Estudo Sobre a Revista Espírita – 1859, palestra 28.06.23
ESTUDO SOBRE A REVISTA ESPÍRITA – ANO II – 1859
28/06/2023 – CELC – Ellen
I. – DA INTRODUÇÃO
Uma das características da Revista Espírita de 1859 é que a mesma traz notícias sobre as condições de alguns Espíritos que foram personalidades reconhecidas na Terra, quando encarnados, tal como Mozart, Chopin, Plínio, o Moço, Voltaire, Frederico (Rei da Prússia), Swedenborg, Napoleão Bonaparte e Carlos IX (filho de Catarina de Médici). Abordaremos essas comunicações neste Estudo.
Ainda, trazemos as transcrições de artigos sobre o FENÔMENO DA TRANSFIGURAÇÃO, MUNDOS INTERMEDIÁRIOS OU TRANSITÓRIOS, MOBILIÁRIO DE ALÉM-TÚMULO/APARIÇÕES e sobre o LAR DE UMA FAMÍLIA ESPÍRITA.
É, pois, sobre este amplo material que, de forma singela, se trata este estudo.
II. – PLÍNIO, O MOÇO – MARÇO DE 1859
A Revista Espírita de Março de 1859 traz as respostas de PLÍNIO, O MOÇO, às perguntas que lhe foram dirigidas na sessão da Sociedade do dia 28 de janeiro de 1859.
Primeiramente, conforme pesquisa extraída da wikipedia – link: https://pt.wikipedia.org/wiki/Pl%C3%ADnio,_o_Jovem), e, também, do link:
https://historiologiaprotestante.blogspot.com/2016/12/carta-de-plinio-o-moco-ao-imperador.html, apresentamos breves considerações sobre quem foi Plinio, o Moço:
Caio Plínio Cecílio Segundo nasceu em 61 d.C. (na Itália) e morreu no ano de 114 d.C. (em “Bitínia”, atual Turquia). Era conhecido como Plínio, o Jovem, ou Plinio, o Moço, porque foi adotado por seu tio Plínio, o Velho.
Aos 18 anos já era advogado. Tornou-se, também, orador, jurista, político e foi nomeado pelo imperador Trajano (Imperador Romano de 98 a 117), seu amigo, o Governador Imperial da Bitínia (atual Turquia), nos anos 111-112 d.C.
Plinio, o Moço, estava com o seu tio Plínio, o Velho, no dia da grande erupção do Vesúvio (79 d.C.) que destruiu Pompeia (região no sul da Itália), mas não o acompanhou na viagem de barco até o vulcão em erupção que se revelaria mortal. Ele foi a única testemunha a deixar registros escritos, a respeito de como sucedeu tal erupção.
Comentário nosso: No livro Há Dois Mil Anos, psicografado por Chico Xavier, Emmanuel na roupagem física do Senador Romano Públio Lêntulus narra uma existência de lutas intensas, iniciando a partir do seu sonho premonitório (descrito no início do livro) e conta até sua morte em Pompeia, no ano 79, em razão das lavas do vulcão Vesúvio, cego e já voltado aos princípios de Jesus. |
Outrossim, Plinio, o Moço, tornou-se bastante conhecido, sobretudo por seu epistolário, um conjunto de 368 cartas, que formam dez livros.
A troca de cartas entre Plínio, o Moço, e o imperador Trajano, preservadas até os dias de hoje, são considerados um dos mais valiosos documentos para entender a organização e a vida cotidiana do império romano e as províncias da época.
Nelas, Plínio cita pela primeira vez o cristianismo num documento romano conhecido. Plínio trata sobre a questão religiosa que encontrou ao chegar a Bitínia. As religiões oficiais romanas estavam praticamente abandonadas e a nova religião dos cristãos havia se expandido por toda região (Ásia). Plínio (nomeado governador da Bitínia) escreveu ao Imperador Trajano admitindo que não tinha muita certeza de como lidar com os cristãos. Solicitou instruções de como proceder perante as denúncias contra os cristãos – vide livro “Epistolário de Plínio” 10,96 (livro 10, carta 96).
RESPOSTAS DE PLÍNIO, O MOÇO, AS PERGUNTAS QUE LHE FORAM DIRIGIDAS NA SESSÃO DA SOCIEDADE DO DIA 28 DE JANEIRO DE 1859.
Na Revista Espírita, de Março de 1859, Kardec traz as respostas que Plinio, o Moço, lhe respondeu na sessão da Sociedade do dia 28 de Janeiro de 1859 (trazemos apenas algumas das questões e respostas):
1. Evocação.
Resposta. – Falai; eu responderei.
2. Embora estejais morto há 1.743 anos, tendes recordação de vossa existência em Roma ao tempo de Trajano?
Resposta. – Por que, então, nós, Espíritos, não nos haveríamos de recordar? Lembrais-vos de muitos atos de vossa infância. Que é, pois, para o Espírito uma existência passada, senão a infância das existências pelas quais devemos passar antes de chegarmos ao fim de nossas provas? Toda existência terrena ou envolvida pelo véu material é uma caminhada para o éter e, ao mesmo tempo, uma infância espiritual e material: espiritual porque o Espírito ainda se acha no começo das provas; e material porque apenas está adentrando as fases mais grosseiras pelas quais deve passar, a fim de depurar-se e instruir-se.
3. Poderíeis dizer-nos o que tendes feito desde aquela época?
Resposta. – Seria longo dizer o que fiz; procurei fazer o bem; sem dúvida não quereis passar horas inteiras até que eu conte tudo; contentai-vos, pois, com uma resposta. Repito: procurei fazer o bem, instruir-me e levei criaturas terrestres e errantes a se aproximarem do Criador de todas as coisas, daquele que nos dá o pão da vida espiritual e material.
4. Que mundo habitais agora?
Resposta. – Pouco importa; estou um pouco em toda parte; o espaço é o meu domínio, bem como o de muitos outros. São questões que um Espírito sábio e esclarecido pela luz santa e divina não deve responder ou somente fazê-lo em ocasiões muito raras.
(…)
9. Defendias, perante Trajano, a causa dos cristãos perseguidos. Foi por simples razões humanitárias ou por convicção da veracidade de sua doutrina?
Resposta. – Eu tinha os dois motivos, mas o aspecto humanitário ocupava o segundo lugar.
10. Que pensais do vosso panegírico de Trajano?
Resposta. – Ele teria necessidade de ser refeito.
Comentário nosso: Panegírico é um discurso que possui finalidade de louvar um homem ilustre aos olhos dos seus contemporâneos e das gerações vindouras. O Panegírico a Trajano foi escrito por Plínio, o Moço, como sinal a agradecimento a Trajano, pelo cargo de cônsul, no ano 100 d.C. |
(…)
12. Folgamos em prestar justiça às vossas boas qualidades e, sobretudo, ao vosso desinteresse. Dizem que não exigíeis coisa alguma dos clientes que defendíeis. Esse desinteresse era assim tão grande em Roma quanto o é entre nós?
Resposta. – Não lisonjeeis as minhas qualidades passadas. Não lhes atribuo nenhuma importância. O desinteresse não é muito cultivado em vosso século. Em cada duzentos homens encontrareis apenas um ou dois verdadeiramente desinteressados; bem sabeis que é o século do egoísmo e do dinheiro. Os homens do presente são feitos de lama e revestidos de metal. Outrora havia coração, a verdadeira força dos antigos; hoje só existe a posição social.
13. Sem pretender absolver nosso século, parece-nos que ainda é preferível àquele em que vivestes, onde a corrupção atingia o seu apogeu e a delação nada conhecia de sagrado.
Resposta. – Faço uma generalização que é bem verdadeira. Sei que à época em que eu vivia não existia muito desinteresse; entretanto, havia aquilo que não possuís ou, pelo menos, que o possuís em dose muito fraca: o amor do belo, do nobre, do grande. Falo para todo o mundo. O homem do presente, sobretudo os povos do Ocidente, os franceses particularmente, têm o coração pronto para fazer grandes coisas, mas isso não passa de um relâmpago. Logo vem a reflexão e a reflexão pondera e diz: o positivo, o positivo antes de tudo; e o dinheiro e o egoísmo voltam a tomar a frente. Nós nos manifestamos justamente porque vos afastais dos grandes princípios dados por Jesus. Adeus. Ainda não o compreendeis.
Observação. – Compreendemos muito bem que nosso século ainda deixa muito a desejar; sua chaga é o egoísmo e o egoísmo gera a cupidez e a sede das riquezas. Sob esse aspecto está longe do desinteresse de que o povo romano ofereceu tantos exemplos sublimes em uma certa época, mas que não foi a de Plínio. No entanto seria injusto desconhecer a sua superioridade em mais de um ponto, mesmo sobre os mais belos tempos de Roma, que também tiveram os seus exemplos de barbárie. Havia, então, ferocidade até na grandeza e no desinteresse, ao passo que o nosso século será marcado pelo abrandamento dos costumes, pelos sentimentos de justiça e de humanidade que presidem a todas as instituições que vê nascer e, até, nas querelas entre os povos. Allan Kardec.
III. – DA MÚSICA DE ALÉM-TÚMULO – MOZART e CHOPIN – MAIO – 1859
Narra Allan Kardec que o Espírito de Mozart tinha ditado ao médium, Sr. Bryon-Dorgeval, um fragmento de sonata (música instrumental). Como meio de controle este último o fez ouvir por diversos artistas, sem lhes indicar a fonte, simplesmente perguntando-lhes o que achavam do trecho. Todos reconheceram, sem hesitação, o estilo de Mozart.
Foi executado na sessão da Sociedade do dia 8 de abril passado (1859), na presença de numerosos peritos, pela Srta. de Davans, aluna de Chopin e pianista distinta, que houve por bem prestar seu concurso.
Como elemento de comparação, a Srta. Davans executou previamente uma sonata que Mozart compusera quando vivo. Todos foram concordes em reconhecer não apenas a perfeita identidade do gênero, mas ainda a superioridade da composição espírita.
Em seguida um trecho de Chopin foi executado pela mesma pianista que, novamente, revelou o seu talento habitual. Não poderíamos perder essa ocasião para invocar os dois compositores, com os quais tivemos a seguinte conversa:
Antes de transcrevermos a entrevista com Mozart,
relembremos, em breves linhas, quem ele foi.
Sobre MOZART: Conforme pesquisa extraída do site clássico dos clássicos (link: https://classicosdosclassicos.mus.br/compositores/wolfgang-amadeus-mozart/), Wolfgang Amadeus Mozart (nasceu em 27/01/1756 e morreu em 05/12/1791, com 35 anos), foi um músico e compositor nascido na Áustria, considerado um dos maiores nomes da música erudita e um dos compositores mais importantes da história da música clássica. (período musical classicismo).
Menino prodígio, começou a tocar piano aos três anos de idade e compor aos cinco. Antes mesmo de completar seis anos, seu pai, também músico, o levou em turnês de enorme sucesso pela Europa. Foi o único compositor na história a escrever para todos os gêneros musicais e a “ser excelente em todos”, segundo seu biógrafo Stanley Sadie. Mozart morreu muito jovem, aos 35 anos de idade, mas deixou uma vasta obra com mais de 600 composições catalogadas.
ENTREVISTA COM MOZART DESCRITA NA REVISTA ESPÍRITA 1859
MOZART
1. Sem dúvida sabeis o motivo por que vos chamamos.
Resposta. – Vosso chamado me dá imenso prazer.
2. Reconheceis como tendo sido por vós ditado o trecho que acabamos de ouvir?
Resposta. – Sim, muito bem. Reconheço-o perfeitamente. O médium que me serviu de intérprete é um amigo que não me traiu.
3. Qual dos dois trechos preferis?
Resposta. – Sem comparação, o segundo (aquele que foi ditado por Mozart ao médium).
4. Por quê?
Resposta. – Nele a doçura e o encanto são, ao mesmo tempo, mais vivos e mais ternos.
Observação de Kardec. – São essas, realmente, as qualidades reconhecidas no trecho.
5. A música do mundo que habitais pode ser comparada à nossa?
Resposta. – Tereis dificuldades de compreender. Temos sentidos que, por ora, ainda não possuís.
6. Disseram-nos que em vosso mundo há uma harmonia natural, universal, que não encontramos na Terra.
Resposta. – É verdade. Aí na Terra fazeis a música; aqui, toda a Natureza faz ouvir sons melodiosos.
7. Poderíeis tocar piano?
Resposta. – Sem dúvida que posso, mas não o quero. Seria inútil.
8. Entretanto, seria poderoso motivo de convicção.
Resposta. – Não estais convencidos ainda?
Observação de Kardec. – Sabe-se que os Espíritos jamais se submetem a provas. Muitas vezes fazem espontaneamente aquilo que não lhes pedimos. Esta, aliás, entra na categoria das manifestações físicas, com as quais não se ocupam os Espíritos elevados.
9. Que pensais da recente publicação de vossas cartas?
Resposta. – Reavivaram bastante a minha lembrança.
Comentário nosso: Na REVISTA ESPÍRITA de Maio de 1858, Alla Kardec publicou 2 (duas) entrevistas que um de seus assistentes travou com o Espírito de Mozart. |
10. Vossa lembrança está na memória de todo o mundo. Poderíeis avaliar o efeito que essas cartas produziram na opinião pública?
Resposta. – Sim; tornei-me mais amado e as criaturas se apegaram muito mais a mim como homem do que antes.
Observação de Kardec. – Estranha à Sociedade, a pessoa que fez estas últimas perguntas confirma que foi exatamente essa a impressão produzida por aquela publicação.
11. Desejamos interrogar Chopin. Será possível?
Resposta. – Sim; ele é mais triste e mais sombrio do que eu.
Antes de transcrevermos a entrevista com Chopin,
relembremos, em breves linhas, quem ele foi.
Sobre CHOPIN: Conforme pesquisa extraída da wikipedia (link: https://pt.wikipedia.org/wiki/Fr%C3%A9d%C3%A9ric_Chopin/) Frédéric François Chopin (nasceu na Polônia em 22/02/1810 ou, em 01/03/1810 e morreu, em Paris, França, em 17/10/1849, com 39 anos). Foi um pianista polonês radicado na França e compositor para piano, do período musical romantismo (que veio depois do período musical classicismo).
É amplamente conhecido como um dos maiores compositores para piano e um dos pianistas mais importantes da história. Sua técnica refinada e sua elaboração harmônica vêm sendo comparadas historicamente com as de outros grandes compositores, como Mozart e Beethoven, assim como sua duradoura influência na música até os dias de hoje.
ENTREVISTA COM CHOPIN DESCRITA NA REVISTA ESPÍRITA 1859
CHOPIN
12. (Após a evocação.) – Poderíeis dizer-nos em que situação vos encontrais como Espírito?
Resposta. – Ainda errante.
13. Tendes saudades da vida terrena?
Resposta. – Eu não sou infeliz.
14. Sois mais feliz do que antes?
Resposta. – Sim, um pouco.
15. Dizeis um pouco, o que significa que não há grande diferença. O que vos falta para serdes mais feliz?
Resposta. – Digo um pouco em relação àquilo que poderia ter sido, porque, com minha inteligência, eu poderia ter avançado mais do que o fiz.
16. Esperais alcançar um dia a felicidade que vos falta atualmente?
Resposta. – Certamente ela virá. Antes, porém, serão necessárias novas provas.
17. Disse Mozart que sois sombrio e triste. Por quê?
Resposta. – Mozart disse a verdade. Entristeço-me por haver empreendido uma prova que não realizei bem e por não ter mais coragem de recomeçá-la.
18. Como considerais as vossas produções musicais?
Resposta. – Eu as prezo muito, mas em nosso meio fazemo-las melhores; sobretudo as executamos melhor. Dispomos de mais recursos.
19. Quem são, pois, os vossos executantes?
Resposta. – Temos às nossas ordens legiões de executantes, que tocam nossas composições com mil vezes mais arte do qualquer um dos vossos. São músicos completos. O instrumento de que se servem é a própria garganta, por assim dizer, e são auxiliados por alguns instrumentos, espécies de órgãos (instrumentos musicais), de uma precisão e de uma melodia que, parece, ainda não podeis compreender.
20. Sois errante?
Resposta. – Sim; isto é, não pertenço, com exclusividade, a nenhum planeta.
21. Os vossos executantes também são errantes?
Resposta. – Errantes como eu.
22. (A Mozart.) Poderíeis explicar-nos o que acaba de dizer Chopin? Não compreendemos essa execução por Espíritos errantes.
Resposta. – Compreendo vossa surpresa; entretanto, já vos dissemos que há mundos particularmente destinados aos seres errantes, mundos que lhes podem servir de habitação temporária, espécies de bivaques (acampamento provisório), de campos de repouso para esses espíritos fatigados por uma longa erraticidade, estado que é sempre um pouco penoso.
23. (A Chopin.) Reconheceis aqui um de vossos alunos?
Resposta. – Sim, parece.
24. Assistiríeis à vontade a execução de um trecho de vossa composição?
Resposta. – Isso me dará muito prazer, sobretudo se executado por alguém que de mim guardou uma boa recordação. Que ela receba os meus agradecimentos.
Comentário nosso: Chopin reconhece ali se encontrar presente sua antiga aluna, a pianista Srta. Davans, e se alegra com isto. |
25. Qual a vossa opinião sobre a música de Mozart?
Resposta. – Aprecio-a bastante. Considero Mozart como meu mestre.
26. Partilhais de sua opinião sobre a música de hoje?
Resposta. – Mozart disse que a música era mais bem compreendida em seu tempo do que hoje: isso é verdade. Entretanto, objetarei (em contraposição) que ainda existem verdadeiros artistas.
IV. – CONVERSAS FAMILIARES DE ALÉM-TÚMULO – AGOSTO – 1859
VOLTAIRE E FREDERICO
A Revista Espírita, em Agosto de 1859, traz diálogo obtido através de 2 (dois) médiuns que serviram de intérpretes a cada um desses 2 (dois) Espíritos.
Antes de transcrevermos o diálogo entre VOLTAIRE E FREDERICO,
relembremos, em breves linhas, quem foi Voltaire.
Consoante pesquisa extraída do ebiografia (link: https://www.ebiografia.com/voltaire/) e da wikipedia (link: https://pt.wikipedia.org/wiki/Voltaire) Voltaire nasceu em 21/11/1694 e faleceu em 30/05/1778, aos 83 anos. Voltaire era o pseudônimo (apelido) de François-Marie Arouet. Foi um filósofo, escritor francês, poeta, dramaturgo (autor de peças de teatro) e historiador.
Voltaire juntamente Montesquieu e Jean-Jacques Rousseau foram os três nomes mais significativos do Movimento Iluminista na França (O Iluminismo foi um movimento intelectual, que se tornou popular no século XVIII, conhecido como “Século das Luzes”. Surgido na França, a principal característica desta corrente de pensamento era o poder da razão acima da fé e da religião, para entender e solucionar os problemas da sociedade)
Voltaire foi um dos homens mais influentes do século XVIII, e foi, também, “conselheiro” de alguns reis, como é o caso de Frederico II, o grande, da Prússia. Seus livros foram lidos em toda a Europa.
Ele era famoso por sua sagacidade e suas críticas ao Cristianismo, especialmente à Igreja Católica Romana, ele criticava o poder da Igreja Católica e sua interferência no sistema político; ele, também, criticava a escravidão.
Voltaire era um defensor da liberdade de expressão, liberdade de religião e separação entre igreja e estado. Ele foi um importante pensador do iluminismo francês e suas ideias influenciaram muito nos processos da Revolução Francesa e de Independência dos Estados Unidos.
Agora relembremos, em breves linhas, quem foi Frederico II
Conforme pesquisa extraída da wikipedia (link: https://pt.wikipedia.org/wiki/Frederico_II_da_Pr%C3%BAssia) Frederico II (nasceu em 24/01/1712 e morreu em 17/08/1786) era filho do rei Frederico Guilherme I, governou o Reino da Prússia (foi um reino alemão) de 1740 a 1786 (reinou por 46 anos).
Suas realizações mais significativas incluíram vitórias militares, reorganização dos exércitos prussianos, patrocínio das artes e do Iluminismo e o sucesso final na Guerra dos Sete Anos contra as principais potências europeias da época. Ao fim de seu reinado, a Prússia havia aumentado muito seus territórios e se tornado uma verdadeira potência militar. Ele ficou conhecido como Frederico, “o Grande”, ou “o Único”.
Passemos à transcrição do diálogo descrito na Revista Espírita em Agosto de 1859, colhido de SESSÃO DA SOCIEDADE, REALIZADA EM 18 DE MARÇO DE 1859):
PERGUNTAS PRÉVIAS DIRIGIDAS A VOLTAIRE
1. Em que situação vos encontrais como Espírito?
Resposta. – Errante, mas arrependido.
2. Quais são as vossas ocupações como Espírito?
Resposta. – Rasgo o véu do erro que em vida imaginava ser a luz da verdade.
3. Que pensais de vossos escritos em geral?
Resposta. – Meu Espírito estava dominado pelo orgulho; aliás, eu tinha por missão impulsionar um povo na infância; minhas obras são a consequência disso.
(…)
5. Quando encarnado pensáveis no futuro após a morte?
Resposta. – Não acreditava senão na matéria, bem o sabeis; e ela morre.
6. Professáveis o ateísmo no verdadeiro sentido da palavra?
Resposta. – Eu era orgulhoso; negava a divindade por orgulho, com o que sofri e de que me arrependo.
7. Gostaríeis de conversar com Frederico, que também concordou em atender ao nosso apelo? Esta conversa seria instrutiva para nós.
Resposta. – Se Frederico quiser, eu me prontifico.
DIÁLOGO ENTRE VOLTAIRE e FREDERICO
Voltaire – Meu caro monarca, vedes que reconheço os meus erros e que estou longe de falar como nas minhas obras. Outrora, ofertávamos o espetáculo das nossas torpezas; agora somos obrigados a oferecer o do nosso arrependimento e do nosso desejo de conhecer a grande e pura verdade.
Frederico – Eu vos supunha menos bom do que realmente sois.
Voltaire – Uma potência, que somos obrigados a adorar e reconhecer em toda a sua soberania força nossa alma a proclamar, para aqueles de quem talvez abusamos, uma doutrina completamente oposta à que havíamos professado.
Frederico – É verdade, meu caro, mas não finjamos mais. É inútil: caíram todos os véus.
Voltaire – Deixamos tantos desastres à nossa retaguarda que precisaremos de muitas lágrimas, a fim de obtermos o perdão e sermos absolvidos. Nunca estaríamos suficientemente unidos para fazer esquecer e reparar os males que causamos.
Frederico – Confessemos também que o século que nos admirava foi muito pobre de julgamento e que bem pouco é preciso para deslumbrar os homens: nada mais que um pouco de audácia.
Voltaire – Por que não? Fizemos tanto barulho em nosso século!
Frederico – Foi esse barulho que, caindo de repente num completo silêncio, nos atirou na reflexão amarga, quase no arrependimento. Eu choro a minha vida, mas como me aborreço por não ser mais Frederico! E tu, de não seres mais o Senhor Voltaire!
Voltaire – Falai então por vós, majestade.
Frederico – Sim, eu sofro; mas não o repitas novamente.
Voltaire – Então abdicai (privar-se por vontade própria)! Mais tarde fareis como eu.
Frederico – Não posso…
Voltaire – Pedis-me que seja vosso guia; sê-lo-ei ainda. Tratarei apenas de não vos desencaminhar no futuro. Se puderdes ler, procurai aqui o que vos possa ser útil. Não são as altezas que vos interrogam, mas Espíritos que procuram e encontram a verdade com o auxílio de Deus.
Frederico – Tomai-me então pela mão; traçai-me uma linha de conduta, se o puderdes… esperemos… mas será para vós… Quanto a mim estou muito perturbado, e isso já dura um século.
Voltaire – Ainda me excitais o orgulho de valer mais do que vós. Isso não é generoso. Tornai-vos bom e humilde, para que eu mesmo seja humilde.
Frederico – Sim, mas a marca que a minha condição de majestade me deixou no coração impede-me sempre de humilhar-me como tu. Meu coração é firme como um rochedo, árido como um deserto, seco como uma arena.
Voltaire – Seríeis então um poeta? Eu não vos conhecia esse talento, Senhor.
Frederico – Tu finges, tu… só uma coisa peço a Deus: o esquecimento do passado… uma encarnação de prova e de trabalho.
Voltaire – É melhor. Uno-me também a vós, mas sinto que terei de esperar muito tempo a minha remissão e o meu perdão.
Frederico – Bem, meu amigo, então oremos juntos uma vez.
(…)
P. Agradecemos por terdes atendido ao nosso apelo, assim como o vosso amigo Voltaire.
Voltaire – Viremos quando quiserdes.
Frederico – Não me evoqueis demasiadamente… Não sou simpático.
P. Por que não sois simpático?
Resposta. – Eu desprezo e me sinto desprezível.
SESSÃO DA SOCIEDADE, REALIZADA EM 25 DE MARÇO DE 1859.
1. Evocação de Voltaire.
Resposta. – Falai.
2. Que pensais de Frederico; agora que ele não se acha mais aqui?
Resposta. – Ele raciocina muito bem, mas não quis explicar-se. Como vos disse, ele despreza, e esse desprezo que nutre a todos o impede de abrir o coração, temendo não ser compreendido.
3. Muito bem! Teríeis a bondade de completar e dizer o que ele entendia por estas palavras: “desprezo e me sinto desprezível”?
Resposta. – Sim. Ele se sente fraco e corrompido, como todos nós, e talvez ainda compreenda mais do que nós, por ter abusado, mais que os outros, dos dons de Deus.
(…)
6. Poderíeis nos dar uma ideia mais exata do que fizestes das vossas ocupações, como Espírito?
Resposta. – Não. A todo instante de minha vida descubro um novo ponto de vista do bem. Tento praticá-lo, ou, antes, aprender a praticá-lo. Quando se teve uma existência como a minha, há muitos preconceitos a combater, muitos pensamentos a repelir ou a mudar completamente, antes de alcançar a verdade.
7. Gostaríamos de obter uma dissertação vossa, sobre assunto de vossa escolha. Poderíeis dar-nos uma?
Resposta. – Sobre o Cristo, sim, se o quiserdes.
8. Nesta sessão?
Resposta. – Mais tarde; esperai outra sessão.
SESSÃO DA SOCIEDADE, REALIZADA EM 8 DE ABRIL DE 1859
1. Evocação de Voltaire.
Resposta. – Eis-me aqui.
2. Teríeis a bondade de nos dar hoje a dissertação que prometestes?
Resposta. – Posso fazer o que prometi; apenas serei breve.
Meus caros amigos, quando eu estava entre vossos antepassados, tinha opiniões; e para sustentá-las e fazê-las prevalecer entre meus contemporâneos, muitas vezes simulei uma convicção que em verdade não possuía. Foi assim que, desejando atacar os defeitos e os vícios em que caía a religião, sustentei uma tese que hoje estou condenado a refutar.
Ataquei muitas coisas puras e santas, que a minha mão profana deveria ter respeitado. Assim, ataquei o próprio Cristo, esse modelo de virtudes sobre-humanas. Sim, pobres homens, talvez haveremos de nos igualar um pouco com o nosso modelo, mas jamais teremos a dedicação e a santidade que Ele demonstrou. Ele estará sempre acima de nós, porque Ele foi melhor antes de nós. Ainda estávamos mergulhados no vício da corrupção e ele já estava sentado à direita de Deus. Aqui, perante vós, eu me retrato de tudo quanto a minha pena traçou contra o Cristo, porque o amo; sim, eu o amo. Lamentava não ter podido fazê-lo ainda.
Ainda na Revista Espírita de 1859, no mês de Setembro, Kardec publica outro artigo sobre Voltaire, sob o título “Confissão de Voltaire”, onde ele faz reflexão sobre sua conduta, quando encarnado e como se sentiu (e se viu) depois de sua desencarnação.
V. – COMUNICAÇÃO DE SWEDENBORG – NOVEMBRO 1859
A Revista Espírita de Novembro 1859 traz considerações sobre quem foi SWEDENBORG e uma conversa travada com o Espírito dele.
Os dados que seguem foram extraídos de notícia enviada pela Sra. P… à Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas.
Emmanuel Swedenborg nasceu em Estocolmo, em 1688, e morreu em Londres, em 1772, aos 84 anos de idade. Seu pai, Joeper Swedenborg, bispo de Scava, era notável pelo mérito e pelo saber. O filho, porém, o ultrapassou em muito. Destacou-se em todas as ciências, sobretudo na Teologia, na Mecânica, na Física e na Metalurgia. Sua prudência, sabedoria, modéstia e simplicidade lhe valeram a alta reputação de que ainda hoje desfruta. Os reis o chamavam para os seus conselhos. Em 1716, Carlos XII o nomeou assessor na Escola de Metalurgia de Estocolmo. A rainha Ulrica o fez nobre, e ele ocupou os mais destacados postos, com distinção, até 1743, época em que teve a primeira revelação espírita. Tinha então 55 anos. Pediu demissão e não quis mais ocupar-se senão do seu apostolado e do estabelecimento da doutrina da Nova Jerusalém.
(…)
Um dos pontos fundamentais da doutrina de Swedenborg repousa naquilo que ele chama as correspondências. Na sua opinião, estando o mundo espiritual e o mundo natural ligados entre si, como o interior ao exterior, resulta que as coisas espirituais e as coisas naturais constituem uma unidade, por influxo, e que há entre elas uma correspondência.
(…)
O segundo ponto de sua doutrina é o seguinte: há um só Deus e uma só pessoa, que é Jesus Cristo.
(…)
Swedenborg divide o mundo dos Espíritos em três lugares diferentes: os céus, os intermediários e os infernos, mas sem lhes assinalar um lugar. “Depois da morte”, diz ele, “entramos no mundo dos Espíritos. Os santos se dirigem de boa vontade para um dos três céus e os pecadores para um dos três infernos, de onde jamais sairão”. Esta doutrina desesperadora anula a misericórdia de Deus, porque lhe recusa o poder de perdoar os pecadores surpreendidos por morte violenta ou acidental.
COMUNICAÇÃO DE SWEDENBORG – SOCIEDADE SESSÃO
DE 23 DE SETEMBRO DE 1859
Meus bons amigos e crentes fiéis. Desejei vir aqui, entre vós, para vos encorajar no caminho que seguis com tanto ânimo, relativamente à questão espírita. Vosso zelo é apreciado no mundo dos Espíritos. Prossegui, mas não vos descuideis, porque os obstáculos vos entravarão ainda por algum tempo. Assim como a mim, a vós não faltarão detratores. Há um século preguei o Espiritismo e tive inimigos de todos os gêneros. Também tive fervorosos adeptos, e isso sustentou a minha coragem.
A minha moral espírita e a minha doutrina não estão isentas de grandes erros, que hoje reconheço.
Assim, as penas não são eternas, bem o vejo. Deus é muito justo e muito bom para punir eternamente a criatura que não tem força suficiente para resistir às paixões.
Também aquilo que eu dizia do mundo dos Anjos, que é o que pregam nos templos, não passava de ilusão dos meus sentidos. De boa-fé eu julgava ver, e o disse, mas me enganei. Vós, sim, estais no melhor caminho, porque estais mais esclarecidos do que estávamos em meu tempo.
Continuai, mas sede prudentes, para que os vossos inimigos não tenham armas muito fortes contra vós. Vedes o terreno que ganhais diariamente. Coragem, pois! O futuro vos está garantido. O que vos dá forças é que falais em nome da razão.
Tendes perguntas a dirigir-me? Eu vos responderei.
SWEDENBORG
1. ─ Foi em Londres, em 1745, que tivestes a primeira revelação (vidência). Vós a desejáveis? Então já vos ocupáveis das questões teológicas?
Resposta ─ Já me ocupava com isso, mas de modo algum havia desejado essa revelação. Ela me veio espontaneamente.
2. ─ Qual foi o Espírito que vos apareceu e disse ser o próprio Deus? Era realmente Deus?
Resposta ─ Não. Acreditei no que me dizia porque nele via um ser sobre-humano e por isso fiquei lisonjeado.
3. ─ Por que tomou ele o nome de Deus?
Resposta ─ Para ser melhor obedecido.
4. ─ Pode Deus manifestar-se diretamente aos homens?
Resposta ─ Certamente poderia, mas não o faz mais.
5. ─ Houve então um tempo em que ele se manifestou?
Resposta ─ Sim, nas primeiras idades da Terra.
6. ─ Aquele Espírito vos fez escrever coisas que hoje reconheceis como errôneas, fê-lo com boa ou com má intenção?
Resposta ─ Não o fez com má intenção. Ele próprio estava enganado, pois não era bastante esclarecido. Hoje eu vejo que as ilusões do meu próprio Espírito e da minha inteligência o influenciavam, malgrado seu. Entretanto, no meio de alguns erros de sistema, fácil é reconhecer grandes verdades.
7. ─ O fundamento da vossa doutrina repousa sobre as correspondências. Ainda acreditais nessas relações que descobríeis entre cada coisa do mundo material e cada coisa do mundo moral?
Resposta ─ Não. É uma ficção.
8. ─ Que entendeis por estas palavras: Deus é o próprio homem?
Resposta ─ Deus não é o homem: o homem é que é uma imagem de Deus.
9. ─ Por favor, desenvolvei o vosso pensamento.
Resposta ─ Digo que o homem é a imagem de Deus, porque a inteligência, o gênio que ele por vezes recebe do céu é uma emanação da Onipotência Divina. Ele representa Deus na Terra, pelo poder que exerce sobre toda a Natureza e pelas grandes virtudes que tem a possibilidade de adquirir.
10. ─ Devemos considerar o homem como uma parte de Deus?
Resposta ─ Não. O homem não é parte da Divindade. É apenas a sua imagem.
11. ─ Poderíeis dizer-nos de que maneira eram recebidas por vós as comunicações dos Espíritos? Escrevíeis aquilo que vos era revelado, à maneira dos médiuns, ou por inspiração?
Resposta ─ Quando eu estava em silêncio e em recolhimento, meu Espírito como que ficava deslumbrado, em êxtase, e eu via claramente uma imagem à minha frente, que me falava e ditava o que eu deveria escrever. Por vezes, minha imaginação se misturava a isso.
(…)
13. ─ Qual a vossa opinião sobre a Doutrina Espírita, tal qual é hoje?
Resposta ─ Eu vos disse que estais num caminho mais seguro que o meu, visto que as vossas luzes são em geral mais amplas. Eu tinha que lutar contra uma ignorância muito maior e sobretudo contra a superstição.
VI. – CONVERSAS FAMILIARES DE ALÉM-TÚMULO – O GENERAL HOCHE – SETEMBRO 1859
A Revista Espírita de Setembro 1859, no artigo intitulado: Conversas Familiares de Além-Túmulo – O General Hoche, além de falar de si próprio, traz informação sobre a condição de Napoleão Bonaparte no plano Espiritual.
Após a evocação de Allan Kardec, o diálogo com o Espírito Hoche – que quando encarnado (1768-1797) era general contemporâneo de Napoleão, se desenvolve em torno da Guerra de Itália (1859, 2ª guerra de independência italiana).
Kardec pergunta (Sociedade – 22 de julho de 1859) ao Espírito Hoche, através da médium Sra. J…, o seguinte:
1. Evocação.
Resposta. – Estou convosco.
2. A Sra. J… nos disse que vos tínheis comunicado espontaneamente com ela. Com que intenção o fizestes, desde que ela não vos havia chamado?
Resposta. – É ela quem me traz aqui; eu desejava ser chamado por vós e sabia que, dirigindo-me à sua casa, seríeis informado e provavelmente me evocaríeis.
3. Dissestes a ela que estáveis acompanhando as operações militares da Itália; isso nos parece natural. Poderíeis dizer-nos o que pensais a respeito?
Resposta. – Elas produziram grandes resultados. No meu tempo combatíamos mais longamente.
4. Assistindo a essa guerra, nela desempenhais algum papel ativo?
Resposta. – Não; simples espectador.
5. Como vós, outros generais do vosso tempo lá estiveram convosco?
Resposta. – Sim, bem o podeis imaginar.
6. Poderíeis designar alguns?
Resposta. – Seria inútil.
7. Dizem que Napoleão I achava-se presente, no que não temos dificuldade em acreditar. Quando das primeiras guerras da Itália, ele era simples general. Poderíeis dizer-nos se nessa ele via as coisas do ponto de vista do general ou do imperador?
Resposta. – De ambos, e ainda de um terceiro: do de diplomata.
Comentário nosso: Segundo consta no Dicionário, diplomata é aquele que exerce a diplomacia, com objetivo principal o justo entendimento entre os indivíduos e as nações que eles representam. Assim, podemos verificar que, se antes, Napoleão I como general e imperador, tinha o objetivo de dominar os povos pela força. Em 1859 (data da comunicação espiritual) o Espírito de Napoleão I dedicava-se à tarefa da diplomacia entre as pátrias e os seus filhos, em busca da paz e do entendimento. Do site wikipedia (link: https://pt.wikipedia.org/wiki/Napole%C3%A3o_Bonaparte) Napoleão (nasceu em 15/08/1769 e morreu em 05/05/1821) foi um estadista e líder militar francês, que ganhou destaque durante a Revolução Francesa e liderou várias campanhas militares de sucesso durante as Guerras Revolucionárias Francesas. Após uma sequência de vitórias, a França garantiu uma posição dominante na Europa continental, e Napoleão manteve a esfera de influência da França, através da formação de amplas alianças e a nomeação de amigos e familiares para governar os outros países europeus como dependentes da França. As campanhas de Napoleão são até hoje estudadas nas academias militares de quase todo o mundo. Foi imperador dos franceses como Napoleão I de 1804 a 1814 e brevemente em 1815 durante os Cem Dias. |
8. Quando vivíeis, vossa posição hierárquica como militar era mais ou menos igual à dele. Como ele ascendeu bastante depois de vossa morte, poderíeis dizer-nos, como Espírito, se o considerais vosso superior?
Resposta. – Aqui reina a igualdade. O que perguntais com isso?
Observação de Kardec. – Por igualdade sem dúvida ele entende que os Espíritos não levam em conta as distinções terrenas, com as quais de fato pouco se preocupam e que não têm nenhum peso entre eles. A igualdade moral, porém, está longe de reinar; entre eles há uma hierarquia e uma subordinação baseadas nas qualidades adquiridas, e ninguém pode subtrair-se ao ascendente daqueles que são mais elevados e mais puros.
9. Acompanhando as peripécias da guerra, prevíeis a paz assim tão próxima?
Resposta. – Sim.
10. Para vós tratava-se de uma simples previsão ou tínheis um conhecimento prévio seguro?
Resposta. – Não. Haviam me dito.
11. Sois sensível à recordação que guardamos de vós?
Resposta. – Sim, mas pouco fiz por merecê-la.
12. Vossa viúva acaba de morrer. Vós vos reunistes a ela imediatamente?
Resposta. – Eu a esperava. Hoje vou deixá-la: a existência me chama.
13. Será na Terra que deveis ter uma nova existência?
Resposta. – Não.
14. O mundo para o qual deveis ir é-nos conhecido?
Resposta. – Sim; Mercúrio.
15. Do ponto de vista moral, esse mundo é superior ou inferior à Terra?
Resposta. – Inferior. Eu o elevarei. Contribuirei para fazê-lo entrar numa nova posição.
16. Atualmente conheceis o mundo para onde deveis ir?
Resposta. – Sim, muito bem. Talvez melhor do que o conhecerei quando o habitar.
Comentário nosso: isto mostra a preparação, para o bom desempenho da tarefa a cumprir. |
Observação de Kardec. – Esta resposta é perfeitamente lógica. Como Espírito ele vê esse mundo em seu conjunto; quando nele estiver encarnado não o verá senão do ponto de vista restrito da sua personalidade e da posição social que ocupar.
17. Do ponto de vista físico, os habitantes desse mundo são tão materiais quanto os da Terra?
Resposta. – Sim, completamente; mais ainda.
18. Fostes vós que escolhestes esse mundo para vossa nova existência?
Resp. – Não, não. Eu teria preferido uma terra calma e feliz. Lá encontrarei torrentes de mal a combater e furores de crime a punir.
Observação de Kardec. – Quando nossos missionários cristãos vão aos povos bárbaros para tentar fazer que neles penetrem os germes da civilização, não cumprem uma função análoga? Por que, então, nos admirarmos de que um Espírito elevado vá a um mundo atrasado com vistas a fazê-lo avançar?
19. Essa existência vos é imposta por constrangimento?
Resposta. – Não; comprometi-me com ela. Fizeram-me compreender que o destino, a Providência, se assim quiserdes, ali me chamava. É como a morte antes de subir ao céu: é preciso sofrer e, infelizmente, não sofri bastante.
20. Sois feliz como Espírito?
Resposta. – Sim, sem dificuldades.
21. Quais foram as vossas ocupações como Espírito, desde o momento em que deixastes a Terra?
Resposta. – Visitei o mundo, a Terra inteiramente. Isso demandou um período de alguns anos. Aprendi as leis que Deus emprega para conduzir todos os fenômenos que concorrem para a vida. Depois, fiz o mesmo em várias Esferas.
22. Nós vos agradecemos por terdes atendido ao nosso apelo.
Resposta. – Adeus. Não mais me vereis.
VII. – CARLOS IX (FILHO DE CATARINA DE MÉDICI) – DEZEMBRO DE 1859
A Revista Espírita de Dezembro de 1859 traz no item COMUNICAÇÕES ESPONTÂNEAS EM SESSÕES DA SOCIEDADE, uma comunicação dada por Carlos IX, na sessão de 23/09/1859.
Antes de abordarmos o seu conteúdo relembremos,
em breves linhas, quem foi Carlos IX.
Conforme pesquisa extraída da wikipedia – link: https://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_IX_de_Fran%C3%A7a – Carlos IX (nasceu em 27/06/1550, morreu em 30/05/1574, com 23 anos) era filho de Catarina de Médici (rainha consorte, ou seja, esposa do Rei) e do Rei Henrique II, além de Carlos IX, seus pais tiveram mais 2 filhos: Francisco II (o primogênito) e Henrique III (o filho mais novo).
Em 1559, o Rei Henrique II morreu e, o filho primogênito, Francisco II, tornou-se Rei com apenas 15 anos de idade. Como era menor de idade, sua mãe, Catarina de Médici tornou-se Rainha regente da França (governa temporariamente até a maioridade do filho).
No ano seguinte (1560), após um curto reinado, Francisco II morreu e, em seu lugar, subiu ao trono seu irmão, o Carlos IX da França, também menor de idade, o que fez com que Catarina continuasse como Rainha regente da França até a maioridade deste, em 1568. Carlos IX foi o Rei da França de dezembro de 1560 até sua morte (1574).
E, consoante pesquisa extraída de ricardoorlandini.net – link: https://www.ricardoorlandini.net/hoje_historia/ver/56020/o-rei-carlos-ix-da-franca-sob-influencia-de-sua-mae-catherine-de-medicis-ordena-o-assassinato-em-massa-dos-amp8220huguenotesamp8221-como–eram-chamados-os-protestantes-na-franca-no-amp8220massacre-do-dia-de-sao-bartolomeuamp8221 – o Rei Carlos IX da França, sob influência de sua mãe Catherine de Médici (ambos eram católicos), ordenou o assassinato em massa dos “huguenotes”, como eram chamados os protestantes na França, no “Massacre de São Bartolomeu”.
O massacre começou na noite de 23 para 24 de agosto de 1572, em Paris, no dia de São Bartolomeu, e se estendeu por toda a França nos meses seguintes durando até outubro, houve uma onda organizada de assassinatos de huguenotes em 12 (doze) cidades francesas, como Toulouse, Bordéus, Lyon, Bourges, Ruão e Orleães. Relatos da quantidade de cadáveres arremessados nos rios afirmam uma visível contaminação, de modo que ninguém comia peixe, pelas condições insalubres do local. Não há número preciso para as vítimas, variando de 2.000 vítimas até 70.000, dependendo da fonte atribuída.
Esses assassinatos aconteceram como forma de repressão ao protestantismo, engendrado pelos reis franceses, que eram católicos.
Sobre o tema Allan Kardec, na Revista Espírita de Setembro de 1858, traz o artigo: OS GRITOS DA NOITE DE SÃO BARTOLOMEU, onde relata o seguinte fato:
Que em, 31 de agosto de 1572, oito dias após o massacre de São Bartolomeu, grande quantidade de corvos pousaram e corvejavam sobre o pavilhão do Louvre; que nessa mesma noite, Carlos IX, duas horas depois de se haver deitado, saltou da cama, fez com que os camareiros se levantassem e mandou dar busca, pois ouvia no ar um grande barulho de vozes e gemidos, em tudo semelhantes aos que se ouviam na noite do massacre; que todos esses gritos eram tão chocantes, tão marcados e tão distintamente articulados, que Carlos IX pensou que os inimigos e de seus partidários estivessem atacando de surpresa, pelo que mandou um destacamento de sua guarda para impedir um novo massacre. Os guardas informaram que Paris estava tranquila e que todo aquele barulho que se ouvia permanecia no ar.
Passemos à comunicação dada por Carlos IX, em 30/09/1859, e publicada na Revista Espírita em Dezembro de 1859:
30 DE SETEMBRO DE 1859 – MÉDIUM SRTA. H…
“Pedi a Deus que me permitisse estar por um instante entre vós, para vos dar o conselho de jamais participar de disputas religiosas.
Não direi guerras religiosas, pois os tempos estão agora muito adiantados para isso. Mas, no tempo em que vivi isso era uma desgraça geral e eu não pude evitá-la.
A fatalidade arrastou-me e eu empurrei os outros, eu que deveria tê-los retido. Assim, tive a minha punição, a princípio na Terra, e há três séculos expio cruelmente o meu crime.
Sede mansos e pacientes para com aqueles a quem ensinardes. Se, à princípio não querem aceitar, que o façam mais tarde, quando virem a vossa abnegação e o vosso devotamento.
Meus amigos, meus irmãos, nunca seria demais para mim recomendar-vos, pois nada há de mais horrível do que o estraçalhar recíproco em nome de um Deus clemente; em nome de uma religião santa, que não prega senão a misericórdia, a bondade e a caridade!
Em vez disso, a gente se mata, se massacra a fim de forçar as criaturas que se quer converter a um Deus bom, conforme se diz. Em vez de acreditar em vossa palavra, os que sobrevivem se apressam em vos deixar, em se afastarem, como se fôsseis animais ferozes. Sede bons, eu vo-lo repito, e sobretudo cheios de amenidade (brandura, serenidade) para com aqueles que não creem como vós.” – CARLOS IX.
PERGUNTAS FEITAS PARA CARLOS IX
1. ─ Quereis ter a complacência (gentileza) de responder a algumas perguntas que desejamos dirigir-vos?
─ Terei prazer.
2. ─ Como expiastes as vossas faltas?
─ Pelo remorso.
3. ─ Tivestes outras existências corpóreas, depois daquela que conhecemos?
─ Tive uma. Reencarnei-me como um escravo das duas Américas. Sofri muito. Isso me impulsionou na minha purificação.
4. ─ Que aconteceu à vossa mãe, Catarina de Médicis?
─ Ela sofreu também. Encontra-se num outro planeta, onde leva uma vida de devotamento (dedicação).
5. ─ Poderíeis escrever a história do vosso reino, como o fizeram Luís IX, Luís XI e outros?
─ Também o poderia…
6. ─ Quereis fazê-lo através do médium que neste momento vos serve de intérprete?
─ Sim, este médium pode servir-me, mas não começarei esta noite, pois não vim para isso.
7. ─ Também não vos pedimos que comeceis hoje. Esperamos que possais fazê-lo nas vossas folgas e nas do médium, pois isto seria um trabalho de muito fôlego, que requer certo lapso de tempo. Podemos contar com a vossa promessa?
─ Fá-lo-ei. Até logo.
VIII. – DO FENÔMENO DA TRANSFIGURAÇÃO – MARÇO DE 1859
Na Revista Espírita de Março de 1859, Allan Kardec assevera que o FENÔMENO DA TRANSFIGURAÇÃO, que é objeto deste artigo, já havia sido comunicado para ele há muito tempo e, se dele ainda não havia falado, é porque Kardec não queria fazer da Revista Espírita um catálogo de fatos destinados a alimentar a curiosidade. Primeiramente, era necessário que os princípios fundamentais estivessem suficientemente desenvolvidos, a fim de que as causas fossem compreendidas. Porque “o Espiritismo é mais do que uma crença: é uma Ciência”.
Eis o caso relativo ao FENÔMENO DA TRANSFIGURAÇÃO (extraído de uma carta recebida por Kardec, em setembro de 1857, de um dos correspondentes em Saint Etienne):
“Dá-se um fato extraordinário numa família de nossos arredores. Das mesas girantes passou-se à poltrona que fala; depois um lápis foi ligado ao pé dessa poltrona e ela indicou a psicografia; praticaram-na durante muito tempo, mais como brincadeira do que como coisa séria.
Por fim a escrita designou uma das moças da casa, ordenando que lhe passassem as mãos sobre a cabeça depois que a fizessem deitar; ela adormeceu quase imediatamente e, depois de um certo número de experiências, transfigurou-se: tomava os traços, a voz e os gestos de parentes mortos, dos avós que não havia conhecido e de um irmão falecido há alguns meses.
Essas transfigurações ocorriam sucessivamente numa mesma sessão. Disseram-me que ela falava um dialeto que não é mais o do nosso tempo, pois não conheço nem o antigo, nem o atual. O que posso afirmar é que numa sessão onde havia tomado a aparência do irmão, vigoroso e decidido, essa mocinha de 13 (treze) anos deu-me um rude aperto de mão.
“Esse fenômeno repete-se constantemente, da mesma maneira, há dezoito meses, mas somente hoje produziu-se espontânea e naturalmente, sem imposição das mãos.”
(…)
A propósito, eis as respostas que foram dadas por São Luís, no dia 25 de fevereiro último (1859), em sessão da Sociedade:
1. O caso da transfiguração de que acabamos de falar é real?
Resposta. – Sim.
2. Nesse fenômeno existe um efeito material?
Resposta. – O fenômeno da transfiguração pode ocorrer de modo material, a tal ponto que nas diferentes fases em que se apresenta poderia ser reproduzido em daguerreotipia (fotografia).
3. Como se produz esse efeito?
Resposta. – A transfiguração, como o entendeis, não passa de uma modificação da aparência, uma mudança ou uma alteração das feições que pode ser produzida pela ação do próprio Espírito sobre o seu envoltório ou por uma influência exterior. O corpo não muda jamais; todavia, em consequência de uma contração nervosa, adquire aparências diversas.
4. Pode acontecer sejam os espectadores enganados por uma falsa aparência?
Resposta. – Pode também acontecer que o perispírito represente o papel que conheceis. No caso citado houve contração nervosa, muito ampliada pela imaginação. Aliás, esse fenômeno é muito raro.
5. O papel do perispírito seria análogo ao que se passa no fenômeno de bicorporeidade?
Resposta. – Sim.
6. Então, nos casos de transfiguração é necessário que haja o desaparecimento do corpo real, de modo que os espectadores não vejam senão o perispírito sob uma forma diferente?
Resposta. – Não propriamente desaparecimento físico e sim oclusão. Entendei-vos sobre as palavras.
7. Parece resultar do que acabais de dizer que no fenômeno da transfiguração podem ocorrer dois efeitos: 1° – Alteração dos traços do corpo real em consequência de uma contração nervosa; 2° – Aparência variável do perispírito, tornado visível. É assim que devemos entender?
Resposta. – Certamente.
Comentário nosso: No LIVRO DOS MÉDIUNS, itens 122 e 123, Allan Kardec trata sobre a transfiguração e no livro A GÊNESE, no Cap. 14, item 39, Kardec explica sobre a transfiguração de Jesus no Monte Tabor (relatada por três evangelistas: Mateus,17:1-13; Marcos, 9:2-13 e Lucas:9, 28-36) esclarecendo que sua luz foi uma irradiação fluídica do seu perispírito, porque as transfigurações ― “(…) refletem sempre qualidades e sentimentos predominantes no Espírito”. |
8. Qual a causa primeira desse fenômeno?
Resposta. – A vontade do Espírito.
9. Todos os Espíritos podem produzi-lo?
Resposta. – Não; nem sempre os Espíritos podem fazer o que querem.
10. Como explicar a força anormal dessa mocinha, transfigurada na pessoa de seu irmão? Resposta. – Não possui o Espírito uma grande força? Aliás, é a do corpo em seu estado normal.
Observação de Kardec. – Esse fato nada tem de surpreendente. Muitas vezes vemos pessoas muito fracas dotadas momentaneamente de uma força muscular prodigiosa, devido a uma superexcitação.
11. No fenômeno da transfiguração, já que o olho do observador pode ver uma imagem diferente da realidade, dar-se-á o mesmo em certas manifestações físicas? Por exemplo, quando uma mesa se ergue sem contato das mãos e a vemos acima do solo, é realmente a mesa que se deslocou?
Resposta. – Ainda o perguntais?
12. Quem a levanta?
Resposta. – A força do Espírito.
Observação de Kardec. – Esse fenômeno já foi explicado por São Luís e tal questão já foi tratada de modo completo nos números de maio e junho de 1858, a propósito da teoria das manifestações físicas. Foi-nos dito, neste caso, que a mesa ou qualquer outro objeto que se move é animada de uma vida factícia momentânea, que lhe permite obedecer à vontade do Espírito.
(…)
— Mas voltemos à transfiguração.
Se uma contração muscular pode modificar a fisionomia, não o será senão dentro de certos limites; mas certamente se uma mocinha toma a aparência de um velho, nenhum efeito fisiológico lhe faria nascer a barba.
É preciso, pois, buscar sua causa alhures (em outro lugar). Se nos reportarmos ao que dissemos anteriormente sobre o papel do perispírito em todos os fenômenos de aparição, mesmo de pessoas vivas, compreenderemos que aí se encontra a chave do fenômeno da transfiguração.
Com efeito, desde que o perispírito pode isolar-se do corpo e tornar-se visível; que, por sua extrema sutileza, pode adquirir diversas aparências, conforme a vontade do Espírito, concebe-se sem dificuldade que assim ocorra com uma pessoa transfigurada: o corpo continua o mesmo; somente o perispírito mudou de aspecto.
Mas, perguntarão, em que se transforma o corpo?
Por que razão o observador não vê uma imagem dupla, a saber, de um lado o corpo real e do outro o perispírito transfigurado? Fatos estranhos, dos quais em breve falaremos, provam que o corpo real pode, de alguma sorte, ser oculto pelo perispírito, em consequência da fascinação que em tais circunstâncias se opera no observador.
IX. – DOS MUNDOS INTERMEDIÁRIOS OU TRANSITÓRIOS – MAIO – 1859
Numa das respostas que foram dadas de forma espontânea pelo Espírito de Mozart, vimos que existem mundos destinados aos Espíritos errantes. E, visando aprofundar essa questão, Kardec a submeteu a um outro Espírito, fora da Sociedade, e através de outro médium, que não lhe tinha nenhum conhecimento.
1. (A Santo Agostinho). Há, de fato, como já foi dito, mundos que servem de estações ou pontos de repouso aos Espíritos errantes?
Resposta. – Sim, mas eles são gradativos, isto é, ocupam posição intermediária entre os outros mundos, conforme a natureza dos Espíritos que os procuram para usufruir de maior ou menor bem-estar.
2. Os Espíritos que habitam esses mundos podem deixá-los livremente?
Resposta. – Sim, os Espíritos que se encontram nesses mundos podem deixá-los, a fim de irem para onde devam ir. Figurai-os como bandos de aves que pousam numa ilha, para aí aguardarem que se lhes refaçam as forças, a fim de seguirem seu destino.
3. Enquanto permanecem nos mundos transitórios, os Espíritos progridem?
Resposta. – Certamente. Os que vão a tais mundos o fazem com o objetivo de se instruírem e de poderem mais facilmente obter permissão para passar a outros lugares melhores e chegar à perfeição que os eleitos atingem.
4. Pela sua natureza especial, os mundos transitórios conservam-se perpetuamente destinados aos Espíritos errantes?
Resposta. – Não, a condição deles é meramente temporária.
5. Esses mundos são ao mesmo tempo habitados por seres corpóreos?
Resposta. – Não.
6. Têm uma constituição semelhante à dos outros planetas?
Resposta. – Sim, mas a superfície é estéril.
7. Por que essa esterilidade?
Resposta. – Aqueles que os habitam de nada precisam.
8. É permanente essa esterilidade e decorre da natureza especial que apresentam?
Resposta. – Não, eles são transitoriamente estéreis.
9. Os mundos dessa categoria carecem então de belezas naturais?
Resposta. – A Natureza se traduz pelas belezas da imensidade, não menos admiráveis que as que chamais belezas naturais.
10. Há desses mundos em nosso sistema planetário?
Resposta. – Não.
11. Sendo transitório o estado de semelhantes mundos, a Terra pertencerá algum dia ao número deles?
Resposta. – Já pertenceu.
12. Em que época?
Resposta. – Durante a sua formação.
Observação de Kardec. – Mais uma vez esta comunicação confirma a grande verdade: nada é inútil em a Natureza; tudo tem um fim, uma destinação. Nada é vazio; tudo é habitado, há vida em toda parte. Assim, durante a dilatada sucessão dos séculos que passaram antes do aparecimento do homem na Terra, durante os lentos períodos de transição que as camadas geológicas atestam, antes mesmo da formação dos primeiros seres orgânicos, naquela massa informe, naquele árido caos, onde os elementos se achavam em confusão, não havia ausência de vida. Seres isentos das nossas necessidades, das nossas sensações físicas, lá encontravam refúgio. Quis Deus que, mesmo assim, ainda imperfeita, a Terra servisse para alguma coisa. Quem ousaria afirmar que, entre os milhares de mundos que giram na imensidade, um só, um dos menores, perdido no seio da multidão infinita deles, goza do privilégio exclusivo de ser povoado? Qual então a utilidade dos demais? Tê-los-ia Deus feito unicamente para nos recrearem a vista? Suposição absurda, incompatível com a sabedoria que esplende em todas as suas obras. Ninguém contestará que, nesta ideia da existência de mundos ainda impróprios para a vida material e, não obstante, já povoados de seres vivos apropriados a tal meio, há qualquer coisa de grande e sublime, em que talvez se encontre a solução de muitos problemas.
X. – DO MOBILIÁRIO DE ALÉM-TÚMULO – AGOSTO – 1859
Extraímos a seguinte passagem de uma carta que uma das correspondentes do Departamento do Jura (Jura é um departamento francês, da região da Borgonha na França, esse nome vem da Cadeia de Montanhas Jura) enviou à Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas:
Comentário nosso: relato de aparição de um Espírito (desencarnado). |
(…) Como já vos tinha dito, senhor, os Espíritos gostavam da nossa velha habitação. No mês de outubro passado (1858), a senhora Condessa de C…, amiga íntima de minha filha, veio passar alguns dias em nossa mansão, acompanhada do filhinho de 8 (oito) anos. O menino dormia no mesmo apartamento que a mãe; e a porta de comunicação para o quarto de minha filha ficava aberta, a fim de prolongar as horas do dia e da conversa. O menino não dormia e dizia à sua mãe:
“O que a senhora fará com esse homem que está sentado junto à sua cama? Ele fuma um grande cachimbo. Veja como enche o quarto de fumaça! Mande-o embora, pois está sacodindo as cortinas.”
Tal visão durou a noite inteira. A mãe não conseguiu fazer a criança calar e ninguém pôde pregar os olhos. Essa circunstância não surpreendeu a mim, nem à minha filha, pois sabemos que há manifestações espíritas. Quanto à mãe, imaginou que o filho sonhava acordado ou se divertia.
Comentário nosso: relato de aparição de um Espírito de um senhor que estava encarnado. |
Eis um outro fato pessoal que comigo aconteceu no mesmo aposento, em maio de 1858. É a aparição do Espírito de uma pessoa viva que ficou muito admirada por ter vindo me visitar. Eis as circunstâncias: Eu estava muito doente e há tempos não dormia, quando vi, às dez horas da noite, um amigo da família sentado perto de meu leito. Manifestei-lhe minha surpresa por sua visita àquela hora. Disse-me ele: “Não falai; venho velá-la; não falai; é preciso dormir.” E estendeu a mão sobre a minha cabeça. Abri os olhos várias vezes para saber se ele ainda estava lá, e de cada vez me fazia sinal para os fechar e calar-me. Ele girava uma tabaqueira (caixinha de tabaco em pó) entre os dedos e, de quando em quando, tomava uma pitada, como o fazia costumeiramente.
Por fim adormeci e, ao despertar, a visão havia desaparecido.
Diferentes circunstâncias me provaram que no momento dessa visita inesperada eu estava perfeitamente acordada, e que aquilo não era um sonho. Quando de fato me visitou pela primeira vez apressei-me em agradecer-lhe. Trazia a mesma tabaqueira e, ao escutar-me, estampava o mesmo sorriso de bondade que eu notara quando me velava. Como me garantiu não ter vindo, o que aliás não me foi difícil acreditar, porquanto não teria havido nenhum motivo que o impelisse a vir a tal hora passar a noite junto a mim, compreendi que apenas o seu Espírito tinha vindo visitar-me, enquanto seu corpo repousava tranquilamente em sua casa.”
(…)
Sobre estes 2 (dois) relatos, Kardec disse que os fatos de aparição pertencem às leis da Natureza e, portanto, nada têm de maravilhoso, explicando que:
Além do envoltório corporal, exterior, sabemos que o Espírito possui um outro, semimaterial, a que chamamos perispírito. A morte nada mais é do que a destruição do primeiro (corpo). Em seu estado errante o Espírito conserva o perispírito, que constitui uma espécie de corpo etéreo, invisível para nós em seu estado normal. Os Espíritos povoam o espaço e, se num determinado momento, o véu que os oculta de nós fosse levantado, veríamos uma imensa população agitar-se à nossa volta e percorrer os ares.
Temo-los constantemente ao nosso lado, observando-nos e, muitas vezes, associando-se às nossas ocupações e aos nossos prazeres, conforme o seu caráter. A invisibilidade não é uma propriedade absoluta dos Espíritos; muitas vezes eles se mostram para nós sob a aparência que tinham em vida, e não são poucas as pessoas que, rebuscando as lembranças, não se recordem de algum fato desse gênero.
A teoria dessas aparições é muito simples e se explica por uma comparação que nos é bastante familiar: a do vapor que, quando muito rarefeito, é completamente invisível. Um primeiro grau de condensação (condensação é a mudança do estado gasoso para o líquido, que ocorre quando a temperatura é reduzida) o torna nebuloso; cada vez mais condensado passa ao estado líquido, depois ao estado sólido.
Algo semelhante se opera pela vontade dos Espíritos na substância do perispírito; como já dissemos, pretendemos estabelecer apenas uma comparação, e não uma assimilação. Servimo-nos do exemplo do vapor para mostrar as mudanças de aspecto que pode sofrer um corpo invisível, não se devendo concluir, por isso, que haja no perispírito uma condensação, no sentido próprio da palavra.
Opera-se na sua contextura uma modificação molecular que o torna visível e mesmo tangível, podendo dar-lhe, até certo ponto, as propriedades dos corpos sólidos. (…) Pode, pois, o Espírito operar, quer por simples modificação íntima, quer assimilando uma porção de fluido estranho que altera momentaneamente o aspecto de seu perispírito.
(…) Kardec relata:
Eis a conversa que tivemos com o Espírito de São Luís, a propósito da tabaqueira, com vistas à solução do problema da produção de certos objetos no mundo invisível (Sociedade, 24 de junho de 1859):
1. No relato da Sra. R…, trata-se de uma criança que viu, perto do leito de sua mãe, um homem a fumar um grande cachimbo. Compreende-se que esse Espírito possa ter tomado a aparência de um homem que fumava, mas parece que fumava realmente, pois o menino via o quarto repleto de fumaça. O que era essa fumaça?
Resposta. – Uma aparência, produzida para o garoto.
2. A Sra. R… cita igualmente um caso de aparição pessoal, do Espírito de uma pessoa viva. Esse Espírito tinha uma tabaqueira, da qual tomava pitadas. Experimentava ele a sensação que experimenta um indivíduo que faz o mesmo?
Resposta. – Não.
3. Aquela tabaqueira tinha a forma da tabaqueira que ele se servia habitualmente e que se achava guardada em sua casa. Que era essa tabaqueira nas mãos do Espírito?
Resposta. – Sempre aparência. Era para que a circunstância fosse notada, como realmente foi, e não tomassem a aparição por uma alucinação devida ao estado de saúde da vidente. O Espírito queria que a senhora em questão acreditasse na realidade da sua presença e, para isso, tomou todas as aparências da realidade.
(…)
Observação de Kardec. – É evidente que a palavra aparência deve ser aqui tomada no sentido de aspecto, imitação. A tabaqueira real não estava lá; a que o Espírito deixava ver era apenas uma reprodução daquela: era, pois, com relação ao original, uma simples aparência, embora formada de um princípio material.
(…)
5. Haveria um desdobramento da matéria inerte? Haveria no mundo invisível uma matéria essencial, revestindo a forma dos objetos que vemos? Numa palavra, esses objetos teriam o seu duplo etéreo no mundo invisível, como os homens aí são representados pelos Espíritos?
Resposta. – Não é assim que as coisas se passam. Sobre os elementos materiais disseminados por todos os pontos do espaço, na vossa atmosfera, têm os Espíritos um poder que estais longe de suspeitar. Podem, pois, à vontade, concentrar esses elementos e lhes dar uma forma aparente, que corresponda à dos objetos materiais. (…)
7. Resulta, desta explicação, que os Espíritos fazem passar a matéria eterizada sofrer transformações à sua vontade e que, assim, no caso da tabaqueira, o Espírito não a encontrou perfeitamente acabada; ele mesmo a fez, no momento em que teve necessidade dela. E, do mesmo modo que a fez, a desfez. O mesmo deve acontecer com todos os outros objetos, como vestimentas, joias, etc.
Resposta. – Mas é evidente.
8. A tabaqueira se tornou tão visível para a senhora de que se trata que lhe produziu a ilusão de uma tabaqueira material. Teria o Espírito podido torná-la tangível para ela?
Resposta. – Teria.
9. Aquela senhora poderia tê-la tomado nas mãos, crente de estar segurando uma tabaqueira verdadeira?
Resposta. – Sim.
10. Se a abrisse, teria achado nela rapé (tabaco)? E, se o aspirasse, ele a faria espirrar?
Resposta. – Sem dúvida.
11. Pode, então, o Espírito dar a um objeto não só a forma, mas, também propriedades especiais?
Resposta. – Se o quiser. Baseado neste princípio foi que respondi afirmativamente às perguntas anteriores. Tereis provas da poderosa ação que os Espíritos exercem sobre a matéria, ação que estais longe de suspeitar.
12. Suponhamos, então, que quisesse fazer uma substância venenosa. Se uma pessoa a ingerisse, ficaria envenenada?
Resposta. – Teria podido, mas não faria, por não lhe ser isso permitido.
13. Poderá fazer uma substância salutar e própria para curar uma enfermidade? E já se terá apresentado algum caso destes?
Resposta. – Já, muitas vezes.
14. Então, poderia fazer também uma substância alimentar? Suponhamos que tenha feito uma fruta, uma iguaria qualquer: se alguém pudesse comer a fruta ou a iguaria, ficaria saciado?
Resposta. – Ficaria, sim; mas, não procureis tanto para encontrar aquilo que é fácil de compreender. Basta um raio de sol para tornar perceptíveis aos vossos órgãos grosseiros essas partículas materiais que enchem o espaço onde viveis. Não sabeis que o ar contém vapores d’água? Condensai-os e os fareis voltar ao estado normal. Privai-as de calor e eis que essas moléculas impalpáveis e invisíveis se tornarão um corpo sólido e bem sólido; e, assim, muitas outras substâncias de que os químicos tirarão maravilhas ainda mais espantosas. Simplesmente, o Espírito dispõe de instrumentos mais perfeitos do que os vossos: a vontade e a permissão de Deus.
15. Da mesma forma poderia o Espírito fabricar moedas?
Resposta. – Pela mesma razão.
16. Os objetos que, pela vontade do Espírito, se tornam tangíveis, poderiam permanecer com esse caráter de permanência e de estabilidade?
Resposta. – Isso poderia dar-se, mas não acontece. Está fora das leis.
17. Têm todos os Espíritos, no mesmo grau, esse poder?
Resposta. – Não, não!
18. Quais são os que têm mais particularmente esse poder?
Resposta. – Aqueles a quem Deus concede, quando isso é útil.
19. A elevação do Espírito influi nesse caso?
Resposta. – É certo que quanto mais elevado o Espírito, mais facilmente obtém esse poder. Isso, porém, depende das circunstâncias: Espíritos inferiores também podem ter esse poder.
(…)
25. Desde que o Espírito pode extrair do elemento universal os materiais para fazer todas as coisas, e com suas propriedades dar a elas uma realidade temporária, pode perfeitamente extrair o que lhe seja necessário para escrever. Consequentemente, isto nos dará a chave do fenômeno da escrita direta?
Resposta. – Finalmente compreendestes.
26. Se a matéria de que se serve o Espírito não tem persistência, como não desaparecem os traços da escrita direta?
Resposta. – Não julgueis ao pé da letra; desde o início eu não disse jamais; tratava-se de um objeto material volumoso; aqui se trata de sinais grafados que convém conservar e são conservados.
Resumo de como os Espíritos formam os objetos, com a aparência que existem na Terra |
A teoria acima pode ser resumida desta maneira: o Espírito atua sobre a matéria; da matéria cósmica universal tira os elementos necessários para formar, à vontade, objetos que tenham a aparência dos diversos corpos existentes na Terra.
Também o pode, pela ação da sua vontade, operar na matéria elementar uma transformação íntima, que lhe confira determinadas propriedades. Esta faculdade é inerente à natureza do Espírito, que muitas vezes a exerce de modo instintivo, quando necessário, sem disso se aperceber.
Os objetos que o Espírito forma têm existência temporária, subordinada à sua vontade, ou a uma necessidade que ele experimenta. Pode fazê-los e desfazê-los livremente. Em certos casos, esses objetos, aos olhos de pessoas vivas, podem apresentar todas as aparências da realidade, isto é, tornarem-se momentaneamente visíveis e até mesmo tangíveis. Há formação, mas não criação, visto que como Espírito nada pode tirar do nada.
XI. – O LAR DE UMA FAMÍLIA ESPÍRITA- SETEMBRO 1859
Narra Allan Kardec na Revista Espírita de Setembro de 1859, sob o título de “O LAR DE UMA FAMÍLIA ESPÍRITA” as realidades vivenciadas por uma família espírita, suas dificuldades e a forma de comportamento de seus membros, nos inspirando um comportamento renovador.
Há três anos a Sra. G… ficou viúva, com quatro crianças. O filho mais velho é um rapaz amável, de 17 (dezessete) anos, e a filha mais moça uma encantadora menina de 6 (seis).
Desde muito tempo essa família se dedica ao Espiritismo, e antes mesmo que esta crença se tivesse tornado tão popular como hoje, marido e mulher tinham uma espécie de intuição, que diversas circunstâncias haviam desenvolvido.
O pai do Sr. G… havia aparecido para ele várias vezes, na mocidade, sempre para preveni-lo de coisas importantes ou para lhe dar conselhos úteis. Fatos semelhantes também se haviam passado entre os seus amigos, de sorte que para eles a existência de além-túmulo não era objeto da menor dúvida, assim como não o era a possibilidade de nos comunicarmos com nossos entes queridos.
Quando o Espiritismo surgiu, foi apenas a confirmação de uma ideia bem sedimentada e santificada pelo sentimento de uma religião esclarecida, pois aquela família é um modelo de piedade e de caridade evangélicas.
Extraíram da nova ciência os meios mais diretos de comunicação. A mãe e um dos filhos tornaram-se excelentes médiuns. Entretanto, longe de empregar essa faculdade em questões fúteis, todos a consideravam como um precioso dom da Providência, do qual era permitido servir-se somente para coisas sérias. Assim, jamais a praticam sem recolhimento e respeito, e longe do olhar dos importunos e curiosos.
Nesse meio tempo o pai adoeceu. Pressentindo seu fim próximo, reuniu os filhos e lhes disse:
“Meus caros filhos e minha amada mulher. Deus me chama para Ele. Sinto que vou deixar-vos daqui a pouco, mas também sinto que por vossa fé na imortalidade encontrareis força para suportar esta separação com coragem, assim como eu levo o consolo de que poderei sempre estar entre vós e vos ajudar com os meus conselhos. Assim, chamai-me quando eu não estiver mais na Terra. Virei sentar-me ao vosso lado e conversar convosco, como o fazem os nossos antepassados. Na verdade, estaremos menos separados do que se eu partisse para uma terra distante.
Minha cara esposa, deixo-te uma grande tarefa, mas quanto mais pesada for, mais gloriosa será. Tenho certeza de que os nossos filhos te ajudarão a suportá-la. Não é, meus filhos?
Auxiliareis a vossa mãe; evitareis tudo quanto possa fazê-la sofrer; sereis sempre bons e benevolentes para com todos; estendereis a mão aos vossos irmãos infelizes, porque não haveis de querer estendê-la um dia pedindo em vão para vós. Que a paz, a concórdia e a união reinem entre vós. Que jamais o interesse vos separe, porque o interesse material é a maior barreira entre a Terra e o Céu. Pensai que estarei sempre junto a vós; que vos verei como vos vejo neste momento, e ainda melhor, pois verei o vosso pensamento. Não queirais, assim, entristecer-me depois da morte, do mesmo modo que não o fizestes durante a minha vida”.
É um espetáculo realmente edificante a vida dessa piedosa família.
Alimentadas nas ideias espíritas, essas crianças não se consideram separadas do pai. Para elas, ele está presente. Temem praticar a menor ação que possa desagradá-lo.
Uma noite por semana, e às vezes mais, é consagrada a conversar com ele. Existem, porém, as necessidades da vida, que devem ser providas, pois a família não é rica. É por isso que um dia certo é marcado para essas conversas piedosas e sempre esperadas com impaciência. Muitas vezes pergunta a pequenina: “É hoje que papai vem?”
Esse dia transcorre entre conversas familiares e instruções proporcionadas à inteligência, algumas vezes infantis, outras vezes graves e sublimes. São conselhos dados a propósito de pequenas travessuras que ele assinala. Se faz elogios, também não poupa críticas, e o culpado baixa os olhos, como se o pai estivesse diante dele; pede-lhe perdão, que por vezes só é concedido depois de algumas semanas de prova. Sua sentença é esperada com febril ansiedade. Então, que alegria quando o pai diz: “Estou contente contigo!” Dizer, no entanto: “Não virei na próxima semana” é a mais terrível ameaça.
A festa anual (Dia de Finados) não é esquecida. É sempre um dia solene, para o qual convidam os antepassados já falecidos, sem esquecer um irmãozinho morto há alguns anos. Os retratos são ornados de flores, cada criança prepara um pequeno trabalho, até mesmo uma saudação tradicional. O mais velho faz uma dissertação sobre assunto grave; uma das mocinhas executa um trecho musical; a pequenina, finalmente, recita uma fábula. É o dia das grandes comunicações, e cada convidado recebe uma lembrança dos amigos que deixou na Terra.
Como são belas essas reuniões, na sua tocante simplicidade! Como tudo, ali, fala ao coração! Como é possível sair delas sem estar impregnado do amor ao bem?
Nenhum olhar de mofa (desaprovação), nenhum sorriso cético vem perturbar o piedoso recolhimento. Alguns amigos que partilham das mesmas convicções e que são devotos da religião da família, são os únicos admitidos a participar desse banquete do sentimento.
Ride quanto quiserdes, vós que zombais das coisas mais santas. Por mais soberbos e endurecidos que sejais, não vos faço a injúria de acreditar que o vosso orgulho possa ficar impassível e frio ante tal espetáculo.
Um dia, entretanto, foi de luto para a família, dia de verdadeiro pesar: o pai havia anunciado que durante algum tempo, longo tempo mesmo, não poderia vir. Ele havia sido chamado para uma importante missão longe da Terra.
A festa anual não deixou de ser celebrada, mas foi triste, pois o pai lá não estava. Ao partir, ele havia dito: “Meus filhos, que ao meu retorno eu vos encontre todos dignos de mim”, e cada um se esforça por tornar-se digno dele. Eles ainda estão esperando.
FONTES:
– REVISTA ESPÍRITA – ANO II – 1859
– REVISTA ESPÍRITA – ANO I – 1858, Setembro: OS GRITOS DA NOITE DE SÃO BARTOLOMEU
– link: https://pt.wikipedia.org/wiki/Pl%C3%ADnio,_o_Jovem
-link:https://historiologiaprotestante.blogspot.com/2016/12/carta-de-plinio-o-moco-ao-imperador.html
-link: https://classicosdosclassicos.mus.br/compositores/wolfgang-amadeus-mozart/
– link: https://classicosdosclassicos.mus.br/compositores/frederic-chopin/
– link: https://www.ebiografia.com/voltaire/
– link: https://pt.wikipedia.org/wiki/Voltaire
– link: https://pt.wikipedia.org/wiki/Frederico_II_da_Pr%C3%BAssia
– link: https://pt.wikipedia.org/wiki/Napole%C3%A3o_Bonaparte
– link: https://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_IX_de_Fran%C3%A7a
-link: https://www.ricardoorlandini.net/hoje_historia/ver/56020/o-rei-carlos-ix-da-franca-sob-influencia-de-sua-mae-catherine-de-medicis-ordena-o-assassinato-em-massa-dos-amp8220huguenotesamp8221-como-eram-chamados-os-protestantes-na-franca-no-amp8220massacre-do-dia-de-sao-bartolomeuamp8221
28/06/2023 – Ellen – CELC