Caridade Espiritual
I. – DAS CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE A CARIDADE ESPIRITUAL
Nesta palestra vamos tratar da Caridade Espiritual, e o que é a Caridade Espiritual ? No Livro dos Espíritos na resposta à questão 886 (Qual é o verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus?) consta que o verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus, é:
“- Benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições alheias, perdão das ofensas.
Nota A.K.: O amor e a caridade são complemento da lei de justiça, porque amar ao próximo é fazer-lhe todo o bem que está ao nosso alcance e que gostaríamos que nos fosse feito a nós mesmos tal é o sentido das palavras de Jesus: Amai-vos uns aos outros como irmãos.
A caridade, segundo Jesus não está restrita à esmola. Ela abrange todas as relações que temos com nossos semelhantes, quer sejam nossos inferiores, nossos iguais ou nossos superiores. Ela nos ordena a indulgência porque nós mesmos temos necessidade dela. Proíbe-nos de humilhar o infortúnio, contrariamente ao que se pratica muito frequentemente. Se uma pessoa rica se apresenta, tem-se por ela mil atenções, mil amabilidades; se é pobre, parece não haver mais necessidade de se incomodar com ela. Quanto mais sua posição seja lastimável, mais se deve respeitar antes de aumentar seu sofrimento pela humilhação. O homem verdadeiramente bom procura realçar o inferior aos seus próprios olhos, diminuindo a distância entre ambos.”
Já no Evangelho Segundo o Espiritismo temos no Capítulo XV, intitulado “Fora da Caridade Não Há Salvação”, item 5, que a caridade e humildade é a única via de salvação, enquanto que o egoísmo e o orgulho são via de perdição. E tal princípio encontra fundamento nas palavras de Jesus:
“Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito. Esse é o maior e o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este é: Amarás teu próximo como a ti mesmo. Nesses dois mandamentos se resumem toda a Lei e os Profetas” (Mateus, 22:37-40)
E, para que não houvesse dúvidas na interpretação do amor a Deus e ao próximo, acrescentou que: não se pode verdadeiramente amar a Deus sem amar ao próximo, nem amar ao próximo sem amar a Deus porque, tudo o que se faz contra o próximo, é contra Deus que se faz.
Desta forma, tem-se que não se pode amar a Deus sem praticar a caridade para com o próximo.
Disto resulta que, todos os deveres do homem se encontram resumidos neste ensinamento moral: Fora da caridade não há salvação.
Frisamos bem a seguinte palavra: dever.
Dever com vistas a obtenção da salvação. Mas, que salvação? A salvação é a evolução, o crescimento espiritual, não basta ter fé, é preciso trabalhar para o bem, e sem segunda intenção.
No Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo XII, intitulado “Amai os Vossos Inimigos”, item 6, nos ensina que: “se não existissem homens maus na Terra, não haveria Espíritos maus ao redor da Terra.”
De forma que, somente vamos avançar, somente vamos evoluir na prática da caridade, que é a única via de salvação.
No livro Seareiros de Volta, de Autores Diversos, psicografia de Waldo Vieira, na mensagem “A Caridade e o Porvir“, de Leopoldo Cirne, pág. 149, o mesmo nos diz:
“Recordemos, assim, que o ato caritativo mais difícil de ser praticado gravita em órbita exclusivamente moral.
Muito fácil dar do que temos; muito difícil dar do que somos.”
No Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XIII (Que a Mão Esquerda Não Saiba o que Faz a Direita), item 9, intitulado “A Caridade Material e a Caridade Moral”, mensagem da irmã Rosália, Paris, 1860, nos diz:
“Quero que compreendais bem o que deve ser a caridade moral, que todos podem praticar, que materialmente nada custa, e que não obstante é a mais difícil de se por em prática.
A caridade moral consiste em vos suportardes uns aos outros, o que menos fazeis nesse mundo inferior, em que estais momentaneamente encarnados. Há um grande mérito, acreditai, em saber calar para que o outro mais tolo possa falar: isso é também uma forma de caridade. Saber fazer-se de surdo, quando uma palavra irônica escapa de uma boca habituada a caçoar; não ver o sorriso desdenhoso com que vos recebem pessoas que, muitas vezes erradamente, se julgam superiores a vós, quando na vida espírita, a única verdadeira, estão às vezes muito abaixo: eis um merecimento que não é de humildade, mas de caridade, pois não se incomodar com as faltas alheias é caridade moral.“
Emmanuel na obra psicografada por Chico Xavier: “Encontro Marcado”, no Capítulo 21, intitulado “Servir Sempre. A faculdade de auxiliar” nos ensina que:
“Toda vez que o desalento te assome ao caminho, não deixes que ele ultrapasse as linhas da sugestão distante. Ergue-te em espírito, recordando que deténs a mais alta faculdade da vida: a faculdade de auxiliar.
(. . . )
Diante das fraquezas, deserções, obstáculos, desgostos e mesmo à frente dos próprios erros continua trabalhando.
O bem extingue o mal.
Desânimo é praga que arrasa serviço.
Sabemos que o tempo é o nosso mais valioso recurso perante a vida; mas tempo, sem atividade criadora, tão somente nos revela o descaso perante as Concessões Divinas. Se não acreditas no poder do trabalho, observa a tarefa que realizas, junto de outra que ficou por fazer.”
Ou seja, diante das dificuldades da vida, não podemos desanimar, muito ao contrário, temos que trabalhar para ao bem, com vistas ao nosso progresso espiritual, pois, somente vamos corrigir nossos erros através da prática da caridade, como já dito antes, todos os deveres do homem se encontram resumidos no ensinamento moral: “Fora da Caridade Não Há Salvação”. E utilizando as palavras de Emmanuel, o bem extingue o mal.
A máxima “Fora da Caridade Não Há Salvação” é a consequência do Princípio de Igualdade Perante Deus e da Liberdade de Consciência. Tendo-se esta máxima por regra, todos os homens são irmãos, e seja qual for sua maneira de adorar o Criador eles se dão as mãos e oram uns pelos outros.
O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo III, intitulado “Há Muitas Moradas na Casa de Meu Pai”, item 12, nos ensina que os mundos superiores não são mundos exclusivos para alguns, pois Deus é imparcial para com todos os seus filhos. Ele dá a todos os mesmos direitos para chegar até lá. Faz todos partirem do mesmo ponto e a nenhum beneficia mais do que a outros. Os primeiros lugares são acessíveis a todos: compete a cada um conquistá-los pelo trabalho, alcançá-los o mais rápido possível, ou arrastar-se durante séculos e séculos nas camadas baixas da Humanidade.
Ou seja, a caridade – dever é o meio pelo qual vamos trabalhar em cumprimento de nosso processo evolutivo; é através dela que vamos resgatar nossos erros, é, pois cumprimento de dever. Jesus nos disse: “Amai-vos uns aos outros” é porque todos nos devemos uns aos outros.
No Livro dos Espíritos, na questão 703 e 943, respectivamente, temos:
“703 – Com qual objetivo Deus deu a todos os seres vivos o instinto de conservação?
– Porque todos os devem concorrer para os objetivos da Providência. É por isso que Deus lhes deu a necessidade de viver. Aliás, a vida é necessária ao aperfeiçoamento dos seres, e eles o sentem instintivamente sem se aperceberem.”
“943 – De onde vem o desgosto da vida que se apodera de certos indivíduos, sem motivos plausíveis?
– Efeito da ociosidade, da falta de fé e, frequentemente, da saciedade. Para aquele que exercita suas faculdades com um objetivo útil e segundo suas aptidões naturais, o trabalho não tem nada de árido e a vida se escoa mais rapidamente. Ele suporta as vicissitudes com tanto mais paciência e resignação, quanto age tendo em vista uma felicidade mais sólida e mais durável que o espera.”
Destaca-se, ainda que enquanto para se fazer a caridade material, é necessário recurso material, o que restringe sua prática, já que a pessoa desprovida de recursos materiais não consegue fazê-la; nenhuma limitação há, para a prática da caridade espiritual. E, é isto prática da Caridade Espiritual, que passamos expor no tópico seguinte.
II. – DA PRÁTICA DA CARIDADE ESPIRITUAL
A prática da Caridade Espiritual é para todos não importando a situação financeira, se possui ou não conhecimento espiritual, pode ser e, como já dito, deve ser praticada por todos, nas mais variadas situações da vida.
No Livro: “Jesus no Lar”, pelo Espírito Neio Lucio (psicografado por Chico Xavier), no Capítulo 20, intitulado “A caridade desconhecida”, nos conta que em conversação na casa de Pedro, sobre a prática do bem, todos falavam de que maneira poderiam expressar a compaixão sem dinheiro ? Como incentivar a beneficência sem recursos monetários ? E, neste tom, a maioria se inclinava a admitir que somente os poderosos da Terra se encontravam à altura de estimular a piedade ativa, quando o Mestre (Jesus) interferiu falando o seguinte:
“Um sincero devoto da Lei foi exortado por determinações do Céu ao exercício da beneficência; entretanto vivia em pobreza extrema e não podia, de modo algum, retirar a mínima parcela de seu salário para o socorro dos semelhantes. Em verdade, dava de si mesmo, quanto possível, em boas palavras e gestos pessoais de conforto e estímulo a quantos se achavam em sofrimento e dificuldade; porém, magoava-lhe o coração a impossibilidade de distribuir agasalho e pão com os andrajosos e famintos à margem de sua estrada.
Rodeado de filhinhos pequeninos, era escravo do lar que lhe absorvia o suor.
Reconheceu, todavia, que se lhe era vedado o esforço na caridade pública, podia perfeitamente guerrear o mal, em todas as circunstâncias de sua marcha na Terra.
Assim é que passou a extinguir, com incessante atenção, todos os pensamentos inferiores que lhe eram sugeridos; quando em contato com pessoas interessadas na maledicência, retraía-se, cortês, e, em respondendo a alguma interpelação direta, recordava essa ou aquela virtude da vítima ausente; se alguém, diante dele, dava pasto à cólera fácil, considerava a ira como enfermidade digna de tratamento e recolhia-se à quietude; insultos alheios batiam-lhe no espírito à maneira de calhaus (pedra solta) em barril de mel, porquanto, além de não reagir, prosseguia tratando o ofensor com a fraternidade habitual; a calúnia não encontrava acesso em sua alma, uma vez que toda denúncia torpe se perdia, inútil, em seu grande silêncio; reparando ameaças sobre a tranquilidade de alguém, tentava desfazer as nuvens da incompreensão, sem alarde, antes que assumissem feição tempestuosa; se alguma sentença condenatória bailava em torno do próximo, mobilizava, espontâneo, todas as possibilidades ao seu alcance na defesa delicada e imperceptível; seu zelo contra a incursão e a extensão do mal era tão fortemente minucioso que chegava a retirar detritos e pedras da via pública, para que não oferecessem perigo aos transeuntes.
Adotando essas diretrizes, chegou ao termo da jornada humana, incapaz de atender às sugestões da beneficência que o mundo conhece. Jamais pudera estender uma tigela de sopa ou ofertar uma pele de carneiro aos irmãos necessitados.
Nessa posição, a morte buscou-o ao tribunal divino, onde o servidor humilde compareceu receoso e desalentado. Temia o julgamento das autoridades celestes, quando, de improviso, foi aureolado por brilhante diadema (joia) e, porque indagasse, em lágrimas, a razão do inesperado prêmio, foi informado de que a sublime recompensa se referia à sua triunfante posição na guerra contra o mal, em que se fizera valoroso empreiteiro.”
Com este ensinamento Jesus nos diz que é para praticarmos a caridade, a fraternidade aniquilando a discórdia, e que não podemos esquecer do combate metódico e sereno contra o mal, em esforço diário.
No combate metódico e sereno contra o mal, a prática da Caridade Espiritual é ação libertadora, assim como consta no Evangelho de Mateus, 10:8, Jesus nos ensinou:
“Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios; de graça recebestes, de graça dai.”
É o que devemos praticar: estudo, cura e desobsessão: isto é o resumo da Doutrina Espírita.
Jesus, que é nosso modelo supremo, conforme nos conta o Evangelho de Lucas, 4: 16-19, dirigiu-se à sinagoga de Nazaré, em dia de sábado, e segundo o costume, levantou-se para ler, lendo o Livro do Profeta Isaías (61:1):
“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu; e enviou-me para anunciar a boa-nova aos pobres, para sarar os contritos (arrependidos) de coração, para anunciar aos cativos a redenção, aos cegos a restauração da vista, para pôr em liberdade os cativos, para publicar o ano da graça do Senhor”
E aí estão os 3 (três) pilares da Doutrina Espírita: estudo, cura e desobsessão, e que são prática de caridade espiritual.
II. I. – DO ESTUDO
Somos todos seres em evolução, enfermos, endividados, buscando a medicação que nos liberte do mal perturbador, perturbamo-nos nas aflições que buscamos, e por não sabermos recebê-las agora padecemos em desequilíbrios, queremos que nos seja feita Justiça, todavia esquecemos que fomos nós mesmos que desencadeamos a situação onde nos encontramos, esquecidos do perdão, da prática do bem, sofremos, ao invés de nós libertarmos, pelo conhecimento e prática da caridade.
Na resposta à questão n. 255 do livro “O Consolador” Emmanuel foi indagado se devemos praticar somente a caridade espiritual, ou também, a material, e em resposta esclareceu que:
“. . . o serviço de cristianização sincera das consciências constitui a edificação definitiva, para a qual os espiritistas devem voltar os olhos, antes de tudo, entendendo a vastidão e a complexidade da obra educativa que lhes compete efetuar, junto de qualquer realização humana, nas lutas de cada dia, na tarefa do amor e da verdade.”
Ou seja, antes de tudo, é preciso executar o serviço de cristianização sincera das consciências, pois isto constituirá a edificação definitiva. É o estudo agente transformador do indivíduo.
Ainda no “O Consolador” na questão n. 387 (“Qual a maior necessidade do médium?”), Emmanuel nos responde que: “A primeira necessidade do médium é evangelizar-se a si mesmo antes de se entregar às grandes tarefas doutrinárias, pois, de outro modo poderá esbarrar sempre com o fantasma do personalismo, em detrimento de sua missão.”
Já na resposta à questão n. 225 (“Como entender a salvação da alma e como consegui-la?”) do “O Consolador”, Emmanuel nos ensina que:
“Dentro das claridades espirituais que o Consolador vem espalhando nos bastidores religiosos e filosóficos do mundo, temos de traduzir o conceito de salvação por iluminação de si mesma, a caminho das mais elevadas aquisições e realizações no Infinito.
E mais, na questão n. 344 (“O ‘amor ao próximo’ deve ser levado até mesmo à sujeição, às ousadias e brutalidades das criaturas menos educadas na lição evangélica, sendo que o ofendido deve tolerá-las humildemente, sem o direito de esclarecê-las, relativamente aos seus erros?”) do “O Consolador” nos é ensinado que:
“O amor ao próximo inclui o esclarecimento fraterno, a todo tempo que se faça útil e necessário.
(. . . )
Esclarecer, é também, amar.
Toda questão reside em sabermos explicar, sem expressões de personalismo prejudicial, ainda que com a maior contribuição de energia, para que o erro ou desvio do bem não prevaleça. . . “
De forma que, temos que nos evangelizar, a nós mesmos e ao próximo, também, através do esclarecimento, do estudo, que como já dito, esclarecer, é também, amar. É, pois, prática da caridade espiritual.
Através do estudo conseguiremos entender, aceitar nossa condição atual, parando de nos queixarmos indevidamente ante tantos débitos que fomos nós mesmos que contraímos, e que nesta condição nos sintonizamos com o Planeta Terra, que é de expiação e prova, e que precisamos passar por isto (expiações e provas), as quais passaremos mais preparados, mais fortalecidos, mais esclarecidos pelo estudo.
Emanuel no “O Consolador” na resposta à questão n. 229 (“Como entender o trabalho de purificação nos ambientes do mundo?”) nos ensina que:
” – A purificação na Terra ainda é qual o lírio alvo, nascendo do lodo das amarguras e das paixões.
Todos os Espíritos encarnados, porém, devem considerar que se encontram no planeta como em poderoso cadinho de acrisolamento e regeneração, sendo indispensável cultivar a flor da iluminação íntima, na angústia da vida humana, no círculo da família ou da comunidade social, através da maior severidade para consigo mesmo e da maior tolerância com os outros, fazendo cada qual da sua existência, um apostolado de educação onde o maior beneficiado seja o próprio espírito.”
E, ainda, no “O Consolador” na pergunta e resposta à questão n. 230 temos que:
“230 – Como iniciar o trabalho de iluminação da nossa própria alma?
– Esse esforço individual deve começar com o autodomìnio, com a disciplina dos sentimentos egoísticos e inferiores, com o trabalho silencioso da criatura por exterminar as próprias paixões.
Nesse particular, não podemos prescindir do conhecimento adquirido por outras almas que nos precederam nas lutas da Terra, com as suas experiências santificantes – água pura de consolação e de esperança, que poderemos beber nas páginas de suas memórias ou nos testemunhos de sacrifício que deixaram no mundo.
Todavia, o conhecimento é a porta amiga que nos conduzirá aos raciocínios mais puros, porquanto na reforma definitiva de nosso íntimo é indispensável o golpe da ação própria, no sentido de modelarmos o nosso santuário interior, na sagrada iluminação da vida.”
Disto concluímos que o estudo é, também, dever, na esfera da caridade espiritual, pois apenas nos edificando é que venceremos o egoísmo, o orgulho, a vaidade, os medos, as vacilações, todas estas nossas sombras, que nos levam a prática de atos os quais acrescem nossos débitos irrefletidos. Diz-se irrefletidos, pois, uma vez que estudamos, passamos a refletir e com isto, crescerá em nós a vontade mudar, de transformar, deixando para trás o homem velho.
André Luiz, no Livro “AÇÃO E REAÇÃO”, Cap. 19 intitulado “Sanções e Auxílios”, pág. 319, nos diz:
“. . . a necessária renovação mental nos padrões do bem, destacando a necessidade do estudo, para a assimilação do conhecimento superior, e do serviço ao próximo, para a colheita de simpatia, sem os quais todos os caminhos da evolução surgem complicados e difíceis de ser transitados.”
Ou seja, o estudo não basta (como já dito, é apenas o início), é preciso realizar os atos práticos (de caridade espiritual): CURA e DESOBSESSÃO, pois, o estudo prepara, todavia, somente a aplicação sincera dos ensinamentos de Cristo pode proporcionar a caminhada ao cumprimento de nossos deveres.
II. II. – DA CURA
No Livro: “Cartas e Crônicas”, do Espírito Irmão X, psicografado por Chico Xavier, no Capítulo 7 intitulado “Consciência Espírita” (pág. 29-32) nos narra que Allan Kardec quando reunia os textos de que nasceria o Livro dos Espíritos recolheu-se ao leito e viu-se fora do corpo, em singular desdobramento. Junto de si identificou um enviado dos planos sublimes que o transportou, de chofre, a nevoenta região, onde gemiam milhares de entidades em sofrimento estarrecedor. Soluços de aflição casavam-se a gritos de cólera; blasfêmias seguiam-se a gargalhadas de loucura. Atônito Kardec perguntou:
“- Jazem aqui os crucificadores de Jesus?
– Nenhum deles – informou o guia solícito. – Conquanto responsáveis desconheciam, na essência, o mal que praticavam. O próprio Mestre auxiliou-os a se desembaraçarem do remorso, conseguindo-lhes abençoadas reencarnações em que se resgataram perante a Lei.
– E os imperadores romanos ? Decerto padecerão nestes sítios aqueles mesmos suplícios que impuseram à humanidade. . .
– Nada disso. Homens da categoria de Tibério ou Calígula não possuíam a mínima noção de espiritualidade. Alguns deles depois de estágios regenerativos na Terra, já se elevaram a esferas superiores, enquanto outros se demoram, até hoje, internadosno campo físico,à beira da remissão.
– Acaso, andarão presos nestes vales sombrios – tornou o visitante – os algozes dos cristãos, nos séculos primitivos do Evangelho?
– De nenhum modo – replicou o lúcido acompanhante – os carrascos dos seguidores de Jesus, nos dias apostólicos, eram homens e mulheres quase selvagens, apesar das tintas de civilização que ostentavam . . . Todos foram encaminhados à reencarnação, para adquirirem instrução e entendimento
O Codificador do Espiritismo pensou nos conquistadores da Antiguidade, Átila, Aníbal, Alarico I, Gengis Khan . . . Antes todavia, que enunciasse nova pergunta, o mensageiro acrescentou, respondendo-lhe à consulta mental:
– Não vagueiam, por aqui, os guerreiros que recordas . . . Eles nada sabiam das realidades do espírito, e, por isso, recolheram piedoso amparo, dirigidos para o renascimento carnal, entrando em lides expiatórias, conforme os débitos contraídos . . .
– Então, dize-me – rogou Kardec, emocionado – que sofredores são estes, cujos gemidos e imprecações (imprecação: Ação ou resultado de imprecar, de pedir a Deus, ou a um ser superior, que envie bênçãos ou maldições sobre alguém) me cortam a alma?
E o Orientador esclareceu imperturbável:
– Temos junto de nós os que estavam no mundo plenamente educados quanto aos imperativos do bem e da verdade, e que fugiram deliberadamente da verdade e do bem, especialmente os cristãos infiéis de todas as épocas, perfeitos conhecedores da lição e do exemplo do Cristo e que se entregaram ao mal por livre vontade . . . Para eles, um novo berço na Terra é sempre mais difícil. . .
Chocado com a inesperada observação, Kardec regressou ao corpo e, de imediato, levantou-se e escreveu a pergunta que apresentaria, na noite próxima, ao exame dos mentores da obra em andamento e que figura como a questão 642 de O Livro dos Espíritos.”
Na questão 642 de “O Livro dos Espíritos” tem-se a seguinte indagação:
“642 – Bastará não fazer o mal para ser agradável a Deus e assegurar sua posição futura?
– Não, é preciso fazer o bem no limite de suas forças, porque cada um responderá por todo o mal que resulte do bem que não haja feito.”
Na resposta à questão 975 (“Os Espíritos inferiores compreendem a felicidade do justo?”) de “O Livro dos Espíritos” tem-se:
“( . . . ) o Espírito sofre por todo o mal que faz, ou do qual foi a causa voluntária, por todo o bem que poderia fazer e que não fez, e por todo o mal que resulta do bem que ele não fez. (. . .)”
Ainda no Livro dos Espíritos, a questão 893:
“893 – Qual a mais meritória de todas as virtudes?
– Todas as virtudes têm seu mérito, porque todas são sinais de progresso no caminho do bem. Há virtude toda vez que há resistência voluntária ao arrastamento das más tendências. Mas o sublime na virtude consiste no sacrifício do interesse pessoal para o bem do próximo, sem oculta intenção. A mais meritória é aquela que está fundada sobre a mais desinteressada caridade.”
E, neste tópico quanto à cura, importa dizer que nossos corpos físicos são instrumentos para aquisição de experiência de nossos Espíritos na trajetória evolutiva, rumo à perfeição. Situados num tempo, espaço e grupo de espíritos de distintos níveis evolutivos somos compelidos à convivência com irmãos em Deus, em circunstâncias planejadas pelo Plano Espiritual para que se cumpram os nossos resgates, reajustes, expiações, provas, com recursos que nos objetivam a educação e a reabilitação; sendo, a enfermidade um desses recursos.
Assim, é lícito dizer que há doenças que procuramos e doenças que nos procuram. Ou seja, as que procuramos podemos nos libertar, corrigindo nosso modo de viver, nossos hábitos e vícios. Já as que nos estão destinadas são de mais difícil superação, efeitos que são de equívocos passados.
Todavia, não obstante as considerações acima, Jesus nos deixou o exemplo de numerosas curas que efetuou, Ele andava por cidades e aldeias curando toda doença e toda enfermidade.
No livro Evolução para o Terceiro Milênio do autor Carlos Toledo Rizzini, no Capítulo 8: “Noção de Moral”, item n. 25: “A obrigação Moral”, pág. 341, nos ensina que:
“Jesus, o Cristo, o Mestre da Humanidade, cuja evolução dirige, introduziu um tipo próprio de teoria da obrigação com a sua ética do amor. Afirma esta que só há um imperativo moral realmente fundamental – amar – do qual todos os princípios derivam.”
Disto decorre que, para que possamos promover as curas, assim, como Jesus nos ensinou necessário estarmos movidos pelo amor, pela caridade, pelo desinteresse, sem ocultas intenções, é preciso, pois, buscar a prática dos atos com moral.
No livro Evolução para o Terceiro Milênio do autor Carlos Toledo Rizzini, Capítulo 9: “Introdução ao Conhecimento da Doutrina Ético-Religiosa do Evangelho”, Item n. 32: “Os Poderes de Jesus“, pág. 383-384, nos ensina que:
“A mais espetacular manifestação das faculdades espirituais do Cristo foram as numerosíssimas curas que efetuou, instantaneamente, às vezes à distância do doente, sem sequer vê-lo. Informa Mateus (4:23-24 e 9:35) que Ele andava por cidades e aldeias ‘curando toda doença e toda enfermidade’. Tão notório tornou-se o fato entre o povo sofredor que ‘lhe rogavam que os deixasse tocar sequer à orla da sua túnica – e todos os que o tocavam ficavam sãos” (Mateus 14:36 e 9:21-22).
Não havia nessas curas qualquer privilégio (além do imenso que foi ver o Mestre em pessoa) que arranhasse a Justiça divina. Conforme fizemos notar páginas atrás, Jesus sempre associou as curas à fé que impregnava a mente dos favorecidos. Já mencionamos uma localidade onde Ele nada operou ‘por causa da incredulidade de seus naturais’ (Mateus 13:58). Ressaltando a fé dos doentes beneficiados, Jesus deixava implícito o estado de receptividade gerado pela confiança no poder superior. Na ausência de tal estado – não haveria cura: não se pode dar a quem não quer receber. Quanto à Lei Divina, o fato de os enfermos exibirem tanta fé Nele era índice de certa elevação espiritual; portanto, estariam em condições de serem libertados das penas derivadas dos próprios débitos. Ao demais, certamente alguns deles eram missionários do alto e nada deviam à Lei. No referente aos muitos obsidiados, que não podiam falar coerentemente, é lícito supor que o Mestre avaliava desde logo suas posições frente à Justiça Divina. A ação terapêutica fulminante procedia do magnetismo do espírito puro dirigido por uma vontade perfeitamente identificada com a vontade divina e, por isso, poderosíssima.”
No Evangelho de Lucas (17:11-19) nos conta sobre o “Leproso Agradecido“:
“Sempre em caminho a Jerusalém, Jesus passava pelos confins da Samaria e da Galiléia. Ao entrar numa aldeia, vieram-lhe ao encontro dez leprosos, que pararam ao longe e elevaram a voz, clamando:
Jesus, Mestre, tem compaixão de nós.
Jesus viu-os e disse-lhes:
Ide, mostrai-vos ao sacerdote. E, quando eles iam andando, ficaram curados.
Um deles, vendo-se curado, voltou, glorificando a Deus em alta voz. Prostrou-se aos pés de Jesus e lhe agradecia. E era um samaritano. Jesus lhe disse: Não ficaram curados todos os dez? Onde estão os outros nove? Não se achou senão este estrangeiro que voltasse para agradecer a Deus?! E acrescentou: levanta-te e vai, tua fé te salvou”.
Por que disse Jesus ao samaritano: “a tua fé te salvou?” Porque a fé do samaritano em tudo era diferente da dos judeus, ou seja, era despida de fanatismo e não se restringia aos moldes estreitos daquela fé convencional, onde a forma era mais valorizada do que o fundo.
Neste sentido é a explicação apresentada no livro: “A GÊNESE” de Allan Kardec, no Cap. XV intitulado “Os Milagres do Evangelho”, no item 17, nos ensina que:
“Jesus, curando indistintamente os samaritanos e os judeus, deu ao mesmo tempo uma lição e um exemplo de tolerância; e fazendo ressaltar que o samaritano foi o único que voltara para dar graças a Deus, mostrou que nele havia mais da verdadeira fé e mais reconhecimento, que naqueles que se diziam ortodoxos. Acrescentando: ‘Vossa fé vos salvou’, fez ver que Deus olha o fundo do coração e não a forma exterior da adoração.”
Jesus curou os dez leprosos, e enquanto os nove judeus prosseguiram maquinalmente em demanda dos sacerdotes para cumprirem o preceito ritualístico de sua religião, só o samaritano retrocedeu em busca do seu benfeitor a cujos pés se prostrou num gesto sublime de humildade e de profundo reconhecimento. Sua alma sentiu o bem, experimentou as emoções suaves e doces que o bem gera. Assim, quando o “doente”, o “necessitado” tem capacidade moral para sentir o benefício que lhe é concedido, fica em ligação com o bem, e nisto consiste a conquista, ou seja, Jesus curava o corpo, visando redimir o Espírito.
André Luiz, no Livro “AÇÃO E REAÇÃO”, Cap. 19 intitulado “Sanções e Auxílios“, pág. 319/330, nos chama a atenção para observarmos que existe correspondência entre nossos estados espirituais e as formas (corpo) dos quais nos servimos quando nós reencarnamos, de forma que trazemos conosco os remanescentes de nossas faltas, que nos partilham o renascimento na máquina fisiológica como raízes congeniais dos males que nós mesmos plantamos. Em diálogo travado entre o Instrutor Druso, André Luiz e Hilário (ocorrido na “Mansão Paz” que é escola de reajuste, situada nas regiões inferiores, e que se dedica a receber espíritos infelizes ou enfermos, decididos a trabalhar pela própria regeneração, e que depois esses Espíritos se elevam a Colônias de aprimoramento ou retornam à esfera dos homens para a reencarnação retificadora, escola esta na qual Druso era o diretor), in verbis:
“É indispensável compreendamos que todo mal por nós praticado conscientemente expressa, de algum modo, lesão em nossa consciência e toda lesão dessa espécie determina distúrbio ou mutilação no organismo que nos exterioriza o modo de ser. Em todos os planos do Universo, somos espírito e manifestação, pensamento e forma. Eis o motivo por que, no mundo, a Medicina há de considerar o doente como um todo psicossomático, se quiser realmente investir-se da arte de curar.
( . . . )
A dor é ingrediente dos mais importantes na economia da vida em expansão. O ferro sob o malho, a semente na cova, o animal em sacrifício, tanto quanto a criança chorando, irresponsável ou semiconsciente, para desenvolver os próprios órgãos, sofrem a dor-evolução, que atua de fora para dentro, aprimorando o ser, sem a qual não existiria progresso.
Em nosso estudo, porém, analisamos a dor-expiação, que vem de dentro para fora, marcando a criatura no caminho dos séculos, detendo-a em complicados labirintos de aflição, para regenerá-la com a Justiça. É muito diferente . . .
– Curioso! – exclamou Hilário – não havia pensado ainda em semelhantes conceitos . . . Dor-evolução, dor-expiação . . .
ilário – não havia pensado ainda em semelhantes conceitos . . . ….sss
– Como temos ainda dor-auxílio – atalhou Druso, benevolente.
– Como assim?
E percebendo a surpresa que se nos estampava no rosto, o orientador aduziu:
– Em muitas ocasiões, no decurso da luta humana, nossa alma adquire compromissos vultosos nesse ou naquele sentido. Habitualmente, logramos vantagens em determinados setores da experiência, perdendo em outros. Às vezes, interessamo-nos vivamente pela sublimação (transformação para melhor) do próximo, olvidando a melhoria de nós mesmos. É assim que, pela intercessão de amigos devotados à nossa felicidade e à nossa vitória, recebemos a benção de prolongadas e dolorosas enfermidades no envoltório físico, seja para evitar-nos a queda no abismo da criminalidade, seja, mais frequentemente, para serviços preparatório da desencarnação, a fim de que não sejamos colhidos por surpresas arrasadoras, na transição da morte. O enfarte, a trombose, a hemiplegia, o câncer penosamente suportado, a senilidade prematura e outras calamidades da vida orgânica constituem, por vezes, dores-auxílio, para que a alma se recupere de certos enganos em que haja incorrido na existência do corpo denso, habilitando-se, através de longas reflexões e benéficas, disciplinas, para o ingresso respeitável na Vida Espiritual.”
Ou seja, em relação à CURA aos enfermos temos que considerar que o homem ressurge no equipamento físico trazendo consigo as próprias faltas a se lhe refletirem na veste carnal, com disposição a eclosão de determinadas moléstias, capazes de conduzi-lo aos mais graves padecimentos, tudo de acordo com os débitos que haja contraído.
Mas – e é nesse ponto que queremos fazer uma correlação com o tema tratado (Caridade Espiritual) – o homem traz consigo, também, as faculdades de criar no próprio corpo orgânico todas as espécies de anticorpos, imunizando-se contra as exigências da carne; faculdades estas que pode ampliar consideravelmente pela oração, pelas disciplinas retificadoras a que se afeiçoe, pela resistência mental ou pelo serviço ao próximo com que atrai preciosos recursos em seu favor. De forma que o bem (a caridade) é o verdadeiro antídoto contra o mal.
II. III. – DA DESOBSESSÃO
Cada nova reencarnação é como um estágio de recapitulação das nossas experiências anteriores (já que somos herança de nós mesmos) e as nossas possibilidades de hoje (e dentre tais possibilidades, a que nos referimos neste estudo é a de praticar a Caridade Espiritual) nos vinculam às sombras de ontem, exigindo-nos trabalho infatigável no bem, para a construção do Amanhã. E Jesus disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vai ao Pai, senão por Mim” (João: 14,6). E Jesus não brilha apenas pelo ensino sublimado, Jesus resplandece na demonstração, na prática.
Antes de falarmos da desobsessão, como forma de prática da Caridade Espiritual, necessário frisar que nossa mente é uma entidade colocada entre forças inferiores e superiores, com objetivos de aperfeiçoamento. Ou seja, o espírito encarnado sofre influenciação inferior e recebe os estímulos superiores, cabendo a cada um manejar a própria vontade, a fim de escolher a companhia que prefere, para lançar-se no caminho que deseja. De forma que, cada homem se sentará no trono que levantou ou se projetará ao fundo do abismo que preferiu. Cada mente vive na companhia que elege.
No Evangelho de João 12:35 disse Jesus:
“Andai enquanto tendes luz, para que as trevas não vos apanhem; pois quem anda nas trevas não sabe para onde vai.”
O homem com seus pensamentos e atitudes, palavras e atos cria, no íntimo a verdadeira forma espiritual a que se acolhe; assim, cada um deverá a si mesmo a ascensão sublime ou a queda deplorável.
O Evangelho Segundo o Espiritismo, em seu Capítulo XXVIII, intitulado “Coletânea de Preces Espíritas”, item 81 (“Pelos Obsedados”), nos ensina que:
“A obsessão é a ação persistente de um mau Espírito sobre uma pessoa. Apresenta características muito diversas, desde a simples influência de ordem moral, sem sinais exteriores perceptíveis, até a completa perturbação do organismo e das faculdades mentais. Oblitera (destrói) todas as faculdades mediúnicas.
( . . .)
A obsessão, como as doenças, e como todas as atribulações da vida, deve ser considerada, pois, como uma prova ou uma expiação, e aceita nessa condição.
Assim como as doenças são o resultado das imperfeições físicas, que tornam o corpo acessível às influências perniciosas do exterior, a obsessão é sempre o resultado de uma imperfeição moral, que dá acesso a um mau Espírito. A uma causa física, opõe-se uma força física; a uma causa moral, é necessário opor uma força moral. Para preservar das doenças, fortifica-se o corpo; para garantir contra a obsessão é necessário fortificar a alma. Disso resulta que o obsedado precisa trabalhar pela sua própria melhoria, o que na maioria das vezes é suficiente para o livrar do obsessor, sem socorrer-se de outras pessoas. Esse socorro se torna necessário quando a obsessão degenera em subjugação e em possessão, porque o paciente perde, por vezes, a sua vontade própria e o seu livre arbítrio.
A obsessão é quase sempre o resultado de uma vingança exercida por um Espírito e que muitas vezes tem sua origem nas relações que o obsedado teve com ele em uma existência anterior. (Cap. X, n. 6; e XII, n. 5 e 6).
Nos casos de obsessão grave, o obsedado está como que envolvido e impregnado por um mau fluido que neutraliza a ação dos fluidos salutares e os repele. É desse fluido que é preciso livrá-lo; mas um mau fluido não pode ser repelido por um igualmente mau. Por uma ação idêntica à do médium curador nos casos de doenças, é preciso expulsar o fluido mau com a ajuda de um fluido bom, que produz de certo modo o efeito semelhante ao de um reagente. Essa é a ação mecânica, mas não é suficiente; é preciso também, e sobretudo, agir sobre o ser (Espírito) inteligente, com o qual é preciso falar com autoridade, e essa autoridade só é dada pela superioridade moral; quanto maior ela for, maior será a autoridade.
Ainda não é tudo. Para assegurar a libertação, é preciso levar o Espírito perverso a renunciar às suas más intenções; é preciso fazer nele nascer o arrependimento e o desejo do bem, com a ajuda de instruções habilmente dirigidas, nas evocações particulares feitas visando à sua educação moral. Então, pode-se ter a dupla satisfação de libertar um encarnado e de converter um Espírito imperfeito.
( . . . )
Em todos os casos de obsessão a prece é o mais poderoso auxiliar da ação contra o Espírito obsessor.”
Como nos ensina o Evangelho Segundo o Espiritismo, quando o obsedado está impregnado por mau fluído, somente através da força de um fluído bom é que o mesmo será expulso. O fluído bom funciona como um reagente; e isto não é tudo; é necessário falar com autoridade, que só é conferida pela superioridade moral.
Aqui importante lembrar do Livro dos Espíritos, a questão 629 (conceito de moral) e a questão 630 (distinção do bem e do mal):
“629 – Que definição se pode dar da moral?
– A moral é a regra para se conduzir bem, quer dizer, a distinção entre o bem e o mal. Ela se funda sobre a observação da lei de Deus. O homem se conduz bem quando faz tudo em vista e para o bem de todos, porque, então, ele observa a lei de Deus.”
“630 – Como se pode distinguir o bem do mal?
– O bem é tudo aquilo que está conforme a lei de Deus, e o mal tudo aquilo que dela se afasta. Assim, fazer o bem é se conformar com a lei de Deus, e fazer o mal é infringir essa lei.”
De forma que, só teremos superioridade moral em face ao obsessor se estivermos agindo com vistas a prática da caridade, sem segunda intenção, quando estivermos amando a Deus e ao próximo como a nós mesmos. Ou seja, distinguindo o bem do mal, observando a Lei de Deus e pensando na maioria.
No Evangelho de Lucas, 4:33, e também, em Marcos 1:21-28, nos narram a cura de um possesso, o espírito mau reconheceu Jesus enquanto os chefes da sinagoga não o reconheceram:
“Entraram em Cafarnaum e, logo no sábado, indo ele à sinagoga, ali ensinava. E maravilharam-se da sua doutrina, porque os ensinava como tendo autoridade, e não como os escribas. E estava na sinagoga deles um homem com um espírito imundo, o qual exclamou, dizendo: Ah! que temos contigo, Jesus Nazareno? Vieste destruir-nos? Bem sei quem és: o Santo de Deus. E repreendeu-o Jesus, dizendo: Cala-te, e sai dele. Então o espírito imundo, convulsionando-o, e clamando com grande voz, saiu dele. E todos se admiraram, a ponto de perguntarem entre si, dizendo: Que é isto? Que nova doutrina é esta? Pois com autoridade ordena aos espíritos imundos, e eles lhe obedecem! E logo correu a sua fama por toda a província da Galiléia.” (Marcos, 1:21-28)
Jesus ao expulsar o demônio, nos ensinou a prática da desobsessão, uma das formas de caridade espiritual.
E o Evangelho de Mateus 12:43-45 nos ensina:
“E, quando o espírito imundo tem saído do homem, anda por lugares áridos, buscando repouso, e não o encontra. Então diz: Voltarei para a minha casa, de onde saí. E, voltando, acha-a desocupada, varrida e adornada. Então vai, e leva consigo outros sete espíritos piores do que ele e, entrando, habitam ali; e são os últimos atos desse homem piores do que os primeiros. Assim acontecerá também a esta geração má.”
É preciso que nos conscientizemos que para romper os laços que prendem o obsessor e obsedado, é necessário que o obsedado se torne mais forte do que o obsessor. E a maneira de buscar tal libertação está no “orai e vigiai” (Mateus: 26:41: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação”), que Jesus Cristo nos ensinou.
Pois, orando, obtemos forças para resistir à tentação de nos rendermos às influências inferiores; e vigiando, nos policiaremos preventivamente, para evitarmos chegar ao estado de dependência. Mas, isto não basta, é preciso manter-se a mente ocupada com assuntos de conteúdo moral e intelectual, através da leitura, e, também, nos dedicarmo-nos à prática do bem em todas as suas formas e expressões, o que além de desviar nosso pensamento para estados vibratórios mais elevados, também nos favorecerá com a assistência dos bons Espíritos que, sempre atentos às nossas necessidades, procurarão estimular-nos os esforços, amparando-nos em momentos de vacilação e dúvida.
À propósito do assunto, tem-se as seguintes questões e correlatas respostas descritas no Livro dos Espíritos, a saber:
“459 – Os Espíritos influem sobre nossos pensamentos e ações?
– A esse respeito sua influência é maior do que credes, porque, frequentemente, são eles que vos dirigem.
466 – Por que Deus permite que Espíritos nos excitem ao mal?
– Os Espíritos imperfeitos são instrumentos que servem para pôr à prova a fé e a constância dos homens na prática do bem. Tu, sendo espírito, deves progredir na ciência do infinito, e é por isso passas pelas provas do mal para alcançar o bem. Nossa missão é de colocar-te no bom caminho e, quando as más influências agem sobre ti, é que as atrais pelo desejo do mal, porque os Espíritos inferiores vêm em tua ajuda no mal, quando tens vontade de praticá-lo. Eles não podem te ajudar no mal senão quando queres o mal. Se és propenso ao homicídio, terás uma multidão de Espíritos que manterão esse pensamento em ti; mas, também, terás outros que se esforçarão em te influenciar no bem, o que faz te restabelecer a balança e te deixa o comando.
Nota de A. K.: É assim que Deus deixa à nossa consciência a escolha do caminho que devemos seguir, e a liberdade de ceder a uma ou a outra das influências contrárias que se exercem sobre nós.
467 – Pode-se se libertar da influência dos Espíritos que nos solicitam ao mal?
– Sim, porque eles não se ligam senão aos que os solicitam por seus desejos ou os atraem por seus pensamentos.
645 – Quando o homem está, de alguma forma, mergulhado na atmosfera do vício, o mal não se torna para ele um arrastamento quase irresistível ?
– Arrastamento, sim; irresistível, não, porque no meio dessa atmosfera de vício, encontrarás, algumas vezes, grandes virtudes. Esses são Espíritos que tiveram força para resistir e que tiveram, ao mesmo tempo, a missão de exercer uma boa influência sobre os seus semelhantes.”
Ou seja, através da Doutrina Espírita entendemos que o homem dotado de seu livre-arbítrio, se faz o mal cedendo a uma sugestão má exterior, possui toda a responsabilidade nisto, pois o homem possui o poder de resistir. De forma que, toda má influência que uma pessoa sofre, a mesma participa, pois ela atua junto.
Noutros termos, não há arrastamento irresistível, visto que o homem pode sempre fechar os ouvidos à voz oculta que o solicita o mal em seu foro íntimo, como pode fechar os ouvidos à voz material de quem lhe fala. O Homem pode por sua própria vontade pedir a Deus força necessária e pedir a ajuda, para isso, aos bons Espíritos.
Enfim, o homem pode defender-se das sugestões dos Espíritos inferiores, quando não mais sintonizar com o mal; por isso deve buscar no Evangelho de Jesus a luz do caminho. Nós chamamos pelos nossos desejos e pelos nossos atos os Espíritos correspondentes, que pensam e têm desejos idênticos aos nossos. Este pode ser traduzido como o “Pedi e obtereis”. Quando passarmos a desejar o bem, a praticar o bem, certamente que teremos a companhia dos Espíritos que se afinam com os nossos propósitos. Em suma, somos influenciados por aqueles com quem nos ligamos.
André Luiz no Livro “LIBERTAÇÃO”, psicografado por Chico Xavier, cap. 12, intitulado “Missão de Amor”, pág. 204, disse:
“Em todos os lugares, um grande amor pode socorrer o amor menor, dilatando-lhe as fronteiras e impelindo-o para o Alto, e em toda parte, a grande fé, vitoriosa e sublime, pode auxiliar a fé pequena e vacilante, arrebatando-a às culminâncias da vida.”
Ainda, no Livro dos Espíritos:
“476 – Não pode acontecer que a fascinação exercida pelo mau Espírito seja tal que a pessoa subjugada não a perceba? Então, uma terceira pessoa pode fazer cessar a sujeição? Nesse caso, que condição deve ela empregar?
– Se é um homem de bem, sua vontade pode ajudar, apelando pelo concurso dos bons Espíritos, porque quanto mais se é um homem de bem, mais se tem poder sobre os Espíritos imperfeitos para os afastar, e sobre os Espíritos bons, para os atrair. Entretanto, seria incapaz se aquele que está subjugado não consentir nisso. Existem pessoas que se alegram em uma dependência que agrada seus gostos e seus desejos. Em todos os casos, aquele cujo coração não é puro, não pode ter nenhuma influência; os bons Espíritos o abandonam e os maus não o temem.“
Aqui na resposta a esta questão o Livro dos Espíritos nos esclarece que quando é um “homem de bem, sua vontade pode ajudar, apelando pelo concurso dos bons Espíritos, porque quanto mais se é um homem de bem, mais se tem poder sobre os Espíritos imperfeitos para os afastar, e sobre os Espíritos bons, para os atrair.” Aqui neste ponto do homem de bem, devemos entender que é aquele que busca seu aperfeiçoamento moral (L .E. n. 629: conceito de moral: distinção entre o bem e o mal, observância da lei de Deus e pensar na maioria)
De forma que, o homem que assim age tem força sobre os Espíritos ignorantes, pois dotado de força moral, caso contrário, os Espíritos inferiores não o respeitam, nem atendem a sua argumentação e, os Espíritos benfeitores não atendem a seus chamados, por não estarem devidamente seguros no que falam, por não viverem o que ensinam. Portanto, o aperfeiçoamento moral é o que vai constituir a força necessária. Não podemos, ainda, esquecer que o obsedado para ficar livre de entidades malfazejas definitivamente, deve se moralizar, empenhar-se para reformular idéias, consertar pensamentos e mudar de vida. A vida é sintonia; somente colhemos o que plantamos, em pensamentos, palavras e atos. É o orar e vigiar.
No Livro: “Loucura e Obsessão”, do Espírito Manoel de Miranda, psicografado por Divaldo Pereira Franco, no Cap. 23, intitulado “Expiação e reparação”, pág. 254/256, nos ensina que:
“O bem que se faz sempre diminui o mal que se fez, conforme a contabilidade do Amor. Serão, porém, indispensáveis os valores que devem ser adquiridos com empenho, de modo a facultar-lhe a sintonia correta com os bons Espíritos, que o deverão conduzir.
(. . . )
É da Lei que, onde esteja o devedor, aí se apresentem a dívida e o cobrador . . .
(. . . ) preencha as suas horas com trabalhos proveitosos, queimando os excessos gerados pelo organismo. Receitam-se muito a ginástica, os desportos, na Terra, e com razão. Sem desprestígio para essa terapêutica desalienante, compensadora, que desenvolve os músculos, que os relaxa, que acalma a mente, entre nós, em face da dor que grassa, alucinada, quanta ginástica se poderá fazer visitando os enfermos, socorrendo os necessitados, aplicando passes, ou bioenergia, como se modernizou o labor, enfim, a caridade é um esporte da alma, pouco utilizado pelos candidatos à musculação moral e inteireza espiritual. As horas ociosas são anestésico para a dignidade e brechas morais contra o equilíbrio. Preenchê-las bem é procedimento de sabedoria, gerador da saúde mental.
Outrossim, sugiro-lhe cultivar pensamentos edificantes e não usar palavras vãs, pois que estas corrompem o coração, na mente se inicia o processo perturbador, que se manifesta pelas palavras e domina a realidade do ser. A queixa, a lamentação, a autopiedade são lixo mental que deve ser atirado fora, antes que intoxique aquele que o conserva como resíduo danoso. As conversações vulgares, salpicadas de erotismo, de permissividade, produzem clima de promiscuidade emocional com os espíritos perniciosos que se locupletam na vampirização e no comércio ignominioso com aqueles que lhe fazem parceria. O tratamento, portanto, das obsessões torna-se muito difícil, porque muito depende do alienado. Não lhe basta o afastamento do perseguidor, que o liberta, mas sim, a reeducação pessoal, que lhe faculta a autolibertação, esta, sem dúvida, muito mais difícil.
De certo modo, acostumado à preguiça mental e à aparente infelicidade, o homem não reage o suficiente para superar a situação, teimando em cultivar as ideias deprimentes a que se afeiçoara. Toda renovação exige esforço, sacrifício e disciplina da vontade, porquanto é mais agradável ceder, acomodar-se, para logo depois queixar-se.”
E, finalizando este tópico, trazemos a questão 479 do Livro dos Espíritos:
“479 – A prece é um meio eficaz de curar a obsessão?
– A prece é um poderoso socorro em tudo; mas, crede bem, não basta murmurar algumas palavras para obter o que se deseja. Deus assiste aqueles que agem e não aqueles que se limitam a pedir. É necessário, pois, que o obsediado faça, a seu turno, aquilo que é necessário para destruir, em si mesmo, a causa que atrais os maus Espíritos.”
Ou seja, através da prece podemos curar a obsessão, isto é, pratica de caridade espiritual. Mas, não é com o simples balbuciar que afastamos os Espíritos malfeitores. É preciso que reformemos os sentimentos, que mudemos de idéias e de comportamento, para sairmos da sintonia dos Espíritos inferiores.
Aquele que ora não pode nem deve esquecer o exercício no bem, o aperfeiçoamento moral. E as pessoas obsediadas não devem se limitar a pedir a Deus que as livre do mal, mas que saiam da faixa desse mal. Pedir é bom, mas mudar a direção da vida para o bem é melhor, é a parte que o obsediado está fazendo em seu próprio benefício. A prece é um poderoso auxilio para afastar más ideias, no entanto, é necessário que junto a ela esteja a nossa boa vontade de servir, de ajudar, de melhorar e de amar do modo ensinado por Jesus (amor a Deus e ao próximo).
III. – DA PRÁTICA DA CARIDADE ESPIRITUAL COMO CUMPRIMENTO DA LEI DE JUSTIÇA, DE AMOR E DE CARIDADE
Já dissemos no início desta, que no Livro dos Espíritos, na questão 886 consta a seguinte pergunta é: “Qual é o verdadeiro sentido da palavra caridade como a entendia Jesus?” E a resposta é: “Benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições alheias, perdão das ofensas.”
Assim, o amor e a caridade são o complemento da lei de justiça, pois amar o próximo é fazer-lhe todo o bem que nos seja possível e que desejamos nos seja feito. Este é o sentido das palavras de Jesus: Amai-vos uns aos outros como irmãos.
No Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVII (Sede Perfeitos), item n.1 : “Caracteres da Perfeição”, nos ensina:
“1. Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus. Porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos. Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim? Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus (Mateus, 5:44-48).
2. Desde que Deus possui a perfeição infinita em todas as coisas, está máxima: “Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus”, tomada ao pé da letra, faria supor a possibilidade de atingirmos a perfeição absoluta. Se fosse dado à criatura ser tão perfeita quanto ao seu próprio Criador, ela o igualaria, o que é inadmissível. Mas os homens aos quais Jesus se dirigia não teriam compreendido essa questão. Ele se limitou, portanto, a lhes apresentar um modelo e dizer que se esforçassem para atingi-lo.
Devemos, pois, entender, por essas palavras, a perfeição relativa de que a humanidade é suscetível, e que mais pode aproximá-la da Divindade. Mas em que consiste essa perfeição? Jesus mesmo o disse “Amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos têm ódio, e orai pelos que vos perseguem e caluniam”. Com isso, mostra que a essência da perfeição é a caridade, na sua mais ampla acepção, porque ela implica a prática de todas as outras virtudes.
Com efeito, se observarmos o resultado de todos os vícios, e mesmo dos simples defeitos, reconheceremos que não há nenhum que não altere mais ou menos o sentimento de caridade, porque todos nascem do egoísmo e do orgulho, que são sua negação. Porque tudo o que excita exageradamente o sentimento de personalidade destrói ou quando nada, enfraquece os princípios da verdadeira caridade, que são: a benevolência, a indulgência, o sacrifício e o devotamento. O amor do próximo, estendido até o amor dos inimigos, não podendo aliar-se com nenhum defeito contrário à caridade, é sempre, por isso mesmo, o indício de uma superioridade moral maior ou menor. Do que resulta que o grau de perfeição está na razão direta da extensão do amor ao próximo. Eis porque Jesus, depois de haver dado a seus discípulos as regras da caridade, no que ela tem de mais sublime, lhes disse: “Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus.”
No Evangelho de Mateus, 5:44, Jesus nos ensinou a praticar a caridade: Amando inimigos, bendizendo os que nos maldizem, fazendo o bem aos que nos odeiam, e orando pelos que nos maltratam e perseguem.
Na realidade, justamente por habitarmos a Terra, que é Mundo de Expiação e Provas é que estes “inimigos” a que se referiu Jesus, nada mais são do que aqueles a quem hoje recebemos de volta, o que lhes fizemos; ou seja, os inimigos são os resultados de nosso passado indébito.
E somente pagando o mal com o bem, somente amando, bendizendo, fazendo o bem e orando, é que vamos conseguir resgatar as dívidas pretéritas; de forma que a caridade, é meio de realização da Justiça, e nos LIVRO DOS ESPÍRITOS nas questões 873 a 892 é tratada o tema da LEI DE JUSTIÇA DE AMOR E DE CARIDADE; do qual vamos trazer as seguintes questões:
“876 – Fora do direito consagrado pela lei humana, qual é a base da justiça fundada sobre a lei natural?
– O Cristo vo-la deu: Desejai para os outros o que quereríeis para vós mesmos. Deus colocou no coração do homem a regra de toda a verdadeira justiça, pelo desejo de cada um de ver respeitar seus direitos. Na incerteza do que deve fazer em relação ao seu semelhante em uma dada circunstância, o homem se pergunta como ele desejaria que se fizesse para com ele em circunstância semelhante: Deus não poderia dar-lhe um guia mais seguro que a sua própria consciência.
Nota A. K.: O critério da verdadeira justiça é, com efeito, desejar para os outros o que se desejaria para si mesmo, e não de desejar para si o que se desejaria para os outros, o que não é a mesma coisa. Como não é natural querer o mal para si, tomando seu desejo pessoal por modelo ou ponto de partida, se está certo de não se desejar jamais senão o bem para o seu próximo. Em todos os tempos, e em todas as crenças, o homem tem sempre procurado fazer prevalecer o seu direito pessoal. O sublime da religião cristã tem sido de tomar o direito pessoal por base do direito do próximo.”
A resposta à questão n. 888 (“Que pensar da esmola?”), São Vicente de Paulo, no seu trecho final diz:
” . . . Amai-vos uns aos outros é toda a lei, a lei divina pela qual Deus governa os mundos. O amor é a lei de atração para os seres vivos e organizados; a atração é a lei de amor para a matéria orgânica.
Não olvideis jamais que o Espírito, qualquer que seja seu grau de adiantamento, sua situação como reencarnação ou erraticidade, está sempre colocado entre um superior que o guia e o aperfeiçoa, e um inferior diante do qual tem os mesmos deveres a cumprir. Portanto, sede caridosos, não somente dessa caridade que vos leva a tirar de vossa bolsa o óbolo (donativo) que dais friamente àquele que ousa vo-lo pedir, mas ide ao encontro das misérias ocultas. Sede indulgentes para com os defeitos dos vossos semelhantes; em lugar de menosprezar a ignorância e o vício, instrui-os e moralizai-os. Sede dóceis e benevolentes para com todos os que vos são inferiores, assim, como em relação aos seres mais ínfimos da criação, e tereis obedecido à lei de Deus. (SÃO VICENTE DE PAULO)”
IV. – DA PRÁTICA DA CARIDADE COMO CONDIÇÃO DE CUMPRIMENTO DA LEI DE PROGRESSO (EVOLUÇÃO)
O “Livro dos Espíritos”, no comentário de Allan Kardec à resposta da questão 781 (“É dado ao homem o poder de deter a marcha do progresso?”), nos ensina que:
Nota de Allan Kardec: “O progresso, sendo uma condição da natureza humana, não está ao alcance de ninguém a ele se opôr. É uma força viva que as más leis podem retardar, mas não sufocar. Quando essas leis se lhe tornam incompatíveis, ele as afasta com todos aqueles que tentam mantê-las, e assim o será até que o homem tenha colocado suas leis em conformidade com a Justiça Divina, que quer o bem para todos, e não as leis feitas para o forte, em prejuízo do fraco.”
E, na resposta à questão 785, do “Livro dos Espíritos”, no na qual foi perguntado qual é o maior obstáculo ao progresso? Nos esclarece que é: “O orgulho e o egoísmo”, que são obstáculos ao progresso moral. Ainda no comentário sobre esta questão n. 785, consta que:
Nota de Allan Kardec:“Há duas espécies de progresso que se prestam mútuo apoio e que, todavia, não marcham lado a lado: o progresso intelectual e o progresso moral. Entre os povos civilizados, o primeiro recebe, neste século, todos os incentivos desejáveis e, por isso, atingiu um grau desconhecido até nossos dias. Falta ao segundo para que esteja no mesmo nível, todavia, se se comparam os costumes sociais aos de alguns séculos atrás, seria preciso ser cego para negar o progresso. (…)”
E, ainda, no Livro dos Espíritos, consta a seguinte indagação na questão 780:
“Como o progresso intelectual pode conduzir ao progresso moral?”
E a seguinte resposta:
“- Fazendo compreender o bem e o mal: o homem, então pode escolher. O desenvolvimento do livre arbítrio segue o desenvolvimento da inteligência e aumenta a responsabilidade dos atos.”
Assim, para que possamos progredir, evoluindo moralmente, devemos discernir e escolher o bem ao invés do mal, sabendo que a vida constitui encadeamento lógico de manifestações, encontramos em toda a parte a sucessão contínua de suas atividades com a influenciação recíproca entre todos os seres, salientando-se que cada coisa e cada criatura procedem e dependem de outras coisas e de outras criaturas, a escolha do bem ou do mal é de cada um. Assim, para que possamos escolher o bem, devemos respeitar tudo, amando a todos, somente assim, praticando a caridade é que conseguiremos o progresso, a evolução moral.
V. – DA PRÁTICA DA CARIDADE ESPIRITUAL, COMO CUMPRIMENTO DE DEVER, RESGATANDO DÉBITOS PRETÉRITOS
“Porque, se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois me é imposta essa obrigação; e ai de mim, se não anunciar o evangelho!.”
(1 Corintios, Cap. 9, versículo 16)
No Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVII, “SEDE PERFEITOS“, no item 7, intitulado “DEVER”, por Lazaro, em 1863, nos ensina que:
“7. O dever é a obrigação moral, primeiro para consigo mesmo, e depois para com os outros. O dever é a lei da vida: encontramo-lo nos mínimos detalhes, como nos atos mais elevados. Quero falar aqui somente do dever moral, e não do que se refere às profissões.
Na ordem dos sentimentos, o dever é muito difícil de ser cumprido, porque se encontra em antagonismo com as seduções do interesse e do coração. Suas vitórias não tem testemunhas, e suas derrotas não sofrem repressão. O dever íntimo do homem está entregue ao seu livre-arbítrio: o aguilhão da consciência, esse guardião da probidade interior, o adverte e sustenta, mas ele se mostra frequentemente impotente diante dos sofismas da paixão. O dever do coração, fielmente observado, eleva o homem.
( . . .)
O dever é o resumo prático de todas as especulações morais. É uma intrepidez da alma, que enfrenta as angústias da luta. É austero e dócil, pronto a dobrar-se às mais diversas complicações, mas permanecendo inflexível diante de suas tentações. O homem que cumpre o seu dever ama a Deus mais que as criaturas, e as criaturas mais que a si mesmo; é a um só tempo juiz e escravo na sua própria causa.
O dever é o mais belo galardão da razão; ele nasce dela, como o filho nasce da mãe. O homem deve amar o dever, não porque ele o preserve dos males da vida, aos quais a humanidade não pode subtrair-se, mas porque ele transmite à alma o vigor necessário ao seu desenvolvimento.
O dever se engrandece e esplende, sob uma forma sempre mais elevada, em cada uma das etapas superiores da humanidade. A obrigação moral da criatura para com Deus jamais cessa, porque ela deve refletir as virtudes do Eterno, que não aceita um esboço imperfeito, mas deseja que a grandeza da sua obra resplandeça aos seus olhos.”
No Livro dos Espíritos, temos:
“912 – Qual é o meio mais eficaz de se combater a predominância da natureza corporal?
– Praticar a abnegação de si mesmo.”
Ou seja, o meio mais eficaz de combater a predominância da natureza corporal é a prática da renúncia de si mesmo; é o desprendimento do interesse próprio. Isto é, o melhor meio de combater o predomínio da natureza corpórea é praticar a caridade. Quando o Espírito desce à carne, ele sofre a influência do corpo. Todavia, não podemos esquecer que é o Espírito é quem comanda a matéria, e não a matéria que comanda o Espírito. E no Livro dos Espíritos, comentário de Allan Kardec sobre a questão n. 917 (“Qual é o meio de se destruir o egoísmo?”) consta que:
“. . . O egoísmo se enfraquecerá com a predominância da vida moral sobre a vida material . . . “
Nota de Allan Kardec: “O egoísmo é a fonte de todos os vícios, como a caridade é a fonte de todas as virtudes. Destruir um e desenvolver o outro, tal deve ser o objetivo de todos os esforços do homem, se quer assegurar sua felicidade neste mundo, tanto quanto no futuro”.
Na resposta à questão n. 914 (“O egoísmo, estando fundado sobre o sentimento de interesse pessoal, parece bem difícil de ser inteiramente extirpado do coração do homem: isso se conseguirá?”) do Livro dos Espíritos consta que:
“À medida que os homens se esclarecem sobre as coisas espirituais, ligam menos valor às coisas materiais. Aliás, é preciso reformar as instituições humanas que o entretêm e o excitam. Isso depende da educação.”
E na questão n. 909, do Livro dos Espíritos:
“909 – O homem poderia sempre vencer suas más tendências pelos seus esforços?
– Sim, e, algumas vezes por fracos esforços. É a vontade que lhe falta. Ah! quão poucos dentre vós fazem esforços!”
E, no Consolador, na questão n. 253, nos ensina que:
“253 – A virtude é concessão de Deus, ou é aquisição da criatura?
– A dor, a luta e a experiência constituem uma oportunidade sagrada concedida por Deus às suas criaturas, em todos os tempos; todavia, a virtude é sublime e imorredoura aquisição do espírito nas estradas da vida, incorporada eternamente aos seus valores, conquistados pelo trabalho no esforço próprio”
Ainda, no Livro dos Espíritos, as seguintes questões:
“992 – Qual é a consequência do arrependimento no estado corporal?
– Avançar , desde a via presente, se se tem tempo de reparar as faltas. Quando a consciência faz uma censura e mostra uma imperfeição, sempre se pode melhorar.”
Ou seja, o arrependimento que vale é aquele que é seguido de trabalho no bem; isto é, arrependimento é trabalho em evolução. No Livro dos Espíritos, questão n. 1000 nos relata:
“1000 – Podemos nós, desde esta vida, resgatar nossas faltas?
– Sim, reparando-as. Mas não creiais resgatá-las por algumas privações pueris ou doando depois de vossa morte, quando não tereis mais necessidade de nada. Deus não tem em nenhuma conta um arrependimento estéril, sempre fácil, e que não custa senão a pena de se bater no peito. A perda de um pequeno dedo trabalhando apaga mais faltas que o suplício da carne sofredora durante anos, sem outro objetivo que o bem de si mesmo.
O mal, não é reparado senão pelo bem, e a reparação não tem nenhum mérito, se não atinge o homem no seu orgulho ou nos seus interesses materiais. (. . . )”
Ainda no Livro dos Espíritos:
“726 – Se os sofrimentos deste mundo nos elevam pela maneira que os suportamos, elevam-nos, também, aquelas que criamos voluntariamente?
– Os únicos sofrimentos que elevam são os sofrimentos naturais, porque eles vêm de Deus. Os sofrimentos voluntários não servem para nada quando eles nada fazem para o bem de outrem. Crês que aqueles que abreviam sua vida nos rigores sobre-humanos, como fazem os bonzos, os faquires e certos fanáticos de várias seitas, avançam em seu caminho? Por que, antes, não trabalham para o bem de seus semelhantes? Que eles vistam o indigente, consolem o que chora, trabalhem por aquele que está enfermo, sofram privações para o alívio dos infelizes, então sua vida será útil e agradável a Deus. Quando, nos sofrimentos voluntários que padecem, não têm em vista senão a si mesmos, é de egoísmo; quando sofrem pelos outros, é de caridade: tais são os preceitos do Cristo.”
E, em Tiago, Cap. 2, Versículos 14-26:
“Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé, e não tiver as obras? Porventura a fé pode salvá-lo?
E, se o irmão ou a irmã estiverem nus, e tiverem falta de mantimento quotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos, e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí?
Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma.
Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.
Tu crês que há um só Deus; fazes bem. Também os demônios o crêem, e estremecem.
Mas, ó homem vão, queres tu saber que a fé sem as obras é morta?
Porventura o nosso pai Abraão não foi justificado pelas obras, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque?
Bem vês que a fé cooperou com as suas obras, e que pelas obras a fé foi aperfeiçoada.
E cumpriu-se a Escritura, que diz: E creu Abraão em Deus, e foi-lhe isso imputado como justiça, e foi chamado o amigo de Deus.
Vedes então que o homem é justificado pelas obras, e não somente pela fé.
E de igual modo Raabe, a meretriz, não foi também justificada pelas obras, quando recolheu os emissários, e os despediu por outro caminho?
Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta.”
No Livro dos Espíritos, questão 643:
“643 – Haverá pessoas que, pela sua posição, não tenham possibilidades de fazer o bem?
– Não há ninguém que não possa fazer o bem. Só o egoísta não encontra jamais oportunidade. Bastará estar em relação com os outros homens para encontrar ocasião de fazer o bem, e cada dia da vida dá oportunidade a qualquer que não esteja cego pelo egoísmo, porque fazer o bem não é só ser caridoso, mas ser útil na medida do vosso poder, todas as vezes que vosso concurso pode ser necessário.”
VI. – DOS EXEMPLOS DE CARIDADE POR JESUS
Exemplificando a caridade de Deus para conosco, é que Deus nos deu uma prova suprema de amor entregando seu próprio filho ao calvário para nos salvar – vemos em Romanos 5:8:
“ Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores.”
No Evangelho de João, 3:16:
“ Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.”
Refletindo nisto “para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”, disto decorre que Jesus é o modelo a ser seguido, é o caminho.
O Livro dos Espíritos apresenta na questão n. 625 a seguinte indagação:
“Qual é o tipo mais perfeito que Deus ofereceu ao homem para lhe servir de guia e modelo?
– Vede Jesus”
Já na resposta à questão n. 286 (“O sacrifício de Jesus deve ser apreciado tão-somente pela dolorosa expressão do calvário?”) do “O Consolador” consta que:
” O Calvário representou o coroamento da obra do Senhor, mas o sacrifício na sua exemplificação se verificou em todos os dias da sua passagem pelo planeta. E o cristão deve buscar, antes de tudo, o modelo nos exemplos do Mestre, porque o Cristo ensinou com amor e humildade o segredo da felicidade espiritual, sendo imprescindível que todos os discípulos edifiquem no íntimo essas virtudes, com as quais saberão remontar ao calvário de suas dores, no momento oportuno.”
O homem deve pautar seus atos nos exemplos deixados por Jesus, na obra intitulada: “ESTUDE E VIVA”, pelos Espíritos Emmanuel e André Luiz, psicografada por Chico Xavier e Waldo Vieira, no Cap. 24, intitulado “Deus e caridade”, pág. 109/111, nos ensina que:
“Compadecendo-se de nossa ignorância, a divina Providência deliberou enviar alguém que nos instruísse nos caminhos da elevação, e Jesus, o sublime Governador do planeta terrestre, veio em pessoa explicar-nos que Deus não nos pede adulações, nem pompas, nem vítimas em holocaustos, e sim, o coração puro inflamado de fraternidade a serviço do bem, para que a Terra se abra, enfim, à glória e à felicidade do seu reino.
Por esse motivo, o Mestre, embora respeitasse as convicções dos seus contemporâneos, esmerou-se em ensinar-nos a união com Deus, acima de tudo, por meio do socorro aos necessitados, da esperança aos tristes, do amparo aos enfermos e do alívio aos sofredores de todas as procedências. . . Desde então, renovadora luz clareou o espírito das nações, e a Humanidade começou a compreender que Deus, o pai justo e misericordioso, a ninguém exclui de sua benção e que a todos nos espera, hoje ou mais tarde, por filhos bem-amados, unidos na condição de verdadeiros irmãos uns dos outros.
É por isso que, em todos os países e em todas as crenças, em todos os templos e em todos os lares da Terra, onde se pratique realmente o Evangelho de Jesus, o culto à Providência divina começa com a caridade.”
Jesus fez da caridade e da humildade a condição expressa da salvação, tudo o que disse a esse respeito é perfeitamente claro; pois, vivenciado. A caridade é, pois, regra de conduta.
Em Efésios, Cap. 4, versículos 6-10, tem-se:
“Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos vós. Mas a graça foi dada a cada um de nós segundo a medida do dom de Cristo. Por isso diz: Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro. E deu dons aos homens. Ora, isto ele subiu que é, senão que também antes tinha descido às partes mais baixas da terra? Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas.”
Em Efésios cap. 4, vers. 6-10, o ensinamento é que Jesus praticando a Caridade Espiritual foi ajudar no inferno e depois subiu, ou seja, Jesus nos ensinou que ninguém avança sem ajudar quem está atrás, e que a “graça” que foi dada a cada um de nós é o amparo que recebemos na medida do nosso esforço, na medida do empenho no trabalho da prática da caridade.
No Livro “A GÊNESE“, de Allan Kardec, no Cap. XV, intitulado “Os Milagres do Evangelho“, no item n. 2, pág. 259, nos ensina quanto as curas que Jesus operou, o seguinte:
“Nas curas que operava, agia como médium? Pode-se considerá-lo como um poderoso médium curador? Não; pois o médium é um intermediário, um instrumento do qual se servem os Espíritos desencarnados. Ora, o Cristo não tinha necessidade de assistência, ele que assistia e auxiliava os demais; agia pois por si mesmo, em vista do seu poder pessoal, tal como o podem fazer os encarnados em certos casos, e na medida de suas forças. Aliás, qual seria o espírito que ousaria insuflar-lhe seus próprios pensamentos e encarregá-lo de os transmitir? Se ele recebesse um influxo estranho, não poderia ser senão de Deus; segundo a definição dada por um Espírito, era o médium de Deus.”
Nos narram os Evangelhos as Curas praticadas por Jesus, por exemplo: a da mulher que fazia 12 anos sofria de hemorragia (Marcos, Cap. 5, vers. 25-34); o cego de Betsaida (Marcos, Cap. 8, vers. 22-26); o paralítico (Mateus, Cap 9, vers. 1-8); os dez leprosos (Lucas, Cap. 17, vers. 11-19); a cura da mão seca (Marcos, Cap. 3, vers. 1-6); a da mulher encurvada (Lucas, Cap. 13, vers. 10-17); o paralítico da piscina (João, Cap. 5, vers. 1-17); o cego de nascença (João, Cap. 9, vers. 1-34).
No Livro “A GÊNESE“, de Allan Kardec, no Cap. XV, intitulado “Os Milagres do Evangelho“, no item n. 27, nos ensina que:
“27. De todos os fatos que testemunham o poder de Jesus, os mais numerosos, sem contradita, são as curas; ele queria provar por isso que o verdadeiro poder era o do bem, que sua finalidade era de se tornar útil, e não de satisfazer a curiosidade dos indiferentes, mediante coisas extraordinárias.
Ao aliviar os sofrimentos, ele subjugava a si as pessoas pelo coração, e fazia para si prosélitos (pessoa que abandona suas crenças e convicções, aderindo a outra crença, religião ou doutrina) mais numerosos e mais sinceros do que o teria conseguido pelo espetáculo oferecido à satisfação dos olhos. Por esse meio ele se fazia amar, enquanto que, se se houvesse limitado a produzir efeitos materiais surpreendentes, como lhe pediam os fariseus, a maior parte não teria visto senão um feiticeiro e um hábil mágico, a quem os desocupados iriam ver para se distraírem.
Assim, quando João Batista lhe envia seus discípulos para lhe perguntar se ele era o Cristo, ele não diz: ‘Eu o sou’, pois todo e qualquer impostor teria podido dizer o mesmo; ele não fala de prodígios, nem de coisas maravilhosas, mas lhes responde simplesmente: ‘Ide dizer a João: os cegos veem, os doentes são curados, os surdos ouvem, o Evangelho é anunciado aos pobres’. Isso era o mesmo que lhes dizer: ‘Reconhecei minhas obras, julgai a árvore pelo seu fruto’, pois aí está o verdadeiro caráter de sua missão divina.”
Enfim, é inútil o homem querer iludir-se quanto ao seu destino terreno, visto que a vida terrena deve servir unicamente ao nosso aperfeiçoamento moral (moral definição: L.E. 629: distinguir o bem do mal, observância da Lei de Deus e pensar na maioria), o qual é conquistado a custa de concessões e de sacrifícios mútuos, sacrificando o egoísmo, o orgulho, a vaidade, triunfando através da prática da caridade, sustentados pela fé (aquisição através do estudo e prática).
No Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XV, intitulado: “Fora da Caridade Não Há Salvação“, item 3, nos diz que:
“3. Toda moral de Jesus se resume na caridade e na humildade, ou seja, nas duas virtudes contrárias ao egoísmo e ao orgulho. Em todos os seus ensinamentos, mostra essas virtudes como sendo o caminho da felicidade eterna. Bem-aventurados, diz ele, os pobres de espírito, – quer dizer: os humildes, – porque deles é o Reino dos Céus; bem-aventurados os que têm coração puro; bem-aventurados os mansos e pacíficos; bem-aventurados os misericordiosos. Amai o vosso próximo como a vós mesmos; fazei aos outros o que desejaríeis que vos fizessem; amai os vossos inimigos; perdoai as ofensas, se quereis ser perdoados; fazei o bem sem ostentação; julgai-vos a vós mesmos antes de julgar os outros. Humildade e caridade, eis o que não cessa de recomendar, e o de que ele mesmo dá o exemplo. Orgulho e egoísmo, eis o que não cessa de combater. Mas ele fez mais do que recomendar a caridade, pondo-a claramente, em termos explícitos, como a condição absoluta da felicidade futura.
(. . . )
Jesus não faz, portanto, da caridade, uma das condições da salvação, mas a condição única. Se outras devessem ser preenchidas, ele as mencionaria. Se ele coloca a caridade na primeira linha entre as virtudes, é porque ela encerra implicitamente todas as outras; a humildade, a mansidão, a benevolência, a justiça, etc; e porque é ela a negação absoluta do orgulho e do egoísmo.”
VII. – DA CARIDADE EM RELAÇÃO AOS DEMAIS – DA CARIDADE SEGUNDO SÃO PAULO
Em, 1 Coríntios, 13, versículos 1-7, e vers. 13 temos:
“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.
E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.
E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.
O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece.
Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal;
Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade;
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor.
De forma sucinta traz-se abaixo alguns comentários correlatos :
“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse caridade, seria como o metal que soa ou como o sino que tine”.
Ou seja, não basta saber a palavra de Deus, os evangelhos, as obras básicas da Doutrina, e não praticar. De nada adianta ser belo na palavra e pobre de ações. É necessário, pois viver, vivenciar aquilo que estuda, devemos promover a reforma íntima, ou seja, conheceremos se a árvore é boa pelos frutos, alertou Jesus. Caso contrário, a palavra será como o sino que tine, ou seja, fará muito barulho e chamará a atenção, mas não modificará os corações e inteligências a que é direcionada.
“E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse caridade, nada seria.”
Ter conhecimento espiritual não faz do ser um indivíduo caridoso. A fé também não é sinônimo de caridade, pois sem obras é morta, segundo o Tiago, Cap. 2, Versículo 17 (“Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma).
” E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse caridade, nada disso me aproveitaria”.
Dar esmolas e acabar com a necessidade material do próximo é muito importante. Mas, antes é necessário saber qual é a verdadeira intenção. Se a caridade for feita com objetivo de saciar a vaidade, de demonstrar superioridade material humilhando quem recebe de nada valerá. Na resposta à questão 255 do Livro “O Consolador“, nos ensina que: “As obras da caridade material somente alcançam a sua feição divina quando colimam a espiritualização do homem, renovando-lhe os valores íntimos, porque, reformada a criatura humana em Jesus Cristo, teremos na terra uma sociedade transformada, onde o lar genuinamente cristão será naturalmente o asilo de todos os que sofrem.” Ou seja, ainda ao fazer a Caridade material, deve-se ter em mente a finalidade de cristianização sincera das consciências. E, quando Paulo diz que: “ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse caridade, nada disso me aproveitaria“, ele quer dizer que não há proveito algum a auto-flagelação do corpo, visto que o relevante é sufocar em nós o orgulho e o egoísmo praticando a caridade desinteressada, em prol do próximo. No Livro dos Espíritos, na resposta à questão n 897 consta que: “é preciso fazer o bem por caridade, quer dizer, com desinteresse.”
“O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece”
Paulo nos ensina que através da prática da Caridade obteremos a resignação, entendendo que os desgostos da vida são provas que devemos suportar sem murmurar, porque nada mais são que os débitos colhidos de existências pretéritas, ou seja, o entendimento das dificuldades da vida como obstáculos a serem vencidos, objetivando o progresso espiritual. Quando nos ensina que o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece, quer dizer que devemos praticar o sacrifício do interesse pessoal para o bem do próximo, sem oculta intenção.
“Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal. Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade”.
Quando Paulo nos diz que a caridade não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal. Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade“, ele nos ensina que através da pratica da caridade o homem busca a paz do coração, contentando-se com o que possui, sem invejar o que não lhe pertence, não parecendo ser mais do que é; como nos ensina o Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. V, item n. 23: “Se olha para baixo, em vez de olhar para acima de si mesmo, vê sempre os que possuem menos do que ele. Está sempre calmo, porque não inventa necessidades absurdas.”. Através da prática da caridade o homem cumpre as provas, as expiações que lhes são concernentes, realizando o seu aprimoramento progressivo, que é a razão de ser da reencarnação (L.E. 167: “Qual é o objetivo da reencarnação?-Expiação, aprimoramento progressivo da Humanidade, sem o que, onde estaria a Justiça?”).
“Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”.
Ou seja, é na caridade que devemos procurara a paz do coração, o contentamento da alma, o remédio para as aflições da vida. No Evangelho Segundo o Espiritismo, no Cap. XIII, intitulado: “Que a mão Esquerda Não Saiba o que Faz a Direita”, no item n. 11, “A Beneficência“, nos ensina que: “Quando estiveres a ponto de acusar a Deus lançai um olhar para baixo, e vereis quantas misérias a aliviar, quantas pobres crianças sem família; quantos velhos sem uma só mão amiga para os socorrer e fechar-lhes os olhos na hora da morte! Quanto bem a fazer! Oh! Não reclamai, antes agradecei a Deus, e prodigalizai a mancheias a vossa simpatia, o vosso amor, o vosso dinheiro, a todos os que, deserdados dos bens deste mundo, definham no sofrimento e na solidão. Colhereis neste mundo alegrias bem suaves, e mais tarde . . . somente Deus o sabe.”
Na prática da caridade receberemos o equilíbrio, a paz no coração, a consolação.
“Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e a caridade. Mas a maior destas é a caridade”
Aqui de forma sucinta, explicando esta parte transcreve-se trecho do item 12, do Cap. XIII, do Evangelho Segundo o Espiritismo, intitulado: “Que a mão Esquerda Não Saiba o que Faz a Direita”, que diz: “A caridade é a virtude fundamental que deve sustentar o edifício das virtudes terrenas: sem ela, as outras não existiriam. Sem a caridade, nada de esperar uma sorte melhor, nenhum interesse moral que nos guie; sem a caridade, nada de fé, pois a fé não é mais do que um raio de luz pura, que faz brilhar uma alma caridosa. A caridade é a âncora eterna de salvação em todos os mundos: é a mais pura emanação do Criador; é a Sua própria virtude, que Ele transmite à criatura. . . . Encontrareis a recompensa dessa virtude no seu próprio exercício. Não há alegria espiritual que ela não proporcione desde a vida presente. Permanecei unidos. Amai-vos uns aos outros, segundo os preceitos do Cristo. Assim seja! (São Vicente de Paulo, Paris, 1858)“
No Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XV, intitulado “Fora da Caridade Não Há Salvação“, item n. 7, diz:
“São Paulo compreendeu tão profundamente esta verdade, que diz: ‘Se eu falar as línguas dos anjos; se tiver o dom de profecia e penetrar todos os mistérios; se tiver toda a fé possível, a ponto de transportar montanhas, mas não tiver caridade, nada sou. Entre essas três virtudes: a fé, a esperança e a caridade, a mais excelente é a caridade’. Coloca, assim, sem equívoco, a caridade acima da própria fé. Porque a caridade está ao alcance de todos, do ignorante e do sábio, do rico e do pobre; e porque independe de toda a crença particular. E faz mais: define a verdadeira caridade; mostra-a, não somente na beneficência, mas no conjunto de todas as qualidades do coração, na bondade e na benevolência para com o próximo.”
VIII. – DA CARIDADE PARA CONSIGO MESMO
É necessário como ponto de equilíbrio praticarmos, também, a caridade consigo próprio.
Jesus, Modelo Máximo para a humanidade terrestre, nunca deixou de exercitar a caridade consigo próprio, como, por exemplo, quando dialogava com os discípulos em conversações amigáveis; quando repousava a mente e o corpo ao contato com os amigos do coração; nos momentos de oração, quando se colocava em contato mais direto com o Pai, haurindo energias e refrigério para continuar no Trabalho de esclarecimento.
Exemplos de caridade para consigo próprio:
a) alimentar-se de forma correta, dormir o necessário, pensar corretamente;
b) agir com os outros, como gostaríamos que os outros agissem para com nós, é o referencial que Jesus recomendou: ”Aquilo que quereis que os outros vos façam, fazei-o vós também a eles, porque esta é a lei e os profetas.” (Mateus 7:12). Esse critério é infalível: devemos agir de forma a nunca lesar física, moral ou espiritualmente a alguém;
c) a prática do “AUTO PERDÃO” – baseada na Lição: “Vai e não peques mais, para que não te suceda coisa pior” (João 5:14), que se desdobra em dois momentos, sendo o primeiro: o de não deixar formar-se no seu íntimo o complexo de culpa, que é a porta aberta para a obsessão, deve-se, pois recuperar o equilíbrio emocional de si mesmo; e o segundo: de não se deixar mais dominar pelo mesmo tipo de erro.
d) promover a autoreforma moral;
e) estudar;
f) praticar a oração, antes das escolhas, é o melhor meio de não errarmos nos momentos de dúvida (“1. Os Espíritos sempre disseram: A forma não é nada, o pensamento é tudo. faça cada qual a sua prece de acordo com as suas convicções, e de maneira que mais lhe agrade, pois um bom pensamento vale mais do que numerosas palavras que não tocam o coração” – Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXVIII – Coletânea de Preces Espíritas, item 1: “Preâmbulo”).
No Livro “OBRAS PÓSTUMAS“, na SEGUNDA PARTE: contendo extratos tirados do “LIVRO DAS PREVISÕES CONCERNENTES AO ESPIRITISMO“, um manuscrito composto por Allan Kardec e que até então sobre o mesmo nunca havia sido publicado, o mesmo nos narra desde a primeira iniciação de Allan Kardec no Espiritismo, quando ouviu falar, em 1854, pela primeira vez das mesas girantes, e vai contando como se desenvolveu os estudos espíritas, e Allan Kardec diz que, em relação às respostas obtidas junto aos espíritos sobre as perguntas que formulava, tinha a seguinte regra constante: “observar, comparar e julgar“.
Conta que chegava a cada sessão com uma série de perguntas preparadas e metodicamente arrumadas, as quais eram sempre respondidas com precisão e profundidade e de maneira lógica. Allan Kardec nos conta, ainda, que de início tinha intenção de apenas sua própria instrução; mais tarde quando viu que formavam um conjunto e que tomava proporções de uma doutrina teve o pensamento de publicá-las para a instrução de todo o mundo. E que foram as mesmas perguntas que, sucessivamente, desenvolvidas e completadas, e suas respostas comparadas e também, da fusão de todas as respostas coordenadas, classificadas e muitas vezes refundidas no silêncio da meditação, que em 18/04/1857 foi formada a primeira edição de O Livro dos Espíritos.
Neste capítulo de “OBRAS PÓSTUMAS“, nos conta ainda Kardec o episódio sobre seu Guia Espiritual (anotação com data de 25/03/1856), pelo qual Allan kardec uma noite, estando em seu gabinete de trabalho ouvia pequenos golpes contra a divisória que separava o quarto vizinho; de início não se lhe prestou atenção, mas como os golpes persistiram e com mais força, mudando de lugar, Kardec foi olhar os dois lados da divisória e não descobriu nada. O que lhe chamou atenção é que a cada vez que fazia exploração dos dois lados da divisória o ruído cessava e recomeçava logo que Kardec se punha a trabalhar, isto durou cerca de 3 horas e parou na hora que Kardec foi se deitar.
No dia seguinte, durante a sessão, na qual se reunia para os estudos com os médiuns, Kardec pediu explicação sobre a causa das pancadas, que se fizeram ouvir com tanta persistência. E obteve como resposta que era o seu Espírito familiar, o qual queria comunicar-se com Kardec. Kardec perguntou se poderia lhe ser dito o que o mesmo queria, ao passo que ouviu como resposta que se lhe perguntasse, pois o mesmo estava ali.
Kardec perguntou e como resposta ouviu que era para Kardec chamá-lo de “A Verdade“, e que todos os meses (uma vez por mês), ali, em tal reunião estaria durante um quarto de hora, à disposição de Kardec; e que na noite anterior, o que queria era fazer cessar o que Kardec escrevia referente a Capitulo do Livro dos Espíritos, e o seu Guia Espiritual (“A Verdade”) falou para Kardec ler da 3a. à 30a. linha e iria encontrar grave erro.
Depois, ao voltar para casa, Kardec na 30a. linha reconheceu grave erro. Depois dessa manifestação nenhuma do mesmo gênero ocorreu, pois as relações com o espírito Protetor de Kardec se achavam estabelecidas:
“O prazo de um mês que ele assinalara, para as suas comunicações, não foi senão raramente observados no princípio; mais tarde, não o foi de todo, era, sem dúvida, uma advertência de ter que trabalhar por mim mesmo, e de não estar sem cessar, recorrendo a ele para a menor dificuldade.”
(Obras Póstumas, Cap. “Minha Primeira Iniciação no Espiritismo”, item denominado: “Meu Guia Espiritual“, pág. 191)
E o Guia Espiritual contou a Allan Kardec sobre sua MISSÃO conforme descrito no livro “Obras Póstumas”, na SEGUNDA PARTE: contendo extratos tirados do “LIVRO DAS PREVISÕES CONCERNENTES AO ESPIRITISMO“, Cap. “Minha Primeira Iniciação no Espiritismo“, item denominado: “Minha Missão“, pág. 197/199, in verbis:
“12 de junho de 1856
(Na casa do Sr. C… Méd. Srta. Aline C…)
MINHA MISSÃO
Pergunta – (À Verdade) – Bom Espírito, desejaria saber o que pensais da missão que me foi assinada apor alguns Espíritos; quereis dizer-me, eu vos peço, se é uma prova para o meu amor-próprio. Sem dúvida, vós o sabeis, tenho o maior desejo de contribuir para a propagação da verdade, mas, do papel de simples trabalhador ao de missionário como chefe, a distância é grande, e eu não compreenderia o que poderia justificar, em mim, um tal favor, de preferência a tantos outros que possuem talentos e qualidades que não tenho.
Resposta. – Confirmo o que te foi dito, mas convido-te a muita discrição, se quiseres vencer. Saberás, mais tarde, coisas que te explicarão o que te surpreende hoje. Não olvideis que podeis vencer, como podeis falir; neste último caso, um outro te substituiria, porque os desígnios do Senhor não repousam sobre a cabeça de um homem. Não fales, pois, jamais da tua missão: esse seria o meio de fazê-la fracassar. Ela não pode ser justificada senão pela obra realizada, e ainda nada fizeste. Se a cumprires, os homens te reconhecerão, cedo ou tarde, eles mesmos, porque é pelos frutos que se reconhece a qualidade da árvore.
Pergunta. – Certamente, não tenho nenhuma vontade de me gabar de uma missão na qual creio apenas eu mesmo. Se estou destinado a servir de instrumento para os objetivos da Providência, que ela disponha de mim; mas, nesse caso, reclamo a vossa assistência e a dos bons Espíritos para me ajudarem e me sustentarem na tarefa.
Resposta. – A nossa assistência não te faltará, mas será inútil se, de tua parte, não fizeres o que é necessário. Tens o teu livre-arbítrio; cabe a ti usá-lo como entendes; nenhum homem está constrangido a fazer fatalmente uma coisa.
Pergunta. – Quais são as causas que poderiam me fazer fracassar? Seria a insuficiência de minhas capacidades?
Resposta. – Não; mas a missão dos reformadores está cheia de escolhos e de perigos; a tua é rude, disso te previno, porque é o mundo inteiro que se trata de agitar e de transformar. Não creias que te baste publicar um livro, dois livros, dez livros, e permaneceres tranquilamente em sua casa; não, ser-te-á preciso expor-te ao perigo; levantarás contra ti ódios terríveis; inimigos obstinados conjurarão a tua perda; estarás em luta contra a malevolência, a calúnia, a traição mesmo daqueles que te parecerão os mais devotados; tuas melhores instruções serão desconhecidas e desnaturadas; mais de uma vez, sucumbirás sob o peso da fadiga; em uma palavra, será uma luta quase constante que terás que sustentar, e o sacrifício de teu repouso, de tua tranquilidade, de tua saúde, e mesmo de tua vida, porque sem isso viverias por muito mais tempo. Pois bem! mais de um recua quando, em lugar de um caminho florido, não encontra sob os seus passos senão espinheiros, pedras agudas e serpentes. Para tal missão, a inteligência não basta. É necessário primeiro, para agradar a Deus, a humildade, a modéstia, o desinteresse, porque ele abate os orgulhosos, os presunçosos e os ambiciosos. Para lutar contra os homens é necessário coragem, perseverança, e uma firmeza inabalável; é preciso também da prudência e do tato, para conduzir as coisas a propósito, e não comprometer-lhe o sucesso por medidas, ou por palavras, intempestivas; é preciso, enfim, do devotamento, da abnegação, e estar pronto para todos os sacrifícios.
Vês que a tua missão está subordinada a coisas que dependem de ti.
(ESPÍRITO VERDADE)
Eu. – Espírito Verdade, eu vos agradeço pelos vossos sábios conselhos. Aceito tudo sem restrição e sem dissimulação.
Senhor! Se vos dignastes lançar os olhos sobre mim para o cumprimento de vossos desígnios, que seja feita a vossa vontade! A minha vida está em vossas mãos, disponde do vosso servidor. Em presença de uma tão grande tarefa, reconheço a minha fraqueza; minha boa vontade não faltará, mas, talvez, as minhas forças me trairão. Supri a minha insuficiência; dai-me as forças físicas e morais que me forem necessárias. Sustentai-me nos momentos difíceis, e com a vossa ajuda, e a de vossos celestes mensageiros, esforçar-me-ei para corresponder aos vossos objetivos.
Nota. Escrevi esta nota em 1°de janeiro de 1867, dez anos e meio depois que esta comunicação me foi dada, e constato que ela se realizou em todos os pontos, porque sofri todas as vicissitudes que me foram anunciadas. Fui alvo do ódio de inimigos obstinados, da injúria, da calúnia, da inveja e do ciúme; libelos infames foram publicados contra mim; as minhas melhores instruções foram desnaturadas; fui traído por aqueles em quem coloquei a minha confiança, pago com a ingratidão por aqueles a quem prestei serviço. A Sociedade de Paris foi um foco contínuo de intrigas urdidas por aqueles mesmos que se diziam por mim, e que, fazendo cara boa diante de mim, me dilaceravam por detrás. Disseram que aqueles que tomavam o meu partido eram assalariados por mim com o dinheiro que eu recolhia do Espiritismo. Não mais conheci o repouso; mais de uma vez sucumbi sob o excesso de trabalho, a minha saúde foi alterada e a minha vida comprometida.
No entanto, graças à proteção e à assistência dos bons Espíritos que me deram, sem cessar, provas manifestas de sua solicitude, estou feliz em reconhecer que não senti, um só instante, o desfalecimento nem o desencorajamento, e que constantemente persegui a minha tarefa com o mesmo ardor, sem me preocupar com a malevolência de que era objeto. Segundo a comunicação do Espírito Verdade, deveria esperar tudo isso, e tudo se verificou.
Mas também, ao lado dessas vicissitudes, que satisfação senti vendo a obra crescer de modo tão prodigioso! Com quantas doces consolações as minhas tribulações foram pagas! Quantas bênçãos, quantos testemunhos de real simpatia, não recebi da parte dos numerosos aflitos que a Doutrina consolou! Esse resultado não me fora anunciado pelo Espírito Verdade que, sem dúvida, desejou não me mostrar senão as dificuldades do caminho. Quanto não seria, pois, a minha ingratidão se eu me queixasse! Se dissesse que há uma compensação entre o bem e o mal, não estaria com a Verdade, porquanto o bem, entendo as satisfações morais, superaram muito sobre o mal. Quando me chegava uma decepção, uma contrariedade qualquer, elevava-me, pelo pensamento, acima da Humanidade; colocava-me, por antecipação, na região dos Espíritos e, desse ponto culminante, de onde descobria o meu ponto de atraso, as misérias da vida deslizavam sobre mim sem me atingir. Fizera-me disso um tal hábito que os gritos dos maus jamais me perturbaram.”
IX.- DA CONCLUSÃO
O tema é vastíssimo, e por meio deste estudo trouxemos material que visa instigar a busca de maiores conhecimentos, e a título conclusão, de forma singela, importa repisar que:
Não há quem não possa praticar a caridade espiritual, não importando se possui ou não conhecimento espiritual, não importando a condição financeira, nem a faixa etária, nada; pois, somente o egoísta é que não encontra jamais oportunidade de fazer o bem (L. E. – n. 643).
E, somente através da prática da caridade, sem segunda intenção, é que obteremos a salvação (a evolução); porque, não há como o homem iludir-se quanto ao seu destino terreno, visto que a vida na Terra serve unicamente ao aperfeiçoamento moral; e é na prática da caridade que vamos encontrar o sustento de nosso equilíbrio, a paz de consciência, o alimento da alma.
“. . . lembrai-vos que o Cristo não considera seus discípulos os que só têm a caridade nos lábios. Não basta crer, é necessário sobretudo dar o exemplo da bondade, da benevolência e do desinteresse. Sem isso a vossa fé será estéril para vós.
Santo Agostinho”
(Livro dos Médiuns, Cap. XXXI, intitulado Dissertações Espíritas, item I, “Sobre o Espiritismo“)
“O Mestre desaferrolha as arcas do conhecimento enobrecido e distribui-lhe os tesouros. Dirige-se aos homens simples de coração, curvados para a gleba do sofrimento e ergue-lhes a cabeça trêmula para o Céu. Aproxima-se de quantos desconhecem a sublimidade dos próprios destinos e assopra-lhes a verdade, vazada em amor, para que o sol da esperança lhes renasça o ser. Abraça os deserdados e fala-lhes da Providência Infinita. Reúne, em torno de sua glória que a humildade escondia, os velhos e os doentes, os cansados e os tristes, os pobres e os oprimidos, as mães sofredoras e as crianças abandonadas e entrega-lhes as bem-aventuranças celestes. Ensina que a felicidade não pode nascer das posses efêmeras que se transferem de mão em mão, e sim da caridade e do entendimento, da modéstia e do trabalho, da tolerância e do perdão.”
(Trecho extraído do livro: “Evolução em Dois Mundos“, Primeira Parte, Item n. 20, intitulado: “Jesus e a Religião“, pelo Espírito André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, pág. 184)
FONTES: – BÍBLIA SAGRADA – “A GÊNESE”- Allan Kardec; – ” O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO” – Allan Kardec; – “O LIVRO DOS ESPÍRITOS” – Allan Kardec; – “O LIVRO DOS MÉDIUNS” – Allan Kardec; – “OBRAS PÓSTUMAS” – Allan Kardec; – “AÇÃO E REAÇÃO“ – pelo Espírito André Luiz, psicografia de Chico Xavier; – “CARTAS E CRÔNICAS”, pelo Espírito Irmão X, psicografado por Chico Xavier; – “ENCONTRO MARCADO”, de Emmanuel, psicografia de Chico Xavier; – “ESTUDE E VIVA“, pelos Espíritos Emmanuel e André Luiz, psicografia de Chico Xavier e Waldo Vieira; – “EVOLUÇÃO EM DOIS MUNDOS”, pelo Espírito André Luiz, psicografia de Chico Xavier e Waldo Vieira; – “EVOLUÇÃO PARA O TERCEIRO MILÊNIO”, do autor Carlos Toledo Rizzini; – “JESUS NO LAR”, pelo Espírito Neio Lucio, psicografia Chico Xavier; – “LIBERTAÇÃO”, de André Luiz psicografado por Chico Xavier; – “LOUCURA E OBSESSÃO”, do Espírito Manoel de Miranda, psicografia de Divaldo Pereira Franco; – “O CONSOLADOR” de Emmanuel, psicografia de Chico Xavier; – “SEAREIROS DE VOLTA”, de Autores Diversos, psicografia de Waldo Vieira;
25/06/14 – Ellen – CELC