Cirurgias Espirituais
Umberto Ferreira
É comum, no meio espírita e fora dele, encontrarmos relatos de cirurgias espirituais realizadas em casas espíritas e através de médiuns não espíritas.
As pessoas com problemas de saúde manifestam muita esperança na solução de tais problemas. Já as que cercam os médiuns curadores demonstram grande entusiasmo com os resultados das cirurgias.
A questão torna-se delicada quando as pessoas colocam os tratamentos espirituais como se fossem a meta, a principal finalidade do Espiritismo e relegam o conteúdo do doutrinário e as questões morais a segundo plano.
As cirurgias espirituais fazem parte dos fenômenos mediúnicos. E todo fenômeno precisa ser estudado cientificamente e ser tratado com extremo cuidado para evitar-se desgaste para o Movimento Espírita e para o próprio Espiritismo.
No final do ano passado, a Revista da Associação Médica Brasileira publicou os resultados de uma pesquisa sobre cirurgias espirituais, com o seguinte título: “Cirurgia espiritual: uma investigação”, realizada por M. de Almeida e A. M. Gollner, com o apoio do Instituto de Psiquiatria do Hospital da Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo(USP) e Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora, MG (Ver.Ass.Méd.Bras. 200;46(3): 194-200).
Do trabalho extraímos os seguintes tópicos:
– Foi escolhido o cirurgião espiritual João Teixeira de Farias.
– Foram acompanhadas cerca de 30 “cirurgias”. Seis pacientes foram examinados clinicamente pelos pesquisadores.
– Todos os pacientes eram católicos e acreditavam na cura.
– Não foi identificado nenhum procedimento anestésico. Dos seis pacientes examinados, apenas um se queixou de dor e todos afirmaram estarem lúcidos durante a cirurgia.
– As cirurgias são realizadas sem nenhuma técnica de antissepsia e não se verificou nenhum caso de infecção.
– A s feridas cirúrgicas são reais. Os procedimentos mais comuns são raspados da cavidade nasal, raspados da córnea e retirada de fragmentos da conjuntiva bulbar.
– Em dez casos, as peças cirúrgicas foram escolhidas e submetidas a exames histopatológicos.
– Os materiais extraídos são compatíveis com o local de origem, porém sem sinais de malignização ou especificidade.
– Em quatro relatos, obtidos seis meses após a cirurgia, dois demonstraram significativa melhora e dois afirmaram não terem obtido benefício algum.
– Discute-se o mecanismo da suposta cura, considerando-se que não foram extraídos tecidos patológicos.
A pesquisa revela alguns pontos positivos:
1) a evidência de que as feridas cirúrgicas são reais;
2) a ausência de dor em todos os pacientes (exceto um), sem a aplicação de anestésicos;
3) a ausência de infecção, sem a utilização de antissepsia;
4) os resultados do exame histopatológico indicando que os materiais retirados cirurgicamente correspondem ao local de origem;
5) a significativa melhora de dois paciente.
Dois aspectos merecem comentários. O primeiro é com relação ao fenômeno mediúnico. A pesquisa vem confirmar que é real e que a anestesia e cirurgia são feitas pelos Espíritos. O outro aspecto é o moral. A cura não é tão comum, como desejam os homens. A lei de causa e efeito é determinante. Merecimento é raro. Os Espíritos não transgridem as leis divinas. Só intervêm para curar quando há permissão superior. Os bons Espíritos estão mais preocupados com o progresso moral dos homens do que com a cura do corpo. E o sofrimento do corpo pode ser o remédio para a cura do espírito.
É melhor que os espíritas conscientes se entusiasmem com a Doutrina em si, com o progresso espiritual dos homens. E não gastem o seu precioso tempo e as suas energias com os fenômenos que objetivem a cura do corpo, mais do que a libertação espiritual.
Revista Reformador 10/2001