolicismo de Roma não passa de um MISTÉRIO. “Em Deus há três pessoas, que formam o MISTÉRIO da Santíssima Trindade”, diz o Catecismo.
Sendo os MISTÉRIOS diversos, os SINAIS também são muitos, para que cada sinal possa representar um mistério.
Assim, temos o batismo, com um sinal na cabeça (a água); a crisma, com um sinal na face; e o casamento, com um sinal na mão, e assim por diante. Por sua vez os sacerdotes são assinalados na cabeça – a tonsura – para representar a auréola da santidade; os graduados, como os cônegos, monsenhores, bispos, trazem o anel na mão direita. E, para que possam exercer o seu comércio, quer dizer, as suas relações religiosas, é indispensável o SINAL. Por exemplo: um homem ou mulher que não sejam batizados ou não sejam católicos romanos não podem participar dos sacramentos, nem mesmo indiretamente, como para batizar uma criança.
O que não tiver ordens, anel ou tonsura, não pode ministrar as “graças de Deus”. “É preciso ter o nome da BESTA ou o seu número”, diz o cap. XIII, 17.
Dito isto, passemos a esquadrinhar, com ESPÍRITO de sabedoria, o número 666, que é portador de grandes revelações.
Sendo ROMA a única cidade no mundo assentada sobre sete montes, e afirmando o anjo que “as sete cabeças são os sete montes sobre que está sentada a mulher”, (1) vamos a ver se ela tem o número fatídico, visto pelo profeta.
(1) – Apocalipse, XVII, 9 e 10.
ROMA, em hebraico, é ROMIITH. Se aproveitarmos as letras-algarismos, usadas em hebraico, e as somarmos, verificaremos que coincidem, exatamente, com a vidência do apóstolo.
Assim:
R O M I I TH
200 + 6 + 40 + 10 + 10 + 400 = 666
Mas S. João acrescenta que o número da BESTA é número de um homem (2).
(5) – Apocalipse, XIII,18.
Ora, ninguém ignora que o PAPA se intitula: VICARIVS GENERALIS DEI IN TERRIS: VICARIVS FILII DEI; DVX CLERI, (que significam: Vigário Geral de Deus na Terra; Vigário do Filho de Deus, Príncipe Chefe do Clero).
Aproveitando, em cada um desses títulos as letras que têm valor como algarismos romanos (desprezadas as mais), temos, do primeiro:
V I C I V L I D I I I
5 + 1 + 100 +1 + 5 + 50 + 1 + 500 + 1 + 1 + 1 = 666
Do segundo:
V I C I V I L I I D I
5 + 1 + 100 + 1 + 5 + 1 + 50 + 1+ 1 + 500 +1= 666
Do terceiro:
D V X C L I
500+5 + 10+100+50+1=666
Também ninguém ignora que o idioma que a Igreja de Roma usa, em todos os seus atos oficiais, é o latino, e S. Irineu, discípulo de Policarpo, lembra o nome grego LATEINOS, isto é, latino, como satisfazendo plenamente a interpretação do enigma 666, proposto por S. João.
L A T E I N O S
30 + 1 + 300 + 5 + 10 + 50 + 70 + 200 = 666
E já que analisamos o alfabeto grego para a interpretação da numeração apocalíptica, não nos esqueçamos de que TEITAN (grego) significa SATANÁS, e a soma das letras daquela palavra dá 666.
T E I T A N
300+5+10+300+1+50=666
Satanás é uma expressão bíblica, que longe de intitular um ente eternamente devotado ao mal, quer dizer adversário, inimigo do Bem, da Verdade.
Que o Catolicismo, com os seus dogmas, cultos e mistérios, é o Teitan (adversário) do Cristianismo, ninguém ousará negar. E como a soma dos números-letras do Papado dá o mesmo produto, ou representa a mesma cousa que os de TEITAN…
É interessante, ainda, a coincidência que se dá com a palavra ROMA, cujas letras estão colocadas em sentido inverso da palavra AMOR.
Quereria o “destino”, em sua sábia previdência, demonstrar que ROMA, apesar de se inculcar DIVINA, seria o inverso, a antítese da Divindade?
A PREGAÇÃO DO EVANGELHO – CAPÍTULO XIV
OS TEMPOS DA CEIFA
Diz o Eclesiastes que tudo tem o seu tempo, e todo propósito debaixo do céu tem o seu tempo.
“Há tempo de nascer, de morrer, de plantar e de arrancar o que se plantou”.
“Tempo de matar e tempo de curar; tempo de derribar e tempo de edificar; tempo de guerra e tempo de paz”.
Na “Parábola do Joio e do Trigo”, (1) Jesus fortifica esta lição, dizendo aos seus servos que deixassem crescer o trigo e o joio, até o tempo da ceifa, para não suceder que fosse o trigo também prejudicado.
(1) – S. Mateus, XIII 21 a 30.
E o joio foi conservado no meio do trigo, até há pouco, tempo em que começou a ceifa.
São João abre o capítulo XIV narrando a visão que teve do “CORDEIRO”, em pé, sobre o monte Sião, e com ele cento e quarenta e quatro mil que tinham escrito o nome dele e de seu Pai sobre as suas testas”.
Nesse ínterim, o profeta ouve uma “voz como a voz de muitas águas e como a voz de um grande trovão; e a voz era como de harpistas que tocavam nas suas harpas”.
O cântico, diz ainda o vidente, “é um novo cântico diante do trono e das quatro criaturas viventes e dos anciãos; e ninguém podia aprender aquele cântico, senão os cento e quarenta e quatro mil, que foram comprados na terra. São os que seguem o Cordeiro e foram comprados dentre os homens para ser as primícias para Deus e para o Cordeiro”.
O CÂNTICO NOVO, indubitavelmente, é o Espiritismo, e dos cento e quarenta e quatro mil fazem parte aqueles que estudam com amor esse todo harmônico e belo, que constitui a FILOSOFIA ESPÍRITA. Eles foram adquiridos para ser as primícias para Deus e para o Cordeiro, porque, é pelo seu trabalho constante na propaganda, quer como Espíritos, no Invisível, quer como encarnados, que a Verdade brilha e realça, concitando os homens à obediência dos preceitos da MORAL CRISTÃ e convidando-os à adoração do Ser Supremo, em espírito e verdade, como ensinou o Mestre à mulher samaritana.
Empregando o evangelista a expressão “foram comprados da terra”, quis significar que os cento e quarenta e quatro mil se devem fazer reconhecer pelo seu desprendimento das coisas do mundo, pela sua moral, pela sua humildade, finalmente, pela sua caridade, virtude que é a primícia para Deus.
Significa, ainda, que os cento e quarenta e quatro mil receberam a palavra, pela graça, para pregação da Fé, como diz o Apóstolo das gentes.
ESPÍRITA, quer dizer adepto da Filosofia Espírita, que se crê Espírito Imortal, que está em relação com os Espíritos, que trata da sua Vida Espiritual, que propaga as manifestações espíritas, que interpreta os Evangelhos em espírito, e não a letra, que adora a Deus em espírito e verdade, que admira o Cristo Jesus e segue seus ensinamentos, que crê no Cristo Jesus e sabe que ele existe em Espírito; por isso, assim o ama, mas não o adora numa figura, numa estatueta, numa imagem, onde ele não está.
Deus é Espírito, e seus filhos são Espíritos, porque a carne, o corpo é oriundo de pais carnais. Proclamando-me espírita, proclamo-me “filho de Deus”, e, portanto, “primícias para Deus”‘, como diz São João.
O CÂNTICO NOVO é, pois, a pregação do Evangelho, em espírito e verdade, graça essa que havia sido prometida por Jesus (1) e que nos liberta da ignorância e do cativeiro sacerdotal, que tanto nos tem oprimido.
(1) – S. João XIV, 26; XVI, 7 e 8, 9 e 10.
No versículo 6, S. João vê um ANJO com este Evangelho Eterno que havia de ser anunciado “aos habitantes da Terra, e a toda a nação e tribo, e língua e povo “.
A segunda VOZ (2) anuncia a destruição da GRANDE BABILÔNIA, “que deu a beber a TODAS AS NAÇÕES do vinho da ira da sua devassidão”: É ROMA PAPAL, cujas doutrinas se tinham infiltrado em todos os povos e dominado todas as nações.
(2) – Apocalipse, XIV, 8.
A terceira voz (1) é um terrível libelo contra os que ADORAM a BESTA ou recebem a MARCA DO SEU NOME. O apóstolo recomenda, por fim, aos que receberam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus, que perseverem na Sã Doutrina.
(1) – Apocalipse, XIV, 9 a 12.
A quarta VOZ (2) é um cântico aos mortos que morrem no Senhor.
(2) – Apocalipse, XIV, 13.
Logo depois que soou a quarta VOZ, o VIDENTE olha e vê a SEARA DA TERRA (3) toda madura e os quatro ANJOS metendo a foice afiada, ceifando a seara da terra e vindimando os cachos da videira da terra, porque suas uvas estavam bem maduras. E tudo o que foi vidimado foi lançado no lagar e saiu sangue do lagar por espaço de mil e seiscentos estádios.
(3) – Apocalipse, XIV, 14 a 20.
Este quadro estampa todas as doutrinas que estão sendo lançadas à execração, porque não correspondem às necessidades espirituais, e, ainda mais, reflete a guerra mundial, produto da ciência humana, elevada à categoria de deusa.
O SINAL NO CÉU – CAPÍTULOS XV E XVI
OS SETE ANJOS
AS SETE ÚLTIMAS PRAGAS
No começo deste capítulo (XVI) é a visão premonitória do “fim do mundo”: fim do absolutismo, da prepotência, do orgulho, do egoísmo; fim das aristocracias, dos governos venais; fim das castas privilegiadas que usurpam os direitos dos povos; fim, em suma, do mundo material, que dará lugar ao mundo moral, em que reinará o Bem, haverá justiça, e a Verdade será procurada e abraçada por todos.
Mas, até que chegue esse tempo, a humanidade há de passar por grandes sofrimentos, que extirparão as suas paixões, os seus vícios, a fim de preparar os homens, tornando-os limpos de pecados, para se revestirem da alva túnica a que alude a Parábola do Festim de Núpcias.
Os sete anjos representam os poderes celestiais atuando na transformação do nosso planeta. O número sete, como já vimos, indica um número completo. As sete últimas pragas indicam todas as fases de transformação por que há de passar o mundo, para que se torne uma região de felicidade.
O mundo, atingindo um período de maturidade, se agita, como para expelir os elementos parasitários que se ajuntaram, como a lhe dar uma decrepitude nociva.
A lei da evolução, que rege todas as cousas, do simples grão de areia aos gigantescos astros, do mais insignificante zoófito ao Espírito de Santidade, atuando sobre o planeta terreno, pelos seus executores, o transforma, produzindo revoluções intestinas que explodem na sua superfície. Todas as renovações são acompanhadas de abalos.
Acresce, ainda, que a modificação atmosférica acarreta, forçosamente, a modificação das condições do planeta que, juntamente com o sistema solar, de que faz parte, caminha com velocidade superior à de uma bala de fuzil, pelo espaço afora, em busca da Constelação de Hércules.
É natural, pois, que a atmosfera se vá modificando, fato bem notado nos últimos tempos, sendo que essa transformação há de necessariamente dar lugar a fenômenos físicos, lembrados no Apocalipse, e que, ao VIDENTE, foram mostrados em forma alegórica de “taças derramadas sobre o mar, sobre a terra, sobre os rios, etc “. (1).
(1) – Apocalipse, XVI, 3 a 7.
É fato historicamente registrado que as perturbações morais da humanidade coincidem com as perturbações de natureza física.
Parece que cada época de 2.000 anos, mais ou menos, é assinalada por grandes fenômenos de ordem moral. Nessas ocasiões, parece fazer-se necessária uma nova Revelação, porque a depressão do caráter, a propensão para o mal, para o crime, se acentua de tal forma que toda ciência se torna estéril, toda religião é vã. No tempo em que Buda recebeu a Revelação dos céus, reinava uma verdadeira anarquia moral, e foi preciso que viesse mais uma VERDADE NOVA tirar os homens da apatia em que se achavam, para renascidos espiritualmente, cumprirem os seus deveres morais.
A Revelação Budista precedeu 2.000 anos à de Moisés, e, nessa ocasião, provavelmente, realizou-se a agitação do mundo produzindo-se cataclismos.
Por ocasião da Revelação Mosaica, a História Sagrada, a Bíblia, dá testemunho dos fatos surpreendentes ocorridos naquela época.
Dois mil anos depois, aparece Jesus; foi a época do nascimento do Cristianismo, e, ocioso se torna recapitular o que, então, se deu, porque aí estão os Evangelhos para serem estudados por todos, e que, melhor do que nós, levarão ao conhecimento dos leitores não só os fenômenos sísmicos e atmosféricos, que aterrorizavam as gentes, mas também os fatos portentosos de ordem espiritual que eram como vergastas a açoitar o torpor de uma raça transviada.
Estamos quase alcançando os 2.000 anos que nos separam do aparecimento do Cristianismo, e que é o que deparam em nossos dias?
Sem falar na guerra da Rússia com o Japão, que foi uma medonha carnificina; na guerra ítalo-turca, que foi o início da conflagração mundial que enche de luto a nossa época, “há como diz um nosso erudito companheiro – um verdadeiro rosário de desastres a assinalar: erupções vulcânicas, terremotos de horríveis conseqüências, como os da Calábria, de S. Francisco da Califórnia, de Valparaíso e, recentemente, os da Guatemala; inundações em diversos países, naufrágios, explosões; de vez em vez, a fúria dos elementos ceifando vidas aos milhares, e, ao lado desses horrores naturais, a forre, o ódio de classes e de crenças, os suicídios, os assassínios”.
Deus, porém, nunca desampara os seus filhos, e sua misericórdia se faz sentir nos grandes momentos em que o homem dela mais necessita. Aí temos a REVELAÇÃO ESPÍRITA, que é a tábua de salvação oferecida a todos. (1) Ao lado do materialismo desesperador e tenebroso, manifesta-se a luz da imortalidade, revive nos corações a esperança; os aflitos recebem a consolação e os deserdados a Caridade.
(1) – O Evangelho Segundo o Espiritismo.
Os “mortos” se manifestam para demonstrar a Vida no Além, e os Mensageiros de Deus se esforçam para espiritualizar as almas, nelas solicitando as virtudes que as elevarão à felicidade.
Estes dois quadros que, rapidamente, desenhamos – de um lado a agonia do mundo velho, do outro o nascimento do mundo novo – não serão o “mar de vidro misturado com fogo”, (2) visto pelo profeta?
(2) – Apocalipse, XV, 2.
Não será o ESPIRITISMO o CÂNTICO que “os que venceram a besta, a sua imagem e número do seu nome, entoavam, repetindo o CÂNTICO DE MOISÉS (O DECÁLOGO) E O CÂNTICO DO CORDEIRO (O CRISTIANISMO). (3).
(3) – Deuteronômio V, 6 e 7; S. Mateus V, VI .
Prosseguindo com a leitura das SETE PRAGAS, vemos aqueles que tratam de revoluções materiais, outras referentes às de ordem moral e espiritual. Ao lado de uma grande seca lembrada nos versículos 8 e 9 do cap. XVI, a “TAÇA DE TREVAS” é derramada sobre o trono da BESTA, ficando o seu reino mergulhado em trevas”. (1) E a ignorância das cousas espirituais, que, como um manto negro, envolve a Cúria Romana engolfada na materialidade. Não vemos o Papa cerceado pelo “poder das trevas” sem se pronunciar sobre a conflagração mundial? Não vemos os seus ministros, de todas as nações, cada qual invocando sentimentos de patriotismo, empunhando o bacamarte: padres alemães, austríacos, turcos, etc., contra franceses, ingleses, italianos, e vice-versa, embora se digam todos discípulos daquele que mandou “nos amássemos uns aos outros”?
(1) – S. Mateus, XXI, 33 a 46; XXIII, 1 a 39.
Estamos em vésperas da derrocada católica.
Em seguida a essa visão, outra se mostrou ao profeta, a qual anuncia “grandes tempestades, relâmpagos, trovões, vozes e mais terremotos”, ao ponto de um deles dividir a GRANDE CIDADE em TRÊS PARTES e as cidades das nações caírem. A GRANDE BABILÔNIA não escapou: fugiu toda a ilha e os montes não foram achados. (2)
(2) – Apocalipse, XVI, 17 a 21.
Se pusermos este capítulo em concordância com o versículo 21 do cap. XVI II, concluiremos que não é só uma queda moral que aguarda Roma, senão também a sua destruição completa.
Não terminam ainda aqui os grandes acontecimentos; outras expiações e provações estão preparadas para os que sobreviverem a todos esses cataclismos: “uma grande chuva de pedras, pedras do peso de um talento caiu do céu sobre os homens, e os homens blasfemaram de Deus, por causa da praga da chuva de pedras”.
PRAGAS
Não queremos fechar este capítulo sem dizer alguma cousa sobre as chamadas PRAGAS DE DEUS.
Era crença antiga, que todo o mal que sobrevinha aos homens, era mandado por Deus, como castigo da sua desobediência.
Mas o mal vinha e vem para todos, e tanto os bons como os maus sofrem as suas conseqüências; uns sofrem mais, outros sofrem menos.
As religiões dogmáticas, como o Romanismo e o Protestantismo, que interpretam o Evangelho e as Escrituras à letra, estão subordinadas, ainda, a esse “deus” mau, vingativo, cruel, e, por isso, afirmam que Deus é quem manda as pragas massacrar os homens.
Para nós espíritas, que encontramos nos Ensinos Evangélicos o ESPÍRITO QUE VIVIFICA, as Escrituras comportam interpretação muito diferente das que conceberam os padres romanos e protestantes.
Deus não pode fazer o mal, porque, se assim fosse, o seu reino, estaria destruído. Quando os fariseus disseram que Jesus agia pelo espírito do mal, o Mestre respondeu: “Todo reino dividido contra si mesmo não pode subsistir”. E demais, como é possível exterminar um mal com outro mal?
O fato, porém, é que o Apocalipse diz que as “PRAGAS SÃO MANDADAS POR DEUS”. E as pragas são as tempestades, os raios, os terremotos, a seca, etc… Já dissemos que a evolução do Planeta traz como conseqüência uma revolução, quer na sua crosta, quer no seu centro, quer nas suas camadas atmosféricas; e as revoluções não se fazem sem dores. Entretanto, o homem poderia perfeitamente se livrar dessas dores se, usando bem da liberdade que o Criador lhe facultou, aplicasse a sua inteligência trabalhando para remover esses males, ou aparelhando-se a fim de os enfrentar sem perigo para a sua saúde e para a sua vida.
Assim como levaram anos e anos inventando máquinas de guerra, organizando planos sinistros, em que só cogitavam do mal, por que não trabalharam para preservar a saúde e a própria vida e dos seus semelhantes? Assim como descobriram o pára-raios, que livra uma casa ou edifício da faísca elétrica, não poderiam também descobrir isoladores de fenômenos sísmicos? Nós temos, por exemplo, o sismógrafo, que é um aparelho que registra a hora, a duração e a amplitude dos fenômenos sísmicos. Não poderíamos ter um outro aparelho para reduzir essa amplitude?
Não poderíamos mesmo prever o momento em que se deveria dar um desses fenômenos, como o astrônomo vê antecipadamente um eclipse, e fazermos sair da cidade ou da povoação ameaçada, as pessoas que aí morassem, para não sofrerem as suas conseqüências?
A mesma coisa se dá com a peste que, com muito trabalho e cautelas higiênicas, pode ser evitada perfeitamente, assim como se podem amenizar as conseqüências da seca, etc., etc… Diz o Antigo Testamento que, no reinado de Faraó, houve sete anos de fartura e sete anos de miséria, de seca, que absorveu todas as colheitas. Nomeado, porém, José, filho de Jacó, vice-rei do Egito, fez largas previsões para os anos de carestia e o povo foi remediado nas suas necessidades.
Tanto “vice-rei” temos nós na Terra, assim como temos tantos Faraós, e nenhum se lembrou de chamar um novo José para remediar as necessidades do povo e precavê-lo da futura crise que terrivelmente o ameaça!
É mais fácil dizer que “é castigo de Deus”, é mais fácil blasfemar, negar a Divindade do que se submeter à sua santa vontade, que é sempre boa e vem ao encontro de nossas necessidades.
Dirá o leitor que os nossos projetos seriam irrealizáveis, por ser impossível descobrir os meios de pô-los em prática. E nós responderemos com o Doutor Pinheiro Guedes: “O impossível está sempre diante da fraqueza humana. Mas quantos impossíveis o homem de gênio tem vencido?! Que é a vida senão uma luta sem tréguas contra o impossível?!
“A vida é impossível sem o fogo; e a criatura humana descobre o meio de produzir o fogo. Era impossível transpor os mares; o homem venceu os mares. Quantos impossíveis se erguem ante o homem, são outras tantas batalhas a vencer. O progresso representa uma série de vitórias incruentas; a civilização, os despojos opimos. A ciência, as artes, as indústrias são conquistas, representam assinalados triunfos do espírito humano”.
E que será mais fácil: provisões para sustentar uma guerra 4 anos, ou provisões para dar que comer a um povo, que ainda trabalha, por espaço de 4 anos? Será mais fácil fazer um vapor que ande no fundo do mar, ou reservatórios que guardem a água esterilizada para matar a sede de um povo?
Não, não digam, apegando-se à letra e desprezando o espírito, que Deus é quem mandou as PRAGAS, porque praguento é o homem que usa mal da sua liberdade, e não Deus que nos dá luz e inteligência para evitarmos o mal e gozarmos os frutos do bem que fizemos.
O que Deus faz, estatuindo suas leis, sábias e imutáveis, de toda a eternidade, é deixar que os homens, no uso de seu livre arbítrio, atraiam sobre si as reações naturais, tanto do bem como do mal. Os anjos representam, figuradamente, a ação viva e inteligente da Lei, de que são os executores, em todas as ordens da criação, não como instrumentos vingativos de um Deus pessoal, mas como vigilantes auxiliares do Ser Infinito, a fim de que “cada um receba conforme suas obras”, e sempre, amorosamente, para experiência e retorno dos culpados, ou para estímulo e recompensa aos justos.
Felizes serão os que sofreram com paciência e resignação, “porque novas terras e novos céus, onde habita a justiça, ser-lhes-ão dados por herança.
EXPLICAÇÃO E VISÃO DA GRANDE PROSTITUTA – CAPÍTULO XVII
Já vimos no capítulo X que, na revelação dada a S. João, figuram DUAS MULHERES que simbolizam, uma a RELIGIÃO, outra a FALSA RELIGIÃO. Esta última representa papel proeminente neste capítulo que vamos interpretar.
Abre o Vidente a sua narrativa com a grande revelação que o ANJO lhe fez da GRANDE PROSTITUTA, que outra não é senão a RELIGIÃO CATÓLICA ROMANA “com a qual coabitaram os reis da terra e os habitantes da terra que se embebedaram com o vinho de sua devassidão”. (1)
(1) – Apocalipse, XVII, 1 e 2.
Estes versículos, por si sós, já falam bem alto, especificando claramente o caráter UNIVERSAL (católico), o qual Roma declarou pertencer à sua religião.
Seguem os outros sinais, bem caracterizados, nos ministros romanos.
A MULHER estava vestida de púrpura escarlate e de pérolas, tendo na mão um cálice de ouro cheio de abominações, as imundícies da sua devassidão e na sua testa estava escrito o nome: MISTÉRIO, A GRANDE BABILÔNIA, A MÃE DAS PROSTITUTAS E DAS ABOMINAÇOES DA TERRA”.
Agora, perguntamos nós, quais outros ministros religiosos, ou mesmo pessoas do povo, se vestem assim, a não ser o PAPA E OS CARDEAIS? Todos sabem que a púrpura tornou-se um privilégio da Igreja Romana e que só o Papa e os Cardeais usam o chapéu escarlate. As pedras preciosas e pérolas, ninguém as tem em maior quantidade do que as que enchem o Vaticano. São anéis, cruzes, medalhas, sem falar na tríplice coroa de ouro cravejada de brilhantes que o Papa usa como distintivo de REI DOS REIS.
Que o ROMANISMO é a PROSTITUIÇÃO DO CRISTIANISMO, ninguém há que o possa contestar, se estudar, sem espírito preconcebido os Evangelhos.
Não será CÁLICE DE ABOMINAÇÃO, o cálice que transforma o vinho com água em sangue do Cristo, que é ingerido pelo sacerdote e vai ter depois a lugar escuso?
Sobre o MISTÉRIO já falamos, pois no Catolicismo tudo é mistério.
Julgamos não ser necessário repisar explicações que foram todas dadas claramente no capítulo XIII sobre os demais trechos deste capítulo. Mas não será demais recordar que o capítulo XVII termina com esta advertência, bem frisante, do anjo, ao vidente (vers. 18):
“E A MULHER que viste é a GRANDE CIDADE QUE REINA SOBRE OS REIS DA TERRA”. Passemos ao capítulo seguinte.
A QUEDA DA BABILÔNIA – CAPÍTULO XVIII
O capítulo XVIII abre-se com o anúncio da queda da GRANDE BABILÔNIA ROMANA, que foi anunciada a S. João por um ANJO “de grande autoridade”. ROMA que de mãos dadas com todos os reis da terra, se desviou da RELIGIÃO do CRISTO, constituindo uma FALSA RELIGIÃO (PROSTITUTA) que é um acervo de DOGMAS, de SACRAMENTOS e de MISTÉRIOS; ROMA, que perseguiu os “santos” que se não submetiam aos seus mandamentos; que mercantilizou as graças de Deus e enriqueceu os mercadores com a sua excessiva luxúria, vai cair – diz o Anjo. (1)
(1) – Apocalipse, XVIII, 1 a 4.
E uma VOZ DO CÉU acrescenta: “SAI DELA POVO MEU, para não serdes participantes dos seus pecados, nem terdes parte nas suas pragas”.
Abandonai a PROSTITUTA, vós que quereis seguir o Manso Cordeiro; deixai o Romanismo com os seus bentinhos, suas medalhas, suas estátuas mudas e surdas, seus paramentos, suas missas, seus sacramentos, suas indulgências, sua prata, seu ouro, sua púrpura, finalmente – sua IDOLATRIA; porque são essas exterioridades que a tornaram prostituta. Esses ornamentos são os ornamentos da VAIDADE, são vestes para cobrir a nudez da sua HIPOCRISIA; são máscaras para esconder a sua FEALDADE; são pecados que se acumulam até o céu, porque transviaram os homens da RELIGIÃO PURA E IMACULADA que nos legou o Filho Amado de Deus. Ela “está sentada como rainha, diz que não é viúva e não verá o pranto”, (1) mas as trevas já a envolvem e seus dentes rangem ao frio do abandono que já começou.
(1) – Apocalipse, XVIII, 7.
“Fugi dela, povo meu”!
Os reis já se apartam dela e já não ouvem os seus LAMENTOS! – mas já começam a proferir, num estribilho contínuo, os três ais da sua queda: “Ai, ai, ai da grande cidade, da Babilônia, da cidade forte! pois em uma só hora veio a tua sentença”. (2) Todos os Estados se separaram da Igreja, e o Catolicismo, com a queda do Poder temporal, não mais pode fazer valer as suas doutrinas, como obrigatoriamente o fazia no mundo.
(2) – Apocalipse, XVIII, 10.
Os mercadores de imagens feitas de madeiras preciosas, de latão, de ferro, de ouro, de prata, de mármores; dos perfumes, da mirra, do incenso, do azeite para os “santos óleos”, da flor de farinha para as “hóstias”, do vinho para as “missas”, mercadores esses que enriqueceram nas igrejas, já vêm paralisando o seu comércio e breve prantearão, dizendo: “Ai, ai da grande cidade que estava vestida de LINHO FINÍSSIMO E DE PÚRPURA E DE ESCARLATE E QUE SE ADORNAVA DE OURO E DE PEDRAS PRECIOSAS E DE PÉROLAS! porque numa só hora se têm perdido tantas riquezas!”. (1)
(1) – Apocalipse, XVIII, 11 a 17.
E, logo depois de toda essa tribulação, que é o começo da agonia de Roma e que foi mostrada antecipadamente ao VIDENTE, lhe aparece um outro “Anjo Forte”, que levantou uma pedra, como uma grande pedra de moinho, e lançou-a ao mar, dizendo: Assim com violência será lançada a Babilônia, a grande cidade e ela não mais será achada”. (2)
(2) – Apocalipse, XVIII, 21.
Este trecho, como precedentemente o dissemos, indica não só a queda moral do Catolicismo, mas, ainda, o desaparecimento do Vaticano por um grande cataclismo.
Roma vai ser destruída por um grande terremoto que fenderá a terra em três partes. “Saí dela povo meu, para não sofrerdes as conseqüências dos seus pecados”.
Não se ouvirá mais nela, diz o texto, o “som dos harpistas, dos músicos, dos tocadores de flauta e de trombeta, nem se verá nela artífice de qualquer arte”. (3)
(3) – Apocalipse, XVIII, 22 a 24.
Roma não se pode livrar da condenação apocalíptica, porque só ela reveste todos os caracteres apresentados na Revelação feita a São João.
É a Religião Católica Romana a PROSTITUTA, é a BESTA que ela representa e se acha assentada na Grande Cidade, colocada sobre sete montes:
“Fugi dela, povo meu!”
A GRANDE ESPIRITUALIZAÇÃO – CAPÍTULO XIX
A VINDA DO CRISTO
Depois de tantas lutas, de tantos sacrifícios, vem-se aproximando, finalmente, o dia de N. S. Jesus Cristo.
Aquele que nos veio trazer o VERBO DIVINO, em sua pureza, não poderia deixar de vencer todos os inimigos e de implantar no coração humano a bendita semente de que se fez portador.
Mas quantos séculos de decepções, de trabalhos, foram precisos para que o MESTRE subjugasse a Besta e o Falso Profeta, e restabelecesse a verdade dos seus Ensinamentos!
Depois da desolação da Babilônia, diz S. João: “ouvi no céu uma grande voz de uma imensa multidão dizendo: Aleluia; a salvação e a glória, e o poder pertencem a Deus, porque verdadeiros e justos são os seus Juízos; pois ele condenou a grande prostituta que corrompia a Terra com a sua devassidão, e das mãos dela vingou o sangue dos seus servos”. (1)
( l ) – Apocalipse, XIX, 1 e 2.
É a VOZ DOS ESPÍRITOS que ecoa já por toda à parte; é a VOZ dos servos de Jesus que trabalham pela regeneração da humanidade e sustentaM luta cerrada com o poder clerical, que os qualificou de satânicos, diabólicos, imorais.
“E outra vez disseram: Aleluia! E o fumo dela sobe pelos séculos dos séculos. Então, os vinte e quatro anciãos e as quatro criaturas viventes prostraram-se e adoraram a Deus assentado no trono, dizendo Amém; Aleluia”. (1)
(1) – Apocalipse, XIX, 3 e 4.
Os vinte e quatro anciãos representam os ESPÍRITOS PUROS, dos quais tratamos no intróito do Apocalipse, que são os auxiliares de Jesus, e as quatro criaturas viventes, que no capítulo são figuradas por um leão, um novilho, um homem e uma águia voando, e que dissemos representarem o poder, a criação, a sabedoria e a eternidade, não são outros senão os quatro Evangelistas: Mateus, Marcos, Lucas e João. Todos bradam: Aleluia, Aleluia, porque o Evangelho pode ser reconstituído em sua pureza primitiva e se constituir o LIVRO DA VIDA para todos os humanos viventes.
“Saiu depois uma voz do trono, dizendo: Dai louvores ao nosso Deus todos vós que o temeis, os seus servos, os pequenos e os grandes.” (2)
(2) – Apocalipse, XIX, 5.
É a VOZ DE JESUS glorificando e mandando que todos glorifiquem o supremo criador.
“E ouvi uma voz, como a voz de uma grande multidão, e como a voz de muitas águas e como a voz de fortes trovões, dizendo: Aleluia, porque o Senhor nosso Deus; o Todo-poderoso, reina. Alegremo-nos e exultemos e lhe demos glória, porque são chegadas as bodas do Cordeiro e sua esposa já se preparou, e foi-lhe permitido vestir-se de linho finíssimo, resplandecente e puro, pois o linho finíssimo são os atos da justiça dos santos”.
É o cântico dos eleitos, dos que conheceram a Verdade e procuraram praticá-la com Fé Viva, Esperança sincera e Caridade inabalável.
É a IGREJA TRIUNFANTE, que baixou à Terra para unir as suas vozes à dos que com ela comungam e ainda se acham na terra. São os convertidos que repudiaram as marcas da Besta e o número do seu nome, para sorverem o néctar que deveria saciar a sua sede, a ÁGUA DA VIDA, que jorra da mesma fonte, da qual falou Jesus à Samaritana à beira do poço de Jacó.
Aparece, depois, um Anjo a S. João e lhe manda que escreva o seguinte, ao que o profeta obedece: “Bem-aventurados os que têm sido chamados à ceia dás bodas do Cordeiro”. E, acrescentou: “Estas são verdadeiras palavras de Deus” (1).
(1) – Apocalipse, XIX, 9.
Era, sem dúvida, um dos ESPÍRITOS SANTOS, um Mensageiro da Nova Revelação que fora anunciado por Jesus. (2)
(2) – Evangelho S. João XIV, 26.
Tão brilhante era a sua luz, tão grande era o seu poder e a verdade da sua caridade, que São João “prostrou-se ante seus pés para o adorar”; mas ele disse: “Não faças tal, sou servo contigo e com teus irmãos que guardam o testemunho de Jesus; ADORA A DEUS. (1) Pois o TESTEMUNHO DE JESUS É O ESPÍRITO DA PROFECIA”. (2)
(1) – S. João IV, 4 a 26.
(2) – Apocalipse, XIX, 10.
Que luminoso quadro, que belíssima lição! Um Espírito que toma parte nos Conselhos de Deus não admite que alguém se curve diante da grande majestade com que se apresenta, porque, ADORAR, só a DEUS se deve, e, ao mesmo tempo, proclama o ESPÍRITO DA PROFECIA que é a Comunicação Mediúnica como TESTEMUNHO DE JESUS; e o papa e os padres querem que os homens se ajoelhem diante deles e lhes beijem as mãos e os pés, ao mesmo tempo em que verberam o Espírito da Profecia (Comunicação Mediúnica) como uma manifestação do diabo.
Que contraste edificante para aquele que estuda, e como está bem caracterizada a BESTA!
O versículo seguinte trata da Vinda de Jesus com todo o cortejo dos seus Anjos. (3)
(3) – Apocalipse, XIX, 11 a 16; S. Mateus XXV, 31 a 46; XXIV, 29 a 51.
A simples leitura do trecho, de combinação com os trechos evangélicos que lembramos, orientará o leitor no estudo desta passagem.
Aparece, depois, a S. João, um Anjo em pé no sol e reúne todos os pássaros que voam e manda-os à terra para comer carnes de reis, de comandantes, de poderosos, etc… Estabelece-se, então, a confusão. A BESTA tenta resistir, mas é PRESA, e, com ela, o Falso Profeta; e as aves se fartaram das carnes deles. (1)
(1) – Apocalipse, XIX, 17 a 21.
São as últimas agonias do mundo velho, da Roma dos idólatras, dos orgulhosos, dos grandes, dos déspotas. Os Espíritos da Erraticidade, representados como aves do céu, as Potestades dos Ares, como os chamou o Apóstolo dos gentios, assistem todos ao terrível espetáculo que antecipadamente se desenrolou às vistas do Profeta na Ilha de Patmos.
Temeroso dia para os maus, glorioso dia para os humildes, será aquele em que o Senhor chegar, e nós, com todas as forças da nossa alma, pudermos dizer: Graças, Senhor do Céu e da Terra, porque o VOSSO REINO JÁ BAIXOU A NÓS.
PRISÃO DE SATANÁS POR MIL ANOS E SUA LIBERTAÇÃO POR POUCO TEMPO –
CAPÍTULO XX
A LIBERDADE DOS MÁRTIRES
O JUÍZO FINAL
Este capítulo se acha em admirável concordância com o capítulo XII e, para nós, ele não é senão a explicação e o complemento do outro.
O exegeta bíblico ao rebuscar, nas páginas do livro santo, o espírito que vivifica, a fé que ilumina a alma, não deve e não pode separar trechos ou capítulos para, a seu talante, interpretar a obra que lhe foi oferecida, mas, pelo estudo criterioso de todo o livro, esforçar-se para erguer o véu que cobre a alma da profecia. É isso que temos procurado fazer. Livre dos dogmas das igrejas que cerceiam o pensamento, sem outro escopo senão o de apresentar aos olhos de todos a Verdade tal como é, deixamos de lado as interpretações infantis, abstivemo-nos de dissertações inúteis, que levam confusão ao entendimento, e quebrando a casca do mistério, que vedava aos homens a compreensão do Apocalipse, oferecemo-lo a todos em sua mais simples expressão. O reino milenário do Cristo e dos Santos representa um longo período mais ou menos de mil anos.
A primeira ressurreição, que dura unicamente mil anos, corresponde exatamente à prisão de SATANÁS por mil anos; e, no capítulo XII, já fizemos referência aos quarenta e dois meses, tempo predito, pelo evangelista, do poder da BESTA na Terra.
A palavra RESSURREIÇÃO, que se encontra no texto, ao lado do REINADO DO CRISTO com os santos e os mártires por mil anos, deixa ver claramente que este reino milenário deu-se no Espaço e não na Terra.
No capítulo XII demos sucintas explicações sobre a MULHER e o DRAGÃO; agora, achamo-nos em face do DIABO, SATANÁS, que, no dizer do evangelista, é o mesmo DRAGÃO. (1).
(1) – Apocalipse, XX, 3.
A PRISÃO DE SATAN não é outra cousa senão a ENCARNAÇÃO FORÇADA dos Espíritos representantes do mundo bárbaro e pagão (Gogue e Magogue) (2) que dominavam do ESPAÇO como Espíritos desencarnados, e que, presos à terra, cometeram toda a sorte de arbitrariedades que a história registra e ao Vidente de Patmos foram reveladas com grande antecedência. Pelo menos é o que se depreende do trecho.
(2) – Gogue e Magogue: Na Casa da Câmara (Gu Tolhal) de Londres, existem duas estátuas colossais, de pedra, a que chamam de Gogue e Magogue, e que, segundo a tradição, representam a vitória de um gigante saxônio sobre um gigante Cornualler.
“Vi, também, tronos, e se assentaram sobre eles e lhes foi dado poder de julgar, e vi as ALMAS daqueles que tinham sido DECAPITADOS por amor do testemunho de Jesus e da sua Palavra, e os que NÃO ADORARAM A BESTA, nem a sua IMAGEM, e não receberam a MARCA na testa nem na mão, e eles VIVERAM E REINARAM COM O CRISTO MIL ANOS”.
Livre a atmosfera terrestre das POTESTADES MALÉFICAS DOMINADORAS, os Espíritos Bons, os Cristãos, puderam gozar por um milênio do Santo Ideal do Cristo.
Precisamos compreender que a VIDA, o MOVIMENTO, o TRABALHO, o ESTUDO não estão limitados à forma visível e exterior; fora do Mundo, que nós vemos, existe um Mundo Invisível, que nos rodeia e de onde nos vem tudo.
As interpretações carnalistas não cabem no Apocalipse, que não é um livro material, pois nos desvenda a IGREJA INVISÍVEL, a JERUSALÉM CELESTIAL, de que nos teremos de ocupar no capítulo seguinte.
Prosseguindo, diz o evangelista que, “VENCIDO O MILÊNIO, SATAN deveria ser solto POR UM POUCO, e seduziria as nações que estão nos quatro cantos da terra, a Gogue e Magogue, a fim de reuni-las para a GUERRA, cujo número é como a areia do mar” (1).
(1) – Apocalipse, XX, 7 e 8.
Este trecho, que deve ser posto em concordância com os capítulos XXIV de S. Mateus e XXI de S. Lucas, é muito significativo no momento que atravessamos. As nações dos quatro cantos da terra estão todas reunidas em GUERRA, e os combatentes, pode-se dizer, são contados como a areia do mar! Na ocasião em que traçamos estas linhas, poucos, raros são os países que não tomam parte ativa na GUERRA, mas já se preparam para entrar nessa hecatombe mundial, profetizada pelo autor do Apocalipse.
Não seria também enunciar uma proposição falsa, se afirmássemos o encerramento do MILÊNIO DO REINO DOS MÁRTIRES E DOS SANTOS coincidindo com a QUEDA DO PODER TEMPORAL DE ROMA e a soltura de SATANÁS no decurso desse pequeno período histórico.
Gogue e Magogue não agem só no plano visível, mas também no plano invisível. Vencido o tempo do PODER, que tinham na terra, vencido, também, o tempo da sua PRISÃO, volveriam à LIBERDADE, ao ESPAÇO, onde inutilizariam o REINADO DOS SANTOS, visto como, “tomando estes parte na primeira RESSURREIÇÃO, o seu REINADO seria também de UM MILÊNIO”.
DA QUEDA DO PODER TEMPORAL resultaria, irrevogavelmente, a proclamação do LIVRE PENSAMENTO, da LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA, movimento esse que provocaria, sem dúvida, a VINDA DOS ESPÍRITOS SUPERIORES (a queda das Estrelas, a vinda das potestades dos céus que seriam abaladas, (1) a fim de nos lembrarem a PALAVRA DO CRISTO.
(l) – S. Lucas XXL, 26; S. Mateus XXIV, 29.
Como se compreende, só por essa forma é que poderia realizar-se a luta decisiva, o combate da luz contra as trevas, e SATAN, que é a personificação ou a união de todos os ESPÍRITOS MALÉFICOS, ser subjugado para sempre.
Depois de todos esses acontecimentos, que se vão desenrolando aos nossos olhos, raiará para o mundo uma nova aurora de Paz, mas não dessa paz que o mundo dá, e sim da verdadeira Paz dos céus, porque só os Espíritos impregnados da MORAL CRISTÃ ficarão habitando a TERRA, planeta, nessa ocasião, elevado a uma categoria superior; os demais serão internados em mundos inferiores, planetas em formação (logo, de fogo e enxofre) como diz claramente o texto: “aquele que não foi achado no LIVRO DA VIDA, foi lançado no lago de fogo”; (1) onde haverá choro e ranger de dentes, porque, como diz o versículo 13: “CADA UM FOI JULGADO SEGUNDO AS SUAS OBRAS”.
(1) – Apocalipse, XX, 7 e 8.
Não se conclua daí que os condenados sofrerão “suplício eterno”, porque o “Pai não quer a morte do ímpio, mas sim que o ímpio se arrependa e se salve,” (2) e pago o último ceitil, livres de suas paixões e de seus vícios, eles se elevarão, novamente, a um planeta que esteja em relação com a perfeição de suas almas.
(2) – Ezequiel XXXIII, 11.
Não nos deteremos em outras considerações filosóficas. Entretanto, como falamos da Paz, será bom lembrar que ela não se fará por ajustes internacionais, porque nos parece inevitável que as classes oprimidas, depois da conflagração mundial, ou a guerra das nações, farão predominar, com as armas que lhes foram agora postas nas mãos, as suas pretensões, os seus direitos sonegados, o que dará lugar às agitações internas em todos os países até que a Palavra do Alto se pronuncie com Poder.
Os bem avisados que procurem guiar-se pelo Espírito do Evangelho, porque a luta será tremenda, como não houve outra igual, e aquele que estiver sob o abrigo da Árvore da Vida não perecerá.
NOVO CÉU E NOVA TERRA – CAPÍTULO XXI
“A palavra CÉU designa, em geral, o espaço infinito que circunda a Terra, e mais particularmente a parte que está acima do nosso horizonte: vem do latim coelum, formada do grego coilos, côncavo, porque o céu parece uma imensa concavidade.
“Os antigos acreditavam na existência de muitos céus superpostos, de matéria sólida e transparente, formando esferas concêntricas e tendo a Terra por centro.
“Girando essas esferas, em torno da Terra, arrastavam consigo os astros que se achavam em seu circuito.
“Esta idéia provinha da deficiência de conhecimentos astronômicos; foi a idéia de todas as teorias, que fizeram dos céus, assim escalados, os diversos de graus da bem-aventurança: o último deles era abrigo da suprema felicidade.
“Segundo a opinião mais comum, havia sete céus, e daí a expressão – estar no sétimo céu – para exprimir perfeita felicidade. Os muçulmanos admitem nove céus, em cada um dos quais se aumenta a felicidade dos crentes.
“O astrônomo Ptolomeu (1) contava onze, e denominava o último Empíreo (2) por causa da luz brilhante que nele reina.
(1) – Ptolomeu viveu em Alexandria, Egito, no segundo século da Era Cristã.
(2) – Empíreo, do grego pur ou pyr, fogo.
“O CÉU é ainda hoje o nome poético dado ao lugar da glória eterna. A teologia conhece três céus: o primeiro é o da região do ar e das nuvens; o segundo, o espaço em que giram os astros, e o terceiro, para além deste, é a morada do Altíssimo, a habitação dos que o contemplam face a face. É conforme a esta crença que se diz que São Paulo foi alçado ao terceiro céu”. (3)
(3) – Allan Kardec, “O Céu e o Inferno”, cap. III.
Estas considerações deveriam, forçosamente, preceder o estudo do capítulo que nos prende a atenção.
Depois das negras tramas com que os déspotas da Terra e as potestades inferiores do Espaço aniquilaram o mundo, aparece, diante do Vidente, UM NOVO CÉU E UMA NOVA TERRA. (4)
(4) – Apocalipse, XXI, 1.
Depuradas as camadas atmosféricas pela evolução do planeta, que como dissemos, caminha vertiginosamente pelo Espaço afora, em busca da constelação de Hércules; livre dos ESPÍRITOS PERTURBADORES, que insuflavam o orgulho e o egoísmo, estabeleciam a desunião, a discórdia nas almas, o CÉU, que é considerado o MUNDO INVISÍVEL que envolve a TERRA, se renovou, tornando-se novamente morada dos justos, dos santos e dos sábios, que não mais precisam se encarnar; estes tomam parte na segunda e final RESSURREIÇÃO. Por sua vez, também a TERRA, atingindo um grau de depuração muito avançado, e varridos da sua superfície os ESPÍRITOS MATERIAIS, os déspotas, os assassinos, os ladrões, os sensuais, os hipócritas, que serão arrastados para MUNDOS INFERIORES (lançados nos lagos de fogo) (1), tornar-se-á forçosamente uma TERRA NOVA, onde a Luz da Verdade brilhará com todo o fulgor, e, de planeta de provação e de expiação, que é atualmente, se converterá numa ESCOLA SUPERIOR, onde as almas encarnadas receberão, ao mesmo tempo que o PÃO DA VIDA, o linho da instrução moral para tecerem as suas túnicas de pureza.
(1) – Inferno, do latim infernus – inferior, baixo.
Assim teremos terra renovada, Espaço purificado, e as duas humanidades, visível e invisível, orientadas por N.S. Jesus Cristo, e obedecendo só à sua suprema direção, constituirão neste mundo o REINO DE DEUS, que solicitamos quando dizemos a Oração Dominical.
A NOVA JERUSALÉM, a Jerusalém Celestial, é o Mundo Invisível, com todos os seus esplendores, que foi mostrado ao VIDENTE pelo Espírito. A sua descrição, o seu BRILHO, a sua magnificência, traduzida em linguagem oriental pelo Apóstolo, denunciam bem um REINO ESPIRITUAL. O fato por ele lembrado, que “a cidade não precisa nem do sol nem da lua para lhe darem claridade, porque a glória de Deus a iluminou e o Cordeiro é a sua candeia” (1), deixa bem patente não se tratar de uma cidade material, mas, sim, etérea, fluídica, celestial. “Nela, acrescenta o evangelista, não entrará coisa alguma impura, nem o que prática a abominação e a mentira, mas somente os que estão INSCRITOS NO LIVRO DA VIDA DO CORDEIRO”. (2)
(1) – Apocalipse, XXI, 23.
(2) – Apocalipse, XXI, 27.
Concluímos este capítulo aconselhando ao leitor uma vista de olhos para a VIDA SUPERIOR, capítulo XXXV da importante obra de Léon Denis, Depois da Morte, e do anterior, XXXIV, ERRATICIDADE a fim de fazer uma idéia, mais ou menos aproximada, da descrição da Cidade Celeste, narrada pelo evangelista.
REMATE FINAL DA VISÃO – CAPÍTULO XXII
AS ÚLTIMAS PALAVRAS DO ANJO
O trono de Deus e do Cordeiro, estará nela, e os seus servos os servirão e verão a sua face; e o seu nome estará nas testas deles. E não haverá mais noite; nem precisam mais da luz da candeia nem da luz do sol, porque o Senhor Deus os iluminará e eles reinarão pelos séculos dos séculos”. (1)
(1) – Apocalipse, XXII, 1 a 5.
Para remate final da VISÃO do evangelista lhe foi mostrado “um rio de água da vida, resplandecente como cristal, saindo do trono de Deus e do Cordeiro. No meio da sua rua, e, de um e de outro lado do rio, achava-se a árvore da vida, que dava doze frutos, produzindo em cada mês o seu fruto; e as folhas da árvore servem para a cura das nações. E não haverá jamais maldição.
Efetivamente, o RIO DE ÁGUA VIVA saindo do trono de DEUS e do CORDEIRO não é senão a REVELAÇÃO. Sempre progressiva, ela é indispensável a todas as almas, porque todas caminham do conhecido para o desconhecido, e a REVELAÇÃO é que abre todas as portas do futuro.
A REVELAÇÃO é a pedra fundamental da Doutrina de Jesus.
Quando Pedro, representando o Colégio Apostólico, respondeu à pergunta de Jesus, dizendo-lhe: “TU ÉS CRISTO, FILHO DE DEUS VIVO”, o Mestre afirmou-lhe: “Bem-aventurado és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te REVELOU, mas sim meu Pai que está nos Céus. Tu és Pedro, e sobre esta PEDRA (A REVELAÇÃO) edificarei a minha Igreja e as portas do Hades não prevalecerão contra ela”. (1)
(1) – S. Mateus XV I, 13 a 18.
Na história religiosa se realça esse RIO CAUDALOSO, que resplandece como o cristal, saindo do trono de Deus e do Cordeiro. (2)
(2) – Roma e o Evangelho, cap. II; No Invisível, L. Denis, págs. 456 a 501; O Evangelho Segundo Espiritismo, Allan Kardec, cap. I e II.
A ÁRVORE DA VIDA é a RELIGIÃO, o EVANGELHO, que dá frutos todos os meses, e as suas folhas servindo para a cura das nações significa orientação Cristã dos governos do mundo. Por isso “não haverá maldição”. (3)
(3) – Apocalipse, XXII, 3.
O não “haver mais noite” (4) exprime, como já dissemos, na Cidade Celestial, a existência da Luz Divina, livre da atmosfera grosseira que impede seus esplendores, assim como também a ausência da IGNORÂNCIA, não só no Mundo Espiritual, como no Mundo Corporal, porque “O SENHOR ILUMINARÁ A TODOS”. (1)
(4) – Apocalipse, XXII, 5.
(1) – Apocalipse, XXII, 5.
As últimas palavras do ANJO representam a confirmação de todas as manifestações dadas a S. João e o anúncio formal da realização das profecias.
Disse ele: (2) “Estas palavras são fiéis e verdadeiras, e o Senhor Deus dos ESPÍRITOS DOS PROFETAS enviou o seu Anjo para mostrar aos seus servos o que deve acontecer brevemente. Eis que venho à pressa. Bem-aventurado o que guarda as palavras da profecia deste livro”.
(2) – Apocalipse, XXII, 6 e 7.
– O TESTEMUNHO DE S. JOÃO
– EXORTAÇÕES
– MANIFESTAÇÃO DE JESUS
João Evangelista, o grande Apóstolo, Discípulo de N. S. Jesus Cristo, aquele mesmo que abre o seu Evangelho com o cântico sublime: – IN PRINCIPIO ERAT VERBUM – (no princípio era o Verbo), transmitindo-nos o testemunho real da REVELAÇÃO, que por seu INTERMÉDIO nos foi dada, e narrando circunstanciadamente todas as suas VISÕES, seus ÊXTASES, as VOZES que OUVIU, e publicando abertamente as ocorrências que se desenrolaram durante o seu colóquio com o Mundo dos Espíritos, teve, certamente, por fim, preparar os espíritos para a Nova Era que havia de chegar para o domínio de Jesus no mundo.
O Apocalipse é, ao mesmo tempo, um livro de solene protesto contra todas as teorias das seitas dominantes, que, no afã de ridicularizarem o Espiritismo, tratam seus adeptos de visionários, histéricos, diabólicos e sonhadores.
Diz S. João: “Eu, João, sou o que ouvi e vi estas coisas; e quando as ouvi e vi, prostrei-me para adorar ante os pés do anjo que mas mostrava. E ele me disse VÊ, NÃO FAÇAS TAL; Sou SERVO contigo, com teus irmãos, os profetas, e COM TODOS aqueles que GUARDAM as palavras deste livro. ADORA A DEUS”. (1)
(1) – Apocalipse, XXII, 8 e 9.
Manda-o, depois, não selar as palavras do livro (com o seu testemunho), exorta os que lerem, e afirma que CADA UM SERÁ RETRIBUÍDO SEGUNDO SUAS OBRAS”. (2)
(2) – Apocalipse, XXII, 12.
O Versículo 3 é o testemunho do Espírito de JESUS, de posse do VERBO DIVINO, o Alfa e o Omega, o principio e o fim; seguindo-se novas exortações, e confirmando que os hipócritas, os sensuais, os feiticeiros, os homicidas, os idólatras e todos aqueles que amam e praticam a mentira ficarão fora da CIDADE, não se poderão chegar à ÁRVORE DA VIDA, mas só entrarão pelas portas da Cidade os que LAVARAM AS SUAS VESTIDURAS. (3)
(3) – Apocalipse, XXII, 13 a 15.
CONCLUSÃO
A conclusão é uma recomendação severa, uma proibição categórica àqueles que lerem o livro, ou que o reimprimirem, de alterar qualquer coisa do que nele se acha escrito.
O Apóstolo previa as mistificações sectárias, os enxertos, as mutilações que havia de sofrer a Árvore da Vida, pelos Papas e pelos Concílios, e ameaçou, severamente, àqueles que modificassem o seu Apocalipse.
GRAÇAS E BÊNÇÃOS
Conclui o extraordinário Espírito a sua obra com a simples, mas fervorosa e edificante prece: A GRAÇA DO SENHOR JESUS SEJA COM TODOS.
Assim seja, secundamos nós, e louvado seja para sempre tão Bom Senhor.
FIM