Os animais na visão da Doutrina Espírita – Palestra 29.11.17
Os animais na visão da Doutrina Espírita
Palestra – CELC 29.11.17 – Geisa
- Introdução;
- Semelhanças entre o homem e o animal;
- A alma do animal;
- Instinto, inteligência e curiosidade;
- Evolução;
- Reencarnação;
- Os animais nos mundos superiores;
- Mediunidade;
- Padre Germano e o cão Sultão.
- Consumo de carne;
- Maus tratos e destruição;
- A dor nos animais e a Lei de Causa e Efeito;
- Passes;
- Poema: Os animais.
- INTRODUÇÃO
Livro Evolução Anímica, Gabriel Dellane, Introdução
O problema da origem do homem é um dos mais difíceis de abordar aqui na Terra. Colocados como nos encontramos num estágio de civilização avançada, temos a impressão de que um abismo nos separa dos outros seres. Tendo conquistado o cetro do mundo, submeteu à sua vontade toda a natureza, perfurando montanhas, unindo mares, secando pântanos, desviando rios, dirigindo a vegetação em sentido mais útil e agradável à suas conveniências, domando os animais aproveitáveis, o homem soube utilizar todas as forças vivas e capazes para aumento do seu bem-estar. O avião o transporta para longe, sem fadiga, diante de tais resultados, o homem, crer-se formado de essência diversa e superior a dos animais, havido por incapazes de qualquer progresso. Entretanto, essa magnifica inteligência está bem longe de ser perfeita, e faz-se preciso certa parcela de parcialidade e de orgulho para imaginar que criaturas que se massacram ferozmente em combates sangrentos, sem outro ideal que o de semear desolação e morte entre vizinhos, representem a Inteligência infinita que governa o cosmo.
Livro Emmanuel, psicografia de Chico Xavier, pelo Espírito Emmanuel, capítulo XVII
Com o desenvolvimento das ideias espiritualistas no mundo, torna-se um estudo obrigatório, e para todos os dias, o grande problema que implica o drama da evolução anímica. Teria sido a alma criada no momento da concepção, na mulher, segundo as teorias antireencarnacionistas? O espírito já é criado pela potência suprema do Universo, apto a ingressar nas fileiras humanas? As autoridades católicas valem-se de Tomás de Aquino, que acreditava na criação da alma no período de tempo que precede o nascimento de um novo ser. Outras doutrinas religiosas buscam a opinião falível da sua ortodoxia e dos seus teólogos, relutando em aceitar as realidades luminosas da reencarnação.
Se é certo que uma fração da Humanidade avançou, menos não o é que muitos de nossos semelhantes ainda jazem embotados na ignorância, vítimas de paixões bestiais, como a mostrar-nos o percurso da evolução humana. Ao lado da civilização, vegetam seres degredados que mal poderemos chamar de homens. Posso afirmar, sem laivos de dogmatismo, que oriundos na flora microbiana, em séculos remotíssimos, não poderemos precisar onde se encontra o acume as espécies ou da escala dos seres, no pentagrama universal. E, como o objetivo desta palestra é o estudo dos animais, nossos irmãos inferiores, sinto-me à vontade para declarar que todos nós já nos debatemos no seu acanhado círculo evolutivo. São eles os nossos parentes próximos, apesar da teimosia de quantos persistem em o não reconhecer. Considera-se, às vezes, como afronta ao gênero humano a aceitação dessas verdades. E pergunta-se como poderíamos admitir um princípio espiritual nas arremetidas furiosas das feras indomesticadas, ou como poderíamos crer na existência de um rio de luz divina na serpente venenosa ou na astúcia traiçoeira dos carnívoros. Semelhantes inquirições, contudo, são filhas de entendimento pouco atilado.
- SEMELHANÇAS ENTRE O HOMEM E O ANIMAL
Livro Missionários da Luz, psicografia de Chico Xavier, pelo Espírito André Luiz, Capítulo 4
“-Na qualidade de médico, você não pode ignorar que o embriologista, contemplando o feto humano em seus primeiros dias, a distância do veículo natural, não poderá afirmar, com certeza, se tem sob os olhos o gérmen de um homem ou de um cavalo. O médico legista encontra dificuldades para determinar se a mancha de sangue encontrada eventualmente provém de um homem, de um cão ou de um macaco”.
Livro Evolução Anímica, Gabriel Dellane, Capítulo 2 – Similitude dos organismos humano e animal
O sangue que nos parece elemento capital da vida, apresenta a mesma identidade no boi, no carneiro, no homem. Coração, pulmão, fígado, estômago, olhos, nervos, músculos, ossatura, é tudo semelhante no homem como nos vertebrados. Há menos diferença entre um homem e um cão, do que entre um crocodilo e uma borboleta. Diariamente as descobertas dos naturalistas estabelecem, sobre as bases mais sólidas, esta profunda verdade que Aristóteles – grande mestre de coisas naturais – que magistralmente exprimiu: a natureza não dá saltos. Perpétuas transições ocorrem entre os seres vivos. Todos os seres se tocam, formam uma cadeia de vida, que nos parece interrompida pelo desconhecimento das formas extintas ou desaparecidas. Nessa hierarquia dos seres, o homem reivindica o primeiro lugar a quem tem certo, incontestável direito; mas, isso não o coloca fora da série, e quer simplesmente dizer que ele é o mais aperfeiçoado dos animais.
O sangue lhe circula do mesmo feitio, o ar é respirado nas mesmas proporções, mercê de idêntico mecanismo. Os alimentos são da mesma natureza, transformados nas mesmas vísceras, mediante as mesmas operações químicas, pois, como temos visto, as condições indispensáveis à manutenção da vida são idênticas para todos os seres. O nascimento não é fenômeno particular. A monera que haja de produzir o “rei da criação” (homem) é, originariamente, composta de um simples protoplasma, como a de qualquer vegetal. A morte é também a mesma para toda a série orgânica. Idêntica nas causas, como nos resultados, ou seja, a desorganização da matéria viva, em retorno ao grande laboratório da natureza.
Livro O Consolador, psicografia de Chico Xavier, pelo Espírito Emmanuel, questão 79
Como interpretar nosso parentesco com os animais?
– Considerando que eles igualmente possuem, diante do tempo, um porvir de fecundas realizações, através de numerosas experiências, chegarão, um dia, ao chamado reino hominal, como, por nossa vez, alcançaremos, no escoar dos milênios, a situação de angelitude. A escala do progresso é sublime e infinita. No quadro exíguo dos vossos conhecimentos, busquemos uma figura que nos convoque ao sentimento de solidariedade e amor que deve imperar em todos os departamentos da natureza visível e invisível. O mineral é atração. O vegetal é sensação. O animal é instinto. O homem é razão. O anjo é divindade. Busquemos reconhecer a infinidade de laços que nos unem nos valores gradativos da evolução e ergamos em nosso íntimo o santuário eterno da fraternidade universal.
Livro O problema do ser, do destino e da dor, de Léon Denis, extraímos a célebre frase: “…o Espírito dorme no mineral, sonha no vegetal, agita-se no animal e desperta no homem …”
Livro A Gênese, Allan Kardec, capítulo XI, item 23
Na opinião de alguns filósofos espiritualistas, o princípio inteligente, distinto do princípio material, se individualiza e elabora, passando pelos diversos graus da animalidade. É aí que a alma se ensaia para a vida e desenvolve, pelo exercício, suas primeiras faculdades. Esse seria para ela, por assim dizer, o período de incubação. Chegada ao grau de desenvolvimento que esse estado comporta, ela recebe as faculdades especiais que constituem a alma humana. Haveria assim filiação espiritual do animal para o homem, como há filiação corporal.
Este sistema, fundado na grande lei de unidade que preside à criação, corresponde, forçoso é convir, à justiça e à bondade do Criador; dá uma saída, uma finalidade, um destino aos animais, que deixam então de formar uma categoria de seres deserdados, para terem, no futuro que lhes está reservado, uma compensação a seus sofrimentos.
- A ALMA ANIMAL
Livro dos Espíritos, Allan Kardec, questão 597
Visto que os animais têm uma inteligência que lhes dá uma certa liberdade de ação, há neles um princípio independente da matéria?
– Sim, e que sobrevive ao corpo.
Esse princípio é uma alma semelhante à do homem?
– É também uma alma, se quiserdes; isso depende do sentido que se dá a essa palavra; ela, porém, é inferior à do homem. Há entre a alma dos animais e a do homem tanta distância como entre a alma do homem e Deus.
Livro Almas Crucificadas, psicografia de Zilda Gama, pelo Espírito Victor Hugo
O irracional (cão) e o homem, por mais que combatam essa asseveração os orgulhosos do mundo científico, têm uma alma imortal, que progride, no decurso dos séculos, através de penosos estágios.
Livro dos Espíritos, Allan Kardec, questão 598
A alma dos animais conserva, depois da morte, sua individualidade e a consciência de si mesma?
– Sua individualidade, sim, mas não a consciência do seu eu. A vida inteligente permanece no estado latente.
Livro dos Espíritos, Allan Kardec, questão 600
A alma do animal, sobrevivendo ao corpo, fica num estado errante como a do homem após a morte?
— Fica numa espécie de erraticidade, pois não está unida a um corpo. Mas não é um Espírito errante. O Espírito errante é um ser que pensa e age por sua livre vontade; o dos animais não tem a mesma faculdade. É a consciência de si mesmo que constitui o atributo principal do Espírito. O Espírito do animal é classificado, após a morte, pelos Espíritos incumbidos disso e utilizado quase imediatamente; não dispõe de tempo para se pôr em relação com outras criaturas.
Revista Espírita, Allan Kardec, maio de 1.865, é publicada uma carta de um correspondente da revista radicado em Dieppe, na França, o qual alude à manifestação da cadelinha Mika, então desencarnada, fato esse que foi percebido pelo autor do relato, por sua mulher e por uma filha que dormia no quarto ao lado.
Entrevista com Divaldo Franco – Revista O Consolador de 13.04.2008
Nossos animais de estimação ficam por algum tempo numa espécie de erraticidade, no chamado mundo espiritual, ou são de imediato encaminhados a uma nova encarnação?
Divaldo Franco responde: – “O notável Codificador do Espiritismo informa-nos que, o período em que os animais se demoram na erraticidade é breve, logo retornando à reencarnação. Nada obstante, a mediunidade vem demonstrando que ocorrem períodos mais longos, conforme encontramos narrações nas obras ditadas pelo Espírito André Luiz ao venerando médium Francisco Cândido Xavier, assim como Charles à nobre médium Yvonne do Amaral Pereira. Essas informações não colidem com a palavra do mestre de Lyon, porque o desdobramento dos estudos doutrinários estava previsto por ele, ampliando as informações contidas nas obras básicas.
Recordo-me, por exemplo, de Sultão, o cão que acompanhava o padre Germano, conforme narrado nas Memórias do Padre Germano, de Amália Domingo Soler, e da vida de Dom Bosco, que era defendido por um cão, nas diversas vezes em que atentaram contra a sua vida. E contou que certa feita, há alguns anos, esteve em determinada cidade brasileira, para uma conferência e, ao ser recebido na casa que iria hospedá-lo, assustou-se com um cachorro grande, que lhe pulou no peito. A anfitriã percebeu-lhe a reação:
– O que foi, Divaldo?
Foi o cachorro, mas está tudo bem!
Que cachorro, Divaldo, aqui não tem cachorro nenhum!
– Tem sim, esse pastor aí!
– Divaldo, eu tive um cão da raça pastor alemão, mas ele morreu há um ano e meio!
E Divaldo concluiu:
– Era um cão espiritual!
Livro Testemunhos de Chico Xavier, de Suely Caldas Schubert, lê-se o seguinte depoimento:
“Em 1939, o meu irmão José deixou-me um desses amigos fiéis (um cão). Chamava-se Lorde e fez-se meu companheiro, inclusive de preces, porque, à noite, postava-se junto a mim, em silêncio, ouvindo música. Em 1945, depois de longa enfermidade, veio a falecer. Mas no último instante, vi o Espírito de meu irmão aproximar-se e arrebatá-lo ao corpo inerte e, durante alguns meses, quando o José, em espírito, vinha ter comigo, era sempre acompanhado por ele, que se me apresentava à visão espiritual com insignificante diferença”.
Revista Reformado de 1.932, mensagem de Chico Xavier, sobre Padre Germano e que está inserida no livro de Clóvis Tavares “Trinta Anos com Chico Xavier”.
– “Interessante mencionar que tanto para a vidência de Chico quanto para a do médium Divaldo Pereira Franco, o Padre Germano se apresenta acompanhado pelo seu cão, Sultão”.
Livro A Alma nos Animais, Ernesto Bozzano, descreve o aparecimento de uma gata, depois de morta.
– “O fantasma da gata foi visto por quatro pessoas em momentos diferentes, em plena luz do dia. Tratava-se de uma gata exótica, única do seu tipo, no local onde o acontecimento se passou e caracterizada por uma pelagem típica dos gatos persas. A gata-fantasma apareceu mancando, exatamente como o animal morto, não apresentou sinais em nenhum momento de que ouvia as pessoas chamarem-na o pequeno fantasma desapareceu inúmeras vezes diante dos percipientes de uma maneira sutil e inexplicável”.
Livro Emmanuel, psicografia de Chico Xavier, pelo Espírito Emmanuel
Os animais têm a sua linguagem, os seus afetos, a sua inteligência rudimentar, com atributos inumeráveis. São eles os irmãos mais próximos do homem, merecendo, por isso, a sua proteção e amparo. O homem está para o animal, simplesmente como um superior hierárquico. Nos irracionais desenvolvem-se igualmente as faculdades intelectuais. O sentimento de curiosidade é, na maioria deles, altamente avançado e muitas espécies nos demonstram as suas elevadas qualidades, exemplificando o amor conjugal, o sentimento da paternidade, o amparo ao próximo, as faculdades de imitação, o gosto da beleza.
- INSTINTO / INTELIGÊNCIA E CURIOSIDADE
Livro A Gênese, Allan Kardec, capítulo 3, itens 11, 12 e 13.
– O instinto é a força oculta que solicita os seres orgânicos a atos espontâneos e involuntários, tendo em vista a conservação deles. Nos atos instintivos não há reflexão, nem combinação, nem premeditação. É assim que a planta procura o ar, se volta para a luz, dirige suas raízes para a água e para a terra nutriente; É pelo instinto que os animais são avisados do que lhes convém ou prejudica; que buscam, conforme a estação, os climas propícios; que constroem, sem ensino prévio, com mais ou menos arte, segundo as espécies, leitos macios e abrigos para sua prole, armadilhas para apanhar a presa de que se nutrem; que a mãe choca os filhos e que estes procuram o seio materno.
No homem, só em começo da vida o instinto domina com exclusividade; é por instinto que a criança faz os primeiros movimentos, que toma o alimento, que grita para exprimir as suas necessidades. No próprio adulto, certos atos são instintivos, o piscar das pálpebras para moderar o brilho da luz, o abrir maquinal da boca para respirar…
O animal carnívoro é impelido pelo instinto a se alimentar de carne, mas as precauções que toma e que variam conforme as circunstâncias, para segurar a presa, a sua previdência das eventualidades são atos da inteligência.
A inteligência se revela por atos voluntários, refletidos, premeditados, combinados, de acordo com a oportunidade das circunstâncias. É incontestavelmente um atributo exclusivo da alma. Todo ato maquinal é instintivo; o ato que denota reflexão, combinação, deliberação é inteligente. Um é livre, o outro não o é.
O instinto é guia seguro, que nunca se engana; a inteligência, pelo simples fato de ser livre, está, por vezes, sujeita a errar.
Livro dos Espíritos, Allan Kardec, questão 73.
O instinto é independente da inteligência?
– Não, precisamente, porque é uma espécie de inteligência. O instinto é uma inteligência não racional e é por esse meio que todos os seres provêm às suas necessidades.
Livro dos Espíritos, Allan Kardec, questão 593
Pode-se dizer que os animais não agem senão por instinto?
– Isso é ainda um sistema. É verdade que domina o instinto, na maioria dos animais, mas não vês que agem com uma vontade determinada? É da inteligência, embora limitada.
Além do instinto, não se pode denegar a certos animais atos combinado que denotam uma vontade de agir com sentido determinado e segundo as circunstancias. Há, portanto, neles, uma espécie de inteligência, cujo exercício é mais exclusivamente concentrado sobre os meios de satisfazem suas necessidades físicas e promoverem à sua conservação. Entre eles, nenhuma criação, nenhuma melhora. Qualquer que seja a arte que admiremos em seus trabalhos, aquilo que faziam outrora o fazem hoje, nem melhor, nem pior, segundo as formas e proporções constantes e variáveis. O filhote, isolado dos demais da sua espécie, por causa disso não deixa de construir seu ninho com o mesmo modelo sem ter recebido ensinamento. Se alguns são suscetíveis de uma certa educação, seu desenvolvimento intelectual, sempre fechado em limites estreitos, é devido à ação do homem sobre a natureza flexível, porque não tem nenhum progresso que lhe seja próprio. Esse progresso é efêmero e puramente individual, porque o animal, entregue a si mesmo, não tarda a retornar para os limites estreitos traçados pela Natureza.
Livro dos Espíritos, Allan Kardec, questão 592.
Se compararmos o homem e os animais, com respeito à Inteligência, a linha demarcatória parece difícil de ser estabelecida, porque certos animais têm, a esse respeito, uma superioridade notória sobre certos homens. Essa linha demarcatória pode ser estabelecida de maneira precisa?
– Sobre esse ponto vossos filósofos não estão quase nada de acordo. Uns querem que o homem seja um animal, outros que o animal seja um homem; estão todos errados. O homem é um ser à parte que se rebaixa, algumas vezes, muito baixo, ou que pode ser elevar muito alto. Fisicamente, o homem é como os animais, e menos dotado que muitos deles.
Livro dos Espíritos, Allan Kardec, questão 71
A inteligência é uma faculdade especial, própria de certas classes de seres orgânicos e que lhes dá, com o pensamento a vontade de agir, a consciência de sua existência e de sua individualidade, assim como os meios de estabelecer o intercâmbio com o mundo exterior e de prover às suas necessidades.
Livro Evolução Anímica, Gabriel Dellane, pg. 38 – Todo ser vivente possui uma parcela de inteligência rudimentaríssima, quanto a possamos imaginar nas formas vitais primitivas, mas que aumenta e especifica-se, à proporção que galga a cadeia dos seres, para abrolhar na humanidade.
Livro dos Espíritos, Allan Kardec, questão 606
A inteligência do homem e a dos animais emanam de um princípio único, mas no homem ela recebeu uma elaboração que o eleva acima da do animal
Livro Evolução Anímica, capítulo II – Estudo sobre as faculdades morais e intelectuais dos animais
Se o ser executar atos inteligentes, concluiremos que possui uma inteligência; se tais atos forem da mesma índole dos que observamos nos homens, deduziremos que essa inteligência é similar à da alma humana, de vez que, na criação, somente a alma é dotada de inteligência. Ora, como os animais possuem, não apenas a inteligência, mas, também, o instinto e a sensibilidade; e considerando o axioma que diz que todo efeito inteligente tem uma causa inteligente; assim como a grandeza do efeito é diretamente proporcional a potência da causa, temos o direito de concluir que a alma animal é da mesma natureza que a humana, apenas diferenciada no desenvolvimento gradativo. Frequentemente, falando-se de inteligência animal, corre -se o risco de não ser compreendido. Algumas pessoas figuram -se que, para demonstrar a existência de faculdades intelectuais ou morais da espécie animal, importa estabelecer que os animais possuam, sensivelmente, memória, discernimento, etc., no mesmo grau que possuímos, o que, aliás é impossível, tão certo como ser o seu organismo inferior ao nosso.
Outros imaginam que admitir tal princípio equivale a rebaixar a dignidade humana.
Trata-se, simplesmente, de assentar que, se o homem é mais desenvolvido que o animal, nem por isso deixa de ser uma verdade que a sua natureza pensante é da mesma ordem, em nada difere essencialmente e sim, apenas, em grau de manifestação.
Certa feita um caseiro de um sítio, através da sua janela, observa de madrugada uma raposa a conduzir o ganso apressado. Chegando rente ao muro, alto, de 1m20 de altura, a raposa tentou de um salto transpô-lo, sem largar a presa. Não o conseguiu, porém, e veio ao chão, insistiu ainda em três tentativas inúteis. Depois, assentou-se e a fitar o muro parecia medi-lo. Tomou, então, o partido de segurar o ganso pela cabeça, e, levantando-se de encontro ao muro, com as patas dianteiras, tão alto quanto possível, “enfiou o bico do ganso” numa fenda do muro. Saltando após ao cimo deste, debruçou-se jeitosamente até retomar a presa e atirá-la para o outro lado, não lhe restando, então, mais que saltar por sua vez, seguindo o seu caminho.
Que os animais refletem antes de tomar decisão, é o que acabamos de verificar com esta nossa raposa. Como este, outros casos semelhantes poderíamos citar. Mas, neles, a ação é muito mais demorada que em nós. Vejamos: Um urso do Jardim Zoológico de Viena, querendo colher um pedaço de pão que flutuava fora da jaula, teve a ideia engenhosa de revolver a água com a pata e formar uma corrente artificial. Flourens (fisiologista francês) conta que, por serem assaz numerosos os ursos do Jardim das Plantas (Jardim Botânico em Paris, faz parte do museu nacional de história natural), resolvera-se eliminar dois deles. Com tal intuito, lançaram bolos envenenados com ácido prússico, mas eis que eles, apenas cheiraram o alimento letal e puseram-se em fuga. Ninguém os suporia capazes de regressar e, contudo, atraídos pela guloseima, ei-los agora a em empurrar os bolos com as patas para a bacia do fosso, onde os remexiam, depois farejavam atentos e, à medida que o tóxico o evaporava, apressava -se a comê-los. Tal sagacidade valeu-lhes a vida, foram perdoados.
Erasmus Darwin (médico inglês, escreveu uma extensa obra de caráter cientifico sobre medicina e botânica) atesta-nos estes o fato: Certa vespa dispunha-se a transportar a carcaça da mosca, quando notou que as asas ainda presas à mesma carcaça lhe dificultavam o vôo. Que fez, então, nossa vespa? Pousou, cortou as asas da mosca e liderou-se mais facilmente com o despojo.
Citaremos, ainda, um traço curioso da inteligência de um macaco. Eu estava assentado com a família junto da lareira — diz Sr. Torrebianca —, enquanto os criados assavam na cinza as castanhas. Um macaco de grande estimação por suas diabruras lá estava a cobiçá-las impaciente, e, não vendo como pescá-las sem queimar-se, ei-lo que se atira a um gato sonolento, comprime-o vigorosamente contra o peito e, agarrando-lhe uma das patas, dela se serve, como um bastão, para tirar as castanhas da lareira em brasas. Aos miados desesperados do bichano, todos acorrem, enquanto algoz e vítima debandam, um com o seu furto, outro com a pata, queimada. O curioso, acrescenta Gratiolet (anatomista , antropólogo e zoologista francês), é que, diante disso, o Sr. Torrebianca concluiu que os animais não raciocinam, “Confesso — diz o espiritualista e religioso Agassiz — que não saberia como diferençar as faculdades mentais de uma criança das de um chimpanzé. ”
O naturalista Fisher certificou-se, mediante engenhosas experiências (revista cientifica de 1884), que os macacos mais inteligentes possuem a noção do número e sabem muito bem avaliar o peso.
Não é novidade que o pássaro Pega pode contar até cinco, pois quando os caçadores soam em número menor, ela não voa, até que eles se afastem. Temos assim que, neste particular, o pássaro se mostra superior a muitos selvagens.
Uma pesquisa publicada na revista científica Plos Biology da Universidade de Goethe, da Alemanha, em 2008 mostrou que esse pássaro – pega – tem a capacidade de se reconhecer no espelho. Essa capacidade até hoje havia sido demonstrada apenas entre grandes macacos (chimpanzés, bonobos e orangotangos), golfinhos e elefantes. No caso das pegas, os pesquisadores alemães usaram “pintas falsas” de cor amarela, não sem antes ver como os bichos reagiam ao espelho. Três deles mostraram estar começando a se reconhecer, indo para a frente e para a trás, agindo com curiosidade, diante da imagem, enquanto outros dois tentaram atacar ou até cortejar o “outro pássaro”. (Entre chimpanzés, também não são todos os indivíduos que entendem a brincadeira.) E, finalmente, duas pegas também usaram o bico e as patinhas para tentar arrancar a falsa pinta.
Os pesquisadores sugerem que essa capacidade rara surgiu entre os corvídeos graças, acredite ou não, à necessidade de ficar um passo à frente dos ladrões. É que as pegas costumam guardar comida em lugares específicos para consumo posterior, ficando sempre de olho nos companheiros de espécies que viram a “estocagem” e poderiam roubá-las. Isso teria turbinado sua capacidade de assumir perspectivas e ter empatia — justamente o necessário para se reconhecer no espelho.
Livro dos Espíritos, Allan Kardec, questão 604
A Inteligência é, assim, uma propriedade comum, um ponto de contato, entre a alma dos animais e a do homem?
– Sim, mas os animais não têm senão a inteligência da vida material. No homem, a inteligência dá a vida moral.
Livro Evolução Anímica, Gabriel Dellane, Capítulo 2 – Inteligência
Uma bugia, notável por sua bondade, recolhia macaquinhos doutras espécies e chegava a furtar cachorros e gatos pequenos, que lhe faziam companhia. Certa feita, um gatinho adotado arranhou-a, e ela, admirada, deu prova inteligência examinando-lhe as patas, e, logo, com os dentes, aparou as garras.
Os animais são, comumente, suscetíveis de educação, e sua inteligência desenvolve -se em convívio com o homem. Mais interessante, porém, é acompanhá-los em sua evolução pessoal, e constatar que são capazes, por assim dizer, de evoluir por si mesmos. Boussanelle capitão de cavalaria do antigo regimento de Beauvilliers, comunica o seguinte: Em 1757, um cavalo do meu esquadrão, já fora do serviço devido à idade, teve os dentes inutilizados a ponto de não poder mastigar a sua aveia. Verificou-se, então, que dois outros animais, que ficavam à esquerda e à direita, dele passaram a cuidar, retirando o feno da manjedoura e colocando-o à frente, depois de mastigado. O mesmo faziam com a aveia, depois de bem triturada. Esse curioso trabalho prolongou -se por dois meses, e durara, certo, se lá ficara o velho o companheiro.
Livro dos Médiuns, Allan Kardec, segunda parte, das manifestações espíritas, capítulo XXII
O cão que, pela sua inteligência superior entre os animais, se tornou o amigo e o comensal do homem, será perfectível por si mesmo, por sua iniciativa pessoal? Ninguém ousaria afirmá-lo, porquanto o cão não faz progredir o cão. O que, dentre eles, se mostre mais bem adestrado, sempre o foi pelo seu dono. Desde que o mundo é mundo, a lontra sempre construiu sua choça em cima d’água, seguindo as mesmas proporções e uma regra invariável; os rouxinóis e as andorinhas jamais construíram os respectivos ninhos senão do mesmo modo que seus pais o fizeram. Um ninho de pardais de antes do dilúvio, como um ninho de pardais dos tempos modernos, é sempre um ninho de pardais, edificado nas mesmas condições e com o mesmo sistema de entrelaçamento das palhinhas e dos fragmentos apanhados na primavera, na época dos amores. As abelhas e formigas, que formam pequeninas repúblicas bem administradas, jamais mudaram seus hábitos de abastecimento, sua maneira de proceder, seus costumes, suas produções. A aranha, finalmente, tece a sua teia sempre do mesmo modo.
“Por outro lado, se procurardes as cabanas de folhagens e as tendas das primeiras idades do mundo, encontrareis, em lugar de umas e outras, os palácios e os castelos da civilização moderna. Às vestes de peles brutas sucederam os tecidos de ouro e seda. Enfim, a cada passo, achais a prova da marcha incessante da Humanidade pela senda do progresso.
Livro Evolução Anímica, Gabriel Dellane, capítulo 2 – Da imitação inteligente.
Da imitação inteligente não faltam exemplos, e tanto mais dignos de nota, quando atestam uma certa noção das relações de causa e efeito, de uma consciência da causalidade. O orangotango e o chimpanzé, por exemplo, pronto descobrem o meio de abrir as fechaduras. O macaco de Buffon aprendera, por si mesmo, a utilizar -se de uma chave. A bugia Maluca, do Jardim Zoológico de Dresde, querendo ficar livre para sair à vontade da sua gaiola, imaginou roubar e esconder cuidadosamente a respectiva chave. Cães, cabras, gatos, aprenderam por si mesmos, sem qualquer educação prévia, a tocar uma campainha ou abrir uma porta. Apontam-se vacas, mulas, jumentos, que manejaram ferrolhos para abrir porteiras. O professor Hermann Foi conta que, na vacaria-modelo de Lancy (perto de Genebra), pouco depois de instalar-se no pátio um bebedouro, foi preciso mudar-lhe a torneira por outra só utilizável à chave, mas chave que o vaqueiro teve de carregar sempre consigo, porque o gado logo aprendera a manejá-la.
Nos macacos, a imitação inteligente é comumente desenvolvida ao extremo. Vários se hão visto que tiveram a ideia espontânea de cavalgar cachorros. Boitard cita um macaco roloway, que gostava de cavalgar um cão vagabundo, e Le Vaillant refere caso idêntico, de um bugio.
Livro Evolução em Dois Mundos, psicografia de Chico Xavier e Waldo Vieira, pelo Espírito André Luiz, capítulo 18 – Evolução e destino.
Ainda, na atualidade, os instrutores Espirituais intervêm na melhoria das formas evolutivas inferiores nas quais o princípio inteligente estagia?
– Sim, porque todos os campos da Natureza contam com agentes da Sabedoria Divina para a formação e expansão dos valores evolutivos.
Dentre todos os animais superiores, abaixo do homem, qual é o detentor de mais dilatadas idéias-fragmentos?
– O assunto demanda longo estudo técnico na esfera da evolução, porque há idéias-fragmentos de determinado sentido mais avançadas em certos animais que em outros. Ainda assim, nomearemos o cão e o macaco, o gato e o elefante, o muar e o cavalo como elementos de vossa experiência usual mais amplamente dotados de riqueza mental, como introdução ao pensamento contínuo.
A CURIOSIDADE
Livro Evolução Anímica, Gabriel Dellane, capítulo 2.
Esta faculdade é muito desenvolvida, mesmo nas espécies menos inteligentes, quais os peixes, os lagartos, as calhandras (tipo de ave europeia, semelhante aos nossos sabiás). A curiosidade cresce de ponto nos patos selvagens, nos cabritos e nas vacas. Superabunda, irresistível, nos macacos, indiciando já uma característica da curiosidade humana, ou seja, o desejo de compreender, de penetrar o sentido das coisas.
O macaco possui a faculdade de “exame atento”. O macaco, sabe, de fato, “absorver-se completamente no exame de um objeto, passando horas a fio para compreender um mecanismo, e chegando, mesmo, a esquecer o alimento e tudo que o rodeia”. Essa faculdade de exame atento tem, evidentemente, como base primária, a curiosidade, mas já de muito lhe sobreleva: — é uma das mais altas expressões da inteligência, a que visa o próprio aperfeiçoamento”.
A LINGUAGEM
Livro dos Espíritos, Allan Kardec, questão 594
Os animais têm uma linguagem?
– Se entendes uma linguagem formada de palavras e sílabas, não. Um meio de se comunicarem entre si, sim. Eles se dizem muito mais coisas do que acreditais, mas sua linguagem é limitada, como suas ideias, às suas necessidades.
Livro Evolução Anímica, Gabriel Dellane, página 68.
A linguagem articulada é atributo do homem. Foi graças a esse poderoso instrumento de progresso que ele pôde desenvolver-se, enquanto os outros seres permaneceram quase estacionários. Diga-se, contudo, que os animais da mesma espécie podem se comunicar entre si. O cão doméstico possui uma linguagem outra, que não a de seus ancestrais selvagens. Darwin nota que nos cães domésticos, temos o ladrido da impaciência, como se dá em caçadas; o da cólera – um rugido; o grunhido ou uivo desesperado do prisioneiro; o da alegria, quando vai a passeio, e finalmente o da súplica, para que se lhe abra a porta.
É incontestável que esses animais se compreendem. Veem-se, algumas vezes, as andorinhas deliberarem antes de tomar um roteiro. Sendo, porém, simples, primitivas as suas ideias, e não podendo amplificá-las pela linguagem articulada, nem coordená-las para tirar delas todo o partido desejável, é claro que se não aperfeiçoam senão com lenteza inaudita, parecendo-nos por isso imutáveis. Contudo, uma observação atenta faz-nos ver que os instintos variam conforme as novas condições criadas para os animais. As faculdades intelectuais também aumentam com exercícios reiterados, sobretudo nas espécies em contato com o homem.
Livro Evolução em Dois Mundos, psicografia de Chico Xavier e Waldo Vieira, pelo Espírito André Luiz.
Aperfeiçoando as engrenagens do cérebro, o princípio inteligente sentiu a necessidade de comunicação com os semelhantes e, para isso, a linguagem surgiu entre os animais, sob o patrocínio dos Gênios Veneráveis que nos presidem a existência.
De início, o fonema e a mímica foram os processos indispensáveis ao intercâmbio de impressões ou para o serviço de defesa, como, por exemplo, o silvo de vários répteis, o coaxar dos batráquios, as manifestações sonoras das aves e o mimetismo de alguns insetos e vertebrados, a se modificarem subitamente de cor, preservando-se contra o perigo. Contudo, à medida que se lhe acentuava a evolução, a consciência fragmentária investia-se na posse de mais amplos recursos. O lobo grita pelos companheiros na sombra noturna, o gato encolerizado mostra fúria característica, miando raivosamente, o cavalo relincha de maneira particular, expressando alegria ou contrariedade, a galinha emite interjeições adequadas para anunciar a postura, acomodar a prole, alimentar os pintinhos ou rogar socorro quando assustada, e o cão é quase humano, em seus gestos de contentamento e em seus ganidos de dor.
- EVOLUÇÃO
Livro dos Espíritos, Allan Kardec, questão 540
Tudo se coordena na Natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo que, ele mesmo, começou pelo átomo. Admirável lei de harmonia da qual vosso espírito limitado não pode ainda entender o conjunto.
Livro Evolução Anímica, Gabriel Dellane, capítulo 2 – A gradação dos seres
Poderíamos mostrar, também, que os sentimentos morais, como “o remorso, o senso moral, a ideia do justo e do injusto”, encontra -se em gérmen em todos os animais, podendo manifestar-se em ocasiões oportunas.
O agente imortal que anima todos os seres é sempre uno e único. Com efeito, não podemos conceber por que houvesse Deus criado seres passíveis de sofrimentos, sem lhes outorgar, ao mesmo tempo, a faculdade de se beneficiarem dos esforços que fazem por se melhorarem.
Se o princípio inteligente que os anima fosse condenado a permanecer eternamente nessa condição inferior, Deus não seria justo, com o favorecer o homem em detrimento de outras criaturas. Tudo se liga e se entrosa intimamente no Universo, desde o átomo insignificante ao sol gigantesco, pendurado no espaço.
Livro O Consolador, psicografia de Chico Xavier, pelo Espírito Emmanuel, questão 7, Emmanuel diz que na conceituação dos valores espirituais, a lei é de evolução para todos os seres e coisas do Universo.
Livro O Consolador, psicografia de Chico Xavier, pelo Espírito Emmanuel, questão 28
As manifestações de vida nos vários reinos da Natureza, abrangendo o homem, significam a expressão do Verbo Divino, em escala gradativa nos processos de aperfeiçoamento da Terra?
– Sim, em todos os reinos da Natureza palpita a vibração de Deus, como o Verbo Divino da Criação Infinita, e, no quadro sem-fim do trabalho da experiência, todos os princípios, como todos os indivíduos, catalogam os seus valores e aquisições sagradas para a vida imortal.
Livro dos Espíritos, Allan Kardec, questão 602
Os animais progridem, como o homem, por sua própria vontade, ou pela força das coisas?
— Pela força das coisas; e é por isso que, para eles, não existe expiação.
Revista Espírita, Allan Kardec, Julho de 1860, pelo Espírito Charlet: “Há um sensível progresso em vossa Terra, jamais explicado: é que o próprio animal se aperfeiçoa. Assim, outrora, o animal era muito mais rebelde ao homem. Também há progresso de vossa parte, por terdes institivamente compreendido esse aperfeiçoamento dos animais, pois que vos proibis de bater-lhes. Eu dizia que há progresso moral no animal. Há também progresso de condição. Assim, um infeliz cavalo açoitado, ferido por um carroceiro mais bruto que ele, estará, comparativamente numa condição muito mais tranquila, mais feliz que a deu seu carrasco. Não é de toda justiça, e devemos nos admirar de que um animal que sofre, que chora, que é reconhecido ou vingativo, conforme a doçura ou a crueldade de seus donos, seja recompensado por haver pacientemente suportado uma vida repleta de torturas? Antes de tudo, Deus é justo e todas as suas criaturas estão sob suas leis, e estas dizem: “Todo ser fraco que tiver sofrido, será recompensado”.
- REENCARNAÇÃO
Livro O Consolador, psicografia de Chico Xavier, pelo Espírito Emmanuel, questão 11 – nada se perde da obra de Deus em torno dele, porque todas as substancias se transformam na evolução para o mais alto.
Livro Evolução em Dois Mundos, psicografia de Chico Xavier e Waldo Vieira, pelo André Luiz, cap. XIII, 1ª Parte
Os animais domesticados pela inteligência humana, podem permanecer por determinado tempo no plano espiritual, com vistas ao seu aprimoramento, após o que regressam aos seus núcleos de origem no solo terrestre, para que avancem na romagem evolutiva, compensados com valiosas aquisições de purificação, pelas quais auxiliam a fauna terrestre com os benefícios das chamadas mutações espontâneas.
Livro Chico Xavier o amigo dos animais, Carlos A. Baccelli, título: “Lorde “e suas encarnações.
– José e Chico Xavier possuíam um lindo cão chamado Lord. Era diferente dos outros cães. Conhecia, nas pessoas que visitavam seus donos, quais os bem-intencionados, quais os curiosos e aproveitadores.
Dava logo sinal, latindo insistentemente ou mudamente balançando a cauda, à chegada de alguém, dizendo nesse sinal se a visita vinha para o bem ou para o mal…
Chico, conta-nos lindos casos sobre o seu cão. Depois, tristemente, acrescenta: – “Senti-lhe, sobremodo, a morte. Fez-me grande falta. Era meu companheiro inseparável de oração. Toda manhã e à noite, em determinada hora, dirigia-me ao quarto para orar. Lorde chegava logo em seguida. Punha as patas sobre a cama, abaixava a cabeça e ficava assim em atitude de recolhimento orando comigo.
Quando eu acabava a oração ele também acabava e ia deitar-se a um canto do quarto.
Em minhas preces mais sentidas, Lorde levantava a cabeça e enviava-me os seus olhos meigos, compreensivos, às vezes cheios de lágrimas, como a dizer que me conhecia o íntimo, ligando-se ao meu coração.
Desencarnou. Enterrei-o no quintal lá de casa”.
Chico conta que o seu cachorro Lorde reencarnou 5 vezes em sua casa.
No livro do confrade Oswaldo Cordeiro, de Mirassol, ele narra: um dia, sentado na varanda de seu lar, com um cachorrinho no colo, chamado brinquinho, o Chico me disse:
– Meu filho, este (referindo-se ao brinquinho) é o mesmo amigo de Pedro Leopoldo… É a quinta vez que ele vem para a minha casa!
- OS ANIMAIS NOS MUNDOS SUPERIORES
Revista Espírita, Allan Kardec, Março de 1858 – Os animais não estão excluídos desse estado progressivo, sem se aproximarem, contudo, daquele do homem; seu corpo, mais material, prende-se à terra, como os nossos. Sua inteligência é mais desenvolvida que a dos nossos animais; a estrutura de seus membros presta-se a todas as exigências do trabalho; são encarregados da execução de obras manuais: são os serviçais e os operários; as ocupações dos homens são puramente intelectuais. Para os animais o homem é uma divindade tutelar que jamais abusa do poder para os oprimir.
Os animais são os únicos serviçais e trabalhadores do planeta, merecem uma menção toda especial.
Livro dos Espíritos, Allan Kardec, questão 603
Nos mundos superiores, os animais conhecem a Deus?
– Não. Para eles o homem é um deus, como outrora os Espíritos eram deuses para o homem.
Livro dos Espíritos, Allan Kardec, questão 604
Os animais, mesmo aperfeiçoados nos mundos superiores, sendo sempre inferiores aos homens, disso resultaria que Deus tivesse criado seres intelectuais perpetuamente votados à inferioridade, o que parece em desacordo com a unidade de vistas e de progresso que se assinalam em todas as suas obras?
— Tudo se encadeia na Natureza por liames que não podeis ainda perceber, e as coisas aparentemente mais disparatadas têm pontos de contato que o homem jamais chegará a compreender no seu estado atual. Pode entrevê-los por um esforço de sua inteligência, mas somente quando essa inteligência tiver atingido todo o seu desenvolvimento e se libertado dos prejuízos do orgulho e da ignorância poderá ver claramente na obra de Deus. Até lá suas ideias limitadas lhe farão ver as coisas de um ponto de vista mesquinho. Sabei que Deus não pode contradizer-se e que tudo, na Natureza, se harmoniza através de leis gerais que jamais se afastam da sublime sabedoria do Criador.
Revista Espírita, Allan Kardec, Julho de 1860, mensagem do Espírito Charlet: “Nos mundos adiantados os animais são de tal modo superiores que, para eles, a mais rigorosa ordem é dada pela palavra, e entre vós, muitas vezes, a pauladas. Em Júpiter, por exemplo, basta uma palavra, enquanto entre vós as chicotadas não são suficientes”.
Livro dos Espíritos, Allan Kardec, questão 601
Os animais estão sujeitos, como o homem, a uma lei progressiva?
– Sim; e daí vem que nos mundos superiores, onde os homens são mais adiantados, os animais também o são, dispondo de meios mais amplos de comunicação. São sempre, porém, inferiores ao homem e se lhe acham submetidos, tendo neles o homem servidores inteligentes. Nada há nisso de extraordinário. Tomemos os nossos mais inteligentes animais, o cão, o elefante, o cavalo, e imaginemo-los dotados de uma conformação apropriada a trabalhos manuais. Que não fariam sob a direção do homem?
Livro Filosofia Espírita, psicografia de João Nunes Maia, pelo Espírito Miramez, volume 2.
Os animais, nos mundos superiores à Terra, certo que são mais adiantados, pela atração natural das necessidades dos habitantes. Eles teriam, quem sabe, os trabalhos mais grosseiros que, se fosse na Terra, quem os faria seriam os próprios homens mais atrasados, em duras provas.
Os homens, nos mundos felizes, desfrutam da verdadeira felicidade. Os trabalhos a eles entregues são de ordem mental, de sorte que os animais fariam as demais tarefas, sob a direção, é claro, de outros Espíritos menos evoluídos dos que os que traçam planos. As lavouras, por exemplo, seriam tratadas por eles de forma maravilhosa, e nesse passo da elevação, receberiam dos próprios homens carinho especial e conforto redobrado em se comparando à Terra. Por exemplo, animais equivalentes ao macaco, em mundos superiores, fariam o trabalho que o pedreiro realiza em teu mundo físico, o serviço de abastecimento de águas, de esgotos, limpeza das residências, e até mesmo a condução de veículos. Daí se pode concluir o quanto eles podem cooperar com os homens. Entretanto, eles não foram criados para servir aos homens eternamente; no decorrer do tempo, o próprio progresso põe esses animais nas escalas dos homens, talvez em outros mundos, em que passam a nascer e onde irão colher o que plantaram na retaguarda.
- MEDIUNIDADE NOS ANIMAIS
Evoca um rochedo e ele te responderá. Há toda uma multidão de espíritos prontos a tomar a palavra sob qualquer pretexto.” (O Livro dos Médiuns).
Podem os animais ser médiuns? Muitas vezes tem sido formulada esta pergunta, à qual parece que alguns fatos respondem afirmativamente. O que, sobretudo, tem autorizado a opinião dos que pensam assim são os notáveis sinais de inteligência de alguns pássaros que, adestrados, parecem adivinhar o pensamento e tiram de um maço de cartas as que podem responder com exatidão a uma pergunta feita. Observamos com especial atenção tais experiências e o que mais admiramos foi a arte que houve de ser empregada para a instrução dos ditos pássaros.
Livro dos Médiuns, Allan Kardec, segunda parte, capítulo XIX – Papel do Médium nas Comunicações, item 225
Qualquer que seja a natureza dos médiuns escreventes, mecânicos, semimecânicos ou simplesmente intuitivos, nossos processos de comunicação com os Espíritos encarnados, diretamente, ou com os Espíritos propriamente ditos, se realizam unicamente pela irradiação do nosso pensamento.
Com um médium cuja inteligência atual ou anterior esteja desenvolvida, nosso pensamento se comunica instantaneamente, de Espírito a Espírito, graças a uma faculdade peculiar à essência mesma do Espírito. Nesse caso, encontramos no cérebro do médium os elementos apropriados à roupagem de palavras correspondentes a esse pensamento, quer o médium seja intuitivo, semimecânico ou mecânico.
“Há um princípio que, estou certo, todos os espíritas admitem, é que os semelhantes agem com seus semelhantes e como seus semelhantes. Ora, quais são os semelhantes dos Espíritos, senão os Espíritos, encarnados? O vosso Perispírito e o nosso são tirados do mesmo meio, são de uma natureza idêntica, são, numa palavra, semelhantes; possuem uma propriedade de assimilação mais ou menos desenvolvida, de imantação mais ou menos vigorosa, que nos permite a nós, Espíritos e encarnados, pormo-nos muito pronta e facilmente em relação.
O fogo que anima os animais, o sopro que os faz agir, mover-se e falar sua linguagem não têm, até o presente, nenhuma aptidão para se misturar, se unir, fundir-se com o sopro divino, a alma etérea, o Espírito, numa palavra, que anima o ser essencialmente perfectível, o homem, esse rei da criação”.
Revista Espírita, Allan Kardec, Maio 1865 (…) o animal, seja qual for, não pode traduzir seu pensamento pela linguagem humana, suas ideias são apenas rudimentares; para ter a possibilidade de exprimir-se, como o faria o Espírito de um homem, ele necessitaria de ideias, conhecimentos e um desenvolvimento que não tem, nem pode ter. Tende, pois como certo que nem o cão, o gato, o burro, o cavalo ou o elefante, podem manifestar-se por via mediúnica.
Revista Espírita, Allan Kardec, Junho de 1.860, título: o Espírito e o Cãozinho.
O Sr. G. G…, de Marselha, nos transmite o seguinte fato: “Um rapaz faleceu há oito meses e sua família, na qual há três irmãs médiuns, o evoca quase diariamente, por meio de uma cesta. Cada vez que o Espírito é chamado, um cãozinho, do qual muito gostava, salta sobre a mesa e vem cheirar a cesta, soltando pequenos ganidos. A primeira vez que isto aconteceu, a cesta escreveu: ‘Meu bravo cachorrinho, que me reconhece’. “Não presenciei o fato, mas as pessoas, das quais o ouvi várias vezes, o testemunharam e são excelentes espíritas e muito sérias para que eu possa por em dúvida a sua veracidade. Perguntei a mim mesmo se o Perispírito conservava partículas materiais suficientes para afetar o olfato do cão, ou se este seria dotado da faculdade de ver os Espíritos. É um problema que me parece útil aprofundar, caso ainda não esteja resolvido. ”
- Evocação do Sr. M***, morto há oito meses, do qual acabamos de falar. Resp. – Eis-me aqui. 2. Confirmais o fato relativo ao vosso cão, que vem cheirar a cesta que serve às vossas evocações, e que parece reconhecer-vos? Resp. – Sim.
- Poderíeis dizer-nos a causa que atrai o cão para a cesta? Resp. – A extrema finura dos sentidos pode levar a adivinhar a presença do Espírito e até vê-lo. 4. O cão vos vê ou vos sente? Resp. – O olfato, sobretudo, e o fluido magnético.
No dia seguinte a Sra. Lesc…, médium, membro da Sociedade, obteve em particular a explicação seguinte, sobre o mesmo assunto: “O fato citado na Sociedade é verídico, embora o Perispírito desprendido do corpo não tenha nenhuma de suas emanações. O cão farejava a presença do dono; quando digo farejava, entendo que seus órgãos percebiam sem que os olhos vissem, sem que o nariz sentisse; mas todo o seu ser estava advertido da presença do dono, e essa advertência lhe era dada, sobretudo, pela vontade que se desprendia do Espírito dos que evocavam o morto. A vontade humana alcança e adverte o instinto dos animais, principalmente dos cães, antes que algum sinal exterior o tenha revelado. O cão é posto, por suas fibras nervosas, em contato direto conosco, Espírito, quase tanto quanto com os homens; percebe as aparições; dá-se conta da diferença existente entre elas e as coisas reais ou terrestres e lhes tem um grande pavor. O cão uiva à Lua, conforme a expressão vulgar; uiva também quando sente a morte chegar. Em ambos os casos, e em muitos outros ainda, o cão é intuitivo. Acrescentarei que seu órgão visual é menos desenvolvido que seu órgão perceptivo; ele vê menos do que sente. O fluido elétrico o penetra quase que habitualmente. O fato que me serviu de ponto de partida nada tem de surpreendente, porque, no momento do desprendimento da vontade que chamava seu dono, o cão sentia sua presença quase tão depressa que o próprio Espírito ouvia e respondia à chamada que lhe era feita. ” Georges (Espírito familiar).
Livro dos Médiuns, Allan Kardec, segunda parte, das manifestações espíritas, capítulo XXII
– “É certo que os Espíritos podem tornar-se visíveis e tangíveis aos animais e, muitas vezes, o terror súbito que eles denotam, sem que lhe percebais a causa, é determinado pela visão de um ou de muitos Espíritos, mal-intencionados com relação aos indivíduos presentes, ou com relação aos donos dos animais. Ainda com mais frequência vedes cavalos que se negam a avançar ou a recuar, ou que empinam diante de um obstáculo imaginário. Pois bem! Tende como certo que o obstáculo imaginário é quase sempre um Espírito ou um grupo de Espíritos que se comprazem em impedi-los de mover-se. Lembrai-vos da mula de Balaão que, vendo um anjo diante de si e temendo-lhe a espada flamejante, se obstinava em não dar um passo. É que, antes de se manifestar visivelmente a Balaão, o anjo quisera tornar-se visível somente para o animal. Mas, repito, não mediunizamos diretamente nem os animais, nem a matéria inerte. É-nos sempre necessário o concurso consciente, ou inconsciente, de um médium humano, porque precisamos da união de fluidos similares, o que não achamos nem nos animais, nem na matéria bruta.
Reconheço perfeitamente que há nos animais aptidões diversas; que certos sentimentos, certas paixões, idênticas às paixões e aos sentimentos humanos, se desenvolvem neles; que são sensíveis e reconhecidos, vingativos e odientos, conforme se procede bem ou mal com eles. É que Deus, que nada fez incompleto, deu aos animais, companheiros ou servidores do homem, qualidades de sociabilidade, que faltam inteiramente aos animais selvagens, habitantes das solidões. Mas, daí a poderem servir de intermediários para a transmissão do pensamento dos Espíritos, há um abismo: a diferença das naturezas.
“Resumindo: os fatos mediúnicos não podem dar-se sem o concurso consciente, ou inconsciente, dos médiuns; e somente entre os encarnados, Espíritos como nós, podemos encontrar os que nos sirvam de médiuns. Quanto a adestrar cães, pássaros, ou outros animais, para fazerem tais ou tais exercícios, é trabalho vosso e não nosso.
Livro Almas Crucificadas, psicografia de Zilda Gama, pelo Espírito Victor Hugo, relatado o caso do cão Plutão, que pressente o assassinato do seu dono.
Plutão, à semelhança da maioria dos animais de sua raça, tinha faculdades anímicas dignas de reparo, sobressaindo a da vidência e a da percepção sensitiva. O cão enxerga nas trevas, nos abismos da Terra e das almas, e, quase sempre, em vez de fixar a vista para devassar o ser humano, utiliza o olfato, que pressente as irradiações de quem se lhe aproxima, percebendo se são maléficas ou benéficas, as de um amigo ou adversário, pois, para ele, há como que o suave aroma de uma rosa ou a exalação nauseante do perverso que concebe espantosos delitos! O olfato para ele é, assim, uma segunda visão, uma percepção psíquica de grande potência, um verdadeiro por tento com o qual foi dotado pela Natureza. A sagacidade do cão é às vezes superior à do homem. Eis a triste conclusão a que chegamos: ultrapassa a dos mais famosos dos investigadores racionais. Essa emanação psíquica, pressentida pelo cão, constitui a chamada intuição que atua também a distância, nos vegetais e em todos os seres, afetando-os, causando-lhes, em numerosos casos, o aniquilamento da vida orgânica, fenômeno esse constatado há muitos séculos, pelos romanos, que lhe deram o nome de jetatura (mau olhado/má sorte).
Livro Chico Xavier o amigo dos animais, Carlos A. Baccelli, título a reação dos gatos.
– Sabe Baccelli – contou-me Chico – o nosso Dr. Inácio era um homem muito sábio. Certa vez, conversando com ele, num encontro que tivemos lá na Praça dos Correios, ele me falou:
– Chico, o sanatório está regurgitando… Eu nunca vi tanta obsessão! O pessoal mais antigo dizia que chegaria um tempo em que os casos de obsessão seriam tantos, que precisaríamos amarrar os obsidiados com cipó, já que as coradas de bacalhau não seriam suficientes…infelizmente, acho que estamos vivenciando essa época!
– Precisamos de muita oração e vigilância, não é? – Considerei.
– Quando chega um paciente novo para ser internado – continuou -, eu chamo a Arminda, uma das enfermeiras do hospital – e pergunto: – como é que os gatos estão reagindo? Se ela me diz que estão inquietos e de pelo eriçados, já sei que precisamos trabalhar mais…
– Uai, Doutor! Então, eu vou passar a observar melhor os gatos lá de casa…
– Você pode observar, Chico – ele me disse – que através dos pelos eriçados dos gatos, eu sei como a barra está…
- PADRE GERMANO E O CÃO SULTÃO
Você sabe quem foi padre Germano? Para falarmos só um pouco dele, precisaríamos de um livro de grosso calibre. Em algumas linhas vamos dar uma ideia muito pálida desse Espírito grandioso. Antecipo, entretanto, que ele tinha um cão chamado Sultão.
Padre Germano foi um Espírito que viveu a verdadeira religião que é a religião do amor. Foi um cristão no sentido pleno da palavra. Tão imenso foram seus exemplos de vida que viveu perseguido por aqueles a quem as suas atitudes verdadeiras de amor ao próximo incomodavam muito. Designado para servir em locais distantes e inexpressivos, nunca deixou de encontrar a quem amar incondicionalmente. Seus algozes nunca compreenderam que o amor serve entre rosas como no pântano. Esses perseguidores nada mais conseguiram do que dar oportunidades para que ele crescesse ainda mais. O interessante é que o cão que o acompanhava, guiava-o, em várias ocasiões aos locais onde o sofredor estava e que era desconhecido das demais pessoas, inclusive do próprio padre. Não ficou esclarecido o mecanismo pelo qual o cão ficava sabendo onde estava o sofredor, mas que ele sabia, sabia!
Livro Memórias de Padre Germano, Amália Domingos Soler, páginas 106 a 108:
Repentinamente, aparece Miguel, o velho companheiro, pegando Sultão por uma orelha e dizendo-me ofegante:
— Ah! Senhor! Está maluco o Sultão, irremediavelmente doido! A bem dizer, não sei o que tem este animal; o certo é que invadiu a igreja e começou a puxar as mulheres pelas saias, a arranhar o casaco dos homens, correndo de um para outro lado, ladrando desesperadamente; por fim, atira-se a mim e quase me derruba; mas, ainda bem que a custo consigo trazer-lho aqui.
Sultão estava encharcado d’água e barro e, tomando–lhe nas mãos a cabeça, vi que dos olhos emanavam lágrimas.
Como que compreendendo a narrativa de Miguel, o pobre animal se aquietara, olhando-me tristemente; e eu, que o estimava como íntimo amigo acariciei-o dizendo–lhe: – “por que assustas a gente, Sultão? Por que aborreces a Miguel que contigo reparte a comida? Vamos, pede-lhe perdão…” Miguel começou a rir e deu algumas palmadinhas na cabeça de Sultão, enquanto ele, assim acariciado, se tomava de brios e começava a ladrar e a saltar sobre nós, ao mesmo tempo que nos puxava pelas vestes. Ora escavava o solo, ora corria até à porta; depois, de pé, patas apoiadas ao peitoril da janela, batia nas vidraças como querendo despedaçá-las e volvia a puxar-me pela manga do hábito. Ao ver tanto empenho do animal, acabei por dizer a Miguel: – ‘Com certeza Sultão viu algum infeliz e vem avisar-nos para que o salvemos.’ Ao ouvir tais palavras, Sultão recomeçou os saltos e correrias, até que tomei da capa, enquanto Miguel, assombrado, me considerava louco em expor-me ao temporal.
— Mas, aonde vai o senhor com esse tempo? – Dizia.
— Vamos aonde me chama o dever; nem devemos ser nós, homens, menos generosos que os cães.
Miguel, por única resposta, foi buscar seu velho capote e ofereceu-me o braço para que nele me apoiasse.
E seguimos Sultão, o qual bem depressa se esgueirou pelas escarpas de uma furna, dando-nos apuros mil para galgar a montanha. À meia encosta, o animal deteve-se olhando uma nova furna, a ladrar desesperadamente. Também nós paramos, e Miguel, depois de escutar por alguns momentos, disse: – “Parece haver aí alguém que geme.” Entretanto, o vento que sibilava, naquelas brechas, nada deixava ouvir.
Sultão, a fim de convencer-nos, sondou o terreno, fez vários rodeios e começou a descer a nossa frente, pois que o seguimos guiados e sustidos certamente por algum anjo de Deus, que de outro modo não venceríamos tantas dificuldades.
Baixados que fomos a um recôncavo pedregoso, deparou-se-nos um homem gemebundo; levantamo-lo; ei-lo que, ao sentir-se amparado, murmurou: – Graças a Deus! – para desfalecer logo sem sentidos.
- COSUMO DE CARNE ANIMAL
Livro do Espíritos, Allan Kardec, questão 723
A alimentação animal, entre os homens, é contrária a Lei Natural?
– Na vossa constituição física a carne nutre a carne, de outra maneira o homem enfraquece. A lei de conservação dá ao homem um dever de entreter suas forças e sua saúde para cumprir a lei do trabalho. Ele deve, pois, se alimentar segundo exige a sua organização.
Livro Filosofia Espírita, psicografia de João Nunes Maia, pelo Espirito Miramez, volume 15.
“Cabe ao homem, por lei, respeitar as exigências do próprio organismo, desde quando não entre no excesso, por já passar ao desperdício. O alimento animal, com o progresso, deverá ceder lugar à alimentação vegetariana. O homem já está nessa procura. Se a carne tem proteínas indispensáveis à saúde humana, podemos perguntar: de onde vêm elas? Será que não podem ser encontradas em outras fontes? Enquanto se precisa da carne, usando-a com equilíbrio, o “não matarás” vai se elevando no entendimento da sociedade, pelas asas do progresso.
Se a organização fisiológica de alguém requer carne animal, este pode enfraquecer se não comê-la e não deve deixá-la; mas, se o organismo já rejeita a alimentação animal, para que usá-la?
Não devemos censurar ninguém porque come carne, nem considerar fanáticos os que se abstenham de comê-la. A vida é plena de tudo, para que a paz possa reinar nos corações, dentro das leis que regulam a liberdade de cada um. Cabe a todos nós mediarmos sempre e respeitarmos os direitos dos outros, na frequência a sua evolução espiritual.
Livro dos Espíritos, Allan Kardec, questão 724
A abstenção de alimento animal, ou outro, como expiação é meritória?
– Sim, se se priva pelos outros. Mas Deus não pode ver uma mortificação quando não há nela privação séria e útil. Por isso, dissemos que aqueles que se privam só na aparência, são hipócritas. ”
Livro Cartas e Crônicas, psicografia de Chico Xavier, pelo Espírito Irmão X, capítulo 4, com o título: Treino para a morte”
Comece a renovação de seus costumes pelo prato de cada dia. Diminua gradativamente a volúpia de comer a carne dos animais. O cemitério na barriga é um tormento, depois da grande transição. O lombo de porco ou o bife de vitela, temperados com sal e pimenta, não nos situam muito longe dos nossos antepassados, os tamoios e os caiapós, que se devoravam uns aos outros.
Livro Conduta Espírita, psicografia de Waldo Vieira, pelo Espírito André Luiz, capítulo 33
Esquivar-se de qualquer tirania sobre a vida animal, não agindo com exigências descabidas para a satisfação de caprichos alimentares nem com requintes condenáveis em pesquisas laboratoriais, restringindo-se tão somente às necessidades naturais da vida e aos impositivos justos do bem. O uso edifica, o abuso destrói.
Livro Chico Xavier o amigo dos animais, Carlos A. Baccelli, com o título: o coelho carnívoro
Chico criava um coelho. Veio perdido, saltando pela rua e, encontrando o portão de sua casa aberta, entrou para ficar. Não se sabia de quem era e o médium não tinha coragem de enxotá-lo. Ficou ali, disputando o espaço do quintal e a ração dos gatos e dos cachorros. Conversando com um jornalista que o entrevistava, Chico disse com o seu conhecido bom-humor: – Este coelho não é muito honrado…outro dia, dois de meus gatos vieram denunciá-lo a mim. Arranharam as minhas mãos e, praticamente, me puxaram até onde ficam os seus pratos de comida. O coelho estava lhes comendo toda a ração de carne. Os coelhos são herbívoros, mas este, corrompido pela escravidão, virou carnívoro! E acrescentou, sorrindo: talvez esteja estagiando para ser um gato na próxima encarnação, não sei… tudo é possível!
Uma espírita que participava da conversa perguntou: Chico, mas então, ele não estaria regredindo, passando de herbívoro a carnívoro? Ah, minha filha! -, respondeu, deixando-nos pensar – dizem que Hitler era vegetariano…
Livro: Antologia Mediúnica do Natal, psicografia de Chico Xavier, Espíritos Diversos, título: os animais ante o natal – Irmão X..
Entretecíamos animada conversação, em torno dos abusos da mesa nas comemorações natalinas, com o parecer do grave Jonathan bem Asser, que asseverava a conveniência de ater-se o homem ao sacrifício dos animais apenas quanto ao estritamente necessário, quando o velho Ebenezer bem Aquim, orientador de grupos hebraicos do Mundo Espiritual, tomou a palavra e se exprimiu conciso:
– Talvez não saibam vocês, quanto devemos aos bichos na manifestação do Evangelho…
E, ante a nossa curiosidade, narrou, comovido:
– Há muitos anos, ouvi do rabi Eliúde, que se encontra agora nas esferas superiores, interessantes minudências em torno do nascimento de Jesus. Contou-nos esse antigo mentor de israelitas desencarnados que a localização de José da Galileia e da companheira nos arredores de Belém de Judá não foi assim tão fácil.
O casal, que se compunha de jovem Maria, tocada de singular formosura, e do patriarca que a recebera por esposa, em madureza provecta, entrou na cidade quando as ruas e hospedarias se mostravam repletas.
Os descendentes do ramo de David reuniam-se aos magotes para atender ao recenseamento determinado pelo governo de Augusto.
Bronzeados cameleiros do deserto confraternizavam com vinhateiros de Gaza, negociantes domiciliados em Jericó entendiam-se com mercadores residentes no Egito.
Acompanhados por benemérita legião de Espíritos sábios e magnânimos, a cuja frente se destacava o abnegado Gabriel, que anunciara a Maria a vinda do Senhor. José e a consorte bateram primeiramente às portas da estalagem de Abias, filho de Sadoc, que para logo os rechaçou com a negativa; entretanto, pousando os olhos malevolentes na jovem desposada, ensaiou graçola irreverente, o que fez que José, apreensivo, estugasse o passo para diante.
Recorreram aos préstimos de Jorão, usurário que alugava cômodos a forasteiros. O ricaço considerou, de imediato, a impossibilidade de acolhe-los, mas, ao examinar a beleza da moça nazarena, chamou à parte o enrugado carpinteiro e indagou se a menina era filha de escravos que se pudesse obter a preço amoedado… José, mais aflito, demandou a frente para esbarrar na pensão de Jacob, filho de Josias, antigo estalajadeiro, que declarou impraticável o alojamento dos viajantes; no entanto, ao fixar-se na recém-chegada, perguntou desabridamente como é que um varão, assim velho, tinha coragem de exibir uma jovem daquela raridade na praça pública. Deprimido, o ancião diligenciou alcançar pousada próxima; contudo, as invectivas de Jacob atraíram curiosos e vadios que cercaram o par, crivando-o de injúrias.
Os recém-vindos de Nazaré, vendo-se alvo de chufas e zombarias, tropeçavam humilhados…
Gabriel, no entanto, recorreu à prece, rogando o Amparo Divino, e diversos emissários do Céu se manifestaram, em nome de Deus, deliberando que a única segurança para o nascimento de Jesus se achava no estábulo, pelo que conduziram José e Maria para a casa rústica dos carneiros e dos bois…
Ebenezer, a seguir, comentou, bem-humorado:
– Não fossem os anfitriões da estrebaria e talvez a Boa Nova tivesse seu aparecimento retardado…
E terminou, inquirindo:
– Não será isso motivo para que os animais na Terra sejam poupados ao extermínio, pelo menos no dia do Natal?
Livro Missionários da Luz, psicografia de Chico Xavier, pelo Espírito André Luiz, capítulo 4
– Porque tamanha estranheza? E nós outros, quando nas Esferas da carne? Nossas mesas não se mantinham à custa das vísceras dos touros e das aves? A pretexto de buscar recursos proteicos, exterminávamos frangos e carneiros, leitões e cabritos incontáveis. Sugávamos os tecidos musculares, roíamos os ossos. Não contentes em matar os pobres seres que nos pediam roteiros de progresso e valores educativos, para melhor atenderem à Obra do Pai, dilatávamos os requintes da exploração milenária e infligíamos a muitos deles determinadas moléstias para que nos servissem ao paladar, com a máxima eficiência. O suíno comum era localizado por nós, em regime de ceva, e o pobre animal, muita vez à custa de resíduos, devia criar para nosso uso certas reservas de gordura, até que se prostrasse, de todo, ao peso de banhas doentias e abundantes. Colocávamos gansos nas engordadeiras para que hipertrofiassem o fígado, de modo a obtermos pastas substanciosas destinadas a quitutes que ficaram famosos, despreocupados das faltas cometidas com a suposta vantagem de enriquecer os valores culinários. Em nada nos doía o quadro comovente das vacas-mães, em direção ao matadouro, para que nossas panelas transpirassem agradavelmente. Encarecíamos, com toda a responsabilidade da Ciência, a necessidade de proteínas e gorduras diversas, mas esquecíamos de que a nossa inteligência, tão fértil na descoberta de comodidade e conforto, teria recursos de encontrar novos elementos e meios de incentivar os suprimentos proteicos ao organismo, sem recorrer às indústrias da morte. Esquecíamo-nos de que o aumento dos laticínios, para enriquecimento da alimentação, constitui elevada tarefa, porque tempos virão, para a Humanidade terrestre, em que o estábulo, como o lar, será também sagrado.
- MAUS TRATOS E DESTRUIÇÃO
Livro O Evangelho segundo o Espiritismo, Allan Kardec, capítulo 5, item 4.
O homem, criatura dotada de razão e do livre arbítrio é o único ser que se destrói. Os animais não destroem seus semelhantes, a não ser para proteção ou alimentação. Não há destruição por maldade, por vaidade, por ambição. Como está no capítulo 25, item 7 do Evangelho Segundo o Espiritismo: O homem é insaciável em seus desejos. Quantos homens tombam por suas faltas! Quantos são vítimas de sua imprevidência, de seu orgulho e de e de sua ambição!
O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, questão 733
A necessidade da destruição existirá sempre entre os homens da Terra?
– A necessidade de destruição enfraquece entre os homens, à medida que o Espírito se sobrepõe à matéria, e é por isso que vedes o horror à destruição seguir o desenvolvimento intelectual e moral.
O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, questão 734
Em seu estado atual, o homem tem o direito ilimitado de destruição sobre os animais?
– Esse direito é regulado pela necessidade de prover à sua nutrição e à sua segurança. O abuso jamais foi um direito.
O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, questão 735
Que pensar da destruição que ultrapassa os limites das necessidades e da segurança? Da caça por exemplo, quando não tem por objetivo senão o prazer de destruir sem utilidade?
– Predominância da bestialidade sobre a natureza espiritual. Toda destruição que ultrapasse os limites da necessidade, é uma violação da Lei de Deus. Os animais não destroem senão por suas necessidades; mas o homem, que tem o livre-arbítrio, destrói sem necessidade. Ele prestará contas do abuso da liberdade que lhe foi concedida, porque é aos maus instintos que ele cede.
Livro Nos Domínios da Mediunidade, psicografia de Chico Xavier, pelo Espírito André Luiz, o instrutor Áulus diz a Hilário que para assimilar os princípios superiores da vida é necessário trabalho digno, bondade, compreensão fraterna, serviço aos semelhantes, respeito a Natureza e oração.
Livro O Consolador, psicografia de Chico Xavier, pelo Espírito Emmanuel, questão: 62
– O “não matarás” alcança o caçador que mata por divertimento e o carrasco que extermina por obrigação?
Á medida que evolverdes no sentimento evangélico; compreendereis que todos os matadores se encontram em oposição ao texto sagrado. No grau dos vossos conhecimentos atuais, entendeis que somente os assassinos que matam por perversidade estão contra a lei divina. Quando avançardes mais no caminho, aperfeiçoando o aparelho social, não tolerareis o carrasco, e, quando estiverdes mais espiritualizados, enxergando nos animais os irmãos inferiores de vossa vida, a classe dos caçadores não terá razão de ser. Lendo, os nossos conceitos, recordareis os animais daninhos e, no íntimo, haveis de ponderar sobre a necessidade do seu extermínio. É possível, porém, que não vos lembreis dos homens daninhos e ferozes. O caluniador não envenena mais que o toque de uma serpente? Com frieza a maquinaria da guerra incompreensível não é mais impiedosa que o leão selvagem?
Livro Conduta Espírita, psicografia de Waldo Vieira, pelo Espírito André Luiz, sobre a destruição: – Prevenir-se contra a destruição e o esbanjamento das riquezas da terra em explorações abusivas, quais sejam: a queima dos campos, o abate desordenado das árvores generosas e o explosivo na pesca. O respeito à Criação constitui simples dever. Lembremos que o mordomo será sempre chamado a contas!
Livro Luz Acima, psicografia de Chico Xavier, pelo Espirito Irmão X, capítulo: O Homem e o Boi
Um anjo de longínquo sistema, interessado em conhecer os variados aspectos e graus da razão na inteligência Universal, pousou num campo terrestre e, surpreso ante a paisagem, aí encontrou um homem e um boi. Admirou as flores silvestres, fixou os horizontes coloridos de sol e rejubilou-se com a passagem do vento brando, rendendo graças ao Supremo Senhor. Como não dispunha, todavia, de mais larga parcela de tempo, passou à observação direta dos seres que povoavam o solo, aferindo o progresso do entendimento no orbe que visitava. Examinou as pupilas do homem e descobriu a inquietação da maldade. Sondou os olhos do boi e encontrou calma e paz.
Usando o critério que lhe era particular, conclui de si para consigo que o boi era superior ao homem. Consolidou a impressão quando, para experimentar, pediu mentalmente aos dois trabalhassem em silêncio. O animal respondeu com perfeição, movimentando-se, humilde, mas o companheiro bípede gritou, espetacularmente, proferindo nomes feios que fariam corar uma pedra. Um tanto alarmado, o anjo recomendou paciência. O educado bisneto da selva continuou trabalhando, imperturbável e tolerante. Todavia, o irrequieto descendente de Adão estalou um chicote, ferindo as ancas do colaborador de quatro patas. Acabrunhado agora, diante da cena triste, o sublime embaixador pediu atitudes de sacrifício. O servo bovino obedeceu, sem qualquer relutância, revelando indiscutível interesse em ser útil, distraído das próprias chagas. O administrador humano, contudo, redobrou a crueldade, recorrendo ao ferrão para dilacerar-lhe, ainda mais, a carne sanguinolenta… sensibilizadíssimo, o fiscal celeste anotou o que supôs conveniente aos fins que o traziam e afastou-se, preocupado. Não atravessara grande distância e encontrou uma vaca em laço forte, com outro homem a ordenhá-la. Sob impressão indefinível, emitiu apelos à renúncia. A mãe bovina atendeu com resignação heroica, prosseguindo firme na posição de quem sabia sacrificar-se, mas o ordenhador, antes que o emissário de cima os analisasse, de perto, porque certa mosca lhe fustigava o nariz, esbofeteou o úbere da vaca, desabafando-se. O funcionário dos altos céus, compadecido, acariciou a vítima que 73 se movimentou alguns centímetros, agradavelmente sensibilizada. O tratador, porém, berrou desvairado, caluniando-a… Queres escoucear-me, não é? Gritou, diabólico. Ergueu-se lesto, deu alguns passos, sacou de bengala rústica e esbordoou-lhe os chifres. Emocionado, o anjo vivificou as energias da vaca, aplicando o seu magnetismo divino, rogou para ela as bênçãos do Altíssimo, empregou forças de coação no agressor, conferindo-lhe salutar dor de cabeça, efetuou os registros que desejava e retirou-se. Prestes a desferir vôo, firmamento a fora, encontrou um gênio sublime da hierarquia terrena. Cumprimentaram-se, fraternos, e o fiscal divino comentou a beleza da paisagem. Não ocultou, porém, a surpresa de que se possuía. Relacionou os objetivos que o obrigaram a parar alguns minutos na Terra e rematou para o irmão na pureza e na virtude: Estou satisfeito com a elevação sentimental das criaturas superiores do Planeta. Cultivam a generosidade, renunciam no momento oportuno, trabalham sem lamentações e, sobretudo, auxiliam, com invulgar serenidade, os inferiores. O anjo da ordem terrestre silenciou, espantado por ouvir tão rasgado elogio aos homens. O outro, no entanto, prosseguiu: Tive ocasião de presenciar comovedores testemunhos. Pesa-me confessá-lo, porém: não posso concordar com a posição dos seres mais nobres da terra, que se movimentam ainda sobre quatro pés, quando certo animal feroz, que os acompanha, agressivo, já detém a leveza do bípede. Naturalmente, sabe o Altíssimo o motivo pelo qual individualidades tão distintas aqui se encontra, unidas para a evolução em comum… tenho, contudo, o propósito de apresentar um relatório minucioso às autoridades divinas, a fim de modificarmos o quadro reinante. Assinalando-lhe os conceitos, o companheiro solicitou explicações mais claras. O anjo estrangeiro convidou-o a verificações diretas. O protetor da Terra, desapontado, esclareceu, por sua vez, ser diversa a situação: o bípede é na crosta Planetária o Rei da inteligência, guardando consigo a láurea da compreensão, sendo o boi simples candidato ao raciocínio, absolutamente entregue ao livre-arbítrio do controlador do solo. Acentuou que, não obstante operoso e humilde, o cooperador bovino gastava a existência servindo para o bem, e acabava dando os costados no matadouro, para que os homens lhe comessem as vísceras… O forasteiro dos céus mais altos, sem dissimular o assombro, considerou: Então, o problema é muito pior…
Pensou, pensou e aduziu: Jamais encontrei um planeta onde a razão estivesse tão degradada. Despediu-se do colega, preparou o afastamento definitivo sem mais delonga e concluiu: Apresentarei relatório diferente. Mas ainda não se sabe se o anjo foi pedir medidas ao Trono Eterno para que os bois levantem as patas dianteiras, de modo a copiarem o passo de um herói humano, ou foi rogar providências aos Poderes Celestiais a fim de que os homens desçam as mãos e andem de quatro, à maneira dos bois…
Livro Gênese da Alma, de Cairbar Schutel.
Vós que vedes luzes nestas letras, que traças a estrada da Evolução Espiritual, e não vos achais mais escravizados pelo gênio do mundo, a erva que seduz, às flores que encantam, tende compaixão dos pobres animais, não os espanqueis, não os maltrateis, não os repudieis!
Lembrai-vos amigos meus, que o Pai, em sua infinita misericórdia cerca-os de carinhos e, prevendo a deficiência de seus Espíritos infantis, lhes dá fartas colherias sem a condição de que semeiem ou plantem. Sedes bons para com os vossos irmãos inferiores, como desejais que o Pai celestial vos cerque de carinho e amor. Não encerreis em gaiolas os pássaros que Deus criou para povoarem os ares, nem armais ciladas aos animais que habitam as matas e os campos!
Renunciai as caçadas, diversão vil das lamas baixas, que se alegram com os estertores das dores alheias, sem prensar que poderão também ter dores angustiosas, e que, nesses momentos, em vez de risos e alegrias, precisarão de balsamos de misericórdia!
Homens, tratai bem os vossos animais, limpai-os, curai-os, alimentai-os fartamente, dai-lhes descanso, folga no serviço, porque são eles que vos ajudam na vida!
Lembrai-vos que os animais são seres vivos, que sentem, que cansam, que tem força limitada, e finalmente, que pensam, e que, em limitada linguagem, acusam a sua importância a sua fadiga irreparável aos golpes dos relhos e das bastonadas com que oprimis!
Livros: Chico Xavier o amigo dos animais e a Sombra do Abacateiro, ambos de Carlos A. Baccelli
No dia 26 de março de 1983, Chico fez uma de suas mais belas preleções em nosso culto ao ar livre. Trouxe-nos aos comentários do Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. X, item 14 -“Perdão das ofensas”.
Como de praxe, vários amigos falaram sobre o tema da tarde. Digno de nota o que ocorreu, enquanto estudávamos a questão do perdão: um cão de pelos negros passeava, despreocupadamente, por entre as pernas dos companheiros sentados nos bancos… Ele até cheirava mal. Por certo, teria rolado nos restos orgânicos de algum outro animal morto e trazia as patas sujas de lama… incomodados, alguns batiam levemente com o pé no animal, tentando afastá-lo, até que alguém o agarrou, segurando-lhe os pelos… Ele ganiu muito. Para nossa surpresa, porém, o Chico pediu que lhe pusessem o cachorro no colo… E, sem se importar com a roupa, que sujava, ele permaneceu boa parte do culto acariciando aquele vira-lata, sussurrando aos seus ouvidos palavras de carinho… A lição foi grandiosa, e, depois que a reunião se encerrou, muitos estavam alisando o animal! …
Bem, vamos reproduzir agora o comentário de Chico sobre o tema do perdão.
“Estou ouvindo o nosso Emmanuel, que nos pede um minuto de consideração em torno dos recursos da nossa inteligência, porque, naturalmente, a Providência Divina nos permitiu a lucidez de que dispomos para podermos discernir tudo aquilo que seja o bem ou o mal.
“A Natureza em que vivemos e da qual dependemos diariamente é um reino em que o Senhor nos situou, para que desfrutássemos de todas as vantagens que Ele nos pudesse oferecer, em benefício da nossa vivência e sobrevivência no Planeta.
“Quantas vezes somos perdoados pelos animais? …
“Se as nossas vacas pudessem fazer um sindicato e levar à justiça um requerimento para que não sejam tão maltratadas, tão esgotadas… Se, por exemplo, as árvores frutíferas, não nos perdoassem a agressividade exagerada, não teríamos a nossa mesa tão rica para a refeição de cada dia…
“A Natureza é também a face do perdão de Deus para conosco.
“Quando falamos em perdão, sempre nos colocamos na posição do benfeitor que está apto a perdoar, no entanto somos tolerados diariamente pela Providência Divina…
“Nós, por exemplo, engordamos o suíno. Quem vê o cuidado de uma pessoa engordar um suíno supõe, naturalmente, que a pessoa está pensando no conforto do animal…
“Criamos as galinhas e, quando queremos aproveitar da carne, as chamamos com muita ternura: — Venha cá, nega! … E, quando ela se aproxima, passamos a faca no seu pescoço…
“Quando chega o Natal, tempo de honrarmos a Nosso Senhor Jesus Cristo, é o tempo – existem pesquisadores escutando a comunicação com as árvores, os animais – em que a matança é imensa; escolhemos a classe dos perus. Se eles pudessem, correriam de nós mil léguas, quando falássemos o nome de Jesus…
“Somos perdoados diariamente…
“Ninguém vai deixar de se alimentar… A pecuária vai imperar ainda por muitos séculos. Referimo-nos ao excesso. Se dois frangos bastam, por que matar vinte? Se já temos a carne dos perus, por que querer a do bovino, a do porco, a da perdiz? Referimo-nos ao excesso, porque o excesso nos vicia, criando problemas sérios para a saúde.
“Devíamos fazer uma certa poupança dos recursos com que a mãe Natureza nos socorre. Se lhe acabarmos com todos os recursos, ficamos desvalidos…
“Tantos cientistas se preocuparam com este assunto, que criaram a ciência ecológica; é um nome bonito, mas podiam simplificar mais. Amor a Natureza, amor a uma árvore, a um muar…
“A palavra ecologia é muito bela, mas é uma palavra pouco acessível para nós. Os cientistas nos poderiam ensinar o amor à Natureza. Nós não sentimos afinidade com a palavra; os cientistas nos poderiam ajudar… Amor à Natureza, aos animais, proteção para com os reinos inferiores…
“Encontramos tantos exemplos de bondade, de compreensão, de auxílio no campo dos animais, das árvores, que este termo – reinos inferiores – é pouco simpático… Não vemos inferioridade no cão que nos ajuda a exercer vigilância na nossa casa, nas vacas que nos fornecem leite como se fossem nossas empregadas… Às vezes, extraímos o leite da vaca, amarrando-lhe o filho à perna… Trabalhei 35 anos no Ministério da Agricultura; lidei com ovelhas, cabras, muares, cavalos, vacas, touros…
Eu vi muita coisa. Não podemos classificar essas criaturas como sendo inferiores… estão no estágio evolutivo que lhes é próprio…
“É muito interessante que observemos tudo isso.
“Agora é uma observação minha, pessoal. Eu trabalhei numa repartição em que o chefe era um homem boníssimo; ele experimentava a boa vontade, a assiduidade, a disciplina do funcionário, dando-lhe condução para a sua própria residência, depois que esse funcionário trabalhasse por 12 anos… para que eu tivesse acesso a uma charrete, trabalhei, portanto, 12 anos… Era considerado um prêmio. Mas, na charrete em que eu ia também ia o Almoxarife da repartição. Este era uma pessoa preparada, um bom companheiro. Mas, na charrete cabiam apenas duas pessoas. Eu não aprendi a guiar, não aprendi a guiar nem mesmo a mim próprio… Ele é quem guiava a charrete. O burro que nos auxiliava chamava-se Maquinista e andava devagar. Para que o Maquinista andasse depressa, tinha que ser ferido no traseiro e, também para o Chefe não ver, pois ele não gostava que se maltratasse os animais, o Almoxarife construiu uma espécie de ferrão, para que o Maquinista andasse depressa. Meu Chefe dizia: — Engraçado! Com esse funcionário, o burro é sempre esperto, ativo…
“Se o animal não corresse, ele fazia uma ferroada debaixo da cauda, às vezes chegava a sair um pouquinho de sangue…
“Durante 6 anos com a charrete, eu vi isto, sem poder dizer nada, pois ele era um chefe intermediário… Às vezes, escondido, passava uma pomada no lugar. Se eu denunciasse… ele era pai de família… depois, ele pediu transferência para os Correios, de Belo Horizonte. No dia da despedida, o Maquinista ainda nos levou. Quando voltamos, o burro, muito suado, cansado, trouxe o nosso Chefe. Este, então, disse: — Maquinista, ficamos sem a companhia de fulano de tal. Que pena, não, Maquinista? … Mas você trabalhou; está com a consciência tranquila, não é mesmo, Maquinista?
“Eu nunca havia visto um burro rir como um jumento. E ele o fez: —Ah! ah! ah! ah! … por umas 40 vezes!
“Meu Chefe me falou: — A risada daquele burro me impressionou. Você não acha alguma coisa?
“— Eu não posso saber. Eu sou um servidor – respondi.
“Mas havia um companheiro que contou: — Levante a cauda do Maquinista, que o senhor vai ver.
“Tinha aquelas cicatrizes enormes!
“Meu Chefe, então, mandou aposentar o burro – 2 anos no pasto sem trabalhar para ninguém… Ele nos perdoava, aguentava tudo aquilo, não podia denunciar… O negócio de aguentar calado não é só conosco, não.”
Cremos que qualquer comentário seja desnecessário.
Livro Missionários da Luz, psicografia de Chico Xavier, pelo Espírito André Luiz, capítulo 4
– Os seres inferiores e necessitados do Planeta não nos encaram como superiores generosos e inteligentes, mas como verdugos cruéis. Confiam na tempestade furiosa que perturba as forças da Natureza, mas fogem, desesperados, à aproximação do homem de qualquer condição, exceto os animais domésticos que, por confiar em nossas palavras e atitudes, aceitam o cutelo no matadouro, quase sempre com lágrimas de aflição, incapazes de discernir com o raciocínio embrionário onde começa a nossa perversidade e onde termina a nossa compreensão. Se não protegemos nem educamos aqueles que o Pai nos confiou, como germens frágeis de racionalidade nos pesados vasos do instinto; se abusamos largamente de sua incapacidade de defesa e conservação, como exigir o amparo de superiores benevolentes e sábios, cujas instruções mais simples são para nós difíceis de suportar, pela nossa lastimável condição de infratores da lei de auxílios mútuos?
Abandonando as faixas de nosso primitivismo, devemos acordar a própria consciência para a responsabilidade coletiva. A missão do superior é a de amparar o inferior e educá-lo. E os nossos abusos para com a Natureza estão cristalizados em todos os países, há muitos séculos. Não podemos renovar os sistemas econômicos dos povos, dum momento para outro, nem substituir os hábitos arraigados e viciosos de alimentação imprópria, de maneira repentina. Refletem eles, igualmente, nossos erros multimilenários. Mas, na qualidade de filhos endividados para com Deus e a Natureza, devemos prosseguir no trabalho educativo, acordando os companheiros encarnados, mais experientes e esclarecidos, para a nova era em que os homens cultivarão o solo da Terra por amor e utilizar-se-ão dos animais, com espírito de respeito, educação e entendimento.
Sem amor para com os nossos inferiores, não podemos aguardar a proteção dos superiores.
O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec, capítulo 5, item 5
Deus quer o progresso de todas as suas criaturas; por isso Ele não deixa impune nenhum desvio do caminho reto; não há uma só falta, por pequena que seja, uma só infração à sua Lei, que não tenha consequências forçadas e inevitáveis mais ou menos tristes; de onde se segue que, nas pequenas, como nas grandes coisas, o homem é sempre punido naquilo que pecou.
O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, questão 693
Deus deu ao homem, sobre todos os serres vivos, um poder que deve usar para o bem, mas não abusar.
Livro A Gênese, Allan Kardec, capítulo 3, item 24
A medida que o sendo moral predomina no homem e a sensibilidade se desenvolve, a necessidade de destruição diminui; acaba por se apagar e se tornar odiosa: então, o homem tem horror ao sangue.
Livro Francisco de Assis, psicografia de João Nunes Maia, pelo Espírito Miramez, O Lobo de Gubbio.
Certa feita, estando Francisco de Assis em peregrinação pela cidade de Gubbio, ao norte de Assis, soube que a população daquela região estava em desassossego, pois ali morava, nas encostas de determinados penhascos, um lobo feroz, que já tinha devorado muitos animais, e mesmo algumas crianças. O lobo era remanescente de uma alcateia, da qual ficara afastado por doença, fazendo morada de uma caverna que encontrara, alimentando-se de animais que por ali passavam, atacando igualmente seres humanos descuidados. Tantos foram os prejuízos verificados e o pânico espalhado pela região, que a população foi ao seu encontro, para que ele abençoasse aquele lobo, e rogasse a Deus que o fizesse desaparecer, para que a paz se restabelecesse. As mães aflitas imploravam a Pai Francisco que tivesse piedade e as ajudasse, prometendo-lhe fazer qualquer penitência, desde que se livrassem do perigoso animal. Pai Francisco ouviu, com paciência, o apelo da população e prometeu fazer alguma coisa em benefício de todos. Iria pedir a Deus para que o lobo procurasse outro lugar, que não fosse aglomeração humana. E Francisco, como de costume, à noite, entrou em meditação e em oração ao Senhor. Nestas horas, os seus ouvidos sempre registravam coisas fora do comum dos homens. E foi o que ocorreu, ao pedir a Deus nestes termos: – Meu Deus! … Meu Senhor! … permite que te peça algo, talvez inoportuno, mas que está na alma do povo, por onde estamos passando, e a quem queremos levar o Evangelho do Teu Filho e Nosso Mestre, que nos pede alguma coisa que lhe possa trazer a paz e tranquilidade física. Que afastes, Senhor, o lobo que os ataca, pois bem sabes o que ele anda fazendo, matando animais e ferindo homens, amedrontando a população. Se for do Teu agrado, e se o merecermos, faze com que esse lobo saia desta região e procure outro lugar onde ele possa sentir-se melhor, e os homens viverem em paz. Jesus, ajuda-nos a compreender as necessidades dos nossos semelhantes, e fazer por eles alguma coisa; Maria, Mãe de Jesus, cobre-nos a todos com o teu manto de luz, confortando os nossos corações tribulados, mas que seja feita a vontade do Senhor e não a nossa. E no intervalo em que reinava o silêncio, Francisco, à espera de resposta, ouviu no fundo d’alma um cântico a lhe responder o que deveria ser feito, em um tom harmonioso e cheio de ternura: – Francisco, ouve-me! … O lobo tem o direito de ficar onde quer que seja, arriscando também a sua vida. Para onde devemos mandá-lo? Ele tem necessidade de algo que existe entre os homens. Esses não procuram melhoria no bem-estar e no convívio com irmãos da mesma e de outras raças? É, pois, um direito que assiste a quem vive, a qualquer criatura nascida de e por Deus. Como expulsar e sacrificar um animal, somente para satisfazer pessoas, algumas sem piedade até para com os próprios semelhantes? O egoísmo dos homens é que os faz sofrer, não simples animais, que pedem socorro, com os recursos que possuem.
Vai, Francisco, conversar com ele, o lobo. Depois de entendê-lo, volta e conversa com os homens, e vê se os entende, o que acho mais difícil. Procura fazer uma aliança entre um e outros, para que o que sobre, não falte a quem tem fome, e que, depois de amansada a fera, não a maltratem, pois quase sempre, depois da paz, surge o abuso. O lobo tem fome, Francisco! … Francisco despertou do êxtase e sentiu o drama do velho lobo. E partiu para uma das gargantas do Monte Calvo, situado nos Alpeninos. O grande animal, ao ouvir a voz cantante de um homem, saiu do seu esconderijo, talvez em busca de alimento e água, esquelético e meio fraco. Vidrou os olhos no pequeno homem de Deus, e esse lhe falou mansamente: – Irmão Lobo! … Que a paz seja contigo, seja feita a vontade de Deus e não a nossa! Eu sou de paz. Venho pedir-te em nome de Deus e de Jesus, que tenhas paciência, pois nada vai te faltar: água, comida e lugar seguro. Basta que tenhas um pouco de confiança nos homens, porque nem todos são violentos; muitos são bons e gostam de animais. Podes conviver em paz com eles e comer o mesmo que eles. Espero que me ouças. Peço-te para ir comigo até eles e lhes pedirei para te atender nas tuas necessidades. Eu também sou um animal; nada tenho aqui para te dar, a não ser o meu carinho, mas prometo que te darei a amizade de todos, naquilo que possam te ofertar. As mães estão chorosas, temendo por seus filhos. Vem comigo, que serás compensado por Deus!
O lobo, essa altura, já estava deitado aos pés de Francisco, roçando seu longo pescoço nas pernas do seu protetor, submetendo-se com confiança. Este ajoelhou-se, pôs-lhe as mãos sobre a atormentada cabeça e agradeceu a Deus pela nova amizade. O futuro nos promete que a cobra viverá em paz com o batráquio, o rato com o gato, o cão com o felino, o cordeiro com o lobo, e que os homens viverão em paz com os próprios homens. Francisco olhou para o lobo e disse com piedade: – Vamos, meu irmão; desçamos juntos, para junto dos homens, pois somos todos filhos de Deus! Francisco seguiu na frente e o lobo o acompanhou com passadas lentas, mas sem perder o seu guia. Ao chegar ao lugarejo, o povo saiu às portas assombrado com o fenômeno. Muitos já conheciam o feroz animal, que naquele momento tornou-se um companheiro manso e obediente, na sombra do santo. Esse assentou-se em um cepo, ao lado de uma casa, e o lobo aproximou-se de seu companheiro, que passava levemente a mão sobre o seu corpo descarnado, falando-lhe com serenidade: – Irmão lobo, este lugar é também teu. Considera-te filho deste abençoado rebanho de ovelhas humanas que irão te tratar como se fosses filho. Nada vai te faltar, nem água, nem comida, nem o carinho de todos os irmãos em Cristo que aqui residem, e para tanto, vamos de casa em casa confirmar o que desejamos. Se, porventura, tivesse de morder alguém aqui, faze isso comigo agora; não deves trair o que combinamos, eu te peço. Jesus Cristo gosta muito de animais, tanto que preferiu nascer em uma estrebaria, a nascer em palácio. Ele poderia escolher o lugar que quisesse, e buscou os animais; isto é uma prova de Amor por eles.
- A DOR NOS ANIMAIS E A LEI DE CAUSA E EFEITO
Se os animais estão isentos da lei de causa e efeito, em suas motivações profundas, já que não têm culpas a expiar, de que maneira se lhes justificar os sacrifícios e aflições?
Livro Aulas da vida, psicografia de Chico Xavier, pelo Espírito Emmanuel, capítulo: animais em sofrimento
Assunto aparentemente relacionado com injustiça, mas a lógica nos deve orientar os passos na solução do problema. Imperioso interpretar a dor por mais altos padrões de entendimento. Ninguém sofre, de um modo ou de outro, tão somente para resgatar o preço de alguma coisa. Sofre-se também angariando os recursos precisos para obtê-la. Assim é que o animal atravessa longas eras de prova a fim de domesticar-se, tanto quanto o humano atravessa outras tantas longas eras para instruir-se. Que mal terá praticado o aprendiz a fim de submeter-se aos constrangimentos da escola? E acaso conseguirá ele diplomar-se em conhecimento superior se foge às penas edificantes da disciplina? Espírito algum obtém elevação ou cultura por osmose, mas sim através de trabalho paciente e intransferível. O animal igualmente para atingir a auréola da razão deve conhecer benemérita e comprida fieira de experiências que terminarão por integrá-la na posse definitiva do raciocínio. Compreendamos, desse modo, que o sofrimento é ingrediente inalienável no prato do progresso. Todo ser criado simples e ignorante é compelido a lutar pela conquista da razão, e atingindo a razão, entre os humanos, é compelido igualmente a lutar a fim de burilar-se devidamente. O animal se esforça para obter as próprias percepções e estabelecê-las. O humano se esforça avançando do desconhecimento para a sublimação. Dor física no animal é passaporte para mais amplos recursos nos domínios da evolução. Dor física, acrescida de dor moral no humano, é fixação de responsabilidade em trânsito para a Vida Maior. Certifiquemo-nos, porém, de que toda criatura caminha para o reino da angelitude, e que, investindo-se na posição de Espírito sublime, não mais conhece a dor, porquanto o amor ser-lhe-á sol no coração dissipando todas as sombras da vida ao toque de sua própria luz.
Livro Ação e Reação, psicografia de Chico Xavier, pelo Espírito André Luiz.
O Instrutor Druso diz que podemos identificar na experiência terrestre três tipos de dores: a dor-evolução, a dor-expiação e a dor-auxílio. Referindo-se diretamente ao caso dos animais, Druso afirma: “A dor é ingrediente dos mais importantes na economia da vida em expansão. O ferro sob o malho, a semente na cova, o animal em sacrifício, tanto quanto a criança chorando, irresponsável ou semiconsciente, para desenvolver os próprios órgãos, sofrem a dor-evolução, que atua de fora para dentro, aprimorando o ser, sem a qual não existiria progresso”.
Livro O Consolador, psicografia de Chico Xavier, pelo Espírito Emmanuel, questão 39
Quais as causas do nascimento de monstruosidades entre os homens e entre os animais?
-Não podemos olvidar que entre os homens esses fenômenos dolorosos decorrem do quadro de provações purificadoras, sem nos esquecermos, igualmente, de que o mundo terrestre ainda é escola preparatória de aperfeiçoamento. Os produtos teratológicos constituem luta expiatória, não só para os pais sensíveis, como para o Espírito encarnado sob penosos resgates do pretérito delituoso. Quanto aos animais, temos de reconhecer a necessidade imperiosa das experiências múltiplas no drama da evolução anímica. Em tudo, porém, busquemos divisar a feição educativa dos trabalhos do mundo. A Terra é uma vasta oficina. Dentro dela operam os prepostos do Senhor, que podemos considerar como os orientadores técnicos da obra de aperfeiçoamento e redenção. Em determinadas seções de esforço, os homens são maus alunos ou trabalhadores rebelados. Nesses núcleos, os prepostos de Jesus podem edificar o mesmo trabalho de sempre; todavia, encontra a perturbação e a resistência dos próprios beneficiados, razão pela qual a fonte de energias pura não pode ser responsabilizada pelos fenômenos que a deturpam, operados pela indiferença, pela intenção criminosa ou pela perversidade das próprias criaturas humanas, objeto constante do carinho desvelado do Senhor, em todos os caminhos dos seus destinos.
Artigo publicado na Folha Espírita do mês de novembro de 1991 e consta também no livro Mandato de Amor, organizado por Geraldo Lemos.
Chico Xavier, questionado sobre o sofrimento dos animais já que eles não gozam da faculdade do livre arbítrio, como nós os humanos, como devemos encarar a questão da existência de deformidades congênitas no seio dos animais? Por que nascem animais cegos ou deformados?
Chico responde: Nossos benfeitores espirituais nos esclarecem que é preciso que todos nós consideremos que os animais diversos, a nos rodear a existência de seres humano em evolução no planeta Terra, são nossos irmãos menores, desenvolvendo em si mesmos o próprio princípio inteligente. Se nós, seres humanos, já alcançamos os domínios da inteligência, desenvolvemos agora as potencias intuitivas. Eles, os animais, estão aperfeiçoando, paulatinamente, seus instintos, na busca da inteligência. Da mesma maneira que nós humanos, aspiramos alcançar algum dia, a angelitude na Vida Maior, personificada em nosso Mestre e Senhor Jesus, eles, os animais, aspiram ser no futuro distante homens e mulheres inteligentes e livres. Podemos nos considerar como irmãos mais velhos e mais experimentados dos animais. Ora, se nós já sabemos que a lei divina institui a solidariedade entre os seres, por isso, podemos facilmente concluir que nós, seres humanos, Deus outorgou a condução e a proteção de nossos irmãos mais novos, os animais. E o que é que estamos fazendo com esta responsabilidade santa de proteger e guiar o reino animal? Como é que está Humanidade terrestre tem agido com relação aos animais, nos inúmeros séculos de nossa História? Porventura nós, os homens, não temos nos convertido em algozes impiedosos dos animais, ao invés de seus protetores fieis? Quem ignora que o boi sofre imensamente a caminho do matadouro? Quem desconhece que minutos antes do golpe fatal os bovinos derramam lágrimas de angustia? Não temos treinado determinadas raças de cães exaustivamente para o morticínio e o ataque? Que dizermos das caçadas impiedosas de aves e de animais silvestres unicamente por prazer esportivo? Que dizermos das devastações inconsequentes do meio ambiente? Tudo isso se resume em graves responsabilidades para os seres humanos! A angustia, o medo e o ódio que provocamos nos animais altera-lhes o equilíbrio natural de seus princípios espirituais, determinando ajustamentos posteriores existências, a se configurarem por deformidades congênitas. A responsabilidade maior recairá sempre nos desvios de nós mesmos, os seres humanos, que não soubemos guiar os animais à senda do amor e do progresso, segundo a vontade de Deus.
Agora, vejamos: se determinado cão é treinado para o ataque e morte, com requintes de crueldade, se ele é programado para o mal, pode ocorrer que, em determinado momento de superexcitarão, este mesmo cão, treinado para atacar estranhos, ataque crianças de sua própria casa ou os próprios donos. Ai, teremos um desajuste induzido pela irresponsabilidade humana. Ora, este mesmo cão aspira crescer espiritualmente para a inteligência e o livre arbítrio. Mas, para isso, ele precisará experimentar o sofrimento que lhe reajuste o campo emotivo, aprendendo a pouco e pouco a lei de Ação e Reação. Assim, ele provavelmente renascerá com serias inibições congênitas. A responsabilidades de tudo isso, no entanto, dever-se-á a maldade humana.
- PASSES
Os seres orgânicos que são os homens, os animais e as plantas, são seres que possuem uma fonte de atividade íntima que lhes dá a vida, chamada princípio vital, que tem a sua fonte no fluido universal, que é o elo entre o Espírito e a matéria (questão 65 do Livro dos Espíritos).
Todos os órgãos do nosso corpo físico, estão impregnados de fluido vital e quando os elementos essenciais ao funcionamento dos órgãos estão destruídos, ou muito profundamente alterados, o fluido vital é impotente para lhes transmitir o movimento da vida e o ser morre.
O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, questão 70, último parágrafo – O fluido vital, se transmite de um indivíduo a outro. Aquele que tem o bastante, pode dá-lo, aquele que tem pouco e, em certos casos, restabelecer a vida prestes a apagar.
Livro Mediunidade, Vida e Comunicação, de Herculano Pires.
A assistência mediúnica aos animais é possível e grandemente proveitosa. O animal doente pode ser socorrido por passes e preces e até mesmo com os recursos da água fluidificada.
Kardec se refere, no Livro dos Médiuns, a tentativas de magnetizadores, na França, de magnetizar animais e desaconselha essa prática. Entende mesmo que a transmissão de fluidos vitais humanos para o animal é perigosa, em virtude do grande desnível evolutivo entre as duas espécies. O reino animal é protegido e orientado por espíritos humanos que foram zoófilos (os que tem amor pelos animais) na Terra, segundo numerosas informações mediúnicas. O médium, não transmite os seus fluidos no passe por sua própria conta, mas servindo de meio de transmissão aos espíritos protetores. A situação mediúnica é assim muito diferente da situação magnética ou hipnótica.
Ao socorrer o animal doente, o médium dirige a sua prece aos planos superiores, suplicando a assistência dos espíritos protetores do reino animal e pondo-se à disposição destes. Aplica o passe com o pensamento voltado para Deus ou para Jesus, o Criador e o responsável pela vida animal na Terra. Flui a água da mesma maneira, confiante na assistência divina. Não se trata de uma teoria ou técnica inventada por nós, mas naturalmente nascida do amor dos zoófitos (amor pelos animais) e já contando com numerosas experiências no meio espírita.
O Prof. Humberto Mariotti, filósofo espírita argentino já bastante conhecido no Brasil por suas obras e suas conferências, é um zoófilo apaixonado. Mariotti contou-nos tocante episódio de um gato que se afeiçoara a ele, ao qual socorreu várias vezes, e que na hora da morte foi procurá-lo em seu leito, lambendo-lhe o rosto como numa demonstração de gratidão ou pedido de ajuda, e expirando ao seu lado.
Tivemos experiência com uma cachorrinha pequinês desenganada pelo veterinário. Com os passes recebidos durante a noite, amanheceu restabelecida. O veterinário assustou-se com o seu estranho poder de recuperação. Um veterinário amigo e espírita contou-nos os seus sucessos no socorro mediúnico aos animais, ressaltando o caso de parto de uma vaca de raça, em que ele já se considerava fracassado. Recorreu à sua possível mediunidade veterinária e as dificuldades desapareceram. Tudo é possível no plano do bem, da prática do amor.
Livros Mediunidade e Coração e Chico Xavier o amigo dos animais, ambos de Carlos A. Baccelli
De quando em quando, Chico nos fala dos animais. Ficamos admirados do seu amor por tudo que se refira à Natureza, crescendo sempre mais o nosso respeito por esse espírito de escol. Sem dúvida, é preciso ter-se uma sensibilidade muito grande para “dialogar” com os animais, sim, pois Chico “conversa” com os seus gatos, com o seu cachorro “Pretinho”, com o seu coelho…Talvez muita gente vá pensar que estar envolvido com animais é falta de tempo, ou até mesmo desequilíbrio, mas não há o que estranhar, porque esses é quase certo que não amem nem os semelhantes…Há algum tempo um confrade, veterinário, nos contou que Chico chorou feito criança abraçado a um gatinho de estimação que morrera envenenado. Foi o próprio Chico que nos contou o que se segue. A sua casa era freqüentada por um gato selvagem que não deixava ninguém se aproximar… Todos os dias o Chico colocava num pires algum alimento para ele. Numa noite, quando retornava de uma das reuniões, um amigo avisou que o gato estava morrendo estendido no quintal. Babava muito, mas ainda mantinha a cabeça firme em atitude de defesa contra quem se aproximasse. O Chico ficou bastante penalizado, pensando que ele poderia estar envenenado. O amigo explicou que horas antes o vira brincando com uma aranha e que, provavelmente, ele a engolira. E sugeriu que o Chico transmitisse um passe no felino…O gato, apesar de agonizante, estava agressivo. Ficando à meia distância, o nosso querido amigo começou a conversar com ele…- Olha – falou o Chico – você está morrendo. O nosso amigo pediu um passe e eu, com a permissão de Jesus, vou transmitir… Mas você tem que colaborar, pois está muito doente… Em nome de Jesus, você fique calmo e abaixe a cabeça, porque quando a gente fala no nome do Senhor é preciso muito respeito…O gato teve, então, uma reação surpreendente. Esticou-se todo no chão, permaneceu quieto até que o Chico terminasse o passe…Depois, tomando-o no colo, esse admirável medianeiro do Senhor pediu que se trouxesse leite e, com um conta-gotas, colocou o alimento na sua boca…O gato tornou-se um grande amigo e ganhou até nome.
Livro Conduta Espírita, psicografia de Waldo Vieira, pelo Espírito André Luiz
– No socorro aos animais doentes, deve-se usar os recursos terapêuticos possíveis, sem desprezar mesmo aqueles de natureza mediúnica que aplique ao seu próprio favor. A luz do bem deve fulgir em todos os planos.
- POEMA: OS ANIMAIS
Livro Cartilha da Natureza, psicografia de Chico Xavier, pelo Espírito Casemiro Cunha.
Na casa da Natureza, o Pai espalhou com arte, as bênçãos de luz da vida, que brilham em toda a parte.
Essas bênçãos generosas, tão ricas, tão naturais, são notas de amor divino, na esfera dos animais.
Não te esqueças: no caminho, praticando o bem que adores, busca ver em todos eles os nossos irmãos menores.
A Providência dos Céus jamais esquece a ninguém; Deus que é Pai dos homens sábios, É Pai do animal também.
A única diferença, em nossa situação, é que o animal não chegou as vitórias da razão.
Entretanto, observamos em toda a sua existência, os princípios sacrossantos de amor e de inteligência.
Vejamos a abelha amiga no grande armazém do mel, a galinha afetuosa, o esforço do cão fiel.
O boi tão útil a todos, é bondade e temperança; o muar de força hercúlea, obedece a uma criança.
Ampara-os, sempre que possas, nas horas de tua lida. O animal de tua casa tem laços com tua vida.
A lei é conjunto eterno de deveres fraternais: Os anjos cuidam dos homens, os homens dos animais.
Livro Memórias do Padre Germano, Amália Domingo Soler, páginas 130 a 132
“Contemplo a Natureza, vejo em tudo a renovação e em mim a morte, reflito e digo: – Eu também, átomo integrante da Criação, estou sujeito à lei da eterna reprodução! Viverei, porque tudo vive! Progredirei, porque tudo progride! Creio em ti, Senhor, adoro-te na tua obra imensa e sigo, quanto em minhas forças cabe, a tua formosa lei, para que possa algum dia penetrar no teu reino.”
Fontes e Pesquisas bibliográficas
- Allan Kardec
Evangelho Segundo Espiritismo
O Livro dos Espíritos
Livro dos Médiuns
A Gênese
Revista Espírita – junho e julho 1860
Revista Espírita – maio 1865
- André Luiz (Chico Xavier)
Missionários da Luz
No Mundo Maior
Evolução em Dois Mundos
- André Luiz (Waldo Vieira)
Conduta Espírita
Evolução em Dois Mundos
- Casemiro Cunha (Chico Xavier)
Cartilha da Natureza
- Emmanuel (Chico Xavier)
Aulas da Vida
Emmanuel
O Consolador
- Espíritos Diversos (Chico Xavier)
Antologia Mediúnica do Natal
- Irmão X (Chico Xavier)
Antologia Mediúnica do Natal
Cartas e Crônicas
Luz Acima
- Amália Domingos Soler
Memórias de Padre Germano
- Ernesto Bozzano
A alma nos animais
- Léon Denis
O problema do Ser, do Destino e da Dor.
- Cairbar Schutel
Gênese da Alma
- Carlos A. Baccelli
Chico Xavier o amigo dos animais.
- Gabriel Dellane
Evolução Anímica
- Joanna De Angelis (Divaldo Franco)
Momentos de Felicidade
- José Herculano Pires
Mediunidade Vida e Comunicação
- Léon Dennis
O Problema do Ser, do Destino e da Dor
- Miramez (João Nunes Maia)
Filosofia Espírita – volumes 2 e 15
Francisco de Assis
- Suely Caldas Schubert
Testemunhos de Chico Xavier
- Victor Hugo (Zilda Gama)
Almas Crucificadas
- Revista o Consolador de 13.04.2008.
- Revista Reformador de 1.932
- Folha Espírita – novembro 1.991
- Revista científica Plos Biology – Universidade de Goethe – Alemanha.