Lei de Justiça, Amor e Caridade – Palestra
Lei de Justiça, Amor e Caridade – Palestra.
CELC – 29/10/14 – E. Marcelo
Livro – Pensamento e Vida – Item 30.
AMOR
O amor puro é o reflexo do Criador em todas as criaturas.
Brilha em tudo e em tudo palpita na mesma vibração de sabedoria e beleza.
É fundamento da vida e justiça de toda a Lei.
Surge, sublime, no equilíbrio dos mundos erguidos à glória da imensidade, quanto nas flores anônimas esquecidas no campo.
Nele fulgura, generosa, a alma de todas as grandes religiões que aparecem, no curso?das civilizações, por sistemas de fé à procura da comunhão com a Bondade Celeste, e nele se enraíza todo o impulso de solidariedade entre os homens.
Plasma divino com que Deus envolve tudo o que é criado, o amor é o hálito d’Ele mesmo, penetrando o Universo.
Vemo-lo, assim, como silenciosa esperança do Céu, aguardando a evolução de todos os princípios e respeitando a decisão de todas as consciências.
Mercê de semelhante bênção, cada ser é acalentado no degrau da vida em que se encontra.
O verme é amado pelo Senhor, que lhe concede milhares e milhares de séculos para levantar-se da viscosidade do abismo, tanto quanto o anjo que o representa junto do verme. A seiva que nutre a rosa é a mesma que alimenta o espinho dilacerante. Na árvore em que se aninha o pássaro indefeso, pode acolher-se a serpente com as suas armas de morte. No espaço de uma penitenciária, respira, com a mesma segurança, o criminoso que lhe padece as grades de sofrimento e o correto administrador que lhe garante a ordem.
O amor, repetimos, é o reflexo de Deus, Nosso Pai, que se compadece de todos e que a ninguém violenta, embora, em razão do mesmo amor infinito com que nos ama, determine estejamos sempre sob a lei da responsabilidade que se manifesta para cada consciência, de acordo com as suas próprias obras.
E, amando-nos, permite o Senhor perlustrarmos sem prazo o caminho de ascensão para Ele, concedendo-nos, quando impensadamente nos consagramos ao mal, a própria eternidade para reconciliar-nos com o Bem, que é a Sua Regra Imutável.
Herdeiros d’Ele que somos, raios de Sua Inteligência Infinita e sendo Ele Mesmo o Amor Eterno de Toda a Criação, em tudo e em toda parte, é da legislação por Ele estatuída que cada espírito reflita livremente aquilo que mais ame, transformando-se, aqui e ali, na luz ou na treva, na alegria ou na dor a que empenhe o coração.
Eis por que Jesus, o Modelo Divino, enviado por Ele à Terra para clarear-nos a senda, em cada passo de seu Ministério tomou o amor ao Pai por inspiração de toda a vida, amando sem a preocupação de ser amado e auxiliando sem qualquer idéia de recompensa.
Descendo à esfera dos homens por amor, humilhando-se por amor, ajudando e sofrendo por amor, passa no mundo, de sentimento erguido ao Pai Excelso, refletindo-lhe a vontade sábia e misericordiosa. E, para que a vida e o pensamento de todos nós lhe retratem as pegadas de luz, legou-nos, em nome de Deus, a sua fórmula inesquecível: — “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei.”
[Para facilitar o entendimento, didaticamente, o LE é dividido em 4 livros, ou 4 partes; essa Lei faz parte do Livro 3 do LE; dentro desse livro há 12 capítulos (306 questões, da 614 à 919). No capítulo 1, trata-se da lei de Deus ou Lei Natural, a qual Kardec dividiu em outras 10 leis morais, do cap. 2 ao 11 (questão 648, abaixo). O capítulo 12 refere-se à perfeição moral. Vejam que Kardec explora bem todas as Questões, todos os pontos.]
O Livro dos Espíritos 648.
– Que pensais da divisão da lei natural em dez partes, compreendendo as leis sobre a adoração, o trabalho, a reprodução, a conservação, a destruição, a sociedade, o progresso, a igualdade, a liberdade, enfim, a de justiça, de amor e de caridade?
– Essa divisão da lei de Deus em dez partes é a de Moisés e pode abranger todas as circunstâncias da vida, o que é essencial. Podes, pois, segui-la, sem que ela tenha por isso nada de absoluto, não mais que todos os outros sistemas de classificação que dependem do ponto de vista sob o qual se considera uma coisa. A última lei é a mais importante: é por ela que o homem pode avançar mais na vida espiritual, porque ela resume todas as outras.
[Esta lei moral (justiça, amor e caridade) envolve a base das 3 Revelações:
Kardec englobou, como dá para observar, a Revelação de Moisés (Justiça), a Revelação do Cristo (Amor) e a Revelação do Espiritismo (Caridade). E isso quem nos mostra é Chico Xavier, na questão 271 do Consolador, que cita as duas primeiras, e o Espiritismo, na sua relação direta com a Caridade:]
O Consolador 271.
Moises transmitiu ao mundo a lei definitiva?
-O profeta de Israel deu à Terra as bases da Lei divina e imutável, mas não toda a Lei, integral e definitiva.
Aliás, somos obrigados a reconhecer que os homens receberão sempre as revelações divinas de conformidade com a sua posição evolutiva.
Até agora, a Humanidade da era cristã recebeu a grande Revelação em três aspectos essenciais: Moisés trouxe a missão da Justiça; o Evangelho, a revelação insuperável do Amor, e o Espiritismo em sua feição de Cristianismo redivivo, traz, por sua vez, a sublime tarefa da Verdade. No centro das três revelações encontra-se Jesus-Cristo, como o fundamento de toda a luz e de toda a sabedoria. É que, com Amor, a Lei manifestou-se na Terra no seu esplendor máximo; a Justiça e a Verdade nada mais são que os instrumentos divinos de sua exteriorização, com aquele Cordeiro de Deus, alma da redenção de toda a Humanidade. A justiça, portanto, lhe aplanaram os caminhos, e a Verdade, conseguintemente, esclarece os seus divinos ensinamentos. Eis por que, com o Espiritismo simbolizando a Terceira Revelação da Lei, o homem terreno se prepara, aguardando as sublimadas realizações do seu futuro espiritual, nos milênios porvindouros.
[Podemos dizer que a tarefa da Verdade que o Espiritismo traz, faz conexão direta com a Caridade, ou também que a Verdade é a própria Caridade, tomando por base os seguintes textos:]
Revista Espírita 1860 – Julho.
Os Animais – dissertação VIII
“Que a caridade, esta virtude das almas verdadeiramente francas e nobres, seja sempre o vosso guia, porque aí está o sinal da verdadeira superioridade. Perseverai neste caminho que deve, necessariamente, conduzir-vos à verdade e à unidade, malgrado os esforços cuja força não suspeitais.”
E.S.E. Capítulo 15. Item 9.
“Se Deus houvera feito da posse da verdade absoluta condição expressa da felicidade futura, teria proferido uma sentença de proscrição geral, ao passo que a caridade, mesmo na sua mais ampla acepção, podem todos praticá-la. O Espiritismo, de acordo com o Evangelho, admitindo a salvação para todos, independente de qualquer crença, contanto que a lei de Deus seja observada, não diz: Fora do Espiritismo não há salvação; e, como não pretende ensinar ainda toda a verdade, também não diz: Fora da verdade não há salvação, pois que esta máxima separaria em lugar de unir e perpetuaria os antagonismos.”
O Livro dos Espíritos – Livro 3 – Capítulo 11 – X. LEI DE JUSTIÇA, DE AMOR E DE CARIDADE
[Este capítulo é subdividido em 4 itens [conforme abaixo], e dos quais traremos as respectivas questões com algumas correspondências de outras obras da Doutrina; É importante lembrar que as correspondências não são individuais para cada pergunta, pois pode ser que uma também se encaixe em outras questões e vice-versa.
No livro “Pensamento e vida”, capítulo 4, “Instrução”, Emmanuel nos diz:
“Já se disse que duas asas conduzirão o espírito humano à presença de Deus.
Uma chama-se Amor, a outra, Sabedoria.
(…) Bondade que ignora é assim como o poço amigo em plena sombra, a dessedentar o viajor sem ensinar-lhe o caminho.
Inteligência que não ama pode ser comparada a valioso poste de aviso, que traça ao peregrino informes de rumo certo, deixando-o sucumbir ao tormento da sede.
Todos temos necessidade de instrução e de amor.”
1. Justiça e Direitos Naturais
2. Direito de propriedade. Roubo
3. Caridade e Amor ao Próximo
4. Amor Maternal e Filial
- 1. JUSTIÇA E DIREITOS NATURAIS
Ref. 873 – O sentimento de justiça está na Natureza ou resulta de idéias adquiridas?
– Tanto está na Natureza, que vos revoltais ao pensamento de uma injustiça. O progresso moral desenvolve, sem dúvida, esse sentimento, mas não o dá: Deus o colocou no coração do homem. Eis porque encontrareis, freqüentemente, entre os homens simples e primitivos, noções mais exatas da justiça que entre os que têm muito saber.
Bíblia Sagrada – Jeremias 31:33.
“Porei a minha lei no íntimo deles e a escreverei nos seus corações.”
O Livro dos Espíritos 619.
Deus deu a todos os homens os meios de conhecer sua lei?
– Todos podem conhecê-la, mas nem todos a compreendem. Os que a compreendem melhor são os homens de bem e aqueles que querem procurá-la. Entretanto, todos a compreenderão um dia, porque é preciso que o progresso se cumpra.
A justiça das diversas encarnações do homem é uma conseqüência desse princípio, visto que, a cada nova existência, sua inteligência está mais desenvolvida e ele compreende melhor o que é o bem e o que é o mal. Se tudo devesse se cumprir para ele numa só existência, qual seria a sorte de tantos milhões de seres que morrem cada dia no embrutecimento da selvageria ou nas trevas da ignorância, sem que tivesse dependido deles se esclarecerem? (171-222).
[Paralelamente temos a teoria da presciência, que nos dá uma noção mais exata da justiça da reencarnação, dizendo também que o progresso moral desenvolve o sentimento de justiça que todo nós possuímos.]
A Gênese Cap. 16 – Item 10 – Teoria da Presciência.
“É o grau da extensão das faculdades do Espírito que, na encarnação, o tornam mais ou menos apto para conceber as coisas espirituais. Todavia, essa aptidão não é a conseqüência necessária do desenvolvimento da inteligência; a ciência vulgar não a dá: é por isso que se vêem homens de um grande saber, tão cegos para as coisas espirituais quanto outros o são para as coisas materiais; são a elas refratários, porque não as compreendem; isto se deve a que seu progresso ainda não se cumpriu nesse sentido, ao passo que se vêem pessoas, de uma instrução e de uma inteligência vulgares, as apreender com a maior facilidade, o que prova que elas disso tinham a intuição prévia. É, entre elas, uma lembrança retrospectiva do que viram e souberam, seja na erraticidade, seja em suas existências anteriores, como outros têm a intuição das línguas e das ciências que possuíram.”
Ref. 874 – Se a justiça é uma lei natural, como ocorre que os homens a entendam de maneiras tão diferentes, e que um ache justo aquilo que parece injusto a outro?
– É que, freqüentemente, aí misturam paixões que alteram esse sentimento, como a maioria dos outros sentimentos naturais, e fazem ver as coisas sob um falso ponto de vista.
O Livro dos Espíritos 799.
De que maneira o Espiritismo pode contribuir para o progresso?
– Destruindo o materialismo, que é uma chaga da sociedade, ele faz os homens compreenderem onde está o seu verdadeiro interesse. A vida futura, não estando mais velada pela dúvida, o homem compreenderá melhor que ele pode assegurar seu futuro pelo presente. Destruindo os preconceitos de seitas, de castas e de cor, ele ensina aos homens a grande solidariedade que deve uni-los como irmãos.
[OBS: colocamos a questão 799 como referência a 874, entendendo que as diferenças, no que se refere ao modo de enxergar a justiça, provêem da mistura das paixões; as paixões, por sua vez, são provenientes do materialismo que domina grande parte da sociedade. Somente então, quando ligarmo-nos ao sentimento superior, corroborado pela fé aliada à razão, venceremos o materialismo, segundo o próprio Kardec (abaixo), nos tornarmos, dessa maneira, unidos pela solidariedade, e tratando, assim, os nossos semelhantes, com a justiça devida.]
E.S.E Capítulo 1. Item 8.
(…) A Ciência e a Religião não puderam, até hoje, entender-se, porque, encarando cada uma as coisas do seu ponto de vista exclusivo, reciprocamente se repeliam. (…) Uma vez comprovadas pela experiência essas relações, nova luz se fez: a fé dirigiu-se à razão; esta, nada encontrou de ilógico na fé: vencido foi o materialismo. (…) Após uma elaboração que durou mais de dezoito séculos, chega ela à sua plena realização e vai marcar uma nova era na vida da Humanidade. Fáceis são de prever as conseqüências: acarretará para as relações sociais inevitáveis modificações, às quais ninguém terá força para se opor, porque elas estão nos desígnios de Deus e derivam da lei do progresso, que é lei de Deus.
Ref. 875 – Como se pode definir a justiça?
– A justiça consiste no respeito aos direitos de cada um.
– O que determina esses direitos?
– Duas coisas os determinam: a lei humana e a lei natural. Tendo os homens feito leis apropriadas aos seus costumes e ao seu caráter, essas leis estabeleceram direitos que puderam variar com o progresso dos conhecimentos. Vede se vossas leis de hoje, sem serem perfeitas, consagram os mesmos direitos da Idade Média. Esses direitos antiquados, que vos parecem monstruosos, pareciam justos e naturais naquela época. O direito estabelecido pelos homens, portanto, não está sempre conforme a justiça. Aliás, ele não regula senão certas relações sociais, enquanto que, na vida particular, há uma imensidade de atos que são unicamente da alçada do tribunal da consciência.
E.S.E. Capítulo 5. Item 5. Bem-aventurados os aflitos.
“A lei humana atinge certas faltas e as pune. Pode, então, o condenado reconhecer que sofre a conseqüência do que fez. Mas a lei não atinge, nem pode atingir todas as faltas; incide especialmente sobre as que trazem prejuízo à sociedade e não sobre as que só prejudicam os que as cometem, Deus, porém, quer que todas as suas criaturas progridam e, portanto, não deixa impune qualquer desvio do caminho reto, Não há falta alguma, por mais leve que seja, nenhuma infração da sua lei, que não acarrete forçosas e inevitáveis conseqüências, mais ou menos deploráveis. Daí se segue que, nas pequenas coisas, como nas grandes, o homem é sempre punido por aquilo em que pecou. Os sofrimentos que decorrem do pecado são-lhe uma advertência de que procedeu mal. Dão-lhe experiência, fazem-lhe sentir a diferença existente entre o bem e o mal e a necessidade de se melhorar para, de futuro, evitar o que lhe originou uma fonte de amarguras; sem o que, motivo não haveria para que se emendasse. Confiante na impunidade, retardaria seu avanço e, conseqüentemente, a sua felicidade futura.
Entretanto, a experiência, algumas vezes, chega um pouco tarde: quando a vida já foi desperdiçada e turbada; quando as forças já estão gastas e sem remédio o mal, Põe-se então o homem a dizer: “Se no começo dos meus dias eu soubera o que sei hoje, quantos passos em falso teria evitado! Se houvesse de recomeçar, conduzir-me-ia de outra maneira. No entanto, já não há mais tempo!” Como o obreiro preguiçoso, que diz: “Perdi o meu dia”, também ele diz: “Perdi a minha vida”. Contudo, assim como para o obreiro o Sol se levanta no dia seguinte, permitindo-lhe neste reparar o tempo perdido, também para o homem, após a noite do túmulo, brilhará o Sol de uma nova vida, em que lhe será possível aproveitar a experiência do passado e suas boas resoluções para o futuro.”
Ref. 876 – Fora do direito consagrado pela lei humana, qual é a base da justiça fundada sobre a lei natural?
– O Cristo vo-la deu: Desejai para os outros o que quereríeis para vós mesmos. Deus colocou no coração do homem a regra de toda a verdadeira justiça, pelo desejo de cada um de ver respeitar seus direitos. Na incerteza do que deve fazer em relação ao seu semelhante em uma dada circunstância, o homem se pergunta como ele desejaria que se fizesse para com ele em circunstância semelhante: Deus não poderia dar-lhe um guia mais seguro que a sua própria consciência.
O critério da verdadeira justiça é, com efeito, desejar para os outros o que se desejaria para si mesmo, e não de desejar para si o que se desejaria para os outros, o que não é a mesma coisa. Como não é natural querer o mal para si, tomando seu desejo pessoal por modelo ou ponto de partida, se está certo de não se desejar jamais senão o bem para o seu próximo. Em todos os tempos, e em todas as crenças, o homem tem sempre procurado fazer prevalecer o seu direito pessoal. O sublime da religião cristã tem sido de tomar o direito pessoal por base do direito do próximo.
O Livro dos Espíritos 632.
O homem, que está sujeito a erros, não pode se enganar na apreciação do bem e do mal, e crer que faz o bem quando, na realidade, faz o mal?
– Jesus vos disse: vede o que quereríeis que se fizesse ou não se fizesse para vós: tudo está nisso. Não vos enganareis.
E.S.E. Capítulo 11. Item 7.
Esta sentença: “Dai a César o que é de César”, não deve, entretanto, ser entendida de modo restritivo e absoluto. Como em todos os ensinos de Jesus, há nela um princípio geral, resumido sob forma prática e usual e deduzido de uma circunstância particular. Esse princípio é conseqüente daquele segundo o qual devemos proceder para com os outros como queiramos que os outros procedam para conosco. Ele condena todo prejuízo material e moral que se possa causar a outrem, toda postergação de seus interesses. Prescreve o respeito aos direitos de cada um, como cada um deseja que se respeitem os seus. Estende-se mesmo aos deveres contraídos para com a família, a sociedade, a autoridade, tanto quanto para com os indivíduos em geral.
Ref. 877 – A necessidade para o homem de viver em sociedade ocasiona-lhe obrigações particulares?
– Sim, e a primeira de todas é a de respeitar o direito dos seus semelhantes. Aquele que respeitar esses direitos será sempre justo. No vosso mundo, onde tantos homens não praticam a lei de justiça, cada um usa de represálias e é isso o que faz a perturbação e a confusão de vossa sociedade. A vida social confere direitos e impõe deveres recíprocos.
O Livro dos Espíritos 671.
Que devemos pensar das guerras santas? O sentimento que leva os povos fanáticos a exterminarem, o mais possível para serem agradáveis a Deus, aqueles que não compartilham de suas crenças, pareceria ter a mesma origem que aquele que os excitava outrora ao sacrifício dos seus semelhantes?
– Eles estão possuídos pelos maus Espíritos, e guerreando com seus semelhantes vão contra a vontade de Deus que disse que se deve amar seu irmão como a si mesmos. Todas as religiões, ou antes todos os povos, adoram um mesmo Deus, tenha ele um nome ou tenha outro; como provocar uma guerra de extermínio porque a religião de um é diferente ou não alcançou ainda o progresso dos povos esclarecidos? Os povos são excusáveis de não crerem na palavra daquele que estava animado pelo Espírito de Deus e enviado por ele, sobretudo quando não viram e não testemunharam seus atos; como quereis que eles creiam nessa palavra de paz quando ides dá-la de espada em punho? Eles devem se esclarecer e devemos procurar fazer-lhes conhecer sua doutrina pela persuasão e pela doçura, e não pela força e pelo sangue. Na maioria das vezes, não acreditais nas comunicações que temos com certos mortais; por que quereríeis que estranhos cressem em vossa palavra quando vossos atos desmentem a doutrina que pregais?
O Livro dos Espíritos 916.
O egoísmo, longe de diminuir, aumenta com a civilização que parece excitá-lo e entretê-lo; como a causa poderia destruir o efeito?
– Quanto maior o mal, mais ele se torna hediondo. Era preciso que o egoísmo fizesse muito mal para fazer compreender a necessidade de extirpá-lo. Quando os homens tiverem se despojado do egoísmo que os domina, eles viverão como irmãos, não se fazendo mal, entreajudando-se reciprocamente, pelo sentimento mútuo da solidariedade. Então, o forte será o apoio e não o opressor do fraco, e não se verá mais homens a quem falta o necessário, porque todos praticarão a lei de justiça. É o reino do bem que os Espíritos estão encarregados de preparar. (784)
Ref. 878 – Podendo o homem se iludir sobre a extensão dos seus direitos, o que pode fazer-lhe conhecer o limite?
– O limite do direito que reconhece ao seu semelhante em relação a ele, na mesma circunstância, e reciprocamente.
– Mas se cada um se atribui os direitos de seu semelhante, que se torna a subordinação para com os superiores? Não é a anarquia de todos os poderes?
– Os direitos naturais são os mesmos para todos os homens, desde o menor até o maior. Deus não fez uns de um limo mais puro que os outros, e todos são iguais diante dele. Esses direitos são eternos; os que o homem estabeleceu perecem com suas instituições. De resto, cada um percebe bem sua força ou sua fraqueza e saberá ter sempre uma espécie de deferência para aquele que a mereça pela sua virtude e sua sabedoria. É importante destacar isso, a fim de que aqueles que se crêem superiores conheçam seus deveres, para merecer essas deferências. A subordinação não estará comprometida, quando a autoridade for dada à sabedoria.
E.S.E. Capítulo 17. Item 9 – Os superiores e os inferiores.
9. A autoridade, tanto quanto a riqueza, é uma delegação de que terá de prestar contas aquele que se ache dela investido. Não julgueis que lhe seja ela conferida para lhe proporcionar o vão prazer de mandar; nem, conforme o supõe a maioria dos potentados da Terra, como um direito, uma propriedade. Deus, aliás, lhes prova constantemente que não é nem uma nem outra coisa, pois que deles a retira quando lhe apraz. Se fosse um privilégio inerente às suas personalidades, seria inalienável. A ninguém cabe dizer que uma coisa lhe pertence, quando lhe pode ser tirada sem seu consentimento. Deus confere a autoridade a título de missão, ou de prova, quando o entende, e a retira quando julga conveniente.
Quem quer que seja depositário de autoridade, seja qual for a sua extensão, desde a do senhor sobre o seu servo, até a do soberano sobre o seu povo, não deve olvidar que tem almas a seu cargo; que responderá pela boa ou má diretriz que dê aos seus subordinados e que sobre ele recairão as faltas que estes cometam, os vícios a que sejam arrastados em conseqüência dessa diretriz ou dos maus exemplos, do mesmo modo que colherá os frutos da solicitude que empregar para os conduzir ao bem. Todo homem tem na Terra uma missão, grande ou pequena; qualquer que ela seja, sempre lhe é dada para o bem; falseá-la em seu princípio é, pois, falir ao seu desempenho.
Assim como pergunta ao rico: “Que fizeste da riqueza que nas tuas mãos devera ser um manancial a espalhar a fecundidade ao teu derredor”, também Deus inquirirá daquele que disponha de alguma autoridade: “Que uso fizeste dessa autoridade? Que males evitaste? Que progresso facultaste? Se te dei subordinados, não foi para que os fizesses escravos da tua vontade, nem instrumentos dóceis aos teus caprichos ou à tua cupidez; fiz-te forte e confiei-te os que eram fracos, para que os amparasses e ajudasses a subir ao meu seio.”
O superior, que se ache compenetrado das palavras do Cristo, a nenhum despreza dos que lhe estejam submetidos, porque sabe que as distinções sociais não prevalecem às vistas de Deus. Ensina-lhe o Espiritismo que, se eles hoje lhe obedecem, talvez já lhe tenham dado ordens, ou poderão dar-lhas mais tarde, e que ele então será tratado conforme os haja tratado, quando sobre eles exercia autoridade.
Mas, se o superior tem deveres a cumprir, o inferior, de seu lado, também os tem e não menos sagrados. Se for espírita, sua consciência ainda mais imperiosamente lhe dirá que não pode considerar-se dispensado de cumpri-los, nem mesmo quando o seu chefe deixe de dar cumprimento aos que lhe correm, porquanto sabe muito bem não ser lícito retribuir o mal com o mal e que as faltas de uns não justificam as de outrem. Se a sua posição lhe acarreta sofrimentos, reconhecerá que sem dúvida os mereceu, porque, provavelmente, abusou outrora da autoridade que tinha, cabendo-lhe, portanto, experimentar a seu turno o que fizera sofressem os outros. Se se vê forçado a suportar essa posição, por não encontrar outra melhor, o Espiritismo lhe ensina a resignar-se, como constituindo isso uma prova para a sua humildade, necessária ao seu adiantamento. Sua crença lhe orienta a conduta e o induz a proceder como quereria que seus subordinados procedessem para com ele, caso fosse o chefe. Por isso mesmo, mais escrupuloso se mostra no cumprimento de suas obrigações, pois compreende que toda negligência no trabalho que lhe está determinado redunda em prejuízo para aquele que o remunera e a quem deve ele o seu tempo e os seus esforços. Numa palavra: solicita-o o sentimento do dever, oriundo da sua fé, e a certeza de que todo afastamento do caminho reto implica uma dívida que, cedo ou tarde, terá de pagar. – François-Nicolas-Madeleine, Cardeal Morlot. (Paris, 1863.)
Ref. 879 – Qual seria o caráter do homem que praticasse a justiça em toda a sua pureza?
– O verdadeiro justo, a exemplo de Jesus, porque praticaria também o amor do próximo e a caridade, sem os quais não há verdadeira justiça.
[OBS: não há verdadeira justiça sem a prática do amor ao próximo e da caridade.]
O Livro dos Espíritos 913.
Dentre os vícios, qual o que se pode considerar como radical?
– Nós o dissemos muitas vezes: é o egoísmo: dele deriva todo o mal. Estudai todos os vícios e vereis que no fundo de todos está o egoísmo. Inutilmente os combatereis e não conseguireis extirpá-los enquanto não houverdes atacado o mal em sua raiz, não houverdes destruído a causa. Que todos os vossos esforços, portanto, tendam para esse objetivo, porque aí está a verdadeira chaga da sociedade. Todo aquele que quer se aproximar, desde esta vida, da perfeição moral, deve extirpar de seu coração todo sentimento de egoísmo, porque o egoísmo é incompatível com a justiça, o amor e a caridade. Ele neutraliza todas as outras qualidades.
OUTRAS CONSIDERAÇÕES
Revista Espírita 1860 – Janeiro – Conselhos de Família – (Segunda Sessão).
A união dos corações é a fonte mais fecunda de felicidades, e se muitos homens são infelizes, é porque não procuram a felicidade senão só para eles ; escapa-lhes precisamente porque não crêem encontrá-la senão no egoísmo. Eu digo a felicidade e não a fortuna, porque esta última, até hoje, não serviu senão para sustentar a injustiça, e o objetivo da existência é a justiça. Ora, se a justiça fosse praticada entre os homens, o mais afortunado seria aquele que houvesse cumprido a maior soma de boas obras. Se, portanto, quereis vos tornar ricos, meus filhos, fazei sempre boas ações; pouco importam os bens do mundo, não é a satisfação da carne que é preciso procurar, mas a da alma: aquela não tem senão uma duração efêmera, esta é eterna.
Os mensageiros Capítulo 20 – Defesas contra o mal.
— Naturalmente, não imaginavam necessárias tantas fortificações. Conforme vêem, nossa bandeira é de concórdia e harmonia; no entanto, é imprescindível considerar que estamos em serviço que precisaremos defender, em qualquer circunstância. Enquanto não imperar a lei universal do amor, é indispensável persevere o reinado da justiça. Nosso Posto está colocado, aqui, igualmente, como “ovelha em meio de lobos”, e, embora não nos caiba efetuar o extermínio das feras, necessitamos defender a obra do bem contra os assaltos indébitos. As organizações dos nossos irmãos consagrados ao mal são vastíssimas. Não admitam a hipótese de serem, todos eles, ignorantes ou inconscientes. A maioria se constitui de perversos e criminosos. São entidades verdadeiramente diabólicas. Não tenham disso qualquer dúvida.
O Consolador 336.
O culpado arrependido pode receber da justiça divina o direito de não passar por determinadas provas?
-A oportunidade de resgatar a culpa já constitui em sai mesma, um ato de misericórdia divina, e, daí, o considerarmos o trabalho e o esforço próprio como a luz maravilhosa da vida.
Entendendo, todavia, a questão à generalidade das provas; devemos concluir ainda, com o ensinamento de Jesus, que “o amor cobre a multidão dos pecados”, traçando a linha reta da vida para as criaturas e representando a única força que anula as exigências da lei de talião, dentro do Universo infinito.
O Consolador 247.
–A lei da prova e da expiação é inflexível??
-Os tribunais da justiça humana, apesar de imperfeitos, por vezes não comutam as penas e não beneficiam os delinqüentes com o “sursis”?
A inflexibilidade e a dureza não existem para a misericórdia divina, que, conforme a conduta do Espírito encarnado, pode dispensar na lei, em benefício do homem quando a sua existência já demonstre certas expressões do amor que cobre a multidão dos pecados.
O Consolador 272.
-Qual a significação da lei de talião “olho por olho, dente por dente”, em face da necessidade da redenção de todos os espíritos pelas reencarnações sucessivas?
-A lei de talião prevalece para todos os espíritos que não edificaram ainda o santuário do amor nos corações, e que representam a quase totalidade dos seres humanos.
Presos, ainda, aos milênios do pretérito, não cogitaram de aceitar e aplicar o Evangelho a si próprios, permanecendo encarcerados em círculos viciosos de dolorosas reencarnações expiatórias e purificadoras.
Moisés proclamou a Lei antiga; muitos séculos antes do Senhor. Como já dito, o profeta hebraico apresentava a Revelação com a face divina da Justiça; mas, com Jesus, o homem do mundo recebeu o código perfeito do Amor. Se Moisés ensinava o “olho por olho, dente por dente”, Jesus-Cristo esclarecia que o “amor cobre a multidão dos pecados”.
Daí a verdade de que as criaturas humanas se redimirão pelo amor e se elevarão a Deus por ele, anulando com o bem todas as forças que lhes possam encarcerar o coração nos sofrimentos do mundo.
Boa Nova – Capítulo 14 – A LIÇÃO A NICODEMOS.
Em face dos novos ensinamentos de Jesus, todos os fariseus do templo se tomavam de inexcedíveis cuidados, pelo seu extremado apego aos textos antigos. O Mestre, porém, nunca perdeu ensejo de esclarecer as situações mais difíceis com a luz da verdade que a sua palavra divina trazia ao pensamento do mundo. Grande número de doutores não conseguia ocultar o seu descontentamento, porque, não obstante suas atividades derrotistas, continuavam as ações generosas de Jesus beneficiando os aflitos e os sofredores. Discutiam-se os novos princípios, no grande templo de Jerusalém, nas suas praças públicas e nas sinagogas. Os mais humildes e pobres viam no Messias o emissário de Deus, cujas mãos repartiam em abundância os bens da paz e da consolação. As personalidades importantes temiam-no.?E que o profeta não se deixava seduzir pelas grandes promessas que lhe faziam com referência ao seu futuro material. Jamais temperava a sua palavra de verdade com as conveniências do comodismo da época. Apesar de magnânimo para com todas as faltas alheias, combatia o mal com tão intenso ardor, que para logo se fazia objeto de hostilidade para todas as intenções inconfessáveis.? Mormente em Jerusalém que, com o seu cosmopolitismo, era um expressivo retrato do mundo, as idéias do Senhor acendiam as mais apaixonadas discussões. Eram populares que se entregavam à apologia franca da doutrina de Jesus, servos que o sentiam com todo o calor do coração reconhecido, sacerdotes que o combatiam abertamente, convencionalistas que não o toleravam, indivíduos abastados que se insurgiam contra os seus ensinos.?Todavia, sem embargo das dissensões naturais que precedem o estabelecimento definitivo das idéias novas, alguns espíritos acompanhavam o Messias, tomados de vivo interesse pelos seus elevados princípios. Entre estes, figurava Nicodemos, fariseu notável pelo coração bem formado e pelos dotes da inteligência. Assim, uma noite, ao cabo de grandes preocupações e longos raciocínios, procurou a Jesus, em particular, seduzido pela magnanimidade de suas ações e pela grandeza de sua doutrina salvadora. O Messias estava acompanhado apenas de dois dos seus discípulos e recebeu a visita com a sua bondade?costumeira.?Após a saudação habitual e revelando as suas ânsias de conhecimento, depois de fundas meditações, Nicodemos dirigiu-se-lhe respeitoso:?- Mestre, bem sabemos que vindes de Deus, pois somente com a luz da assistência divina poderíeis realizar o que tendes efetuado, mostrando o sinal do céu em vossas mãos. Tenho empregado a minha existência em interpretar a lei, mas desejava receber a vossa palavra sobre os recursos de que deverei lançar mão para conhecer o Reino de Deus!? O Mestre sorriu bondosamente e esclareceu:?- Primeiro que tudo, Nicodemos, não basta que tenhas vivido a interpretar a lei. Antes de raciocinar sobre as suas disposições, deverias ter-lhe sentido os textos. Mas, em verdade devo dizer-te que ninguém conhecerá o Reino do Céu, sem nascer de novo.?– Como pode um homem nascer de novo, sendo velho? – interrogou o fariseu, altamente surpreendido. – Poderá, porventura, regressar ao ventre de sua mãe? ?O Messias fixou nele os olhos calmos, consciente da gravidade do assunto em foco, e acrescentou:?- Em verdade, reafirmo-te ser indispensável que o homem nasça e renasça, para conhecer plenamente a luz do reino!…?- Entretanto, como pode isso ser? – perguntou Nicodemos, perturbado.?- És mestre em Israel e ignoras estas coisas? – inquiriu Jesus, como que surpreendido. – É natural que cada um somente testifique daquilo que saiba; porém, precisamos considerar que tu ensinas. Apesar disso, não aceitas os nossos testemunhos. Se falando eu de coisas terrenas sentes dificuldades em compreendê-las com os teus raciocínios sobre a lei, como poderás aceitar as minhas afirmativas quando eu disser das coisas celestiais? Seria loucura destinar os alimentos apropriados a um velho para o organismo frágil de uma criança. Extremamente confundido, retirou-se o fariseu, ficando André e Tiago empenhados em obter do Messias o necessário esclarecimento, acerca daquela lição nova.?*?Jerusalém quase dormia sob o véu espesso da noite alta. Silêncio profundo se fizera sobre a cidade. Jesus, no entanto, e aqueles dois discípulos continuavam presos à conversação particular que haviam entabulado. Desejavam eles ardentemente penetrar o sentido oculto das palavras do Mestre. Como seria possível aquele renascimento? Não obstante os seus conhecimentos, também partilhavam da ?perplexidade que levara Nicodemos a se retirar fundamente surpreendido.?- Por que tamanha admiração, em face destas verdades? perguntou- lhes Jesus, bondosamente. – As árvores não renascem depois de podadas? Com respeito aos homens, o processo é diferente, mas o espírito de renovação é sempre o mesmo. O corpo é uma veste. O homem é seu dono. Toda roupagem material acaba rota, porém, o homem, que é filho de Deus, encontra sempre em seu amor os elementos necessários à mudança do vestuário. A morte do corpo é essa mudança indispensável, porque a alma caminhará sempre, através de outras experiências, até que consiga a imprescindível provisão de luz para a estrada definitiva no Reino de Deus, com toda a perfeição conquistada ao longo dos rudes caminhos. André sentiu que uma nova compreensão lhe felicitava o espírito simples e perguntou: – Mestre, já que o corpo é como que à roupa material das almas, por que não somos todos iguais no mundo? Vejo belos jovens, junto de aleijados e paralíticos… – Acaso não tenho ensinado – disse Jesus – que tem de chorar todo aquele que se transforma em instrumento de escândalo? Cada alma conduz consigo mesma o inferno ou o céu que edificou no âmago da consciência. Seria justo conceder-se uma segunda veste mais perfeita e mais bela ao espírito rebelde que estragou a primeira? Que diríamos da sabedoria de Nosso Pai, se facultasse as possibilidades mais preciosas aos que as utilizaram na véspera para o roubo, o assassínio, a destruição? Os que abusaram da túnica da riqueza vestirão depois as dos fâmulos e escravos mais humildes, como as mãos que feriram podem vir a ser cortadas. – Senhor, compreendo agora o mecanismo do resgate – murmurou Tiago, externando a alegria do seu entendimento. – Mas, observo que, desse modo, o mundo precisará sempre do clima do escândalo e do sofrimento, desde que o devedor, para saldar seu débito, não poderá fazê-lo sem que outro lhe tome o lugar com a mesma dívida. O Mestre apreendeu a amplitude da objeção e esclareceu os discípulos, perguntando: – Dentro da lei de Moisés, como se verifica o processo da redenção??Tiago meditou um instante e respondeu:?- Também na lei está escrito que o homem pagará ‘olho por olho, dente por dente”. – Também tu, Tiago, estás procedendo como Nicodemos – replicou Jesus com generoso sorriso. – Como todos os homens, aliás, tens raciocinado, mas não tens sentido. Ainda não ponderaste, talvez, que o primeiro mandamento da lei é uma determinação de amor. Acima do “não adulterarás”, do “não cobiçarás”, está o “amar a Deus sobre todas as coisas, de todo o coração e de todo o entendimento”. Como poderá alguém amar o Pai, aborrecendo-lhe a obra?
Contudo, não estranho a exigüidade de visão espiritual com que examinaste o texto dos profetas. Todas as criaturas hão feito o mesmo. Investigando as revelações do céu com o egoísmo que lhes é próprio, organizaram a justiça como o edifício mais alto do idealismo humano. E, entretanto, coloco o amor acima da justiça do mundo e tenho ensinado que só ele cobre a multidão dos pecados. Se nos prendemos à lei de talião, somos obrigados a reconhecer que onde existe um assassino haverá, mais tarde, um homem que necessita ser assassinado; com a lei do amor, porém, compreendemos que o verdugo e a vítima são dois irmãos, filhos de um mesmo Pai. Basta que ambos sintam isso para que a fraternidade divina afaste os fantasmas do escândalo e do sofrimento. Ante as elucidações do Mestre, os dois discípulos estavam maravilhados. Aquela lição profunda esclarecia-os para sempre. Tiago, então, aproximou-se e sugeriu a Jesus que proclamasse aquelas verdades novas na pregação do dia seguinte. O Mestre dirigiu-lhe um olhar de admiração e interrogou: – Será que não compreendeste? Pois, se um doutor da lei saiu daqui sem que eu lhe pudesse explicar toda a verdade, como queres que proceda de modo contrário, para com a compreensão simplista do espírito popular? Alguém constrói uma casa iniciando pelo teto o trabalho? Além disso, mandarei mais tarde o Consolador, a fim de esclarecer e dilatar os meus ensinos. Eminentemente impressionados, André e Tiago calaram as derradeiras interrogações. Aquela palestra particular, entre o Senhor e os discípulos, permaneceria guardada na sombra leve da noite em Jerusalém; mas, a lição a Nicodemos estava dada. A lei da reencarnação estava proclamada para sempre, no Evangelho do Reino.
Revista Espírita 1860 – Janeiro – O Espírito de um lado, o Corpo do outro.
Item 41. (…) não tenho vos repetido mil vezes que é necessário crer, porque se compreende e se ama a justiça e a verdade, e que se fosse dada satisfação a uma dessas perguntas pueris, aqueles que pretendessem fazê-lo para estarem convencidos não deixariam de fazer novas no dia seguinte e que infalivelmente vos dissipariam um tempo precioso para fazerem os Espíritos lerem a sorte?(…)
[OBS: A esta questão, podemos dizer que quem compreende e ama a Justiça e a Verdade de Deus, há de crer no Espiritismo, e não fica perdendo tempo com a incredulidade do outro, pois querem satisfazer seu amor-próprio e sua curiosidade. Esta é uma questão importante, pois cada um deve fazer o seu trabalho individualmente, e daí atingir o coletivo.]
2. DIREITO DE PROPRIEDADE. ROUBO.
Ref. 880 – Qual é o primeiro de todos os direitos naturais do homem?
– O de viver. Por isso, ninguém tem o direito de atentar contra a vida de seu semelhante, nem de fazer nada que possa comprometer a sua existência corporal.
O Livro dos Espíritos 711.
O uso dos bens da terra é um direito para todos os homens?
– Esse direito é a conseqüência da necessidade de viver. Deus não pode ter imposto um dever sem haver dado os meios de o satisfazer.
O Livro dos Espíritos 943.
De onde vem o desgosto da vida que se apodera de certos indivíduos, sem motivos plausíveis?
– Efeito da ociosidade, da falta de fé e, freqüentemente, da saciedade. Para aquele que exercita suas faculdades com um objetivo útil e segundo suas aptidões naturais, o trabalho não tem nada de árido e a vida se escoa mais rapidamente. Ele suporta as vicissitudes com tanto mais paciência e resignação, quanto age tendo em vista uma felicidade mais sólida e mais durável que o espera.
O Livro dos Espíritos 944.
O homem tem o direito de dispor da sua própria vida?
– Não, só Deus tem esse direito. O suicídio voluntário é uma transgressão dessa lei.
– O suicídio não é sempre voluntário?
– O louco que se mata não sabe o que faz.
Ref. 881 – O direito de viver dá ao homem o direito de ajuntar o que necessitar para viver e repousar, quando não puder mais trabalhar?
– Sim, mas deve fazê-lo em família, como a abelha, por um trabalho honesto e não amontoar como um egoísta. Mesmo alguns animais lhe dão o exemplo da previdência.
O Livro dos Espíritos 719.
É repreensível ao homem procurar o bem-estar?
– O bem-estar é um desejo natural. Deus não proíbe senão o abuso, porque o abuso é contrário à conservação. Ele não incrimina a procura do bem-estar, se esse bem-estar não é adquirido às custas de ninguém, e se não deve enfraquecer, nem vossas forças morais, nem vossas forças físicas.
Ref.882 – O homem tem o direito de defender o que ajuntou pelo trabalho?
– Deus não disse: não furtarás; e Jesus: é preciso dar a César o que pertence a César?
O que o homem amontoa por um trabalho honesto é uma propriedade legítima que tem o direito de defender, porque a propriedade. que é fruto do trabalho, é um direito natural tão sagrado como o de trabalhar e de viver.
E.S.E. Capítulo 11. Itens 5, 6 e 7 – Dai a César o que é de César.
5. Os fariseus, tendo-se retirado, entenderam-se entre si para enredá-lo com as suas próprias palavras. – Mandaram então seus discípulos, em companhia dos herodianos, dizer-lhe: Mestre, sabemos que és veraz e que ensinas o caminho de Deus pela verdade, sem levares em conta a quem quer que seja, porque, nos homens, não consideras as pessoas. Dize-nos, pois, qual a tua opinião sobre isto: É-nos permitido pagar ou deixar de pagar a César o tributo? Jesus, porém, que lhes conhecia a malícia, respondeu: Hipócritas, por que me tentais? Apresentai-me uma das moedas que se dão em pagamento do tributo. E, tendo-lhe eles apresentado um denário, perguntou Jesus: De quem são esta imagem e esta inscrição? – De César, responderam eles. Então, observou-lhes Jesus: Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Ouvindo-o falar dessa maneira, admiraram-se eles da sua resposta e, deixando-o, se retiraram. (S. MATEUS, cap. XXII, vv. 15 a 22. – S. MARCOS, cap. XII, vv. 13 a 17.)
6. A questão proposta a Jesus era motivada pela circunstância de que os judeus, abominando o tributo que os romanos lhes impunham, haviam feito do pagamento desse tributo uma questão religiosa. Numeroso partido se fundara contra o imposto. O pagamento deste constituía, pois, entre eles, uma irritante questão de atualidade, sem o que nenhum senso teria a pergunta feita a Jesus: “É-nos lícito pagar ou deixar de pagar a César o tributo?” Havia nessa pergunta uma armadilha. Contavam os que a formularam poder, conforme a resposta, excitar contra ele a autoridade romana, ou os judeus dissidentes. Mas “Jesus, que lhes conhecia a malícia”, contornou a dificuldade, dando-lhes uma lição de justiça, com o dizer que a cada um seja dado o que lhe é devido. (Veja-se, na “Introdução”, o artigo: Publicanos.)
7. Esta sentença: “Dai a César o que é de César”, não deve, entretanto, ser entendida de modo restritivo e absoluto. Como em todos os ensinos de Jesus, há nela um princípio geral, resumido sob forma prática e usual e deduzido de uma circunstância particular. Esse princípio é conseqüente daquele segundo o qual devemos proceder para com os outros como queiramos que os outros procedam para conosco. Ele condena todo prejuízo material e moral que se possa causar a outrem, toda postergação de seus interesses. Prescreve o respeito aos direitos de cada um, como cada um deseja que se respeitem os seus. Estende-se mesmo aos deveres contraídos para com a família, a sociedade, a autoridade, tanto quanto para com os indivíduos em geral.
Ref. 883 – O desejo de possuir está na Natureza?
– Sim, mas quando o homem só deseja para si e para a sua satisfação pessoal, é egoísmo.
– Não é legítimo, entretanto, o direito de possuir, visto que aquele que tem de que viver não é carga para ninguém?
– Há homens insaciáveis e que acumulam sem proveito para ninguém, ou para satisfazer suas paixões. Crês que isso seja bem visto por Deus? Aquele que, ao contrário, amontoa por seu trabalho para ajudar seus semelhantes, pratica a lei de amor e caridade, e seu trabalho é abençoado por Deus.
E.S.E. Cap. 16. 3 – Preservar-se da avareza.
Então, no meia do turba, um homem lhe disse: Mestre, dize a meu irmão que divida comigo a herança que nos tocou. – Jesus lhe disse: Ó homem! quem me designou para vos julgar, ou para fazer as vossas partilhas? – E acrescentou: Tende o cuidado de preservar-vos de toda a avareza, seja qual for a abundância em que o homem se encontre, sua vida não depende dos bens que ele possua. Disse-lhes a seguir esta parábola: Havia um rico homem cujas terras tinham produzido extraordinariamente – e que se entretinha a pensar consigo mesmo, assim: Que hei de fazer, pois já não tenho lugar onde possa encerrar tudo o que vou colher? -Aqui está, disse, o que farei: Demolirei os meus celeiros e construirei outros maiores, onde porei toda a minha colheita e todos os meus bens. – E direi a minha alma: Minha alma, tens de reserva muitos bens para longos anos; repousa, come, bebe, goza. Mas, Deus, ao mesmo tempo, disse ao homem: Que insensato és! Esta noite mesmo tomar-te-ão a alma; para que servirá o que acumulaste? – (S. LUCAS, cap. XII, vv. 13 a 21.)
Ref. 884 – Qual é o caráter da propriedade legítima?
– Não há propriedade legítima, senão aquela que foi adquirida sem prejuízo para outrem (808).
A lei de amor e de justiça proibindo fazer a outrem o que não desejáramos que nos fizessem, condena por isso mesmo todo meio de aquisição contrário a essa lei.
O Livro dos Espíritos 808.
A desigualdade das riquezas não tem sua fonte na desigualdade das faculdades que dá a uns maiores meios de aquisição que a outros?
– Sim e não; e a velhacaria e o roubo, que dizes deles?
– A riqueza hereditária, portanto, não é o fruto das más paixões?
– Que sabes disso? Remonta à fonte e verás se ela é sempre pura. Sabes se, no princípio, não foi o fruto de uma espoliação ou de uma injustiça? Porém, sem falar da origem, que pode ser má, crês que a cobiça do bem, mesmo o melhor adquirido, os desejos secretos que se concebe de possuí-los mais cedo sejam sentimentos louváveis? É isso que Deus julga, e eu te asseguro que seu julgamento é mais severo que o dos homens.
E.S.E Cap. 16. 9 e 10. A verdadeira propriedade.
O homem só possui em plena propriedade aquilo que lhe é dado levar deste mundo. Do que encontra ao chegar e deixa ao partir goza ele enquanto aqui permanece. Forçado, porém, que é a abandonar tudo isso, não tem das suas riquezas a posse real, mas, simplesmente, o usufruto. Que é então o que ele possui? Nada do que é de uso do corpo; tudo o que é de uso da alma: a inteligência, os conhecimentos, as qualidades morais. Isso o que ele traz e leva consigo, o que ninguém lhe pode arrebatar, o que lhe será de muito mais utilidade no outro mundo do que neste. Depende dele ser mais rico ao partir do que ao chegar, visto como, do que tiver adquirido em bem, resultará a sua posição futura. Quando alguém vai a um país distante, constitui a sua bagagem de objetos utilizáveis nesse país; não se preocupa com os que ali lhe seriam inúteis. Procedei do mesmo modo com relação à vida futura; aprovisionai-vos de tudo o de que lá vos possais servir.
Ao viajante que chega a um albergue, bom alojamento é dado, se o pode pagar. A outro, de parcos recursos, toca um menos agradável. Quanto ao que nada tenha de seu, vai dormir numa enxerga. O mesmo sucede ao homem, a sua chegada no mundo dos Espíritos: depende dos seus haveres o lugar para onde vá. Não será, todavia, com o seu ouro que ele o pagará. Ninguém lhe perguntará: Quanto tinhas na Terra? Que posição ocupavas? Eras príncipe ou operário? Perguntar-lhe-ão: Que trazes contigo? Não se lhe avaliarão os bens, nem os títulos, mas a soma das virtudes que possua. Ora, sob esse aspecto, pode o operário ser mais rico do que o príncipe. Em vão alegará que antes de partir da Terra pagou a peso de ouro a sua entrada no outro mundo. Responder-lhe-ão: Os lugares aqui não se compram: conquistam-se por meio da prática do bem. Com a moeda terrestre, hás podido comprar campos, casas, palácios; aqui, tudo se paga com as qualidades da alma. És rico dessas qualidades? Sê bem-vindo e vai para um dos lugares da primeira categoria, onde te esperam todas as venturas. És pobre delas? Vai para um dos da última, onde serás tratado de acordo com os teus haveres. – Pascal. (Genebra, 1860.)
10. Os bens da Terra pertencem a Deus, que os distribui a seu grado, não sendo o homem senão o usufrutuário, o administrador mais ou menos íntegro e inteligente desses bens. Tanto eles não constituem propriedade individual do homem, que Deus freqüentemente anula todas as previsões e a riqueza foge àquele que se julga com os melhores títulos para possuí-la.
Direis, porventura, que isso se compreende no tocante aos bens hereditários, porém, não relativamente aos que são adquiridos pelo trabalho. Sem dúvida alguma, se há riquezas legitimas, são estas últimas, quando honestamente conseguidas, porquanto uma propriedade só é legitimamente adquirida quando, da sua aquisição, não resulta dano para ninguém. Contas serão pedidas até mesmo de um único ceitil mal ganho, isto é, com prejuízo de outrem. Mas, do fato de um homem dever a si próprio a riqueza que possua, seguir-se-á que, ao morrer, alguma vantagem lhe advenha desse fato? Não são amiúde inúteis as precauções que ele toma para transmiti-la a seus descendentes? Decerto, porquanto, se Deus não quiser que ela lhes vá ter às mãos, nada prevalecerá contra a sua vontade. Poderá o homem usar e abusar de seus haveres durante a vida, sem ter de prestar contas? Não. Permitindo-lhe que a adquirisse, é possível haja Deus tido em vista recompensar-lhe, no curso da existência atual, os esforços, a coragem, a perseverança. Se, porém, ele somente os utilizou na satisfação dos seus sentidos ou do seu orgulho; se tais haveres se lhe tornaram causa de falência, melhor fora não os ter possuído, visto que perde de um lado o que ganhou do outro, anulando o mérito de seu trabalho. Quando deixar a Terra, Deus lhe dirá que já recebeu a sua recompensa. – M., Espírito protetor. (Bruxelas, 1861.)
Ref. 885 – O direito de propriedade é indefinido?
– Sem dúvida, tudo o que é adquirido legitimamente é uma propriedade. Todavia, como o dissemos, a legislação dos homens, sendo imperfeita, consagra, freqüentemente, direitos de convenção que a justiça natural reprova. Por isso, eles reformam suas leis à medida que o progresso se realiza, e que compreendem melhor a justiça. O que parece perfeito num século, parece bárbaro no século seguinte. (795).
O Livro dos Espíritos 795.
Qual é a causa da instabilidade das leis humanas?
– Nos tempos de barbárie, são os mais fortes que fazem as leis, e as fazem para eles. Foi preciso modificá-las, à medida que os homens compreenderam melhor a justiça. As leis humanas são mais estáveis, à medida que se aproximam da verdadeira justiça, quer dizer, à medida que elas são feitas para todos e se identificam com a lei natural.
A civilização criou, para o homem, novas necessidades, e essas necessidades estão relacionadas com a posição social em que se colocou. Há que se regrar os direitos e os deveres dessa posição pelas leis humanas. Mas sob a influência de suas paixões, freqüentemente, eles criam direitos e deveres imaginários que condenam a lei natural e que os povos apagam de seus códigos, à medida que progridem. A lei natural é imutável e a mesma para todos; a lei humana é variável e progressiva. Só ela pôde consagrar, na infância das sociedades, o direito do mais forte.
3. CARIDADE E AMOR AO PRÓXIMO
Ref. 886 – Qual é o verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus?
– Benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições alheias, perdão das ofensas.
O amor e a caridade são o complemento da lei de justiça, porque amar ao próximo é fazer-lhe todo o bem que está ao nosso alcance e que gostaríamos nos fosse feito a nós mesmos. Tal é o sentido das palavras de Jesus: Amai-vos uns aos outros, como irmãos.
A caridade, segundo Jesus, não está restrita à esmola. Ela abrange todas as relações que temos com nossos semelhantes, quer sejam nossos inferiores, nossos iguais ou nossos superiores. Ela nos ordena a indulgência porque nós mesmos temos necessidade dela. Proíbe-nos de humilhar o infortúnio, contrariamente ao que se pratica muito freqüentemente. Se uma pessoa rica se apresenta, tem-se por ela mil atenções, mil amabilidades; se é pobre, parece não haver mais necessidade de se incomodar com ela. Quanto mais sua posição seja lastimável, mais se deve respeitar antes de aumentar seu sofrimento pela humilhação. O homem verdadeiramente bom procura realçar o inferior aos seus próprios olhos, diminuindo a distância, entre ambos.
Revista Espírita 1859 – Dezembro
Comunicações espontâneas obtidas nas sessões da Sociedade. 30 de setembro de 1859. (Méd. Sr. R…)
Amai-vos uns aos outros, eis toda a lei: lei divina, pela qual Deus cria sem descanso e governa os mundos. O amor é a lei de atração para os seres vivos e organizados; a atração é a lei de amor para a matéria inorgânica.
Não esqueçais jamais que o Espírito, qualquer que seja seu grau de adiantamento, sua situação, como reencarnação ou erraticidade, está sempre colocado entre um superior que o guia e aperfeiçoa, e o inferior perante o qual tem os mesmos deveres a cumprir.
Sede, pois, caridosos, não só desta caridade que vos leva a tirar de vossa bolsa o óbolo que dais friamente àquele que ousa vos pedir, mas ide ao encontro das misérias ocultas.
Sede indulgentes com os defeitos de vossos semelhantes; em lugar de desprezar a ignorância e o vício, instruí-os e moralizai-os; sede-o, mesmo, diante dos seres mais ínfimos da criação, e tereis obedecido à lei de Deus.
VICENTE DE PAULO.
Revista Espírita 1860 – Outubro. A caridade material e a caridade moral
(Médium, senhora de B…)
“Amemo-nos uns aos outros e façamos a outrem o que gostaríamos que nos fizessem.” Toda a religião, toda a moral se encontram encerradas nestes dois preceitos; se fossem seguidos neste mundo, seríamos todos perfeitos: não mais de ódio, não mais ressentimentos; eu diria mais ainda: não mais de pobreza, porque do supérfluo da mesa de cada rico, muitos pobres se alimentariam, e não veríeis mais, nos sombrios bairros que habitei durante a minha última encarnação, pobres mulheres arrastando atrás delas miseráveis crianças com falta de tudo.
Ricos! Pensai um pouco nisso; ajudai com o vosso melhor os infelizes; dai, porque Deus vos torna um dia o bem que fizeres, porque encontrareis um dia, ao sair de vosso envoltório terrestre, um cortejo de Espíritos reconhecidos que vos receberão no limiar de um mundo mais feliz.
Se pudésseis saber a alegria que senti reencontrando lá no alto aqueles que favoreci na minha última vida! Dai, e amai o vosso próximo; amai como a vós mesmos, porque o sabeis, também vós, agora que Deus permitiu que comeceis a se instruir na ciência espírita, esse infeliz que repelis é talvez um irmão, um pai, um filho, um amigo que lançai longe de vós, e então qual será o vosso desespero, um dia, reconhecendo-o neste mundo espírita!
Desejo que compreendais bem o que pode ser a caridade moral, aquela que cada um pode praticar, aquela que não custa nada de material, e, entretanto, aquela que é a mais difícil de se pôr em prática!
A caridade moral consiste em se suportar uns aos outros, e é o que menos fazeis, neste mundo em que estais encarnados no momento. Sede, pois, caridosos, porque avançareis mais no bom caminho; sede humanos e suportai-vos uns aos outros. Há um grande mérito em saber se calar para deixar falar um mais tolo do que agente e aí está um gênero de caridade. Saber ser surdo quando uma palavra zombeteira escapa de uma boca habituada a escarnecer; não ver o sorriso desdenhoso que acolhe a vossa entrada na casa de pessoas que, freqüentemente erradas, se crêem acima de vós, ao passo que, na vida espírita, a única real, eles estão disso algumas vezes bem longe; eis um mérito, não de humildade, mas de caridade, porque não notar os erros de outrem, eis a caridade moral. Passando junto de um pobre enfermo, o olhar com compaixão, tem sempre maior mérito do que o de lançar, com desprezo, o seu óbolo.
Entretanto, não é necessário tomar essa figura ao pé da letra, porque essa caridade não deve impedir a outra; mas pensai, sobretudo, em não desprezar o vosso semelhante; lembrai-vos do que já vos disse: É necessário se lembrar que, sem cessar, no pobre rejeitado, talvez rejeitais um Espírito que vos foi querido, e que se encontra, momentaneamente, numa posição inferior à vossa. Revi um desses pobres de vossa Terra que pude, por felicidade, favorecer algumas vezes, a quem me ocorre agora implorar por minha vez.
Sede, pois, caridosos; não sejais desdenhosos, sabei deixar passar uma palavra que vos fere, e não creiais que ser caridoso seja somente dar o material, mas também praticar a caridade moral. Eu vos repito, façais uma e a outra. Lembrai-vos que Jesus disse que somos irmãos, e pensai sempre nisto antes de repelir o leproso ou o mendigo. Eu retornarei ainda para vos dar comunicação mais longa, mas sou chamada. Adeus; pensai naqueles que sofrem, e orai.
Irmã Rosalia.
Revista Espírita 1861 – Outubro. Diferentes maneiras de fazer a caridade.
(Sociedade Espírita de Lyon.)
Nota. A comunicação seguinte foi obtida em nossa presença, no grupo de Perrache:
Sim, meus amigos, virei sempre ao vosso meio, cada vez que aí for chamado. Ontem, estive muito feliz por vós, quando ouvi o autor dos livros que vos abriram os olhos testemunhar o desejo de vos ver reunidos, para vos dirigir benevolentes palavras. Foi para todos, ao mesmo tempo, um grande ensinamento e uma poderosa lembrança. Somente quando vos falou de amor e caridade, ouvi vários dentre vós dizerem a si mesmos: Como fazer a caridade? Freqüentemente, não tenho mesmo o necessário.
A caridade, meus amigos, se faz de muitas maneiras; podeis fazer a caridade em pensamentos, em palavras, e em ações. Em pensamento: orando pelos pobres abandonados, que morreram sem mesmo terem visto a luz; uma prece de coração os alivia. Em palavras: dirigindo aos vossos companheiros de todos os dias alguns bons conselhos; dizei aos homens amargurados pelo desespero, as privações, e que blasfemam o nome do Altíssimo: “Eu era como vós; eu sofria, era infeliz, mas acreditei no Espiritismo, e vede, estou radiante agora.” Aos velhos que vos dirão: “É inútil; estou no fim de minha carreira; morrerei como vivi.” Dizei a esses: “Deus tem, por todos vós, uma igual justiça; lembrai-vos dos obreiros da décima hora.” Às criancinhas que, já viciadas pelo seu ambiente, vão vagar pelos caminhos, prestes a sucumbirem às más tentações, dizei-lhes: “Deus vos vê, minhas queridas crianças,” e não temais repetir-lhes, freqüentemente, esta doce palavra; ela acabará por germinar em sua jovem inteligência, e em lugar de pequenos vagabundos, tereis feito homens. Está ainda aí uma caridade.
Vários dentre vós também dizem: “Ora, somos tão numerosos sobre a Terra, Deus não pode nos ver a todos.” Escutai bem isto, meus amigos: quando estais sobre o cume de uma montanha, é que o vosso olhar não abarca milhões de grãos de areia que formam essa montanha? Pois bem! Deus vos vê do mesmo modo; deixa-vos o vosso livre arbítrio, como deixais esses grãos de areia livres de ir ao sabor do vento que os dispersa; somente Deus, em sua misericórdia infinita, colocou no fundo do vosso coração uma sentinela vigilante, que se chama a consciência. Escutai-a; ela não vos dará senão bons conselhos. Por vezes a entorpeceis opondo-lhe o Espírito do mal; ela então se cala; mas ficai seguros de que a pobre abandonada se fará ouvir logo que tiverdes deixado perceber a sombra do remorso. Escutai-a; interrogai-a e, freqüentemente, vos achareis consolados com os conselhos que dela recebestes.
Meus amigos, a cada regimento novo o general remete uma bandeira; eu vos dou, eu, esta máxima do Cristo: “Amai-vos uns aos outros.” Praticai esta máxima; reuni-vos todos ao redor deste estandarte, e dele recebereis a felicidade e a consolação.”
Vosso Espírito protetor.
E.S.E. Capítulo 10. Itens 14 e 15 – Perdão das ofensas.
14. Quantas vezes perdoarei a meu irmão? Perdoar-lhe-eis, não sete vezes, mas setenta vezes sete vezes. Aí tendes um dos ensinos de Jesus que mais vos devem percutir a inteligência e mais alto falar ao coração. Confrontai essas palavras de misericórdia com a oração tão simples, tão resumida e tão grande em suas aspirações, que ensinou a seus discípulos, e o mesmo pensamento se vos deparará sempre. Ele, o justo por excelência, responde a Pedro: perdoarás, mas ilimitadamente; perdoarás cada ofensa tantas vezes quantas ela te for feita; ensinarás a teus irmãos esse esquecimento de si mesmo, que torna uma criatura invulnerável ao ataque, aos maus procedimentos e às injúrias; serás brando e humilde de coração, sem medir a tua mansuetude; farás, enfim, o que desejas que o Pai celestial por ti faça. Não está ele a te perdoar freqüentemente? Conta porventura as vezes que o seu perdão desce a te apagar as faltas?
Prestai, pois, ouvidos a essa resposta de Jesus e, como Pedro, aplicai-a a vós mesmos. Perdoai, usai de indulgência, sede caridosos, generosos, pródigos até do vosso amor. Dai, que o Senhor vos restituirá; perdoai, que o Senhor vos perdoará; abaixai-vos, que o Senhor vos elevará; humilhai-vos, que o Senhor fará vos assenteis à sua direita.
Ide, meus bem-amados, estudai e comentai estas palavras que vos dirijo da parte d’Aquele que, do alto dos esplendores celestes, vos tem sempre sob as suas vistas e prossegue com amor na tarefa ingrata a que deu começo, faz dezoito séculos. Perdoai aos vossos irmãos, como precisais que se vos perdoe. Se seus atos pessoalmente vos prejudicaram, mais um motivo aí tendes para serdes indulgentes, porquanto o mérito do perdão é proporcionado à gravidade do mal. Nenhum merecimento teríeis em relevar os agravos dos vossos irmãos, desde que não passassem de simples arranhões.
Espíritas, jamais vos esqueçais de que, tanto por palavras, como por atos, o perdão das injúrias não deve ser um termo vão. Pois que vos dizeis espíritas, sede-o. Olvidai o mal que vos hajam feito e não penseis senão numa coisa: no bem que podeis fazer. Aquele que enveredou por esse caminho não tem que se afastar daí, ainda que por pensamento, uma vez que sois responsáveis pelos vossos pensamentos, os quais todos Deus conhece. Cuidai, portanto, de os expungir de todo sentimento de rancor. Deus sabe o que demora no fundo do coração de cada um de seus filhos. Feliz, pois, daquele que pode todas as noites adormecer, dizendo: Nada tenho contra o meu próximo. Simeão. (Bordéus, 1862.)
15. Perdoar aos inimigos é pedir perdão para si próprio; perdoar aos amigos é dar-lhes uma prova de amizade; perdoar as ofensas é mostrar-se melhor do que era. Perdoai, pois, meus amigos, a fim de que Deus vos perdoe, porquanto, se fordes duros, exigentes, inflexíveis, se usardes de rigor até por uma ofensa leve, como querereis que Deus esqueça de que cada dia maior necessidade tendes de indulgência? Oh! ai daquele que diz: “Nunca perdoarei”, pois pronuncia a sua própria condenação. Quem sabe, aliás, se, descendo ao fundo de vós mesmos, não reconhecereis que fostes o agressor? Quem sabe se, nessa luta que começa por uma alfinetada e acaba por uma ruptura, não fostes quem atirou o primeiro golpe, se vos não escapou alguma palavra injuriosa, se não procedestes com toda a moderação necessária? Sem dúvida, o vosso adversário andou mal em se mostrar excessivamente suscetível; razão de mais para serdes indulgentes e para não vos tomardes merecedores da invectiva que lhe lançastes. Admitamos que, em dada circunstância, fostes realmente ofendido: quem dirá que não envenenastes as coisas por meio de represálias e que não fizestes degenerasse em querela grave o que houvera podido cair facilmente no olvido? Se de vós dependia impedir as conseqüências do fato e não as impedistes, sois culpados. Admitamos, finalmente, que de nenhuma censura vos reconheceis merecedores: mostrai-vos dementes e com isso só fareis que o vosso mérito cresça.
Mas, há duas maneiras bem diferentes de perdoar: há o perdão dos lábios e o perdão do coração. Muitas pessoas dizem, com referência ao seu adversário: “Eu lhe perdôo”, mas, interiormente, alegram-se com o mal que lhe advém, comentando que ele tem o que merece. Quantos não dizem: “Perdôo” e acrescentam. “mas, não me reconciliarei nunca; não quero tornar a vê-lo em toda a minha vida.” Será esse o perdão, segundo o Evangelho? Não; o perdão verdadeiro, o perdão cristão é aquele que lança um véu sobre o passado; esse o único que vos será levado em conta, visto que Deus não se satisfaz com as aparências. Ele sonda o recesso do coração e os mais secretos pensamentos. Ninguém se lhe impõe por meio de vãs palavras e de simulacros. O esquecimento completo e absoluto das ofensas é peculiar às grandes almas; o rancor é sempre sinal de baixeza e de inferioridade. Não olvideis que o verdadeiro perdão se reconhece muito mais pelos atos do que pelas palavras. – Paulo, apóstolo. (Lião, 1861.)
E.S.E Capítulo 10. Itens 16 a 21 – A Indulgência.
16. Espíritas, queremos falar-vos hoje da indulgência, sentimento doce e fraternal que todo homem deve alimentar para com seus irmãos, mas do qual bem poucos fazem uso.
A indulgência não vê os defeitos de outrem, ou, se os vê, evita falar deles, divulgá-los. Ao contrário, oculta-os, a fim de que se não tornem conhecidos senão dela unicamente, e, se a malevolência os descobre, tem sempre pronta uma escusa para eles, escusa plausível, séria, não das que, com aparência de atenuar a falta, mais a evidenciam com pérfida intenção.
A indulgência jamais se ocupa com os maus atos de outrem, a menos que seja para prestar um serviço; mas, mesmo neste caso, tem o cuidado de os atenuar tanto quanto possível. Não faz observações chocantes, não tem nos lábios censuras; apenas conselhos e, as mais das vezes, velados. Quando criticais, que conseqüência se há de tirar das vossas palavras? A de que não tereis feito o que reprovais, visto que estais a censurar; que valeis mais do que o culpado. O homens! quando será que julgareis os vossos próprios corações, os vossos próprios pensamentos, os vossos próprios atos, sem vos ocupardes com o que fazem vossos irmãos? Quando só tereis olhares severos sobre vós mesmos?
Sede, pois, severos para convosco, indulgentes para com os outros. Lembrai-vos daquele que julga em última instância, que vê os pensamentos íntimos de cada coração e que, por conseguinte, desculpa muitas vezes as faltas que censurais, ou condena o que relevais, porque conhece o móvel de todos os atos. Lembrai-vos de que vós, que clamais em altas vozes: anátema! tereis, quiçá, cometido faltas mais graves.
Sede indulgentes, meus amigos, porquanto a indulgência atrai, acalma, ergue, ao passo que o rigor desanima, afasta e irrita. – José, Espírito protetor. (Bordéus, 1863.)
17. Sede indulgentes com as faltas alheias, quaisquer que elas sejam; não julgueis com severidade senão as vossas próprias ações e o Senhor usará de indulgência para convosco, como de indulgência houverdes usado para com os outros.
Sustentai os fortes: animai-os à perseverança. Fortalecei os fracos, mostrando-lhes a bondade de Deus, que leva em conta o menor arrependimento; mostrai a todos o anjo da penitência estendendo suas brancas asas sobre as faltas dos humanos e velando-as assim aos olhares daquele que não pode tolerar o que é impuro. Compreendei todos a misericórdia infinita de vosso Pai e não esqueçais nunca de lhe dizer, pelos pensamentos, mas, sobretudo, pelos atos: “Perdoai as nossas ofensas, como perdoamos aos que nos hão ofendido.” Compreendei bem o valor destas sublimes palavras, nas quais não somente a letra é admirável, mas principalmente o ensino que ela veste.
Que é o que pedis ao Senhor, quando implorais para vós o seu perdão? Será unicamente o olvido das vossas ofensas? Olvido que vos deixaria no nada, porquanto, se Deus se limitasse a esquecer as vossas faltas, Ele não puniria, é exato, mas tampouco recompensaria. A recompensa não pode constituir prêmio do bem que não foi feito, nem, ainda menos, do mal que se haja praticado, embora esse mal fosse esquecido. Pedindo-lhe que perdoe os vossos desvios, o que lhe pedis é o favor de suas graças, para não reincidirdes neles, é a força de que necessitais para enveredar por outras sendas, as da submissão e do amor, nas quais podereis juntar ao arrependimento a reparação.
Quando perdoardes aos vossos irmãos, não vos contenteis com o estender o véu do esquecimento sobre suas faltas, porquanto, as mais das vezes, muito transparente é esse véu para os olhares vossos. Levai-lhes simultaneamente, com o perdão, o amor; fazei por eles o que pediríeis fizesse o vosso Pai celestial por vós. Substitui a cólera que conspurca, pelo amor que purifica. Pregai, exemplificando, essa caridade ativa, infatigável, que Jesus vos ensinou; pregai-a, como ele o fez durante todo o tempo em que esteve na Terra, visível aos olhos corporais e como ainda a prega incessantemente, desde que se tornou visível tão-somente aos olhos do Espírito. Segui esse modelo divino; caminhai em suas pegadas; elas vos conduzirão ao refúgio onde encontrareis o repouso após a luta. Como ele, carregai todos vós as vossas cruzes e subi penosamente, mas com coragem, o vosso calvário, em cujo cimo está a glorificação. – João, bispo de Bordéus. (1862.)
18. Caros amigos, sede severos convosco, indulgentes para as fraquezas dos outros. E esta uma prática da santa caridade, que bem poucas pessoas observam. Todos vós tendes maus pendores a vencer, defeitos a corrigir, hábitos a modificar; todos tendes um fardo mais ou menos pesado a alijar, para poderdes galgar o cume da montanha do progresso. Por que, então, haveis de mostrar-vos tão clarividentes com relação ao próximo e tão cegos com relação a vós mesmos? Quando deixareis de perceber, nos olhos de vossos irmãos, o pequenino argueiro que os incomoda, sem atentardes na trave que, nos vossos olhos, vos cega, fazendo-vos ir de queda em queda? Crede nos vossos irmãos, os Espíritos. Todo homem, bastante orgulhoso para se julgar superior, em virtude e mérito, aos seus irmãos encarnados, é insensato e culpado: Deus o castigará no dia da sua justiça. O verdadeiro caráter da caridade é a modéstia e a humildade, que consistem em ver cada um apenas superficialmente os defeitos de outrem e esforçar-se por fazer que prevaleça o que há nele de bom e virtuoso, porquanto, embora o coração humano seja um abismo de corrupção, sempre há, nalgumas de suas dobras mais ocultas, o gérmen de bons sentimentos, centelha vivaz da essência espiritual.
Espiritismo! doutrina consoladora e bendita! felizes dos que te conhecem e tiram proveito dos salutares ensinamentos dos Espíritos do Senhor! Para esses, iluminado está o caminho, ao longo do qual podem ler estas palavras que lhes indicam o meio de chegarem ao termo da jornada: caridade prática, caridade do coração, caridade para com o próximo, como para si mesmo; numa palavra: caridade para com todos e amor a Deus acima de todas as coisas, porque o amor a Deus resume todos os deveres e porque impossível é amar realmente a Deus, sem praticar a caridade, da qual fez ele uma lei para todas as criaturas. -Dufêtre, bispo de Nevers. (Bordéus.)
É permitido repreender os outros, notar as imperfeições de outrem, divulgar o mal de outrem?
19. Ninguém sendo perfeito, seguir-se-á que ninguém tem o direito de repreender o seu próximo?
Certamente que não é essa a conclusão a tirar-se, porquanto cada um de vós deve trabalhar pelo progresso de todos e, sobretudo, daqueles cuja tutela vos foi confiada. Mas, por isso mesmo, deveis fazê-lo com moderação, para um fim útil, e não, como as mais das vezes, pelo prazer de denegrir. Neste último caso, a repreensão é uma maldade; no primeiro, é um dever que a caridade manda seja cumprido com todo o cuidado possível. Ao demais, a censura que alguém faça a outrem deve ao mesmo tempo dirigi-la a si próprio, procurando saber se não a terá merecido. – S. Luís. (Paris, 1860.)
20. Será repreensível notarem-se as imperfeições dos outros, quando daí nenhum proveito possa resultar para eles, uma vez que não sejam divulgadas?
Tudo depende da intenção. Decerto, a ninguém é defeso ver o mal, quando ele existe. Fora mesmo inconveniente ver em toda a parte só o bem. Semelhante ilusão prejudicaria o progresso. O erro está no fazer-se que a observação redunde em detrimento do próximo, desacreditando-o, sem necessidade, na opinião geral. Igualmente repreensível seria fazê-lo alguém apenas para dar expansão a um sentimento de malevolência e à satisfação de apanhar os outros em falta. Dá-se inteiramente o contrário quando, estendendo sobre o mal um véu, para que o público não o veja, aquele que note os defeitos do próximo o faça em seu proveito pessoal, isto é, para se exercitar em evitar o que reprova nos outros. Essa observação, em suma, não é proveitosa ao moralista? Como pintaria ele os defeitos humanos, se não estudasse os modelos? – S. Luís. (Paris, 1860.)
21. Haverá casos em que convenha se desvende o mal de outrem?
É muito delicada esta questão e, para resolvê-la, necessário se toma apelar para a caridade bem compreendida. Se as imperfeições de uma pessoa só a ela prejudicam, nenhuma utilidade haverá nunca em divulgá-la. Se, porém, podem acarretar prejuízo a terceiros, deve-se atender de preferência ao interesse do maior número. Segundo as circunstâncias, desmascarar a hipocrisia e a mentira pode constituir um dever, pois mais vale caia um homem, do que virem muitos a ser suas vítimas. Em tal caso, deve-se pesar a soma das vantagens e dos inconvenientes. – São Luís. (Paris, 1860.)
E.S.E Capítulo 10. Item 14. – Caridade para com os criminosos.
14. A verdadeira caridade constitui um dos mais sublimes ensinamentos que Deus deu ao mundo. Completa fraternidade deve existir entre os verdadeiros seguidores da sua doutrina. Deveis amar os desgraçados, os criminosos, como criaturas, que são, de Deus, às quais o perdão e a misericórdia serão concedidos, se se arrependerem, como também a vós, pelas faltas que cometeis contra sua Lei. Considerai que sois mais repreensíveis, mais culpados do que aqueles a quem negardes perdão e comiseração, pois, as mais das vezes, eles não conhecem Deus como o conheceis, e muito menos lhes será pedido do que a vós.
Não julgueis, oh! não julgueis absolutamente, meus caros amigos, porquanto o juízo que proferirdes ainda mais severamente vos será aplicado e precisais de indulgência para os pecados em que sem cessar incorreis. Ignorais que há muitas ações que são crimes aos olhos do Deus de pureza e que o mundo nem sequer como faltas leves considera?
A verdadeira caridade não consiste apenas na esmola que dais, nem, mesmo, nas palavras de consolação que lhe aditeis. Não, não é apenas isso o que Deus exige de vós. A caridade sublime, que Jesus ensinou, também consiste na benevolência de que useis sempre e em todas as coisas para com o vosso próximo. Podeis ainda exercitar essa virtude sublime com relação a seres para os quais nenhuma utilidade terão as vossas esmolas, mas que algumas palavras de consolo, de encorajamento, de amor, conduzirão ao Senhor supremo.
Estão próximos os tempos, repito-o, em que nesse planeta reinará a grande fraternidade, em que os homens obedecerão à lei do Cristo, lei que será freio e esperança e conduzirá as almas às moradas ditosas. Amai-vos, pois, como filhos do mesmo Pai; não estabeleçais diferenças entre os outros infelizes, porquanto quer Deus que todos sejam iguais; a ninguém desprezeis. Permite Deus que entre vós se achem grandes criminosos, para que vos sirvam de ensinamentos. Em breve, quando os homens se encontrarem submetidos às verdadeiras leis de Deus, já não haverá necessidade desses ensinos: todos os Espíritos impuros e revoltados serão relegados para mundos inferiores, de acordo com as suas inclinações.
Deveis, àqueles de quem falo, o socorro das vossas preces: é a verdadeira caridade. Não vos cabe dizer de um criminoso: ~ um miserável; deve-se expurgar da sua presença a Terra; muito branda é, para um ser de tal espécie, a morte que lhe infligem.” Não, não é assim que vos compete falar. Observai o vosso modelo: Jesus. Que diria ele, se visse junto de si um desses desgraçados? Lamentá-lo-ia; considerá-lo-ia um doente bem digno de piedade; estender-lhe-ia a mão. Em realidade, não podeis fazer o mesmo; mas, pelo menos, podeis orar por ele, assistir-lhe o Espírito durante o tempo que ainda haja de passar na Terra. Pode ele ser tocado de arrependimento, se orardes com fé. E tanto vosso próximo, como o melhor dos homens; sua alma, transviada e revoltada, foi criada, como a vossa, para se aperfeiçoar; ajudai-o, pois, a sair do lameiro e orai por ele. Elisabeth de França. (Havre, 1862.)
E.S.E Capítulo 13. Itens 12, 13, 15 e 16 – A beneficência.
12. Sede bons e caridosos: essa a chave dos céus, chave que tendes em vossas mãos. Toda a eterna felicidade se contém neste preceito: “Amai-vos uns aos outros.” Não pode a alma elevar-se às altas regiões espirituais, senão pelo devotamento ao próximo; somente nos arroubos da caridade encontra ela ventura e consolação. Sede bons, amparai os vossos irmãos, deixai de lado a horrenda chaga do egoísmo. Cumprido esse dever, abrir-se-vos-á o caminho da felicidade eterna. Ao demais, qual dentre vós ainda não sentiu o coração pulsar de júbilo, de íntima alegria, à narrativa de um ato de bela dedicação, de uma obra verdadeiramente caridosa? Se unicamente buscásseis a volúpia que uma ação boa proporciona, conservar-vos-íeis sempre na senda do progresso espiritual. Não vos faltam os exemplos; rara é apenas a boa-vontade. Notai que a vossa história guarda piedosa lembrança de uma multidão de homens de bem.
Não vos disse Jesus tudo o que concerne às virtudes da caridade e do amor? Por que desprezar os seus ensinamentos divinos? Por que fechar o ouvido às suas divinas palavras, o coração a todos os seus bondosos preceitos? Quisera eu que dispensassem mais interesse, mais fé às leituras evangélicas. Desprezam, porém, esse livro, consideram-no repositório de palavras ocas, uma carta fechada; deixam no esquecimento esse código admirável. Vossos males provêm todos do abandono voluntário a que votais esse resumo das leis divinas. Lede-lhe as páginas cintilantes do devotamento de Jesus, e meditai-as. Homens fortes, armai-vos; homens fracos, fazei da vossa brandura, da vossa fé, as vossas armas. Sede mais persuasivos, mais constantes na propagação da vossa nova doutrina. Apenas encorajamento é o que vos vimos dar; apenas para vos estimularmos o zelo e as virtudes é que Deus permite nos manifestemos a vós outros. Mas, se cada um o quisesse, bastaria a sua própria vontade e a ajuda de Deus; as manifestações espíritas unicamente se produzem para os de olhos fechados e corações indóceis.
A caridade é a virtude fundamental sobre que há de repousar todo o edifício das virtudes terrenas. Sem ela não existem as outras. Sem a caridade não há esperar melhor sorte, não há interesse moral que nos guie; sem a caridade não há fé, pois a fé não é mais do que pura luminosidade que torna brilhante uma alma caridosa.
A caridade é, em todos os mundos, a eterna âncora de salvação; é a mais pura emanação do próprio Criador; é a sua própria virtude, dada por ele à criatura. Como desprezar essa bondade suprema? Qual o coração, disso ciente, bastante perverso para recalcar em si e expulsar esse sentimento todo divino? Qual o filho bastante mau para se rebelar contra essa doce carícia: a caridade?
Não ouso falar do que fiz, porque também os Espíritos têm o pudor de suas obras; considero, porém, a que iniciei como uma das que mais hão de contribuir para o alívio dos vossos semelhantes. Vejo com freqüência os Espíritos a pedirem lhes seja dado, por missão, continuar a minha tarefa. Vejo-os, minhas bondosas e queridas irmãs, no piedoso e divino ministério; vejo-os praticando a virtude que vos recomendo, com todo o júbilo que deriva de uma existência de dedicação e sacrifícios. Imensa dita é a minha, por ver quanto lhes honra o caráter, quão estimada e protegida é a missão que desempenham. Homens de bem, de boa e firme vontade, uni-vos para continuar amplamente a obra de propagação da caridade; no exercício mesmo dessa virtude, encontrareis a vossa recompensa; não há alegria espiritual que ela não proporcione já na vida presente. Sede unidos, amai-vos uns aos outros, segundo os preceitos do Cristo. Assim seja. – S. Vicente de Paulo. (Paris, 1858.)
13. Chamo-me Caridade; sigo o caminho principal que conduz a Deus. Acompanhai-me, pois conheço a meta a que deveis todos visar.
Dei esta manhã o meu giro habitual e, com o coração amargurado, venho dizer-vos: Oh! meus amigos, que de misérias, que de lágrimas, quanto tendes de fazer para secá-las todas! Em vão, procurei consolar algumas pobres mães, dizendo-lhes ao ouvido: Coragem! há corações bons que velam por vós; não sereis abandonadas; paciência! Deus lá está; sois dele amadas, sois suas eleitas. Elas pareciam ouvir-me e volviam para o meu lado os olhos arregalados de espanto; eu lhes lia no semblante que seus corpos, tiranos do Espírito, tinham fome e que, se é certo que minhas palavras lhes serenavam um pouco os corações, não lhes reconfortavam os estômagos. Repetia-lhes: Coragem! Coragem! Então, uma pobre mãe, ainda muito moça, que amamentava uma criancinha, tomou-a nos braços e a estendeu no espaço vazio, como a pedir-me que protegesse aquele entezinho que só encontrava, num seio estéril, insuficiente alimentação.
Alhures vi, meus amigos, pobres velhos sem trabalho e, em conseqüência, sem abrigo, presas de todos os sofrimentos da penúria e, envergonhados de sua miséria, sem ousarem, eles que nunca mendigaram, implorar a piedade dos transeuntes. Com o coração túmido de compaixão, eu, que nada tenho, me fiz mendiga para eles e vou, por toda a parte, estimular a beneficência, inspirar bons pensamentos aos corações generosos e compassivos. Por isso é que aqui venho, meus amigos, e vos digo: Há por aí desgraçados, em cujas choupanas falta o pão, os fogões se acham sem lume e os leitos sem cobertas. Não vos digo o que deveis fazer; deixo aos vossos bons corações a iniciativa. Se eu vos ditasse o proceder, nenhum mérito vos traria a vossa boa ação. Digo-vos apenas: Sou a caridade e vos estendo as mãos pelos vossos irmãos que sofrem.
Mas, se peço, também dou e dou muito. Convido-vos para um grande banquete e forneço a árvore onde todos vos saciareis! Vede quanto é bela, como está carregada de flores e de frutos! Ide, ide, colhei, apanhai todos os frutos dessa magnificente árvore que se chama a beneficência. No lugar dos ramos que lhe tirardes, atarei todas as boas ações que praticardes e levarei a árvore a Deus, que a carregará de novo, porquanto a beneficência é inexaurível. Acompanhai-me, pois, meus amigos, a fim de que eu vos conte entre os que se arrolam sob a minha bandeira. Nada temais; eu vos conduzirei pelo caminho da salvação, porque sou – a Caridade. – Cárita, martirizada em Roma. (Lião, 1861.)
15. Meus caros amigos, todos os (lias ouço entre vós dizerem: “Sou pobre, não posso fazer a caridade”, e todos os dias vejo que faltais com a indulgência aos vossos semelhantes. Nada lhes perdoais e vos arvorais em juizes muitas vezes severos, sem quererdes saber se ficaríeis satisfeitos que do mesmo modo procedessem convosco. Não é também caridade a indulgência? Vós, que apenas podeis fazer a caridade praticando a indulgência, fazei-a assim, mas fazei-a largamente. Pelo que toca à caridade material, vou contar-vos uma história do outro mundo.
Dois homens acabavam de morrer. Dissera Deus: Enquanto esses dois homens viverem, deitar-se-ão em sacos diferentes as boas ações de cada um deles, para que por ocasião de sua morte sejam pesadas. Quando ambos chegaram aos últimos momentos, mandou Deus que lhe trouxessem os dois sacos. Um estava cheio, volumoso, atochado, e nele ressoava o metal que o enchia; o outro era pequenino e tão vazio que se podiam contar as moedas que continha. Este o meu, disse um, reconheço-o; fui rico e dei muito. Este o meu, disse o outro, sempre fui pobre, oh! quase nada tinha para repartir. Mas, oh! surpresa! postos na balança os dois sacos, o mais volumoso se revelou leve, mostrando-se pesado o outro, tanto que fez se elevasse muito o primeiro no prato da balança. Deus, então, disse ao rico: deste muito, é certo, mas deste por ostentação e para que o teu nome figurasse em todos os templos do orgulho e, ao demais, dando, de nada te privaste. Vai para a esquerda e fica satisfeito com o te serem as tuas esmolas, contadas por qualquer coisa. Depois, disse ao pobre: Tu deste pouco, meu amigo; mas, cada uma das moedas que estão nesta balança representa uma privação que te impuseste; não deste esmolas, entretanto, praticaste a caridade, e, o que vale muito mais, fizeste a caridade naturalmente, sem cogitar de que te fosse levada em conta; foste indulgente; não te constituíste juiz do teu semelhante; ao contrário, todas as suas ações lhe relevaste: passa à direita e vai receber a tua recompensa. -Um Espírito protetor. (Lião, 1861.)
16. A mulher rica, venturosa, que não precisa empregar o tempo nos trabalhos de sua casa, não poderá consagrar algumas horas a trabalhos úteis aos seus semelhantes? Compre, com o que lhe sobre dos prazeres, agasalhos para o desgraçado que tirita de frio; confeccione, com suas mãos delicadas, roupas grosseiras, mas quentes; auxilie uma mãe a cobrir o filho que vai nascer. Se por isso seu filho ficar com algumas rendas de menos, o do pobre terá mais com que se aqueça. Trabalhar para os pobres é trabalhar na vinha do Senhor.
E tu, pobre operária, que não tens supérfluo, mas que, cheia de amor aos teus irmãos, também queres dar do pouco com que contas, dá algumas horas do teu dia, do teu tempo, único tesouro que possuis; faze alguns desses trabalhos elegantes que tentam os felizes; vende o produto dos teus serões e poderás igualmente oferecer aos teus irmãos a tua parte de auxílios. Terás, talvez, algumas fitas de menos; darás, porém, calçado a um que anda descalço.
E vós, mulheres que vos votastes a Deus, trabalhai também na sua obra; mas, que os vossos trabalhos não sejam unicamente para adornar as vossas capelas, para chamar a atenção sobre a vossa habilidade e paciência. Trabalhai, minhas filhas, e que o produto de vossas obras se destine a socorrer os vossos irmãos em Deus. Os pobres são seus filhos bem-amados; trabalhar para eles é glorificá-lo. Sede-lhes a providência que diz: “Aos pássaros do céu dá Deus o alimento.” Mudem-se o ouro e a prata que se tecem nas vossas mãos em roupas e alimentos para os que não os têm. Fazei isto e abençoado será o vosso trabalho.
Todos vós, que podeis produzir, dai; dai o vosso gênio, dai as vossas inspirações, dai o vosso coração, que Deus vos abençoará. Poetas, literatos, que só pela gente mundana sois lidos!… satisfazei-lhe aos lazeres, mas consagrai o produto de algumas de vossas obras a socorros aos desgraçados. Pintores, escultores, artistas de todos os gêneros!… venha também a vossa inteligência em auxílio dos vossos irmãos; não será por isso menor a vossa glória e alguns sofrimentos haver á de menos.
Todos vós podeis dar. Qualquer que seja a classe a que pertençais, de alguma coisa dispondes que podeis dividir. Seja o que for que Deus vos haja outorgado, uma parte do que ele vos deu deveis àquele que carece do necessário, porquanto, em seu lugar, muito gostaríeis que outro dividisse convosco. Os vossos tesouros da Terra serão um pouco menores; contudo, os vossos tesouros do céu ficarão acrescidos. Lá colhereis pelo cêntuplo o que houverdes semeado em benefícios neste mundo. – João. (Bordéus, 1861.)
E.S.E Capítulo 14. Item 4 – Os infortúnios ocultos.
4. Nas grandes calamidades, a caridade se emociona e observam-se impulsos generosos, no sentido de reparar os desastres. Mas, a par desses desastres gerais, há milhares de desastres particulares, que passam despercebidos: os dos que jazem sobre um grabato sem se queixarem. Esses infortúnios discretos e ocultos são os que a verdadeira generosidade sabe descobrir, sem esperar que peçam assistência.
Quem é esta mulher de ar distinto, de traje tão simples, embora bem cuidado, e que traz em sua companhia uma mocinha tão modestamente vestida? Entra numa casa de sórdida aparência, onde sem dúvida é conhecida, pois que à entrada a saúdam respeitosamente. Aonde vai ela? Sobe até a mansarda, onde jaz uma mãe de família cercada de crianças. À sua chegada, refulge a alegria naqueles rostos emagrecidos. E que ela vai acalmar ali todas as dores. Traz o de que necessitam, condimentado de meigas e consoladoras palavras, que fazem que os seus protegidos, que não são profissionais da mendicância, aceitem o benefício, sem corar. O pai está no hospital e, enquanto lá permanece, a mãe não consegue com o seu trabalho prover às necessidades da família. Graças à boa senhora, aquelas pobres crianças não mais sentirão frio, nem fome; irão à escola agasalhadas e, para as menorzinhas, o leite não secará no seio que as amamenta. Se entre elas alguma adoece, não lhe repugnarão a ela, à boa dama, os cuidados materiais de que essa necessite. Dali vai ao hospital levar ao pai algum reconforto e tranqüilizá-lo sobre a sorte da família. No canto da rua, uma carruagem a espera, verdadeiro armazém de tudo o que destina aos seus protegidos, que todos lhe recebem sucessivamente a visita. Não lhes pergunta qual a crença que professam, nem quais suas opiniões, pois considera como seus irmãos e filhos de Deus todos os homens. Terminado o seu giro, diz de si para consigo: Comecei bem o meu dia. Qual o seu nome? Onde mora? Ninguém o sabe. Para os infelizes, é um nome que nada indica; mas é o anjo da consolação. A noite, um concerto de benções se eleva em seu favor ao Pai celestial: católicos, judeus, protestantes, todos a bendizem.
Por que tão singelo traje? Para não insultar a miséria com o seu luxo. Por que se faz acompanhar da filha? Para que aprenda como se deve praticar a beneficência. A mocinha também quer fazer a caridade. A mãe, porém, lhe diz: “Que podes dar, minha filha, quando nada tens de teu? Se eu te passar às mãos alguma coisa para que dês a outrem, qual será o teu mérito? Nesse caso, em realidade, serei eu quem faz a caridade; que merecimento terias nisso? Não é justo. Quando visitamos os doentes, tu me ajudas a tratá-los. Ora, dispensar cuidados é dar alguma coisa. Não te parece bastante isso? Nada mais simples. Aprende a fazer obras úteis e confeccionarás roupas para essas criancinhas. Desse modo, darás alguma coisa que vem de ti.” É assim que aquela mãe verdadeiramente cristã prepara a filha para a prática das virtudes que o Cristo ensinou. E espírita ela? Que importa!
Em casa, é a mulher do mundo, porque a sua posição o exige. Ignoram, porém, o que faz, porque ela não deseja outra aprovação, além da de Deus e da sua consciência. Certo dia, no entanto, imprevista circunstância leva-lhe a casa uma de suas protegidas, que andava a vender trabalhos executados por suas mãos. Esta última, ao vê-la, reconheceu nela a sua benfeitora. “Silêncio! ordena-lhe a senhora. Não o digas a ninguém.” Falava assim Jesus.
[OBS: Allan Kardec complementa que possivelmente esta mulher caridosa, descrita acima, seria a Condessa Paula, conforme o livro “O céu e o inferno”, Segunda Parte, Capítulo 2, Espíritos felizes – Condessa Paula.]
E.S.E Capítulo 15. Itens 1, 2, 3 – O de que precisa o Espírito para ser salvo. Parábola do bom samaritano.
1. Ora, quando o filho do homem vier em sua majestade, acompanhado de todos os anjos, sentar-se-á no trono de sua glória; – reunidas diante dele todas as nações, separará uns dos outros, como o pastor separa dos bodes as ovelhas, – e colocará as ovelhas à sua direita e os bodes à sua esquerda.
Então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do reino que vos foi preparado desde o princípio do mundo; – porquanto, tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; careci de teto e me hospedastes; – estive nu e me vestistes; achei-me doente e me visitastes; estive preso e me fostes ver.
Então, responder-lhe-ão os justos: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? – Quando foi que te vimos sem teto e te hospedamos; ou despido e te vestimos? – E quando foi que te soubemos doente ou preso e fomos visitar-te? – O Rei lhes responderá: Em verdade vos digo, todas as vezes que isso fizestes a um destes mais pequeninos dos meus irmãos, foi a mim mesmo que o fizestes.
Dirá em seguida aos que estiverem à sua esquerda: Afastai-vos de mim, malditos; ide para o fogo eterno, que foi preparado para o diabo e seus anjos; – porquanto, tive fome e não me destes de comer, tive sede e não me destes de beber; precisei de teto e não me agasalhastes; estive sem roupa e não me vestistes; estive doente e no cárcere e não me visitastes.
Também eles replicarão: Senhor, quando foi que te vimos com fome e não te demos de comer, com sede e não te demos de beber, sem teto ou sem roupa, doente ou preso e não te assistimos? – Ele então lhes responderá: Em verdade vos digo: todas a vezes que faltastes com a assistência a um destes mais pequenos, deixastes de tê-la para comigo mesmo.
E esses irão para o suplício eterno, e os justos para a vida eterna. (S. MATEUS, cap. XXV, vv. 31 a 46.)
[Referente ao item 1 acima, acrescentamos o artigo abaixo, que achamos representar o aprendizado prático desta passagem bíblica:]
PASTOR JEREMIAS.
O pastor Jeremias Steepek se disfarçou de mendigo e foi a igreja de 10 mil membros onde ia ser apresentado como pastor principal pela manhã. Caminhou ao redor da igreja por 30 minutos enquanto ela se enchia de pessoas para o culto. Somente 3 de cada 7 das 10.000 pessoas diziam “oi” para ele. Para algumas pessoas, ele pediu moedas para comprar comida. Ninguém na Igreja lhe deu algo. Entrou no templo e tentou sentar-se na parte da frente, mas os diáconos o pediram que ele se sentasse na parte de trás da igreja. Ele cumprimentava as pessoas que o devolviam olhares sujos e de julgamento ao olhá-lo de cima à baixo.
Enquanto estava sentado na parte de trás da igreja, escutou os anuncios do culto e logo em seguida a liderança subiu ao altar e anunciaram que se sentiam emocionados em apresentar o novo pastor da congreação: “Gostariamos de apresentar à vocês o Pastor Jeremias Steepek”. As pessoas olharam ao redor aplaudindo com alegria e ansiedade. Foi quando o homem sem lar, o mendigo que se sentava nos últimos bancos, se colocou em pé e começou a caminhar pelo corredor. Os aplausos pararam. E todos o olhavam. Ele se aproximou do altar e pegou o microfone. Conteve-se por um momento e falou:
“Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Venham, benditos de meu Pai! Recebam como herança o Reino que foi preparado para vocês desde a criação do mundo. Pois eu tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; fui estrangeiro, e vocês me acolheram; necessitei de roupas, e vocês me vestiram; estive enfermo, e vocês cuidaram de mim; estive preso, e vocês me visitaram’. “Então os justos lhe responderão: ‘Senhor, quando te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? Quando te vimos como estrangeiro e te acolhemos, ou necessitado de roupas e te vestimos? Quando te vimos enfermo ou preso e fomos te visitar?’ “O Rei responderá: ‘Digo a verdade: O que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram’.”
Depois de haver recitado o texto de Mateus 25:34-40, olhou a congregação e lhes contou tudo que havia experimentado aquela manhã. Muitos começaram a chorar, muitas cabeças se inclinaram pela vergonha. O pastor disse então: “Hoje vejo uma reunião de pessoas, não a Igreja de Jesus Cristo. O mundo tem pessoas suficientes, mas não suficientes discípulos. Quando vocês se tornarão discípulos?”. Logo depois, encerrou o culto e despediu-se: “Até semana que vem”! Ser cristão é mais que algo que você defende. É algo que vive e compartilha com outras pessoas.
2. Então, levantando-se, disse-lhe um doutor da lei, para o tentar: Mestre, que preciso fazer para possuir a vida eterna? – Respondeu-lhe Jesus: Que é o que está escrito na lei? Que é o que lês nela? – Ele respondeu: Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, de toda a tua alma, com todas as tuas forças e de todo o teu espírito, e a teu próximo como a ti mesmo. – Disse-lhe Jesus: Respondeste muito bem; faze isso e viverás.
Mas, o homem, querendo parecer que era um justo, diz a Jesus: Quem é o meu próximo? – Jesus, tomando a palavra, lhe diz:
Um homem, que descia de Jerusalém para Jericó, caiu em poder de ladrões, que o despojaram, cobriram de ferimentos e se foram, deixando-o semimorto. – Aconteceu em seguida que um sacerdote, descendo pelo mesmo caminho, o viu e passou adiante. -Um levita, que também veio àquele lugar, tendo-o observado, passou igualmente adiante. – Mas, um samaritano que viajava, chegando ao lugar onde jazia aquele homem e tendo-o visto, foi tocado de compaixão. – Aproximou-se dele, deitou-lhe óleo e vinho nas feridas e as pensou; depois, pondo-o no seu cavalo, levou-o a uma hospedaria e cuidou dele. – No dia seguinte tirou dois denários e os deu ao hospedeiro, dizendo: Trata muito bem deste homem e tudo o que despenderes a mais, eu te pagarei quando regressar.
Qual desses três te parece ter sido o próximo daquele que caíra em poder dos ladrões? – O doutor respondeu: Aquele que usou de misericórdia para com ele. – Então, vai, diz Jesus, e faze o mesmo. (S. LUCAS, cap. X, vv. 25 a 37.)
3. Toda a moral de Jesus se resume na caridade e na humildade, isto é, nas duas virtudes contrárias ao egoísmo e ao orgulho. Em todos os seus ensinos, ele aponta essas duas virtudes como sendo as que conduzem à eterna felicidade: Bem-aventurados, disse, os pobres de espírito, isto é, os humildes, porque deles é o reino dos céus; bem-aventurados os que têm puro o coração; bem-aventurados os que são brandos e pacíficos; bem-aventurados os que são misericordiosos; amai o vosso próximo como a vós mesmos; fazei aos outros o que quereríeis vos fizessem; amai os vossos inimigos; perdoai as ofensas, se quiserdes ser perdoados; praticai o bem sem ostentação; julgai-vos a vós mesmos, antes de julgardes os outros. Humildade e caridade, eis o que não cessa de recomendar e o de que dá, ele próprio, o exemplo. Orgulho e egoísmo, eis o que não se cansa de combater. E não se limita a recomendar a caridade; põe-na claramente e em termos explícitos como condição absoluta da felicidade futura.
No quadro que traçou do juízo final, deve-se, como em muitas outras coisas, separar o que é apenas figura, alegoria. A homens como os a quem falava, ainda incapazes de compreender as questões puramente espirituais, tinha ele de apresentar imagens materiais chocantes e próprias a impressionar. Para melhor apreenderem o que dizia, tinha mesmo de não se afastar muito das idéias correntes, quanto à forma, reservando sempre ao porvir a verdadeira interpretação de suas palavras e dos pontos sobre os quais não podia explicar-se claramente. Mas, ao lado da parte acessória ou figurada do quadro, há uma idéia dominante: a da felicidade reservada ao justo e da infelicidade que espera o mau.
Naquele julgamento supremo, quais os considerandos da sentença? Sobre que se baseia o libelo? Pergunta, porventura, o juiz se o inquirido preencheu tal ou qual formalidade, se observou mais ou menos tal ou qual prática exterior? Não; inquire tão-somente de uma coisa: se a caridade foi praticada, e se pronuncia assim: Passai à direita, vós que assististes os vossos irmãos; passai à esquerda, vós que fostes duros para com eles. Informa-se, por acaso, da ortodoxia da fé? Faz qualquer distinção entre o que crê de um modo e o que cru de outro’? Não, pois Jesus coloca o samaritano, considerado herético, mas que pratica o amor do próximo, acima do ortodoxo que falta com a caridade. Não considera, portanto, a caridade apenas como uma das condições para a salvação, mas como a condição única. Se outras houvesse a serem preenchidas, ele as teria declinado. Desde que coloca a caridade em primeiro lugar, é que ela implicitamente abrange todas as outras: a humildade, a brandura, a benevolência, a indulgência, a justiça, etc., e porque é a negação absoluta do orgulho e do egoísmo.
E.S.E Capítulo 15. Itens 4, 5 – O mandamento maior.
4. Mas, os fariseus, tendo sabido que ele tapara a boca aos saduceus, se reuniram; e um deles, que era doutor da lei, foi propor-lhe esta questão, para o tentar: -Mestre, qual o grande mandamento da lei? – Jesus lhe respondeu: Amarás o Senhor teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu espírito. – Esse o maior e o primeiro mandamento. – E aqui está o segundo, que é semelhante ao primeiro: Amarás o teu próximo, como a ti mesmo. – Toda a lei e os profetas se acham contidos nesses dois mandamentos. (S. MATEUS, cap. XXII, vv. 34 a 40.)
5. Caridade e humildade, tal a senda única da salvação. Egoísmo e orgulho, tal a da perdição. Este princípio se acha formulado nos seguintes precisos termos: “Amarás a Deus de toda a tua alma e a teu próximo como a ti mesmo; toda a lei e os profetas se acham contidos nesses dois mandamentos.” E, para que não haja equívoco sobre a interpretação do amor de Deus e do próximo, acrescenta: “E aqui está o segundo mandamento que é semelhante ao primeiro” , isto é, que não se pode verdadeiramente amar a Deus sem amar o próximo, nem amar o próximo sem amar a Deus. Logo, tudo o que se faça contra o próximo o mesmo é que fazê-lo contra Deus. Não podendo amar a Deus sem praticar a caridade para com o próximo, todos os deveres do homem se resumem nesta máxima: FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO.
E.S.E Capítulo 15. Itens 6, 7 – Necessidade da caridade, segundo S. Paulo.
6. Ainda quando eu falasse todas as línguas dos homens e a língua dos próprios anjos, se eu não tiver caridade, serei como o bronze que soa e um címbalo que retine; – ainda quando tivesse o dom de profecia, que penetrasse todos os mistérios, e tivesse perfeita ciência de todas as coisas; ainda quando tivesse a fé possível, até o ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, nada sou. – E, quando houver distribuído os meus bens para alimentar os pobres e houvesse entregado meu corpo para ser queimado, se não tivesse caridade, tudo isso de nada me serviria.
A caridade é paciente; é branda e benfazeja; a caridade não é invejosa; não é temerária, nem precipitada; não se enche de orgulho; – não é desdenhosa; não cuida de seus interesses; não se agasta, nem se azeda com coisa alguma; não suspeita mal; não se rejubila com a injustiça, mas se rejubila com a verdade; tudo suporta, tudo crê, tudo espera, tudo sofre.
Agora, estas três virtudes: a fé, a esperança e a caridade permanecem; mas, dentre elas, a mais excelente é a caridade (S. PAULO, 1ª Epístola aos Coríntios, cap. XIII, vv. 1 a 7 e 13.)
7. De tal modo compreendeu S. Paulo essa grande verdade, que disse: Quando mesmo eu tivesse a linguagem dos anjos; quando tivesse o dom de profecia, que penetrasse todos os mistérios; quando tivesse toda a fé possível, até ao ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, nada sou. Dentre estas três virtudes: a fé, a esperança e a caridade, a mais excelente é a caridade. Coloca assim, sem equívoco, a caridade acima até da fé. É que a caridade está ao alcance de toda gente: do ignorante, como do sábio, do rico, como do pobre, e independe de qualquer crença particular.
Faz mais: define a verdadeira caridade, mostra-a não só na beneficência, como também no conjunto de todas as qualidades do coração, na bondade e na benevolência para com o próximo.
Ref. 887 – Disse Jesus também: Amai mesmo vossos inimigos. Ora, o amor por nossos inimigos não é contrário às nossas tendências naturais e a inimizade não provém da ausência de simpatia entre os Espíritos?
– Sem dúvida, não se pode ter pelos inimigos um amor terno e apaixonado; não foi isso que ele quis dizer. Amar os inimigos é perdoar-lhes e restituir bem por mal. Por este meio nos tornamos superiores a eles; pela vingança, colocamo-nos abaixo deles.
E.S.E Capítulo 12. Itens 1, 2, 3, 4 – Retribuir o mal com o bem.
1. Aprendestes que foi dito: “Amareis o vosso próximo e odiareis os vossos inimigos.” Eu, porém, vos digo: “Amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem e caluniam, a fim de serdes filhos do vosso Pai que está nos céus e que faz se levante o Sol para os bons e para os maus e que chova sobre os justos e os injustos. – Porque, se só amardes os que vos amam, qual será a vossa recompensa? Não procedem assim também os publicanos? Se apenas os vossos irmãos saudardes, que é o que com isso fazeis mais do que os outros? Não fazem outro tanto os pagãos?” (S. MATEUS, cap. V, vv. 43 a 47.)
– “Digo-vos que, se a vossa justiça não for mais abundante que a dos escribas e dos fariseus, não entrareis no reino dos céus.”(S. MATEUS, cap. V, v. 20.)
2. “Se somente amardes os que vos amam, que mérito se vos reconhecerá, uma vez que as pessoas de má vida também amam os que os amam? – Se o bem somente o fizerdes aos que vo-lo fazem, que mérito se vos reconhecerá, dado que o mesmo faz a gente de má vida? – Se só emprestardes àqueles de quem possais esperar o mesmo favor, que mérito se vos reconhecerá, quando as pessoas de má vida se entreajudam dessa maneira, para auferir a mesma vantagem? Pelo que vos toca, amai os vossos inimigos, fazei bem a todos e auxiliai sem esperar coisa alguma. Então, muito grande será a vossa recompensa e sereis filhos do Altíssimo, que é bom para os ingratos e até para os maus. – Sede, pois, cheios de misericórdia, como cheio de misericórdia é o vosso Deus.” (S. LUCAS, cap. VI, vv. 32 a 36.)
3. Se o amor do próximo constitui o princípio da caridade, amar os inimigos é a mais sublime aplicação desse princípio, porquanto a posse de tal virtude representa uma das maiores vitórias alcançadas contra o egoísmo e o orgulho.
Entretanto, há geralmente equívoco no tocante ao sentido da palavra amar, neste passo. Não pretendeu Jesus, assim falando, que cada um de nós tenha para com o seu inimigo a ternura que dispensa a um irmão ou amigo. A ternura pressupõe confiança; ora, ninguém pode depositar confiança numa pessoa, sabendo que esta lhe quer mal; ninguém pode ter para com ela expansões de amizade, sabendo-a capaz de abusar dessa atitude. Entre pessoas que desconfiam umas das outras, não pode haver essas manifestações de simpatia que existem entre as que comungam nas mesmas idéias. Enfim, ninguém pode sentir, em estar com um inimigo, prazer igual ao que sente na companhia de um amigo.
A diversidade na maneira de sentir, nessas duas circunstâncias diferentes, resulta mesmo de uma lei física: a da assimilação e da repulsão dos fluidos. O pensamento malévolo determina uma corrente fluídica que impressiona penosamente. O pensamento benévolo nos envolve num agradável eflúvio. Daí a diferença das sensações que se experimenta à aproximação de um amigo ou de um inimigo. Amar os inimigos não pode, pois, significar que não se deva estabelecer diferença alguma entre eles e os amigos. Se este preceito parece de difícil prática, impossível mesmo, é apenas por entender-se falsamente que ele manda se dê no coração, assim ao amigo, como ao inimigo, o mesmo lugar. Uma vez que a pobreza da linguagem humana obriga a que nos sirvamos do mesmo termo para exprimir matizes diversos de um sentimento, à razão cabe estabelecer as diferenças, conforme aos casos.
Amar os inimigos não é, portanto, ter-lhes uma afeição que não está na natureza, visto que o contacto de um inimigo nos faz bater o coração de modo muito diverso do seu bater, ao contacto de um amigo. Amar os Inimigos é não lhes guardar ódio, nem rancor, nem desejos de vingança; é perdoar-lhes, sem pensamento oculto e sem condições, o mal que nos causem; é não opor nenhum obstáculo a reconciliação com eles; é desejar-lhes o bem e não o mal; é experimentar júbilo, em vez de pesar, com o bem que lhes advenha; é socorrê-los, em se apresentando ocasião; é abster-se, quer por palavras, quer por atos, de tudo o que os possa prejudicar; é, finalmente, retribuir-lhes sempre o mal com o bem, sem a intenção de os humilhar. Quem assim procede preenche as condições do mandamento: Amai os vossos inimigos.
4. Amar os inimigos é, para o incrédulo, um contra-senso. Aquele para quem a vida presente é tudo, vê no seu inimigo um ser nocivo, que lhe perturba o repouso e do qual unicamente a morte. pensa ele, o pode livrar. Daí, o desejo de vingar-se. Nenhum interesse tem em perdoar, senão para satisfazer o seu orgulho perante o mundo. Em certos casos, perdoar-lhe parece mesmo uma fraqueza indigna de si. Se não se vingar, nem por isso deixará de conservar rancor e secreto desejo de mal para o outro.
Para o crente e, sobretudo, para o espírita, muito diversa é a maneira de ver, porque suas vistas se lançam sobre o passado e sobre o futuro, entre os quais a vida atual não passa de um simples ponto. Sabe ele que, pela mesma destinação da Terra, deve esperar topar aí com homens maus e perversos; que as maldades com que se defronta fazem parte das provas que lhe cumpre suportar e o elevado ponto de vista em que se coloca lhe torna menos amargas as vicissitudes, quer advenham dos homens, quer das coisas. Se não se queixa das provas, tampouco deve queixar-se dos que lhe servem de instrumento. Se, em vez de se queixar, agradece a Deus o experimentá-lo, deve também agradecer a mão que lhe dá ensejo de demonstrar a sua paciência e a sua resignação. Esta idéia o dispõe naturalmente ao perdão. Sente, além disso, que quanto mais generoso for. tanto mais se engrandece aos seus próprios olhos e se põe fora do alcance dos dardos do seu inimigo.
O homem que no mundo ocupa elevada posição não se julga ofendido com os insultos daquele a quem considera seu inferior. O mesmo se dá com o que, no mundo moral, se eleva acima da humanidade material. Este compreende que o ódio e o rancor o aviltariam e rebaixariam. Ora, para ser superior ao seu adversário, preciso é que tenha a alma maior, mais nobre, mais generosa do que a desse último.
E.S.E Capítulo 12. Itens 7, 8 – Se alguém vos bater na face direita, apresentai-lhe também a outra
7. Aprendestes que foi dito: olho por olho e dente por dente. – Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal que vos queiram fazer; que se alguém vos bater na face direita, lhe apresenteis também a outra; – e que se alguém quiser pleitear contra vós, para vos tomar a túnica, também lhes entregueis o manto; – e que se alguém vos obrigar a caminhar mil passos com ele, caminheis mais dois mil. – Dai àquele que vos pedir e não repilais aquele que vos queira tomar emprestado. (S. MATEUS, cap. V, vv. 38 a 42.)
8. Os preconceitos do mundo sobre o que se convencionou chamar “ponto de honra” produzem essa suscetibilidade sombria, nascida do orgulho e da exaltação da personalidade, que leva o homem a retribuir uma injúria com outra injúria, uma ofensa com outra, o que é tido como justiça por aquele cujo senso moral não se acha acima do nível das paixões terrenas. Por isso é que a lei mosaica prescrevia: olho por olho, dente por dente, de harmonia com a época em que Moisés vivia. Veio o Cristo e disse: Retribui o mal com o bem. E disse ainda: “Não resistais ao mal que vos queiram fazer; se alguém vos bater numa face, apresentai-lhe a outra.” Ao orgulhoso este ensino parecerá uma covardia, porquanto ele não compreende que haja mais coragem em suportar um insulto do que em tomar uma vingança, e não compreende, porque sua visão não pode ultrapassar o presente.
Dever-se-á, entretanto, tomar ao pé da letra aquele preceito? Tampouco quanto o outro que manda se arranque o olho, quando for causa de escândalo. Levado o ensino às suas últimas conseqüências, importaria ele em condenar toda repressão, mesmo legal, e deixar livre o campo aos maus, isentando-os de todo e qualquer motivo de temor. Se se lhes não pusesse um freio as agressões, bem depressa todos os bons seriam suas vítimas. O próprio instinto de conservação, que é uma lei da Natureza, obsta a que alguém estenda o pescoço ao assassino. Enunciando, pois, aquela máxima, não pretendeu Jesus interdizer toda defesa, mas condenar a vingança. Dizendo que apresentemos a outra face àquele que nos haja batido numa, disse, sob outra forma, que não se deve pagar o mal com o mal; que o homem deve aceitar com humildade tudo o que seja de molde a lhe abater o orgulho; que maior glória lhe advém de ser ofendido do que de ofender, de suportar pacientemente uma injustiça do que de praticar alguma; que mais vale ser enganado do que enganador, arruinado do que arruinar os outros. E, ao mesmo tempo, a condenação do duelo, que não passa de uma manifestação de orgulho. Somente a fé na vida futura e na justiça de Deus, que jamais deixa impune o mal, pode dar ao homem forças para suportar com paciência os golpes que lhe sejam desferidos nos interesses e no amor-próprio. Daí vem o repetirmos incessantemente: Lançai para diante o olhar; quanto mais vos elevardes pelo pensamento, acima da vida material, tanto menos vos magoarão as coisas da Terra.
E.S.E Capítulo 12. Item 9 – A vingança.
9. A vingança é um dos últimos remanescentes dos costumes bárbaros que tendem a desaparecer dentre os homens. E, como o duelo, um dos derradeiros vestígios dos hábitos selvagens sob cujos guantes se debatia a Humanidade, no começo da era cristã, razão por que a vingança constitui indício certo do estado de atraso dos homens que a ela se dão e dos Espíritos que ainda as inspirem. Portanto, meus amigos, nunca esse sentimento deve fazer vibrar o coração de quem quer que se diga e proclame espírita. Vingar-se é, bem o sabeis, tão contrário àquela prescrição do Cristo: “Perdoai aos vossos inimigos”, que aquele que se nega a perdoar não somente não é espírita como também não é cristão. A vingança é uma inspiração tanto mais funesta, quanto tem por companheiras assíduas a falsidade e a baixeza. Com efeito, aquele que se entrega a essa fatal e cega paixão quase nunca se vinga a céu aberto. Quando é ele o mais forte, cai qual fera sobre o outro a quem chama seu inimigo, desde que a presença deste último lhe inflame a paixão, a cólera, o ódio. Porém, as mais das vezes assume aparências hipócritas, ocultando nas profundezas do coração os maus sentimentos que o animam. Toma caminhos escusos, segue na sombra o inimigo, que de nada desconfia, e espera o momento azado para sem perigo feri-lo. Esconde-se do outro, espreitando-o de contínuo, prepara-lhe odiosas armadilhas e, em sendo propícia a ocasião, derrama-lhe no copo o veneno, Quando seu ódio não chega a tais extremos, ataca-o então na honra e nas afeições; não recua diante da calúnia, e suas pérfidas insinuações, habilmente espalhadas a todos os ventos, se vão avolumando pelo caminho. Em conseqüência, quando o perseguido se apresenta nos lugares por onde passou o sopro do perseguidor, espanta-se de dar com semblantes frios, em vez de fisionomias amigas e benevolentes que outrora o acolhiam. Fica estupefato quando mãos que se lhe estendiam, agora se recusam a apertar as suas. Enfim, sente-se aniquilado, ao verificar que os seus mais caros amigos e parentes se afastam e o evitam, Ah! o covarde que se vinga assim é cem vezes mais culpado do que o que enfrenta o seu inimigo e o insulta em plena face.
Fora, pois, com esses costumes selvagens! Fora com esses processos de outros tempos! Todo espírita que ainda hoje pretendesse ter o direito de vingar-se seria indigno de figurar por mais tempo na falange que tem como divisa: Sem caridade não há salvação! Mas, não, não posso deter-me a pensar que um membro da grande família espírita ouse jamais, de futuro, ceder ao impulso da vingança, senão para perdoar. – Júlio Olivier. (Paris, 1862.)
E.S.E Capítulo 12. Item 10 – O ódio.
10. Amai-vos uns aos outros e sereis felizes. Tomai sobretudo a peito amar os que vos inspiram indiferença, ódio, ou desprezo. O Cristo, que deveis considerar modelo, deu-vos o exemplo desse devotamento, Missionário do amor, ele amou até dar o sangue e a vida por amor, Penoso vos é o sacrifício de amardes os que vos ultrajam e perseguem; mas, precisamente, esse sacrifício é que vos torna superiores a eles. Se os odiásseis, como vos odeiam, não valeríeis mais do que eles. Amá-los é a hóstia imácula que ofereceis a Deus na ara dos vossos corações, hóstia de agradável aroma e cujo perfume lhe sobe até o seio. Se bem a lei de amor mande que cada um ame indistintamente a todos os seus irmãos, ela não couraça o coração contra os maus procederes; esta é, ao contrário, a prova mais angustiosa, e eu o sei bem, porquanto, durante a minha última existência terrena, experimentei essa tortura. Mas Deus lá está e pune nesta vida e na outra os que violam a lei de amor. Não esqueçais, meus queridos filhos, que o amor aproxima de Deus a criatura e o ódio a distancia dele. – Fénelon, (Bordéus, 1861.)
Ref. 888 – Que pensar da esmola?
– O homem reduzido a pedir esmola se degrada moral e fisicamente: ele se embrutece. Numa sociedade baseada sobre a lei de Deus e a justiça, deve-se prover a vida do fraco sem humilhação para ele. Ela deve assegurar a existência daqueles que não podem trabalhar, sem deixar sua vida à mercê do acaso e da boa vontade.
– Reprovais a esmola?
– Não, não é a esmola que é reprovável, freqüentemente, é a maneira pela qual é feita. O homem de bem, que compreende a caridade segundo Jesus, se antecipa ao infeliz sem esperar que ele lhe estenda a mão.
A verdadeira caridade é sempre boa e benevolente; ela está mais no gesto que no fato. Um serviço feito com delicadeza duplica de valor; se é feito com ostentação, a necessidade pode fazê-lo aceitar, mas o coração não é tocado por ele.
Lembrai-vos também que a ostentação, aos olhos de Deus, tira o mérito do favor. Disse Jesus: Que a vossa mão esquerda ignore o que dá vossa mão direita; ele vos ensina com isso a não deslustrar a caridade pelo orgulho.
É preciso distinguir a esmola propriamente dita da beneficência. O mais necessitado não é sempre aquele que pede; o receio de uma humilhação retém o verdadeiro pobre e, freqüentemente, ele sofre sem se lamentar. É a este que o homem, verdadeiramente humano, sabe ir procurar sem ostentação.
Amai-vos uns aos outros é toda a lei, a lei divina pela qual Deus governa os mundos. O amor é a lei de atração para os seres vivos e organizados; a atração é a lei de amor para a matéria orgânica.
Não olvideis jamais que o Espírito, qualquer que seja seu grau de adiantamento, sua situação como reencarnação ou erraticidade, está sempre colocado entre um superior que o guia e o aperfeiçoa, e um inferior diante do qual tem os mesmos deveres a cumprir. Portanto, sede caridosos, não somente dessa caridade que vos leva a tirar de vossa bolsa o óbolo que dais friamente àquele que ousa vo-lo pedir, mas ide ao encontro das misérias ocultas. Sede indulgentes para com os defeitos dos vossos semelhantes; em lugar de menosprezar a ignorância e o vício, instrui-os e moralizai-os. Sede dóceis e benevolentes para com todos os que vos são inferiores, assim como em relação aos seres mais ínfimos da criação, e tereis obedecido à lei de Deus.
SÃO VICENTE DE PAULO.
E.S.E Capítulo 13. Item 14.
14. Várias maneiras há de fazer-se a caridade, que muitos dentre vós confundem com a esmola. Diferença grande vai, no entanto, de uma para outra. A esmola, meus amigos, é algumas vezes útil, porque dá alívio aos pobres; mas é quase sempre humilhante, tanto para o que a dá, como para o que a recebe. A caridade, ao contrário, liga o benfeitor ao beneficiado e se disfarça de tantos modos! Pode-se ser caridoso, mesmo com os parentes e com os amigos, sendo uns indulgentes para com os outros, perdoando-se mutuamente as fraquezas, cuidando não ferir o amor-próprio de ninguém. Vós, espíritas, podeis sê-lo na vossa maneira de proceder para com os que não pensam como vós, induzindo os menos esclarecidos a crer, mas sem os chocar, sem investir contra as suas convicções e, sim, atraindo-os amavelmente às nossas reuniões, onde poderão ouvir-nos e onde saberemos descobrir nos seus corações a brecha para neles penetrarmos. Eis aí um dos aspectos da caridade.
Escutai agora o que é a caridade para com os pobres, os deserdados deste mundo, mas recompensados de Deus, se aceitam sem queixumes as suas misérias, o que de vós depende. Far-me-ei compreender por um exemplo.
Vejo, várias vezes, cada semana, uma reunião de senhoras, havendo-as de todas as idades. Para nós, como sabeis, são todas irmãs. Que fazem? Trabalham depressa, muito depressa; têm ágeis os dedos. Vede como trazem alegres os semblantes e como lhes batem em uníssono os corações. Mas, com que fim trabalham? É que vêem aproximar-se o inverno que será rude para os lares pobres. As formigas não puderam juntar durante o estio as provisões necessárias e a maior parte de suas utilidades está empenhada. As pobres mães se inquietam e choram, pensando nos filhinhos que, durante a estação invernosa, sentirão frio e fome! Tende paciência, infortunadas mulheres. Deus inspirou a outras mais aquinhoadas do que vós; elas se reuniram e estão confeccionando roupinhas; depois, um destes dias, quando a terra se achar coberta de neve e vós vos lamentardes, dizendo: “Deus não é justo”, que é o que vos sai dos lábios sempre que sofreis, vereis surgir a filha de uma dessas boas trabalhadoras que se constituíram obreiras dos pobres, pois que é para vós que elas trabalham assim, e os vossos lamentos se mudarão em bênçãos, dado que no coração dos infelizes o a amor acompanha de bem perto o ódio.
Como essas trabalhadoras precisam de encorajamento, vejo chegarem-lhes de todos os lados as comunicações dos bons espíritos. Os homens que fazem parte dessa sociedade lhes trazem também seu concurso, fazendo-lhes uma dessas leituras que agradam tanto. E nós, para recompensarmos o zelo de todos e de cada um em particular, prometemos às laboriosas obreiras boa clientela, que lhes pagará à vista, em bênçãos, única moeda que tem curso no Céu, garantindo-lhes, além disso, sem receio de errar, que essa moeda não lhes faltará. -Cárita. (Lião, 1861.)
Revista Espírita 1860 – Abril – A ostentação.
(Sociedade, 16 de dezembro de 1860 Méd. Srta. Huet)
Em uma bela noite de primavera, um homem rico e generoso estava sentado em seu salão; aspirava com alegria o perfume das flores de seu jardim. Enumerava com complacência todas as boas obras que fizera durante o ano. Com essa lembrança, não pôde esquivar-se de lançar um olhar, quase desdenhoso, sobre a casa de um dos seus vizinhos, o qual não pudera dar senão módica peça de moeda para a construção da igreja paroquial. De minha parte, disse, dei mais de mil escudos para essa obra pia; lancei negligentemente uma cédula de 500 francos na bolsa que me estendia essa jovem duquesa em favor dos pobres; dei muito para as festas de beneficência, para toda espécie de loteria, e creio quê Deus me será grato de tanto bem que fiz. Ah! Esquecia-me de uma leve esmola que fiz ultimamente a uma infeliz viúva, carregada de numerosa família, e que cria ainda um órfão; mas o que lhe dei é tão pouca coisa que, certamente, por isso, o céu não se me abrirá.
Tu te enganas, respondeu-lhe de repente uma voz que lhe fez girar a cabeça: é a única que Deus aceita, eis sua prova. No mesmo instante, uma mão apagou o papel que ele havia enegrecido com todas as suas boas obras, e não deixando senão a última inscrita, ela o levou ao céu.
Não é, pois, a esmola feita com ostentação que é a melhor, mas aquela que é feita com toda a humildade do coração.
JOINVILLE, AMY DE LOYS.
Revista Espírita 1863 – Abril – CONVERSAS DE ALÉM-TÚMULO.
CLARA RIVIER.?(Sociedade Espírita de Paris, 23 de janeiro de 1863. – Médium, Sr. Leymarie.)
O Sr. J… médico em…, (Gard), nos transmite o fato seguinte: “Uma família de lavra- dores, meus vizinhos do campo, tinha uma menina de dez anos, chamada Clara, completamente enferma há quatro anos. Durante toda a sua vida nunca vez ouvir um único lamento, nem deu um único sinal de impaciência; embora desprovida de instrução, consolava sua família aflita conversando sobre a vida futura e a felicidade que deveria ali encontrar. Morreu em setembro de 1862, depois de quatro dias de torturas e de convulsões, durante os quais não cessou de rogar a Deus. “Não temo a morte, dizia ela, uma vez que uma vida de felicidade me está reservada depois.” Dizia ao seu pai, que chorava: “Consola-te; voltarei para te visitar; minha hora está próxima, eu o sinto; mas quando ela chegar, sabê-lo-ei e te prevenirei antes.” Com efeito, quando o momento fatal estava a ponto de se cumprir, ela chamou todos os seus dizendo: “Não tenho mais do que cinco minutos para viver; dai-me vossas mãos.” E ela expirou como havia anunciado.
Desde então, um Espírito batedor veio visitar a casa do casal Rivier, onde transtorna tudo; bate na mesa, como se tivesse uma clava; agita as roupas e as cortinas, revira as louças e joga bolas nos celeiros. Esse Espírito aparece sob a forma de Clara à sua irmã- zinha, que não tem senão cinco anos. Segundo essa criança, sua irmã lhe falou freqüentemente, e o que exclui todo sentimento de incerteza a esse respeito, é que as aparições lhe fazem dar gritos de alegria, ou reclamações se não se faz em seguida o que ela deseja, quer dizer, apagar o fogo e todas as luzes no quarto onde ocorreu a visão, durante o qual a criança não cessa de dizer: “Mas vede, pois, como Clara é linda!”
“O pai Rivier desejando saber o que Clara queria, esta pediu que lhe fossem devolvidos os cabelos que lhe tinham cortado, segundo o uso do país; mas, se bem que os pais tenham satisfeito a esse desejo levando seus cabelos sobre seu túmulo, o Espírito continuou suas visitas e o seu barulho, dos quais eu mesmo fui testemunha, ao ponto de que os vizinhos e os amigos com isso se emocionaram. Então, falei aos pais da moral, pedindo-lhes, se nada tinham a censurar contra alguém, ou cometido alguma ação desleal; que era provável que o Espírito os atormentasse enquanto não tivessem reparado suas faltas, e que os aconselhava a refletirem seriamente nisso.
“Durante uma ausência de dez dias que foi forçada a fazer, a obsessão tomou um caráter mais violento, ao ponto que Rivier teve que submeter-se a lutas corpo a corpo, e foi derrubado no solo. Ó medo se apoderou desses infelizes, e foram consultar um médium que os aconselhou a darem uma esmola geral a todos os pobres da região, esmola que durou dois dias. Disso vos darei a conhecer o resultado; à espera, ficarei muito feliz em receber vossos conselhos a esse respeito.”
1. Evocação de Clara Rivier. – R. Estou junto de vós, disposta a responder.
2. De onde vos chegavam, embora tão jovem e sem instrução, as idéias elevadas que exprimíeis sobre a vida futura, antes de vossa morte? – R. Do pouco tempo que passaria sobre o vosso globo e de minha precedente encarnação. Era médium quando deixei a Terra, e era médium retornando entre vós. Era uma predestinação; eu sentia e via o que dizia.
3. Como ocorre que uma criança de vossa idade nunca haja lamentado durante quatro anos de sofrimentos? – R. Porque o sofrimento físico era dominado por uma força maior, a do meu anjo guardião, que via continuamente junto de mim; ele sabia aliviar tudo o que eu sentia; tornava a minha vontade maior do que a dor.
4. Como fostes prevenida do instante de vossa morte? – R. Meu anjo guardião mo disse; ele nunca me enganou.
5. Dissestes ao vosso pai: “Consola-te, retornarei para te visitar.” Como ocorre que, animada de tão bons sentimentos por vossos pais, viésseis atormentá-los depois de vossa morte, fazendo barulho em sua casa? – R. Eu tinha, sem dúvida, uma prova, ou antes uma missão a cumprir. Se vim rever os meus pais, credes que isso fosse para nada? Esses ruídos, essa perturbação, essas lutas levadas pela minha presença, foram uma advertência. Fui ajudada por outros Espíritos, cuja turbulência tem uma importância, como tem a minha, aparecendo à minha irmã. Graças a nós, muitas convicções vão nascer. Meus pais tinham uma prova a sofrer; ela cessará logo, mas somente depois de ter dado a convicção a uma multidão de Espíritos.
6. Assim, não fostes vós, pessoalmente, que causastes essa perturbação? – R. Fui ajudada por outros Espíritos que servem à prova reservada aos meus queridos pais.
7. Como ocorre que a vossa irmã vos reconheceu, se não fostes vós que produzistes essas manifestações? – R. Minha irmã não viu senão eu. Ela possui agora uma segunda vista, e não foi a última vez que a minha presença virá consolá-la e encorajá-la.
8. A esmola geral que foi aconselhada aos vossos pais terá por efeito fazer cessar essa obsessão? – R. A obsessão acabará quando o tempo requerido para isso tiver chegado; mas, crede-o, a prece e a fé dão uma grande força para dominar a obsessão; a esmola por si mesma é uma prece; ela serve para consolar, e por aí nos ajuda a levar a convicção em muitos corações; é pela fé que devemos reerguer e salvar toda uma população; que importa se os inimigos do Espiritismo gritam ao demônio! Esse grito, em todos os tempos, levou a conhecê-lo, e para um que se curva, há cem cuja curiosidade leva a estudar. A obsessão e a subjugação são, é verdade, provas para aqueles que delas são objetos, mas, ao mesmo tempo, são um caminho aberto às convicções novas. Esses fatos forçam a falar dos Espíritos, dos quais não se pode negar a existência, vendo o que eles fazem.
Nota. Parece evidente que, nessa circunstância, a esmola aconselhada ao casal Ri- vier era, ao mesmo tempo, uma prova para eles, mais ou menos aproveitável segundo a maneira pela qual fora feita, e um meio de chamar a atenção, a um número maior de pessoas, sobre esses fenômenos. É um meio de provar que o Espiritismo não é a obra do demônio, uma vez que aconselha o bem e a caridade para combater o que chamam demônios. Que podem os adversários do Espiritismo contra manifestações desse gênero? Pode-se proibir de se ocupar dos Espíritos, mas não se pode impedir os Espíritos de vi- rem, e a prova disso é que essas manifestações se produzem nas próprias casas onde não se procura provocá-las, e que, pela sua reputação de santidade, pareciam dever desafiá-los, se fosse o diabo. Contra os fatos não há nem oposição nem negação que possam prevalecer: de onde se conclui que o Espiritismo deve seguir seu curso.
9. Por que, tão jovem, fostes afligida com tantas enfermidades? – R. Eu tinha faltas anteriores a expiar; fiz mau uso da saúde e da posição brilhante que gozava em minha precedente encarnação; então Deus me disse: “Gozastes grandemente, desmesurada- mente, sofrerás da mesma forma; eras orgulhosa, serás humilde; eras altiva por tua beleza e serás abatida; em lugar da vaidade esforçar-te-ás para adquirir a bondade e a caridade. “Fiz segundo a vontade de Deus, e o meu anjo guardião me ajudou.
10. Quereríeis dizer alguma coisa aos vossos pais? – R. A pedido de um médium, meus pais fizeram muita caridade; tiveram razão em não orarem sempre com os lábios: é necessário fazê-lo com a mão e com o coração. Dar àqueles que sofrem é orar, é ser Espírita.
Deus deu a todas as almas o livre arbítrio, quer dizer, a faculdade de progredir; a todas deu a mesma aspiração, e é por isso que a roupa de lã toca de mais perto a roupa de brocado de ouro do que se pensa geralmente. Também , encurtais as distâncias pela caridade; introduzi o pobre em vossa casa, encorajai-o, elevai-o, não o humilheis. Se se soubesse praticar, por toda parte, essa grande lei da consciência, não se teriam mais, em épocas determinadas, essas grandes misérias que desonram os povos civilizados, e que Deus envia para castigá-los e para abrir-lhes os olhos.
Caros pais, orai a Deus; amai-vos; praticai a lei do Cristo; não façais aos outros o que não gostaríeis que vos fizessem: implorai a Deus que vos prove, mostrando-vos que a sua vontade é santa e grande como ele. Sabei, em previsão do futuro, vos armar de coragem e de perseverança, porque estais ainda chamados a sofrer; é necessário saber merecer uma boa posição num mundo melhor, onde a compreensão da justiça divina se torna a punição dos maus Espíritos.
Estarei sempre junto de vós, queridos pais. Adeus, ou antes, até breve. Tende a resignação, a caridade, o amor de vosso semelhante, e sereis felizes um dia.
CLARA.
Notas. – É um belo pensamento este: “A roupa de lã toca de mais perto do que se não crê a roupa de brocado de ouro.” É uma alusão aos Espíritos que, de uma existência a outra, passam de uma posição brilhante a uma posição humilde ou miserável, porque, freqüentemente, expiam num meio ínfimo o abuso que fizeram dos dons que Deus lhe concedera. É uma justiça que todo o mundo compreende.
Um outro pensamento, não menos profundo, é aquele que atribui a calamidade dos povos à infração da lei de Deus, porque Deus castiga os povos como castiga os indivíduos. E certo que se praticassem a lei de caridade, não haveria nem guerras, nem grandes misérias. É à prática dessa lei que o Espiritismo conduz; seria, pois, por isso que encontra inimigos tão obstinados? As palavras desta menina aos seus pais são as de um demônio?
E.S.E Capítulo 13. Itens 1, 2, 3 – Fazer o bem sem ostentação.
1. Tende cuidado em não praticar as boas obras diante dos homens, para serem vistas, pois, do contrário, não recebereis recompensa de vosso Pai que está nos céus. -Assim, quando derdes esmola, não trombeteeis, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem louvados pelos homens. Digo-vos, em verdade, que eles já receberam sua recompensa. – Quando derdes esmola, não saiba a vossa mão esquerda o que faz a vossa mão direita; – a fim de que a esmola fique em segredo, e vosso Pai, que vê o que se passa em segredo, vos recompensará. – (S. MATEUS, cap. VI, vv. 1 a 4.)
2. Tendo Jesus descido do monte, grande multidão o seguiu. – Ao mesmo tempo, um leproso veio ao seu encontro e o adorou, dizendo: Senhor, se quiseres, poderás curar-me. – Jesus, estendendo a mão, o tocou e disse: Quero-o, fica curado; no mesmo instante desapareceu a lepra. – Disse-lhe então Jesus: abstém-te de falar disto a quem quer que seja; mas, vai mostrar-te aos sacerdotes e oferece o dom prescrito por Moisés, a fim de que lhes sirva de prova. (S. MATEUS, cap. VIII, vv. 1 a 4.)
3. Em fazer o bem sem ostentação há grande mérito; ainda mais meritório é ocultar a mão que dá; constitui marca incontestável de grande superioridade moral, porquanto, para encarar as coisas de mais alto do que o faz o vulgo, mister se torna abstrair da vida presente e identificar-se com a vida futura; numa palavra, colocar-se acima da Humanidade, para renunciar à satisfação que advém do testemunho dos homens e esperar a aprovação de Deus. Aquele que prefere ao de Deus o sufrágio dos homens prova que mais fé deposita nestes do que na Divindade e que mais valor dá à vida presente do que à futura. Se diz o contrário, procede como se não cresse no que diz.
Quantos há que só dão na esperança de que o que recebe irá bradar por toda a parte o benefício recebido! Quantos os que, de público, dão grandes somas e que, entretanto, às ocultas, não dariam uma só moeda! Foi por isso que Jesus declarou: “Os que fazem o bem ostentosamente já receberam sua recompensa.” Com efeito, aquele que procura a sua própria glorificação na Terra, pelo bem que pratica, já se pagou a si mesmo; Deus nada mais lhe deve; só lhe resta receber a punição do seu orgulho.
Não saber a mão esquerda o que dá a mão direita é uma imagem que caracteriza admiravelmente a beneficência modesta. Mas, se há a modéstia real, também há a falsa modéstia, o simulacro da modéstia. Há pessoas que ocultam a mão que dá, tendo, porém, o cuidado de deixar aparecer um pedacinho, olhando em volta para verificar se alguém não o terá visto ocultá-la. Indigna paródia das máximas do Cristo! Se os benfeitores orgulhosos são depreciados entre os homens, que não será perante Deus? Também esses já receberam na Terra sua recompensa. Foram vistos; estão satisfeitos por terem sido vistos. E tudo o que terão.
E qual poderá ser a recompensa do que faz pesar os seus benefícios sobre aquele que os recebe, que lhe impõe, de certo modo, testemunhos de reconhecimento, que lhe faz sentir a sua posição, exaltando o preço dos sacrifícios a que se vota para beneficiá-lo? Oh! para esse, nem mesmo a recompensa terrestre existe, porquanto ele se vê privado da grata satisfação de ouvir bendizer-lhe do nome e é esse o primeiro castigo do seu orgulho. As lágrimas que seca por vaidade, em vez de subirem ao Céu, recaíram sobre o coração do aflito e o ulceraram. Do bem que praticou nenhum proveito lhe resulta, pois que ele o deplora, e todo benefício deplorado é moeda falsa e sem valor.
A beneficência praticada sem ostentação tem duplo mérito. Além de ser caridade material, é caridade moral, visto que resguarda a suscetibilidade do beneficiado, faz-lhe aceitar o benefício, sem que seu amor-próprio se ressinta e salvaguardando-lhe a dignidade de homem, porquanto aceitar um serviço é coisa bem diversa de receber uma esmola. Ora, converter em esmola o serviço, pela maneira de prestá-lo, é humilhar o que o recebe, e, em humilhar a outrem, há sempre orgulho e maldade. A verdadeira caridade, ao contrário, é delicada e engenhosa no dissimular o benefício, no evitar até as simples aparências capazes de melindrar, dado que todo atrito moral aumenta o sofrimento que se origina da necessidade. Ela sabe encontrar palavras brandas e afáveis que colocam o beneficiado à vontade em presença do benfeitor, ao passo que a caridade orgulhosa o esmaga. A verdadeira generosidade adquire toda a sublimidade, quando o benfeitor, invertendo os papéis, acha meios de figurar como beneficiado diante daquele a quem presta serviço. Eis o que significam estas palavras: “Não saiba a mão esquerda o que dá a direita.”
Ref. 889 – Não há homens reduzidos à mendicância por suas faltas?
– Sem dúvida, mas se uma boa educação moral os houvesse ensinado a praticar a lei de Deus, eles não cairiam nos excessos que causam sua perda; é disso sobretudo que depende o melhoramento do vosso globo. (707).
Livro dos Espíritos 707.
Os meios de existência, freqüentemente, fazem falta a certos indivíduos, mesmo em meio à abundância que os cerca; a que se deve atribuir isso?
– Ao egoísmo dos homens, que não fazem sempre o que devem; depois, e o mais freqüentemente, a eles mesmos. Procurai e encontrareis; estas palavras não querem dizer que basta olhar a terra para encontrar o que se deseja, mas que é preciso procurá-lo com ardor e perseverança, e não com fraqueza, sem se deixar desencorajar pelos obstáculos que, freqüentemente, não são senão meios de pôr à prova vossa constância, vossa paciência e vossa firmeza. (534)
Se a civilização multiplica as necessidades, ela multiplica também as fontes de trabalho e os meios de viver; mas é preciso convir que, sob esse aspecto, muito lhe resta ainda a fazer. Quando ela tiver terminado sua obra, ninguém poderá dizer que lhe falta o necessário, senão por sua falta. A infelicidade, para muitos, resulta de tomarem um caminho que não é aquele que a Natureza lhes traçou; então lhes falta a inteligência para terem êxito. Há para todos lugar ao Sol, mas com a condição de aí tomar o seu, e não o dos outros. A Natureza não poderia ser responsável pelos vícios da organização social e pelas conseqüências da ambição e do amor-próprio.
Entretanto, precisar-se-ia ser cego para não se reconhecer o progresso que se efetua sob esse aspecto entre os povos mais avançados. Graças aos louváveis esforços que a filantropia e a ciência juntas não cessam de fazer para o melhoramento do estado material dos homens, e malgrado o aumento incessante das populações, a insuficiência da produção atenuada pelo menos em grande parte, e os anos mais calamitosos não têm nada de comparável aos de outrora. A higiene pública, esse elemento tão essencial da força e da saúde, desconhecida de nossos pais, é objeto de uma solicitude esclarecida. O infortúnio e o sofrimento encontram lugares de refúgio. Por toda a parte a Ciência contribui para aumentar o bem-estar. Pode-se dizer que se alcançou a perfeição? Oh, certamente, não; mas o que se fez dá medida do que se pode fazer com a perseverança, se o homem for bastante sábio para procurar a sua felicidade nas coisas positivas e sérias, e não nas utopias que o fazem recuar ao invés de avançar.
4. AMOR MATERNAL E FILIAL
Ref. 890 – O amor maternal é uma virtude ou um sentimento instintivo comum aos homens e aos animais?
– É uma e outra coisa. A Natureza deu à mãe o amor pelos filhos no interesse de sua conservação. Mas entre os animais esse amor é limitado às necessidades materiais e cessa quando os cuidados tornam-se inúteis. Entre os homens ele persiste por toda a vida, e comporta um devotamento e uma abnegação que são da virtude. Sobrevive mesmo à morte e segue o
filho além do túmulo. Bem vedes que há nele outra coisa mais do que no animal. (205-385).
Livro dos Espíritos 205.
Na opinião de certas pessoas, a doutrina da reencarnação parece destruir os laços de família fazendo-os remontar às existências anteriores.
– Ela os estende, mas não os destrói. A parentela, estando baseada sobre as afeições anteriores, os laços que unem os membros de uma família são menos precários. Ela aumenta os deveres da fraternidade, visto que, entre os vizinhos ou entre os servidores, pode se encontrar um Espírito que esteve ligado a vós pelos laços consangüíneos.
– Ela diminui, entretanto, a importância que alguns dão à sua genealogia, visto que, pode ter por pai um Espírito pertencente a outra raça e vindo de uma condição diferente?
– É verdade, mas essa importância se baseia no orgulho; o que a maioria honra em seus ancestrais, são os títulos, posição e fortuna. Alguém que coraria por ter como antepassado um honesto sapateiro, se gabaria de descender de um gentil-homem debochado. Mas o que quer que digam ou façam, não impedirão que as coisas sejam como são, porque Deus não regulou as leis da Natureza pela sua vaidade.
Livro dos Espíritos 385.
De onde provém a mudança que se opera no caráter, a uma certa idade, e particularmente ao sair da adolescência? É o Espírito que se modifica?
– É o Espírito que retoma sua natureza e se mostra como ele era. Não conheceis os segredos que escondem as crianças em sua inocência; não sabeis o que são, o que foram e o que serão, e, todavia, as amais, as quereis bem como se fossem uma parte de vós mesmos, a tal ponto que o amor de uma mãe por seus filhos é considerado o maior amor que um ser pode ter por um outro ser. De onde vem essa doce afeição, essa terna benevolência que mesmo os estranhos experimentam para com uma criança? Vós sabeis? não; é isso que vou explicar-vos.
As crianças são os seres que Deus envia em novas existências e, para que não lhes possa impor uma severidade muito grande, dá-lhes todas as aparências da inocência. Mesmo para um criança naturalmente má, cobrem-se-lhe as faltas com a não-consciência dos seus atos. Essa inocência não é uma superioridade real sobre o que eram antes; não, é a imagem do que elas deveriam ser e, se não o são, é sobre elas somente que recai o castigo.
Mas não é somente por elas que Deus lhes dá esse aspecto, é também e sobretudo por seus pais de cujo amor sua fraqueza necessita; esse amor seria singularmente enfraquecido à vista do caráter impertinente e rude, enquanto que crendo seus filhos bons e dóceis, dão-lhes toda a sua afeição e os cumulam de atenções as mais delicadas. Mas, logo que os filhos não têm mais necessidade dessa proteção, dessa assistência, que lhes deram durante quinze ou vinte anos, seu caráter real e individual reaparece em toda a sua nudez. Conservam-se bons se eram fundamentalmente bons, mas se revestem sempre de matizes que estiveram ocultos pela primeira infância.
Vedes que os caminhos de Deus são sempre os melhores e, quando se tem o coração puro, a explicação é facilmente concebida.
Com efeito, imaginai que o Espírito das crianças que nascem entre vós pode vir de um mundo onde tomou hábitos muito diferentes; como quereríeis que permanecesse em vosso meio esse novo ser que vem com paixões diferentes das que possuís, com inclinações e gostos inteiramente opostos aos vossos? Como quereríeis que ele se incorporasse em vossas fileiras de outra forma que aquela que Deus quis, quer dizer, pela peneira da infância? Aí se confundem todos os pensamentos, todos os caracteres, todas as variedades de seres engendrados por essa multidão de mundos nos quais crescem as criaturas. Vós mesmos, morrendo, vos encontrareis em uma espécie de infância entre novos irmãos e na vossa nova existência não-terrestre ignorais os hábitos, os costumes, as relações desse novo mundo para vós. Manejareis com dificuldade uma língua que não estais habituados a falar, língua mais viva do que é hoje o vosso pensamento. (319).
A infância tem, ainda, uma outra utilidade: os Espíritos não entram na vida corporal senão para se aperfeiçoar, se melhorar; a fraqueza da pouca idade os torna flexíveis, acessíveis aos conselhos da experiência e daqueles que os devem fazer progredir. É quando se pode reformar seu caráter e reprimir-lhes as más inclinações; tal é o dever que Deus confiou aos pais, missão sagrada pela qual deverão responder. Por isso, a infância não é somente útil, necessária, indispensável, mas ainda ela é a conseqüência natural das leis que Deus estabeleceu e que regem o Universo.
E.S.E Capítulo 6. Item 8.
8. Deus consola os humildes e dá força aos aflitos que lha pedem. Seu poder cobre a Terra e, por toda a parte, junto de cada lágrima colocou ele um bálsamo que consola. A abnegação e o devotamento são uma prece continua e encerram um ensinamento profundo. A sabedoria humana reside nessas duas palavras. Possam todos os Espíritos sofredores compreender essa verdade, em vez de clamarem contra suas dores, contra os sofrimentos morais que neste mundo vos cabem em partilha. Tomai, pois, por divisa estas duas palavras: devotamento e abnegação, e sereis fortes, porque elas resumem todos os deveres que a caridade e a humildade vos impõe. O sentimento do dever cumprido vos dará repouso ao espírito e resignação. O coração bate então melhor, a alma se asserena e o corpo se forra aos desfalecimentos, por isso que o corpo tanto menos forte se sente, quanto mais profundamente golpeado é o espírito. – O Espírito de Verdade. (Havre, 1863.).
Ref. 891 – Visto que o amor maternal está na Natureza, por que há mães que odeiam os filhos, e isso desde o seu nascimento?
– Algumas vezes, é uma prova escolhida pelo Espírito do filho, ou uma expiação se ele mesmo foi mau pai ou mãe má ou mau filho, numa outra existência (392). Em todos os casos, a mãe má não pode ser animada senão por um mau Espírito que se esforça por dificultar a existência do filho, a fim de que ele sucumba sob as provas que aceitou; mas esta violação das leis da Natureza não ficará impune, e o Espírito do filho será recompensado pelos obstáculos que haja superado.
Revista Espírita 1858 – Março.
O doutor Xavier, sobre diversas questões psicofisiológicas
Um médico de grande talento, que designaremos pelo nome de Xavier, morto há alguns meses, e que muito se ocupou com o Magnetismo, havia deixado um manuscrito destinado, pensava ele, a fazer uma revolução na ciência. Antes de morrer, havia lido O Livro dos Espíritos e desejado pôr-se em relação com o autor. A doença, com a qual sucumbiu, não lhe deixou tempo para isso. Sua evocação ocorreu a pedido de sua família, e as respostas, eminentemente instrutivas, que ela contém, nos animou a dela inserir um extrato, na nossa coletânea, suprimindo tudo o que é de interesse privado.
(…) 31. Por que país bons e virtuosos dão nascimento a crianças de natureza perversa? Dito de outro modo, por que as boas qualidades dos pais não atraem sempre, por simpatia, um bom Espírito para animar seu filho? – Resp. Um mau Espírito pede bons pais, na esperança de que seus conselhos lhe dirigirão para um caminho melhor.
32. Os pais podem, por seus pensamentos e suas preces, atrair para o corpo da criança um bom Espírito, antes que um Espírito inferior? – Resp. Não; mas podem melhorar o Espírito da criança que fizeram nascer é seu dever, crianças más são uma prova para os pais.
33. Concebe-se o amor maternal para a conservação da vida da criança, mas, uma vez que esse amor está na Natureza, por que há mães que odeiam seus filhos desde o seu nascimento? – Resp. Maus Espíritos que tratam de entravar o Espírito da criança, a fim de que ele sucumba sob a prova que quis.
Ref. 892 – Quando os pais têm filhos que lhes causam desgostos não são escusáveis por não terem para com eles a ternura que o teriam em caso contrário?
– Não, porque é um fardo que lhes é confiado, e sua missão é a de fazer todos os esforços para os reconduzir ao bem (582-583). Mas esses desgostos são, freqüentemente, o resultado dos maus costumes que os deixaram tomar desde o berço: colhem, então, o que semearam.
Livro dos Espíritos 582.
Pode-se considerar a paternidade como uma missão?
– É, sem contradita, uma missão; é ao mesmo tempo um dever muito grande e que obriga, mais do que o homem pensa, sua responsabilidade pelo futuro. Deus colocou o filho sob a tutela dos pais para que estes o dirijam no caminho do bem, e facilitou sua tarefa dando-lhe uma organização frágil e delicada que o torna acessível a todas as impressões. Mas há os que se ocupam mais em endireitar as árvores do seu jardim e as fazer produzir muitos e bons frutos, que endireitar o caráter de seu filho. Se este sucumbe por sua falta, carregarão a pena, e os sofrimentos do filho na vida futura recairão sobre eles, porque não fizeram o que dependia deles para seu adiantamento no caminho do bem.
Livro dos Espíritos 583.
Se uma criança se torna má, malgrado os desvelos de seus pais, estes são responsáveis?
– Não; porém, quanto mais disposições da criança são más, mais é penosa a tarefa, e maior será o mérito se eles conseguirem desviá-la do mau caminho.
– Se uma criança resulta um bom sujeito, malgrado a negligência ou os maus exemplos dos pais, estes retiram algum fruto?
– Deus é justo.
Outras considerações
Boa Nova – Capítulo 20 – Maria de Magdala.
(…) Na tua condição de mulher, já pensaste no que seria o mundo sem as mães exterminadas no silêncio e no sacrifício??Não são elas as cultivadoras do jardim da vida, onde os homens travam a batalha?!… Muitas vezes, o campo florescido se cobre de lama e sangue; entretanto, na sua tarefa silenciosa, os corações maternais não desesperam e reedificam o jardim da vida, imitando a Providência Divina, que espalha sobre um cemitério os lírios perfumados de seu amor!…
Maria de Magdala, ouvindo aquelas advertências, começou a chorar, a sentir no íntimo o deserto da mulher sem filhos. Por fim, exclamou:?- Desgraçada de mim, Senhor, que não poderei ser mãe!…?Então, atraindo-a brandamente a si, o Mestre acrescentou:
– E qual das mães será maior aos olhos de Deus??A que se devotou somente aos filhos de sua carne, ou?a que se consagrou, pelo espírito, aos filhos das outras? mães??
Aquela interrogação pareceu despertá-la para meditações mais profundas. Maria sentiu-se amparada por uma energia interior diferente, que até então desconhecera. A palavra de Jesus lhe honrava o espírito; Convidava-a a ser mãe de seus irmãos em humanidade, aquinhoando-os com os bens supremos das mais elevadas virtudes da vida. Experimentando radiosa felicidade em seu mundo íntimo, contemplou o Messias com os olhos nevoados de lágrimas e, no êxtase de sua imensa alegria, murmurou comovidamente:?- Senhor, doravante renunciarei a todos os prazeres transitórios do mundo, para adquirir o amor celestial que me ensinastes!… Acolherei como filhas as minhas irmãs no sofrimento procurarei os infortunados para aliviar-lhes as feridas do coração, estarei com aleijados e leprosos…?
O Consolador 189.
Que deve fazer a mãe terrestre para cumprir evangelicamente os seus deveres, conduzindo os filhos para o bem e para a verdade?
-No ambiente doméstico, o coração maternal deve ser o expoente divino de toda a compreensão espiritual e de todos os sacrifícios pela paz da família.
Dentro dessa esfera de trabalho, na mais santificada tarefa de renúncia pessoal, a mulher cristã acende a verdadeira luz para o caminho dos filhos através da vida.?A missão materna resume-se em dar sempre o amor de Deus, o Pai de Infinita Bondade, que pôs no coração das mães a sagrada essência da vida. Nos labores do mundo, existem aquelas que se deixam levar pelo egoísmo do ambiente particularista; contudo, é preciso acordar a tempo, de modo a não viciar a fonte da ternura.
A mãe terrestre deve compreender antes de tudo, que seus filhos, primeiramente, são filhos de Deus.
Desde a infância, deve prepara-los para o trabalho e para a luta que os esperam.
Desde os primeiros anos, deve ensinar a criança a fugir do abismo da liberdade, controlando-lhe as atitudes e concentrando-lhe as posições mentais, pois que essa é a ocasião mais propícia à edificação das bases de uma vida.
Deve sentir os filhos de outras mães como se fossem os seus próprios, sem guardar, de modo algum, a falsa compreensão de que os seus são melhores e mais altamente aquinhoados que os das outras.
Ensinará a tolerância mais pura, mas não desdenhará a energia quando seja necessária no processo da educação, reconhecida a heterogeneidade das tendências e a diversidade dos temperamentos.
Sacrificar-se de todos os modos ao seu alcance, sem quebrar o padrão de grandeza espiritual de sua tarefa, pela paz dos filhos, ensinando-lhes que toda dor é respeitável, que todo trabalho edificante é divino, e que todo desperdício é falta grave.
Ensinar-lhes-á o respeito pelo infortúnio alheio, para que sejam igualmente amparados no mundo, na hora de amargura que os espera, comum a todos os espíritos encarnados.
Nos problemas da dor e do trabalho, da provação e da experiência, não deve dar razão a qualquer queixa dos filhos, sem exame desapaixonado e meticuloso das questões, levantando-lhes os sentimentos para Deus, sem permitir que estacionem na futilidade ou nos prejuízos morais das situações transitórias do mundo.
Será ele no lar o bom conselho sem parcialidade, o estímulo do trabalho e a fonte de harmonia para todos.
Buscará na piedosa Mãe de Jesus o símbolo das virtudes cristãs, transmitindo aos que a cercam os dons sublimes da humildade e da perseverança, sem qualquer preocupação pelas gloriosas efêmeras da vida material.
Cumprindo esse programa de esforço evangélico, na hipótese de fracassarem todas as suas dedicações e renúncias, compete às mães incompreendidas entregar o fruto de seu labores a Deus, prescindindo de qualquer julgamento do mundo, pois que o Pai de Misericórdia saberá apreciar os seus sacrifícios e abençoarão as suas penas, no instituto sagrado da vida familiar.
E.S.E – Capítulo 17 – Item 2. Caracteres da perfeição.
Pois que Deus possui a perfeição infinita em todas as coisas, esta proposição: “Sede perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celestial”, tomada ao pé da letra, pressuporia a possibilidade de atingir-se a perfeição absoluta. Se à criatura fosse dado ser tão perfeita quanto o Criador, tornar-se-ia ela igual a este, o que é inadmissível. Mas, os homens a quem Jesus falava não compreenderiam essa nuança, pelo que ele se limitou a lhes apresentar um modelo e a dizer-lhes que se esforçassem pelo alcançar.
Aquelas palavras, portanto, devem entender-se no sentido da perfeição relativa, a de que a Humanidade é suscetível e que mais a aproxima da Divindade. Em que consiste essa perfeição? Jesus o diz: “Em amarmos os nossos inimigos, em fazermos o bem aos que nos odeiam, em orarmos pelos que nos perseguem.” Mostra ele desse modo que a essência da perfeição é a caridade na sua mais ampla acepção, porque implica a prática de todas as outras virtudes.
Com efeito, se se observam os resultados de todos os vícios e, mesmo, dos simples defeitos, reconhecer-se-á nenhum haver que não altere mais ou menos o sentimento da caridade, porque todos têm seu princípio no egoísmo e no orgulho, que lhes são a negação; e isso porque tudo o que sobreexcita o sentimento da personalidade destrói, ou, pelo menos, enfraquece os elementos da verdadeira caridade, que são: a benevolência, a indulgência, a abnegação e o devotamento. Não podendo o amor do próximo, levado até ao amor dos inimigos, aliar-se a nenhum defeito contrário à caridade, aquele amor é sempre, portanto, indício de maior ou menor superioridade moral, donde decorre que o grau da perfeição está na razão direta da sua extensão. Foi por isso que Jesus, depois de haver dado a seus discípulos as regras da caridade, no que tem de mais sublime, lhes disse: “Sede perfeitos, como perfeito é vosso Pai celestial.”
Considerações Finais
Livro “Deus Conosco” – Mensagem de 1938 – Sociedade de Estudos Espíritas
“(…) Certamente que os estudos da Doutrina, em seus variados aspectos, constituem pontos essenciais do estatuto que estabelecem suas diretrizes, mas julgamos de muita oportunidade e bom desejo de quantos se aproximam do labor doutrinário ávidos de luz e de conhecimentos, possuídos dos ideais unitivos, de cuja concretização nascerá a energia concentrada de todos, a fim de que se forme a consciência espírita no Brasil, junto dos indivíduos e das sociedades, energia essa da qual se deve esperar a renovação das atividades do homem comum, à base da filosofia cristã. Uma iniciativa dessa natureza merece a aprovação de todos os espíritos de boa vontade. Os tempos que correm são assinalados pelos mais estranhos fenômenos de ordem política e social, no seio de todos os povos. Uma onda reacionária parece dominar o pensamento moderno, fazendo-o regredir muitos séculos.
Medidas draconianas são aventadas pela política administrativa, com o fim de coibir-se os voos da liberdade espiritual. As místicas sociais se recolhem nos polos antagônicos e irreconciliáveis do extremismo, digladiando-se improficuamente. Quase todos os religiosos das igrejas diversas, na atualidade, na sua posição de indolência intelectual, tendem para o materialismo e para o nihilismo do século. E diante dos quadros dolorosos que caracterizam a época, qual deve ser a atitude mental de quantos de interessam pela solução dos graves problemas da vida? Alguns pensadores opinam pela doutrina da não-violência, mas considerando-se a necessidade da ação regeneradora, apelamos para a atitude desassombrada de todos os batalhadores, dentro da suprema resistência. E essa resistência calma e ativa, no setor do Espiritismo, deverá traduzir-se em movimentos renovadores, em luta contra a cristalização dos princípios regeneradores, a fim de que se verifique a sua aplicação plena à vida social, em combate contra o analfabetismo, contra o espírito sectário e separativista e em estudos, enfim, que objetivem o benefício e o esclarecimento de todos. Nessa obra, porém, são necessárias, acima de tudo, as armas da fraternidade e da tolerância. Vemos, pois, com carinho, essa iniciativa que se forma na mente dos bons trabalhadores da seara cristã, concitando-os à realização desses labores fecundos. O Espiritismo necessita da multiplicação de suas atividades junto de todos os núcleos das atividades humanas e, no Brasil, onde a semeadura evangélica é das mais abundantes e das mais promissoras, é preciso que se afine a mente geral nos profundos princípios da lógica e da moral cristã, sendo aconselhável que todos os elementos da Doutrina se unifiquem, em uma larga iniciativa de educação geral na codificação dos ensinamentos revelados, sem discussões esterilizadoras e sem exclusivismos dissolventes. Há necessidade de que se organize uma consciência espírita, na base da filosofia simples do Evangelho, apta a orientar os sentimentos coletivos num sentido de direção, dentro dos sagrados objetivos da paz e da fraternidade. É em virtude da ausência dessas diretrizes que muitas obras de benemerência social, filhas do esforço e da abnegação dos espiritistas, se têm perdido no confusionismo da época. Aos brasileiros generosos e pacifistas, por índole, cabe a grande tarefa de evangelizar, mas é preciso que os companheiros da causa da luz e da verdade se atirem, com desassombro e renúncia pessoal, ao trabalho de elucidação das massas, afastando-as do fanatismo, dos fetiches e do espírito de seita. Na Europa, onde o Espiritismo está mais ou menos encarcerado nas bibliotecas e nos laboratórios das convenções de toda ordem, o preconceito representa o mais sério obstáculo à formação de uma consciência coletiva dentro da filosofia de Jesus. Foi atendendo a essa situação, criada pelos preconceitos nas terras do Velho Mundo, que Charles Richet organizou a ciência metapsíquica, receoso de que os estudiosos europeus relegassem, a priori, os estudos do Espiritismo, desprezando-os como criminosa impertinência. A obra do sábio francês constitui o seu tato psicológico, em despertando a curiosidade indagadora dos seus contemporâneos, criando uma linha avançada para as suas pesquisas científicas, além dos métodos e das análises positivas.
Os estudos de Richet, portanto, apesar de sua complicada terminologia, não representam outra coisa senão a obra aferidora da codificação kardequiana. Que se forme, pois, a mentalidade cristã na oficina da solidariedade e do conhecimento e que, nesse trabalho, cheio de atividades renovadoras, possa cada discípulo trazer a sua coragem e o seu bom desejo para, na luta abençoada pela aquisição do esclarecimento, aprender a temperar devidamente o aço do caráter e o ouro do coração.
A Doutrina precisa de obreiros e de colaboradores devotados e nunca como agora houve tanta necessidade da iniciativa própria em favor do progresso geral. Se voltamos dos mistérios da morte falando aos homens da beleza dos planos divinos não é para que as criaturas se mergulhem num sonho beatífico e sim para que transformem os caminhos espinhosos e escuros da Terra em estradas de sabedoria e de felicidade real, com os seus esforços e com a sua operosidade. A movimentação dos estudos espíritas levará a efeito a dilatação da síntese e a simplificação de todos os princípios da filosofia cristã. Nesse campo vasto, onde se realizará a semeadura dos pensamentos esclarecidos e livres, através do intercâmbio de ideias, se bem dirigido pela tolerância e pela fraternidade de seus cultivadores muita luz há de brilhar para que se ilumine a paisagem ensombrada da face da Terra, a fim de que nos tornemos verdadeiros discípulos do único Mestre, que foi Jesus Cristo. Que todos estejam a postos e nos momentos oportunos não faltarão as vozes e as mãos amigas do Alto, a fim de prestarem auxílio aos bons trabalhadores. As possibilidades dos espíritos são também relativas, mas dentro da esperança imortal na Misericórdia Divina não esqueçamos, encarnados e desencarnados, da promessa de Jesus, que dá sempre de acréscimo àqueles a quem não faltam o esforço e a boa vontade.
EMMANUEL.