Léon Denis – Palestra 31.7.19
LÉON DENIS
Estudo CELC 31.7.19 – Giovanni
Infância e Juventude
Foug (cidade)
Seu pai, Joseph Denis, era oficial de pedreiro, como seu irmão Louis, seis anos mais velho.
Em 1º de Janeiro de 1846, uma criança veio ao mundo. O jovem oficial de pedreiro começava a família num período bem difícil.
A construção não andava bem; não se construía mais e a crise deveria prolongar-se por vários anos.
Todavia, Joseph Denis não era homem de desanimar por tão pouco: fez-se empreiteiro, procurou estender sua clientela além de Foug.
Bastante instável no trabalho e não tendo, suficientemente, espírito de perseverança, ele sabia mostrar-se resoluto nas ocasiões excepcionais nas quais não lhe faltavam nem a decisão nem a coragem.
Foi com esse homem, não destituído de qualidades, mas um pouco rude nos hábitos, que se unira a meiga Anne-Lucie, de natureza delicada e caráter sensato e discreto.
Para o filho, que lhe viera tão cedo, ela se tornou a mais terna e mais vigilante das mães.
Havia, diante da humilde casa paterna, um regato, onde um açude lançava suas águas.
O pequeno Léon olhava, invejoso, os patos que ali nadavam em fila. Por mais de uma vez, burlando a vigilância materna, foi vê-los nas águas do riacho.
Quando suas pernas conseguiram suportar caminhadas mais longas, com 7 ou 8 anos, seu avô François, antigo soldado de Napoleão, o levava algumas vezes aos bosques vizinhos, no inverno, para caçar com armadilhas. Os dois caçadores podiam ser vistos conversando debaixo das árvores…
O garoto tinha seus 9 anos quando Joseph Denis foi obrigado a deixar suas empreitadas para buscar seu ganha-pão noutras plagas.
Fixou-se com sua família em Strasbourg e foi lá que abandonou sua profissão, definitivamente, para entrar como empregado na Casa da Moeda.
Strasbourg (cidade)
Foi então, em Strasbourg, na escola particular do Sr. Haas, que o pequeno Léon iniciou seus primeiros estudos. Sua mãe já lhe havia ensinado os rudimentos do alfabeto e também a contar.
Os alunos do velho professor eram bastante turbulentos e havia mesmo, na escola, uma animosidade surda entre dois grupos rivais.
A agressividade secular que não para de opor em um duelo implacável os alemães aos gauleses começava a se fazer presente.
O pequeno loreno poucas lições aproveitou com o bravo professor.
Bordeaux (cidade)
Abrindo-se uma vaga na Casa da Moeda de Bordeaux, seu pai conseguiu transferência para essa cidade.
Nova mudança e novas despesas.
O salário do chefe de família era insuficiente para manter a casa. Léon teve que interromper seus estudos para acompanhar seu pai e ajudá-lo em seu trabalho de polimento das moedas.
O pobrezinho esforçava-se ao máximo nesse ingrato trabalho: seus delicados dedos se tingiam de sangue para descolar as lâminas de cobre. Entretanto, as poucas moedas que conseguia ajudavam a melhorar o magro ordenado paterno.
Em março de 1857, a Casa da Moeda terminou a refundição das moedas de cobre e Joseph Denis empregou-se na Companhia das Estradas de Ferro do Sul. Após curto estágio como carteiro da estação de Bordeaux, conseguiu o emprego desejado: estava nomeado chefe da estação de Morcenx, em Landes.
Landes (cidade)
A família ia achar um abrigo menos precário. Não era uma ótima situação, certamente, porém bastava para assegurar as necessidades da casa. Além disso, abrir a perspectiva de uma vida mais estável, o que era do agrado da Sra. Denis. Finalmente, seu pequeno Léon poderia recomeçar seus estudos interrompidos. Essa era a sua grande preocupação.
O movimento da estrada de Bayonne se restringia apenas a alguns trens por dia. Locomotivas barulhentas e resfolegantes puxavam vagões, lançando uma negra fumaça cheia de faíscas que, muitas vezes, incendiavam o pinheiral.
Nessa bucólica solidão, onde apenas a passagem dos trens fazia alguma animação, o menino se entregou corajosamente ao estudo, recebendo as lições do professor da localidade.
Suas repetidas mudanças atrasaram seus estudos, porém rapidamente se recuperava. Sua inteligência brotava precocemente, revelando uma extraordinária vivacidade. Os conhecimentos que seu novo professor lhe transmitia lhe abriam inesperados horizontes.
A floresta de Landes, impressionando sua nascente sensibilidade, complementava os ensinos dos livros.
O professor de Morcenx, discípulo de Jean-Jacques Rousseau, inaugurando um excelente método, levava frequentemente os alunos a passeios.
Denis deveria guardar por toda a sua vida uma lembrança emocionante dessas lições, em plena natureza, desse contato com as coisas, desse proveitoso trabalho ao lado de professor dedicado e conhecedor seguro de sua tarefa.
Infelizmente, a fase das peregrinações ainda não terminara para a família Denis.
O chefe da estação de Morcenx trocou cedo seu posto pelo da estação de Moux, na estrada do Sul. Era uma promoção. Como recusá-la?
Comentário de Léon Denis:
Meu pai esteve na Casa da Moeda, em Strasbourg, depois na de Bordeaux, mas um dia chegou em que já não precisavam de seus serviços. Em troca o posto de chefe da estação de Moux lhe foi oferecido. Antes de nossa partida os irmãos da Escola de Doutrina Cristã, onde eu já estava matriculado, disseram a meu pai:
“Seria bom deixardes o vosso filho conosco. Ele é inteligente e nós faremos o que estiver ao nosso alcance. Seria realmente uma pena se não no-lo enviar.”
Ele expressou seus sentimentos: seus meios não lhe permitiam separar-se de mim. Foi assim que eu acompanhei meus pais para Moux.
Moux (cidade)
Nova adaptação ao meio e nova parada nos estudos.
Depois da solidão de Landes, agora a animação barulhenta da grande estrada de ferro do sul, onde os trens se sucediam em curtos intervalos. A vigilância do chefe da estação não devia facilitar um só instante.
Apesar de ser, no fundo, uma boa pessoa, o chefe da estação de Moux não correspondia às exigências de sua função, à regularidade de um trabalho para o qual não estava preparado, não tinha a pontualidade ou a vigilância necessária.
Sua esposa mal dissimulava sua preocupação. Felizmente, o pequeno Léon supria as falhas do pai. Deixando mais uma vez seus queridos livros, iniciou-se logo no manejo do “bréguet” (telégrafo de mostrador, outrora usado nas estradas de ferro) e era ele quem tomava conta dos telegramas e da contabilidade.
Contou-nos, entre muitos outros, um caso engraçado de sua vida de ferroviário infantil, quando sua presença de espírito evitou para seu pai uma punição que lhe teria produzido graves consequências.
Certo dia, o expresso da manhã, que normalmente não parava na estação de Moux, parou para desembarcar um inspetor da estrada. Este perguntou logo pelo chefe. Nada do chefe. Por felicidade, Léon estava presente, mas não sabia onde se encontrava o pai. Que fazer? Seria uma punição em perspectiva e talvez a demissão.
Avistando então um carregador no meio de um grupo de trabalhadores descarregando mercadorias, o rapaz disse:
– Meu pai? – e estendendo a mão na direção do grupo – ele dirige o carregamento daquele vagão.
O inspetor, achando em ordem os papéis, voltou para o seu trem, que partiu.
Definitivamente, Joseph Denis não tinha vocação para o posto e em 14 de outubro de 1862 se demitiu.
Tendo depois obtido a supervisão de outros trabalhos ferroviários, além de mais alguns menores, na linha de Tours.
Primeira grande tristeza
– Eu me lembro de ter tido nesse momento um pequeno galo branco, que eu estimava muito. Seu lugar favorito era no parapeito da janela da cozinha; essa janela única era sempre situada abaixo do nome de cada estação na parte dos fundos da casa. Minha mãe me dizia constantemente:
– Verás que teu galo terminará esmagado pelo trem!
Ele morreu, com efeito, como ela havia previsto e essa foi minha primeira grande tristeza, a morte desse galo que eu amava tanto.
Tours
Dessa vez, a família Denis veio se fixar em Tours, definitivamente.
O adolescente que, na estação de Moux, mantinha os registros com sua bela letra e manejava o telégrafo, teve, como em Bordeaux, de se dedicar a trabalhos braçais, para os quais não tinha condições físicas.
Exercitava-se, ao mesmo tempo, em trabalhos de cartografia, que fazem supor que ele desejava fazer algum concurso para entrar na administração da estrada de ferro.
Esses trabalhos, excelentes sob todos os pontos, atestam uma segurança de traço, fino e leve, e um acabamento difícil de ser superado.
Vemos aí, parece, o indício incontestável de disposições inatas e de secretas preferências. Tudo o atraía para os estudos geográficos. Sem dúvida, já sonhava com viagens e longas excursões.
Comentário de Léon Denis
– Eu conheci – dizia ele – as exaltações da consciência. Lembro-me de que em certo verão, eu me dirigia todas as noites a uma pequena capela construída no começo de uma rua em aclive para ali seguir os exercícios destinados aos meninos. Em minha casa se inquietavam um pouco por me verem chegar tarde, e minha boa mãe me acolhia muito bem… Persuadida que eu não tinha ido a lugares suspeitos.
Desde então, o enigma da vida se apresentava ao seu espírito com uma força imperiosa e ele não era homem de se curvar diante do dogma do que “não pode ser conhecido”.
Foi nessa época que nosso estudante solitário alimentou um desejo que há muito tempo estava em seu coração: adquirir, com seus próprios recursos, a Geografia Universal de Malte-Brun, que era publicada em fascículos, ilustrados por Gustave Doré.
Para tanto, sem revelar a ninguém – porque poderia ser censurado por sonhar em fazer uma tal despesa com um livro – passou a economizar as gratificações que recebia a mais, de seu pequeno salário, a fim de obter a importância necessária para a compra.
Suas economias cresciam lentamente, lentamente, até que, um dia, sua mãe descobriu o esconderijo e, sempre em dificuldades, lhes deu um destino mais imediato.
A boa mulher jamais percebeu o real desgosto e a desilusão que aquele sumário confisco havia causado a seu filho.
Assim, desde que o jovem operário tinha um momento livre, dedicava-se a seus caros estudos, apaixonada e alegremente, completando por seus próprios esforços uma instrução fragmentária, cujas lacunas bem conhecia.
Da “faïencerie” de Saint-Pierre-des-Corps, passou a trabalhar numa outra casa comercial (Pillet), mais perto de sua residência e onde o trabalho era mais bem remunerado.
Seu pai acabara de obter da Administração das estradas de ferro uma aposentadoria mínima e só se ocupava com suas fiscalizações de trabalho muito irregularmente.
Nessa época, recaiu, em parte, sobre seus ombros a obrigação de atender às necessidades de seus pais, que já estavam velhos, e para isso se entregava a trabalhos constantes, com uma energia sem esmorecimento.
Comentário de Léon Denis sobre a sua infância e juventude
“Nasci na classe dos operários e conheço suas lutas e privações. Meu pai era lapidador de granito, depois se tornou empreiteiro, mas o trabalho faltava muitas vezes e teve que mudar de profissão. Eu mesmo, depois de ter recebido uma instrução sumaríssima, me iniciei como pequeno empregado do comércio e o labor manual não me é estranho. Aos doze anos eu já descolava discos de metal de cobre na Casa da Moeda de Bordeaux, e meus dedos de criança, sob o atrito do metal frequentemente se tingiam de sangue. Aos dezesseis anos, numa fabricação de faianças de Tours, eu carregava nas costas os cestos, nos dias em que se desenfornava. Aos vinte anos, em uma manufatura de couro, eu carregava os fardos de peles, quando havia pressa, eu manejava a “margarida”, pesado utensílio de madeira que serve para amaciar o couro. Obrigado a ganhar meu pão durante o dia, para mim e meus pais, consagrava as noites ao estudo, a fim de completar minha pequena bagagem de conhecimentos, e desse tempo começou o enfraquecimento prematuro de minha vista.”
Na Casa Pillet
Uma das empresas de couro mais importantes da região central – logo observaram a viva inteligência e os excepcionais méritos do jovem empregado. Agora ele se ocupava com a correspondência e a contabilidade. Fazia os registros nos livros com sua impecável caligrafia. Iniciava-se nas questões do comércio de couros.
Como conheceu a doutrina espírita
Ele permanecia horas diante da porta de vidro de uma livraria lendo as legendas e as capas. Que decepção quando essa maldita porta se abria. A criança tinha de interromper sua leitura!
A vida espiritual de Léon Denis foi desde a adolescência orientada para o problema do destino humano; ele nos revelou nesses termos o grande mistério de suas primeiras leituras espíritas: “Eu estava mais ou menos com dezoito anos quando, em 1864, passando um dia por uma das principais ruas da cidade, vi numa livraria O Livro dos Espíritos de Allan Kardec. Eu o comprei avidamente.
As provas estavam em mim mesmo! Eram como vozes longínquas a me falarem de vidas quase de todo apagadas, a evocação de um passado esquecido. Todo um mundo de lembranças se despertava em mim, com seu cortejo de males, de sangue e de lágrimas.
Escondendo-o de minha mãe, sempre muito cuidadosa com minhas leituras. Detalhe curioso! Ela havia encontrado o meu segredo e por sua vez lia essa obra em minha ausência. Ela se convenceu, como eu, pela beleza e grandiosidade dessa revelação.” O rapaz entusiasmado ia discutir a filosofia kardecista com seus pais que, um após outro, aceitaram essas ideias novas.
“Como tantos outros – disse-nos ele –, eu procurei provas, fatos precisos que confirmassem minha fé, porém esses fatos demoraram em vir.
De início, insignificantes, contraditórios, misturados com embustes e mistificações, estiveram longe de me satisfazer e eu teria renunciado, de uma vez por todas, a qualquer investigação, se não estivesse sustentado por uma teoria sólida e princípios elevados.
Parece, com efeito, que o Invisível quer nos provar, medir nosso grau de perseverança, exigir uma certa maturidade de espírito, antes de nos revelar seus segredos.”
Léon Denis se encontrava nessa fase de seus trabalhos e pesquisas, quando um acontecimento importante se produziu em sua vida. Allan Kardec tinha vindo passar alguns dias em casa de amigos e todos os espíritas de Touraine tinham sido convidados para cumprimentá-lo.
Primeiro encontro com Kardec
A primeira vez que encontrei Kardec foi em Tours, quando ele ali chegou em 1867, durante uma turnê de conferências. Havíamos alugado um salão para recebê-lo, mas a polícia imperial desconfiou de nós e interditou a utilização da sala. Tivemos, então, que nos reunir nos jardins da casa de um amigo, sob a luz das estrelas. Éramos cerca de trezentos, todos de pé, apertados uns contra os outros, tropeçando nas grades que protegiam os canteiros, mas felizes por ver e ouvir o Mestre, que, assentado em volta de uma pequena mesa, nos falava do fenômeno das obsessões.
Foi após a passagem do mestre que se fundou, em Tours, o grupo da Rua du Cygne, do qual Denis se tornou secretário.
Lá, os fenômenos ainda foram bastante medíocres.
As mensagens obtidas pela escrita, as manifestações de ordem física pareciam mais animismo do que intervenção dos espíritos. Pessoas, pertencentes a outros grupos, sofriam obsessões bastante graves.
“Compreendi aí – acrescenta ele – como é perigoso entregar- se à experimentação espírita sem preparação, sem proteção eficaz, e esses exemplos me tornaram reservado em tais matérias.”
A Guerra Franco-Prussiana
Foi então que a guerra de 1870 veio pôr um fim a essas preocupações. Léon Denis já estava com 24 anos.
A Guerra Franco-Prussiana foi um conflito militar, ocorrido entre 1870 e 1871, entre o Reino da Prússia (atual Alemanha) e o Império Francês.
Foi chamado para ficar na reserva militar, numa região onde não estava ocorrendo confrontos.
Sabemos, pelo testemunho dos antigos, que sua pontualidade no serviço e o escrupuloso cuidado em executar as ordens não alteravam de forma alguma a simplicidade de suas maneiras, sua urbanidade sorridente, seu humor inalterável, apimentado com uma ponta de malícia gaulesa de cunho muito pessoal.
Alojado em Chagnolet, após o término do serviço, poderia procurar distrações em La Rochelle, onde numerosos camaradas levavam vida muito alegre. Entretanto, tais divertimentos não eram capazes de satisfazê-lo; para ele o trabalho, para os outros o prazer. De resto, já não tinha o secreto pressentimento da tarefa que o aguardava?
O acaso quis que, mesmo em Chagnolet, a questão espírita fosse novamente objeto de suas preocupações imediatas. Durante alguns dias, esteve alojado em uma enorme e antiga casa, situada nas proximidades do campo militar. Ora, essa casa era mal-assombrada, sendo impossível dormir nela.
“Um sargento da minha companhia era médium – escreve ele –; conduzi-o para essa casa, numa noite de inverno, e nos colocamos ambos em torno de uma mesa, buscando descobrir o segredo dessas manifestações. A mesa foi logo agitada, depois foi virada por uma força irresistível.
Quebraram-se os lápis e rasgou-se o papel. Pancadas repercutiam nas paredes; ruídos surdos se faziam ouvir. De repente, a luz se apagou. Um balanço mais forte que os precedentes fez tremer a casa, depois se perdeu ao longe, no silêncio da noite. Antes de deixarmos essa casa mal assombrada, soubemos que ela havia sido palco de sangrentos acontecimentos.”
Denis procurou um local mais sossegado. Tendo-o encontrado, convidou o sargento-médium e alguns colegas e começaram a fazer experiências e obtiveram bastantes aprendizados.
O Grupo da Rua du Cygne
Léon Denis retornou à Casa Pillet para retomar suas funções interrompidas pela guerra. Seu pai havia deixado por completo de trabalhar. Era o filho quem devia agora assumir a responsabilidade de sustentar seus velhos pais.
No grupo da Rua du Cygne as sessões recomeçam com uma nova animação, na casa do Dr. Aguzoly, que tinha uma curiosa faculdade de vidência, revivia, com notável clareza, cenas do passado e descrevia suas visões com traços característicos, que lhes davam um extraordinário relevo.
Sob sua influência, Léon Denis, que já era médium escrevente, torna-se também médium vidente. Reconstitui, no estado de vigília, cenas impressionantes da História medieval e da História antiga.
Um certo número desses quadros são, segundo indicações de seu guia, relativos a vidas anteriores.
Então, chefe guerreiro de uma tribo franca, exorta seus guerreiros para uma matança de gauleses; depois, revive episódios de sangrentos combates.
Léon Denis e o capitão notam, distintamente, uma forma humana cujos contornos podiam observar, quando passava diante da janela iluminada; a sombra se dirige lentamente para a porta do salão, onde estaciona um pouco, depois desaparece pela parede.
Relatando o fato, Léon Denis acrescenta:
“Coisa singular. Não havia nenhuma mediunidade em jogo; se houve influência fluídica, não sentimos. Os espíritos guias nos disseram a seguir que se serviram de um espírito bem inferior, que eles haviam ajudado com todo o seu poder, extraindo os elementos de materialização dos fluidos ambientais, a fim de fortalecer nossa convicção na realidade do Espiritismo.”
Em 31 de julho de 1873 uma nova revelação lhe foi feita. Ele revê um dos episódios mais importantes de suas vidas anteriores.
Descobre o segredo que devia iluminar todo o seu destino.
Encontra em Sorella (mentora do grupo), Joana, a companheira, a inspiradora, a amiga de sempre, a alta e virginal figura do amor e do sacrifício, a que jamais o esqueceu e jamais o abandonará.
Em 20 de agosto do mesmo ano, Léon Denis, seus amigos Aguzoly e o capitão Harmant conhecem as circunstâncias em que se fez o primeiro encontro entre eles, numa vida anterior, ao fim de uma batalha naval, no reinado de Louis XIV. E eis que estão novamente reunidos, numa nova etapa de suas existências, segundo a lei que quer que os seres ligados por uma verdadeira amizade se reencontrem em situações imprevistas de seus destinos, segundo o eterno plano, impenetrável ao nosso pobre entendimento humano.
“Verifiquei a exatidão dessas revelações que me foram feitas por introspecção, isto é, por um estudo analítico de meu caráter e de minha natureza psíquica. Esse exame me fez encontrar muito acentuados em mim diferentes tipos de homens que fui ao curso das idades e que dominam todo o meu passado: o monge estudioso e o guerreiro.”
As proveitosas sessões da Rua du Cygne deviam realizar-se semanalmente até 1877.
Treinamento oratório
Durand:
“É preciso trabalhar – disse-lhe ele – para se tornar um orador e um escritor. Com esse objetivo, preparar os textos e corrigi-los; depois submetê-los à apreciação de seus amigos; se lhe fizerem observações, quer sejam justas ou infundadas, aceitá-las sempre de bom grado, depois julgar intimamente o que fazer, a propósito.”
Em 19 de fevereiro de 1873 fez seus primeiros exames oratórios perante cinco mestres espirituais, trazidos por Durand. Sorella o assiste.
“Está tudo bem – disseram-lhe –, exceto alguns detalhes fáceis de retocar. Os progressos conseguidos são sensíveis e justificam as esperanças que pusemos em ti.”
Desde o ano de 1869, Léon Denis havia recebido a iniciação maçônica Rapidamente, após a guerra, tornou-se o orador mais aplaudido.
Dotado do verdadeiro dom da palavra, entregava-se à arte oratória, sob a inspiração de seus guias, seus únicos mestres da eloquência.
Ele aborda outros assuntos, porém todos convergem para a ideia principal: a predominância necessária do Novo Espiritualismo. São palestras particulares, discursos de recepção ou de festas da Ordem, valendo como treinos, nos quais se exercitava para o papel que se esperava dele.
Quando soou a hora em que o rapaz deveria difundir pela palavra o ensinamento adquirido pelos livros, o dom da eloquência despertou nele. Léon Denis nos confiou que teve, no início de sua iniciação, faculdades para psicografia; depois, quando os guias quiseram fazer dele um orador, toda mediunidade desse gênero lhe foi subitamente retirada; a ação dos invisíveis se circunscreveu exclusivamente sobre o cérebro a fim de o impressionar. É a essa mediunidade intuitiva que ele deveu uma facilidade de argumentação que jamais lhe faltou na sua luta.
Viagens
Seu raio de ação na casa Pillet é de início, regional, mas ele deseja ampliá-lo.
Inaugurou, por seu espírito de iniciativa, um novo método de trabalho, na época em que os viajantes comerciais se contentavam em fazer pequenas viagens, numa área restrita, que atendia às suas limitadas ambições.
Léon Denis, obediente a seu senso comercial, soube convencer seu patrão da necessidade de ampliar seu campo de trabalho.
E assim, realizou roteiros cada vez mais longos e, sem dúvida, cada vez mais proveitosos.
Nota-se seu secreto contentamento, sua alegria sem igual, quando lhe foi traçado seu primeiro itinerário. Devia visitar a Suíça, a Argélia, Tunísia e com um regresso pela Itália.
Léon Denis em sua infância apreciava, dissemos antes, extremamente o estudo da geografia. Em imaginação ele transpunha os mares, franqueava os montes e se evadia assim dos círculos estreitos em que vivia. O gosto pelas viagens, inato nele, orientava-o para este estudo e, pode-se presumir que a ocupação que ele escolheu mais tarde proporcionou-lhe ao mesmo tempo a independência e uma bela e sadia distração. Realizando, por afazeres comerciais, longas viagens pela França e pelo estrangeiro, ele realizava o sonho de sua infância: ver outras terras, outros homens, outros costumes. Mas era como um verdadeiro peregrino, mochila às costas, cajado ferrado na mão, que Léon Denis preferia viajar. Ele amava tomar estes grandes banhos de ar e que vivificam o corpo e a alma de todos aqueles que sabem apreender as grandes lições que a natureza oferece.
De todos os espetáculos da natureza, nada o encantava tanto como a montanha. Seu lema “Sempre para mais alto!” se aplicava tanto para o mundo físico como para o espiritual.
“Não me falem de outra forma de passear que não seja a pé, principalmente nas montanhas.”
O menor passeio era para ele motivo para observações, meditação e elevação. Nada se perdia nas anotações que ele registrava.
Tudo era cuidadosamente anotado e catalogado. Dessa forma, suas anotações pessoais ajudavam a esclarecer os textos por vezes obscuros.
A natureza revelava, um a um, a seu grande amigo os segredos que, normalmente, não se encontravam nos livros.
Nesse sentido, pode-se adiantar que suas numerosas viagens contribuíram grandemente para o desenvolvimento integral de sua personalidade.
O conferencista da Liga do Ensino
Sabe-se qual a louvável finalidade de que estava imbuída essa Liga: estimular a instrução do povo nos locais desprovidos de escolas; concorrer, através da doação de livros, por meio de subvenções especiais, para a criação de cursos de adultos e de bibliotecas populares. Era, em resumo, uma grande federação intelectual, sem qualquer entrave burocrático, cujo objetivo era que a França adotasse o ensino obrigatório, gratuito e leigo, e consagrar a independência da escola perante as Igrejas.
O Dr. Belle, deputado, que estava sinceramente imbuído de ideias republicanas, tomou a si a direção do Círculo e lhe imprimiu um vigoroso impulso. Ele apreciava o jovem viajante da Casa Pillet por sua inteligência e sua atividade e colocou-o como secretário-geral do Círculo. Não podia ter feito escolha mais feliz. Filho do povo, tendo comprovado por si mesmo o quanto as classes pobres estão, por falta de instrução, postas em estado de inferioridade, em face das classes abastadas, Léon Denis se entregou inteiramente à tarefa que lhe acabavam de confiar.
“Ele sabe como despertar um grande interesse no auditório, porque os temas que escolhe são tratados com uma encantadora elevação de pensamento, numa linguagem muito honesta e muito pura, à qual certos conferencistas ainda creem que não devem se submeter, esquecendo que só é possível instruir eficazmente com expressões e frases apresentadas de forma simples.”
Os assuntos que Denis escolhia lhe permitiam abordar a questão que ele desejava, mas que não podia ainda tratar livremente, mas é preciso, entretanto, levar em conta as dificuldades que um tal empreendimento apresenta. Sob o patrocínio da Liga nem seria possível pensar nisso.
Em sessões privativas, ele trata de assuntos mais específicos, tais como: O Mundo e a Vida, Os Problemas Morais e Religiosos, etc.
Primeiras obras literárias
Em 1880, proferia uma de suas primeiras grandes conferências, pela Liga do Ensino: “O Progresso”. Essa brilhante palestra, de um alto teor literário, bem composta, foi publicada num opúsculo, no mesmo ano, a pedido de seus numerosos ouvintes.
A tese de O Progresso – lei de solidariedade que une todos os tempos e todas as raças – precisava de tempo para ser esclarecida.
“Quem sabe – dizia o orador, em sua conclusão – se um dia não viremos colher na paz e na alegria o que tivermos semeado na dor? O progresso só pode ser feito na imortalidade.”
Progredir é quebrar a escravidão da matéria, é ligar-se exclusivamente aos prazeres da inteligência e às alegrias do coração.
É sofrer em silêncio, aceitar as provações com resignação, confiar na justiça eterna.
Suas primeiras publicações datam de 1880. Começou por um opúsculo de umas 50 páginas, com o título Túnis e a Ilha da Sardenha. Eram recordações de uma viagem pelo Mediterrâneo e países barbarescos.
As mesmas qualidades de estilo, o mesmo frescor de impressões se encontram nas duas novelas que ele escreveu, provavelmente na mesma época:
O Médico de Catânia é uma novela de um médico espírita que ajuda uma paciente muito pobre, mas por expiação acaba assassinado.
Em Giovanna Léon Denis traça um esboço muito apurado do que se poderia chamar de romance espírita, gênero que foi abordado, desde então, por excelentes escritores com uma audácia que o sucesso justificou.
Renuncias e provações
Aspirando ao Senado, pôs na cabeça a ideia de fazer de seu secretário-geral um deputado – escolha das mais felizes, se esse desejo fosse correspondido pelo seu jovem colaborador –, mas este opôs logo uma resistência, que surpreendeu e decepcionou a Jean Macé.
Parte da carta de Léon Denis recusando o convite:
“Minha vista, gravemente atingida, o estado de anemia e prostração a que me levou uma violenta doença de estômago são advertências imperiosas às quais não posso deixar de dar atenção. Não há dúvida de que eu tinha alimentado a esperança de consagrar minhas forças e meios de ação a serviço de uma grande causa, talvez não precisamente a do progresso político, embora me seja cara; pelo menos, devo me consagrar a esta causa, ainda mais alta, da evolução científica, filosófica e moral, que interessa à humanidade inteira e oferece, do ponto de vista moral, a solução do maior problema que se apresentou, em todos os tempos, ao espírito humano: o de seus próprios destinos. É com este objetivo que eu me exercitava, manejando a pena e a palavra.”
Aos 35 anos, Léon Denis se vê diminuído nos seus dotes físicos, (Ele começa a sofrer da visão) com a perspectiva de continuar sua vida a sós, perto de seus pais velhos e enfermos. Se ele abandonasse o trabalho seria para eles a miséria. Como qualquer pessoa, ele esboçara um projeto de casamento com uma jovem que amava sinceramente e era por ela amado, a fim de constituir um lar, um refúgio contra as tempestades da vida. Esperança irrealizável; como poderia ele, ocupado em trabalhos modestos, tornar uma mulher solidária com encargos tão pesados? De outro lado, como poderia gozar as doçuras, os cuidados da vida de família, com despesas crescentes, enquanto o seu caráter de missionário se definia cada vez mais?”.
Inicio do seu Apostolado
O ano de 1882 marca, em realidade, o início de seu apostolado.
Os dirigentes do movimento espírita – é fácil de se adivinhar – desejavam a colaboração de um orador dessa envergadura. Pierre-Gaëtan Leymarie, que nessa época se ocupava do espólio da viúva de Allan Kardec, tinha pressa de encontrar Léon Denis para se entender com ele, desejando uma ação conjunta no interesse da causa.
Ele lhe escrevia, a 31 de maio, assegurando-lhe seu inteiro devotamento à obra kardecista.
Léon Denis lhe respondeu da forma mais clara e firme:
“Não posso senão aprovar suas intenções e fazer justiça a seus perseverantes esforços. Os compromissos para com a firma de comércio, na qual tenho importantes interesses, não me permitem, no momento, aceitar uma obrigação permanente, trazendo certas responsabilidades.
Todavia, como no passado, estou disposto a consagrar minhas folgas à propaganda espírita. Assim que chegar a época das conferências, isto é, de setembro a abril, estarei à disposição das Sociedades e me dirigirei para as localidades onde minha presença possa ser útil, isso de forma sempre gratuita e desinteressada, pois meus recursos pessoais me dispensam de recorrer a qualquer ajuda material.”
Léon Denis nunca se comprometia, levianamente. Com ele, coisa prometida era coisa devida.
Primeiros temas tratados por ele nas conferências: Existências Progressivas dos Seres, O Gênio da Gália, Vida de Joana d’Arc…
Em dezembro de 1882 tomava parte preponderante nos trabalhos do Congresso de que iria resultar a fundação da Sociedade dos Estudos Espíritas.
Em 1885 publica a célebre brochura O Porquê da Vida.
Em 70 páginas de texto compacto, Léon Denis expõe, a todo leitor de bom senso, liberto de ideias preconcebidas, o problema da existência.
Seu objetivo não era, especialmente, propor uma tese filosófica aos pensadores inquietos, mas, antes de tudo, levar aos que a vida castigava duramente, e a religião não pudera consolar uma razão plausível de crença e de esperança.
John Wycliffe
– Revelado a Allan Kardec, aquém de sua encarnação como druida, sua vida na Boêmia, sob a personalidade de Jan Huss (1369-1415). Nesse caso encontramos uma valiosa pista para a compreensão dessas “vidas quase de todo apagadas e dessa misteriosa ligação” através de Jerônimo de Praga (1379-1416), guia espiritual de Léon Denis e que foi, igualmente, o maior amigo e o mais eminente discípulo de Jan Huss.
Léon Denis seria John Wycliffe (1324-1384) reencarnado:
– Wycliffe era um homem que, mesmo no seu tempo, criticou, através das suas escrituras, muito a hipocrisia da igreja católica. Teve uma morte serena, mas depois de desencarnado o mesmo Concílio de Constança que condenou a Huss e Jerônimo (que seguiram as suas ideias) o condenou posteriormente, os seus ossos foram desenterrados, queimados e jogados no rio. Além de que foi um dos, se não o primeiro tradutor da Bíblia para o inglês,
Julgamos, assim, que o quadro se completa: Allan Kardec seria Jan Huss reencarnado; Léon Denis seria John Wycliffe reencarnado. É o que o panorama deste estudo faz desdobrar-se. – Wallace Leal V. Rodrigues
Desencarnação de seu pai
Em 1886 Joseph Denis desencarna.
Declaração: A família do morto, conforme sua vontade, declara que Joseph Denis deve ser enterrado civilmente, sem o concurso de qualquer sacerdote assalariado. Nisso não existe uma manifestação de ateísmo, como um ato antirreligioso, mas porque ele possuía suas convicções, em sua consciência livre, em desacordo com todo e qualquer culto material. Joseph Denis acreditava em Deus, princípio soberano e regulador da vida universal. Ele acreditava na continuação da existência após a morte, nas vidas sucessivas que o espírito percorre em degraus para se elevar à eterna luz. É nessa disposição de espírito que ele entrou na nova vida. “Nascer, morrer, renascer e progredir sem cessar, essa é a lei.” – Allan Kardec.
O Congresso Espiritualista Internacional de 1889
Era essa a bagagem, na verdade pequena, de suas obras escritas, quando se instalaram, em setembro de 1889, as primeiras assembleias mundiais do Espiritismo. A fama do orador e do escritor já era grande.
Esse primeiro congresso não ficou isento de desentendimentos muito fortes a respeito de certos pontos da Doutrina Espírita.
Foi no decorrer dessas discussões que o jovem mestre apareceu, pela primeira vez, como o mais seguro defensor da tese kardecista. O ilustre presidente do congresso não aceitou essa tese sem resistência.
No final de seu discurso de 11 de setembro, com todas as seções reunidas, o presidente emitiu a ideia de que, se cada alma, em particular, é uma emanação do pensamento eterno, uma alma universal e divina as reúne todas. Era a concepção panteísta, oposta a de um Deus cristão; e ele insistia: “Vós não quereis acreditar em um Deus que não podeis conhecer.”
Então, uma indisposição súbita impediu o orador de continuar seu discurso. Imediatamente, Léon Denis pediu a palavra para apresentar suas observações. Após um curto preâmbulo, entrou logo no assunto, referindo-se às pequenas escolas dissidentes, que já criticavam a obra de Allan Kardec:
“Têm-se esforçado por divulgar, na França, um Espiritismo chamado positivista, uma doutrina seca e fria que nada tem de comum com o kardecismo.”
Então, tomando a defesa de Kardec, falou com um tato e um vigor admiráveis:
“Dizem que Allan Kardec tem sido muito econômico e deixou muito lugar em sua obra para as ideias místicas e católicas. Isso não é exato.
O mestre poupou o Cristianismo e não o Catolicismo.
Allan Kardec manteve a moral evangélica porque ela não é somente a moral de uma religião, de um povo, de uma raça, mas porque é a moral superior, eterna, que reconstruiu e haverá de reconstruir tanto as sociedades terrenas como as sociedades do Espaço.”
Léon Denis usou da palavra por mais de 30 vezes nesse Congresso.
O Grupo da Rua du Rempart
Convém agora retroceder um pouco, a fim de avaliar a extensão de semelhante atividade.
Em 1890 Léon Denis conseguiu formar o Grupo da Rua du Rempart, com, o concurso de Perinne e Lejeune, que durou 15 anos, com proveitosas reuniões realizadas com intervalos bem curtos.
Havia cinco médiuns, sendo três de incorporação; os demais eram também videntes, audientes e psicógrafos. Léon Denis era o diretor do grupo, mas só de vez em quando participava dos trabalhos, sempre que suas constantes viagens lhe davam uma oportunidade. Os dois principais inspiradores do Grupo da Rua du Rempart foram Jerônimo e o Espírito Azul.
O Espírito Azul (assim chamado porque os médiuns – todos os médiuns – o veem sempre envolvido por um véu azul) possui um brilho intenso.
Livro: Depois da Morte
A primeira grande obra de Léon Denis, aquela que iria ter uma repercussão tão duradoura, apareceu no fim de 1890, com o título Depois da Morte, tendo como subtítulo: Exposição da Filosofia dos Espíritos, suas bases científicas e experimentais, suas consequências morais.
A primeira parte do livro descreve as grandes religiões da antiguidade, a segunda era a parte filosófica, as duas partes que se seguem eram consideradas como modelos de clareza na exposição, como uma pequena enciclopédia do mundo invisível e a última parte descreve sobre a moral.
Antes da publicação da obra, em 29 de outubro de 1890, tendo Léon Denis feito, em sessão espírita, no Grupo de Tours, a leitura dos últimos capítulos, seu guia habitual, Edouard Périnne, assim se pronunciou:
“Vosso raciocínio foi muito seguro e nada há que acrescentar, nada a eliminar. Toda a verdade predomina, impões e atinge o alvo; tudo é claro e elegante em vosso estilo.
Para as massas que devem ler e que, espero, lerão estas páginas, soubestes amenizar certos pontos amargurados, despertando-lhes a imaginação. Quero referir-me ao tempo, que geralmente escoa entre as provações impostas e a recompensa.
Devo reafirmar todo o encanto dessas páginas, apesar da gravidade do assunto.” 51
O magnífico sucesso de sua obra tinha atraído para ele a atenção do público culto. O autor de Depois da Morte era agora muito mais que um conferencista provinciano, ele acabava de se classificar como um escritor de primeira ordem. Os grandes jornais, as revistas ecléticas lhe haviam feito uma propaganda inesperada; as edições sucessivas de seus livros se esgotavam com rapidez.
Biografia de Euripedes Barsanulfo – Palestra 28.2.18 – Sueli
Eurípedes Barsanulfo começou a se converter ao Espiritismo por causa do livro Depois da Morte.
Deus na visão espírita – Palestra 5/2016 – Flavio
Depois da Morte – Léon Denis, Cap. 09 Segunda Parte:
Acima dos problemas da vida e do destino levanta-se a questão de Deus.
Se estudamos as leis da Natureza, se procuramos o princípio das verdades morais que a consciência nos revela, se pesquisamos a beleza ideal em que se inspiram todas as artes, em toda parte e sempre, acima e no fundo de tudo, encontramos a idéia de um Ser superior, de um Ser necessário e perfeito, fonte eterna do Bem, do Belo e do Verdadeiro, em que se identificam a Lei, a Justiça e a suprema Razão.
O mundo físico ou moral é governado por leis, e essas leis, estabelecidas segundo um plano, denotam uma inteligência profunda das coisas por elas regidas. Não procedem de uma causa cega: o caos e o acaso não saberiam produzir a ordem e a harmonia. Também não emanam dos homens, pois que, seres passageiros, limitados no tempo e no espaço, não poderiam criar leis permanentes e universais. Para explicá-las logicamente, cumpre remontar ao Ser gerador de todas as coisas. Não se poderia conceber a inteligência sem personificá-la em um ser, mas esse ser não vem adaptar-se à cadeia dos seres. É o Pai de todos e a própria origem da vida.
Literatura Espírita – Palestra 27.5.15 – Flavio
(Livro Depois da Morte, Cap. 53 O Estudo, Leon Denis)
O estudo é a fonte de ternos e puros deleites; liberta-nos das preocupações vulgares e faz-nos esquecer as tribulações da vida. O livro é um amigo sincero que nos dá bons augúrios nas horas felizes, bem como nas ocasiões criticas. Referimo-nos ao livro sério, útil, que instrui, consola, anima, e não ao livro frívolo, que diverte e, muitas vezes, desmoraliza. Ainda não nos compenetramos bem do verdadeiro caráter do bom livro. É como uma voz que nos fala através dos tempos, relatando-nos os trabalhos, as lutas, as descobertas daqueles que nos precederam no caminho da vida e que, em nosso proveito, aplanaram as dificuldades.
Saibamos escolher bons livros e habituemo-nos a viver no meio deles, em relação constante com os Espíritos elevados. Rejeitemos com objetivismo as obras pérfidas, escritas para lisonjear as paixões vis. Acautelemo-nos dessa literatura relaxada, fruto do sensualismo, que deixa em sua passagem a corrupção e a Imoralidade.
A maior parte dos homens pretende amar o estudo, e objeta que lhe falta tempo para se entregar a ele. Mas, quantos nessa maioria consagram noites Inteiras ao jogo, às conversações ociosas? Alguns replicam que os livros custam caro; entretanto, em prazeres fúteis e de mau gosto, despendem mais dinheiro do que o necessário para a aquisição de uma rica coleção de obras.
Deveres do Espírita – Palestra – 27.08.2014 – Fernando
No Livro Depois da Morte de Leon Denis no capitulo 43 O DEVER Diz:
“O dever é o conjunto das prescrições da lei moral, a regra pela qual o homem deve conduzir-se nas relações com seus semelhantes e com o Universo inteiro. Figura nobre e santa, o dever paira acima da Humanidade, inspira os grandes sacrifícios, os puros devotamentos, os grandes entusiasmos. Risonho para uns, temível para outros, inflexível sempre, ergue-se perante nós, apontando a escadaria do progresso, cujos degraus se perdem em alturas incomensuráveis.
O dever não é idêntico para todos; varia segundo nossa condição e saber.
No livro Depois da Morte de Leon Diniz diz:
O homem não deve isolar-se de seus semelhantes. Convém, entretanto, escolher suas relações, seus amigos, empenhar-se por viver num meio honesto e puro, onde só reinem boas influências.
Evitemos as conversas frívolas, os assuntos ociosos, que conduzem à maledicência. Digamos sempre a verdade, quaisquer possam ser os resultados. Retemperemo-nos frequentemente no estudo e no recolhimento, porque assim a alma encontra novas forças e novas luzes. Possamos dizer, ao fim de cada dia: Fiz hoje obra útil, alcancei alguma vantagem sobre mim mesmo, assisti, consolei desgraçados, esclareci meus Irmãos, trabalhei por torná-los melhores; tenho cumprido o meu dever!
Conduta Espírita – Palestra 30.01.2013 – Sueli DEPOIS DA MORTE – Léon Denis
“Recorda-te de que a vida é curta; esforça-te, pois, por conquistar, enquanto o podes, aquilo que vieste aqui realizar: o verdadeiro aperfeiçoamento. Possa teu espírito partir desta Terra mais puro do que quando nela entrou! Pensa que a Terra é um campo de batalha, onde a matéria e os sentidos assediam continuamente a alma; corrige teus defeitos, modifica teu caráter, reforça a tua vontade; eleva-te pelo pensamento, acima das vulgaridades da Terra e contempla o espetáculo luminoso do céu.”
Prece – Palestra 26.12.12 – Ângela
A linguagem da prece deve variar segundo as necessidades, segundo o estado de Espírito humano. É um grito, um lamento, uma efusão, um cântico de amor, um manifesto de adoração, ou um exame de seus atos, um inventario moral que se faz sob a vista de Deus, ou ainda um simples pensamento, uma lembrança, um olhar erguido para o céu. Depois da Morte – Léon Denis – Cap.51 – A Prece.
Léon Denis analisa que a prece deve ser uma expansão íntima da alma para com Deus, um colóquio solitário, uma meditação sempre útil, muitas vezes fecunda. É, por excelência, o refugio dos aflitos, dos corações magoados. Nas horas de acabrunhamento, de pesar intimo e de desespero, quem não achou na prece a calma, o reconforto e o alivio a seus males? Um diálogo misterioso se estabelece entre a alma sofredora e a potência evocada. A Alma expõe suas angustias, seus desânimos; implora socorro, apoio, indulgência. E, então, no santuário da consciência uma voz secreta responde: È a voz d’Aquele donde dimana toda força para as lutas deste mundo, todo o balsamo para as nossas feridas, toda a luz para nossas incertezas. E essa voz consola, reanima, persuade; traz-nos a coragem, a submissão, a resignação. E, então, erguemo-nos menos tristes, menos atormentados; um raio de sol divino luziu em nossa alma, fez despontar nela a esperança. – Depois da Morte – Léon Denis – cap.51 Quinta parte – A Prece
A prece pelos Espíritos infelizes, orar com compaixão, com amor, é uma das mais eficazes formas de caridade. Todos podem exercê-la, todos podem facilitar o desprendimento das almas, abreviar o tempo da perturbação por que elas passam depois da morte, atuando por um impulso caloroso do pensamento, por uma lembrança benévola e afetuosa. A prece facilita a desagregação corporal, ajuda o Espírito a libertar-se dos fluidos grosseiros que ligam à matéria. Sob a influência das ondulações magnéticas projetadas por uma vontade poderosa, o torpor cessa, o Espírito se reconhece e assenhoreia-se de si próprio. – Depois Da Morte – Léon Denis – Cap.51 A Prece
Fundamentos da Doutrina Espirita – Palestra agosto/2012- Fernando
No Livro Depois da Morte de Léon Denis cap. 44 diz: FÉ, ESPERANÇA, CONSOLAÇÕES A fé então é profunda, inabalável, e habilita-o a superar os maiores obstáculos. Foi neste sentido que se disse que a fé transporta montanhas, pois, como tais, podem ser consideradas as dificuldades que os inovadores encontram no seu caminho, ou seja, as paixões, a ignorância, os preconceitos e o interesse material. A razão é uma faculdade superior, destinada a esclarecer-nos sobre todas as coisas. Como todas as outras faculdades, desenvolve-se e engrandece pelo exercício. A razão humana é um reflexo da Razão eterna. É Deus em nós, disse São Paulo. Desconhecer-lhe o valor e a utilidade é menosprezar a natureza humana, é ultrajar a própria Divindade. Querer substituir a razão pela fé é ignorar que ambas são solidárias e inseparáveis, que se consolidam e vivificam uma à outra. A união de ambas abre ao pensamento um campo mais vasto: harmoniza as nossas faculdades e traz-nos a paz interna. Para produzir tais resultados, necessita a fé repousar na base sólida que lhe oferecem o livre exame e a liberdade de pensamento. Em vez de dogmas e mistérios, cumpre-lhe reconhecer tão-somente princípios decorrentes da observação direta, do estudo das leis naturais. Tal é o caráter da fé espírita. O espírita conhece e compreende a causa de seus males; sabe que todo sofrimento é legítimo e aceita-o sem murmurar; sabe que a morte nada aniquila, que os nossos sentimentos perduram na vida de além-túmulo e que todos os que se amaram na Terra tornam a encontrar-se, libertos de todas as misérias, longe desta lutuosa morada; conhece que só há separação para os maus. Dessas crenças resultam-lhe consolações que os indiferentes e os cépticos ignoram. Se, de uma extremidade a outra do mundo, todas as almas comungassem nessa fé poderosa, assistiríamos à maior transformação moral que a História jamais registrou. Mas essa fé, poucos ainda a possuem, O Espírito de Verdade tem falado à Terra, mas insignificante número o tem ouvido atentamente. Entre os filhos dos homens, não são os poderosos os que o escutam, e, sim, os humildes, os pequenos, os deserdados, todos os que têm sede de esperança. Os grandes e os afortunados têm rejeitado os seus ensinos, como há dezenove séculos repeliram o próprio Cristo. Os membros do clero e as associações sábias coligaram-se contra esse “desmancha-prazeres”, que vinha comprometer os interesses, o repouso e derruir-lhes as afirmações. Poucos homens têm a coragem de se desdizerem e de confessarem que se enganaram. O orgulho escraviza-os totalmente! Preferem combater toda a vida esta verdade ameaçadora que vai arrasar suas obras efêmeras. Outros, muito secretamente, reconhecem a beleza, a magnitude desta doutrina, mas se atemorizam ante suas exigências morais. Agarrados aos prazeres, almejando viver a seu gosto, Indiferentes à existência futura, afastam de seus pensamentos tudo quanto poderia induzi-los a repudiar hábitos que, embora reconheçam como perniciosos, não deixam de ser afagados. Que amargas decepções irão colher por causa dessas loucas evasivas!
Orgulho e Egoismo/Humildade e Caridade – Palestra 25.01.2012 – Sueli
LÉON DENIS – Depois da Morte – Este cancro é o maior flagelo da Humanidade. Dele procedem todos os transtornos da vida social, as rivalidades das classes e dos povos, as intrigas, o ódio, a guerra. Inspirador de loucas ambições, o orgulho tem coberto de sangue e de ruínas este mundo e é ainda ele que origina os nossos padecimentos de além-túmulo, pois seus efeitos ultrapassam a morte e alcançam os nossos destinos longínquos.
Pecados e Virtudes – Palestra 29/06/2011 – Rosane
A avareza é uma das mais repugnantes formas do egoísmo, pois demonstra a baixeza da alma que, monopolizando as riquezas necessárias ao bem comum, nem mesmo, sabe delas aproveitar-se.(Léon Denis – Depois da Morte)
Duquesa de Pomar
Recebeu, em 1892, da Duquesa de Pomar, um insistente convite para falar de Espiritismo no palacete dela, nas famosas reuniões que congregavam as pessoas mais notáveis e célebres de Paris. Tal convite, muito honroso, representava, entretanto, um esforço especial e a hesitação do mestre era natural.
Até aquele momento, Léon Denis só havia falado para auditórios heterogêneos, onde dominava o elemento popular. Agora tratava-se de uma plateia constituída de senhoras da alta sociedade, de lindas damas movidas pela curiosidade, de homens da alta roda e de sábios acadêmicos, mais ou menos cépticos. Que resposta deveria dar?
“As dificuldades para convencer são maiores – responderam-lhe seus habituais conselheiros –, mas o sucesso, quando se consegue, gratifica mais do que nos ambientes pouco selecionados.”
Léon Denis aceitou o convite e deu tudo certo.
Comparecia a todos os auditórios, porém preferia os homens do povo: camponeses, operários, pequenos artesãos, que não estão envolvidos por ideias preconcebidas e que conservavam uma simplicidade de coração que faria inveja a muitas pessoas cultas. Ele mesmo, filho do povo, de origem humilde, apreciava-os, por ter vivido muito tempo perto deles e partilhado de suas vidas laboriosas.
Em cidades como Bordeaux e Lyon o Espiritismo ainda era muito hostilizado.
Debate com um padre
No decorrer da última conferência, o padre Favie, Doutor em Teologia, pediu ao orador para lhe fazer, de público, uma série de perguntas, não especificadas. Léon Denis não se recusou em atendê-lo. Em consequência, atrasou sua partida por oito dias. O debate anunciado se efetuou diante de um auditório de literatos, curiosos e partidários de ambos os lados.
Denis falou sobre a tese espírita e os dogmas católicos. O debate foi caloroso e os lances emocionantes. Os dois debatedores, fortemente documentados, se apegaram aos textos da Vulgata, sobre passagens dos Evangelhos, particularmente ambíguas, durante várias horas.
O padre Favie, diz o relatório, provocou, muitas vezes, aplausos calorosos pela independência de suas apreciações e também pela sólida erudição exegética. Quanto a Léon Denis, sempre rápido nas respostas e vigoroso no ataque, foi particularmente brilhante na sua defesa da Doutrina.
Como acontece, geralmente, nesses debates oratórios, os dois debatedores mantiveram suas opiniões, no meio de seus respectivos grupos, após comprovarem igual talento.
Mas o embate estava feito. Desses confrontos devia surgir, mais tarde, uma brochura, em resposta aos ataques do clero romano, ataques que se faziam, cada vez mais ásperos e violentos. (Trata-se de O Espiritismo e as Contradições do Clero Católico).
Na Bélgica
Em 1895 sua reputação como orador havia transposto as fronteiras da França. Já não podia atender a todos os convites e por toda parte os salões lotavam.
Na época, dois valorosos valões (natural ou habitante da Valônia, metade sul-oriental da Bélgica), V. e O. B., decidiram proporcionar uma divulgação mais rápida ao kardecismo, na Bélgica, por meio de numerosas palestras e conferências, mas faltavam oradores de envergadura.
- B. era fervoroso adepto da Doutrina Espírita, mas não sabia manejar a palavra e, quando abordava uma questão perante seus amigos ou familiares, atrapalhava-se e não sabia responder às perguntas de improviso e era humilhado com zombarias.
“Vocês triunfaram, senhores – dizia ele aos zombadores –, porque não sei falar, mas, paciência! Ainda hei de convertê-los.”
Para tanto, apelou para um seu amigo, bem falante, vagamente espírita, sobretudo um bom beberrão de chopes.
No dia aprazado, para uma assistência numerosa – conseguida à custa de muitos cartazes e anúncios na imprensa local –, o orador inscrito, mais inibido do que era preciso, por causa do excesso de bebidas, não sabia como encontrar as palavras e acabou dormindo diante de seu copo d’água, apesar dos desesperados esforços do azarado propagandista.
Pode-se adivinhar o efeito produzido na região por causa do lamentável fiasco.
Foi então que Léon Denis foi convidado por O. B. para restabelecer uma situação tão gravemente comprometida. Ele aceitou. Os gracejadores, já avisados, compareceram em massa à nova convocação. Mas, dessa vez, a escolha havia sido mais feliz. O bom humor e a simplicidade encantadora do orador, o tom de sinceridade de sua palavra e a força de seus argumentos produziram bons resultados e o auditório foi conquistado.
Léon Denis amava essas populações de mineiros, rudes, porém não destituídos de sólidas qualidades, apesar dos vícios decorrentes de seu gênero de vida, tão penoso e tão precário naquela época. Até o final de sua propaganda oral, não passou um ano sequer sem rever os mineiros valões da bacia de Charleroi, com seu espírito tão franco, tão compreensivo, e, paralelamente, também visitava seus outros amigos belgas.
Dedicação total
Já se aproxima o dia – hora tão almejada – em que, tendo conquistado sua independência econômica, poderá dedicar-se, sem reservas, a seu caro labor – digamos melhor –, à sua missão.
Já é tempo; seu organismo cansado pede, imperiosamente, prudência, cautela e cuidados vigilantes. Sua fraqueza de peito, uma tosse persistente com inflamação das vias respiratórias, o obrigam a fazer um tratamento termal.
Argélia
Em dezembro de 1900, atravessou o Mediterrâneo para falar em Argel, no prédio da prefeitura, perante uma seleta plateia, nos dias 16, 25 e 27.
Tendo as duas conferências previstas sido muito aplaudidas, como de costume, foi então realizada uma terceira reunião, privativa, na Prefeitura, a fim de se fundar um Grupo Argelino.
Cristianismo e Espiritismo
Publicada a primeira edição em 1900
A obra compreende quatro partes: “As vicissitudes do Evangelho”,
“A doutrina secreta do Cristianismo”, “Relações com os espíritos dos mortos” e “A nova Revelação”.
“Sabemos – dizia o autor, no seu primeiro prefácio – tudo quanto a doutrina do Cristo contém de sublime; sabemos que ela é, por excelência, uma doutrina de amor, uma religião de piedade, de misericórdia, de fraternidade entre os homens. Mas é essa mesmo a doutrina que a Igreja Romana ensina?
A palavra do Nazareno nos foi transmitida pura e sem mistura, e a interpretação que a Igreja nos dá está isenta de qualquer elemento estranho e parasita?”
Prova e Expiação – Palestra 6/2012 – Rosane
Todas as existências penosas, as vidas de luta e sofrimento explicam-se pelas mesmas razões. São formas transitórias, mas necessárias, da vida imortal; cada alma as conhecerá por sua vez. A provação e o sofrimento são outros tantos meios de reparação, de educação, de elevação; é assim que o ser apaga um passado culposo e readquire o tempo perdido. É desse modo que os caracteres se retemperam, que se ganha experiência e o homem se prepara para novas ascensões. A alma que sofre procura Deus, lembra-se de o invocar e, por isso mesmo, aproxima-se dele.
Leon Denis – Cristianismo e Espiritismo – Cap.10, A Nova Revelação – a Doutrina dos Espíritos
Leon Denis – Cristianismo e Espiritismo: Praticai a reparação, que é o fim da vossa nova existência; retificai vosso passado, espiritualizai-vos, porque não saireis do domínio terrestre, do círculo das provações, senão depois de “haverdes pagado até o último ceitil”. (Mateus 5:26)
O próprio Jesus nos deixou material de pensamento para o assunto em exame, quando nos asseverou que se a nossa mão ou os nossos olhos fossem motivos de escândalo deveriam ser cortados ao penetrarmos no templo da vida. Compete-nos transferir a imagem literal para a interpretação simples do espírito. Se já falimos muitas vezes em experiências da autoridade, da riqueza, da beleza física, da inteligência, não seria lógico receber idêntica oportunidade nos trabalhos retificadores.
O Congresso de 1900
Léon Denis foi nomeado Presidente Efetivo
Denis destacava em seguida os pontos essenciais da questão com sua lógica e sua clareza costumeiras: “Qual será a ação do Espiritismo no domínio do pensamento?”
“1º) O Espiritismo deve contribuir, poderosamente, para
transformar a Ciência, porque, apesar de suas conquistas, a Ciência se encontra estacionada como num impasse; a Ciência não pode mais avançar, sem abordar o estudo do mundo invisível; a Ciência nada pode explicar sem fazer apelo às forças ocultas, sem deixar de lado e acima do mundo fugaz da matéria o mundo imperecível do espírito.
2º) Assim como o Espiritismo ajudará a transformar a
Ciência, ele provocará, forçosamente, uma transformação das religiões. Ele as forçará a sair de sua imobilidade, de sua letargia, insuflando-lhes sangue novo. O Espiritualismo
Moderno forçará as religiões a evoluir, a caminhar com o espírito humano, a se elevar para uma compreensão mais alta do Ser infinito, eterno, e de sua obra.
O mesmo sucederá com o ensino.
3º) Assim como o Espiritualismo Moderno transformará o ensino, poderá influir poderosamente sobre a economia social e a vida pública, porque sua concepção da existência e do destino facilitará o desenvolvimento de todas as obras de coletividade e de solidariedade.”
Como no congresso anterior, a Doutrina Espírita tinha sido posta em debate. Havia o grupo dos fenomenistas, que invocavam, antes de tudo, a Ciência e contestavam a utilidade das explicações filosóficas e só queriam basear-se nos fatos.
A Doutrina codificada pelo Iniciador não ficava, por vezes, sem sofrer ataques bastante brutais, porém o discípulo fazia questão de deixar seu pensamento bem claro perante todos.
Uma das questões postas em estudo foi esta: “Há condições para se afirmar a existência de Deus, nas conclusões do Congresso?”
“Não podeis separar o efeito da causa. – explicava ele – Não podeis separar o homem de Deus!
E direi mais ainda: fora de Deus, da afirmação de Deus, não há humanidade, porque a noção de humanidade consiste em estarmos vinculados uns aos outros por um laço poderoso, por uma identidade de natureza, de origem e de fim!
E tudo isso é Deus, tudo isso vem de Deus.
Deus é o pai da humanidade e todos nós somos seus filhos; é por isso que estamos, para sempre, unidos uns aos outros.”
Desencarnação de sua mãe
Em novembro retornava a Grenoble e Lyon, onde seus amigos queriam cada vez mais sua presença.
Entretanto, ele estava pouco decidido a fazer essa viagem. A Sra. Denis, que estava muito idosa e alquebrada, enfraquecia-se, visivelmente. Seu estado de saúde lhe causava preocupação e inquietude. Vendo-a assim, temia afastar-se. Pediu ao seu amigo, Dr. Encausse, então médico em Tours, que lhe desse sua opinião sobre o caso. Confiante na resposta confortadora do médico foi a Lyon, onde era esperado com impaciência.
Logo que chegou, um telegrama o informava da morte de sua mãe. Teve que voltar, apressadamente, para os funerais, que se realizaram em Tours, quinta-feira, 19 de novembro de 1903.
Dessa forma, o acontecimento previsto, mas temido, deixava-o só no mundo. Ele perdia mais que uma mãe plena de solicitude e de amor, perdia a única companheira de sua vida, a mais vigilante, a mais esclarecida das amigas.
Ela não quis convidar para seu enterro senão um pequeno número de amigos; recomendou que se evitasse em seus funerais todas as coisas inúteis ou de vaidade, e que se desse aos pobres sem exceção de opinião e de crença o que se gasta comumente em pompas fúnebres.
Essa bondosa mãe do mestre morreu subitamente aos 84 anos de idade. Seu filho conservou sempre viva a mágoa de não ter podido fechar-lhe os olhos. Ele acabara de deixá-la para ir a Lyon onde pronunciaria duas conferências. Apenas a primeira teve lugar, a outra foi transferida para mais tarde. Em O Problema do Ser e do Destino pode-se ler a passagem seguinte que demonstra o quanto mãe e filho eram unidos:
“Nos últimos dias de sua vida, minha mãe me via sempre perto dela em Tours, muito embora eu estivesse longe de lá viajando pelo leste.”
Os laços afetuosos se haviam apertado entre eles depois da desencarnação de Joseph Denis, ocorrido em 1886. Durante 17 anos eles viveram no pequeno apartamento que tinha vista. Foi nesta residência que o mestre escreveu suas obras iniciais, apoiado em uma pequenina mesa de madeira negra, munida de dois espelhos com a qual ele me presenteou um dia. Pode-se imaginar facilmente o que deveria ser a vida da mãe e do filho. Ele, madrugador, esforçava-se por fixar os pensamentos, que sempre se elevavam para as regiões superiores, enquanto os primeiros titilares dos pássaros subiam das grandes árvores; ela, excelente mãe, respeitava o trabalho do escritor afastando muitas vezes em um dia visitantes inoportunos com essas palavras: “Léon trabalha”. Seu rigor se abrandava às vezes quando se tratava de uma mágoa a ser consolada (uma pessoa de Tours me disse ter sido recebida graças à intervenção da Sra. Denis tocada pela gravidade do motivo de sua visita).
Espírita como o filho, a Sra. Denis acompanhava, com uma real alegria, o progresso rápido da fama de Léon Denis, interessava- se por seus menores trabalhos, acompanhava-o, em pensamento, em suas constantes viagens.
Quando retornava a Tours, ao seu apartamento, na Rua de l’Alma, reencontrava, graças à sua mãe, o ambiente tranquilo de que necessitava. Ela lhe preparava, pessoalmente, os pratos de sua preferência, e dos quais precisava, quando regressava cansado, muitas vezes adoentado, das viagens pouco favoráveis ao bom funcionamento de um estômago delicado.
Denis sabia muito bem que um repouso merecido aguardava essa mãe, que acabara de deixá-lo neste mundo, na nova morada que lhe estava reservada, após toda uma existência de devotamento.
Seus dias haviam terminado, mas os de Denis, para ele, ainda não tinham produzido todos os seus frutos.
Era necessário retomar, sem demora, a tarefa interrompida, continuando a servir, com toda a sua coragem e toda a sua fé. A conferência que ele deveria fazer em Lyon, no dia 19, foi transferida para o dia 22. A palavra entusiástica do grande orador foi recebida com aclamações.
No Invisível
Ora, uma questão requeria, então, toda a atenção do apóstolo: a mediunidade. Sobre ela Denis reuniu documentação ao mesmo tempo ampla e original.
Os guias do Grupo de Tours o haviam esclarecido sobre muitos pontos. Era necessário torná-los conhecidos pelos seguidores espíritas.
Foi para atender a esse compromisso e a essa necessidade que ele publicou, no ano de 1903, No Invisível, importante obra, bem estudada, com 500 páginas de texto.
Desde a publicação das obras de Allan Kardec, especialmente de O Livro dos Médiuns, um vasto e permanente movimento de experimentação mediúnica se desenvolvera, principalmente nos países anglo-saxões.
Na França ainda não existia uma obra onde estivesse condensado o resultado de semelhantes pesquisas.
O novo livro de Léon Denis vinha preencher essa lacuna.
“Todo adepto – escrevia ele na sua introdução – deve saber que a regra por excelência das relações com o invisível é a lei das afinidades e das atrações. Nesse domínio, aquele que procura as coisas inferiores as encontra e se confunde com elas; aquele que prefere os altos cumes, os atingirá, cedo ou tarde, fazendo deles novo meio de progresso.
Se quiserdes manifestações de ordem elevada, esforçai-vos por vos elevardes.
A experimentação, no que ela possui de belo e de grandioso, a comunhão com o mundo superior, não é conseguida pelo mais sábio, mas sim pelo mais digno, ou melhor, por aquele que tenha mais paciência, consciência e mais moralidade.”
Na primeira parte da obra, que trata das leis do Espiritismo Experimental, encontram-se novas considerações sobre a psicologia feminina.
Relegada a um segundo plano em nossa civilização, ainda bárbara, a mulher deseja exercer no lar, no templo e na comunidade o lugar que lhe cabe, junto do homem, seu igual.
“Tal é a mulher, tal é o filho e tal será o homem. É a mulher que, desde o berço, modela a alma das gerações.”
Essas afirmações que hoje são naturalmente bem aceitas pelo mundo pareciam ser, nesse começo de século, singularmente ousadas.
No capítulo seguinte tratava do fatos do Espiritismo Experimental, esforçando- se por estabelecer uma classificação dos fenômenos. Destarte, os capítulos referentes a essa questão eram tratados na obra com segurança.
A última parte do livro era consagrada à mediunidade em geral, à sua prática, aos seus perigos, às hipóteses e às objeções que ele levanta.
Sonhos – Palestra 30.10.2013 – Solange
O livro No invisível de Leon Denis cap XIII– Sonhos Premonitórios, Clarividência, Pressentimentos Podem dividir-se os sonhos em três categorias principais: Primeiramente, o sonho ordinário, puramente cerebral, simples repercussão de nossas disposições físicas ou de nossas preocupações morais. É também o reflexo das impressões e imagens arquivadas no cérebro durante a vigília; na ausência de qualquer direção consciente, de toda intervenção da vontade, elas se desenvolvem automaticamente ou se traduzem em cenas indecisas, destituídas de coordenação e de sentido, mas que permanecem gravadas na memória. A segunda categoria é No primeiro grau de desprendimento, o Espírito flutua na atmosfera, sem se afastar muito do corpo; mergulha, por assim dizer, no oceano de pensamentos e imagens, que de todos os lados rolam pelo espaço, deles se impregna e aí colhe impressões confusas, tem estranhas visões e inexplicáveis sonhos; a isso se mesclam às vezes reminiscências de vidas anteriores, tanto mais vivazes quanto mais completo é o desprendimento, que assim permite entrarem em vibração as camadas profundas da memória. Esses sonhos, de infinita diversidade, conforme o grau de emancipação da alma, afetam sobretudo o cérebro material, e é por isso que deles conservamos a lembrança, ao despertar. Por último vêm os sonhos profundos, ou sonhos etéreos. O Espírito se subtrai à vida física, desprende-se da matéria, percorre a superfície da Terra e a imensidade, onde procura os seres amados, seus parentes, seus amigos, seus guias espirituais. Vai, não raro, ao encontro das almas humanas, como ele desprendidas da carne durante o sono, com as quais se estabelece uma permuta de pensamentos e desígnios. Dessas práticas conserva o Espírito impressões que raramente afetam o cérebro físico, em virtude de sua impotência vibratória. Essas impressões se gravam, todavia, na consciência, que lhes guarda os vestígios, sob a forma de intuições, de pressentimentos, e influem, mais do que se poderia supor, na direção da nossa vida, inspirando os nossos atos e resoluções.
O Problema do Ser e do Destino
Publicado em 1908.
Um dia o correio trouxe um enorme pacote; o editor americano de Mrs. Wilcox endereçava ao mestre 4 exemplares magnificamente encadernados de sua tradução de O Problema do Ser e do Destino. Léon Denis examinou os volumes, depois seus olhos se fixaram de repente em um ponto do quarto e ele exclamou: “Acabo de ver uma grande luz sobre a porta; é provavelmente Mrs. Wilcox que manifesta assim sua alegria de ver que as ordens dadas antes de sua morte foram executadas.”
Os animais na visão da Doutrina Espírita – Palestra 29.11.17 – Geisa
Livro O problema do ser, do destino e da dor, de Léon Denis, extraímos a célebre frase: “…o Espírito dorme no mineral, sonha no vegetal, agita-se no animal e desperta no homem …”
Sonho e Desdobramento – Palestra 31.10.18 – Geisa
Livro O problema do Ser, do Destino e da Dor, Léon Denis, capítulo 55:
Às vezes, a alma afasta-se durante o descanso do corpo e são as impressões das suas viagens, os resultados das suas indagações, das suas observações, que se traduzem pelo sonho. Neste estado, um laço fluídico ainda a liga ao organismo material e, por esse vínculo sutil, espécie de fio condutor, as impressões e as vontades da alma podem transmitir-se ao cérebro.
Livro O Problema do Ser, do Destino e da Dor, Léon Denis, capítulo 55.
“As almas, que de nós cuidam, servem-se do nosso sono para exercitarem-nos na vida fluídica e no desenvolvimento dos nossos sentidos de intuição. Efetua-se, então, um completo trabalho de iniciação para os homens ávidos de se elevarem. Os vestígios desses trabalhos encontram-se nos sonhos”.
Disciplina – Palestra 30.12.15 – Paulo
A DISCIPLINA DO PENSAMENTO E A REFORMA DO CARÁTER – Léon Denis
O pensamento é criador. Não atua somente ao redor de nós, influenciando nossos semelhantes para o bem ou para o mal; age sobre tudo em nós. Gera nossas palavras, nossas ações, e com ele construímos, a cada dia, o edifício grandioso ou miserável de nossa vida presente e futura. Modelamos nossa alma e seu envoltório com os nossos pensamentos; estes produzem formas, imagens que se imprimem na matéria sutil de que o corpo fluídico é formado. Assim, pouco a pouco, nosso ser se povoa de formas frívolas ou austeras, graciosas ou terríveis, grosseiras ou sublimes; a alma se enobrece, se adorna de beleza ou cria uma atmosfera de feiura.
A Doutrina Espírita, muito melhor do que todas as doutrinas, nos permite perceber, compreender melhor toda a força da projeção do pensamento. É o princípio da comunhão universal.
Somos o que pensamos e por essa razão devemos pensar com força, vontade, persistência. Mas quase sempre nossos pensamentos passam constantemente de um assunto a outro. Pensamos raramente por nós mesmos, refletimos os mil pensamentos incoerentes do meio em que vivemos. Assim criamos um envoltório povoado das mais disparatadas formas. Nosso Espírito é como uma casa aberta a todos os que passam. Os raios do bem e as sombras do mal se confundem num caos perpétuo. É o incessante combate da paixão e do dever em que, quase sempre, a paixão sai vitoriosa. Antes de tudo, é preciso aprender a controlar nossos pensamentos, a discipliná-los, a lhes imprimir uma direção precisa, um objetivo nobre e digno.
O domínio dos pensamentos acarreta o controle dos atos, porque se uns são bons, outros o serão igualmente, e toda a nossa conduta se encontrará regulada por um encadeamento harmônico. Porém, se nossos atos são bons e nossos pensamentos maus, pode haver aí apenas uma falsa aparência do bem, e continuaremos a trazer em nós um foco malfazejo, cujas influências se farão sentir cedo ou tarde, fatalmente, sobre nossa vida. (Livro: O Problema do Ser, do destino e da dor/ Leon Denis)
Prece – Palestra 26.12.12 – Ângela
Não só emitimos como recebemos, mas quem determina a qualidade do retorno é o emissor. – Leon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor– cap.24
O caso Miller
Desde o ano de 1906, um médium chamado Miller, francês de origem, porém residente em San Francisco, na Califórnia, onde se dizia comerciante de antiguidades, vinha anualmente a Paris, para seus negócios comerciais e realizava sessões de materialização.
Miller aceitava convites, uns após os outros, nos salões em evidência, e também realizava sessões pagas.
As pessoas acostumadas a essa espécie de pesquisas não demoraram em descobrir as fraudes do espertalhão, mas, por educação, calaram-se, não querendo divulgar uma tal revelação diante de seus anfitriões.
Entretanto, semelhante estado de coisas não poderia perdurar. Até mesmo para as pessoas menos entendidas ficou patente que ele representava, diante deles, uma farsa indigna e que isso devia terminar.
Léon Denis, cuja boa-fé, inicialmente, fora surpreendida e que falara favoravelmente de Miller no decorrer de suas conferências, depois de certo tempo passou a se resguardar. Mas qual partido convinha tomar na questão?
Sem dúvida alguma, convinha agir, porém com uma grande cautela. Se ainda se tratasse apenas de fenômenos duvidosos! As provas, porém, eram esmagadoras. Era evidente que Miller estava zombando dos espíritas. Não se tratava mais de trapaças e de fraudes, em estado de transe, mas de verdadeiras mistificações.
Qual era o objetivo desse médium? Era o que se precisava descobrir.
Em seu artigo de outubro de 1908, Léon Denis fazia a pergunta com uma prudência que não excluía a firmeza.
Miller, porém, não deu a menor importância. O mestre teve o escrúpulo de preveni-lo sobre o que pretendia fazer, pedindo-lhe, insistentemente, que renunciasse às suas detestáveis mistificações.
Miller respondeu de Nova Iorque, em 23 de dezembro, “negando tudo, nada prometendo”.
Depois disso, Léon Denis não vacilou mais. Publicou, em La Vie d’Outre Tombe, em Liège, a 15 de janeiro, e na Revue Spirite, a 1º de fevereiro, seu famoso artigo escrito em Marseille:
“Últimas Apreciações…”
Esse artigo ele o havia escrito tanto para obedecer às imposições de seus guias quanto sob a pressão dos acontecimentos.
“Que toda a verdade seja revelada, qualquer que seja – diziam, de Paris, os Espíritos Jerônimo e padre Henry. – Os que se lançaram, tantas vezes, na vanguarda para aclarar o caminho e mostrar o objetivo a seus irmãos hoje devem lhes chamar a atenção para as armadilhas e os perigos que se encontram em sua estrada.”
Denis concluía assim:
“Quanto a mim, repudio doravante qualquer solidariedade para com esse homem hábil, astucioso, dissimulado, que zomba, sem ter vergonha, dos sentimentos mais respeitáveis e dos interesses mais sagrados.”
Caso, porém, não estava encerrado. Segundo informações sobre Miller, soube-se então que ele, desde sua juventude, trabalhava como parceiro de um refinado impostor, não era possuidor de qualquer diploma e não gozava de nenhum prestígio na América.
Em San Francisco era conhecido como inveterado mistificador e hábil ilusionista, dotado de ventriloquia. Desacreditado em seu país, conseguiu iludir os parisienses. Que pretendia com a sua astúcia?
Entretanto, Léon Denis não deixou de ser criticado pela atitude Corajosa.
Se fossem apenas os invejosos, os adversários habituais que todo homem de valor encontra! Havia, entretanto, certos companheiros de luta, até mesmo alguns familiares que não lhe escondiam sua desaprovação. E por isso ele sofria em silêncio, mas nada o fez mudar em sua decisão. Preferia sacrificar tudo a capitular sobre um ponto que considerava fundamental para o futuro da causa.
Joana d’Arc Médium
É uma biografia com um toque de romance e ensinamentos espirituais.
Foi no meio dos debates sobre o caso Miller que apareceu A Verdade sobre Joana d’Arc.
Léon Denis, apoiado em revelações de caráter pessoal que o haviam esclarecido fortemente, não deixara, desde sua juventude, de meditar sobre o mistério da vida e da morte da heroína nacional francesa.
Desde 1877 em suas conferências nas, abordava esse apaixonante assunto, com os seguintes Temas: Grandes Cenas da História da França, O Patriotismo na Idade Média, O Gênio da Gália, Nossas Verdadeiras Tradições Nacionais, Joana d’Arc, sua vida, seu processo e sua morte, Joana d’Arc, suas vozes, Joana d’Arc e o Espiritualismo Moderno…
Era o momento de condensar tudo em capítulos definitivos, fazendo um livro que trouxesse uma contribuição nova ao estudo desse grande tema.
A mediunidade é um fato patente.
Ao afirmar que toda a epopeia de Joana se baseia nessa faculdade ainda mal definida, Léon Denis tentou uma obra certamente audaciosa, mas de forma alguma anticientífica. A novidade desse método era de ordem psicológica. Somente os conhecimentos psíquicos aprofundados possibilitam encontrar o “fio condutor” que nos ajudará a nos orientarmos no meio dos episódios daquela incomparável existência.
Notou-se que A Verdade sobre Joana d’Arc havia tido alguma repercussão, porém foi em 1912, quando o livro reapareceu com novo título – Joana d’Arc, Médium –, que obteve inesperados elogios de um alto professor universitário.
Um escritor tem, por vezes, uma preferência por um de seus livros e que nem sempre é aquele que alcançou o maior sucesso junto ao público. Léon Denis, oferecendo um dia sua Jeanne d’Arc a um visitante, teve esta reflexão: “Esta é milha filha, os outros são meus filhos”, frase que deixa entrever uma preferência marcante por esta obra-prima.
O Grande Enigma
Em 1911 aparecia seu livro O Grande Enigma, abordando: “Deus e o Universo”, em seguida a lei circular, as idades da vida e a missão do século XX.
“Deus e o Universo… Onde e como sonhei escrever este livro?
Era numa tarde de inverno, uma tarde de passeio pela costa azulada da Provence. O Sol se deitava sobre o mar tranquilo; seus raios dourados, estendendo-se sobre as ondas mansas, iluminavam o alto das rochas e dos promontórios com suas cores vivas, enquanto a Lua subia na imensidão sem nuvens. Havia um grande silêncio envolvendo todas as coisas…
E uma voz me disse: “Publica um livro, que nós te inspiraremos, um pequeno livro que resuma tudo o que a alma humana deva conhecer para se orientar no seu caminho; publica um livro que demonstre a todos que a vida não é uma coisa vã, de que se possa usar com leviandade, mas uma luta para a conquista do céu, uma obra elevada e grave de edificação, de aperfeiçoamento, uma obra que leis augustas e equitativas regem, acima das quais plana a eterna Justiça, temperada pelo Amor.”
Nessa base se encadeiam os capítulos desse livro, que é um hino de adoração ao Eterno.
Resposta de um velho espírita a um Doutor em Letras de Lyon
O notável sucesso obtido com o primeiro opúsculo, O Porquê da Vida, tinha animado seu autor a prosseguir na propaganda sob essa forma comprovadamente prática e pouco custosa para o leitor. O título desperta a curiosidade; o preço barato anima a comprar uma semelhante publicação.
O Grande Enigma foi, portanto, seguido de uma pequena brochura, com capa cor-de-rosa e umas trinta páginas, trazendo a “Resposta de um velho espírita a um Doutor em Letras de Lyon”. Uma ofensiva, em grande estilo, estava lançada pelo clero católico contra “a nova heresia”.
Por meio das pregações, das conferências, dos artigos em jornais neutros, tentava-se atingir, por todas as formas, a doutrina incômoda e odiada.
Um violento ataque acabara de ser publicado, em Lyon, contra o Espiritismo, e a resposta não se fez esperar.
O velho espírita, adivinha-se, era Léon Denis.
“Sem dúvida, um católico ignorante, rotineiro e tímido não aceitará isso; mas um cristão instruído, atento, predisposto por sua cultura intelectual e moral às revelações do Invisível e de suas leis, longe de ver no Espiritismo um inimigo de sua crença, nele encontrará o complemento racional e necessário de sua fé, a obediência racional de que fala São Paulo.”
Posicionando, de uma vez por todas, a doutrina kardecista, acrescentava estas corajosas declarações:
“As religiões decadentes estão inquietas; temem que o Espiritismo procure suplantá-las. Os príncipes da Igreja se perturbam, mas se enganam. Não sonhamos fundar um novo Evangelho, certos de que o de Jesus nos basta. Somos uma ciência e uma fé.
Como fé, pertencemos ao Cristianismo, é verdade, mas não a esse Cristianismo desfigurado, encolhido e amesquinhado pelo fanatismo, pelo misticismo próprio dos corações sofridos e pelas pobres almas, e sim à religião de Jesus, àquela que adora, e que ora em espírito e em verdade.
A História é fecunda em retornos instrutivos e severos e a perseguição que a Igreja Católica hoje sofre no mundo não é mais do que a cobrança do passado. O ódio é, geralmente, a colheita habitual dos que não semearam o amor.”
O Além e a Sobrevivência do Ser.
Ao mesmo tempo, um outro opúsculo foi colocado à venda, não mais para defesa, porém para estudo: O Além e a Sobrevivência do Ser.
Desligou-se da Sociedade Francesa de Estudo dos Fenômenos Psíquicos
Por conta de sua saúde deu uma parada nas conferências e viagens. No começo de agosto retornava a Tours, feliz em reencontrar a calma de sua vida laboriosa, após uma viagem que durara três meses. Mas ele não deveria encontrar ali a tranquilidade que esperava.
As invejas mais ou menos disfarçadas, os rancores mais ou menos incontidos se faziam presentes por instantes e, por causa disso, Denis sofria em silêncio.
Todavia, seu silêncio não era bastante para conseguir o desejado repouso. Assim, resolveu tomar a decisão que se impunha.
Em 28 de novembro escreveu a Gabriel Delanne:
“As divergências que surgiram entre nós, em consequência do caso Miller, e que eu supunha superadas, acabam de despertar com uma nova intensidade.
Tenho sido, da parte de vários membros do Conselho de Administração da Sociedade Francesa de Estudo dos Fenômenos Psíquicos, objeto de ataques violentos, até injuriosos, em diversos jornais espíritas e antiespíritas.
Não tendo sido feita qualquer refutação, resulta daí que minha situação à frente da Sociedade se torna impossível.
Peço-lhe, pois, para retirar meu nome como Presidente de Honra.
Sendo esta resolução definitiva e irrevogável, rogo leva-la ao Conselho de Administração.
É com profunda tristeza que me separo de homens e de irmãos com os quais combati longo tempo por uma causa querida, porém minha dignidade e minha honra estão em jogo e, em tal matéria, a menor hesitação seria uma fraqueza.
Espero que esta decisão não altere em nada os sentimentos de amizade que nos unem, sob o império dos quais temos trabalhado e trabalharemos ainda pelo progresso do Espiritismo no mundo.
Com esse pensamento, aperto-lhe, cordialmente, as mãos.”
Gabriel Delanne, verdadeiramente penalizado, logo lhe respondeu que nada justificaria uma tal ruptura; que divergências de pontos de vista, a propósito de um médium, não poderiam separá-los e que o único ataque, de que tivera conhecimento, apareceu em o Echo du Merveilleux e seu autor, no número seguinte, se retratou.
“Haja o que houver – dizia ele, terminando –, não ficarei menos seu amigo e pode estar certo de que nenhuma diferença de opinião poderia alterar os afetuosos sentimentos que nos unem.”
Os dois grandes paladinos da Doutrina, por uns instantes separados, não cessariam de se estimar e de continuarem, paralelamente, sua bela e nobre tarefa.
Vista enfraquecida
Entretanto, a vista de Léon Denis se enfraquecia dia a dia. Essa era a sua grande preocupação.
A operação da catarata, feita há dois anos, não trouxera qualquer melhora. Os médicos e os médiuns curadores consultados não lhe conseguiram nenhum alívio.
Denis suportava com calma e resignação esta prova, que ele via avançar numa implacável marcha, desde sua juventude. Mas quanto sofria por isso!
Não apenas a luz diurna o incomodava – a luz que ele tanto amava –, porém eis que deveria abandonar a ferramenta que lhe restava: sua pena.
Sem dúvida, alguns secretários ocasionais o supriam nessa tarefa, mas adivinha-se a complicação de semelhante trabalho, ao qual vinha juntar-se a dificuldade de rever e de corrigir as novas edições.
Graças à sua capacidade de trabalho, seu gosto pela ordem e sua incomparável memória, ele conseguia realizar sua tarefa, sem que seus amigos e numerosos correspondentes ficassem prejudicados.
Novo grupo de estudos e sessões mediúnicas
As sessões do Grupo da Rua du Rempart haviam terminado nos fins de 1909, e acreditamos que os acontecimentos referentes ao “caso Miller” também tenham contribuído para isso. Todavia, as reuniões continuaram, em caráter particular, na casa da Sra. Forget.
Primeira Guerra Mundial
Quando, em julho de 1914, os boatos alarmantes vieram abalar os corações; quando, a 3 de agosto, foi decretada a ordem de mobilização, Léon Denis foi tomado de pungente aflição.
Léon Denis tinha visto a maioria dos seus familiares partir para a frente de luta. Dizia-lhes: “Coragem, cumpram seu dever. Quanto a mim, lamento que seja muito tarde para acompanhá-los”.
Na ocasião, sua intenção era viajar para a estação de águas de Challes. Levaria consigo a Sra. Forget, também duramente atingida pela confusão geral.
O perigo parecia momentaneamente afastado e retornaram a Tours. Foi então que resolveram viver juntos, para diminuir as despesas com o aluguel e os empregados. Seus recursos eram dos mais modestos, e era preciso prevenir-se, no meio de tais acontecimentos, contra um rápido aumento do custo de vida.
No ano seguinte, durante o verão, Léon Denis deixou, então, seu apartamento da Rua de l’Alma para se instalar, com sua velha amiga, num local mais amplo e mais confortável, no número 19 da Place des Arts, onde, um após outro, deviam acabar suas vidas.
Em 25 de agosto de 1917, a morte de sua velha amiga e querida médium, que ficara ao seu lado, substituindo sua mãe, deixou-o terrivelmente isolado na cidade inquieta, cheia de tropas em trânsito e de soldados feridos.
Que vazio em seu derredor, nos amplos cômodos, onde já não se ouvia mais o passo miúdo da velha senhora, em sua “marchinha de camundongo”.
O escritor reuniu em um volume os artigos que havia publicado durante a guerra em diferentes revistas; isto constituiu O Mundo Invisível e a Guerra.
Volta da revista espírita
Nos fins de 1916, Jean Meyer veio procurar o mestre a fim de lhe comunicar a intenção de adquirir a Revue Spirite que há um ano não aparecia mais, por causa das dificuldades financeiras decorrentes da guerra. A Revue Scientifique et Morale du Spiritisme (Ver sobre a fundação da Revue Spirite no livro Gabriel Delanne, sua Vida, seu Apostolado e sua Obra) também suspendera sua publicação, de forma que a propaganda das ideias, nesse campo, se achava bastante prejudicada.
Léon Denis não podia senão felicitar e encorajar Meyer por uma iniciativa tão oportuna.
Graças à energia e à firmeza do impulso de seu novo diretor, a Revue Spirite reapareceu em janeiro do ano seguinte.
Presidente de Honra da União Espírita Francesa
Restava organizar a União Espírita Francesa, que ainda estava embrionária. Jean Meyer convidou, logo de início, Léon Denis para presidente, porém, o velho mestre não podia, pois sua idade, suas enfermidades e sua distância de Paris, assumir tão importante cargo. Mas aceitou a Presidência de Honra e deu à nova sociedade o apoio de sua longa experiência e de sua grande autoridade.
Assim, graças ao homem de ação que aparecia no momento propício, a delicada e difícil tarefa de organização do Espiritismo francês, que ninguém desejara mais ardentemente que o mestre, se achava, enfim, realizada.
A Revue Spirite encontrou nele um colaborador de uma fidelidade exemplar. Até nos últimos instantes, atendendo à sua volumosa correspondência, à composição de suas obras e à redação de seus artigos, dedicou à Revue Spirite uma ampla série de páginas fundamentais, de um estilo voluntariamente despretensioso, mas tão cativantes em sua serena simplicidade, e que seus leitores habituais aguardavam, cada mês, como um benfazejo bálsamo.
Srta. Claire Baumard
No decorrer daquele ano de luta obstinada, assinalada por ataques parciais, avanços e recuos próprios da guerra de posição, Léon Denis consegue a colaboração inesperada de uma secretária muito ativa e das mais dedicadas: a Srta. Camille Chaise.
Léon Denis se ocupava, então, em rever uma nova edição de Joana d’Arc, Médium.
Meses mais tarde, a Srta. Claire Baumard substituía, em suas funções, a Srta. Camille Chaise, obrigada a deixar Tours.
A nova secretária deveria preencher suas funções com uma pontualidade, com uma fidelidade e um devotamento exemplares, até a morte do mestre.
Mlle. Baumard não era uma jovenzinha quando, em 1918, entrou a serviço de Léon Denis, pois tinha 45 anos. Entretanto, conhecera-o vinte anos antes “Algum tempo depois de ter lido a obra de Léon Denis, chegou ao meu conhecimento que o apóstolo do Espiritismo vivia em Tours. Entretanto, deixei decorrer alguns anos antes de ousar ir até ele. Um dia, o acaso – terá sido mesmo o acaso? – colocou sob meus olhos um jornal da localidade onde era anunciado o falecimento de um Sr. Léon Denis. Essa novidade foi para mim uma fonte de aborrecimentos e de remorsos. Mas eu respirei aliviada, era um homônimo!
Sem mais esperar, fui bater à porta do mestre, o acolhimento que ele me deu, marcado por uma benevolente cordialidade, tocou-me profundamente. Ele teve a bondade de me pagar a visita, o que quer dizer que ele próprio apertou o nó que, em seguida, deveria se tornar muito forte.
No fim da guerra, Mlle. Camille Chaise, refugiada renana, secretária do mestre tendo que abandonar Tours, teve a ideia de me chamar para substituí-la. Aceitei sem hesitação. Minha colaboração para o trabalho do escritor espírita só deveria terminar por ocasião de sua morte.
Aprendeu Braille
Ele foi também um admirável modelo de resignação. Foi na última parte de sua existência que ele colocou essa virtude em prática para suportar valentemente uma prova tão terrível quanto a meia cegueira que o tornava dependente de outrem para o seu trabalho. Com seu caráter independente, isto foi-lhe certamente muito duro, mas sua força de vontade o fez reagir, e aos anos ele aprendeu a ler, antes, o Braille integral, depois, em seguida, o abreviado, a fim de criar para si uma ocupação agradável e salutar. Sua resignação na prova e sua grandeza de alma se mostravam nestas palavras que ele me ditou tantas vezes: “Eu bendigo minha prova e agradeço a Deus por me tê-la enviado, pois que ela permite a minha alma se depurar e adquirir mais mérito.”
Artigos e revisão de obras na velhice
Apesar da idade, o apóstolo do Espiritismo havia conservado o espírito vivo e guardava uma grande força de trabalho; seu cérebro estava em constante ignição. Ele superava todas as dificuldades engendradas por sua meia-cegueira, por sua prodigiosa memória, seu espírito de ordem e método e, até à sua doença, só ele tocava em seus papéis. Sua colaboração se estendia a várias revistas francesas e estrangeiras e, por acréscimo, um trabalho ao qual ele me oferecia muito de minúcia e que lhe era imposto a cada ano: a revisão de uma ou outra de suas obras, tendo em vista a tiragem de novas edições. Tornar-se atualizado era sua grande preocupação.
Adaptações de um escritor por conta da meia cegueira
A maior parte do tempo o escritor ditava seus textos, mas às vezes uma carta importante ou um artigo que exigia maior cuidado que os outros o obrigavam imediatamente a fixar seu pensamento; ele se servia do lápis e da grade de metal que permite aos cegos não fazer remontar as linhas umas sobre as outras.
Por vezes o mestre recebia uma carta em escritura Braille; era então uma alegria para ele brincar comigo dizendo: “Ah! Esta aqui tu não tomarás conhecimento dela!”, mas a correspondência em Braille não tinha uma resposta pelo mesmo processo. O mestre achava-o muito demorado e não recorria ao estilete senão para fazer suas contas. Ele preferia mais a sua grade, com o auxílio da qual escrevia rapidamente, mas, que desapontamento não lhe ocasionava ela às vezes! Ele me apresentou um dia muitas páginas para decifrar, páginas nas quais não encontrei nada!
– Como? Dizes que está em branco?!
– Exatamente, mestre.
– Mas não é possível!
– Mas sim, eu vejo o que aconteceu: escrevestes com a ponta do lápis quebrada.
Pela primeira vez eu o vi desolado, constatando que o fruto de seu trabalho, o produto de seu pensamento estava perdido. Imediatamente ele se esforçou por reconstituir o seu texto.
Reuniões mediúnicas em sua casa
Em 1917, Léon Denis viu suas relações com o mundo invisível bruscamente interrompidas pela morte da sua médium (Sra. Forget). Com a força de alma que o caracterizava, ele suportou valentemente esta prova. Três anos decorreram; depois subitamente uma mudança se produziu. Duas parisienses, as Sras. H. e C., ferventes adeptas do Espiritismo, vieram a Tours com a finalidade de conhecer o autor de Depois da Morte. Elas perguntaram ao mestre se não poderia permitir-lhes assistir a uma sessão. Um grupo de pessoas dos arredores, tendo manifestado o mesmo desejo antes, Léon Denis pensou que poderia ser pouco gentil recusar, mas confessou que não tinha à sua disposição senão médiuns psicógrafos pouco desenvolvidos. Uma dezena de convidados tomaram lugar, sem nenhuma apresentação prévia, em torno de uma grande mesa coberta de folhas de papel e de um “Oui-ja”.
As atenções se voltaram imediatamente para a Sra. H., que, para espanto geral, havia inclinado a cabeça para o encosto de sua poltrona e deixava escapar alguns suspiros estirando os braços. A amiga da adormecida fez sinais para que não nos preocupássemos e alguns minutos depois a médium estava, segundo a expressão consagrada, tomada por uma vigorosa Entidade que, com uma voz rude e autoritária, disse ao mestre: “Eis-me, tu me reconheces?”; Léon Denis, vendo o vigor da interpelação, perfeitamente reconheceu seu guia, Jerônimo de Praga; a conversação se estabeleceu entre “o Pai e o Filho”, pois Jerônimo chamava sempre o escritor de “meu filho”.
Na brochura do livro Espíritos e Médiuns Léon Denis relatou assim estas mensagens:
“Uma conversação se estabeleceu entre nós e no decorrer de uma hora, este Espírito me expôs seus pontos de vista quanto à situação do Espiritismo, discorrendo a respeito de nossos trabalhos comuns no passado, com detalhes, particularidades, de que o médium não podia absolutamente conhecer.”
Após algum repouso, durante a mesma sessão, a Sra. Forget comunicou-se e explicou, na forma alegre que lhe era peculiar, que, tendo visto quanto seu amigo sofria por estar privado de todo o relacionamento com o Além, procurou e acabou por descobrir a médium e lhe sugeriu a ideia de vir a Tours, para visitar Denis.
Ora – acrescentava Denis – essas senhoras parisienses julgavam que tinham vindo à minha casa por sua iniciativa própria, o que comprova, mais uma vez, que os homens cedem, muito mais do que geralmente pensam, às influências dos espíritos.”
O mestre acreditou dever registrar, na mesma brochura, o incidente seguinte que veio dar uma prova notável de identidade a todas as pessoas reunidas em sua casa:
“Um dos nossos médiuns psicógrafos escreveu com o auxílio de um Espírito benevolente, a lamentação de um suicida que implorava o alívio de nossas preces. Este suicida lamentava amargamente haver desertado da vida; ele expôs sua situação dolorosa em termos que iriam permitir reconhecê-lo.
Uma senhora das redondezas, convidada por um outro membro do grupo, e que assistia pela primeira vez a uma reunião espírita, manifestou logo em seguida algum ceticismo a respeito dos fenômenos obtidos, mas à leitura da mensagem ela empalideceu, perturbou-se e declarou que se tratava de seu pai que se havia enforcado já há alguns meses, em seguida a reversos de fortuna. O fato nos foi confirmado por outros habitantes da mesma localidade.”
Léon Denis não se dirigia jamais imperiosamente aos Espíritos. Ele nunca os chamava individualmente e preferia deixá-los vir conforme sua vontade. A incorporação, isto é, o fenômeno pelo qual um Espírito se serve do corpo de um veículo chamado médium, a incorporação não exige obscuridade e o mestre fazia as experiências em sua casa em plena luz. Na época em que eu o conheci, ele nunca adormecia um médium por meio de passes magnéticos; apenas os invisíveis disto se encarregavam.
Amor pela música
Por quais meios Denis chegava a captar esse precioso influxo da inspiração? Às vezes, a música é que o auxiliava.
“Sucedeu-me, por mais de uma vez, quando tinha que fazer uma conferência numa grande cidade, chegar de véspera e assistir a uma ópera, no Teatro Lírico. Lá, escondido no fundo de um camarote, completamente isolado, eu me desligava de tudo o que se passava no salão ou no palco, para me deixar enlevar pela obra musical. Sob a ação combinada dos instrumentos e das vozes, uma onda de ideias aflorava a meu cérebro e uma beleza de pensamentos e de imagens surgia das profundezas do meu ser.
Nesses momentos, eu compunha meu tema com uma riqueza de elementos, uma profusão de argumentos, uma abundância de formas e de expressões, que não teria encontrado no silêncio e que não reapareciam sempre em minha memória, na hora oportuna.”
Em uma idade bastante avançada, Léon Denis soube criar para si uma salutar distração aprendendo a tocar piano. Ele executava por si mesmo, com muita correção, velhas árias de ópera. O mestre aproveitava o mais das vezes o momento em que eu estava ocupada em copiar um grande artigo para se entregar a esta distração.
O escritor
Léon Denis era um autodidata. Alguns o censuraram quando deviam felicitá-lo. Sim, Léon Denis formou-se sozinho; é mais um título para nossa admiração.
O dom poético é, com efeito, marca indelével de seu talento, poeta em prosa, ele não se apega aos manejos sutis e exagerados da linguagem artística.
Denis tem horror ao convencional. A procura do termo raro e o burilamento da frase lhe são indiferentes. Tudo que se refira à alquimia verbal lhe parece preocupação pueril. Dá ao polimento literário uma importância limitada.
A composição de um artigo era a hora cativante entre todas. Era o momento em que se fazia preciso demonstrar argúcia e rapidez, escolhendo o pensamento do mestre dantes formulado, pois que ele não fazia repetições voluntariamente. Ele me ocupava três horas por dia, salvo a quinta-feira, que reservava para fazer algumas visitas aos seus íntimos.
Espíritos e Médiuns
No mesmo ano, foi publicado Espíritos e Médiuns, opúsculo de propaganda, com setenta páginas, que, como O Além e a Sobrevivência do Ser, é uma contribuição ao Espiritualismo Experimental, enriquecida de novas observações e de conselhos relativos à mediunidade.
Espiritismo na Arte
O ano de 1922 foi dedicado ao Espiritismo na Arte, acompanhado de glosas sobre mensagens do Esteta e de Massenet, páginas plenas de um delicado encantamento, cuja alta significação nos é resumida no comentário final.
Arte na Visão da Doutrina Espírita – palestra 29.3.17 – Tarcila
O Espiritismo na Arte Capítulo II – A Inspiração
A arte bem compreendida é um poderoso meio de elevação e de renovação. É a fonte dos mais puros prazeres da alma; ela embeleza a vida, sustenta e consola na provação e traça para o espírito, antecipadamente, as rotas para o céu. Quando a arte é sustentada, inspirada por uma fé sincera, por um nobre ideal, é sempre uma fonte fecunda de instrução, um meio incomparável de civilização e de aperfeiçoamento. Porém, em nossos dias, muito frequentemente ela é aviltada, desviada do seu objetivo, escravizada por mesquinhas teorias de escola e, principalmente, considerada como um meio de chegar à fortuna, às honras terrestres. Emprega-se a arte para adular as más paixões, para superexcitar os sentidos, e assim faz-se da arte um meio de aviltamento. Quase todos aqueles que receberam a sagrada missão de conduzir as almas para o alto se eximiram dessa tarefa. Eles se tornaram culpados de um crime, recusando-se a instruir e a esclarecer as sociedades, perpetuando a desordem moral e todos os males que se precipitam sobre a humanidade. Esse comportamento explica a decadência da arte em nossa época e a ausência de obras importantes. O pensamento de Deus é a fonte das altas e sãs inspirações. Se nossos artistas soubessem beber nessa fonte, nela encontrariam o segredo das obras imperecíveis e as maiores felicidades. O Espiritismo vem lhes oferecer os recursos espirituais de que nossa época tem necessidade para se regenerar. Ele nos faz compreender que a vida, em sua plenitude, é apenas a concepção e a realização da beleza eterna. Viver é sempre subir, sempre crescer, sempre acrescentar em si o sentimento e a noção do belo. As grandes obras só se elaboram no recolhimento e no silêncio, à custa de longas meditações e de uma comunhão mais ou menos consciente com o mundo superior. O alarido das cidades não é conveniente ao voo do pensamento; ao contrário, a calma da natureza, a paz profunda das montanhas, facilitam a inspiração e favorecem a eclosão do talento. Assim, confirma-se, uma vez mais, o provérbio árabe: “O barulho é para os homens, o silêncio é para Deus!”
Correspondências
Léon Denis recebia diariamente numerosas cartas da França e do estrangeiro, das quais o abrimento durava por vezes uma hora. Elas vinham de todas as partes do mundo: Suíça, Bélgica, Inglaterra, Espanha, Romênia, Sérvia, Grécia, as mais distantes da Noruega, Madagascar, do Camerum, da Ásia Menor e do Brasil. Certos correspondentes solicitavam ao autor autorização para traduzir algumas de suas obras, outros, aflitos em sua maior parte, exprimiam a alegria de terem sido consolados por um livro do escritor espírita.
Muitas dessas cartas provinham de homens que reconheciam ter encontrado nas obras de Léon Denis o “porquê da vida”. O tributo de reconhecimento oferecido ao mestre por almas que ele havia salvo do suicídio e levado a Deus, caía como um orvalho benfeitor sobre o coração do grande solitário que a ira, a inveja, a maledicência tinham tantas vezes ferido.
Léon Denis tinha por um dever, um escrúpulo, dar uma satisfação a todos os seus correspondentes; jamais uma única carta permaneceu sem resposta.
– E o senhor vai responder? – perguntávamos, depois de ler a carta.
– Por que não? – dizia o mestre, com sua costumeira benevolência – Não se recusa um pedaço de pão ao mendigo que nos vem bater à porta. Como recusar uma palavra, que pode, de alguma forma, tornar-se benfazeja, desde que toque uma alma atingida por uma verdadeira dor? Sim, certamente que responderei. Convém sempre responder.
Testamento das cartas
No diário cotidiano que redigi nos últimos anos de meu secretariado na casa do autor de Depois da Morte, eu relevo uma data que entre todas me traz uma lembrança inesquecível: 7 de janeiro de 1925. Eu cito: “Hoje, Léon Denis, tendo me encontrado diante de um pequeno móvel dotado de gavetinhas contendo cartas, me disse: “Depois de minha morte aos senhores Gaston Luce e Gaetan Cauvigné e a ti devem pertencer estas cartas.” Eu ignorava o tesouro espiritual contido no móvel e experimentei uma imensa gratidão para aquele que havia tão generosamente tido a ideia de me beneficiar com esta parte. Este donativo, com efeito, tornou possível o trabalho que eu iniciei; apenas as minhas lembranças não teriam sido suficientes para fazer conhecer completamente o escritor espírita; era-me indispensável ter a colaboração daqueles que com a leitura de suas obras o apreciaram, amaram, e por tocantes cartas testemunharam-lhe sua veneração.”
Amor pelos gatos
Nos derradeiros anos de sua vida, uma leitura em Braille, um trecho de música não eram as únicas distrações do mestre. Ele tinha em torno de si seus gatos que não o deixavam nunca e aos quais ele prodigalizava um grande afeto. Amava falar-lhes, acariciá-los, fazê-los brincar. Georgette, a fiel empregada do mestre, havia introduzo sub-repticiamente uma pequena gata que uma pessoa que frequentava a casa lhe havia dado. Ela mantinha-a em sua cozinha, mas Léon Denis a achou tão esperta, tão pequenina que a adotou. Foi batizada por “Bibiche”. Ela não deixava nossa mesa de trabalho, divertia-se com os papéis, virava o tinteiro e, sempre desastrada saltava, às vezes, dos ombros do mestre para sua cabeça. Este pequeno ser cheio de vida e de graça o alegrava. Um filho de “Bibiche”, do qual ele nunca quis se separar, atendia pelo nome de “Paullot”; era um belo angorá branco que se tornava mais e mais majestoso ano após ano. Estes dois animais não deixavam nunca a sala onde passávamos o inverno; um ronronava sobre os joelhos do mestre, que evitava fazer um único movimento para não perturbá-lo, a outra se enrolava perto do fogo sobre uma almofada. Por vezes eles nos olhavam graves como pequenas esfinges, tão graves que poder-se-ia crer que seguiam nossas leituras.
Georgette tinha cuidado nas horas das refeições em não dar acesso às salas senão a um gato, “porque – dizia ela – o senhor é de uma fraqueza extraordinária e deixaria cair uma boa parte de seu jantar”.
Seus Visitantes
Léon Denis, líder de uma grande causa, universalmente conhecido na França e no estrangeiro era às vezes solicitado para receber visitas. Era sobretudo no domingo que ele as recebia. Acolhia com a mais perfeita boa vontade todos aqueles que lhe vinham pedir algumas palavras consoladoras. Mesmo os mais humildes recebiam os testemunhos de sua bondade; não se retiravam jamais sem levar alguma brochura ou obra do mestre autografada por ele. A maior parte se abria, tagarelava, e o filósofo esforçava-se por fazê-la compreender que a vida não é verdadeiramente um ganho para a alma, senão quando esta passa pelo caminho da dor, da depuração, sendo a única razão de sua reencarnação sobre a Terra, planeta atrasado, adequado ao grau de evolução de cada indivíduo que aqui sofre o impacto de duas leis: a do trabalho e a do sofrimento.
Ele se esforçava por fazer compreender a teoria das vidas sucessivas, as causas anteriores das alegrias e das dores.
Entre os hóspedes do domingo contavam-se também familiares; Léon Denis se entretinha com eles a respeito de ciência, de política, de viagens, mas a filosofia tomava sempre os seus direitos. Com a maior erudição ele abordava todos os assuntos e sabia como pô-los ao alcance de todos; seus visitantes ficavam maravilhados com a juventude de seu espírito e a extensão de seus conhecimentos.
Muitos dos visitantes de Léon Denis o interrogavam acerca da doutrina da qual ele era o líder; em seguida, no curso da conversação, lhe confiavam acanhados que, se bem que interessados no Espiritismo, não desejavam se descartar em nada da prática de seus pais. O mestre lhes respondia:
“Vossas crenças vos convêm? Elas vos proporcionaram consolação nas provas? Mas então estareis errados em abandoná-las; não é para vós que eu escrevo, mas especialmente para aqueles que se distanciaram de tudo e não encontraram nenhum apaziguamento para suas dores.”
Léon Denis e Conan Doyle
Foi no mês de abril do mesmo ano que apareceu The Mistery of Joan of Arc. Era a tradução de Joana d’Arc, Médium, por Sir Arthur Conan Doyle.
O célebre autor de Sherlock Holmes, grande admirador da obra de Léon Denis, lhe escrevera, logo após o fim da guerra, pedindo autorização para traduzir sua Joana d’Arc, que ele saudava como um esplêndido livro, verdadeiramente inspirado.
“Joana – escrevia ele – está na moda aqui.” E falava do sucesso obtido na Inglaterra pela peça de Bernard Shaw: Saint Joan.
Léon Denis logo lhe respondeu que uma tal solicitação não poderia deixá-lo insensível.
Uma correspondência das mais francas e cordiais se estabeleceu entre ambos.
Houve, entretanto, uma divergência entre o autor e o tradutor.
Foi quando Conan Doyle quis tratar de retribuição e estranhou por ter recebido de Denis uma recusa formal quanto a qualquer pagamento.
“Não é justo que eu retenha todos os lucros – dizia Conan Doyle; aceitai e encontrareis boas causas para ajudar.”
Foi necessário insistir bastante, para dobrar o bom mestre, que estabelecera o princípio de não receber nenhum pagamento pelo seu trabalho de escritor.
No Congresso de 1925 que eles se conheceram pessoalmente e o Conan Doyle ajudava o Léon Denis a caminhar e a se sentar. Os laços entre eles se estreitaram e se tornaram bons amigos.
O Congresso de 1925
A época em que se deveria realizar o 3º Congresso Espírita Internacional se aproximava. Jean Meyer, que era seu promotor e organizador, pediu a Léon Denis que lhe aceitasse a presidência.
Tendo uma amiga insistido para que aceitasse o convite, Denis retrucou com energia: “Pensa, minha amiga, que eu vou presidir Congressos, perpetuamente? Tenho oitenta anos… Congressos já presidi muitos. Para mim é uma questão encerrada e bem encerrada.”
Embora rindo, ele afirmava isso com segurança, pois acreditava no que dizia.
Todavia, era preciso decidir-se. Jerônimo insistia para que ele fosse a Paris. Tal solicitação era para ele uma ordem. Alan Kardec, igualmente, o aconselhou que aceitasse.
Apesar de hesitar por muito tempo, acabou por ceder às afetuosas insistências de Jean Meyer.
Então foi iniciado um trabalho opinativo, boas vindas, a locução prévia à abertura do Congresso, refutações possíveis aos metapsiquistas, discursos de encerramento; tudo isto foi elaborado; Léon Denis ditou em seguida seu trabalho: “História do desenvolvimento do Espiritismo em Tours”.
Esse Congresso, que reunia os representantes de 24 nações, revestiu-se de uma capital importância. Aproximadamente 60 jornais deram cobertura a suas sessões, quase com imparcialidade.
Viam-se, lado a lado, fraternalmente unidos numa perfeita comunhão de ideias e de fé, o grande espírita kardecista, Léon Denis; o célebre escritor inglês, Sir Arthur Conan Doyle; o organizador e animador do Espiritismo francês, Jean Meyer, e aquele a quem cabia a árdua tarefa de secretário-geral dos trabalhos, o ativo e sorridente Ripert, sempre presente e à altura de sua difícil missão.
“Tudo isso é devido a Jean Meyer, a quem tenho a felicidade de expressar a gratidão do Congresso inteiro pelos enormes sacrifícios que fez para dar à nossa obra uma apresentação digna, merecedora do respeito e da consideração de todos. Além disso, devo agradecer a perseverança e a vontade obstinada com as quais, mesmo no meio das inúmeras dificuldades, Jean Meyer soube preparar esses grandes alicerces do Espiritismo, assegurando-lhe sucesso.”
No dia seguinte, o velho mestre voltava para Tours, levando de sua viagem a melhor e a mais reconfortante das impressões.
Tudo tinha saído bem. Desse labor, junto com espíritas de todas as nações, nascera, verdadeiramente, uma amizade geradora de reconforto e de esperança. A Nova Revelação despertava, indubitavelmente, as atenções gerais.
A semana que terminara, em verdade, tinha proporcionado bastante alegria ao apóstolo espírita, que não manifestava o menor traço de fadiga.
“Fui poderosamente ajudado. – repetia – Meus amigos invisíveis me sustentaram. Como duvidar do valor desses socorros?”
Ajuda espiritual pra falar
“A maior parte dos grandes oradores sente o influxo do invisível. A inspiração desce sobre eles em vagas sucessivas e faz surgirem as expressões, as formas e as imagens, que provocam o entusiasmo das multidões. Em certos momentos, eles se sentem como arrebatados da Terra e envolvidos por uma irresistível corrente.
No curso de minha carreira de propagandista da Doutrina Espírita, experimentei, muitas vezes, a sensação de um poderoso socorro oculto, cuja causa bem conhecia.
O Espírito Jerônimo de Praga, meu protetor e guia, sempre me assistiu, em minha tarefa de conferencista. Por vezes, no momento da aparecer diante de um numeroso público, indiferente ou mesmo hostil, e tomar a palavra, eu me sentia invadido por um mal-estar ou violenta enxaqueca que paralisava meu pensamento e minha ação. Aí, então, atendendo ao meu ardente apelo e à minha prece, o meu espírito protetor intervinha. Por uma enérgica magnetização, ele restabelecia o equilíbrio orgânico e devolvia minha lucidez, meus meios de agir.
De outras vezes, após debates contraditórios que duravam várias horas, após lutas oratórias com contraditores encarniçados, materialistas ou religiosos, apesar de meu esgotamento, eu ainda encontrava modulações e entonações vibrantes que surpreendiam e abalavam o auditório.”
O Gênio Céltico e o Mundo Invisível
Já com 80 anos feitos, Léon Denis começava a escrever seu derradeiro livro: O Gênio Céltico e o Mundo Invisível.
Toda a obra tendia para esta conclusão: “É nas mais antigas tradições de nossa raça que dormitam as potências da vida e os recursos de reerguimento da nação francesa ameaçada em suas energias vitais.”
Ideia que considera capital: que o Espiritismo atual é, no fundo, o renascimento das práticas célticas e que ele contém um elemento de renovação que deve ser levado em grande consideração.
Esta concepção não é incompatível com a religião cristã. As duas crenças, muito longe de se entrechocarem, têm condições de se juntarem.
Esse pensamento era o seguinte: o Espiritismo kardecista não é outra coisa que uma adaptação das crenças de nossos ancestrais à nossa mentalidade moderna, porque coincide exatamente com o druidismo “e constitui um retorno às nossas verdadeiras tradições étnicas ampliadas pelos progressos da Ciência e confirmadas pelas vozes do espaço.”
O Gênio Céltico, livro que coroa a obra do autor, correu sério risco de ficar inacabada. Allan Kardec pressentia esse risco e veio, em pessoa, em socorro do autor. Em verdade, Allan Kardec (…) escreveu a parte final de O Gênio Céltico. Eis o depoimento pessoal embora não proposital de Mlle. Baumard:
“Durante os anos de 1926 – 1927 Denis manteve constantes contatos com o invisível. O interesse de Allan Kardec para com a obra em elaboração era intenso; apresentava-se a cada quinze dias e (…) se encarregou, por ditado mediúnico, da parte final do livro…”
Socialismo e Espiritismo
No começo de 1895, haviam-lhe pedido para falar sobre Espiritismo em na Bélgica, diante de auditórios quase exclusivamente compostos de operários em minas de carvão. Foi ali que ele abordou, pela primeira vez, a questão do Espiritismo Social, assunto que deveria desenvolver, mais tarde, com maior amplitude e maturidade.
Após as interessantes comunicações de Jules Ferry e de Paul Bert, referentes ao ensino popular, foi a questão social, em suas relações com o Espiritismo, que absorveu a atenção do incansável ancião.
O ano de 1924 foi inteiramente consagrado a esse estudo, cujos materiais deveriam fornecer os elementos para uma nova obra.
“Em certa noite (No período em que o escritor estava acabando O Gênio Céltico) do mês de janeiro de 1927, Jerônimo de Praga dissera imperiosamente àquele a quem chamava “seu filho”:
– É preciso que publiques… teus dois livros neste ano…!”
Léon Denis argumentara! Como poderia publicar dois livros em um ano?! Era muito! Entretanto, no dia seguinte, confidenciara com sua devotada secretária:
– Viste como Jerônimo me apressa? Isso prova que não mais estarei aqui no próximo ano!
Em sua obra Mlle. Baumard por sua vez confidencia:
“Jerônimo de Praga fazia alusão ao livro que Léon Denis intentava imprimir, “Socialismo e Espiritismo”.
“O comunismo – disse Denis – só é realizável no seio de grupos restritos e cuidadosamente recrutados, cujos membros estejam animados de uma fé intensa e de um espírito de sacrifício. Não se poderia estendê-lo a todas as nações.”
Um tal sistema, que nos mostre o Estado absorvendo todo o esforço coletivo, é contrário ao progresso do indivíduo.
Leon Denis fala sobre Marx na obra Socialismo e Espiritismo, em seu capítulo IV: “O socialismo de Karl Marx, homem ácido e odioso, cujo objetivo principal é a guerra de classes; tudo isso desprovido de generosidade e grandeza e não leva senão à investida, ao esmagamento de uns pelos outros.”
“Reprovamos os meios violentos e revolucionários que seriam um perigo para a sociedade ocidental, depois de ter arruinado a sociedade russa. Aprecio mais altamente as vantagens que proporcionam a toda alma as reencarnações entre os humildes e a livre aceitação da lei do trabalho. Com efeito, o trabalho é um preservativo soberano contra as ciladas da paixão, uma espécie de banho moral, um sinônimo de alegria, de paz, de felicidade, quando é realizado com inteligência e dinamismo. Também compreendo melhor por que a lei de evolução obriga a imensa maioria dos seres a renascer no seio de classes laboriosas, para nelas desenvolver as sãs energias, talhar os caráteres, tornar o homem verdadeiramente digno desse nome. Na luta constante contra as carências, no esforço cotidiano para se arrancar ao aperto das necessidades, pouco a pouco, a vontade se afirma, o julgamento se forma, as mais belas qualidades desabrocham. É por isso que as maiores almas que passaram sobre a Terra: o Cristo, Joana D’Arc e tantos outros nobres espíritos quiseram nascer nas condições as mais obscuras para servir de exemplo à humanidade.”
Edgar Quinet via corretamente quando escrevia: “Como não se aperceber de que o problema religioso envolve o problema político e econômico e toda a solução deste último não tem senão valor de uma hipótese há tanto tempo que ainda não se resolveu o primeiro”
“O estado social não sendo, em seu conjunto, senão o resultado dos valores individuais, importa antes de tudo obstinar-nos nessa luta contra nossos defeitos, nossas paixões, nossos interesses egoístas. Enquanto não tivermos vencido o ódio, a inveja, a ignorância, não se poderá estabelecer a paz, a fraternidade, a justiça entre os homens, e a solução dos problemas sociais permanecerá incerta e precária.”
“O problema social é, sobretudo, um problema moral, dissemos. O homem será desgraçado enquanto for mau”.
Todos esses trechos estão de acordo com o que Emannuel e Allan Kardec também falaram sobre as desigualdades das riquezas:
O Consolador 57 –Poderão os homens resolver sem atritos as chamadas questões proletárias? -Sim, quando se decidirem a aceitar e aplicar os princípios sagrados do Evangelho. Os regulamentos apaixonados, as greves, os decretos unilaterais, as ideologias revolucionárias, são cataplasmas inexpressivas, complicando a chaga da coletividade. O socialismo é uma bela expressão de cultura humana, enquanto não resvala para os pólos do extremismo. Todos os absurdos das teorias sociais decorrem da ignorância dos homens relativamente à necessidade de sua cristianização. Conhecemos daqui os maus dirigentes e os maus dirigidos, não como homens ricos e pobres, mas como avarentos e a revoltados. Nessas dias Expressões, as criaturas operam o desequilíbrio de todos os mecanismos do trabalho natural.
O Livro dos Espíritos:
- É lei da natureza a desigualdade das condições sociais? “Não; é obra do homem e não de Deus.” a) — Algum dia essa desigualdade desaparecerá? “Eternas somente as leis de Deus o são. Não vês que dia a dia ela gradualmente se apaga? Desaparecerá quando o egoísmo e o orgulho deixarem de predominar. Restará apenas a desigualdade do merecimento.
- Será possível e já terá existido a igualdade absoluta das riquezas? “Não; nem é possível. A isso se opõe a diversidade das faculdades e dos caracteres.” a) — Há, no entanto, homens que julgam ser esse o remédio aos males da sociedade. Que pensais a respeito? “São sistemáticos esses tais, ou ambiciosos cheios de inveja. Não compreendem que a igualdade com que sonham seria a curto prazo desfeita pela força das coisas. Combatei o egoísmo, que é a vossa chaga social, e não corrais atrás de quimeras.”
Os derradeiros momentos
12 de Abril de 1927
Léon Denis estava com um quadro grave de pneumonia.
Certo dia, sua voz enfraquecida deixou cair estas palavras:
– Que fazes?
Uma vez que ele me tinha dado ordem de não o interrogar acerca de meu trabalho, a fim de não fatigá-lo, guardei silêncio, porém ele retornou:
– É como se eu falasse a um pedaço de lenha.
Esta brincadeira me fez sorrir ligeiramente apesar de minha tristeza. Eu me aproximei vivamente dele não desejando fazê-lo supor qualquer indiferença por suas palavras.
– As segundas provas chegaram regularmente da impressora, eu as comparo com as primeiras – disse-lhe.
– Deixa isto de lado – disse ele – e torna a copiar o prefácio para Allan Kardec.
– Mas nós estamos no dia 9 – repliquei.
– Tens tempo, é preciso que ele chegue a Meyer no dia 15.
Eu me escusei, muito emocionada.
Ele perguntava às vezes por sua correspondência. Essa se acumulava, mas invariavelmente nós lhe respondíamos: “Não há nada.”
Ele se calou e eu senti a grandeza deste instante; os olhos azuis do mestre não me deixavam. Visivelmente ele esperava que eu lhe respondesse. Então eu lhe estendi a mão e simplesmente lhe disse:
– Nós somos e permaneceremos para sempre vossos discípulos e divulgaremos para sempre as crenças que haveis nos ensinado.
Alguns instantes mais tarde:
– É preciso terminar… resumir e concluir… – disse ele.
Para deixar seu espírito em pleno repouso eu o informei que as derradeiras provas tinham partido para a correção nesta mesma manhã. Ele reiterou:
– Envia a Meyer no dia 15.
Assim, embora a vida do apóstolo não estivesse senão por um fio, ele, não obstante, guardava o cuidado de seu trabalho, o cuidado de sua pontualidade que havia dominado toda sua existência.
Ele expirou à noite…
Recomendações
Desde o dia seguinte do decesso do mestre, tivemos que conter a nossa mágoa para cuidar de dar cumprimento às suas ordens e recomendações.
“Se estiveres lá – nos havia recomendado outrora –, cuidai para que eu não seja enterrado vivo.”
Pode-se dizer que este era o seu único temor
Léon Denis havia aproveitado as menores circunstâncias de suas leituras, as mais das vezes para nos fazer conhecer seus últimos desejos. Lendo um dia um livro do Sr. Cornillier, a passagem relativa às cerimônias fúnebres; ele nos havia dito:
“Sabes muito bem que eu não quero uma grande quantidade de flores, apenas as sempre-vivas amarelas, insígnia dos espíritas; a sempre-viva é o emblema da imortalidade e a cor amarela é o símbolo da luz.” – E o mestre havia acrescentado: “Minhas obséquias não podem ter lugar antes das duas horas; é preciso deixar ao pastor Wautier o tempo de chegar até aqui.”
Testamento Moral
Léon Denis nos havia deixado em depósito seu pensamento moral. Nós o lemos a seus amigos na noite mesma de sua morte e, seguindo suas instruções, nós a participamos às pessoas que ele havia designado. É uma magnífica e tocante página, na qual o apóstolo revela sua bela alma. Ei-la:
“Chegado à noite da vida, em que uma nova etapa se inicia, em que as sombras crescem e cobrem todas as coisas com seu véu melancólico, eu penso no caminho percorrido desde minha infância e dirijo meus olhares para frente, para este caminho que vai logo se abrir para mim sob o lado-de-lá e suas claridades eternas.
Nesta hora minha alma se recolhe e se desprende por avanço dos entraves terrestres; ela vê e compreende a finalidade da vida, consciente de seu papel aqui embaixo reconhecendo os benefícios de Deus, sabendo porque ela é vinda e por que ela agiu; ela abençoa a vida por todas as alegrias e todas as dores, por todas as provas salutares que esta lhe proporcionou; reconhece nela os instrumentos de sua educação e de sua elevação.
Abençoa a vida terrestre, enquanto não se voltar a pensar em uma nova existência, trabalhar ainda, sofrer, se aperfeiçoar e contribuir com seus trabalhos em favor do progresso deste mundo e da humanidade.
Consagrei esta existência ao serviço de uma grande causa: O Espiritismo ou o Espiritualismo moderno.
Consagrei, em difundi-lo, todas as minhas forças, todas as minhas faculdades, todos os recursos de meu espírito e de meu coração. Fui sempre fortemente sustentado por meus amigos invisíveis, por todos aqueles que bem cedo irei reencontrar. Pela causa do Espiritismo renunciei a todas as satisfações materiais, mesmo aquelas da vida em família e da vida pública, aos títulos e funções, errando pelo mundo, muitas vezes sozinho e triste, mas no fundo feliz por assim pagar minha dívida ao passado e me aproximar daqueles que me esperam no Além, na luz divina.
Deixando a Terra, desejo que os recursos que aqui deixei sejam consagrados aos serviços desta mesma causa. É nesse pensamento, nessa vontade bem deliberada que deixo aqui a lista dos meus legatários. De início, com a finalidade da propaganda humanitária, lego ao Sr. Jean Meyer, residente na Villa Montmorency, avenida das Tílias nº 11, Paris, a propriedade de minhas obras figurantes na Biblioteca de Filosofia Espiritualista Moderna e de Ciências Psíquicas, que ele fundou. Por outro lado, lego ao dito Jean Meyer todos os meus volumes e brochuras em depósito na impressora Arrault, em Tours, assim como os clichês, impressões e acessórios relacionados a estas obras. Se, ao decesso do Sr. Jean Meyer, o funcionamento de sua Biblioteca, acima designada, se encontrar comprometida, minhas obras cairão no domínio público e todos os publicistas poderão reproduzi-las, com a condição de se conformarem escrupulosamente ao texto de cada última edição sob o controle e supervisão de meus executores testamentários.
Léon Denis”
Bibliografia:
Léon Denis – o apóstolo do Espiritismo, sua Vida, sua Obra – Gaston Luce:
Léon Denis na Intimidade; Claire Baumard, prefácio de Sir Arthur Conan Doyle e prefácio explicativo de Wallace Leal V. Rodrigues;
Site: https://centroespiritaleocadio.org.br/
Depois da Morte – Léon Denis;
Cristianismo e Espiritismo – Léon Denis;
No Invisível – Léon Denis;
O problema do ser, do destino e da dor – Léon Denis;
Espiritismo na Arte – Léon Denis;
Socialismo e Espiritismo – Léon Denis;
O Consolador – Médium: Chico Xavier – Autor: Emmanuel;
O Livro dos Espíritos – Allan Kardec.