Periferia da Cidade guarda 1000 Terreiros
Para quem está lá fora, a fachada da casa nada indica. Nenhum cartaz ou letreiro chama para a cerimônia que terá início em poucos minutos. Além dos filhos-de-santo, seletos são os convidados a presenciar tudo o que se passará nesse barracão.
Com o dialeto do povo iorubá-nagô, a mãe-de-santo faz as primeiras saudações, que marcam o início dos trabalhos. Embalados por atabaques e agogôs, os filhos-de-santo começam a cantar e dançar em círculo, saudando e invocando os orixás – divindades representadas pelas forças da natureza ou pelos fenômenos a ela relacionados.Cada filho, representando um orixá, toma a benção e pede licença à líder religiosa. Num ritmo crescente, os atabaques repicam e embalam a dança circular, que envolve os médiuns em sua preparação para receber as entidades divinas.
Num local de pouca visibilidade e protegidos do preconceito que os cerca, começa mais um ritual sagrado no terreiro de camdomblé da mãe-de-santo Roberta Miriam Amorim.À exemplo do galpão no bairro Alto Paraíso, há em Bauru muitos templos em atividade. Cerca de 300 estão registrados na Federação Espírita de Umbanda e Candomblé do Estado de São Paulo.
Somando os que atuam sem regulamentação, a estimativa é de que existam aproximadamente 1.000 templos no município – sendo a quase totalidade de umbanda. A informação é da pesquisadora de cultura religiosa Dalva Aleixo, professora da Universidade Estadual Paulista (Unesp), que realizou na década de 90 uma dissertação de mestrado sobre o tema. Mais de 90% dos terreiros, segundo Dalva, estão concentrados na periferia. Vítimas de marginalização e preconceito, esses espaços foram sendo, ao longo da história, constituídos distante dos grandes centros. Em cômodos improvisados dentro da própria residência dos líderes espirituais (pais e mães-de-santo), os adeptos puderam manifestar suas crenças religiosas.Nas primeiras décadas do século passado, os adeptos de cultos afro-brasileiros eram, inclusive, vítimas de repressão policial.
Hoje, o contexto é outro. Mas o fato é que essas religiões – que guardam entre si muitas diferenças – continuam sendo alvo de preconceito e incompreensão por parte da sociedade. É o que afirmam praticantes e pesquisadores de cultura popular ouvidos pelo JC nos Bairros. 06/02/2005 – Bairros JORNAL DA CIDADE Michelle Roxo