O Pensamento Espírita e a Psicologia, palestra 26.07.23
O Pensamento Espírita e a Psicologia
CELC – 26.07.23 – Vinícius José
Esse estudo surgiu, primeiro, de um gosto maior pelo tema. Percebi que gostar não é sinônimo de saber. E também para tentar entender o comportamento de algumas pessoas. Um amigo próximo, um parente, enfim, muitos “porquês” que ficavam sem resposta. Isso tudo até chegar na gente, pois que é mais fácil começar analisando o outro, reparando o outro, apontando o outro, sem saber que isso muitas vezes pode ser um mecanismo de fuga de nós mesmos (sobre os mecanismos de fuga vamos falar bastante mais a frente). Mas não tem como, o indivíduo pode rodar, rodar e rodar, mas nunca poderá fugir de si mesmo; a autoanálise um dia chega. Cedo ou tarde seremos compelidos a olhar para nós mesmos.
E a doutrina espírita nos oferece ferramentas não só para não fugirmos de nós mesmos, como também para nos ajudar a nos enfrentarmos com mais força, com mais firmeza, e conscientes, principalmente.
Não vamos aqui somente trazer a definição de psicologia de acordo com a doutrina. Isso seria um estudo de 2 minutos, e não de 2 horas.
Vamos na verdade trazer definições de alguns comportamentos humanos de acordo com os temas tratados por Joanna de Ângelis, em sua série psicológica: uma série de 16 livros que falam sobre psicologia sob a ótica espírita. Então, vamos conversar sobre comportamentos que muitas vezes nos trazem sofrimentos e nós nem sequer entendemos os motivos. Apenas reagimos, sem saber agir. O agir é consciente, já o reagir é impulsivo, é o inconsciente em ação, e não é assim que devemos agir sempre. Porque vocês acham que Paulo dizia: “Não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse eu faço”. Justamente porque o mal é o impulso difícil de controlar, e por isso sai automático, enquanto o bem é aspiração superior, mais difícil de alcançar.
Muitos dizem que a psicologia é difícil de entender, que Joanna de Ângelis tem uma linguagem difícil, mas estudando a doutrina, quando percebemos, naturalmente já estamos estudando psicologia, já estamos estudando nosso próprio comportamento, já estamos nos dispondo a fazer a própria terapia, que é: autoanálise seguida de esforço para melhora íntima, pois não adianta se esforçar para melhorar sem se conhecer, da mesma forma que não adianta se conhecer e não se esforçar para melhorar. São coisas entrelaçadas, onde uma depende da outra.
Aqui fazemos uma comparação simples: muitas vezes o individuo se depara com um câncer já em fase avançada, não deixando muitos recursos à medicina convencional. Se fosse descoberto com um exame de rotina, seria combatido com mais eficácia, e não tomaria conta do corpo, levando este a morte (porcentagem de cura é alta quando tratados no início).
Agora imaginemos nossos defeitos como canceres da alma, que consomem pouco a pouco nossa saúde espiritual e física. A autoanalise é o exame de rotina do espírito, é onde detectamos o orgulho, o egoísmo e a vaidade como doenças do espírito.
A autoanalise e o esforço pela própria melhora são o exame e a própria terapia para combater essas doenças da alma. Então, não vamos deixar para descobrir esses defeitos quando estivermos em um leito, a beira da morte do corpo físico. Lá o arrependimento vai ser maior. Vamos começar agora esse exame, e quem sabe até mesmo os canceres do corpo físico sejam evitados.
Existe uma frase popular que diz assim: “não deixe para amanhã o que se pode fazer hoje”. Essa frase geralmente é usada para realizações materiais: viagens, compras diversas, realizações profissionais. E por que não usamos essa frase para a reforma íntima? Por que a reforma sempre fica por último? Não sabemos o dia do nosso desencarne. Se for amanhã e eu não comecei hoje minha reforma íntima, então perdi toda minha existência. Pois estamos aqui para sermos melhores, superarmos as nossas más tendências. Essa melhora só virá com reforma íntima. Mas se eu vou desencarnar amanhã e começo minha reforma íntima hoje, com sinceridade e boa vontade, então alguma coisa já valeu a pena. Não saio de mãos vazias do mundo (conhecimento espiritual).
1 Biografia Joanna de Ângelis
Joanna de Ângelis, que realiza uma experiência educativa e evangélica de alto valor, tem sido colaboradora de Jesus nas suas diversas reencarnações: a ultima ocorrida em Salvador (1761-1822), como Sóror Joana Angélica de Jesus, foi irmã, escrivã e vigária, quando, em 1815, tornou-se Abadessa e, no dia 20 de fevereiro de 1822, defendendo corajosamente o Convento, a casa do Cristo, assim como a honra das jovens que ali moravam, foi assassinada por soldados que lutavam contra a Independência do Brasil, tornando-se Mártir. Na penúltima, vivida no México (1651-1695), como Sóror Juana Inés de la Cruz, foi a maior poetisa da língua hispânica. Certamente, vivera na época de São Francisco (século XIII), conforme se apresentou a Divaldo Franco, em Assis.
Também vivera no século I, como Joana de Cusa, piedosa mulher citada no Evangelho, que foi queimada viva ao lado do filho e de cristãos outros, no Coliseu de Roma.
Até o momento, através da psicografia de Divaldo Franco, é autora de 60 obras – 31 das quais traduzidas para oito idiomas e cinco transcritas em Braile. Além dessas Obras, já escreveu milhares de belíssimas mensagens.
Psicologia é um termo grego: psico (alma), logia (estudo), e foi utilizado pela primeira vez por Felipe de Melanchthon, nas universidades alemãs, em 1550. Antes disso, tudo que tinha relação com pensamento, linguagem, memória, era tratado pela filosofia.
Nas fontes que eu busquei, falou-se muito que a psicologia nasceu entrelaçada com a filosofia, porque a filosofia era o campo do conhecimento que estudava o comportamento humano, os valores morais, as correntes de pensamento, etc – e isso tudo envolve psicologia também.
Vamos trazer uma definição de psicologia do americano Charles Cofer, que diz: “A psicologia em geral é definida como o estudo ou a ciência do comportamento dos seres humanos e dos animais. Procura estabelecer teorias ou interferências a respeito da mente, a partir de informações que obtém sobre o comportamento. ”
Mas a psicologia como ciência nasceu mesmo no século XIX. Alguns autores dizem que nasceu em 1861, com a publicação do artigo Elements of Psychophysics de Gustav Theodor Fechner; outros dizem que nasceu em 1879, com a fundação do primeiro Instituto de Estudos Psicológicos, por Wilhelm Wundt na cidade de Leipizig, Alemanha. Isso influenciou o surgimento de algumas abordagens dentro do ramo, como Psicanálise, Behaviorismo, Funcionalismo, Estruturalismo, entre outras. As diferentes perspectivas ajudam a entender a complexidade humana e seus eventos, considerando fatores biológicos, psicológicos e socioculturais que impactam o comportamento e o pensamento das pessoas.
Que outra ciência surgiu também no século XIX trazendo questões profundas sobre o pensamento; comportamento humano; questões sobre as perturbações psíquicas sem explicação da medicina; questões que a filosofia não consegue responder – como: “de onde viemos? ”, “onde estamos? ”, e “para onde vamos? ” – Que ciência é essa?
R: Doutrina espírita.
Isso demonstra uma coordenação da espiritualidade em trazer os conhecimentos para a humanidade. Então quem quer se conhecer por meio da religião, temos a doutrina; quem ainda não chegou na doutrina e também quer se conhecer, encontra outros meios na psicologia convencional.
O SER CONSCIENTE (1993)
1.1 A PSICOLOGIA TRANSPESSOAL (Quarta força)
Criada por Abraham Maslow, em 1970.
Psicologia Transpessoal se trata de uma terapia concentrada em trabalhar os aspectos espirituais do ser humano. Antes de mais nada ela é realizada de maneira humanista e se vale de variados métodos para ganhar espaço e aprofundamento na questão espiritual do paciente. Ainda que tenha essa premissa, a mesma se baseia em teorias psicológicas para trabalhar.
Abaixo definição de Joanna de Ângelis, do Livro “O Ser Consciente”:
Os estudiosos da criatura humana, embora os rígidos controles exercidos pelas conquistas freudianas, anelavam por ampliar os horizontes da compreensão em torno de fenômenos complexos e abrangentes, transumanos, capazes de elucidar problemas profundos da personalidade.
As explicações junguianas amplas, procurando enfeixar nos arquétipos todas as ocorrências da paranormalidade, deixaram espaços para reformulações de conceitos e especulações que se libertam dos modelos e paradigmas acadêmicos, atendendo com mais cuidado, e observações menos ortodoxas, os acontecimentos desprezados, por considerados patológicos ou fraudulentos.
Vez que outra, surgiram ensaios e tentativas de ampliação de conteúdos, como efeito das experiências de Rhine, Wilber, Grof, Kübler Ross, Moody Jr., Maslow, Walsh, Vaughan, Assagioli, Capra e outros corajosos pioneiros, que se preocuparam em ir além dos padrões estabelecidos, penetrando a sonda da investigação no inconsciente e concluindo por novas realidades, antes execradas, lentamente acumulando dados capazes de suportar refutação, critica e desprezo.
Começaram a perceber que as abordagens psicológicas não estavam lidando com os problemas profundos da alma. Ainda ficavam algumas respostas. Na verdade, faltava um elemento para a psicologia progredir. Qual elemento seria esse? Lembrando que o pensamento dos psicologistas era material, eles consideravam o homem como um ser dual: alma e matéria.
Era necessário revisar o potencial humano em toda a sua complexidade, sem preconceitos nem receios. As teorias apressadas, que pretendiam reduzir a alma a um epifenômeno de vida efêmera, vinham sendo superadas pelas pesquisas de laboratório na área da Parapsicologia, da Psicobiofisica, da Psicotrônica e da Ciência Espírita, cujos dados valiosos avolumaram-se de tal forma, com a contribuição da Transcomunicação Instrumental, que não havia outra alternativa senão ampliar o esquema de interpretação do psiquismo, criando-se o que se convencionou denominar como a Quarta Força — além do Comportamentalismo (Behaviorismo), da Psicanálise e da Psicologia Humanista — que é a Psicologia Transpessoal ou profunda.
Então foi isso, vieram mais e mais pesquisas, e começou-se um questionamento sobre essa vida efêmera. Como assim, o homem nasce, vive e morre e acabou tudo? Essa questão começou a perturbar alguns cientistas.
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O ser dual — Espírito e matéria — do espiritualismo ortodoxo, permanece incompleto, deixando escapar incontáveis expressões de conteúdo, por falta do elemento intermediário, processador de inúmeros fenômenos que lhe completam a existência.
Somente quando estudado na sua plenitude — Espírito, períspirito e matéria — podem-se resolver todos os questionamentos e desafios que o compõem, alargando-lhe as possibilidades de desenvolvimento do deus interno, facultando completude, realização plenificadora, estado de Nirvana, de samadhi, ou de reino dos Céus que lhe cumpre alcançar.
Essa tarefa ficou para a psicologia transpessoal, que veio trazer uma nova compreensão do ser humano, como um ser imortal que está destinado à felicidade.
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Com base nisso, quando pensamos na psicologia transpessoal, é como se alargássemos as definições da psicologia clássica, e essa ciência passa então a compreender o ser humano em sua estrutura física, psíquica e transcendental.
Faltava compreender o ser humano como um ser trino (espírito, períspirito e matéria, um ser que reencarna), onde o períspirito é o que a Joanna chama de M.O.B. (Modelo organizador biológico) -> DNA para formar o feto puxa as informações do períspirito, e o perispiro modela o corpo de acordo com as necessidades expiatórias do indivíduo, isso explica as deficiências de nascença. Ex.: nascer sem braço ou com câncer no cérebro.
Aí entra a figura de Jesus, que foi um psicoterapeuta por excelência, justamente porque sabia que o ser humano é um ser essencialmente espiritual, então Ele trabalhava os problemas do inconsciente, principalmente a culpa, que é um dos maiores problemas da humanidade (obsessão), mas que é difícil de diagnosticar, por se manifestar de diversas maneiras. E só a doutrina nos oferece conhecimento suficiente para identificarmos a culpa e tratá-la.
Psicoterapeuta superior, Jesus não foi apenas o filósofo e o psicólogo que compreendeu os problemas humanos e ensejou conteúdos libertadores, mas permanece como terapeuta que rompeu as barreiras da personalidade dos pacientes e penetrou-lhes a consciência de onde arrancou a culpa, a fim de proporcionar a catarse (libertação) salvadora e a recomposição da individualidade aturdida, quando não em total infelicidade.
Possuidor de transcendente capacidade de penetração nos arquivos do inconsciente individual e coletivo, Ele tornou-se o marco mais importante da psicologia transpessoal, por adotar a postura mediante a qual considera o indivíduo um ser essencialmente espiritual, em transitória existência física, que faz parte do seu programa de autoburilamento.
Conscientizando as criaturas a respeito da sua responsabilidade pessoal diante da vida, estabeleceu terapias de invulgar atualidade, trabalhando a estruturação da personalidade, com o passo de segurança para a aquisição da consciência.
O que seria essa estruturação da personalidade? Não seria a reforma íntima? Eu não vejo outra interpretação. Paulo disse: “É necessário despir-se do homem velho e tornar-se homem novo. ”
No postulado não fazer ao próximo o que não deseja que ele lhe faça, estatuiu a condição de segurança para a identificação do indivíduo consigo mesmo, com o seu irmão e com o mundo no qual se encontra, proporcionando uma ética simples e facilmente aplicável, no inter-relacionamento pessoal, sem conflito nem culpa.
Então, quando aplico essa regra, não faço mal a ninguém, pois não ia querer o mal a mim mesmo, e dessa forma evito infortúnios no futuro. Questão simples, que não colocamos em prática por conta do nosso egoísmo, que é o contrário desse ensinamento. O egoísmo é fazer ao próximo tudo que eu não gostaria que fizesse a mim. Levamos séculos para colocar o “não” no início dessa frase.
Da mesma forma, propondo o auto aperfeiçoamento pela superação das paixões dissolventes, trouxe o futuro para o presente, tornando o reino dos céus um estado de consciência lúcida, longe do sono, do sonho e das psicoses totalmente superadas.
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Graças ao advento da psicologia espírita com Allan Kardec, recupera-se o ser humano do conflito em que se encontrava, promovendo-o à condição de possuidor de valores preciosos que lhe cumpre desenvolver, embora a esforço de trabalho paciente e constante.
A quarta força, alargando as imensas possibilidades da psicologia, faz que sejam descortinadas as possibilidades ímpares para a perfeita integração da criatura com o seu Criador, e da sua com a Consciência Cósmica, pulsante e universal.
Nesse homem transpessoal cantam, então, as glórias da vida e se dilatam os dons nele existentes, em pleno desenvolvimento da sua realidade, que supera as culpas e as dores, as angústias e as inquietações, tornando-o pleno e feliz.
Jesus e Atualidade (1989)
É um livro que a Joanna pega alguns assuntos do cotidiano e fala como Jesus agia à época. Isso com qual objetivo? Nos fornecer mais exemplos sobre como agir caso a gente passe por essas situações.
1O pensamento de Jesus
A atualidade do pensamento de Jesus surpreende os mais cépticos estudiosos da problemática humana, sempre complexa e desafiadora, nestes dias.
Profundo conhecedor da psique, Jesus penetrava com segurança nos refolhos do indivíduo e descobria as causas reais das aflições que o inconsciente de cada um procurava escamotear (fazer desaparecer).
Existem mecanismos de fuga conscientes e inconscientes: o consciente é aquele que a pessoa se vê em uma situação desesperadora e fala: “nossa, preciso sair disso, preciso beber, preciso de uma droga, preciso me distrair”. Isso sempre com o intuito de fugir do problema, já que resolvê-lo demandaria tempo e paciência. Dos mecanismos de fuga inconscientes falaremos mais a frente.
Não se permitindo derivativos nem adiamentos, enfrentava as questões com elevado critério de sabedoria, que desnudava as mais intrincadas personalidades psicopatológicas, propondo com rigor a terapia compatível, elucidando quanto à responsabilidade pessoal e eliminando a sombra projetada sob a qual muitos se ocultavam.
Jesus cura o paralítico que não consegue entrar no tanque.
Jesus, em João 5;6 diz: “queres sem curado? ”
Depois em 5:15 diz? “Vá e não peques mais, para não te acontecer coisa pior”
O que isso significa? Olha, vá e se reforme, se melhore, pois senão você vai expiar de novo igual você estava expiando agora. Recebeu ajuda e agora é sua responsabilidade eliminar as sombras que existem dentro de você. Fazendo essa pergunta e tendo a resposta positiva do enfermo, Jesus trazia a pessoa para o processo terapêutico, deixando assim a responsabilidade da cura com a própria pessoa.
Por processos mais demorados, a psicologia profunda chega, no momento, às mesmas conclusões que Ele lograva com facilidade desde há dois mil anos.
Jesus era o Psicólogo supremo, nele reuniam-se todos os conhecimentos sobre o comportamento humano. Os eminentes estudiosos foram trazendo o conhecimento de forma gradativa, e agora a Psicologia Transpessoal vem compilar tudo isso e colocar Jesus no centro da psique humana, sendo o exemplo por excelência. Uma simples frase de Jesus já resumia tudo: “amai-vos e instruí-vos. ”. “Instruí-vos”, que Jesus fala, é também no sentido de conhecermos a nós mesmos. Sem o conhecimento somos ignorantes de nós mesmos, não sabemos nem por onde começar. E vemos que toda a terapia de Jesus tinha sua base na reencarnação. Não à toa, Joanna de Ângelis nos trás a psicologia Transpessoal, baseada também na reencarnação. A reencarnação é um ponto chave, um ponto de virada na vida das pessoas. Quando a pessoa passa a considerar a reencarnação como processo natural do Ser, muita coisa passa a fazer sentido e ela começa ali a entender os enigmas/segredos da vida, desconhecidos para ela até então. O próprio Allan Kardec, no Livro “O que é o espiritismo”, diz que a reencarnação veio trazer a resolução de um dos enigmas mais complicados para a humanidade, que é a famosa frase: “de onde eu vim, onde estou e para onde eu vou? ”.
Pegamos um exemplo drástico. Uma pessoa que foi abusada. Isso pode acarretar em inúmeros traumas, levando até ao suicídio. Mas a pessoa com o conhecimento da Lei de Causa e Efeito (Lei essa que se manifesta através da reencarnação), passa a considerar que nada acontece por acaso, e que todos os acontecimentos da vida têm um motivo justo. Ora, se Deus é bom, porque permitiria que seus filhos passassem por coisas tão injustas? Não faz sentido.
Então imagine essa pessoa em uma sessão de terapia, entendendo os mecanismos da reencarnação como forma de passar por provas e expiações (pagamento de dívidas). Pode ser que essa pessoa não se livre dos seus traumas de pronto, mas pelo menos ela vai ter uma noção maior de justiça; justiça divina, no caso. Tendo essa noção, talvez ela vá, aos poucos, diminuindo sua revolta com o mundo, com Deus, com as pessoas. Talvez ela entenda que o abusador foi instrumento de expiação para ela. E quem sabe a partir dai a pessoa não passa a se aceitar melhor, se cuidar mais?
Agora imaginem o dia em que essa Psicologia Transpessoal for comum como todas as outras abordagens psicológicas? Talvez tenhamos um mundo menos revoltado, com mais senso de justiça, com menos sede de vingança, com mais perdão…
2 Jesus e reencarnação
Não fosse Jesus reencarnacionista e toda a Sua mensagem seria fragmentária, sem suporte de segurança, por faltar-lhe a justiça na sua mais alta expressão propiciando ao infrator a oportunidade reeducativa, com o consequente crescimento para a liberdade a que aspira (Jesus e Atualidade, Joanna de Ângelis, 1999).
O que seria de Judas se não fosse a reencarnação? Ele jamais poderia reparar seu erro sem reencarnar.
O amor por Ele ensinado, se não tivesse como apoio a bênção do renascimento corporal ensejando recomeço e reparação, teria um caráter de transitória preferência emocional, com a seleção dos eleitos e felizes em detrimento dos antipáticos e desditosos.
A psicoterapia que Ele utilizava era centrada na reencarnação, por saber que o homem é o modelador do próprio destino, vivendo conforme o estabeleceu através dos atos nas experiências passadas.
Por tal razão, jamais condenou a quem quer que fosse, sempre oferecendo a ocasião para reparar o prejuízo e recuperar-se diante da própria, bem como da Consciência Divina.
Sem preferência ou disputa por alguém ou coisa alguma, a tudo e a todos amou com desvelo, albergando a humanidade de todos os tempos no Seu inefável afeto.
3 Jesus e tolerância
Em termos de psicologia profunda, a questão do julgamento das faltas alheias constitui um grave cometimento de desumanidade em relação àquele que erra.
O problema do pecado pertence a quem o pratica, que se encontra, a partir daí, incurso em doloroso processo de autoflagelação, buscando, mesmo que inconscientemente, liberar-se da falta que lhe pesa como culpa na economia da consciência.
A culpa é sombra perturbadora na personalidade, responsável por enfermidades soezes, causadoras de desgraças de vária ordem. Insculpida nos painéis profundos da individualidade, programa, por automatismos, os processos reparadores para si mesma.
Então é assim: a pessoa que está errando hoje, esse erro já está sendo gravado na consciência dela, e no momento oportuno, seja nessa existência ou em outras, isso vai exteriorizar de alguma forma, a depender da natureza do erro. Se ela erra muito na parte material, em determinada hora virá um problema material para expiar aquilo; se ela erra demasiadamente na parte moral, em alguma época distúrbios psíquicos podem ser desencadeados. E é por isso que não devemos nos comparar com quem faz coisas erradas e que parece que tudo dá certo, ao passo que nós estamos tentando fazer as coisas certas e parece que tudo dá errado. Essa pessoa pode ser o que nós fomos no passado, e no futuro, talvez ela esteja pior que nós.
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Julgando as ações que considera incorretas no seu próximo, realiza um fenômeno de projeção da sua sombra em forma de auto justificação, que não consegue libertá-lo do impositivo das suas próprias mazelas.
A tolerância, em razão disso, a todos se impõe como terapia pessoal e fraternal, compreendendo as dificuldades do caído, enquanto lhe distende mãos generosas para o soerguer.
Na acusação, no julgamento dos erros alheios, deparamos com propósitos escusos e vingança-prazer em constatar a fraqueza dos outros indivíduos, que sempre merecem a misericórdia que todos esperamos encontrar quando em circunstâncias equivalentes.
Nessa parte de reconhecer as fraquezas dos outros, facilmente vemos o orgulho em ação; é por conta do orgulho, que temos essa necessidade de constatar a fraqueza do outro como forma de nos comparar, por que comparando nos colocamos acima, e ficamos confortáveis. Se não encontramos grandes defeitos na pessoa, ficamos avaliando as qualidades dela; ficamos tentando encontrar brecha naquilo que ela faz para poder então apontar. Ermance Dufaux classifica isso como uma psicopatologia. É uma doença da nossa psique/do espírito.
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O Mestre estabeleceu a formosa imagem do homem que tem uma trave dificultando-lhe a visão, e, no entanto, vê o cisco no olho do seu próximo.
A proposta é rigorosa, portadora de claridade iniludível, que não concede pauta a qualquer evasão de responsabilidade.
Tem compaixão de quem cai. A consciência dele será o seu juiz.
Tolera o infrator. Ele é o teu futuro, caso não disponhas de forças para prosseguir bem.
A tolerância que utilizares para com os infelizes se transformará na medida emocional de compaixão que receberás, quando chegar a tua vez, já que ninguém é inexpugnável, nem perfeito.
Para mim, essa parte, esse final, é onde a autora nos dá um alerta; ela quer dizer que: observe como você julga a infelicidade alheia, você ainda tem muito a caminhar, ainda tem muitas pedras para encontrar no caminho. E quando essas pedras chegarem, elas terão o mesmo peso das pedras que você atirou; o julgamento de agora recairá sobre você. E eu pergunto: quantos hoje, estão sofrendo por serem julgados pelos outros? Aquela pessoa que fala: “mas meu Deus, eu não faço mal a ninguém, ajudo a todos, procuro me manter calado. No entanto, todos me jogam pedras, me xingam, me tratam mal mesmo eu os tratando bem. Que mundo injusto! ”
E isso geralmente dentro de casa, não é mesmo? A pessoa que mais me atira pedras provavelmente é aquela que ainda está com as feridas abertas das pedras que eu mesmo atirei. Então você vai se esforçar e essa pessoa nunca vai reconhecer nada em você, porque se se ela reconhecer ela vai ter que aceitar que você melhorou e ela não, então para ela sempre vai ser mais confortável te colocar abaixo dela. Você pode se tornar o Chico Xavier, que para ela você continua egoísta e orgulhoso. Já pensou o nosso bem-estar intimo ficar dependendo a aprovação dessa pessoa?
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O Homem Integral (1990)
1 Fatores de perturbação: ansiedade e medo
1.1 Ansiedade
Quando o homem foge da rotina, tende, às vezes, a adquirir comportamento ansioso que o desgasta. A ansiedade é uma das características mais habituais do comportamento contemporâneo.
Em uma sociedade competitiva e egoísta, o que predomina é a insegurança no mundo emocional das criaturas. As alterações na bolsa de valores; a retenção de gastos; a correria por aquisição de recursos; a disputa por cargos e funções bem remuneradas, geram insegurança geral e coletiva. Por outro lado, as guerras constantes; a prepotência de governos; os anúncios de enfermidades devastadoras; as tragédias ambientais; as catalogações de crimes violentos respondem pela inquietação em todos os meios sociais, levando a uma ansiedade generalizada e permanente.
A ansiedade tem manifestações e limites naturais. Quando se espera uma notícia, uma resposta, uma conclusão, é perfeitamente compreensível a ansiedade. Mas quando extrapola e passa a distúrbios respiratórios, tremores, sudorese, problemas no estômago, diarreia, insônia, torna-se um estado patológico, trazendo graves problemas para a vida.
Essa ansiedade para uma viagem, por uma notícia, essa é a ansiedade de adaptação. Agora quando passa a ter sintomas mais graves, podemos falar que é um transtorno de ansiedade.
Quem me conhece a mais tempo sabe que em 2019 eu era figurinha carimbada nos atendimentos de terça a noite. Tinha crises de ansiedade pesadas e acordava de madrugada com crises de pânico. E estudando nessa casa entendi que esses são problemas lá do intimo, do espírito, que devem ser trabalhados de dentro para fora, e não de fora para dentro. Então se o problema se resolve de dentro para fora, porque eu vou depositar toda confiança na minha cura em um compensado de moléculas que eu tiro da cartela, engulo e está tudo certo? Isso vai agir no corpo, não no espírito. Vai mascarar os sintomas e eu vou achar que está tudo certo. Não estamos criticando quem se medica, em alguns casos é necessário. Estou contando a minha experiência porque foi válida para mim. Eu segui o tratamento e as orientações da casa e melhorei. De qualquer forma, a crença total na medicação é um pensamento materialista.
Não foi fácil, mas eu me senti que foi a melhor coisa que fiz.
O Dr. Sérgio Felipe diz que a medicação é requerida quando a pessoa alimenta pensamentos negativos de tal forma, que isso causa um desequilíbrio químico e a pessoa sozinha não consegue mais combater aquilo porque gera o que ele chama de “atavismo celular” (comportamento cíclico). No caso da ansiedade, a pessoa tem desequilíbrio com a serotonina. Já a depressão é a serotonina junto com a noradrenalina. A medicação então quebra esse processo, aumenta os neurotransmissores que estão em baixa e é aí que o paciente deve mudar seus hábitos e pensamentos. Se a pessoa não aproveitar esse momento e mudar, aí ela ficará amiga dos psiquiatras e será sempre bem-vinda nas farmácias, porque estará sempre ou aumentando a dose ou trocando a medicação.
Isso tudo por quê? Porque remédio nenhum tem o poder de mudar seu pensamento. Se você é pessimista, o remédio não vai te tornar otimista. Se você é demasiadamente medroso, o remédio vai diminuir os sintomas da sua ansiedade, vai aumentar os neurotransmissores, mas não vai te tornar mais corajoso. Há coisas que nem o remédio mais caro e nem o melhor médico do mundo vai fazer por você, que é a mudança de pensamentos e hábitos.
O medo da morte é um grande causador de ansiedade, não à toa os casos de ansiedade e pânico aumentaram nesse período de pandemia. Foram 53 milhões de novos casos de depressão e 76 milhões de ansiedade em 2020. Por que? Por medo da morte.
Nasrudin e a peste
A Peste ia a caminho de Bagdá quando encontrou Nasrudin. Este perguntou-lhe:
– Aonde vais?
A Peste respondeu-lhe:
– Bagdá, matar dez mil pessoas.
Depois de um tempo, a Peste voltou a encontrar-se com Nasrudin.
Muito zangado, o homem disse-lhe:
– Mentiste-me. Disseste que matarias dez mil pessoas e mataste cem mil.
E a Peste respondeu-lhe:
– Eu não menti, matei dez mil. O resto morreu de medo.
São válidas, para esse momento de ansiedade e tormentos, as lições de Jesus sobre o amor ao próximo, a solidariedade fraternal, a compaixão, a oração (mudança de padrão vibratório), a fé, propiciadora de equilíbrio e paz.
O quanto as pessoas se sentiriam mais aliviadas sabendo que a vida após a morte é uma realidade.
1.2 Medo
Os fenômenos fóbicos procedem das experiências passadas — reencarnações fracassadas —, nas quais a culpa não foi liberada, face ao crime haver permanecido oculto, ou dissimulado, ou não justiçado, transferindo-se a consciência faltosa para posterior regularização. Ocorrências de grande impacto negativo, pavores, urdiduras perversas, homicídios programados com requintes de crueldade, traições infames sob disfarces de sorrisos produziram a atual consciência de culpa, de que padecem muitos atemorizados de hoje, no inter-relacionamento pessoal.
Outrossim, catalépticos sepultados vivos, que despertaram na tumba e vieram a falecer depois, por falta de oxigênio, reencarnam-se vitimados pelas profundas claustrofobias, vivendo em precárias condições de sanidade mental.
A pessoa que tem medo de lugar fechado, por exemplo, pode ser o caso de uma lembrança de algum trauma. Tem muitos casos que são lembranças.
Caso do acidente da chapecoense, em 2015.
A conclusão que tirei: se eu estiver consciente posso lidar com isso e não deixar que isso vire uma bola de neve no meu psiquismo. Sabendo que pode ser uma lembrança, conseguimos fazer o exercício de respirar, tomar consciência que isso é um medo do passado, que as circunstâncias não são as mesmas, e com isso a gente vai superando.
Foi nessa ocasião que eu entendi como o medo pode nos prejudicar.
Aí eu fiquei pensando: quantas pessoas estão perdendo oportunidades na vida por conta de medo, ansiedade?
Perdendo provas que as vezes ela veio só para superar aquilo. Eu mesmo, as vezes tudo aconteceu de uma forma que só ia depender de mim. E se eu não enfrento? Talvez esse medo virasse uma bola de neve e vai saber onde eu estaria agora.
Uma atitude muda todo o planejamento de uma vida.
O homem em busca do êxito: inseguranças e crises
1.3 Inseguranças e crises
As circunstâncias externas do inter-relacionamento das criaturas, fenômeno consequente ao desequilíbrio do indivíduo, engendram no contexto hodierno a insegurança, que fomenta as crises.
Noutras circunstâncias, ou em estado fetal, experimenta os choques geradores de insegurança, no comportamento da gestante revoltada diante da maternidade não desejada e até mesmo odiada. O jogo de reações nervosas, as vibrações deletérias da revolta contra o ser em formação, atingem-lhe os delicados mecanismos psíquicos, desarmonizando os núcleos geradores do futuro equilíbrio, sob as chuvas de raios destruidores, que os afetam irreversivelmente.
Quando íamos imaginar que muito de nossa insegurança começou quando nossa mãe descobriu a gravidez. Olha o tamanho da responsabilidade. A forma como uma mãe e pai pensa, pode surtir efeito danoso na criança. Todos nós, quando estamos iniciando uma fase difícil, gostaríamos de um apoio, uma força a mais. E é o caso do espirito que está reencarnando. Imagina você com um monte de tarefa nas costas, um monte de coisas para resolver, e aquela pessoa que te abriga, emite pensamento de revolta e raiva. Se é comigo eu falo: agora lascou mesmo, minha existência não vai valer de nada. Já na largada estou sendo recebido dessa forma.
Fora isso, tem a carga que o espirito já carrega de existências anteriores, que também gera insegurança. A culpa é o maior gerador e insegurança. Uma pessoa que tomou muitas decisões erradas, se arrependeu e agora não quer errar mais, essa pessoa vai ter dificuldades de tomar decisões agora. Culpa gera insegurança, insegurança gera crise individual, crise individual gera crise coletivas. Não vemos nos homens que causam guerras personalidades em crise? Divaldo no Livro “Sexo e Consciência” diz que Hitler tinha um grave transtorno na área sexual. Ele tinha ódio dele mesmo e descontava esse ódio na humanidade. A Joanna mesmo nos livros diz que os maiores ditadores eram todos inseguros. Eles estavam descontando na humanidade seus conflitos, estavam usando mecanismos de compensação.
Por desinformação ou fruto de um contexto imediatista consumista, elaborou-se a tese de que a segurança pessoal é o resultado do ter, que se manifesta pelo poder e recebe a resposta na forma de parecer. Todos os mecanismos responsáveis pelo homem e sua sobrevivência se estribam nessas propostas falsas, formando uma sociedade de forma, sem profundidade, de apresentação, sem estrutura psicológica nem equilíbrio moral.
Quando li isso me veio uma coisa à mente: será que não é por isso que muitas pessoas, muitos jovens querem ser ricos e bonitos? Com sua visão distorcida, o jovem inseguro busca se apoiar em alguma coisa e é quando pensam que a beleza e a riqueza irão preencher esse vazio, essa insegurança. Estudando a doutrina vemos que isso é pura ilusão. Quantos jovens ricos e belos, estão em festas nos finais de semana usando drogas, bebendo, buscando o sexo sem compromisso? Se fossem realmente felizes, seguros com suas belezas e riquezas, será que não estariam em casa, com seus familiares, buscando hábitos saudáveis? Porque o uso de drogas, bebidas, sexo sem compromisso, já está claro para nós que é um comportamento de fuga. O jovem sente um mal-estar intimo, uma insegurança, e aí para fugir disso ele entorpece o sistema nervoso. Ele só esquece que quando passa o efeito, volta tudo de novo, é quando ele busca mais e mais fugir daquilo e entra no vício.
Você pega jovens ricos aí, e muitos dizem: “eu tenho boa aparência, tenho boa condição financeira, tenho uma família grande, mas no fundo sinto que não tenho nada. ” as coisas de fora não o preenchem, e quanto mais ele busca as coisas de fora, mais ele se frustra, por nunca se sente completo. Caso da corrupção. O corrupto deposita tudo no dinheiro, ele quer se sentir preenchido no ganho material. Ela desvia 10 mil, o vazio continua e ele se frustra, daí ele desvia 50 mil, se frustra de novo, desvia 1 milhão e a insatisfação interna continua atormentando… aí não tem fim, uma hora ele vai desviar milhões e o conflito continuará lá, porque o materialismo não alimenta ninguém. Para o sexo é o mesmo mecanismo.
A educação, a psicoterapia, a metodologia da convivência humana deve estruturar-se em uma consciência de ser, antes de ter; de ser, ao invés de poder, de ser, embora sem a preocupação de parecer. Os valores externos são incapazes de resolver as crises internas, aliás, não poucas vezes, desencadeando-as.
Fico pensando: será que muitas crises que temos não revelam um cansaço do espírito em fugir de nós mesmos? Coloquei tanta sujeira por baixo do tapete que agora o tapete está cheio de calombos e quando eu ando eu tropeço. É para se pensar no assunto… porque uma série de 16 livros de psicologia, onde todos citam a fuga do ser humano de si mesmo, então quer dizer que é uma questão grave. Eu pelo menos tenho pensado muito nisso.
A coragem para os enfrentamentos, sem violência ou recuos, capacita-o para os logros transformadores do ambiente social, que deslocará para o passado a ocorrência das crises de comportamento, iniciando-se a era de construção ideal e de reconstrução ética (ter objetivo e atitudes corretas), jamais vivida antes na sua legitimidade.
A segurança íntima conseguida mediante o autodescobrimento, a humanização e a finalidade nobre que se deve imprimir à vida são fatores decisivos para a eliminação das crises, porquanto, afinal, a descrença que campeia e o desconcerto que se generaliza são defluentes do homem moderno que se encontra em crise momentânea, vitimado pela insegurança que o aturde.
2 Doenças contemporâneas: mecanismos de evasão do Ego
2.1 Mecanismos de evasão
Sabemos que a larga infância psicológica das pessoas é um dos maiores problemas do comportamento humano. A criança está habituada a ter suas necessidades e vontades supridas pelos pais. Logo a criança percebe que se ela chorar um pouco mais alto no mercado, os pais já compram o que elas querem por medo de passar vergonha (não são todos assim, mas acontece. Fica meia horinha no setor de doces ou brinquedo do mercado para constatar isso). Então, dependendo da maturidade psicológica de cada um, por conta dessa facilidade quando criança, ela alarga esse período e chega na idade adulta com esse mesmo comportamento egocêntrico. Ela se acomoda a exigir e ter, que chega uma hora ela no se esforça mais para nada. Quando vai ver, já é adulta e nem percebe. O amadurecimento psicológico não acompanha o desenvolvimento físico, porque são independentes. E essa responsabilidade é dividida entre os pais e o indivíduo. O individuo já traz um egocentrismo, e o comportamento dos pais potencializam isso.
Acreditando-se credora de todos os direitos, cria mecanismos inconscientes de evasão dos deveres, reagindo a eles pelas mais variadas como ridículas formas de atitude, nas quais demonstra a prevalência do período infantil.
Na generalidade, porém, o que sucede são as apresentações de adulto susceptível, medroso, instável, ciumento, que não superou a crise da infância, nela permanecendo sob conflitos lastimáveis.
As figuras domésticas representadas pelo pai e pela mãe permanecem em atividade emocional, no inconsciente, resolvendo os problemas ou atemorizando o indivíduo, que se refugia em mecanismos desculpistas para não lutar, mantendo-se distante de tudo quanto possa gerar decisão, envolvimento responsável, enfrentamento.
O que acontece é que os pais, em uma tentativa equivocada de evitar situações ruins para os filhos, acabam encapsulando esses filhos, e é quando molda uma personalidade acomodada, porque nunca se vê tendo que fazer esforços para conquistar as coisas. É aquela velha história: vou dar ao meu filho tudo que não tive. Até onde isso é mesmo vontade de dar tudo para o filho? Ou será que a pessoa inconscientemente não está tentando compensar no filho, uma carência que ela teve na infância dela? As vezes é só um mecanismo de compensação. Quando damos tudo, tiramos a oportunidade valiosa da criança ir ganhando autonomia aos poucos. Se a criança tem a sementinha do egoísmo no coração dela, eu quando dou de tudo e faço tudo, eu estou regando essa semente de uma forma muito eficaz. E qual o problema disso tudo? Quando a pessoa chegar na vida adulta, ela vai se deparar com situações que ela não vai saber lidar, o que vai gerar conflitos internos.
Instável emocionalmente, ama como fuga, buscando apoio, e transfere para a pessoa querida as responsabilidades e preocupações que lhe são pertinentes, tornando o vínculo afetivo insuportável para o eleito. Outras vezes, a imaturidade psicológica reage pela forma de violência, de agressividade, decorrentes dos caprichos infantis que a vida, no relacionamento social, não pode atender.
Neste caso nós vemos as mulheres e homens nos relacionamentos. Os pais sentem necessidade de cuidar e os filhos de serem cuidados. Isso é um arquétipo primordial (cuidado com a prole). Então, aquela mulher que não teve um pai presente, busca no namorado compensar essa falta, e ela sempre está frustrada, porque não encontra o pai no parceiro. E por ser um mecanismo inconsciente, ela não entende porque nunca ninguém a completa. Da mesma forma o homem carente demais por não ter a mãe, exige da mulher muito mais do que ela pode dar. É aquele cara que acha é dever da mulher lavar a roupa dele, fazer comida para ele, limpar a casa sozinha. Tudo que ele gostaria que a mãe dele tivesse feito quando ele era criança, ele exige da mulher. Nesses relacionamentos não existe amor, existe transferência de conflito psicológico.
O homem nasceu para se melhorar, se realizar. Quando transfere sua responsabilidade para o outro, ele fica estacionado. É uma coisa lógica.
Assim, cumpre-lhe libertar-se da infância psicológica, mediante as terapias competentes, que o desalgemam dos condicionamentos perniciosos, ao mesmo tempo trabalhando-lhe a vontade, para assumir as responsabilidades que fazem parte de cada período do desenvolvimento físico e intelectual da vida.
Partindo de decisões mais simples, o exercício de ações responsáveis, nas quais o insucesso faz parte dos empreendimentos, o homem deve evitar os mecanismos de evasão, assim como as justificativas sem sentido, tais: não tenho culpa, não estou acostumado, nada comigo dá certo, aí ocultando a sua realidade de aprendiz, para evitar as outras tentativas que certamente se farão coroar de êxitos.
As pessoas que usam muito essas frases ou outras semelhantes, se encaixam nesse mecanismo de fuga. Como que a culpa nunca é dela? Como que ela está sempre livre de erros? Não parece certo…
Toda fuga psicológica contribui para a manutenção do medo da realidade, não levando a lugar algum.
Conforme já comentado, uma série de 16 livros que todos tratam das fugas psicológicas, é porque é um assunto importante. E eu entendo que todos os nossos esforços devem ser em primeiro identificar quais são essas fugas, quais os gatilhos que as acionam, e o que devemos fazer para superá-las, pois se estamos nesse comportamento, é porque estamos evitando alguma coisa. Que coisa é essa que eu tanto evito? Eu mesmo? Por quê? Nossas fugas estão em nosso inconsciente, e por isso muitas vezes somos reféns de nós mesmos. Deve haver uma integração entre os dois polos – consciente e inconsciente – de forma que eu traga meus comportamentos do inconsciente para o consciente e partir daí comece a trabalhar para minha melhora. Porque tudo isso envolve nossa cura também, a cura que vem de dentro. Hoje vivemos em um mundo onde os médicos estão muito preocupados com o próximo. Ele quer te atender rápido para poder atender o próximo e assim diminuir a fila. O médico que se forma pensando em ganhos materiais é o primeiro que necessita de cura, porque Deus colocou recursos a disposição dele e ele não aproveitou para ajudar o próximo, pensou mais nele mesmo. E nós vamos deixar nossa saúde na mão deles? Não necessariamente. O médico foi educado para dar remédio. Antes de você falar alguma coisa ele já está te dando uma receita. Então isso, a cura, cabe a nós, não a médicos e terapeutas. São auxílios, mas quem opera a mudança somos nós, se observando, primeiramente, e trabalhando, posteriormente.
“Quem olha para fora sonha, mas quem olha para dentro desperta. ” – Carl Gustav Jung
Evolução para o terceiro milênio: tratado psíquico para o homem moderno, Carlos Toledo Rizzini – Catanduva, SP: EDICEL, 2016.
Introdução à Psicologia, Lannoy Dorin – Campos Elíseos, SP: Editora do Brasil, 1978.
O Novo testamento, Centro Bíblico de São Paulo – 4ª ed. – Editora “AVE MARIA” LTDA, 1969.
O Homem integral, pelo espírito Joanna de Ângelis – Psicografia de Divaldo Pereira Franco – Salvador, BA: Livraria Espírita Alvorada, 1990.
O ser consciente, pelo espírito Joanna de Ângelis – Psicografia de Divaldo Pereira Franco – Salvador, BA: Livraria Espírita Alvorada, 1993.
Jesus e atualidade, pelo espírito Joanna de Ângelis – Psicografia de Divaldo Pereira Franco – São Paulo, SP: Editora Pensamento, 1989.