Cristianismo e Espiritismo, palestra 27.12.23
Cristianismo e Espiritismo
CELC – 27.12.23 – Marcelo
INTRODUÇÃO
Cristianismo (do grego “Christós”, messias, ungido, do hebraico “Mashiach”) é uma religião monoteísta abraâmica baseada na vida e nos ensinamentos de Jesus de Nazaré. É a maior e mais difundida religião do mundo, com cerca de 2,4 bilhões* de seguidores, representando um terço da população global. Estima-se que seus adeptos, conhecidos como cristãos, constituem a maioria da população em 157 países e territórios. A maioria dos cristãos acredita que Jesus é o Filho de Deus, cuja vinda como o Messias foi profetizada na Bíblia hebraica (chamada de Antigo Testamento no cristianismo) e registrada no Novo Testamento.
O cristianismo permanece culturalmente diverso em seus ramos ocidental e oriental, bem como em suas doutrinas relativas à justificação e à natureza da salvação, eclesiologia, ordenação e cristologia. Os credos de várias denominações cristãs geralmente têm em comum Jesus como o Filho de Deus — o Logos encarnado — que ministrou, sofreu e morreu na cruz, mas ressuscitou dos mortos para a salvação da humanidade.
O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática ele consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os Espíritos; como filosofia, compreende todas as consequências morais que dimanam dessas mesmas relações.
ANO 553 – concílio ecumênico de Constantinopla
Foi no Concílio Ecumênico de Constantinopla (553) que a reencarnação foi retirada do cristianismo pelo imperador Justiniano e sua esposa Teodora. Essa história da influência de Justiniano e Teodora no citado concílio, de um modo geral, não é abordada pelos historiadores, certamente, para evitarem conflitos com a Igreja, pois isso é desagradável para ela.
E na verdade, o que foi condenado nesse concílio não foi bem a reencarnação, mas a doutrina da preexistência do espírito, ou seja, a existência do espírito antes da concepção do corpo no útero materno, o que é contra a Bíblia. “Antes que eu te formasse no ventre materno, eu te conheci, e antes que saísses do ventre da madre, te consagrei e te constituí profeta das nações” (Jeremias 1: 5). Está provada, pois, pela Bíblia, essa doutrina da preexistência do espírito antes da concepção do corpo. Ora, se o espírito existe antes do corpo ser criado, ele já pode ter vivido encarnado em outro corpo aqui na Terra ou em outro mundo. “Na casa de meu Pai há muitas moradas” (João 14: 2). A casa do Pai é o universo. O próprio homem Jesus deixou também isso bem claro. “Em verdade, em verdade eu vos digo: Antes que Abraão existisse, eu sou” (João 8: 58).
https://www.otempo.com.br/opiniao/jose-reis-chaves/tirada-do-cristianismo-areencarnacao-foi-deixada-na-biblia-1.1380247
ORIGENS DOS EVANGELHOS
O Cristo nada escreveu. Suas palavras, disseminadas ao longo dos caminhos, foram transmitidas de boca em boca e, posteriormente, transcritas em diferentes épocas, muito tempo depois da sua morte. Uma tradição religiosa popular formou-se pouco a pouco, tradição que sofreu constante evolução até o século IV. Durante esse período de trezentos anos, a tradição cristã jamais permaneceu estacionária, nem a si mesma semelhante. Afastando-se do seu ponto de partida, através dos tempos e lugares, ela se enriqueceu e diversificou. Efetuou-se poderoso trabalho de imaginação; e, acompanhando as formas que revestiram as diversas narrativas evangélicas, segundo a sua origem, hebraica ou grega, foi possível determinar com segurança a ordem em que essa tradição se desenvolveu e fixar a data e o valor dos documentos que a representam.
Os primeiros apóstolos limitavam-se a ensinar a paternidade de Deus e a fraternidade humana.
POLITEÍSMO e MONOTEÍSMO
Etimologia – A palavra idolatria herda dos radicais gregos eidolon + latreia, onde eidolon seria melhor traduzido por “corpo”, e latreia significando “adoração” — neste sentido representaria mais uma adoração às aparências corporais do que de imagens simplesmente. Como também a busca por favores de pessoas que já faleceram. Wikipédia.
O desenvolvimento da ideia de Deus e do processo religioso da Humanidade acompanha a evolução, intelectual e moral, do próprio ser humano.
Nos povos primitivos a matéria sobrepuja o espírito; eles se entregam aos instintos do animal selvagem. Por isso é que, em geral, são cruéis; é que neles o senso moral ainda não se acha desenvolvido. Em segundo lugar, é natural que os homens primitivos acreditassem ter uma criatura animada muito mais valor, aos olhos de Deus, do que um corpo material. Foi isto que os levou a imolarem, primeiro, animais e, mais tarde, homens. De conformidade com a falsa crença que possuíam, pensavam que o valor do sacrifício era proporcional à importância da vítima.
Por definição, politeísmo é um sistema de crença religiosa que admite mais de um deus. Em geral, as manifestações politeístas são acompanhadas de idolatrias, refletindo a visão fragmentária que o homem tem da vida e do mundo. A mitologia de cada povo adquire feição própria a mitologia grega, a romana e a nórdica tiveram muito impacto na civilização ocidental, a própria palavra Deus, na língua portuguesa é corruptela de Zeus, o chefe dos deuses do panteão grego.
Merece destaque o fato de que nas religiões politeístas, do passado e do presente, exista uma hierarquia das divindades: um deus maior e mais poderoso que governa deuses menores, em poder, inteligência e moralidade. Indica uma forma de transição do politeísmo, propriamente dito, para o monoteísmo.
O monoteísmo representa o ápice da escala evolutiva religiosa da humanidade terrestre. Foi uma conquista lenta, seguida de estágios preparatórios, nascida no seio das próprias doutrinas politeístas.
Os hebreus foram os primeiros a praticar publicamente o monoteísmo; é a eles que Deus transmite a sua lei, primeiramente por via de Moisés, depois por intermédio de Jesus. Allan Kardec: O evangelho segundo o espiritismo.(Cap. XVIII, item 2)
Ao incorporar o cristianismo, por meio da Igreja Católica Romana, após a separação do Império Romano em ocidente e oriente, os romanos modificaram a idéia de monoteísmo, transformando o próprio Jesus em Deus, bem como o Espírito Santo, o que não aconteceu com a Igreja Católica Ortodoxa, nem tampouco com o movimento protestante iniciado por Martinho Lutero, o cristianismo primitivo foi resgatado, retirando a chamada “Santíssima Trindade” dos ensinamentos religiosos cristãos.(grifo nosso)Ao incorporar o cristianismo, por meio da Igreja Católica Romana, após a separação do Império Romano em ocidente e oriente, os romanos modificaram a idéia de monoteísmo, transformando o próprio Jesus em Deus, bem como o Espírito Santo, o que não aconteceu com a Igreja Católica Ortodoxa, nem tampouco com o movimento protestante iniciado por Martinho Lutero, o cristianismo primitivo foi resgatado, retirando a chamada “Santíssima Trindade” dos ensinamentos religiosos cristãos. (grifo nosso)
O POVO JUDEU
Dentre as três religiões Abrâmicas que existem hoje na Terra e são o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo, coube ao povo judeu o mérito da implantação do monoteísmo na Terra.
Religiões abraâmicas são as religiões monoteístas cuja origem comum é reconhecida em Abraão ou o reconhecimento de uma tradição espiritual identificada com ele. Essa é uma das três divisões principais, junto com as religiões indianas (Darma) e as religiões da Ásia Oriental.
Dos Espíritos degredados na Terra, foram os hebreus que constituíram a raça mais forte e mais homogênea, mantendo inalterados os seus caracteres através de todas as mutações. Examinando esse povo notável no seu passado longínquo, reconhecemos que, se grande era a sua certeza na existência de Deus, muito grande também era o seu orgulho, dentro de suas concepções da verdade e da vida.
A palavra judeu deriva de Judeia, nome de uma parte do antigo reino de Israel. A religião é também chamada de moisaica, já que considera Moisés um dos seus fundadores. O Estado de Israel define o judeu como alguém cuja mãe é judia, e que não pratica nenhuma outra fé. Aos poucos, porém, esta definição foi ampliada para incluir o cônjuge. O Judaísmo não é apenas uma comunidade religiosa, mas também étnica.
OS FENÔMENOS ESPÍRITAS NA BÍBLIA, Citações:
E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. Gênesis 1:27
E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente. Gênesis 2:7
Porque por isto foi pregado o evangelho também aos mortos, para que, na verdade, fossem julgados segundo os homens na carne, mas vivessem segundo Deus em espírito; 1 Pedro 4:6
E abriram-se os sepulcros, e muitos corpos de santos que dormiam foram ressuscitados; E, saindo dos sepulcros, depois da ressurreição dele, entraram na cidade santa, e apareceram a muitos. Mateus 27:52,53
O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos digo são espírito e vida. João 6:63
Disse-lhe Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que morra, viverá; João 11:25
E Jesus, respondendo, disse-lhes: Em verdade Elias virá primeiro, e restaurará todas as coisas; Mateus 17:11
E, respondendo eles, disseram: João o Batista; outros, Elias, e outros que um dos antigos profetas ressuscitou. Lucas 9:19
Digo-vos, porém, que Elias já veio, e fizeram-lhe tudo o que quiseram, como dele está escrito. Marcos 9:13
E logo fui arrebatado em espírito, e eis que um trono estava posto no céu, e um assentado sobre o trono. Apocalipse 4:2
Então disse Saul aos seus criados: Buscai-me uma mulher que tenha o espírito de feiticeira, para que vá a ela, e consulte por ela. E os seus criados lhe disseram: Eis que em En-Dor há uma mulher que tem o espírito de adivinhar. 1 Samuel 28:7
Então um espírito passou por diante de mim; fez-me arrepiar os cabelos da minha carne. Jó 4:15
Tu, que me tens feito ver muitos males e angústias, me restituirás ainda a vida, e me tirarás dos abismos da terra. Salmos 71:20
Não tornarás a vivificar-nos, para que o teu povo se alegre em ti? Salmos 85:6
Eis que todas as almas são minhas; como o é a alma do pai, assim também a alma do filho é minha: a alma que pecar, essa morrerá. Ezequiel 18:4
Naquele mesmo dia veio sobre mim a mão do SENHOR, e me levou para lá. Em visões de Deus me levou à terra de Israel, e me pôs sobre um monte muito alto, sobre o qual havia como que um edifício de cidade para o lado sul. Ezequiel 40:2
Desenvolvimento:
Muito se tem insistido sobre as proibições de Moisés, contidas no Êxodo, no Levítico e no Deuteronômio. É inspirados em tais proibições que certos teólogos condenam o estudo e a prática dos fatos espíritas. Mas o que Moisés condena são os mágicos, os adivinhos, os augures, numa palavra, tudo o que constitui a magia,
e é o que o próprio espiritualismo moderno também condena. Essas práticas corrompiam a consciência do povo e lhe paralisavam a iniciativa; obscureciam nele a idéia divina, enfraquecendo a fé nesse Ente supremo e onipotente que o povo hebreu tinha a missão de proclamar. Por isso não cessavam os profetas de o advertir contra os encantamentos e sortilégios que o perdiam.
As proibições de Moisés e dos profetas tinham apenas um fim:
preservar os hebreus da idolatria dos povos vizinhos. É possível também que não visassem senão o abuso, o mau uso das evocações, porque, apesar dessas proibições, são abundantes na Bíblia os fenômenos espíritas. O papel dos videntes, dos oráculos, das pitonisas, dos inspirados de toda ordem é ali considerável. Lá não vemos Daniel, por exemplo, provocar, por meio da prece, fatos mediúnicos? (Daniel, IX, 21) O livro que traz o seu nome é, entretanto, reputado inspirado.
Como poderiam as proibições de Moisés servir de argumento aos crentes dos nossos dias, quando, nos três primeiros séculos da nossa era, nisso não viam os cristãos o menor obstáculo às suas relações com o mundo invisível?
Dizia S. João: “Não acrediteis em todo espírito, mas provai se os espíritos são de Deus.” (I João, IV, 1.) Não há aí uma proibição; ao contrário.
Os hebreus, cuja crença geral era que a alma do homem, depois da morte, era restituída ao scheol, para dele jamais sair (Job, X, 21, 22), não hesitavam em atribuir ao próprio Deus todas essas manifestações. Deus intervém a cada passo, na Bíblia, e às vezes mesmo em circunstâncias bem pouco dignas dele.
Era costume consultar os videntes sobre todos os fatos da vida íntima, sobre os objetos perdidos, as alianças, os empreendimentos de toda ordem. Lê-se em Samuel I, cap. IX, v. 9:
“Dantes, quando se ia consultar a Deus, dizia-se: Vinde, vamos ao vidente. – Porque os que hoje se chamam profetas, chamavam-se videntes.”
O sumo sacerdote mesmo proferia julgamentos ou oráculos mediante um objeto de natureza desconhecida, chamado urim, que colocava sobre o peito. (Êxodo, XXVIII, 30. – Números, XXVII, 21)
Por uma singular contradição nos que negavam as manifestações das almas, iase muitas vezes evocar os mortos, admitindo desse modo os fatos, depois de haver negado a causa que os produzia. É assim que Saul faz evocar o Espírito de Samuel pela pitonisa de Êndor (1 Samuel, XXVII, 7-14.)
De tais narrativas resulta que, não obstante a ausência de toda noção sobre a alma e a vida futura, a despeito das proibições de Moisés, entre os hebreus alguns acreditavam na sobrevivência e na possibilidade de comunicar com os mortos. Daí a explicar a desigualdade de inspiração dos profetas e seus frequentes erros, pela inspiração dos Espíritos mais ou menos esclarecidos, não há mais que um passo. Como o não deram os autores judaicos? E, entretanto, não havia outra explicação. Sendo Deus a infinita sabedoria, não é possível considerar proveniente dele uma doutrina que descura de fixar o homem sobre um ponto tão essencial como o dos seus destinos além túmulo; ao passo que os Espíritos não são senão as almas dos homens desencarnados, mais ou menos puras e esclarecidas, não possuindo sobre as coisas senão limitado saber.
Sua inspiração, projetando-se nos profetas, devia necessariamente traduzir-se por ensinos, ora opulentos e elevados, ora vulgares e eivados de erros.
Em muitos casos mesmo deveram eles ter em conta, em suas revelações, as necessidades do tempo e o estado de atraso do povo a que eram dirigidos.
Pouco a pouco as crenças dos judeus se ampliaram e se completaram ao contato de outros povos mais adiantados em civilização. A idéia da sobrevivência e das existências sucessivas
da alma, vinda do Egito e da índia, penetrou na Judéia. Os saduceus encrespavam os fariseus de terem assimilado dos orientais a crença nas vidas renascentes da alma. Esse fato é afirmado pelo historiador Josefo (Antig. Jud., I, XVIII).
Os essênios e os terapeutas professavam a mesma doutrina. Talvez existisse mesmo, desde essa época na Judéia, como se provou mais tarde, ao lado da doutrina oficial, uma doutrina secreta, mais completa, reservada às inteligências de escol.
Como quer que seja, voltemos aos fatos espíritas mencionados na Bíblia, os quais estabelecem as relações dos hebreus com os Espíritos dos mortos, em condições análogas às que são hoje observadas. Do mesmo modo que em nossos dias, os seus médiuns, a que eles chamavam profetas, eram como tais reconhecidos em razão de uma faculdade especial (Números, XII, 6), às vezes latente e que exigia um desenvolvimento particular semelhante ao ainda hoje praticado nos grupos espíritas, como o vemos a respeito de Josué, que Moisés “instrui” pela imposição das mãos (Números, XXVII, 15-23.) Esse fato se reproduz muitas vezes na história dos apóstolos. Semelhante à dos médiuns, a lucidez dos profetas era intermitente. “Os mais esclarecidos profetas – diz Le Maistre de Sacy, em seu comentário do livro I dos Reis – nem sempre possuem a faculdade de arroubo na profecia.” (Ver também Isaías, XXIX, 10.)
Tal qual hoje, as relações mediúnicas custavam por vezes a se estabelecer: Jeremias espera dez dias uma resposta à sua súplica. (Jeremias, XLII, 7.) Outros exploravam sua pretensa lucidez, dela fazendo tráfico e ofício.
Lê-se em Ezequiel, capítulo XIII, 2, 3 e 6: “Filho do homem, dirige as tuas profecias aos profetas de Israel que se metem a profetizar, e dirás a estes que profetizam por sua cabeça: Ai dos profetas insensatos que seguem o seu próprio espírito e não vêem nada!” .
“…Eles vêem coisas vãs e adivinham a mentira, dizendo: o Senhor assim o disse, sendo que o Senhor os não enviou: e eles perseveram em afirmar o que uma vez disseram.” (Ver também Miquéias, III, 11 e Jeremias, V, 31.)
Na antiguidade judaica, muitas vezes se recorria à música para facilitar a prática da mediunidade. Eliseu reclama um tocador de harpa para poder profetizar (II Reis, 111,15), e a obscuridade era considerada propícia a essa ordem de fenômenos.
“O eterno quer assistir na obscuridade”, diz Salomão, falando do lugar santo, por ocasião da consagração do Templo (Crôn., li, VI, 1), e é, com efeito, no santuário que se dão muitas vezes as manifestações: aí se mostra a “nuvem” (II, Paralip., v, 13, 14), e nele vê Zacarias o anjo que lhe prediz o nascimento de seu filho.
(Lucas, I, 10 e seguintes.)
A música era igualmente empregada para acalmar as pessoas atuadas por algum mau Espírito, como o vemos com Saul, que a harpa do jovem David aliviava. (I, Samuel, XVI, 14-23.) Apreciando em seu valor o dom da mediunidade, aplicavam-se então, como ainda hoje, a desenvolvê-la, com a diferença apenas de que o que hoje se faz limitadamente entre os espíritas, se praticava outrora em maior escala. Já no deserto, Moisés, aquele grande iniciado, havia comunicado o dom da profecia a setenta anciãos de Israel (Números, XI), e mais tarde, na Judéia, se contavam diversas escolas de profetas, ou, por dizer diversamente, de médiuns em Betel, Jericó, Gargala, etc.
A vida que aí se levava, toda de recolhimento, de meditação e prece, predispunha para as influências espirituais. Certos profetas prediziam o futuro; outros, falando ao povo por inspiração, lhe excitavam o zelo religioso e o exortavam a uma vida moralizada. As expressões de que se serviam para indicar que se achavam possuídos pelo Espírito fazem lembrar o modo pelo qual esses fenômenos continuam a produzir-se em nossos dias. ”O peso, ou o Verbo do Senhor está sobre mim. O Espírito do Senhor entrou em mim. Eu vi, e eis o que diz o Senhor.” Recordemos que, nessa época, toda inspiração era considerada diretamente proveniente da Divindade. “O espírito caiu sobre ele”, diz ainda a Escritura a respeito de Sansão, cuja mediunidade tinha o característico da impetuosidade. (Juízes, XV, 14.)
Quanto aos fenômenos em si mesmo, um exame, por pouco demorado que seja, das narrativas bíblicas, nos provará que eram idênticos aos que hoje se obtêm.
Passemo-los rapidamente em revista, começando pelos que, tendo primeiro chamado a atenção em nossos dias sobre o mundo invisível, simbolizam, ainda, aos olhos de certos observadores muito superficiais ou pouco iniciados, o fato espírita em si mesmo; queremos falar dos movimentos de objetos sem contato. A Bíblia(IV Reis, VI, 6), nos refere que Eliseu faz vir à superfície, lançando um pedaço de madeira à água, o ferro de um machado que nela havia caído.
Da levitação, esse mesmo Eliseu transportado “para o meio dos cativos que viviam junto do rio Chobar” (Ez., III, 14, 15), e Filipe que subitamente desaparece aos olhos do eunuco e se encontra novamente em Azot (Atos, VIII, 39, 40), são exemplos notáveis. A propósito de escrita mediúnica, pode-se citar a das tábuas da lei (Êxodo, XXXII, 15, 16; XXXIV, 28). Todas as circunstâncias em que essas tábuas foram obtidas provam exuberantemente a intervenção do mundo invisível.
Não menos comprovativa é a inscrição traçada, por uma mão materializada, em uma das paredes do palácio durante um festim que dava o rei Baltasar. (Daniel, capítulo V.)
Poder-se-ia considerar como fenômenos de transporte o maná de que se alimentam os israelitas em sua jornada para Canaã, o pão e vaso d’água,
colocados ao pé de Elias, quando despertou, por ocasião de sua fuga pelo deserto (I Reis, XIX, 5 e 6), etc.
Todos os fenômenos luminosos hoje observados têm igualmente seus paralelos na Bíblia, desde a simples irradiação perispirítica notada em Moisés (Êx., XXXIV, 29, 30), e no Cristo (transfiguração), e a produção de luzes (Atos, II, 3, e IX, 3), até as aparições completas que não se contam na Bíblia, tão frequentes são.
A mediunidade auditiva tem numerosos representantes na Judéia: os repetidos chamados dirigidos ao jovem Samuel (I Reis, III), a voz que fala a Moisés (Êxodo, XIX, 19) a que se faz ouvir na ocasião do batismo do Cristo (Lucas, III, 22), como a que o glorifica pouco antes da sua morte (João, XII, 28), são outros tantos fatos espíritas.
As curas magnéticas são inúmeras. Ora a prece e a fé reforçam a ação fluídica, como no caso da filha de Jairo (Lucas, VIII, 41, 42, 49-56), ora a força magnética intervém só por si, sem participação da vontade (Marcos, V, 25-34), ou ainda se obtém a cura por imposição das mãos, ou por meio de objetos magnetizados (Atos, XIX, 11-12).
A mediunidade com o copo d’água igualmente se encontra nessas antigas narrativas. Que é, de fato, a taça de que José se servia (Gênesis, XLIV, 5) “para adivinhar”, senão o vulgar copo d’água, ou a esfera de cristal, ou qualquer outro objeto que apresente uma superfície polida em que os médiuns atuais vêem desenhar-se quadros que são os únicos a perceber?
Na Bíblia podem-se ainda notar casos de clarividência, compreendendo, então, como hoje, sonhos, intuições, pressentimentos, formas ou derivados da mediunidade que, em todos os tempos, foram grandemente numerosos e se reproduzem agora às nossas vistas.
Digamos ainda uma palavra da inspiração, esse afluxo de elevados pensamentos que vem do alto e imprime às nossas palavras algo de sobre-humano. Moisés, que apresentava todos os gêneros de mediunidade, profere, em diferentes lugares, cânticos inspirados ao Eterno, como por exemplo, o do capítulo XXXII do Deuteronômio.
Um caso notável, assinalado nas Escrituras, é o de Balaão. Esse mago caldeu cede às reiteradas solicitações do rei de Moab, Balac, e vem dos confins da Mesopotâmia para amaldiçoar os israelitas. Sob a influência de Jeová é obrigado, repetidas vezes, a elogiar e abençoar esse povo, com decepção cada vez maior de Balac.
Os homens da Judéia, esses profetas de ânimo impetuoso, experimentaram também os benefícios da inspiração, e graças a esse dom, a esse sopro que anima os seus discursos, é que a antiga Bíblia hebraica deve ter sido muito tempo considerada o produto de uma revelação divina. Pretendeu-se desconhecer as numerosas falhas que nela se patenteiam aos olhos de um observador sem preconceitos, a insuficiência, a puerilidade dos conselhos, ou dos ensinos implorados a Deus (Gên., XXV, 22; I Reis, IX, 6; IV Reis, I, 1-4; I Reis, XXX, 1-8), quando nos censurariam, com razão, de tratar dessas coisas nos grupos espíritas. Esquecem-se as crueldades aprovadas, mesmo quase recomendadas por Jeová, os escabrosos detalhes, finalmente tudo o que, nesse livro, nos revolta ou provoca a nossa reprovação, para não ver senão as belezas morais que nele se contêm e sobretudo a expressão de uma fé viva e passional, que espera o reino da justiça, senão para a geração contemporânea, que só a esperança ampara e fortifica, ao menos para as gerações futuras.
Conclusão
A observação dos fenômenos espíritas por um lado, os ensinos dos Espíritos por outro, nos patentearam as profundas verdades que constituem a base do cristianismo primitivo e de todas as grandes religiões do passado. Fez a luz sobre atos da vida do Cristo até agora envoltos em mistério. Ao mesmo tempo, revelou-se integralmente o pensamento de Jesus, a grandeza de sua obra foi posta em evidência.
Jesus não é um instituidor de dogmas, um criador de símbolos; é o iniciador do mundo no culto do sentimento, na religião do amor. Outros assentaram a crença sobre a idéia da justiça. A justiça não basta; são precisos o amor dos homens, a caridade, a paciência, a simplicidade e a mansidão. É por essas coisas que o Cristianismo é superior e imperecível, e que todos os que amam a Humanidade podem dizer-se cristãos, mesmo quando se achem divorciados da tradição de todas as igrejas.
A religião de Jesus não é exclusivista: une todas as almas crentes num vínculo comum; prende todos os seres que pensam, sentem, amam e sofrem num mesmo amplexo e uma só comunhão de amor. É a forma simples e sublime que vai direta ao coração, comove e engrandece o homem, franqueia-lhe as infinitas sendas do ideal. Esse ideal de amor e de fraternidade foram precisos dezenove séculos para ser compreendido, para que pudesse penetrar na consciência da Humanidade. Aí entrou ele pouco a pouco, sob os germes de todas as transformações sociais.
Assegurando a todos o direito de participar do “reino de Deus”, isto é, da luz e da verdade, Jesus preparou a regeneração da Humanidade; colocou os marcos da revelação futura. Fez entrever ao homem a extensão dos seus destinos, a possibilidade de se elevar até às esferas divinas, pelos caminhos da provação e da dor, pelas vias da fé e do trabalho. Fez mais ainda o Cristo. Pelas manifestações de que era o centro e que continuaram depois de sua morte, ele havia aproximado as duas humanidades, a invisível e a visível, humanidades que se penetram, se vivificam, se completam mutuamente. A Igreja novamente as separou; despedaçou o vínculo que prendia os mortos aos vivos. Reduzida às suas próprias inspirações, abandonada a correntes de opiniões opostas, a todos os sopros das paixões, não mais soube discernir e interpretar a verdade. O pensamento de Jesus ficou velado; as trevas envolveram o mundo, trevas espessas como as da Idade Média, cuja influência ainda pesa sobre nós.
Mas, depois de séculos de silêncio, o mundo invisível se descerra; ilumina-se, agita-se até às suas maiores profundezas. As legiões do Cristo e o próprio Cristo estão em atividade. Soou a hora da nova dispensação.
Essa dispensação é o moderno espiritualismo. Ei-lo que se levanta com o feixe de suas descobertas, com a multidão dos seus testemunhos, com o ensino dos Espíritos. As colunas do templo que erige ao pensamento sobem pouco a pouco e erguem-se alterosas. Há trinta anos não passava de bem mesquinha construção. E – vede! – já é um edifício moral, sob cujas abóbadas milhões de almas têm encontrado asilo, no meio das procelas da existência. A multidão dos que gemem e sofrem volta para ele os seus olhares. Todos aqueles para quem a vida se tornou molesta, todos os que são assediados por sombrios desassossegos ou presas da desesperança, nele hão de encontrar consolação e amparo; aprenderão a lutar com bravura, a desdenhar a morte, a conquistar melhor futuro.
Os pensadores, os generosos Espíritos que trabalham pela Humanidade, nele encontrarão os meios de realizar o seu ideal de paz e de harmonia. Porque só uma fé viva, uma crença forte, consorciadora das almas, será capaz de preparar a harmonia universal. Pode já se prever que é o moderno espiritualismo que há de realizá-la. Ele fez mais para isso em cinquenta anos do que o Catolicismo em muitos séculos. Na hora atual, acha-se ele disseminado por todos os pontos do globo. Seus adeptos, cujo número se tornou incalculável, saúdam-se todos pelo nome de irmãos. Uma literatura considerável, centenas de jornais, federações, sociedades, são manifestações de sua crescente vitalidade.
Sólido por seu passado remotíssimo, que é o da Humanidade, certo do seu futuro, o Espiritismo se ergue em face das doutrinas sem bases e do cepticismo vacilante. Avança resolutamente pela estrada aberta, a despeito dos obstáculos e das oposições interesseiras, seguro da vitória final, porque tem por si a Ciência e a Verdade!
É um ato solene do drama da evolução humana que começa; é uma revelação que ilumina ao mesmo tempo as profundezas do passado e as do futuro; que faz surgirem da poeira dos séculos as crenças em letargo, anima-as com uma nova chama e as faz, completando-as, reviver.
É um sopro vigoroso que desce dos espaços e corre sobre o mundo; ao seu influxo todas as grandes verdades se restabelecem. Majestosas, emergem da obscuridade dos tempos, para desempenhar a tarefa que o pensamento divino lhes assina. As grandes coisas se fortalecem no recolhimento e no silêncio: no olvido aparente dos séculos haurem elas novas energias. Recolhem-se em si mesmas e se preparam para as tarefas do futuro. Por sobre as ruínas dos templos, das civilizações extintas e dos impérios derrocados, por sobre o fluxo e refluxo das marés humanas, uma grande voz se eleva; e essa voz conclama: São vindos os tempos; os tempos são chegados!
Das profundezas estreladas baixam à Terra legiões de Espíritos para empenhar o combate da luz contra as trevas. Já não são os homens, já não são os sábios, os filósofos que lançam uma nova doutrina. São os gênios do espaço que vêm até nós e nos sopram ao pensamento os ensinos destinados a regenerar o mundo. São os Espíritos de Deus! Todos os que possuem o dom da clarividência os percebem pairando sobre nós, associando-se aos nossos trabalhos, lutando ao nosso lado pelo resgate e ascensão da alma humana.
Grandes coisas se preparam. Que os trabalhadores do pensamento estejam a postos, se querem tomar parte na missão que Deus oferece a todos os que amam e servem a Verdade.