Do Orgulho à Humildade, palestra 28.9.22
Do Orgulho à Humildade
CELC – 28.09.22 -Jane
Introdução: O que é o orgulho?
Quando crianças fomos educados para dar orgulho aos nossos pais, que orgulho era coisa boa, enfim quando éramos elogiados por nossos professores, enchíamos de orgulho… Aí chegamos na Doutrina espírita e aprendemos que orgulho é o pior dos nossos inimigos. E que o caminho de nossa evolução espiritual é extirpá-lo de nós, e qual o meio para isso? Ou qual o caminho? Desenvolver o que pode combatê-lo. Adquirir a humildade ensinada pelo próprio Cristo Jesus. Por isso vamos comentar algumas trajetórias de espíritos que percorreram esse caminho e nos deixaram o exemplo quando aqui estiveram encarnados, a fim de nos fortalecer nesse percurso.
Nesta doutrina aprendemos que estamos nesta vida justamente para evoluir. Evoluir moralmente e espiritualmente e sairmos da condição de espíritos imperfeitos da terceira ordem como mostra na Q 101 do L.E: Predominância da matéria sobre o espírito. Propensão ao mal. Ignorância, orgulho, egoísmo e todas as más paixões que lhes são consequências. Tem intuição de Deus, mas não o compreendem.
A partir do momento que iniciamos nossa observação íntima, e o abrir dos olhos à verdade, começamos também enxergar o tamanho da trave que nos cega. Como o próprio Mestre nos ensinou: Ide retirar primeiro a trave que vos cega para depois retirar o cisco do olho do vosso irmão. (Mt 7:3 a 5). Por isso o livre-arbítrio se desenvolve à medida que o espírito adquire a consciência de si mesmo… Q 122LE
ESE: 10 – Um dos caprichos da humanidade é ver cada qual o mal alheio antes do próprio. Para julgar-se a si mesmo, seria necessário poder mirar-se num espelho, transportar-se de qualquer maneira fora de si mesmo, e considerar-se como outra pessoa, perguntando: Que pensaria eu, se visse alguém fazendo o que faço? É o orgulho, incontestavelmente, o que leva o homem a disfarçar os seus próprios defeitos, tanto morais como físicos. Esse capricho é essencialmente contrário à caridade, pois a verdadeira caridade é modesta, simples e indulgente. … Se o orgulho é a fonte de muitos vícios, é também a negação de muitas virtudes. Encontramo-lo no fundo e como móvel de quase todas as ações. Foi por isso que Jesus se empenhou em combatê-lo, como o principal obstáculo ao progresso.
Mereça ser Feliz: Cap. 3 “Orgulho é o sentimento de superioridade pessoal resultante do processo de crescimento do Espírito, um “subproduto do instinto de conservação, um princípio que foi colocado no homem para o bem, porque sem o “Sentimento de valor pessoal” e a “necessidade de estima”, não encontraríamos motivação para existir e não formaríamos um autoconceito de dignidade pessoal.
– O problema não é o sentimento de orgulho, mas o descontrole de seus efeitos. Ele está presente em quase tudo o que fazemos. Isso o torna uma paixão ou, como dizem os bondosos Guias da Verdade, “O excesso de que se acresceu à vontade”. A esse respeito afirma Allan Kardec: “Todas as paixões têm seu princípio num sentimento, ou numa necessidade natural. O princípio das paixões não é, assim, um mal, pois que assenta numa das condições providenciais da nossa existência. A paixão propriamente dita é a exageração de uma necessidade ou de um sentimento. Está no excesso e não na causa a este excesso se torna um mal, quando tem como consequência um mal qualquer. Q 908 L.E
A vaidade e a indiferença, o preconceito e a presunção, o desprezo e o melindre, a pretensão e a inveja são alguns reflexos inevitáveis desse “estado orgulhoso do ser” e formam o que chamamos de personalismo, o estado de supervalorização do Eu.
– O personalismo é a expressão mais perceptível e concreta do orgulho. É a excessiva e “incontrolável” valorização conferida a nós mesmos levando-nos a supor termos direitos e qualidades maiores do que que aquelas as quais realmente possuímos. EX: Sala de aula, adolescência/como a gente se vê.
Cap. 31 do L. Médiuns item 4 … Se não ouvirdes os sábios conselhos dos Espíritos que vos querem bem, se vos ofenderdes com as verdades que eles vos disserem, é evidente que estais aceitando as influências dos Espíritos maus. Só o orgulho pode vos impedir que vejais o que sois realmente…
Digamos que enquanto o orgulho incapacita-nos para verificar as próprias imperfeições, o personalismo tem como efeito gerar ideias de que tudo aquilo que parta de nós é o melhor e mais correto.
O orgulhoso, desta forma, vive intensamente de máscaras que correspondem a essas idealizações do seu imaginário, para fazer com que o mundo a sua volta acredite que ele seja quem ele próprio acredita ser- A dissimulação é o preço elevado que paga o orgulhoso para manter as aparências e trata-se de uma inaceitação de suas sombras interiores, uma necessidade obsessiva e neurotizante de manter um status, para evitar críticas ou para não perder sua suposta “autoridade”. Até mesmo as doenças costumam ser ocultadas pelo orgulhoso, pois, para ele, isso é um “código de fragilidade” que não pode ser revelado.
UM ESPÍRITO PROTETOR ESE 9:9 – O orgulho vos leva a vos julgardes mais do que sois, a não aceitar uma comparação que vos possa rebaixar, e a vos considerardes, ao contrário, de tal maneira acima de vossos irmãos, seja na finura de espírito, seja no tocante à posição social, seja ainda em relação às vantagens pessoais, que o menor paralelo vos irrita e vos fere. E o que acontece, então? Entregai-vos à cólera.
Procurai a origem desses acessos de demência passageira, que vos assemelham aos brutos, fazendo-vos perder o sangue frio e a razão: procurai-a, e encontrareis quase sempre por base o orgulho ferido. Não é acaso o orgulho ferido por uma contradita, que vos faz repelir as observações justas e rejeitar, encolerizados, os mais sábios conselhos? Até mesmo a impaciência, causada pelas contrariedades, em geral pueris, decorre da importância atribuída à personalidade, perante a qual julgais que todos devem curvar-se.
O orgulho tem relação íntima com a vaidade e o amor-próprio ou personalismo. Em Isaías 45: 22 “Volvei-vos para mim, e sereis salvos, todos os confins da terra, porque eu sou Deus e sou o único, juro-o por mim mesmo!
A verdade sai de minha boca, minha palavra jamais será revogada; todo joelho deve dobrar-se diante de mim, toda língua deve jurar por mim, dizendo: É só no Senhor que se encontra a vitória e a força. E em Rm 14:11 Paulo recorda essa passagem e afirma: Por minha vida, diz o Senhor, diante de mim se dobrará todo joelho e toda língua dará glória a Deus (Is 45,23). E o Pai nos conhecendo o íntimo sabe o momento certo para essa quebra, o momento que já estamos prontos para compreender sua misericórdia, todos nós teremos nossa estrada de Damasco, nosso tombo do cavalo… Citaremos alguns irmãos da História do Espiritismo. E partindo de Paulo, observamos que a presença de Jesus e a cegueira material de 3 dias, lhe abriu os olhos espirituais e o despertou para o arrependimento. Essa profunda reflexão permitiu desabrochar o homem novo. Por isso a resposta de Paulo a Jesus “Senhor, que queres que eu faça?”… Após o arrependimento, se colocou ao trabalho e às possíveis reparações.
Complementando… O Céu/Inferno cap VII, item 16 “O arrependimento, conquanto seja o primeiro passo para a regeneração, não basta por si só; são precisas a expiação e a reparação. Arrependimento, expiação e reparação constituem, portanto, as três condições necessárias para apagar os traços de uma falta e suas consequências. O arrependimento suaviza os travos da expiação, abrindo pela esperança o caminho da reabilitação; só a reparação, contudo, pode anular o efeito destruindo-lhe a causa. Do contrário, o perdão seria uma graça, não uma anulação. 17 O arrependimento pode dar-se por toda parte e em qualquer tempo; se for tarde, porém, o culpado sofre por mais tempo.” Por isso Paulo afirma em Cor 15:09 “Porque eu sou o menor dos apóstolos, e não sou digno de ser chamado apóstolo, porque persegui a Igreja de Deus. 10.Mas, pela graça de Deus, sou o que sou, e a graça que ele me deu não tem sido inútil. Ao contrário, tenho trabalhado mais do que todos eles; não eu, mas a graça de Deus que está comigo.
Traremos aqui algumas informações sobre outro espírito que também conhecemos um pouco da sua trajetória de superação do orgulho, até se tornar Emmanuel, mentor de Chico Xavier. Um espírito que narrou sua própria evolução, do orgulho à aquisição da humildade e redenção à Jesus pelos livros psicografados por Chico. Vejamos:
Século IX a.C: A primeira reencarnação de Emmanuel conhecida na Terra com o nome de Simas, grão-sacerdote do templo de Amon-Rá na antiga cidade egípcia de Tebas.
Ano 63 a.C: A segunda reencarnação se refere ao cônsul romano Publios Lentulus Cornelius Sura, contemporâneo de Júlio César.
A 3ª se refere a Publius Lentulus Cornelius, um senador romano e bisneto do anterior Publius Lentulus Cornelius Sura. Viveu à época do Cristo, de acordo com declarações do médium mineiro. Emmanuel transmitiu ao médium as suas impressões, revelando-nos o orgulhoso patrício romano Públio Lentulus Cornelius no romance “Há Dois mil anos”. Públio lutou pela sua Roma, não admitindo a corrupção e demonstrando integridade de caráter. Sofreu ao mesmo tempo durante anos a suspeita de ter sido traído pela esposa a quem tanto amava, Lívia. O casal possuía dois filhos, Marcos e Flávia, sendo a filha portadora de hanseníase. E por insistência da filha e da esposa, o Senador decide procurar Jesus pela saúde da filha. Relato desse encontro
…Das águas mansas do lago de Genesaré parecia-lhe emanarem suavíssimos perfumes, casando-se deliciosamente ao aroma agreste da folhagem. Foi nesse instante que, com o espírito como se estivesse sob o império de estranho e suave magnetismo, ouviu passos brandos de alguém que buscava aquele sítio. Diante de seus olhos ansiosos, estacara personalidade inconfundível e única. Tratava-se de um homem ainda moço, que deixava transparecer nos olhos, profundamente misericordiosos, uma beleza suave e indefinível. Longos e sedosos cabelos molduravam-lhe o semblante compassivo, como se fossem fios castanhos, levemente dourados por luz desconhecida. Sorriso divino, revelando ao mesmo tempo bondade imensa e singular energia, irradiava da sua melancólica e majestosa figura uma fascinação irresistível. Públio Lentulus não teve dificuldade em identificar aquela criatura impressionante, mas, no seu coração marulhavam ondas de sentimentos que, até então, lhe eram ignorados. Nem a sua apresentação a Tíbério, nas magnificências de Capri, lhe havia imprimido tal emotividade ao coração. Lágrimas ardentes rolaram-lhe dos olhos, que raras vezes haviam chorado, e força misteriosa e invencível fê-lo ajoelhar-se na relva lavada em luar.
Desejou falar, mas tinha o peito sufocado e opresso. Foi quando, então, num gesto de doce e soberana bondade, o meigo Nazareno caminhou para ele, qual visão concretizada de um dos deuses de suas antigas crenças, e, pousando carinhosamente a destra em sua fronte, exclamou em linguagem encantadora, que Públio entendeu perfeitamente, como se ouvisse o idioma patrício, dando-lhe a inesquecível impressão de que a palavra era de espírito para espírito, de coração para coração:
– Senador, porque me procuras? …
– Fôra melhor que me procurasses publicamente e na hora mais clara do dia, para que pudesses adquirir, de uma só vez e para toda a vida, a lição sublime da fé e da humildade… Mas, eu não vim ao mundo para derrogar as leis supremas da Natureza e venho ao encontro do teu coração desfalecido!…
Públio Lentulus nada pôde exprimir, além das suas lágrimas copiosas, pensando amargamente na filhinha; mas o profeta, como se prescindisse das suas palavras articuladas, continuou:
– Sim… não venho buscar o homem de Estado, superficial e orgulhoso, que só os séculos de sofrimento podem encaminhar ao regaço de meu Pai; venho atender às súplicas de um coração desditoso e oprimido e, ainda assim, meu amigo, não é o teu sentimento que salva a filhinha leprosa e desvalida pela ciência do mundo, porque tens ainda a razão egoística e humana; é, sim, a fé e o amor de tua mulher, porque a fé é divina… Basta um raio só de suas energias poderosas para que se pulverizem todos os monumentos das vaidades da Terra…
Comovido e magnetizado, o senador considerou, intimamente, que seu espírito pairava numa atmosfera de sonho… de completa ilusão.
– Não, meu amigo, não estás sonhando… – exclamou meigo e enérgico o Mestre, adivinhando-lhe os pensamentos. – Depois de longos anos de desvio do bom caminho, pelo sendal dos erros clamorosos, encontras, hoje, um ponto de referência para a regeneração de toda a tua vida. Está, porém, no teu querer o aproveitá-lo agora, ou daqui a alguns milênios… Soa para teu espírito, neste momento, um minuto glorioso, se conseguires utilizar tua liberdade para que seja ele, em teu coração, doravante, um cântico de amor, de humildade e de fé, na hora indeterminável da redenção, dentro da eternidade… Mas, ninguém poderá agir contra a tua própria consciência, se quiseres desprezar indefinidamente este minuto ditoso! Pastor das almas humanas, desde a formação deste planeta, há muitos milênios venho procurando reunir as ovelhas tresmalhadas, tentando trazer-lhes ao coração as alegrias eternas do reinado de Deus e de sua justiça!
Públio fitou aquele homem extraordinário, cujo desassombro provocava admiração e espanto. Humildade? que credenciais lhe apresentava o profeta para lhe falar assim, a ele senador do Império, revestido de todos os poderes diante de um vassalo? Num minuto, lembrou a cidade dos césares, coberta de triunfos e glórias, cujos monumentos e poderes acreditava, naquele momento, fossem imortais. (ELE PENSAVA E JESUS RESPONDIA)…
O senador quis falar, mas a voz tornara-se-lhe embargada de comoção e de profundos sentimentos… Guardando na memória os mínimos pormenores daquele minuto inesquecível, Públio sentiu-se humilhado e diminuído, em face da fraqueza de que dera testemunho diante daquele homem extraordinário… — Há Dois Mil Anos. Ao voltar para casa, Públio encontra a pequena Flávia nos braços da mãe, com sinais de recuperação e relata que naquela noite sentiu mãos que a acariciavam. Lívia também relata uma luz que envolveu a menina, mas o orgulho do senador, o impede de admitir que Jesus intercedeu por sua menina e que a fé e as orações das duas mulheres curaram sua filha. Assim como Públio (Emmanuel), quantas vezes temos a oportunidade de mudança e deixamos de fazer porque nosso orgulho nos domina.
Públio teve a opção de ser servo de Jesus ou servo do mundo, optou pela última. Desencarnou na cidade de Pompeia, no ano 79 da nossa era, vitimado pelas cinzas do Vesúvio, cego mas já voltado aos princípios de Jesus…
No desencarne, ajoelha-se e, banhado em lágrimas, concentra o coração em Jesus numa rogativa ardente e silenciosa…
Conviveu com a dor do filho raptado, da doença da filha e da suspeita de traição pela esposa Lívia, Públio vai sofrer ainda mais com sua morte prematura de Lívia, que convertida ao Cristianismo fora brutalmente martirizada pelo imperador, em suas clementes perseguições aos discípulos de Jesus. O senador encontra Paulo em Roma, na Porta Appia, próximo às colinas do Palatino e do Célio, foi a complementação do diálogo com Jesus trinta anos antes, em Cafarnaum, quando o procurou para pedir pela saúde da filha Flávia… O fato ocorria pouco depois da trágica desencarnação de Lívia, e eu trazia o espírito atormentado. As palavras de Paulo eram firmes e consoladoras.
O grande convertido não conhecia a úlcera que me sangrava no coração, todavia as suas expressões indiretas foram, imediatamente, ao fundo de minh’alma, provocando um dilúvio de emoções e de esclarecimentos.
Paulo acompanhou o espírito de Emmanuel através de sucessivas reencarnações de extrema renúncia, em que o velho senador buscou, no apostolado, superar o remorso pelo sofrimento que impusera a Lívia. Cremos que Paulo tenha sido, ao lado de Lívia, o grande professor de Emmanuel na Espiritualidade, no que tange ao Evangelho e à propagação da mensagem de nosso Divino Mestre, sedimentando-se entre ambos profundos laços de amizade e gratidão.
Ao lado do apóstolo dos gentios, Emmanuel participou da codificação kardequiana. É de sua autoria a mensagem sobre o egoísmo que encontramos no capítulo XI de O ESE. Orientando Chico Xavier desde 1931, Emmanuel foi o enviado de Jesus que auxiliou na divulgação do Cristianismo Redivivo na Terra, a partir das sublimes lições que nos chegaram pelas mãos do médium.
Nesse sentido, cremos que o primeiro encontro entre eles, na Porta Appia, tenha sido o princípio de uma ligação que iria preparar Publius Lentulus para dar continuidade à tarefa incansável de Paulo na divulgação dos ensinamentos de Jesus.
Somente após quinze séculos de lutas e dolorosos compromissos, o velho senador sentiu-se em condições de servir a Jesus e sacrificar-se por amor ao Mestre — do mesmo modo que o fizera em Roma a companheira do coração.
Os vínculos de gratidão ao apóstolo Paulo sempre se mantiveram. Exemplo desse eterno reconhecimento foi ter o jesuíta dado o nome de São Paulo à cidade que edificara com Anchieta.
Nóbrega foi o autor do primeiro livro escrito no Brasil, o que ocorreu em 1554, e, em homenagem a Paulo, deu-lhe o título de Diálogo sobre a Conversão do Gentio. E através da mediunidade de Chico Xavier, Emmanuel foi o autor de Paulo e Estevão.
A 4ª se refere ao escravo Nestório. Na obra “Cinquenta Anos Depois”, o personagem renasce em Éfeso no ano 131. De origem judaica, é escravizado por romanos que o conduzem ao país de sua anterior existência. Nos seus 45 anos presumíveis, mostra em seu porte um orgulho silencioso e inconformado. Apartado do filho, que também fora escravizado, volta a encontrá-lo durante uma pregação nas catacumbas, onde tinha a responsabilidade da palavra. Cristão desde a infância, é preso e, por manter-se fiel a Jesus, é condenado à morte. E, no mundo espiritual, é recebido pelo seu amor de outrora, Lívia.
A 5ª se refere a Basílio, romano filho de escravos gregos que nasceu em Chipre como liberto no ano 233. Casou-se com a escrava Júnia Glaura e teve uma filha, porém ambas morreram precocemente. Posteriormente, adotou para si uma criança abandonada numa cesta, que mais tarde recebeu o nome de Lívia (há uma hipótese de que esta teria sido uma das reencarnações de Xavier, de acordo com informações de Arnaldo Rocha, amigo de longa data de Chico, que afirma que o médium lhe deu esta informação), vivendo com ela até o fim de seus dias, onde fora torturado e morto. Mais detalhes são revelados no livro “Ave Cristo”.
A 6ª se refere a São Remígio, bispo de Reims. Nasceu no ano 437, em Laon. De família nobre e religiosa, considerado o maior orador sacro do reino dos francos pela sua especialidade em retórica. Considerado também o apóstolo dos pagãos, nas Gálias, era conhecido pela sua pureza de espírito bem como pelo seu profundo amor a Deus e ao próximo. Desencarnou em janeiro de 533, aos 96 anos.
A 7ª se refere ao cardeal João de São Paulo, durante o papado de Inocêncio III, no Vaticano dos Séculos XII-XIII.
A 8ª se refere ao padre Manuel da Nóbrega, sacerdote jesuíta português nascido em 18 de outubro de 1517 no Reino de Portugal. Aqui começa assinar como “E. Manuel”. De acordo com o seu entendimento, o “E” inicial se deveria à abreviatura de “Ermano”, o que, ainda de acordo com o seu entendimento, autorizaria a que o nome fosse grafado Emanuel, um “M” apenas.
A 9ª se refere ao Padre Damiano, nascido em 1613 na Espanha. Residiu em Ávila, Castela-a-Velha, onde oficiou na Igreja de São Vicente. Desencarnou em idade avançada no Presbitério de São Jaques do Passo Alto, no burgo de São Marcelo, em Paris. Alguns detalhes desta encarnação constam no livro Renúncia.
A 10ª se refere a Jean Jacques Turville, nascido no século XVIII na França. Foi educador da nobreza e prelado católico romano no período anterior à Revolução Francesa, vivendo no norte da França. Fugiu à ferocidade revolucionária indo para a Espanha, onde viveu até a morte.
A 11ª se refere ao Padre Amaro, um humilde sacerdote católico que viveu entre os séculos XIX e XX. Viveu no estado brasileiro do Pará. Posteriormente foi ao Rio de Janeiro, onde se dedicou à pregação do Evangelho de Jesus, tendo inclusive tido contato com Bezerra de Menezes. Há uma mensagem psicografada por Chico intitulada “Sacerdote católico que fui”, na qual Emmanuel descreve com detalhes o processo de sua desencarnação nesta existência.
Porque disse Jesus em Mateus, 5:3 “Bem- aventurados os pobres de espírito, pois deles é o reino dos Céus.” No ESE todo o capítulo 7
ESE, cap. 4 (Santo Agostinho- Paris, 1862): “O progresso é uma das leis da natureza. Todos os seres da Criação, animados e inanimados, estão submetidos a ela pela bondade de Deus, que deseja que tudo que engrandeça e prospere. A própria destruição, … é apenas um meio de chegar, por meio da transformação, a um estado mais perfeito, porque tudo morre para renascer e nada volta para o nada.” Portanto, confiar na Lei de evolução é saber que não há nada definitivo em nosso ser, e que não há progresso sem a Lei da Reencarnação, que permite aos homens expiarem seus débitos, leve o tempo que for, para atingirem também sua evolução moral, saindo do orgulho e egoísmo à humildade em seu próprio eu. Porque é da Lei o progresso moral dos seres e dos mundos. Nada está estacionário sobre a Terra, diz Santo Agostinho. (Grifo nosso)
Outro espírito de semelhante evolução é “EUSTÁQUIO = 15 SÉCULOS DE UMA TRAJETÓRIA = CAIRBAR SCHUTEL”
“A evolução dos Espíritos não ocorre de forma imediata e célebre. Há uma depuração lenta, mas progressiva, dependente da reforma íntima e dos atos de cada um; 1500 anos, portanto, seriam insuficientes para quem quer que seja tornar-se perfeito.” A primeira encarnação de Eustáquio apresentada no livro não se refere ao seu início no reino hominal, mas as apresentadas na jornada relatada no livro buscaram salientar 3 fases distintas: a primeira (de 445- 1080) o apresenta como um ser mau e vingativo, onde predominavam seus sentimentos menos nobres que lhe causaram grandes endividamentos; era rude, orgulhoso, autoritário, ignorante, cético, incrédulo, materialista por excelência. Essa fase especifica-se por narrar sob um ponto de vista romântico e descritivo, totalmente, descompromissado com a escalada cristã. Eustáquio comete desatinos, surpreende-se com suas incursões no plano material, julga-se materialista convicto, mas já se fragiliza em determinados momentos de sua caminhada ante a força do amor e do acompanhamento de seus mentores e de sua colônia. A segunda fase mostra-o em reeducação, com um melhor esclarecimento: demonstra evoluir em suas posturas, livrando-se de muitos erros e desvios, mas ainda de forma vacilante, passando a obra com inúmeros personagens da história como Carlos Magno, Joanna d´Arc, Napoleão Bonaparte, Jean Calvin. E na Terceira fase vemos um espírito mais regenerado. Eustáquio mais conscientizado, evoluído, culto e em vias de atingir graus satisfatórios e seguros de seu progresso moral.
Começa no ano 415, foi general de Clóvis, Rei dos Francos, cruel com os inimigos, maléfico, é morto por um soldado que tinha um punhal escondido nas botas, desencarna aos 34 anos. Fica 500 anos no plano espiritual cometendo atrocidades. Em uma das reencarnações obrigado a reencarnar na pobreza, revoltou-se… Eustáquio continua mantendo em seu coração um desejo absurdo de vingança e ódio latente que lhe consome as forças. E uma lepra oportunista domina-lhe o corpo físico, tornando-o uma figura burlesca e digna de pena.
“O orgulho e a vaidade, associados ao materialismo, são as bases do sofrimento de muitos Espíritos, tão logo deixam o corpo físico. Não se sentem desencarnados e integrantes de uma nova vida. Por tais razões, o Plano Espiritual Superior permite que eles sejam abordados por entidades menos esclarecidas, por vezes até companheiros de tempos passados, mas que visam sobretudo humilhar e dominar seus antigos aliados.” (Pág, 35)
Assim que Eustáquio desencarnava se encontrava com seus antigos comparsas maléficos que lhe dominavam o pensamento.
Só gostava mesmo era da riqueza e poder. Na 5ª existência no Brasil, ano 900 vem como índio, começa a provocar uma revolta contra o cacique, que em pouco tempo toma seu lugar na aldeia. De longe é observado por dois amigos espirituais que comentam: “É impressionante como desvios arraigados no âmago do ser, demoram a ser corrigidos”.
Na 10ª reencarnação, em uma expiação na Eslovênia, nasce como um menino com deficiência física e comprometimento mental, em uma família muito pobre, mas amparado por uma irmã que lhe dá muito amor, embora sempre entristecido e no peito um coração irresignado.
Caibar classifica as reencarnações como: reencarnação-chave, alternativas ou preparatórias.
Em uma reencarnação-chave Eustáquio nasce com epilepsia, mas mesmo com suas limitações, ao reencontrar com seus antigos inimigos sucumbe revoltado assassinando a mesma personagem. Em outra reencarnação como duque após voltar da Cruzada, se deixa arrastar ao suicídio.
É nas reencarnações de pobreza que o espírito de Eustáquio começa a mudar, mesmo em um corpo de mulher e após sofrer abusos e doar seu único filho, o arrependimento brota em seu coração. E novamente nasce como mulher, dessa vez forma sua família mesmo sob muitas dificuldades e sozinha, adota outras crianças abandonadas.
11ª – França – exército de Joanna Darc – amigo e protetor até sua morte.
12ª – Itália – monge Beneditino – quando conhece João Calvino, teólogo francês, encanta-se com suas Ideias, abandona a igreja e torna-se protestante. Perde a vida na Noite de São Bartolomeu.
13ª África – inteligente e caridoso. Tribo é invadida dos mercenários ingleses, é aprisionado e levado por navio de escravos para o Brasil = Chega no Rio de Janeiro, revolta-se e é açoitado até a morte.
15ª – Eduardo – filho de duque, inteligente, jornalista, se recusa a integrar as forças napoleônicas e torna-se um opositor do pai, que idolatrava Napoleão Bonaparte.
16ª – Em 1890 – Brasil, nasce José Antonio, família rica – Vai para a França estudar medicina. Médico, entra para Cruz Vermelha – Vai para a Rússia, conhece Lenin (revolucionário russo). Vai para a Suíça. Explode a Segunda guerra mundial, conhece Maria a enfermeira espírita, que como ele tudo faz para atender os doentes (aqueles que prejudicou no passado), sem tempo de comer e dormir. (Sempre que era possível, eles faziam reunião mediúnica no Acampamento). Acaba contraindo pneumonia. Desencarna aos 55 anos.
Dr. Josef como era chamado, nunca quis se casar e constituir família, para poder realizar seu trabalho e resgatar seu passado.
HUMILDADE
“A exemplo do Filho Pródigo do Evangelho, o homem está escravizado pela insegurança perturbadora causando-lhe dores inconsoláveis e sentimentos de revolta, desamor e tristeza que nascem do reflexo cruel do personalismo viciado.”
“Nesse trajeto de distanciamento da “luz Paternal” nasceu o maior inimigo de todos nós, o orgulho, como sendo saliente sentimento de superioridade que nos vimos obrigados a gestar para “encenarmos” a segurança que perdemos por “desligarmos” do Pai. Sentimento esse que nos transportou a todo tipo de arbitrariedades nos domínios da ilusão, ampliando mais e mais nossa frustação e desajuste consciencial.” (Mereça ser Feliz/Eurípedes Barsanulfo). Nesse caminho citaremos o Ex. do Leproso agradecido, LU 17:12
A caminho de Jerusalém, Jesus passou pela divisa entre Samaria e Galiléia. Ao entrar num povoado, dez leprosos dirigiram-se a ele. Ficaram a certa distância e gritaram em alta voz: “Jesus, Mestre, tem piedade de nós! ” Ao vê-los, ele disse: “Vão mostrar-se aos sacerdotes”. Enquanto eles iam, foram purificados. Um deles, quando viu que estava curado, voltou, louvando a Deus em alta voz. Prostrou-se aos pés de Jesus e lhe agradeceu. Este era samaritano. Jesus perguntou: “Não foram purificados todos os dez? Onde estão os outros nove? Não se achou nenhum que voltasse e desse louvor a Deus, a não ser este estrangeiro? “Então ele lhe disse: “Levante-se e vá; a sua fé o salvou”.
A HUMILDADE TEM RELAÇÃO ÍNTIMA COM A GRATIDÃO E O TRABALHO
Lucas 14:1 a 11 “Certo sábado, entrando Jesus para comer na casa de um fariseu importante, observavam-no atentamente. … Quando notou como os convidados escolhiam os lugares de honra à mesa, Jesus lhes contou esta parábola: “Quando alguém o convidar para um banquete de casamento, não ocupe o lugar de honra, pois pode ser que tenha sido convidado alguém de maior honra do que você. Se for assim, aquele que convidou os dois virá e lhe dirá: ‘Dê o lugar a este’. Então, humilhado, você precisará ocupar o lugar menos importante. Mas quando você for convidado, ocupe o lugar menos importante, de forma que, quando vier aquele que o convidou, diga-lhe: ‘Amigo, passe para um lugar mais importante’. Então você será honrado na presença de todos os convidados. Pois todo aquele que se exaltar será humilhado, e todo aquele que se que se humilhar será exaltado”. (Mt 23:12). Portanto, após discussão de quem era o maior, Jesus ensina que o humilde é o que serve.
Céu/inferno cap.VII: 19” Tendo o Espírito o seu livre-arbítrio, seu progresso é, algumas vezes, lento, e sua obstinação no mal muito tenaz. Pode nisso persisitir anos e séculos; mas chega sempre um momento no qual a sua teimosia, em afrontar a justiça de Deus, se dobra diante do sofrimento, e no qual, malgrado a sua fanfarrice, reconhece a força superior que o domina. Desde que se manifestam nele os primeiros clarões do arrependimento, Deus lhe faz entrever a esperança.
Vejamos outro exemplo da história: Jésus Gonçalves
Corria o século IV d.C. Envelhecia o Império Romano. A incapacidade dos governantes e a dissolução dos costumes, aliadas à infiltração de mercenários e bárbaros nas fileiras de seu exército levou a defesa do Império e a crise do sistema econômico. A autonomia provincial retirou uma importante fonte de recursos da Capital, ao mesmo tempo em que grandes partes dos impostos eram canalizados para fins improdutivos: enormes gastos em festas e jogos. Vislumbravam-se tempos negros para os Impérios Romano, ameaçado pelas hordas bárbaras que se acercavam de suas fronteiras no Oriente. Um desses povos eram os visigodos, e seu líder, Alarico.
Alarico e suas tropas iniciam a infamante carreira de conquistadores, onde campeavam a morte, o terror e a destruição. A sede de conquistas não mais tinha limites. Devastadoras incursões levavam “gozo, o saque e a morte” às cidades, que uma após outra, sentiam o peso da espada de Alarico e experimentavam os gravames cruéis de sua alucinação guerreira.
Armaduras, lanças, capacetes de ferro, azagaias, dardos e flexas formavam o arsenal do terror. Do alto de sua liteira, bárbaro, encarnando a crueldade e a insensibilidade, parecia transmitir aos corcéis fogosos a sanha de destruição que refervia em sua alma…
Ao terrível exército do caudilho tudo o que interessava eram as conquistas territoriais, o ouro, as riquezas, os estofos de seda e as especiarias. Escrúpulos, não os conhecia Alarico. Sua personalidade reunia qualidades de grande líder e disciplinador, mesclados à prepotência e à perversidade.
Por onde quer que passasse, deixava em seus rastros a viuvez, a orfandade, em traços de selvageria. Mesmo às cidades subjugadas. Alarico impunha seu requinte de maldade e de sadismo, incendiando-as, promovendo os aleijões, ceifando vidas…
Era traço marcante de sua personalidade, a vaidade. Em nome desta mesma vaidade sonhava volver à Roma e conquistar o posto de comandante-em-chefe das tropas imperiais.
Sua intenção não era a de destruir o Império, mas se apossar do ambicionado cargo de comandante das tropas imperiais além de obter territórios dentro de suas fronteiras, na região entre o Danúbio e Golfo de Veneza.
Em posição de superioridade, Alarico negociou durante dois anos a salvação da cidade, 24 de agosto de 410 decide cumprir suas ameaças.
… Antes, porém, quando o acampamento bárbaro ultimava os preparativos para invasão, que já era inevitável, singular episódio viria modificar o rumo dos acontecimentos. Encontrava-se em Roma, Agostinho, bispo de Hipona, que a exemplo da população antevia as consequências trágicas da iminente invasão. A cidade movimentava-se com presteza, sobressaltada com a fama de Alarico. Preparava-se a defesa de seus muros, mas como já poucas esperanças restavam de resistir ao ataque, buscava-se também as melhores formas de proteção às mulheres, crianças e idosos para quando da consumação do fato. Corria, de boca em boca, os feitos de natureza sanguinária, depravada e sádica do guerreiro visigodo. Um mórbido silêncio caracterizava a última fase da expectativa na cidade.
O bispo Agostinho, em dado momento, saiu pelas ruas a divagar sobre o acontecimento sombrio. Ao anoitecer já não se via a movimentação de antes, mas o silêncio sepulcral era às vezes entrecortado por gritos de desespero e alarmes falsos. Arriscada ideia sobressalta-lhe, então, o espírito. O pasmo inicial dá lugar a um fio de esperança na alma amargurada daquele homem do Cristo. Decide ele, mesmo com o risco da própria vida, enveredar-se pelas colinas que levariam ao acampamento bárbaro de lá pedir clemência ao chefe visigodo. Sabia que irados visigodos seria inevitável, no entanto estava disposto a oferecer a vida em troca de uma réstia de esperança para seu povo.
Bendita a fortaleza dos que creem no triunfo do Espírito sobre a Matéria!
Embora a invulnerabilidade do exército do caudilho, ei-lo penetrando em sua hordas, diante do olhar estupefato dos soldados pela sua ousada intrepidez. E os soldados perplexos, súbito, ouviram os gritos alucinados e carregados de ódio de seu chefe, ao tomar conhecimento da ousadia do sacerdote:
– “Degolem-no! Degolem-no! Degolem o romano que ousou desafiar minha força! Degolem-no!”
– Mas, senhor, – ouviu de um subordinado – bem sabes que matar a um sacerdote significa mau agouro! Os soldados têm medo de suas pragas e por isso não lhe tocam!
a mau agouro! Os soldados têm medo de suas pragas e por isso não lhe tocam!
– Estúpidos! Boçais! Quem pôs em suas cabeças essas baboseiras? Vamos, matem-no e pendurem sua cabeça como troféu! – aduziu o general bárbaro, açulado por um ódio injustificado. Os guerreiros, sem a devida coragem para dar o golpe de misericórdia naquele “pobre” homem, enxovalhavam seu rosto com cusparadas, ofendendo-o com os mais execráveis impropérios. Eles odiavam-no. Agostinho, porém. Irresistível em sua fé, prosseguia em direção à tenda do chefe visigodo.
Frente a frente agora, os dois aguardavam a acomodação da turba. Em pouco, apenas abafados comentários ainda se escutavam. Os olhos de Alarico, chispados de ódio, estão fitos, secos, contrastando com o olhar doce e sereno do sacerdote.
Havia algo naquele olhar que o poderoso guerreiro não conseguia explicar: o magnetismo. Frente às atitudes incivis da soldadesca, Agostinho, longe de se chocar, cumprimentava-os com o sorrir sincero, rebuscando nos arquivos das melhores lembranças que trazia.
Alguns se destacavam da turba e vinham como a farejá-lo. Abeiravam-se de sua figura humilde que contrastava com a mitra de bispo e se esforçavam por entender a razão de tamanha coragem. Coragem, sim, para alguns, embora à grande maioria não passasse de ousada afronta. Nenhum deles, entretanto, imaginava quem era esse Agostinho.
Gênio raro, dignificou o sacerdócio cristão e surpreendeu o mundo da época, quando rompeu luminosamente com a carreira de glórias e fama que delineava para si, para optar pelo caminho de porta estreita da salvação. Abraçara o ministério de Jesus, afastando-se conscientemente das comodidades efêmeras do poder material e da sensualidade pecaminosa. Até aquela época, sua vida houvera sido de empenho à instrução catequética de futuros batizados, às obras da caridade e à direção espiritual das comunidades por onde houvera passado. A diligência com que tomava parte na proteção aos pobres, a firmeza com que se embrenhava na defesa dos fracos e oprimidos junto às poderosas autoridades, procurando respeitar o direito de asilo, não o impedia de também oferecer ao povo de sua fé, brilhantes dissertações filosóficas que até hoje permanecem atuais e maravilham o mundo cristão.
E Alarico não conseguia resistir. Embora o desejo de avançar, espada em punho, e colocar termo à audácia do guerreiro do Cristo para salvar sua imagem de líder duro e implacável, o “condottiere” permanecia estático e sem reação ante a surpresa do acontecimento. Assim como seus comandos, sentiu que todo seu aparato bélico e sua experiência de guerreiro de nada valiam, ante a supremacia moral de alguém que, com sua fé inquebrantável, lutava por uma causa justa.
O encontro foi rápido e incisivo…
– Passe logo ao assunto que o traz aqui, miserável, pois o tempo de que disponho não posso perder ante um inimigo de meu povo! Você, seu verme, deve ter perdido o juízo por tomar a resolução de vir aqui em nosso reduto! Fale, miserável, o que deseja? Oferecer-me ouro, prata, seda ou quê? Pois fique sabendo que seu rei, Honório, não aceirou minhas propostas de negociação. Portanto, agora, mesmo que tenha ele voltado atrás em sua decisão, meu povo já tomou a sua: arrasar a cidade de Roma e mostrar a essa corja de imundos quem é o rei do mundo: Alarico!
Agostinho, nesses instantes de comovida compaixão, … relanceando o olhar em derredor, pôde observar uma gama de Entidades Espirituais que procuravam irradiar vibrações de paz a cometimento na tela mental do guerreiro!
Uma ternura infinita se lhe transbordou d’alma… transformou o ímpeto em realidade, e arrojou-se genuflexo e súplice aos pés do verdugo:
– Vê Senhor, a difícil tarefa em que encontro. Rojado a teus pés e colocando o coração nas palavras que te dirijo, venho, não fazer um acordo, como poderias esperar, mas oferecer minha insignificante existência em troca de uma moderação na invasão à nossa cidade…
– O que estás dizendo, repugnante sacerdote? – replicou, rangendo os dentes de ódio, o comandante visigodo – então, acreditas mesmo que eu, o grande general, trocaria a vida de um réptil, que para mim nenhum valor tem, pelas glórias da conquista da cidade-berço do mundo? Pois fica sabendo que lavaremos com sangue do teu povo as alamedas que aclamarão a chegada de meu exército. Saiba que aqueles que se opuserem à nossa entrada na cidade haverão de sofrer as maiores torturas e sentir o peso de minha espada. Apodrecerão nas prisões os que se recusarem a aceitar os visigodos, legítimos detentores do trono da Terra. Suas vias suntuosas terão que estar repletas de romanos para saudar o grande general Alarico, e não haverá um só romano que não será desprezado, humilhado e vilipendiado. Suas mulheres serão nossas mulheres e suas crianças, cedo, serão educadas para servir ao povo visigodo. Os habitantes orgulhosos desta cidade, que foi ingrata com o maior general que lhe pisou o solo, rastejarão como vermes a implorar clemência ao que deverão reconhecer como o legítimo comandante-em-chefe de suas tropas! Está, pois, desgraçado sacerdote, estabelecido o futuro da tua cidade podre!
Abalado ante a rudeza do verbo guerreiro, mas não menos confiante no sucesso de sua missão, apoiada, naqueles momentos pela presença marcante de Protetores Invisíveis, não represa as lágrimas sinceras e comoventes que lhe caem abundantemente…
– Senhor – dirige-lhe a palavra Agostinho – não é minha intenção, nem a de meu povo, replicar ou ir de encontro à supremacia militar de teu Exército, que é notória a todos. Apesar, momo sabemos, desde a partida de nosso Imperador para a África, Roma se encontra desguarnecida e a teus pés. Por isso, em nome do Cristo, que me inspirou a vir ter com o general, em nome de Deus…
-Deus? – replicou raivosamente Alarico – Como ousas falar em outro Deus que te governa? Eu sou teu Deus e outro Deus mais poderoso jamais em tua vida estúpida conhecerás… Compreendes? Eu sou Deus e não admito que venhas ao meu acampamento insultar-me a assacar blasfêmias contra mim. Ninguém é mais poderoso que Alarico, que em breves dias se apoderará da cidade coração do mundo, a única que ainda lhe falta conquistar. Eu sou a lei, eu sou Deus, eu sou o grande Alarico que Roma aclamará e adorará.
Alarico e seus soldado permaneciam, agora, mais do que nunca, estáticos diante de uma reação que ainda não conheciam: ante o dobrar do orgulho, palavras de perdão brotadas do fundo do coração! Realmente, a uma gente habituada a lavar a honra manchada por pequenas desavenças em duelos mortais, essa era uma atitude digna de espanto!
– Não pretendendo molestar Vossa Excelência, por mais tempo, prossigo na minha explanação. A cidade e o povo de Roma pedem clemência, ó grande general, e recorrem à tua misericórdia para que nos poupe ao saque indiscriminado, ao negror das humilhações a nossas mulheres e crianças, às investidas ardentes a nossos lares e templos e nos indulgencie de possíveis falhas com relação a vossa pessoa.
– Indulgência? Clemência? Perdão? Como podes rogar perdão à cidade que não me quis como general e ainda me dizer como devo agir nas batalhas? Quem és tu, ignóbil criatura, para atreveres a ditar normas a um general Visigodo? Como ousas?… Eu te ordeno que te vás e diga ao povo romano que espere para saber quem é Alarico… No entanto nos dias que antecederam a invasão, o olhar e as palavras do sacerdote não saiam da mente do guerreiro e ecoavam-lhe n’alma de maneira perturbadora… não compreendia ele que era o sacerdote em suas fervorosas preces, que o prendia à sua faixa mental e o episódio. E graças à coragem e humildade de Agostinho os Templos cristãos não foram sequer tocados pelos visigodos. O povo romano não entendendo o que se passava diante da moderação do exército inimigo, logo que percebeu a situação, foi buscar proteção naqueles Templos que nesses instantes eram procurados até mesmo pelos pagãos.
Se num passado distante ele usou mal o seu livre arbítrio, interessante notar que a divindade não lhe retirou os seus principais atributos: a inteligência prática e o comando firme para solucionar os problemas aparentes do dia a dia, como Alarico I, Alarico II e o Cardeal de Richelieu, onde ele fez uso da força e da opressão.
Mas Deus, que é amor, após o seu desencarne na França como Cardeal de Richelieu, no século XVII, manteve-o na espiritualidade em tratamento, a fim de que ele próprio avaliasse suas chagas morais, retornando-o somente 350 anos depois no Brasil, como Jésus Gonçalves.
Mas a divina providência concedeu-lhe as ferramentas necessárias para o alívio, despertando nele o interesse pelo vasto mundo das artes, como o teatro e a poesia, a fim de torná-lo mais suscetível às pessoas, mais conformado com a dor e mais sensível…
Jésus Gonçalves nasceu no dia 12 de julho de 1902, em Borebi. Em 1919 se muda para Bauru, se casa com a viúva Theodomira de Oliveira e tem seus 3 filhos e aos 28 anos descobre que tem lepra.
Em 1930, falece sua primeira esposa de tuberculose. Jesus Gonçalves descobre que um de seus filhos, também é portador da hanseníase. Se casa com Anita Vilela. E assim, obrigatoriamente ele foi levado para o Leprosário de Aimorés, com a esposa. Lá fundou um jornal chamado “O Momento”, um time de futebol, uma banda de Jazz e um grupo teatral. Pelas fortes dores que tinha no fígado conseguiu transferir-se para Pirapitingui.
Em 1943 Anita desencarnou, e no velório da mesma aconteceram diversos acontecimentos mediúnicos de clarividência de alguns colegas seus e finalmente Anita passou uma mensagem para ele de uma forma bastante íntima onde Jésus não teve dúvidas da veracidade das informações, um pequeno trecho: “Velho, não duvides mais, Deus existe!”. Por ser ateu e materialista buscou nos livros Espíritas as explicações para o contato. A conversão de Jésus ocorreu de forma bastante convincente. Um dia, às voltas com suas dores no fígado, resolveu chamar aquele “Deus”, e desafiou, tirando um pouco de água e colocando em um copo. “- Se Deus existe mesmo, dou 5 minutos para que coloque nesta água um remédio que me alivie as dores que sinto”. E contou no relógio. Quando bebeu a água sentiu que estava totalmente amarga. Chamou um companheiro que confirmou a alteração da água. E após 2 minutos nada mais sentia em dores. Fundou em 1945, após muito estudo, o Centro espírita Pirapitinguí e a Sociedade Espírita Santo Agostinho. Diversas caravanas Espíritas passaram a visitar o sanatório, levando alegria e conforto aos internos e trabalhou ardentemente no bem, desenvolvendo entre os doentes atividades restauradoras através das artes, consolou os doentes em suas aflições, aceitou sua dor sem reclamar, contribuiu em sua jornada artística como radialista, jornalista, ator, autor teatral e exímio poeta. Passou então a atender as incorporações de familiares e desobsessões severas daqueles considerados “loucos”, permitindo a estes que voltasses à vida normal. Vinte dias antes de desencarnar, com a doença já tendo lhe consumido todo o corpo, e também as cordas vocais, foi à sessão espírita e para a surpresa das 300 pessoas presentes, os mentores da casa devolveram-lhe a voz e aí fez uma preleção de quase 2 horas de elevados ensinamentos evangélicos. Ao término da preleção Jésus simplesmente perdeu novamente a voz.
Em 16/02/1947 por volta das 11 horas da manhã, regressa à Pátria Espiritual Jésus Gonçalves, o Apóstolo de Pirapitingui. março de 1947, já desencarnado, compareceu diante do Chico Xavier em sua residência, relatando o mundo espiritual e sua vida.
Interessante, porém, é que eles nunca se encontraram pessoalmente, apenas trocavam correspondências em razão das dificuldades e da distância. Mas mesmo assim Jésus Gonçalves sempre dizia em suas cartas que assim que pudesse iria visitá-lo em sua casa. E este dia chegou após seu desencarne.
Diz o LE Q.998 “A expiação se cumprirá mediante as provas da vida corporal e, na vida espiritual pelos sofrimentos morais inerentes a nossa inferioridade”.
Céu e inferno Cap.7: 19 e 20 “Como o Espírito tem sempre o livre-arbítrio, o progresso por vezes se lhe torna lento, e tenaz a sua obstinação no mal. Nesse estado pode persistir anos e séculos, vindo por fim um momento em que sua teimosia em afrontar a justiça de Deus, se dobra diante do sofrimento, e no qual malgrado a sua fanfarrice, reconhece a força superior que o domina. Então, desde que se manifestam os primeiros vislumbres de arrependimento, Deus lhe faz entrever a esperança. Nenhum Espírito está incapaz de nunca progredir, votado a eterna inferioridade, o que seria a negação da lei de progresso, que providencialmente rege todas as criaturas. Quaisquer que sejam a inferioridade e perversidade dos Espíritos, Deus jamais os abandona. Todos têm seu anjo da guarda (guia) que por eles vela, espreita-lhe os movimentos da alma, e se esforçam por suscitar-lhes bons pensamentos, desejos de progredir, de reparar em uma nova existência, o mal que fizeram.
Poderemos iniciar nossas reparações desde já, nesta vida com a prática do bem, da caridade, da amorosidade, do afeto com nossos semelhantes. Dessa forma iremos liquidando os débitos que trazemos de tempos imemoriais onde nos comprometemos, infringindo as Leis de Deus, pelo nosso orgulho, vaidade, egoísmo, prepotência, maledicência, paixões e mau uso enfim, de nossas faculdades. Portanto, o arrependimento, é só o primeiro passo para o reajuste com as Leis Divinas, passado não se apaga, porque se tornou nossa história, mas com trabalho no presente construiremos um futuro melhor, pois cabe a cada um de nós eliminarmos nossas imperfeições e alcançarmos a perfeição, é da Leis. Através de nossos méritos e não por graça divina, galgando cada degrau de conhecimento e do Livre Arbítrio, até atingirmos a humildade ensinada por Jesus.
Referências Bibliográficas:
A extraordinária vida de Jésus Gonçalves
Bíblia sagrada
Eustáquio Quinze séculos de uma trajetória, pelo espírito Caibar Schutel
Evangelho segundo o Espírito/ Allan Kardec
Há dois mil anos/ Chico Xavier
Livro dos Espíritos/Allan Kardec
Livro dos Médiuns/Allan Kardec
Mereça ser Feliz / Ermance Dufaux
O Céu e o Inferno/ Allan Kardec
https://editoramundomaior.com.br/artigo/jesus-visto-por-publio-lentulus/
https://geem.org.br/revista-comunicacao-211/
www.espiritismo.tv/Vocabulario/emmanuel
www.wikipedia.org/wiki/Emmanuel
https://www.ceismael.com.br/filosofia/santo-agostinho-e-espiritismo.htm
https://www.correioespirita.org.br/