Expiação e Justiça Divina – palestra 26.6.19
EXPIAÇÃO E JUSTIÇA DIVINA
Estudo CELC -26/06/19 – Ellen
I– DA INTRODUÇÃO
A resposta à questão 931 do L. E. nos ensina que: “… o que se crê a felicidade, esconde, frequentemente, pungentes pesares: o sofrimento está por toda parte. (…) as classes, a que chamas sofredoras são mais numerosas, porque a Terra é um lugar de expiação.”
O “EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO”, no Capítulo III, item 3.”DIVERSAS CATEGORIAS DE MUNDOS HABITADOS” nos explica que:
“A Terra pertence à categoria dos mundos de expiações e provas, e é por isso que nela o homem está exposto a tantas misérias”.
O Livro EVOLUÇÃO PARA O TERCEIRO MILÊNIO, de Carlos Toledo Rizzini, na Parte II, Fundamentos Espíritas, Capítulo 4: Princípios Doutrinários, item 16: “Ação da Lei nos desvios de rumo”, nos ensina que: “Expiação é o castigo imposto pelo erro praticado, é sofrer o que fez outro sofrer.”
Na resposta à questão 246 do “O CONSOLADOR”, de Autoria de Emmanuel, psicografia Chico Xavier, nos explica que a “expiação é a pena imposta ao malfeitor que comete um crime”.
Na questão 167 do “LIVRO DOS ESPÍRITOS” temos: “Qual é o objetivo da reencarnação? – Expiação, aprimoramento progressivo da Humanidade, sem o que, onde estaria a justiça?”
A questão 999 do L. E. indaga: “Basta o arrependimento durante a vida para que as faltas do Espírito se apaguem e ele ache graça diante de Deus? – O arrependimento concorre para a melhoria do Espírito, mas ele tem que expiar o seu passado.”
A resposta da questão 764 do L.E. nos ensina que: “A pena de talião é a justiça de Deus e é Deus quem a aplica. Todos vós sofreis essa pena a cada instante, pois que sois punidos naquilo em que haveis pecado, nesta existência ou em outra. Aquele que foi causa do sofrimento para seus semelhantes virá a achar-se numa condição em que sofrerá o que tenha feito sofrer.
A questão 875 do L. E. indaga: “Como se pode definir a justiça? – A justiça consiste em cada um respeitar os direitos dos demais.”
Assim, graças ao Espiritismo, compreendemos a Justiça das Expiações que não decorrem dos atos da vida presente, porque elas são as penas impostas das dívidas do passado, pelo desrespeito das leis eternas.
Na Revista Espírita, Ano XII, Outubro de 1869, “As expiações coletivas”:
Quem matou com a espada perecerá pela espada” (Mateus, 26:52), são palavras do Cristo, palavras que se podem traduzir assim:
Aquele que fez correr sangue verá o seu também derramado; aquele que levou a tocha do incêndio ao que era de outrem, verá o incêndio ateado no que lhe pertence; aquele que despojou será despojado; aquele que escraviza e maltrata o fraco será a seu turno escravizado e maltratado, quer se trate de um indivíduo, quer de uma nação, ou de uma raça, porque os membros de uma individualidade coletiva são solidários assim no bem como no mal que em comum praticaram.
E Jesus nos ensinou em Mateus, 16:27:
“Porque o Filho do Homem há de vir na glória de seu Pai com os seus anjos; e então dará a cada um a paga, segundo as suas obras.”
II.- DA EXPIAÇÃO NA BÍBLIA SAGRADA
Êxodo 21: 23-25:
Mas se houver dano, então darás vida por vida; olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé; queimadura por queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe.
Levítico 19:17:
Não aborrecerás a teu irmão no teu coração; não deixarás de repreender o teu próximo e nele não sofrerás pecado.
Deuteronômio 8:3:
… o homem não viverá só de pão, mas que de tudo o que sai da boca o Senhor viverá o homem.
Deuteronômio 19:20-21:
Para que os que ficarem ouçam e temam, e nunca mais tornem a fazer tal mal no meio de ti. O teu olho não terá piedade; vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé.
Deuteronômio 32:35:
Minha é a vingança e a recompensa, no devido tempo o seu pé resvalará; porque o dia da sua ruína está próximo, e as coisas que lhes hão de suceder se apressam a chegar.
Salmos 94:1 e 94:23:
Ó SENHOR Deus, a quem a vingança pertence, ó Deus, a quem a vingança pertence, mostra-te resplandecente. E trará sobre eles a sua própria iniquidade, e os destruirá na sua própria maldade; o SENHOR nosso Deus os destruirá.
Mateus 4:4:
Ele, porém, respondendo disse: Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus.
Mateus 16:26-27: Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? Ou que dará o homem em recompensa da sua alma? Porque o filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então dará a cada um segundo as suas obras.
Mateus 18:08-09:
Portanto, se a tua mão ou o teu pé te escandalizar, corta-o a atira-o para longe de ti; melhor te é entrar na vida coxo ou aleijado do que, tendo duas mãos ou dois pés. Seres lançado no fogo eterno. E se o teu olho te escandalizar, arranca-o, atira-o para longe de ti. Melhor te é entrar na vida com um só olho do que, tendo dois olhos, seres lançado no fogo do inferno.
Mateus 26:52:
Embainha a tua espada; pois todos os que lançam mão da espada pela espada morrerão.
Lucas 21:22:
“Porque dias de vingança são estes, para que se cumpram todas as coisas que estão escritas.”
Romanos 12:19: Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira, porque
está escrito: Minha é a vingança; eu recompensarei, diz o Senhor.
Gálatas 6:7:
Pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará.
1ªCarta de Pedro 3:17
Porque melhor é que padeçais fazendo bem (se a vontade de Deus assim o quer) do que fazendo o mal.
Apocalipse 13:9-10:
Se alguém tem ouvidos, ouça. Se alguém leva em cativeiro, em cativeiro irá; se alguém matar à espada, necessário é que à espada será morto. Aqui está a paciência e a fé dos santos.
Observação: “leva em cativeiro, em cativeiro irá”, isto é a expiação, é sofrer o que fez outro sofrer; “a paciência”, isto é, tem paciência porque sabe que a justiça se cumpre, e também ter paciência significa eu ter que aceitar a imposição da lei, ou seja, a pena imposta; “fé dos santos”, isto é, do justo: é aquele que anda direito, fala a verdade e faz o bem.
Apocalipse 22:11-12:
Quem é injusto faça injustiça ainda; e quem está sujo suje-se ainda; e quem é justo faça justiça ainda; e quem é santo seja santificado ainda. E eis que logo venho, e o meu galardão (recompensa) está comigo, para dar a cada um segundo a sua obra.
Um exemplo de expiação na Bíblia Sagrada: João Batista morreu decapitado, pois em encarnação anterior, quando foi Elias, mandou cortar a cabeça de 450 profetas (em 1Reis 18:19: está escrito que eram 450 profetas de Baal):
I Reis 18:40: Elias lhes disse: Prendam os profetas de Baal; que nenhum deles escape. E todos foram presos; e Elias os fez descer ao ribeiro de Quisom, e ali os degolou.
E Malaquias profetizou que Elias voltaria antes de Jesus, vide Malaquias 4:5: Eis que eu vos envio o profeta Elias, antes que venha o dia grande e terrível do Senhor.
Mateus 17:10-13: E os seus discípulos o interrogaram dizendo: Por que dizem então os escribas que é mister que Elias venha primeiro? E Jesus, respondendo, disse-lhes: Em verdade Elias virá primeiro e restaurará todas as coisas. Mas digo-vos que Elias já veio, e não o conheceram, mas fizeram-lhe tudo o que quiseram. Assim farão eles também padecer o Filho do homem. Então entenderam os discípulos que lhes fara de João Batista.
Mateus 14:8-11: E ela (a filha de Herodias), instruída previamente por sua mãe, disse: Dá-me num prato a cabeça de João Batista. E o rei (Herodes) afligiu-se, mas, por causa do juramento e dos que estavam à mesa com ele, ordenou que se lhe desse. E mandou degolar João no cárcere. E a sua cabeça foi trazida num prato e dada à jovem, e ela a levou à sua mãe.
III.- DA EXPIAÇÃO E DA JUSTIÇA DIVINA
Na Bíblia Sagrada, nas seguintes palavras de Ezequiel (33:11) encontramos a negação das penas eternas:
Dizei-lhes estas palavras: Eu juro por mim mesmo que não quero a morte do ímpio, mas que o ímpio se converta, que abandone o mau caminho e que viva. (Ezequiel, 33:11.)
O Livro EVOLUÇÃO PARA O TERCEIRO MILÊNIO, de Carlos Toledo Rizzini, na Parte II, Fundamentos Espíritas, Capítulo 4: Princípios Doutrinários, item 8 “A Lei de Deus”, subitem 2, nos ensina que:
- O princípio central da lei Divina é a evolução. (…) Gozam as pessoas normais de liberdade para decidir e agir de acordo com a decisão.
Porém, elas não podem suspender o efeito de suas ações: a cada ação corresponde uma reação igual e de sentido contrário, que se volta na direção do autor. A este cabe, pois, enfrentar as más consequências de seus atos passados por meio da expiação e da reparação. Tal é o princípio de causa e feito (ou de causalidade).
O que pensamos e fazemos têm influência sobre os outros. A semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória, o próprio agente deve reabsorver os efeitos do mal e alegrar-se com os do bem praticado.
É assim que o Espírito goza de livre arbítrio por ocasião da emissão de pensamentos e atos, no presente.
Há, em nossas vidas, diante desse princípio, uma faixa de determinismo, referente ao passado culposo, sobre a qual não podemos aplicar a liberdade de escolher, os acontecimentos que daí resultam, são consequências de outros acontecimentos anteriores e não podemos mudá-los à vontade. As vidas sucessivas estabelecem a continuidade entre passado e presente.
O Livro EVOLUÇÃO PARA O TERCEIRO MILÊNIO, na Parte II, Fundamentos Espíritas, Capítulo 4: Princípios Doutrinários, item 16: Ação da Lei nos desvios de rumo, subitens 2 e 3, nos ensina que:
“2. Quase sempre, o espírito desviou-se do andamento normal da evolução, entregando-se ao mal sob múltiplas formas, a imensa maioria das quais acarreta prejuízo para os seus semelhantes. Entra em cena a LEI DE AÇÃO E REAÇÃO ou CAUSA E EFEITO para promover os acertos devidos. Expiação é o castigo imposto pelo erro praticado, é sofrer o que fez outro sofrer. É proporcional ao nível de adiantamento alcançado pelo Espírito e precisa ser antecedida pelo arrependimento.
Enquanto o culpado mostrar-se endurecido, indiferente ou revoltado, permanecerá nas zonas espirituais de sofrimento (umbral, trevas). Quando desponta o primeiro sinal de arrependimento pelo mal praticado, missionários do bem eterno começam a visitar o infeliz, ensinando-o e estimulando-o à autorreforma; depois, levam-no para casas ali mesmo situadas onde ele é atendido e reeducado até o ponto possível para a reencarnação expiatória.
Nasce mais um “desgraçado”, renasceu um irmão necessitado de reforma drástica e urgente, apenas a evolução está em marcha de modo mais evidente.
Numa fase posterior, haverá a reparação, isto é, o esforço no reajustamento da vítima ou a devolução do que lhe é devido.
Muitíssimas vidas estão centradas em torno da necessidade de reparar males anteriormente feitos a outros. Esposos, filhos, parentes, amigos, etc., com frequência envolvem situações reparatórias. Quando retiramos alguém do seu caminho para servir aos nossos fins pessoais (egocêntricos), mais tarde recebê-lo-emos no lar para ajudá-lo a reequilibrar-se perante a vida…. Aqui é preciso aplicar o amor mediante o esforço pessoal na compreensão dos sofrimentos e deficiências alheias e das próprias dificuldades.
É bom notar que expiações e reparações servem também de provas. Um débito é cobrado ou um erro corrigido, mas, ao mesmo tempo, algum setor do espírito submetido a exame.
Se o indivíduo expia seus crimes, renascendo sem membros, sua paciência e resignação são testadas. Se o sujeito casa-se para reparar antigo abuso, com pessoa menos agradável, sua constância e tolerância serão provadas.
- Nesse contexto, o dever cumprido torna-se a maneira mais importante de viver, é o essencial para felicidade do Espírito, pois o liberta de futuros obstáculos e penas.
Felicidade ou infelicidade não são estados mentais decorrentes de condições exteriores, mas estados de consciência derivados de condições interiores: o dever cumprido ou não, o bem ou o mal feito. Por isso, goza-se a primeira (felicidade) e sofre-se a segunda (infelicidade) em qualquer lugar. A paz é conquista pessoal e depende da direção consciente escolhida pelo ser humano em matéria de princípios e de conduta.”
O livro: “O CÉU E O INFERNO”, de ALLAN KARDEC, Primeira Parte, Capítulo VII: As Penas Futuras Segundo o Espiritismo, no item: Código Penal da Vida Futura, no subitem 16, nos ensina:
“O arrependimento é o primeiro passo para o melhoramento. Mas ele apenas não basta, sendo necessárias ainda a expiação e a reparação. Arrependimento, expiação e reparação são as três condições necessárias para apagar os traços de uma falta e as suas consequências.”
O livro AÇÃO E REAÇÃO, de André Luiz, psicografia de Chico Xavier, no Capítulo 9: “A História de Silas”, nos ensina que:
“A LEI É DE AÇÃO E REAÇÃO … A ação do mal pode ser rápida, mas ninguém sabe quanto tempo exigirá o serviço da reação, indispensável ao restabelecimento da harmonia soberana da vida, quebrada por nossas atitudes contrárias ao bem… — Por isso mesmo, recomendava Jesus às criaturas encarnadas: — ‘reconcilia-te depressa com o teu adversário, enquanto te encontras a caminho com ele…’ É que Espírito algum penetrará o Céu sem a paz de consciência, e, se é mais fácil apagar as nossas querelas e retificar nossos desacertos, enquanto estagiamos no mesmo caminho palmilhado por nossas vítimas na Terra, é muito difícil providenciar a solução de nossos criminosos enigmas, quando já nos achamos mergulhados nos nevoeiros infernais.”
IV.- DA EXPIAÇÃO NOS DOIS PLANOS DA VIDA
L.E. 988. A expiação se cumpre no estado corporal ou no estado espiritual?
A expiação se cumpre durante a existência corporal, mediante as provas a que o Espírito se acha submetido e, na vida espiritual, pelos sofrimentos morais, inerentes ao estado de inferioridade do Espírito.
L.E. 977. Não podendo os Espíritos ocultar reciprocamente seus pensamentos e sendo conhecidos todos os atos da vida, dever-se-á deduzir que o culpado está perpetuamente em presença de sua vítima?
Não pode ser de outro modo, o bom-senso o diz.
a) — Essa divulgação de todos os nossos atos reprováveis e a presença perpétua daqueles que lhe foram as vítimas são um castigo para o culpado?
Maior do que se pensa, mas tão-somente até que o culpado tenha expiado suas faltas, quer como Espírito, quer como homem, em novas existências corpóreas.
“O CONSOLADOR”: 244 – Existem lugares de penitência no plano espiritual?
“-Considerando a penitência em sua feição expiatória, existem numerosos lugares de provações na esfera para vós invisível, destinados à regeneração e preparo de entidades perversas ou renitentes no crime, a fim de conhecerem as primeiras manifestações do remorso e do arrependimento, etapas iniciais da obra de redenção.”
L.E. 991. Qual a consequência do arrependimento no estado espiritual?
O desejo de uma nova encarnação para se purificar. O Espírito compreende as imperfeições que o privam de ser feliz e por isso aspira a uma nova existência, em que poderá expiar suas faltas.
Exemplo de Expiação no Corpo Físico:
Extraído do livro “CONTOS E APÓLOGOS”, de Autoria de Irmão X (Humberto de Campos), no Capítulo 23, intitulado “Dívida e Resgate”, psicografia de Chico Xavier, nos conta um caso de EXPIAÇÃO NO CORPO FÍSICO, era a antevéspera do Natal de 1856, e a Dona Maria Augusta Correia da Silva, fazendeira riquíssima e dona de escravos retornou à sua fazenda localizada às margens do Rio Paraíba, depois de ter ficado ausente por quase um ano de passeio repousante na Corte. Ao chegar os seus 62 (sessenta e dois) escravos tinham que cumprimentá-la e pedir a benção. E Dona Maria Augusta, na sala grande, nobremente assentada, fazia um gesto de saudação, à distância, para cada escravo que exclamava de joelhos:
— Louvado seja Nosso Senhor Jesus-Cristo, “sinhá”!
— Louvado seja! — respondia Dona Maria Augusta com terrível severidade.
Velhinhos de cabeça branca, homens rudes do campo, mulheres desfiguradas pelo sofrimento, moços e crianças desfilavam nas boas-vindas. E num canto recuado, pobre moça mestiça, sustentando nos braços duas crianças recém-nascidas, esperava a sua vez. Foi a última que se aproximou para a saudação. A fazendeira soberana levantou-se, altiva, chamou para junto de si o capataz, e, antes que a pobrezinha lhe dirigisse a palavra, falou-lhe, duramente:
— Matilde, guarde as crias na senzala e encontre-me no terreiro. Precisamos conversar.
A escrava obedeceu sem hesitação. E indo em direção do quintal, Dona Maria Augusta e o capataz cochichavam entre si. Já era de noite e as duas mulheres guiadas pelo rude capitão do mato, chegaram até à margem do Rio Paraíba. O tempo ameaça chuva e o céu estava repleto de grandes nuvens e medonhos trovões.
A Senhora perguntou com soberba à escrava humilhada quem era o pai das duas crianças nascidas em sua ausência. A escrava respondeu que eram do “Nhô” Zico. A Senhora chamou a escrava de miserável, e que o seu filho não lhe daria semelhante desgosto. E mandou a escrava negar tal fato. A escrava falou que era verdade. A senhora olhou em derredor e viu que ninguém os assistia e falou para a escrava que ela nunca mais iria ver as crianças, e que ela (a fazendeira) odiava tais bebês. A escrava pediu clemência (misericórdia), implorou para não ser separada dos meninos. A senhora disse que de agora em diante estava dando liberdade à escrava e que iria colocar as duas crianças à venda. A Fazendeira disse para a escrava que era para ela trabalhar noutra parte para comprar os meninos. E mandou a escrava ir embora imediatamente indicando-lhe o Rio Paraíba, para que atravessasse o rio e desaparecesse. A escrava pediu piedade à fazendeira, pois se ela entrasse no rio, morreria. Mas, a um sinal da patroa, o capataz estalou o chicote no dorso da escrava que caiu na corrente profunda, gritando:
— Socorro! Socorro, meu Deus! Valei-me, Nosso Senhor!
Todavia, daí a instantes, apenas um cadáver de mulher descia rio abaixo, ante o silêncio da noite…
Cem anos passaram…
Na antevéspera do Natal de 1956, Dona Maria Augusta Correia da Silva, reencarnada, estava na cidade de Passa-Quatro, no sul de Minas Gerais.
Era ela mesma, com a diferença de que, ao invés de rica fazendeira, era agora apagada mulher, em rigorosa luta para ajudar ao marido na defesa do pão. Sofria no lar as privações dos escravos de outro tempo. Era mãe, padecendo aflições e sonhos… Meditava nos filhinhos, ante a expectação do Natal, quando a chuva, sobre o telhado, se fez mais intensa. Horrível temporal desabava na região. A pobre senhora, vendo a água invadir-lhe a casa, avançou para fora, seguida do esposo e das crianças…
As águas, porém, subiam sempre em turbilhão envolvente e destruidor, arrastando o que se lhes opusesse à passagem. Diante da ex-fazendeira erguia-se um rio inesperado e imenso e, em dado instante, esmagada de dor, ante a violenta separação do companheiro e dos pequeninos, tombou nas águas, gritando em desespero:
— Socorro! Socorro, meu Deus! Valei-me Nosso Senhor!
Todavia, decorridos alguns momentos, apenas um cadáver de mulher descia corrente abaixo, ante o silêncio da noite…
A antiga sitiante do Vale do Paraíba expiou a falta cometida perante a Lei.
Exemplo de expiação no Plano Espiritual e no Corpo Físico: Revista Espírita, Ano X, Maio de 1867, “Uma expiação terrestre – O jovem François”:
“(…) Numa boa e honesta família morreu, em outubro de 1866, um rapazote de 12 (doze) anos, cuja vida, durante 9 (nove) anos, tinha sido um sofrimento contínuo, que nem os cuidados afetuosos de que era cercado, nem os socorros da Ciência tinham podido ao menos suavizar.
Era acometido de paralisia e hidropisia (retenção de líquidos nos tecidos celulares); seu corpo estava coberto de chagas, invadidas pela gangrena (morte dos tecidos causada por falta de irrigação sanguínea) e suas carnes caíam aos pedaços. Muitas vezes, no auge da dor, ele exclamava:
“Que fiz eu então, meu Deus, para merecer sofrer tanto? E, contudo, desde que estou no mundo não fiz mal a ninguém!”
Instintivamente esse rapazinho compreendia que o sofrimento devia ser uma expiação, mas, ignorando a lei de solidariedade das existências sucessivas, não remontando seu pensamento além da vida presente, não se dava conta da causa que nele pudesse justificar tão cruel castigo.
Uma particularidade digna de nota foi o nascimento de uma irmã, quando ele tinha cerca de três anos. Foi nesta época que se declararam os primeiros sintomas da terrível enfermidade da qual devia sucumbir. Desde esse momento ele sentiu pela recém-vinda uma repulsa tal que não podia suportar sua presença, parecendo que sua vista redobrava seus sofrimentos. Muitas vezes ele se censurava por esse sentimento, que nada justificava, porque a pequena não o partilhava; ao contrário, ela era doce e amável para com ele.
Ele dizia à sua mãe: “Por que, então, a vista de minha irmã me é tão penosa?” (…) Era evidente que nele dois sentimentos se combatiam; compreendia a injustiça de sua antipatia, mas seus esforços para superá-la eram impotentes. (…) Assim, já se vê no irmão uma tendência e esforços para superar a sua aversão, que reconhece injusta. Esta antipatia (…) provinha, pois, conforme toda a probabilidade, de lembranças dolorosas, e, talvez, do remorso que despertava a presença da menina.
Evocado após a morte, por uma amiga da família, entre as diversas comunicações que deu, eis as duas que se referem mais particularmente à questão:
“Esperais de mim o relato que prometi, acerca do que fui numa existência anterior, e a explicação da causa de meus grandes sofrimentos; será um ensinamento para todos. (…) Pequei, sim pequei! Sabeis o que é ter sido assassino, ter atentado contra a vida de seu semelhante? Não o fiz pela maneira como os assassinos empregam, matando imediatamente, seja com uma corda, seja com uma faca ou qualquer outro instrumento; não, não foi dessa maneira. Matei, mas matei lentamente, fazendo sofrer um ser que eu detestava! Sim, eu detestava esta criança que julgava não me pertencer! Pobre inocente! (…) Razão por que fui obrigado a sofrer como vistes. Eu sofri, meu Deus! Terá sido bastante? Sois tão bom, Senhor! Sim, em presença de meu crime e da expiação, acho que fostes muito misericordioso. (…)
Por mais que se esteja num estado melhor, por mais que se tenha expiado, o pensamento, a lembrança dos crimes deixam tal impressão que é impossível que não se sinta ainda por muito tempo todo o horror, porque não foi somente na Terra que sofri, mas antes, na vida espiritual! E quanto sofri para me decidir a vir sofrer esta expiação terrível! Não vos posso narrar tudo isto, porque seria muito horroroso! A visão constante de minha vítima, e a outra, a pobre mãe! Enfim, meus amigos: preces por mim e graças ao Senhor! Eu vos tinha prometido este relato. Era preciso que eu pagasse até o fim a minha dívida, custasse o que custasse.(…)
Vosso filho, François E.”
Numa outra comunicação, o Espírito do jovem François completou as informações acima:
“P. – Caro rapaz, não disseste de onde vinha tua antipatia por tua irmãzinha.
Resposta. – Não o adivinhais? Esta pobre e inocente criatura era minha vítima, que Deus tinha ligado à minha última existência como um remorso vivo. Eis por que sua vista me fazia sofrer tanto.”
“P. – Entretanto, não sabias quem era ela.
Resposta. – Não o sabia em vigília, sem o que meus tormentos teriam sido cem vezes mais horríveis; tão horríveis quanto tinham sido na vida espiritual, em que eu a via incessantemente. Mas credes que meu Espírito, nos momentos em que estava desprendido, não o soubesse? Era a causa de minha repulsa, e se me esforçava por combatê-la, é que instintivamente sentia que era injusta. Eu não era ainda bastante forte para fazer o bem àquela que eu não podia impedir-me de detestar, mas não queria que lhe fizessem mal: era um começo de reparação. Deus me levou em conta este sentimento, permitindo que cedo eu ficasse livre de minha vida de sofrimento, sem o que eu teria podido viver ainda longos anos na horrível situação em que me vistes. Bendizei, pois, minha morte, que pôs um termo à expiação, porque foi a garantia de minha reabilitação.”
V.- DAS CIRCUNSTÂNCIAS ATENUANTES e AGRAVANTES DA EXPIAÇÃO
O livro “O CÉU E O INFERNO”, na Primeira Parte, Capítulo VII – AS PENAS FUTURAS SEGUNDO O ESPIRITISMO, no item “CÓDIGO PENAL DA VIDA FUTURA”, nos ensina:
“11º. A expiação varia segundo a natureza e gravidade da falta, podendo, portanto, a mesma falta determinar expiações diversas, conforme as circunstâncias, atenuantes ou agravantes, em que for cometida.
V.I. – DAS ATENUANTES
O CONSOLADOR – 336 – O culpado arrependido pode receber da justiça divina o direito de não passar por determinadas provas?
“-A oportunidade de resgatar a culpa já constitui em si mesma, um ato de misericórdia divina, e, daí, o considerarmos o trabalho e o esforço próprio como a luz maravilhosa da vida. Entendendo, todavia, a questão à generalidade das provas; devemos concluir ainda, com o ensinamento de Jesus, que ‘o amor cobre a multidão dos pecados’, traçando a linha reta da vida para as criaturas e representando a única força que anula as exigências da lei de talião, dentro do Universo infinito.”
L.E. 1008 – A duração das penas depende sempre da vontade do Espírito, e não há as que lhe são impostas por um tempo determinado?
– Sim, as penas podem ser-lhe impostas por um tempo, mas Deus, que só quer o bem de suas criaturas, acolhe sempre o arrependimento e o desejo de melhorar-se não é jamais estéril.
Um exemplo de EXPIAÇÃO ATENUADA colhido do livro AÇÃO E REAÇÃO, de André Luiz, psicografia Chico Xavier, no Capítulo 16: “DÉBITO ALIVIADO”, André Luiz nos conta que, para seus estudos da Lei de Causa e Efeito, Silas levou-o, juntamente com Hilário, num Centro Espírita. Lá estava o dirigente Adelino Correia prestando esclarecimentos sobre o Evangelho, para as pessoas que o ouviam com respeito e emoção.
Adelino Correia se vestia com simplicidade e possuía longa faixa de eczema na pele (inflamação da pele) à mostra na cabeça, nos ouvidos e na face, com placas vermelhas e nas demais regiões da pele tinham rachaduras, feridas que não cicatrizavam, evidenciando uma doença de pele crônica e dolorosa. Contudo, Adelino Correia trazia nos olhos a marca da humildade. Ele era um exemplo de pai de família com três filhos: Marisa, filha consanguínea (com cerca de 9 a 10 anos de idade), Mário e Raul, filhos adotados. Era devotado trabalhador espírita, vivia com resignação e humildade e tudo fazia em prol de todos. Era casado, mas a esposa havia deixado o lar há cerca de 6 (seis) anos. Morava com sua mãe, senhora Leontina (contava com mais de 60 anos de idade) e os 3 filhos.
E Silas passou a explicar que Adelino Correia era um exemplo de dívida aliviada, contando que no Século XIX, Adelino era o filho bastardo de um rico fazendeiro, o Martim Gaspar, com uma das suas escravas, que morrera no parto. Martim Gaspar era de coração duro, punia severamente seus escravos e abusava das escravas e, às vezes, as vendia com os seus próprios filhos. Martim Gaspar era temido na casa-grande da qual era senhor absoluto, pois herdou tudo em razão da morte do velho pai. No entanto, com o seu filho bastardo, o Adelino Correia de hoje, Martim Gaspar tinha ternura e dedicação sem limites, inexplicavelmente para ele mesmo, Martim Gaspar amava muito o filho, a ponto de proporcionar-lhe educação esmerada na própria fazenda e legitimá-lo como filho perante as autoridades de seu tempo.
Pai (Martim Gaspar) e filho (o atual Adelino Correia) se tornaram amigos e cúmplices nas maldades que faziam com seus escravos e empregados. Contavam, pai e filho, respectivamente, com 43 (quarenta e três) e 21 (vinte e um) anos de idade quando Martim Gaspar casou-se com Maria Emília (que tinha 20 anos de idade), que logo passou a conquistar seu enteado (o atual Adelino Correia). Adelino, não resistindo às tentações, concordou em matar o pai e através dos capatazes Antônio e Lucídio incendiou Martim Gaspar quando ele estava acamado, doente do fígado.
Procurando anestesiar a consciência e esquecer, Adelino confiou a administração da fazenda aos dois capatazes cúmplices e mudou-se com Maria Emília para Europa em busca de repouso e distração. No entanto, ficou sob o jugo obsessivo de Martim Gaspar, sendo que depois de cinco anos sua pele se abriu em chaga, como se chamas ocultas o queimassem, e recapitulava incessantemente a morte de seu pai, ocasiões em que gritava e chorava, e após longo tempo de sofrimento pelo remorso morreu abandonado como alienado mental.
Após sofrer pavorosa vingança, no Plano Espiritual, em cárceres de treva, por 11 anos, Adelino foi recolhido à colônia espiritual “Mansão Paz”, onde se dedicou aos serviços mais duros e conquistou, com o tempo, a oportunidade de voltar à Terra, para iniciar o pagamento da larga dívida contraída.
Reencarnou sob imensas dificuldades materiais e desde cedo cresceu órfão de pai, pois no passado não valorizou a ternura paterna. Muito jovem foi conduzido pelos benfeitores da Mansão Paz a um Centro Espírita para tratamento da pele esfogueada e passou a estudar a Doutrina Espírita, passando a aplicar em si mesmo as diretrizes regeneradoras espíritas.
Trilhando o caminho da simplicidade, da renúncia, segue ajudando aos outros e com isto diminui, dia a dia, o montante de seus débitos. E pela utilidade que imprimi aos seus dias (pelas reparações que faz aos outros), ADELINO MERECEU A LIMITAÇÃO DA ENFERMIDADE DE PELE. OU SEJA, NÃO TEM TODO O CORPO TOMADO PELA DOENÇA COMO ESTAVA PROGRAMADO, POIS A ENFERMIDADE NÃO TOMOU PROPORÇÕES QUE O IMPEÇAM DE TRABALHAR.
Hoje cuida sozinho dos três filhos, pois foi abandonado pela esposa (pois não merecia a ventura do lar tranquilo por haver arruinado o lar paterno).
A filha querida de hoje é a sua madrasta do passado (que ele desviou dos braços de seu pai, e que hoje deverá reeducar-se ante os exemplos nobres de Adelino).
Os seus dois filhos adotivos são os capatazes Antônio e Lucídio, que o ajudaram a matar o seu pai.
E, na madrugada seguinte à noite em que Silas, André Luiz e Hilário visitaram o lar de Adelino, os três, juntamente com Druso, lá voltaram para acompanhar a chegada de mais um órfão, um recém nascido deixado à porta da casa de Adelino, era Martim Gaspar (que foi pai de Adelino) que Adelino Correia recebeu com muito amor. Martim Gaspar retornou o corpo físico asilando-se nos brações do filho que outrora o desprezou e que agora o vai amar.
II. – DAS AGRAVANTES
L.E. 987. Que sucede ao homem que, não fazendo o mal, também nada faz para libertar-se da influência da matéria?
Visto que nada fez na direção da perfeição, tem que recomeçar uma existência de natureza idêntica à precedente. Fica estacionário, podendo assim prolongar os sofrimentos
da expiação.
Exemplo de DÍVIDA AGRAVADA colhido do livro AÇÃO E REAÇÃO, de André Luiz, psicografia Chico Xavier, no Capítulo 12: “DÍVIDA AGRAVADA”,
Uma mãe desencarnada, Sra. Luísa, muito angustiada vai até Silas na Mansão Paz, em busca de auxílio para sua filha, Marina, que está querendo se suicidar naquela noite.
Ante a urgência, Silas, juntamente com André Luiz e Hilário vão até a casa de Marina. Silas explica que Marina é uma antiga paciente da Mansão Paz, que reencarnou há quase 30 (trinta) anos, sob o apoio de referida Instituição, e que se tratava de problema de débito agravado.
Chegando na casa de Marina, por volta da zero hora, a encontraram de joelhos beijando sua filhinha, como se despedisse dela, que tinha cerca de dois a três anos e que choramingava inquieta. Num movimento rápido Marina pegou copo que continha veneno e quando ela o leva à boca, Silas lhe disse como poderia pensar na morte, sem antes fazer uma oração. Seus ouvidos físicos não o ouviram, porém seu Espírito sim e Marina ficou indecisa, colocando o copo no local primitivo e estirou-se no leito em prece, na qual pedia a Deus que tivesse compaixão dela, que estava doente e sem recursos, que seu marido que estava num leprosário viveria melhor sem ela e sua filhinha, por certo, encontraria uma família para lhe amar.
Silas administrava nela passes magnéticos de prostração e induzindo-a a um ligeiro movimento do braço fez que ela mesma, num impulso irrefletido, batesse com força no copo que rolou ao chão derramando o veneno. Marina sentiu que Deus não queria que ela se suicidasse e com temor e remorso passou a orar em silêncio. Ocasião em que Silas passou a conduzi-la ao sono provocado. Quando começou a explicar para André Luiz e Hilário porque o caso de Marina era de conta agravada:
Marina reencarnou, depois de ficar internada na Mansão Paz, para auxiliar Jorge e Zilda, dos quais se fizera devedora.
No século passado, Jorge e Zilda eram recém casados, Marina se colocou entre os dois, Zilda se tornou a esposa repudiada e Marina levou-os a várias imprudências, que lhes resultaram em demência no Plano Espiritual.
Depois de longos padecimentos, e da intercessão de muitos amigos junto aos Espíritos Superiores, para que se pudesse recompor a situação dos três, foi estabelecida a reencarnação dos três no mesmo quadro social para o trabalho regenerativo.
Luísa recebeu Marina, como filha primogênita e sua irmãzinha Zilda, com a qual Marina era muito carinhosa. E segundo o programa de serviço traçado (mapa de provas) era para Zilda e Jorge se reencontrarem e casarem-se para juntos trabalharem no bem. E à Marina, que sentiria o amor pelo mesmo homem (Jorge) caberia a renúncia construtiva.
Quando as duas estão moças, Zilda e Jorge se conhecem e reatam instintivamente os elos afetivos do passado, amam-se com fervor e ficam noivos.
Marina, não cumprindo as promessas feitas no plano espiritual, passou a tramar contra o noivado da irmã, surda que estava aos apelos de sua consciência. Marina passou a envolver o noivo de sua irmã em seduções, no que foi auxiliada por espíritos de doentios desejos, cuja companhia atraiu sem perceber.
Jorge deixou-se levar e em poucos meses ambos se comprometiam em encontros ocultos, até que, faltando duas semanas para o casamento, Jorge confessa a Zilda que está apaixonado por Marina e que não vai mais se casar com ela, que se suicida na mesma noite.
Zilda foi recolhida por Luísa, que já tinha desencarnado e levada à Mansão Paz. Luísa rogou auxílio a suas duas filhas, à Marina, a qual Luísa julgava mais infeliz que Zilda, já que Zilda apesar do grave débito do suicídio tinha a atenuante da alienação mental decorrente do choque do abandono.
O Ministro Sânzio (Sânzio é um Espírito das esferas mais altas, é um dos orientadores da Mansão Paz) analisou o caso e determinou:
– que Marina fosse considerada devedora em conta agravada por ela mesma.
– que Zilda retornasse ao lar. Marina falhara na prova da renúncia em favor da irmã que lhe era credora generosa e agora deveria recebê-la como filha, terrivelmente sofredora, para que a amasse.
Assim, Jorge e Marina casaram-se. Dois anos depois de casados receberam Zilda, agora Nilda, como filha, a qual nasceu surda-muda e deficiente mental, em consequência do trauma causado no perispírito decorrente do envenenamento voluntário. Nilda (Zilda), por sua condição, chorava dia e noite e quanto mais chorava, mais amor recebia dos pais ternos e amorosos.
Quando a menina já tinha os seus dois anos, Jorge foi apartado para o leprosário, onde se encontra em tratamento e Marina, em seu débito agravado, padece a tentação do suicídio.
Nesse instante a mãe desencarnada, Sra. Luísa chegou e Silas contou-lhe o ocorrido, ela agradeceu muito. Silas visando dar amplo socorro à Marina lhe aplicou novos passes magnéticos, até que Marina em desdobramento viu sua mãe, a qual lhe acolheu no colo fraterno, lhe falando para não ter desânimo, pois a doença do Jorge e a provação da Nilda constituíam caminho de elevação para eles, bem como, para a própria Marina.
Que era para ela aprender a sofrer com humildade para que a dor não fosse simplesmente orgulho ferido. Que era para ela se lembrar da irmã (Zilda) que se suicidou ao sofrer a traição e abandono e pagar com amor e sacrifício à filhinha doente (Nilda/Zilda) a conta que deve à Justiça Eterna. Que era para ela trabalhar e servir esperando em Jesus, pois o Divino Médico iria restituir a saúde de Jorge, para que ambos possam cuidar de Nilda. Marina ouvia tudo e pedia perdão à mãe, que lhe falou para que não procurasse a porta falsa da deserção, que era para ela viver para a sua família. Marina acolheu as palavras de sua mãe e se renovou intimamente.
– DAS EXPIAÇÕES COLETIVAS
O livro “OBRAS PÓSTUMAS”, na PRIMEIRA PARTE, no item: “PERGUNTAS E PROBLEMAS – AS EXPIAÇÕES COLETIVAS” traz a seguinte mensagem de Clélia Duplantier:
“(…) Há as faltas do indivíduo, as da família, as da nação; e cada uma, qualquer que seja o seu caráter, se expia em virtude da mesma lei.
(…)
Há três caracteres em todo homem:
– o do indivíduo, do ser em si mesmo;
– o de membro da família e, finalmente;
– o de cidadão.
Sob cada uma dessas três faces pode ele ser criminoso e virtuoso, isto é, pode ser virtuoso como pai de família, ao mesmo tempo que criminoso como cidadão e reciprocamente. Daí as situações especiais que para si cria nas suas sucessivas existências.
(…)
Graças ao Espiritismo, compreendeis agora a justiça das provações que não decorrem dos atos da vida presente, porque reconheceis que elas são o resgate das dívidas do passado.
Por que não haveria de ser assim com relação às provas coletivas? Dizeis que os infortúnios de ordem geral alcançam assim o inocente, como o culpado; mas, não sabeis que o inocente de hoje pode ser o culpado de ontem?
Que ele seja atingido individualmente, quer coletivamente, é que o mereceu.
Depois, como já o dissemos, há as faltas do indivíduo e as do cidadão; a expiação de umas não isenta da expiação das outras, pois que toda dívida tem que ser paga até à última moeda.
As virtudes da vida privada diferem das da vida pública.
Um, que é excelente cidadão, pode ser péssimo pai de família; outro, que é bom pai de família, probo (íntegro) e honesto em seus negócios, pode ser mau cidadão, ter soprado o fogo da discórdia, oprimido o fraco, manchado as mãos em crimes de lesa-sociedade.
Essas faltas coletivas é que são expiadas coletivamente pelos indivíduos que para elas concorreram, os quais se encontram de novo reunidos, para sofrerem juntos a pena de talião, ou para terem ensejo de reparar o mal que praticaram, demonstrando devotamento à causa pública, socorrendo e assistindo aqueles a quem outrora maltrataram.
Assim, o que é incompreensível, inconciliável com a justiça de Deus, se torna claro e lógico mediante o conhecimento dessa lei.
A solidariedade, portanto, que é o verdadeiro laço social, não o é apenas para o presente; estende-se ao passado e ao futuro, pois que as mesmas individualidades se reuniram, reúnem e reunirão, para subir juntas a escala do progresso, auxiliando-se mutuamente.
Eis aí o que o Espiritismo faz compreensível, por meio da equitativa lei da reencarnação e da continuidade das relações entre os mesmos seres.”
“O CONSOLADOR” – 250 – Como se processa a provação coletiva?
“- Na provação coletiva verifica-se a convocação dos Espíritos encarnados, participantes do mesmo débito, com referência ao passado delituoso e obscuro. O mecanismo da justiça, na lei das compensações, funciona então espontaneamente, através dos prepostos do Cristo, que convocam os comparsas na dívida do pretérito para os resgates em comum, razão por que, muitas vezes, intitulais, “doloroso acaso”, as circunstâncias que reúnem as criaturas mais díspares no mesmo acidente, que lhes ocasiona a morte do corpo físico ou as mais variadas mutilações, no quadro dos seus compromissos individuais.
O Livro “CHICO XAVIER PEDE LICENÇA”, de Autores diversos, psicografia de Chico Xavier /J. Herculano Pires, no Capítulo 19: Desencarnações coletivas, nos apresenta a resposta dada por Emmanuel à seguinte pergunta feita por algumas dezenas de pessoas em reunião pública, na noite de 28-2-1972, em Uberaba, Minas Gerais:
Sendo Deus a Bondade Infinita, por que permite a morte aflitiva de tantas pessoas enclausuradas e indefesas, como nos casos dos grandes incêndios?
“RESPOSTA
(…) Quando retornamos da Terra para o Mundo Espiritual, conscientizados nas responsabilidades próprias, operamos o levantamento dos nossos débitos passados e rogamos os meios precisos a fim de resgatá-los devidamente.
É assim que, muitas vezes, renascemos no Planeta em grupos compromissados para a redenção múltipla (reparação diversa).
Invasores corrompidos pela própria ambição, que esmagávamos coletividades na volúpia do saque, tornamos à Terra com encargos diferentes, mas em regime de encontro marcado para a desencarnação conjunta em acidentes públicos.
Exploradores da comunidade, quando lhe exauríamos as forças em proveito pessoal, pedimos a volta ao corpo denso para sofrermos unidos as epidemias arrasadoras.
Promotores de guerras manejadas para assalto e crueldade pela megalomania do ouro e do poder, em nos fortalecendo para a regeneração, pleiteamos o Plano Físico a fim de sofrermos a morte de esquartejamento, aparentemente imerecida, em acontecimentos de sangue e lágrimas.
Corsários (piratas) que ateávamos fogo a embarcações e cidades na conquista de presas fáceis, em nos observando no Além com os problemas da culpa, solicitamos o retorno à Terra para a desencarnação coletiva em dolorosos incêndios, inexplicáveis sem a reencarnação.
Criamos a culpa e nós mesmos engenhamos os processos destinados a extinguir-lhe as consequências. E a Sabedoria Divina se vale dos nossos esforços e tarefas de resgate e reajuste a fim de induzir-nos a estudos e progressos sempre mais amplos no que diga respeito à nossa própria segurança. É por este motivo que, de todas as calamidades terrestres, o Homem se retira com mais experiência e mais luz no cérebro e no coração, para defender-se e valorizar a vida.
Lamentemos sem desespero quantos se fizeram vítimas de desastres que nos confrangem a alma. A dor de todos eles é a nossa dor. Os problemas com que se defrontaram são igualmente nossos.
Não nos esqueçamos, porém, de que nunca estamos sem a presença de Misericórdia Divina junto às ocorrências da Divina Justiça, que o sofrimento é invariavelmente reduzido ao mínimo para cada um de nós, que tudo se renova para o bem de todos e que Deus nos concede sempre o melhor. (…)”
VII. – EXEMPLOS DE EXPIAÇÕES COMO INDIVÍDUO, MEMBRO DE FAMÍLIA, CIDADÃO E DE UM POVO
VII. I. – COMO INDÍVIDUO: pois cada um vai expiar o mal que fez a si próprio.
Veja-se exemplo de “expiação como indivíduo”, colhido do livro: “NAS BÊNÇÃOS DE CHICO XAVIER”, de Antonio Demarchi.
“Sempre que podia, Chico visitava uma senhora muito pobre que morava na periferia de Pedro Leopoldo. Era uma mulher viúva que vivia em situação de absoluta penúria em um casebre, localizado em um local descampado próximo a pequeno riacho.
Para complicar ainda mais a vida dessa pobre mulher, seu filho, agora com idade aproximada de sete anos, nascera cego, surdo, mudo e desprovido dos membros superiores. A presença de Chico naquela choupana representava o único momento em que aquela pessoa infeliz, esquecida do mundo, experimentava um pouco de alegria e reconforto espiritual.
Em suas visitas, Chico sempre levava alimentos e roupas, lia uma página do Evangelho e conversava com a mulher. Compadecido com sua situação de absoluta pobreza, procurava sempre proferir palavras de bom ânimo, enquanto a auxiliava no banho do filho, que aquela desventurada mãe segurava nos braços como se fosse seu tesouro mais precioso.
O garoto se expressava em forma de gemidos e sons guturais (sons emitidos pela garganta) incompreensíveis, aquietando-se e sorrindo quando a mãe o beijava e o Chico acariciava seus cabelos.
Chico era uma alma de extrema sensibilidade, fazendo sempre tudo o que podia para amenizar o sofrimento das criaturas. O caso daquela mulher e de seu filho era algo que comovia o querido médium.
Um dia ela chegou ao Centro Luiz Gonzaga com o filho no colo e os olhos marejados de lágrimas. Chico interrompeu o que fazia naquele momento para atender imediatamente aquela desventurada mãe.
– Chico, – disse ela com a voz embargada pela emoção – meu filho está muito mal. Tem gemido nestas últimas noites sem parar e, então, o levei ao médico, que diagnosticou uma enfermidade grave nos ossos de suas pernas. Disse que, para salvar sua vida, terá que amputar as duas pernas.
Chico ouviu em silêncio e, com lágrimas nos olhos, abraçou a mãe e o filho doente. A mulher prosseguiu:
– Meu Deus, o que será do meu filho? Nasceu sem os braços, cego, surdo e mudo. Agora o médico diz que terá que amputar suas pernas! O que devo fazer, Chico?
Abraçado àquelas infelizes criaturas, Chico ouviu a voz de Emmanuel, que dizia:
– Este filho que esta mãe segura nos braços buscou a fuga da vida reiteradas vezes, de forma contumaz em suas últimas existências, por meio do suicídio. Nesta encarnação, pediu que lhe fossem retiradas todas as possibilidades de cometer o mesmo erro do passado e, por essa razão, reencarnou nessas condições. Todavia, nas últimas semanas, instintivamente tem procurado o rio para se atirar.
O médico tem razão, infelizmente as pernas do garoto precisarão ser amputadas. Foi um pedido do próprio interessado e de sua mãezinha antes de reencarnarem e, dessa forma, terá que ser cumprido em seu próprio benefício.
Chico se calou abraçando aquela mãezinha e seu filho, e juntos choraram enquanto o médium proferia uma prece em favor daqueles espíritos em dura prova de doloroso resgate.
Ele (Chico) sempre estava disposto a esquecer seus problemas, suas dores, suas agonias para auxiliar o próximo.”
O livro CONFIA E SERVE, psicografia de Chico Xavier / Carlos A. Baccelli, de Autores diversos, no Capítulo 12: QUADROS DA REENCARNAÇÃO, traz os seguintes versos que falam sobre expiação como indivíduo:
Desencarnou o Firmino
Pedindo mais uma dose.
Em novo corpo, é um menino
Que já sofre de cirrose. (Pedro Silva)
De tanto chutar no mundo,
Porta, cadeira e panela,
Curte um desgosto profundo
Nas dores da erisipela… (Lafayette Mello)
(Obs.: Erisipela é uma infecção da camada superficial da pele, causada por bactérias, que provoca feridas vermelhas, inflamadas e dolorosas)
II. – COMO MEMBRO DE FAMÍLIA (E DE DÉBITO PARCELADO)
Vide abaixo um exemplo de EXPIAÇÃO como membro de família colhido do livro AÇÃO E REAÇÃO, de André Luiz, psicografia Chico Xavier, no Capítulo 10: “Entendimento”:
À convite de Silas, trabalhador da Mansão Paz, André Luiz, Hilário, Clarindo e Leonel foram a “vasto hospital de movimentada cidade terrestre”, onde Silas prestaria auxílio a uma jovem chamada Laudemira. No hospital, Silas foi informado pelo vigilante espiritual Ludovino (o qual fazia a vigilância em benefício de alguns enfermos de cuja reencarnação cuida a Mansão Paz), que Laudemira, que estava grávida, estava na iminência de sofrer uma perigosa intervenção cirúrgica, uma cesariana na qual ela corria o risco de perder a possibilidade de engravidar no futuro.
Ela estava envolta de fluidos anestesiantes que lhes eram arremessados pelos seus perseguidores durante o sono e a gestação da criança estava sendo prejudicada pela extrema apatia da Laudemira. O médico voltaria dentro de uma hora, e se ela não tivesse melhorado ele faria a intervenção cirúrgica. Silas esclareceu que estava em risco o programa de provas organizado para a Laudemira, eis que em favor dela cabia-lhe receber mais 3 (três) filhos. (Laudemira já tinha um filho e estava grávida do segundo, em trabalho de parto).
Foram até Laudemira, que chorava e se sentia apavorada. Silas esclareceu que Laudemira permaneceu por muito tempo na Mansão Paz, antes de retornar à carne para provas difíceis, eis que permanecia sempre vigiada por inimigos terríveis que ela mesma atraiu em outro tempo quando se valeu da beleza física para prática de crimes. Foi uma bela mulher que atuou em decisões políticas que arruinaram muita gente.
A expiação de Laudemira, na atualidade, resulta de pesados débitos por ela contraídos há pouco mais de 5 (cinco) séculos.
Silas prestou-lhe auxílio magnético sobre o colo uterino e uma substância leitosa, qual se fosse uma neblina leve irradiava de suas mãos alcançando todo o aparelho reprodutor de Laudemira, sendo que, decorridos alguns minutos, surgiram as contrações que foram controladas por Silas, até que o médico retornasse a sala, ocasião em que se deu o parto natural, sendo a cesariana esquecida.
Silas narrou uma das existências pregressas de Laudemira: ela era uma dama de elevada posição na Corte de Joana II, Rainha de Nápoles (no período de 1414 a 1435), possuía dois irmãos consanguíneos que lhe apoiavam em todos os planos loucos de vaidade e domínio.
Casou-se, o seu marido era um entrave às suas leviandades e por isso mesmo ela acabou constrangendo-o a enfrentar o punhal dos favoritos (duelo), arrastando-o para a morte.
Viúva e dona de bens consideráveis cresceu em prestígio, por haver favorecido o casamento da rainha Joana II, então viúva de Guilherme, Duque da Áustria, com Jaime de Bourbon, Conde de La Marche.
Desde aí, intimamente associada às aventuras amorosas de sua soberana, confiou-se a prazeres e dissipações, nos quais perturbou a conduta de muitos homens de bem e arruinou vários casamentos sérios e estabilizados.
Menosprezou sagradas oportunidades de educação e beneficência que lhe foram concedidas pela Bondade Celeste, aproveitando-se da nobreza precária para iludir-se na irreflexão e no crime.
Foi assim que, ao desencarnar, no auge da riqueza material, nos meados do século XV, desceu a medonhas profundezas infernais, onde padeceu o assédio de ferozes inimigos que lhe não perdoaram os delitos e deserções.
Sofreu por mais de 100 (cem) anos consecutivos nas trevas densas, conservando a mente parada nas ilusões que lhe eram próprias, voltando à carne por 4 (quatro) vezes sucessivas, por intercessão de amigos do Plano Superior, em aflitivos problemas expiatórios, eis que, na condição de mulher, embora abraçando novos compromissos, experimentou vexames e humilhações da parte de homens sem escrúpulos que lhe asfixiavam todos os sonhos.
Silas explicou que “quando a queda no abismo é de longo curso, ninguém emerge de um salto. Ela naturalmente entrava pela porta do túmulo e saía pela porta do berço, transportando consigo desajustes interiores que não podia sanar de momento para outro.”
Silas aqui explica que através destas 4 (quatro) reencarnações (e da reencarnação atual) Laudemira, com o amparo de abnegados companheiros, voltou ao “pagamento parcelado das suas dívidas”, reaproximando-se de credores reencarnados, não obstante mentalmente ligada aos planos inferiores, desfrutando a bênção do olvido temporário, com o que lhe foi possível adquirir preciosa renovação de forças.
Outrossim, que Laudemira já sofreu tremendos golpes no orgulho que trazia cristalizado no coração. Contudo, contraiu novas dívidas, de vez que, em certas ocasiões, não conseguiu superar a aversão instintiva, diante dos adversários aos quais passou a dever trabalho e obediência, chegando à infelicidade de afogar uma criancinha que mal ensaiava os primeiros passos, de modo a ferir a senhora da casa em que servia de ama (babá), tentando vingar-se de crueldades recebidas.
Depois de cada desencarnação, regressava habitualmente às zonas purgatoriais de que procedia, com alguma vantagem no acerto das suas contas, mas não com valores acumulados, imprescindíveis à definitiva libertação das sombras. Por isto, que ainda sofre a perseguição de seus obsessores.
Silas esclareceu, ainda que na reencarnação atual Laudemira deve receber 5 (cinco) de seus antigos cúmplices na queda moral, para reerguer-lhes os sentimentos, na direção da luz, em abençoado e longo sacerdócio materno (expiação como membro de família).
Do seu êxito no presente, dependerão as facilidades que espera recolher do futuro, para a liberação definitiva das sombras que ainda lhe ofuscam o Espírito, pois, se conseguir formar 5 (cinco) almas na escola do bem, terá conquistado enorme prêmio, diante da Lei amorosa e justa.
VII. III. – COMO MEMBRO DE SOCIEDADE (CIDADÃO)
Um exemplo de expiação coletiva é trazida no livro AÇÃO E REAÇÃO, Autor: André Luiz, Psicografia; Chico Xavier, no Capítulo 18: Resgates Coletivos, onde Silas explica os motivos pelo quais ocorreu um desencarne coletivo, num acidente aéreo sobre uma serra, onde 14 vítimas desencarnaram e estavam sendo assistidas e socorridas por uma equipe de Espíritos pertencentes à “Mansão Paz”.
Silas explica as origens de expiação a que se acolheram os acidentados: são delinquentes do passado, que atiraram pessoas indefesas do cimo de torres altíssimas ou que jogaram pessoas no mar ou suicidas que se jogaram de edifícios em rebeldia às leis divinas.
VII. IV. – EXPIAÇÃO DE UM PAÍS/POVO
Um exemplo de expiação de um país é trazida por Emmanuel, no livro DEUS CONOSCO, Psicografia de Chico Xavier, no Capítulo 23: As provações coletivas, através de mensagem, com data de 14/08/1936, onde nos dá um exemplo de expiação de um povo, através dos conflitos políticos e ideias separatistas no território espanhol, a saber:
Dentro das atividades da Justiça Absoluta, que rege o destino das criaturas humanas, não somente à individualidade estão afetos os problemas da reparação necessária pelas provas expiatórias. As coletividades, igualmente, são objeto dessas provações redentoras. Daí nascem os quadros dolorosos que a humanidade assiste, por vezes, no seio de determinados povos.
A Espanha (…) com os seus profundos conflitos políticos, é bem um exemplo para a minha afirmação. (…) Repleta de igrejas, cheia de conventos, povoada de organizações religiosas, a Espanha é a região do planeta onde os dogmas dos bispos romanos encontraram mais guarida (acolhimento) e maior amplitude. Mas, as grandes dores que crucificam o coração do povo espanhol têm as suas causas profundas nos crimes da organização inquisitorial, fundada pelo Papa Inocêncio IV (cujo pontificado deu-se de 25 de junho de 1243 a 7 de dezembro de 1254), o que na pátria de Cervantes (Espanha), como em nenhuma outra, estendeu-se terrivelmente, amargurando almas, destruindo esperanças, aniquilando vidas e matando corações.
(…) Aí (na Espanha) viveram os maiores “torquemadas” (inquisidores) do planeta.
Os abades (padres, monges) aí estiveram sufocando a liberdade e torturando os espíritos. Ações perversas foram praticadas na sombra. Na solidão dos mosteiros ou conventos, foram levados a efeito movimentos terríveis “em nome de Deus”. Os sons de sinos dos mosteiros abafaram muitos soluços e muitas agonias no silêncio pesado das prisões. Os instrumentos abomináveis da Inquisição, que os vossos museus hoje conservam como objetos curiosos e dignos de estudo, ali foram inventados e multiplicados de maneira assombrosa.
Todavia, Deus está sempre no leme do barco imenso da vida, conforme a assertiva de um dos vossos pensadores, e chegou um momento em que a longa série de abusos da Igreja teve o seu fim.
Contudo, os profundos deslizes das coletividades foram registrados.
Os gemidos de quantos sucumbiram sob as torturas dos tribunais de Madrid, de Sevilha, de Granada ficariam vivos no espaço, reclamando justiça e misericórdia.
Todos os quadros tenebrosos desse passado abominável são agora revividos. A comoção revolucionária domina a nação inteira.
Frades e monjas são fuzilados em massa. Levadas pelas depredações do extremismo, as duas falanges antagônicas, objetivando a posse do poder, cometem todos os atos possíveis de barbárie.
Senhoras virtuosas são assassinadas estupidamente. Jovens e crianças são trucidados (mortos com crueldade) pela onda de matança e arrasamento.
Os julgamentos sumários dão oportunidade às mais injustas sentenças de morte. Nas portas das igrejas, penduram-se cadáveres ensanguentados e nas ruas, às vezes, é necessário o concurso do querosene para consumir os elementos putrefatos de corpos inermes (indefesos).
(…) diante dessa paisagem de horror pergunta-se por Deus e por Sua misericórdia. Semelhante cena de desolação representa, de fato, uma terrível imagem apocalíptica, assinalando a transformação necessária dos tempos.
Todavia, em tudo isso, reina a Justiça, a soberana e incorruptível Justiça. Deus não é estranho, na Sua infinita bondade, às desgraças e às expiações que afligem as almas dos homens e dos povos, porém essas amarguras são necessárias para a purificação dos Espíritos no abençoado batismo do sofrimento e da dor.
(…) Guardai-vos do mal para que ele não vos atinja. Lembrai-vos da boa e da má semente. No mistério insondável da germinação, elas são origem de milhares de frutos. Felizes todos aqueles que souberem efetuar a necessária escolha.
VIII. – DAS CONSIDERAÇÕES DIVERSAS SOBRE EXPIAÇÃO E JUSTIÇA
SOBRE AS DIFICULDADES DA VIDA: LE. 984. As vicissitudes da vida são sempre a punição das faltas atuais?
Não; já dissemos: são provas impostas por Deus, ou que vós mesmos escolhestes como Espíritos, antes de vossa reencarnação para expiação das faltas cometidas em outra existência, porque jamais a infração às leis de Deus e, sobretudo, à lei de justiça fica impune. E se não for punida nessa existência, necessariamente será em uma outra, e por isso aquele que é justo aos vossos olhos, frequentemente, está marcado pelo seu passado.
POR QUAIS FALTAS A PESSOA VAI EXPIAR?: L.E. 975. Sofre-se por todo o mal que praticou, ou do qual foi a causa voluntária; por todo o bem que poderia fazer e que não fez e por todo o mal que resulta do bem que ele não fez. Jesus em Mateus 12:31 nos ensinou: “Todos os pecados ser-vos-ão perdoados, menos os que cometerdes conta o Espírito Santo”. E Emmanuel no “O CONSOLADOR”, na resposta à questão 303 nos explica que:
“a falta cometida com a plena consciência do dever, depois da bênção do conhecimento interior, guardada no coração e no raciocínio, essa significa o ‘pecado contra o Espírito Santo’, porque a alma humana estará, então, contra si mesma, repudiando as suas divinas possibilidades.”
POR QUE NA TERA HÁ MAIS SOFRIMENTO DO QUE FELICIDADE ?: L.E. 931. Por que são mais numerosas, na sociedade, as classes sofredoras do que as felizes?
Nenhuma é perfeitamente feliz e o que julgais ser a felicidade muitas vezes oculta pungentes aflições. O sofrimento está por toda parte. Entretanto, para responder ao eu pensamento, direi que as classes a que chamas sofredoras são mais numerosas, por ser a Terra lugar de expiação. Quando a houver transformado em morada do bem e de Espíritos bons, o homem deixará de ser infeliz aí e ela lhe será o paraíso terrestre.
O QUE DEVEMOS ENTENDER POR PENA DE TALIÃO ?: “O CONSOLADOR”, 272 – Qual a significação da lei de talião “olho por olho, dente por dente”, em face da necessidade da redenção de todos os Espíritos pelas reencarnações sucessivas?
– A lei de talião prevalece para todos os Espíritos que não edificaram ainda o santuário do amor nos corações e que representam a quase totalidade dos seres humanos. Presos, ainda, aos milênios do pretérito, não cogitaram de aceitar e aplicar o Evangelho a si próprios, permanecendo encarcerados em círculos viciosos de dolorosas reencarnações expiatórias e purificadoras. (…) Se Moisés ensinava o “olho por olho, dente por dente”, Jesus Cristo esclarecia que o “amor obre a multidão dos pecados”. Daí a verdade de que as criaturas humanas se redimirão pelo amor e se elevarão a Deus por ele, anulando com o bem todas as forças que lhes possam encarcerar o coração nos sofrimentos do mundo.
NÃO É PRECISO QUERER AUMENTAR SUAS EXPIAÇÕES ! – L.E. 720. São meritórias aos olhos de Deus as privações voluntárias, com o objetivo de uma expiação igualmente voluntária? Fazei o bem aos vossos semelhantes e mais mérito tereis. L.E. 770,”a”.(…) Fazer maior soma de bem do que de mal constitui a melhor expiação.
FILHOS QUE POSSUEM MÃES QUE OS ODEIAM, PODE SER UMA EXPIAÇÃO – L.E. 891. Estando em a Natureza o amor materno, como é que há mães que odeiam os filhos e, não raro, desde a infância destes?
Às vezes, é uma prova que o Espírito do filho escolheu, ou uma expiação, se aconteceu ter sido mau pai, ou mãe perversa, ou mau filho, noutra existência (…)
O TRABALHO É UMA EXPIAÇÃO – L.E. 676. Por que o trabalho se impõe ao homem?
Por ser uma consequência da sua natureza corpórea. É expiação e, ao mesmo tempo, meio de aperfeiçoamento da sua inteligência. Sem o trabalho, o homem permaneceria sempre na infância, quanto à inteligência. Por isso é que seu alimento, sua segurança e seu bem-estar dependem do seu trabalho e da sua atividade. Ao extremamente fraco de corpo outorgou Deus a inteligência, em compensação. Mas é sempre um trabalho.
ANIMAIS NÃO EXPIAM – L.E. 602. Os animais progridem, como o homem, por ato da própria vontade, ou pela força das coisas? Pela força das coisas, razão por que não estão sujeitos à expiação.
– DA CONCLUSÃO
O livro “JUSTIÇA DIVINA”, de Autoria de Emmanuel, psicografia de Chico Xavier, no Capítulo 11 – Culpa e reencarnação, nos ensina:
“Espíritos culpados! Somos quase todos.
Julgávamos que o poder transitório, entre os homens, nos fosse conferido como sendo privilégio e imaginário merecimento, e usamo-lo por espada destruidora, aniquilando a alegria dos semelhantes… Contudo, renascemos nos últimos degraus da subalternidade, aprendendo quanto dói o cativeiro da humilhação.
Acreditávamos que a moeda farta nos situasse a cavaleiro dos desmandos de consciência… Entretanto, voltamos à arena terrestre, em doloroso pauperismo, experimentando a miséria que infligimos aos outros.
Admitíamos que as vítimas de nossos erros deliberados se distanciassem, para sempre, de nós, depois da morte… Mas tornamos a encontrá-las no lar, usando nomes familiares, no seio da parentela, onde nos cobram, às vezes com juros de mora, as dívidas de outro tempo, em suor do rosto, no sacrifício constante, ou em sangue do coração, na forma de lágrimas.
Supúnhamos que os abusos do sexo nos constituíssem a razão de viver e corrompemos o coração das almas sensíveis e nobres com as quais nos harmonizávamos, vampirizando-lhes a existência… No entanto, regressamos ao mundo em corpos dilacerados ou deprimidos, exibindo as estranhas enfermidades ou as gravosas obsessões que criamos para nós mesmos, a estampar na apresentação pessoal a soma deplorável de nossos desequilíbrios.
Espíritos culpados! Somos quase todos.
A Perfeita Justiça, porém, nunca se expressa sem a Perfeita Misericórdia, e abre-nos a todos, sem exceção, o serviço do bem, que podemos abraçar na altura e na quantidade que desejarmos, como recurso infalível de resgate e reajuste, burilamento e ascensão.
Atendamos às boas obras quanto nos seja possível.
Cada migalha de bem que faças é luz contigo, clareando os que amas.
E assim é porque, de conformidade com as Leis Divinas, o aperfeiçoamento do mundo depende do mundo, mas o aperfeiçoamento em nós mesmos depende de nós.”
FONTES:
– BÍBLIA SAGRADA: Êxodo 21: 23-25; Levítico 19:17; Deuteronômio 8:3, 19:20-21, 32:35; I Reis 18:40; Salmos 94:1 e 94:23; Ezequiel 33:11; Malaquias 4:5; Mateus 4:4, 5:25-26, 12:31, 14:8-11, 16:26-27, 17:10-13, 18:08-09, 26:52; Lucas 21:22; Romanos 12:19; Gálatas 6:7; 1ª. Carta de Pedro 3:17; Apocalipse 13:9-10 e 22:11-12.
– “O LIVRO DOS ESPÍRITOS”, ALLAN KARDEC, Questões: 167, 171, 602, 676, 764, 720, 875, 891, 931, 975, 977, 984, 987, 991, 998, 999, 1008.
– “O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO”, ALLAN KARDEC, Capítulo III: “Há muitas moradas na casa de meu pai”, item 3:”DIVERSAS CATEGORIAS DE MUNDOS HABITADOS”.
– “O CÉU E O INFERNO”, ALLAN KARDEC, Primeira Parte, Capítulo VII: As Penas Futuras Segundo o Espiritismo, no item: Código Penal da Vida Futura, subitens 10, 11 e 16.
– “OBRAS PÓSTUMAS”, ALLAN KARDEC, Primeira Parte, item: “PERGUNTAS E PROBLEMAS – AS EXPIAÇÕES COLETIVAS”.
– Revista Espírita, Ano X, Maio de 1867, “Uma expiação terrestre – O jovem François”.
– Revista Espírita, Ano XII, Outubro de 1869, “As expiações coletivas”.
– “O CONSOLADOR”, Autor: Emmanuel, Psicografia de Chico Xavier, Questões: 244, 246, 250, 272, 303, 336.
– EVOLUÇÃO PARA O TERCEIRO MILÊNIO, de Carlos Toledo Rizzini, Parte II, Fundamentos Espíritas, Capítulo 4: Princípios Doutrinários, item 8 “A Lei de Deus”, subitem 2; e item 16 “Ação da Lei nos desvios de rumo”, subitens 2 e 3.
– AÇÃO E REAÇÃO, de André Luiz, psicografia de Chico Xavier, Capítulo 10: “ENTENDIMENTO”; Capítulo 12: “DÍVIDA AGRAVADA”, Capítulo 16: “DÉBITO ALIVIADO”, Capítulo 18: “RESGATES COLETIVOS”.
– “CONTOS E APÓLOGOS”, de Autoria de Irmão X (Humberto de Campos), psicografia de Chico Xavier, Capítulo 23: “DÍVIDA E RESGATE”.
– “CHICO XAVIER PEDE LICENÇA”, de Autores diversos, psicografia de Chico Xavier /J. Herculano Pires, no Capítulo 19: “DESENCARNAÇÕES COLETIVAS”.
– “NAS BÊNÇÃOS DE CHICO XAVIER”, de Antonio Demarchi.
– “CONFIA E SERVE”, psicografia de Chico Xavier / Carlos A. Baccelli, de Autores diversos, Capítulo 12: “QUADROS DA REENCARNAÇÃO”.
– DEUS CONOSCO, Autor: Emmanuel, Psicografia de Chico Xavier, Capítulo 23: “AS PROVAÇÕES COLETIVAS”.
- – “JUSTIÇA DIVINA”, de Autoria de Emmanuel, Psicografia de Chico Xavier, Capítulo 11: “CULPA E REENCARNAÇÃO”.