Princípios Básicos da Doutrina Espírita – palestra 26.08.20
Princípios Básicos da Doutrina Espírita
CELC – 26.08.20 – Ananda
Muito importante termos bem claro os princípios básicos da Doutrina, poucos frequentadores das casas espíritas realmente o sabem, mas antes de nos concentrar nesses princípios, importante se faz, uma explanação da origem e da denominação do espiritismo.
Origem do Espiritismo
O Espiritismo é a Terceira Revelação da Lei de Deus. Em Evolução para o Terceiro Milênio (Parte I, cap. I, item 1), o autor relata que o Espiritismo foi antecedido pelo Evangelho, que por sua vez teve como precursores as instruções de Moisés e Sócrates.
Moisés 15 séculos antes de Jesus, empreendeu a luta de libertar o povo judeu da escravidão egípcia, liderou por 40 anos a árdua caminhada pelo deserto em busca da Terra Prometida-Israel, e precisou para tanto, legislar Leis Civis ou Disciplinares, apropriadas aos costumes e ao caráter do povo. Observemos que essas leis, absolutas, despóticas e impostas ao povo pela força se modificam com o tempo, ao contrário da Lei Primitiva revelada por Deus por via mediúnica (psicografia), no Monte Sinai: a Primeira Revelação (O Decálogo – um dos primeiros códigos morais da Humanidade), como consta na Bíblia Sagrada:
Em Êxodo:
- 24,12 “Depois disse o Senhor a Moisés: Sobe a mim ao monte, e espera ali; e dar-te-ei tábuas de pedra, e a lei, e os mandamentos que tenho escrito, para lhos ensinares.”
- 31,18 “E deu a Moisés, quando acabou de falar com ele no monte Sinai, as duas tábuas do testemunho, tábuas de pedra, escritas pelo dedo de Deus.”
- 32,16 “E aquelas tábuas eram obra de Deus; também a escritura era a mesma escritura de Deus, esculpida nas tábuas.”
Segue o Decálogo conforme estão em Êxodo 20 e Deuteronômio 5:
- Não terás deuses estrangeiros.
- Não farás nem adorarás imagens e ídolos.
- Não tomarás em vão o nome de Deus.
- Não trabalharás no sábado, bem como teu servo e animal.
- Honrarás a teu pai e mãe.
- Não matarás.
- Não fornicarás (cometerás adultério).
- Não furtarás.
Na Gênese, Cap. I, item 22 encontramos: “O Cristo, tomando da antiga lei o que é eterno e divino e rejeitando o que era transitório, puramente disciplinar e de concepção humana, acrescentou a revelação da vida futura, de que Moisés não falara, assim como a das penas e recompensas que aguardam o homem, depois da morte.”
Já os ensinamentos de Sócrates, muito se assemelhavam com os do Cristo, conforme disposto em Evolução para o Terceiro Milênio (Parte IV, cap. 8, item 23, subitens 11-14), Sócrates, foi enviado 400 anos antes de Cristo para lançar as primeiras fundações do Cristianismo. Fundador da moral, estabeleceu a necessidade do conhecer a si mesmo e a noção de espiritualidade, indicava a importância de se melhorar e desapegar-se dos bens materiais a favor dos aprimoramentos da alma; e em plena vigência da Lei de Talião (Olho por olho, dente por dente), Sócrates enuncia o não se vingar nem retribuir o mal com o mal.
Na Introdução do Evangelho Segundo o Espiritismo (item IV), podemos verificar um resumo da doutrina de Sócrates e Platão, com a comparação dos ensinamentos do Cristo e do Espiritismo. Vale a pena dar uma olhadinha.
Assim então foi preparado o caminho para a Segunda Revelação (O Evangelho). 1500 anos depois, em meio à um povo orgulhoso e endurecido, dado à hipocrisia, vem Jesus Cristo, trazendo pela primeira vez, sem imposição, mas com amor, a noção de paternidade, misericórdia e providência divinas.
(Evolução para o Terceiro Milênio Cap. I, item 5) “Podemos dizer que a doutrina de amor, pregada pelo Cristo foi instaurada na Terra à custa de suor e de sangue vertidos e, face dos terríveis algozes latinos. Durante dois séculos e meio os primitivos cristãos viveram em função do momento de testemunhar sua adesão ao Cristianismo. Em hordas tranquilas, deixavam-se matar…e, assim, com o sacrifício de muitos, implantou-se o Evangelho.”
Porém, em (S. João, 14,16; S. Mateus, 17), Cristo confessa que seu ensino estava incompleto e sabia que sua Doutrina seria desfeita quando diz:
“Muitas das coisas que vos digo ainda não as compreendeis e muitas outras teria a dizer, que não compreenderíeis; por isso é que vos falo por parábolas; mais tarde, porém, enviar-vos-ei o Consolador, o Espírito de Verdade, que restabelecerá todas as coisas e vo-las explicará todas.”
É então que a Terceira Revelação chega em plena Era Científica, sob o nome de Espiritismo, codificado por Allan Kardec, lançada em 1857, em O Livro dos Espíritos. Dessa vez, Deus se vale dos desencarnados para tanto, mas por quê?
(A Gênese, Cap. I, item 59) “Os grandes Espíritos encarnados são, sem contradita, individualidades poderosas, mas de ação restrita e de lenta propagação. Viesse um só dentre eles, embora fosse Elias ou Moisés, Sócrates ou Platão, revelar, nos tempos modernos, aos homens, as condições do mundo espiritual, quem provaria a veracidade das suas asserções, nesta época de cepticismo? Não o tomariam por sonhador ou utopista? Mesmo que fosse verdade absoluta o que dissesse, séculos se escoariam antes que as massas humanas lhe aceitassem as ideias. Deus, em sua sabedoria, não quis que assim acontecesse; quis que o ensino fosse dado pelos próprios Espíritos, não por encarnados, a fim de que aqueles convencessem da sua existência a estes últimos e quis que isso ocorresse por toda a Terra simultaneamente, quer para que o ensino se propagasse com maior rapidez, quer para que, coincidindo em toda parte, constituísse uma prova da verdade, tendo assim cada um o meio de convencer-se a si próprio.
(Evolução para o Terceiro Milênio, Cap I, Item 2, Subitem 8-10)
Pode-se dizer que o Espiritismo é o Cristianismo ajustado à mentalidade moderna, apresentando-se com uma fé raciocinada, com conteúdo intelectual.
A data que se costuma fixar como passo inicial da história do espiritismo, acontece na época das mesas girantes, na França, em simetria com os fenômenos ocorridos em Hydesville, Rochester nos Estados Unidos, através das irmãs Fox.
Os Fox eram pobres granjeiros que moravam numa casa que era tida como mal assombrada e durante o mês de Março de 1848, a família foi muito incomodada por vários ruídos de origem desconhecida, que foram aumentando de intensidade (golpe, arrastar de móveis, camas sacudidas, etc).
Até que no dia 31 desse mesmo mês, Kate (11 anos) desafia o poder invisível a repetir os golpes que ela desse com os dedos. E assim o foram, sem erros! Logo se travou um diálogo por meio de batidas (tiptologia) e aquele poder declara ser um espírito; havia sido assassinado por dinheiro há cinco anos, ali mesmo, e estava enterrado na adega a 3m de profundidade; seu nome era Charles B. Rosma esclarece o invisível bulhento para assombro dos parentes. (Um esqueleto humano foi de fato descoberto ali muito mais tarde, em 1904).
Após sérias investigações pelo Congresso norte-americano e firmada a autenticidade do fenômeno, houve tentativa de linchamento das crianças, que tiveram de fugir pela porta dos fundos. Neste caso, os efeitos físicos procediam da mediunidade de Kate e Margaret (14 anos).
Em França, os fenômenos surgem como movimentos de pequenas mesas que se levantam e batem no chão número de pancadas convencionado. Sob o nome de mesas girantes ou dançantes invadem os salões elegantes, tornando-se moda durante alguns anos. Era um divertimento obrigatório: os alegres convivas punham as mãos sobre a mesa e aguardavam sizudamente que ela se movimentasse respondendo a perguntas.
No meio da aparente futilidade, os espíritos iam mostrando e ensinando o que se podiam em condições tão inadequadas. Mas, o objetivo central estava sendo cumprido: atrair atenção do homem inteligente para a espiritualidade.
Na introdução de o Livro dos Espíritos (Cap. IV-V), Kardec relata:
“Se os fenômenos de que nos ocupamos ficassem restritos ao movimento dos objetos, estariam dentro, como dissemos, do domínio das ciências físicas. Mas não foi isso que aconteceu: estavam destinados a nos colocar no caminho de fatos de uma natureza estranha. Acreditou-se descobrir, não sabemos por iniciativa de quem, que a impulsão dada aos objetos não era somente produto de uma força mecânica cega, mas que havia nesse movimento a intervenção de uma causa inteligente. Esse caminho, uma vez aberto, revelou um campo totalmente novo de observações: era o véu levantado de sobre muitos mistérios. Há, de fato, um poder inteligente? Essa é a questão. Se esse poder existe, qual é ele, qual é a sua natureza, sua origem? Ele está acima da humanidade? Essas são as outras questões decorrentes da primeira.
As primeiras manifestações inteligentes aconteceram por meio de mesas se levantando e batendo, com um dos pés, um número determinado de pancadas e respondendo desse modo sim ou não, segundo fora convencionado, a uma questão proposta. Até aí, não havia nada de convincente para os céticos, porque se podia acreditar num efeito do acaso. Obtiveram-se, em seguida, respostas mais desenvolvidas por meio das letras do alfabeto: o objeto móvel, batendo um número de vezes correspondente ao número de ordem de cada letra, chegava a formular palavras e frases respondendo às perguntas propostas. A precisão das respostas e sua correlação com a pergunta causaram espanto. O ser misterioso que assim respondia, quando interrogado sobre sua natureza, declarou que era um Espírito ou gênio, deu o seu nome e forneceu diversas informações a seu respeito. Aqui há um fato muito importante que convém ressaltar: ninguém havia imaginado os Espíritos como um meio de explicar o fenômeno. Foi o próprio fenômeno que se revelou. Muitas vezes, nas ciências exatas, formulam-se hipóteses para se ter uma base de raciocínio, mas isso não ocorreu nesse caso.
Esse meio de comunicação era demorado e incômodo. O Espírito, e isso ainda é uma circunstância digna de nota, indicou um outro processo. Foi um desses seres espirituais que ensinou a prender um lápis a um pequeno cesto ou a um outro objeto. Esse cesto, colocado sobre uma folha de papel, foi posto em movimento pelo mesmo poder oculto que fazia mover as mesas; mas, em vez de um simples movimento regular, o lápis traçou, por si mesmo, letras formando palavras, frases e discursos inteiros de muitas páginas, tratando das mais altas questões da filosofia, da moral, da metafísica, da psicologia, etc., e isso com tanta rapidez como se fosse escrito à mão…
… O cesto ou a prancheta apenas podem ser colocados em movimento sob a influência de algumas pessoas dotadas, para esse fim, de um poder especial e que são designadas como médiuns, isto é, intermediários entre os Espíritos e os homens. As condições de que se origina esse poder especial têm causas ao mesmo tempo físicas e morais ainda desconhecidas, visto que se encontram médiuns de todas as idades, de ambos os sexos e em todos os graus de desenvolvimento intelectual. Essa faculdade, esse dom, se desenvolve pelo exercício.
Mais tarde se reconheceu que o cesto ou a prancheta, na realidade, era apenas um substituto da mão, e o médium, pegando diretamente o lápis, pôs-se a escrever por um impulso involuntário e quase febril. Dessa forma, as comunicações tornaram-se mais rápidas, fáceis e completas. Hoje é o meio mais empregado, tanto é que o número de pessoas dotadas dessa aptidão é muito grande e multiplicam-se todos os dias. “A experiência fez conhecer outras variedades da faculdade mediúnica e constatou-se que as comunicações poderiam igualmente ter lugar pela fala, pela audição, pela visão, pelo tato, etc. e até mesmo pela escrita direta dos Espíritos, ou seja, sem a interferência da mão do médium nem do lápis”.
À partir disso, vamos entender como surgiu “Allan Kardec”: Hyppolyte Léon Denizard Rivail (educador, com formação científica, observador atento e pensador profundo, espírito sereno e firme), teve a atenção despertada para o fato mediúnico. Um amigo levou-o a sessões, a ele que já conhecia o magnetismo. Logo percebeu que, atrás da vulgaridade, as mesas girantes ocultavam grandiosas mensagens para quem soubesse investigá-las e decidiu-se a isso.
Rivail presenciava a afirmação daqueles que se manifestavam, dizendo-se almas dos homens que viveram sobre a Terra. Foi então, que uma das mensagens foi dirigida ao professor. Um ser invisível disse-lhe ser um Espírito chamado Verdade e que ele, Rivail, tinha uma missão a desenvolver, que seria a codificação de uma nova doutrina. E assim o fez, através dos Espíritos, Rivail descobriu que em uma de suas encarnações anteriores foi um sacerdote druida, de nome Allan Kardec e resolveu adotar este pseudônimo durante a codificação da nova doutrina, que viria a se chamar Doutrina Espírita ou Espiritismo. Kardec assim procedeu para que as pessoas, ao tomarem conhecimento dos novos ensinamentos espirituais, não os aceitassem por ser ele, um conhecido educador, quem estivesse divulgando. Mas sim, que todos os que tivessem contato com a boa nova a aceitassem pelo seu teor racional e sua metodologia objetiva, independente de quem a divulgasse ou a apoiasse. A partir daí foram 14 anos de organização da Doutrina Espírita.
Todas as perguntas e respostas feitas por Kardec aos Espíritos eram revisadas e analisadas várias vezes, dentro do bom senso necessário para tal. As perguntas respondidas pelos Espíritos eram submetidas a médiuns de várias partes da Europa e América. Assim, codificador viajou por cerca de 20 cidades. Isso para que as colocações dos Espíritos tivessem a credibilidade necessária, pois estes médiuns não mantinham contato entre eles, somente com Kardec. Este controle rígido de tudo o que vinha de informações do mundo espiritual ficou conhecido por “Controle Universal dos Espíritos”. Disto, estabeleceu-se dentro da Doutrina Espírita que qualquer informação vinda do plano espiritual só terá validade para o Espiritismo se for constatada em vários lugares, através de diversos médiuns que não mantenham contato entre si. Fora isso, toda comunicação espiritual será uma opinião particular do Espírito comunicante.
E foi assim que Allan Kardec lançou as cinco Obras Básicas da Doutrina Espírita, livros que contêm toda a teoria e prática da doutrina, os princípios básicos e as orientações dos Espíritos sobre o mundo espiritual e sua constante influência sobre o mundo material. Durante a codificação, Kardec lançou um periódico mensal chamado “Revista Espírita”, em 1858. Nele, comentava notícias, fenômenos mediúnicos e informava aos adeptos da nova doutrina o crescimento da mesma e sua divulgação. Servia várias vezes como fórum de debates doutrinários, entre partidários e contrários ao Espiritismo. A Revista Espírita foi a semente da imprensa doutrinária. No mesmo ano, Kardec viria a fundar a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Constituída legalmente, a entidade passou a ser a sociedade central do Espiritismo, local de estudos e incentivadora da formação de novos grupos.
O que é o Espiritismo
O Espiritismo é a doutrina revelada pelos Espíritos Superiores, através de médiuns, e organizada (codificada), no século XIX, por um educador francês, conhecido por Allan Kardec.
A palavra espiritismo foi criada por Allan Kardec, para designar a doutrina que ele codificou. Foi empregada pela primeira vez no Livro dos Espíritos, conforme texto que segue:
“ Para se designarem coisas novas são precisos termos novos. Assim o exige a clareza da linguagem, para evitar a confusão inerente à variedade de sentidos das mesmas palavras. Os vocábulos: espiritual, espiritualista, espiritualismo têm acepção bem definida. Quem quer que acredite haver em si alguma coisa mais do que matéria, é espiritualista. Não se segue daí, porém, que creia na existência dos Espíritos ou em suas comunicações com o mundo visível. Em vez das palavras espiritual, espiritualismo, empregamos, para indicar a crença a que vimos de referir-nos, os termos espírita e espiritismo, cuja forma lembra a origem e o sentido radical e que, por isso mesmo, apresentam a vantagem de ser perfeitamente inteligíveis, deixando ao vocábulo espiritualismo a acepção que lhe é própria. Diremos, pois, que a Doutrina Espírita ou o Espiritismo tem por princípio as relações do mundo material com os Espíritos ou seres do mundo invisível. Os adeptos do Espiritismo serão os espíritas, ou, se quiserem, os espiritistas.
Desta forma, embora hoje as pessoas empreguem a palavra espiritismo de maneira equivocada, confundindo com as religiões de origem africana simplesmente pelo fato de elas acreditarem na comunicação com os espíritos e na reencarnação, e embora se fale em Espiritismo Kardecista objetivando fazer diferenciação entre a doutrina que professamos e outras doutrinas, seitas e religiões espiritualistas, a verdade é que somente existe um espiritismo, aquele codificado por Allan Kardec.
No preâmbulo do livro O que é o Espiritismo, temos a seguinte definição:
“O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática ele consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os espíritos; como filosofia, compreende todas as consequências morais que dimanam dessas mesmas relações.
O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal.”
Resumindo, o Espiritismo é:
- Filosofia, porque dá uma interpretação da vida, respondendo questões como “de onde eu vim”, “o que faço no mundo”, “para onde irei depois da morte”. Toda doutrina que dá uma interpretação da vida, uma concepção própria do mundo, é uma filosofia.
- Ciência, porque estuda, à luz da razão e dentro de critérios científicos, os fenômenos mediúnicos, isto é, fenômenos provocados pelos espíritos e que não passam de fatos naturais. Todos os fenômenos, mesmo os mais estranhos, têm explicação científica. Não existe o sobrenatural no Espiritismo.
- Religião, porque tem por objetivo a transformação moral do homem, revivendo os ensinamentos de Jesus Cristo, na sua verdadeira expressão de simplicidade, pureza e amor. Uma religião simples sem sacerdotes, cerimoniais e nem sacramentos de espécie alguma. Sem rituais, culto a imagens, velas, vestes especiais, nem manifestações exteriores.
Princípios básicos da Doutrina
Agora que sabemos o que é, e como surgiu essa Doutrina, podemos pincelar os princípios básicos que a norteiam.
- Crença em Deus
O ensino primordial do Espiritismo é a crença na existência de Deus e seus atributos. Sem essa crença não se consegue sequer iniciar o estudo do espiritismo e todos os outros princípios são deduzidos deste primeiro.
Na questão 10 do Livro dos Espíritos, os Espíritos respondem à Kardec que não é possível compreendermos a natureza intima de Deus, porque ainda nos falta o sentido, que só se adquire com a depuração completa do espírito! Porém podemos pelo raciocínio conhecer os atributos de Deus.
Sem a compreensão dos atributos de Deus, criamos teorias, filosofias, dogmas religiosos absolutamente equivocados e apartados da Divindade, e como nos dita o Item 19 de A gênese: “…Em Filosofia, em Psicologia, em Moral, em Religião, só há de verdadeiro o que não se afaste, nem um til, das qualidades essenciais da Divindade. A religião perfeita será aquela de cujos artigos de fé nenhum esteja em oposição àquelas qualidades; aquela cujos dogmas todos suportem a prova dessa verificação sem nada sofrerem.”
No item 1 do Resumo do Ensinamento dos Espíritos do livro O espiritismo em sua mais simples expressão, relata esses atributos:
“Deus é a inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas. Deus é eterno, único, imaterial, imutável, todo-poderoso, soberanamente justo e bom. Deve ser infinito em todas as suas perfeições, porque supondo-se um único de seus atributos imperfeito, não seria Deus.”
- Deus é Inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas: Basta olharmos para a natureza para perceber infinitas características de previdência, sabedoria e harmonia que revelam que houve ação de uma inteligência que sobrepassa o mais alto alcance da inteligência humana. As forças da natureza são produtos de forças naturais, que agem mecanicamente em consequência das leis naturais de atração e repulsão, que não são inteligentes por si só. Assim, compreendemos que Deus não se mostra, mas se afirma pelas suas obras.
- Deus é eterno: Não teve começo e nem terá fim, não teve nada antes dele e não terá depois.
- Deus é único: Não pode haver outro Deus, então cai por terra a teoria do Diabo, se houvesse um ser que detivesse todo o poder do mal cuja a ações se contrapusessem a Deus, o universo se dividiria a dois poderes disputando o domínio sobre o universo. Mas laçando um olhar sobre o Universo, percebemos que existe uma harmonia e uma unidade de vistas, um único autor, coerente. A mesma lei que rege o nascimento e crescimento de uma flor, rege o nosso nascimento e crescimento também.
- Deus é imaterial: Ele não está sujeito às fragilidades da matéria, como disse Jesus aos Saduceus (que não acreditavam na imortalidade da alma) “Deus é deus de vivos e não de mortos.”
- Deus é imutável: não muda, é infinitamente perfeito, não está sujeito a aprimoramento. Assim, as leis que regem o planeta também o são.
- Deus é todo poderoso: O poder de Deus supera qualquer dificuldade, qualquer situação, não existe ser mais poderoso.
- Deus é soberanamente justo e bom: Não tem a menor parcela de maldade ou de injustiça. A soberana bondade implica na soberana justiça, pois se tivesse um único traço de injustiça não seria soberanamente justo e por conseguinte bom. Aqui já excluímos a ideia do Inferno, um juiz com esse atributo não iria impor uma pena eterna a um crime limitado, por ex. (uma pessoa que por algumas décadas de sua vida praticou o mal).
Com esses atributos, podemos traçar aquilo que é de Deus e o que é da criatura. Tudo o que é da criatura não guarda esses atributos em sua totalidade, pode exercer um ato de bondade, mas não a suprema bondade, a criatura pode exercer atos de justiça, mas não a suprema justiça, e assim por diante.
- Crença na imortalidade da alma
No Livro do Espíritos, questão 23, nos é dito que o Espírito é o princípio inteligente no Universo, e prossegue-se colocando que os espíritos são obras de Deus, referindo-se que são a individualização do princípio inteligente, como os corpos são a individualização do princípio material. A época e o modo dessa formação é que nos são desconhecidos (questão 79).
Na questão 27: “Deus, espírito e matéria constituem o princípio de tudo o que existe, a trindade universal”. Os Espíritos da codificação esclarecem que “ao elemento material se tem que juntar o fluido universal, que desempenha o papel de intermediário entre o Espírito e a matéria propriamente dita”, sendo esse fluido suscetível, pelas suas inúmeras combinações com a matéria e sob a ação do Espírito, de produzir a infinita variedade das coisas. Desta forma, embora uno em sua essência, o homem constitui-se de Espírito, Perispírito e Corpo carnal.
O Espírito é a essência, a inteligência, sendo sua existência um fato que se afirma por seus efeitos, conforme aborda Allan Kardec no capítulo XI de A Gênese, explicando que “todo efeito tendo uma causa, todo o efeito inteligente deve ter uma causa inteligente”. Desta forma, não sendo possível atribuir pensamento à matéria, nem mesmo a um homem morto e “se o homem vivo pensa, pois, que há nele alguma coisa que não há mais quando está morto”.
O Codificador prossegue ensinando que o progresso é a condição normal dos seres espirituais, sendo os mundos materiais que devem fornecer a esses seres os elementos da atividade para o desenvolvimento da sua inteligência. Para o desenvolvimento das suas faculdades, é necessário que o Espírito possa atuar sobre a matéria, por isso veio habitá-la, tendo Deus criado corpos organizados, flexíveis, capazes de receber os impulsos da vontade e de se prestar aos seus movimentos. “O corpo é, pois, ao mesmo tempo, o envoltório e o instrumento do Espírito”, sendo o próprio Espírito que dá forma a esse envoltório e o apropria às suas necessidades, aperfeiçoando e desenvolvendo o corpo material, conforme evolua a inteligência que o comanda.
O Perispírito é o envoltório semi-material do Espírito, atuando como intermediário entre a essência e a matéria, é o veículo para transmissão do pensamento do ser espiritual, para que sua vontade possa agir no corpo físico e para que as sensações exteriores repercutam no Espírito.
No livro Evolução para o Terceiro Milênio, Parte II, item 9, subitem 2, encontramos que o Perispírito varia de mundo para mundo, é indestrutível, porém pode ser lesado, mutilado, podendo assumir até formas animalescas (devido ao estado moral do Espírito).
Ainda decorre que o Perispírito é um arquivo de tudo quando o sujeito aprendeu, experimentou e assimilou, recordações, conhecimentos acumulados, vidas passadas, etc.
Outro elemento essencial à compreensão da vida humana é o Princípio Vital, que existe na matéria orgânica, sendo diferente do princípio espiritual, “estando ativo no ser vivo e extinto no ser morto” (A Gênese, cap. X). Assim, a origem do ser inteligente é espiritual e, para que esse ser possa aperfeiçoar-se, ele se utiliza do corpo material para atuar no plano físico. A união do Espírito com o corpo ocorre por intermédio do perispírito, sob a influência do princípio vital.
No Livro Evolução para o Terceiro Milênio, parte II, Item 9, subitem 3 encontra-se sobre os fluídos: “Para nós, são inconsistentes ou inexistentes, para os espíritos, são feixes luminosos que escapam do corpo, para os espíritos, é tão compacto como a madeira é para nós e, por isso, é o material que usam em suas manipulações. Os fluidos mais próximos da matéria por sua constituição formam a atmosfera espiritual da Terra, que é deste modo, pesada e sufocante, dizem os mentores; resulta esta das emanações da mente encarnada, sempre cheia de negras preocupações e intenções nem sempre dignas. Impondo o pensamento por meio da vontade, os espíritos atuam sobre os fluídos, produzem aparências, roupas, objetos, que podem exibir aos homens, muitas vezes assustando-os com produções fluídicas terrificantes dadas como alucinações; por outro lado, os espíritos superiores empregam produções do mesmo tipo para o efeito oposto.”
Em suma, concluímos que, sofrendo as injunções da matéria, após funcionar algum tempo, o corpo se desorganiza e decompõe, se extinguindo o princípio vital que o anima, ocorrendo a morte. Sem vitalidade, o corpo não tem mais utilidade ao Espírito, que dele se retira, levando o perispírito, sem que haja qualquer solução de continuidade na vida espiritual. Deixando um corpo, o Espírito, geralmente, permanece um certo lapso de tempo na vida espiritual, onde mantém sua individualidade e igualmente progride, para depois retornar em outro corpo para nova etapa de aprendizado, o que se chama reencarnação.
- Crença na comunicabilidade entre os desencarnados e encarnados
Junto às leis do decálogo, Moisés legisla outras leis, como a Lei de Talião (dos idênticos) e a proibição da consulta aos mortos, como consta em:
- Êxodo 22,18 “Não permitirás que viva uma feiticeira.”
- Deuteronômio 18,10-11 “Não se achará no meio de ti quem faça passar pelo fogo o seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro, nem encantador, nem quem consulte um espírito adivinhador, nem mágico, nem quem consulte os mortos.”
- Levítico 20,6 “Quanto àquele que se voltar para os que consultam os mortos e para os feiticeiros, prostituindo-se após eles, porei o meu rosto contra aquele homem, e o extirparei do meio do seu povo.”
Vê-se dessa forma que a comunicabilidade dos espíritos já era reconhecida há 35 séculos, como verdadeira.
No Consolador, questão 274 encontramos: “Qual a intenção de Moisés no Deuteronômio, recomendando “que ninguém interrogasse os mortos para saber a verdade”?
— Antes de tudo, faz-se preciso considerar que a afirmativa tem sido objeto injusto de largas discussões por parte dos adversários da nova revelação que o Espiritismo trouxe aos homens, na sua feição de Consolador.
As expressões sectárias, todavia, devem considerar que a época de Moisés não comportava as indagações do Invisível, porquanto o comércio com os desencarnados se faria com um material humano excessivamente grosseiro e inferior.
Para explicar como funciona essa comunicação, precisamos entender os conceitos de sintonia vibratória e afinidade moral, muito bem explicados em Evolução para o Terceiro Milênio no Cap4, item 11, subitem A, onde o autor nos lembra que matéria e energia, embora nos pareçam muito diferentes, na intimidade são muito afins, haja visto que uma se transforma na outra e vice-versa e que vivemos num universo de ondas que ao se deslocarem produzem o movimento vibratório, que se caracteriza por duas medidas: comprimento de onda (espaço percorrido durante uma vibração completa) e frequência (número de vibrações por segundo). Assim, podemos ter uma onda curta/longa e rápida/lenta. Quanto menor o comprimento de onda, maior é a frequência vibratória e a capacidade de penetrar.
O cérebro funciona como um aparelho emissor e receptor de ondas mentais, o pensamento é um fluxo energético do campo espiritual; é ainda considerado “matéria mental” rarefeita que se comporta como energia.
Os espíritos puros emitem raios ultracurtos, dotados de magno poder de penetração. Assim, entendemos que o padrão vibratório de um indivíduo seria o tipo de vibração que ele emite (baixo, inferior, elevado, etc).
E sintonia, é a identidade ou harmonia vibratória, isto é, de semelhança das emissões ou radiações mentais de dois ou mais espíritos encarnados ou desencarnados. Estão em sintonia pessoas e espíritos que têm pensamentos, sentimentos e ideais semelhantes.
Nesse sentido, mediunidade é a capacidade de sintonizar, isto é, vibrar no mesmo diapasão e intercambiar pensamentos. Daí dizer-se que todos são médiuns. Pensamos e o resultado é visível, denunciando a nossa condição e desejos aproximam-se espontaneamente de nós, conforme os pensamentos que exteriorizamos.
A prece é, nessa ordem de ideias, uma emissão de onda mental intencional com ou sem palavras que estabelece a comunhão mental com a Espiritualidade Superior, criando um estado de receptividade favorável à atuação de amigos do plano superior, é a condição de reequilíbrio do espírito necessitado, ajuda a conter impulsos do inconsciente que nos dominam e auxilia a modificar irmãos nossos por quem oramos.
Outra forma que estabelecemos conexão com os espíritos é durante o sono, onde o espírito desprende-se do corpo; e fica livre para agir noutro plano de existência. Porém, variam os graus de desprendimento e lucidez, suas atividades e compreensão dependem do nível de elevação e afinidade moral. O espírito será atraído para regiões e companhias que se harmonizam com os seus desejos e intenções, ou seja, impulsos predominantes.
Porém, mediunidade, no sentido exato e usual da palavra é a faculdade que certas pessoas têm de entrar ostensivamente em comunicação com os espíritos e de transmitir mensagens destes fora do campo pessoal. Médium é o indivíduo que percebe, recebe e transmite a outros a influência dos espíritos.
Grande parte das pessoas associam qualquer prática mediúnica ao Espiritismo, mas a mediunidade não lhe constitui uma exclusividade, havendo manifestações do fenômeno mediúnico nas mais diversas religiões ou seitas. Por isso é importante distinguir mediunismo de mediunidade. O mediunismo é uma expressão criada pelo Espírito Emmanuel que “designa as formas primitivas de mediunidade que fundamentam as crenças e as religiões primitivas. A diferença está na consciencialização do problema mediúnico”. Neste sentido, “a mediunidade é o mediunismo desenvolvido, racionalizado e submetido a reflexão filosófica e religiosa e a pesquisas científicas necessárias ao esclarecimento dos fenômenos, a sua natureza e as suas leis” (Mediunidade, Herculano Pires).
Em Evolução para o Terceiro Milênio, Parte II, Cap. 4, item 11, subitem 3: “Não é fácil abranger os tipos de mediunidade numa classificação lógica porque, por assim dizer; cada médium apresenta peculiaridades individuais que o tornam distinto dos demais. Ignorando essas particularidades pessoais, a divisão básica é a primitiva de Kardec; em:
1) mediunidade de efeitos físicos, que se caracterizam pela produção de manifestações materiais, como batidas, materializações, luzes, etc. o comunicante usa o ectoplasma ou “força nervosa” do médium: substância branca e vaporosa ou pastosa que se desprende deste e por meio da qual os espíritos agem no plano material;
2) mediunidade de efeitos intelectuais, da qual resultam manifestações inteligentes; o comunicante usa os materiais arquivados no cérebro do médium ou este utiliza os seus sentidos espirituais para perceber o plano espiritual, permite a obtenção de informações e ensinamentos, e o esclarecimento de irmãos perturbados. Essa divisão nada tem de absoluta. 3) mediunidade curativa, por meio da qual o médium transmite, junto com os seus, os fluidos do comunicante sobre uma pessoa doente, objetivando melhorar ou recuperar a parte afetada do corpo; é o uso de ectoplasma; fluídos”
- Crença na reencarnação (determinismo/livre arbítrio)
Reencarnar é voltar a viver num novo corpo físico. É uma nova oportunidade de aprendizado, através dela se prova a justiça e a bondade de Deus, pois é a única explicação racional para as desigualdades sociais existentes no mundo.
Como explicar o fato de crianças que morrem em tenra idade, enquanto outras criaturas vivem quase 100 anos? Como explicar os que nascem com saúde perfeita, enquanto outros nascem com deficiências físicas grosseiras? E os erros, os crimes, os vícios, a ignorância? Como repará-los, se o faltoso morre em falta? Somente a reencarnação nos dá a chave desse “mistério”. Com as múltiplas experiências na carne, temos a chance de adquirir e aprimorar conhecimentos que ainda nos faltam nos campos do intelecto e da moral. Além de reatar as amizades com nossos inimigos e reparar erros do passado.
Não se pode precisar o número de reencarnações que uma pessoa já teve, pois isso depende do estado evolutivo em se encontra o Espírito. Uns evoluem mais rápido por seu maior esforço, portanto necessitam de passar menor número de vezes na carne, outros são mais lentos permanecendo mais tempo no mundo de sofrimentos. Tudo dependerá de nós. Quanto mais rápido progredirmos moral e intelectualmente, menos encarnações teremos que sofrer. Quando nosso Espírito tiver alcançado todos os graus de evolução moral e intelectual, seremos Espíritos puros (Jesus) e não necessitaremos mais reencarnar, desde que voluntariamente para cumprir uma missão.
Com a reencarnação, desaparecem os preconceitos de raças e de castas, pois o mesmo Espírito pode tornar a nascer rico ou pobre, capitalista ou proletário, chefe ou subordinado, livre ou escravo, homem ou mulher. De todos os argumentos invocados contra a injustiça da servidão e da escravidão, contra a sujeição da mulher à lei do mais forte, nenhum há que prime, em lógica, ao fato material da reencarnação. Se, pois, a reencarnação funda numa lei da Natureza o princípio da fraternidade universal, também funda na mesma lei o da igualdade dos direitos sociais e, por conseguinte, o da liberdade.
Em Evolução para o Terceiro Milênio, Parte II, Cap. 4, Item 12, Subitem 3 a explicação é bem clara: “ A reencarnação fornece a única explicação lógica e natural acerca das desigualdades sociais, que as pessoas em geral consideram como injustiças, donde as lutas pela decantada “justiça social”. Ora se há divergências nas classes da sociedade, passando uns muito bem e outro diversamente menos bem é porque os homens não são iguais – havendo aptidões e méritos excessivamente desiguais. Não têm eles o mesmo valor. Nunca poderá haver igualdade completa e, sim, mais equilíbrio no futuro (antagonismos menos acentuados). Porém, injustiça não ocorre nem a mínima! A reencarnação assegura, ao longo do tempo, oportunidades homólogas para todos. A maioria sofre privações, vimos isso, em decorrência dos abusos cometidos. Inúmeros situam-se nas posições modestas, tendo só os recursos necessários ao desempenho das tarefas, porque essa é a posição mais favorável ao progresso espiritual em vista da redução das tentações. Mas, todo aquele que almejar a riqueza, a fama ou o poder – acabará atraindo essa condição para si numa vida próxima. E, depois, paciência para sofrer as consequências dos abusos e violações a que mui dificilmente escapara de cometer… As tentações da riqueza e do poder são demasiado numerosas e possantes para que o ser humano possa resistir-lhe; “é mais fácil um gigantesco camelo passar pelo orifício de uma pequenina agulha do que um rico alcançar a Esfera Superior”, disse o Mestre da Terra. Muitíssimos destes acham-se em processo de reajustamento nas camadas ínfimas da sociedade, amargando a miséria e a doença. Ao invés de gritar por uma pseudojustiça e combater por vantagens, maltratando-se uns aos outros, precisa o ser humano envidar esforços por melhorar-se e respeitar o próximo. Fazendo isso, estará promovendo o bem estar social: a sociedade, as classes sociais, as desigualdades, tudo será aprimorado pelo aperfeiçoamento do indivíduo. “Reformas sociais” deverão ser substituídas, primeiro, pelas reformas pessoais…”
Neste mesmo item, no subitem subsequente, o autor nos fornece provas de que a reencarnação é uma realidade, cita a regressão hipnótica, muitas obras que discorrem sobre o assunto, e muitas evidencias que constam de recordações fragmentarias de vidas anteriores, destacando as que se refere a crianças pequenas com maior número de casos relatados no Oriente.
“O Prof. Ian Stevenson, Diretor do Departamento de Psiquiatria e Neurologia da Escola de Medicina da Universidade de Virgínia, Estados Unidos, investigou inúmeros casos desta ordem, dos quais teve notícias. Viajou pela índia, Líbano, Estados Unidos, Brasil etc. para lá e para cá, incansavelmente. Em 1974, o arquivo da Divisão de Parapsicologia daquela Universidade encerrava 1.339 casos de pessoas que podiam contar recordações de vidas antigas;”. Dentre estes casos, constam alguns nos quais as crianças trazem no corpo marcas que muito se parecem com cicatrizes de antigas feridas curadas e que após o relato das recordações, que contavam com episódios de mortes violentas, pôde através de registros médicos da personalidade anterior verificar que o local do ferimento era correspondente ao local da marca de nascença. Mas o caso que mais chamou atenção do Prof. tirado de The Psychic Realm de N. Hintetze & Pratt foi o de um homem chamado Bishen Chand Ghulam: “…nascido em 1921 na família de B. Ram Ghulam, pobre funcionário público na índia, pelos 10 meses, já tentava pronunciar a palavra Pilibhit, nome de uma cidade a cerca de 50 km dali, onde não conheciam ninguém e aos 18 meses, perguntava coisas sobre tal cidade; se era longe, quando iria até lá, etc. Aos 4 anos, acompanhando o pai numa viagem de trem, ouviu o nome da cidade ser anunciado como próxima estação e excitado, pediu para descer do trem, afirmando que era ali que vivia. E, claro que o pai não lhe deu ouvidos e a criança chorou até chegar em casa. Pelo verão de 1926 (aos 5,5 anos) sua memória relativa ao passado era lúcida e explícita. Afirmou chamar-se Laxmi Narain e que seu pai era um rico fazendeiro; descrevia a casa em que viveu com minúcias e também a casa de um vizinho onde prostitutas dançavam e cantavam.
Reclamava das modestas condições da vida presente, dizendo: “Nem os meus criados comeriam a comida feita nesta casa!”, rasgava a roupa de algodão e punha-se a exigir vestimentas de seda, alegando que algodão nem os seus servos usariam. Pedia dinheiro, mas o seu pobre pai não tinha para dar, então chorava. Um dia, quando o seu pai comentava sobre o desejo de comprar um relógio, o pequeno Bishen disse-lhe que não o fizesse porque ela havia de dar-lhe três relógios quando fossem a Pilibhit; é que, explicou, estabelecera lá, outrora, um vendedor de relógios muçulmano e deu o nome do homem! Dizia sua irmã de 13 anos que o garoto falava da sua vida anterior todos os dias, durante esses anos da primeira infância. A iirmã apanhou Bishen tomando conhaque, o qual arrogantemente como sempre, lhe disse estar acostumado a beber. Uma vez, o menino indagou do pai porque não tinha uma concubina, agregando que ela lhe traria “grande prazer” (5anos mais ou menos). Ele próprio, na existência anterior, tivera como amante exclusiva uma ex-meretriz chamada Padma. Por ver um homem saindo do apartamento dela, matou-o. Mais tarde, já moço, veio a conhecê-la como mulher idosa, que bem se lembrava da personalidade anterior, o amante de outros tempos. Afinal, Bishen conseguiu chegar à tão ansiada Pilibhit, levado pelo advogado que escreveu sua história, com o pai e um irmão. Há quase 8 anos morrera ali Laxmi Narain, sua encarnação prévia, de doença, alguns meses após o homicídio. Nada lhe aconteceu por influência da família rica e poderosa. O próprio superintendente de polícia pergunta-lhe matreiramente sobre a esposa e os filhos, mas ele é taxativo: “Eu não os tinha. Vivia mergulhado em vinho e mulheres e nunca pensei em casar-me.” Cometeu apenas dois erros: 1) que morrera, quando Laxmi Narain, aos 20 anos, mas fora aos 32; 2) indicou erroneamente a parte da cidade onde teria habitado. Todavia, reconheceu a casa onde farreava (cf. acima). Ao ver sua gloriosa residência em ruínas, explodiu em lágrimas, gritando que ninguém cuidara dela; esquecia que ele mesmo, na personalidade pregressa, consumira todos os recursos monetários da família… Em uma velha pintura, reconheceu o pai e ele mesmo em outra veste carnal, o citado Laxmi. Presentearam-no com um conjunto de tambores locais, ditos tablas, cuja execução requer treinamento, mas o garoto pôs-se a tocar desembaraçadamente…
Quando encontrou sua primitiva mãe, o menino ligou-se fortemente a ela e foi correspondido. Conversavam como pessoas íntimas; por exemplo, recordaram quando Laxmi atirou fora os picles dela. Passaram a trocar visitas freqüentemente, de ambos os lados, a ponto de os irmãos do menino enciumar-se. O fato máximo, que encerra a nossa crônica, já suficientemente demonstrativa, é o seguinte. O pai de L. Narain era suspeito de haver enterrado um tesouro antes de morrer. Não foi possível achá-lo. Afinal, perguntaram a Bishen onde estava o tesouro e ele mostrou um quarto da mansão em ruínas. Deveras, dali foram recolhidas muitas moedas de ouro – o que veio ampliar bastante a credibilidade da história da criança, hoje pobre.”
Assim como esse, muitos outros casos nos comprovam a reencarnação, mas não podemos nos esquecer dos casos mais antigos que a comprovam, no Evangelho Segundo o Espiritismo cap IV encontramos:
“Jesus, tendo vindo às cercanias de Cesaréia de Filipe, interrogou assim seus discípulos: “Que dizem os homens, com relação ao Filho do Homem? Quem dizem que eu sou?” – Eles lhe responderam: “Dizem uns que és João Batista; outros, que Elias; outros, que Jeremias, ou algum dos profetas.” – Perguntou-lhes Jesus: “E vós, quem dizeis que eu sou?” – Simão Pedro, tomando a palavra, respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo:” – Replicou-lhe Jesus: “Bem-aventurado és, Simão, filho de Jonas, porque não foram a carne nem o sangue que isso te revelaram, mas meu Pai, que está nos céus.” (Mt, 16:13 a 17; S. Mr, 8:27 a 30.)
Nesse ínterim, Herodes, o Tetrarca, ouvira falar de tudo o que fazia Jesus e seu espírito se achava em suspenso – porque uns diziam que João Batista ressuscitara dentre os mortos; outros que aparecera Elias; e outros que um dos antigos profetas ressuscitara. – Disse então Herodes: “Mandei cortar a cabeça a João Batista; quem é então esse de quem ouço dizer tão grandes coisas?” E ardia por vê-lo. (Mc, 6:14 a 16; S. Lc, 9:7 a 9.)
(Após a transfiguração.) Seus discípulos então o interrogaram desta forma: “Por que dizem os escribas ser preciso que antes volte Elias?” – Jesus lhes respondeu: “É verdade que Elias há de vir e restabelecer todas as coisas: – mas, eu vos declaro que Elias já veio e eles não o conheceram e o trataram como lhes aprouve. É assim que farão sofrer o Filho do Homem.” – Então, seus discípulos compreenderam que fora de João Batista que ele falara. (Mt, 17:10 a 13; Mc, 9:11 a 13.)…
… A ideia de que João Batista era Elias e de que os profetas podiam reviver na Terra se nos depara em muitas passagens dos Evangelhos, se fosse errônea essa crença, Jesus não houvera deixado de a combater, como combateu tantas outras. Longe disso, ele a sanciona com toda a sua autoridade e a põe por princípio e como condição necessária, quando diz: ‘”Ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer de novo.” E insiste, acrescentando: Não te admires de que eu te haja dito ser preciso nasças de novo.
Existem vários tipos de reencarnação, com particularidades individuais, mas podemos definir três tipos básicos:
- Reencarnação compulsória – imposta pela Lei para casos que exigem longas expiações para recuperação, ocorre muitas x sem o conhecimento do espírito pois suas faltas são tão graves que impedem o direito de escolha. É organizada pela intercessão de entidades que o querem bem.
*As questões 258 a 273 do Livro dos Espíritos relatam sobre a Escolha das provas.
- Reencarnação proposta – o espírito, junto de seus mentores programa os principais acontecimentos de seu mapa de provas, com um relativo livre arbítrio, pois são levados em conta seus débitos e méritos.
- Reencarnação livre – referida aos missionários, que vêm ao mundo material movidos pelo amor para desempenhar tarefas elevadas.
Assim como, também temos três tipos de desencarnação:
- Desencarnação lenta – usual e ideal, é fator equilibrante, a pessoa adoece e no tempo da agonia tem a chance de meditar, reformular certos pontos de vista, modificar-se interiormente e ainda não sofre um choque, a separação é gradual.
- Desencarnação súbita – salvo nos casos de pessoas voltadas ao bem geral, é um choque violento, onde o espirito é pego desprevenido, apegado as coisas materiais, custando para equilibra-se e esclarecer-se.
*As questões 154 a 165 do Livro dos Espíritos explica sobre o processo de separação da alma.
- Desencarnação coletiva – igual a súbita, com a diferença de processar-se de forma planejada, em conjunto de espíritos com débitos semelhantes que se reúnem para uma expiação coletiva.
*Para quem se interessa nesse assunto, o livro “Missionários da luz” de Chico Xavier, trata e exemplifica vários casos de encarnação, assim como o “Obreiros da Vida eterna”, da mesma coleção, discorre sobre os casos de desencarnação.
Importante salientar a questão do Determinismo x Livre Arbítrio, princípios existentes em nossa vida, e para isso, mais uma vez encontramos uma ótima explanação no livro Evolução para o Terceiro Milênio, Parte II, Cap.4, no Item 14.
No Determinismo não temos a liberdade de decidir ou fazer escolhas, a determinação dos atos depende das causas, externas (ninguém pode impedir a neve de cair ou o vento de soprar, prendendo-o em casa e alterando programas traçados) ou internas. Os mundos físicos e biológicos são regidos dessa forma, a nível macroscópico e a nível mental também, haja visto que os pensamentos têm uma causa, assim como as nossas ações, deles decorrentes, pensamentos e atos estão relacionados aos impulsos, traços de caráter e experiências caracterizam a personalidade.
Já o livre arbítrio declara que somos livres para tomar decisões e escolher nossas ações. Exige capacidade de discernir e liberdade interior, frequentemente a condição mental (irreflexão, impulsividade, hábitos fixos, inercia, imitação, moda) impõe restrições para o livre arbítrio. Portanto o arbítrio é progressivo e relativo, evoluindo do determinismo físico à medida que a consciência (razão) se desenvolve. Crescendo a razão, aumenta a liberdade de decidir; os padrões fixos de comportamento cedem lugar à opção inteligente. Em suma, o livre arbítrio é uma conquista evolutiva. E, com ele, desponta um novo fator moral – responsabilidade ou necessidade de enfrentar as consequências dos atos praticados, que a Lei impõe a todos. Há inúmeros acontecimentos inevitáveis, razão do conceito de fatalidade, que devemos reformar.
A liberdade de decidir e agir existe antes da ação ser executada. Posta em movimento o agente prende-se aos efeitos das causas que gerou (lei da causa e efeito ou de ação e reação), a liberdade é condicionada, o livre arbítrio é relativo pois depende do que se fez antes. Todos gozamos, em graus diversos, de livre vontade e estamos presos ao determinismo. A liberdade reside no presente; podemos agir com independência por meio da faixa de consciente atual, que atende às necessidades da vida presente. A determinação promana do passado culposo. As causas que geramos no passado pelas próprias ações constituem a área de determinismo, conservada em estado inconsciente. Temos de reabsorver as consequências das más ações, o que a liberdade do presente garante porque, com ela, podemos emitir novos impulsos que venham corrigir os precedentes.
- Crença na pluralidade dos mundos habitados
No Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. III, encontramos: “Não se turbe o vosso coração. Credes em Deus, crede também em mim. Há muitas moradas na casa de meu Pai; se assim não fosse, já eu vo-lo teria dito, pois me vou para vos preparar o lugar. – Depois que me tenha ido e que vos houver preparado o lugar, voltarei e vos retirarei para mim, a fim de que onde eu estiver também vós aí estejais. (S. JOÃO, 14:1 a 3.)”
A casa do Pai é o Universo. As diferentes moradas são os mundos que circulam no espaço infinito e oferecem, aos Espíritos que neles encarnam, moradas correspondentes ao adiantamento dos mesmos Espíritos”.
No Consolador, de Chico Xavier, Emmanuel relata:
71 –“Como julgar a posição da Terra em relação aos outros mundos?
– …No turbilhão do Infinito, o sistema planetário centralizado pelo nosso Sol é excessivamente singelo, constituindo um aspecto muito pobre da Criação. Basta lembrar que Capela, um dos nossos vizinhos mais próximos, é um sol 5.800 vezes maior que o nosso astro do dia, sem esquecermos que a Terra é 1.300.000 vez menor que o nosso Sol. Nessas cifras grandiosas, compreendemos a extensão da nossa humildade no Universo…
Veja o item 18 de o livro O Espiritismo em sua mais simples expressão, de Allan Kardec:
“Há mundos apropriados aos diferentes graus de avanço dos Espíritos, onde a existência corpórea acha-se em condições muito diferentes. Quanto menos o Espírito é adiantado, mais os corpos de que se reveste são pesados e materiais; à medida em que se purifica, passa para mundos superiores moral e fisicamente. A Terra não é o primeiro nem o último, mas um dos mundos mais atrasados.”
O item 5 do Cap. III do Evangelho Segundo o Espiritismo explica as categorias de mundos:
“…dividi-los, de modo geral, como segue: mundos primitivos, destinados às primeiras encarnações da alma humana; mundos de expiação e provas, onde domina o mal; mundos de regeneração, nos quais as almas que ainda têm o que expiar haurem novas forças, repousando das fadigas da luta; mundos ditosos, onde o bem sobrepuja o mal; mundos celestes ou divinos, habitações de Espíritos depurados, onde exclusivamente reina o bem. A Terra pertence à categoria dos mundos de expiação e provas, razão por que aí vive o homem a braços com tantas misérias”.
Expiação e provas? Evolução para o Terceiro Milênio, Parte II, Cap.4, Item 16, esclarece:
“No curso da evolução, o espírito encarnado é, de vez em quando, submetido a exames pela vida com o fim de verificar o aproveitamento, na posição em que se acha. Criam-se situações em torno do indivíduo envolvendo algumas de suas fraquezas, de maneira a despertá-lo. Situações que estimulam fraquezas (ou impulsos inferiores) são denominadas tentações. A tentação é a situação que revela a posição do Espírito – mostra o que somos, de acordo com as nossas tendências. Liga-se sempre a uma fraqueza, ou seja, a um impulso ao qual temos dificuldade para resistir; somos tentados onde somos fracos. Por exemplo: a bebida, o sexo, o jogo, o furto, etc. A prova é um exame que consiste em ser submetido a uma tentação para avaliar o progresso realizado e sua firmeza.
Quase sempre, o espírito desviou-se do andamento normal da evolução, entregando-se ao mal sob múltiplas formas, a imensa maioria das quais acarreta prejuízo para os seus semelhantes. Entra em cena a lei da ação e reação ou causa e efeito para promover os acertos devidos. Expiação é o castigo imposto pelo erro praticado, é sofrer pelo que fez outro sofrer. É proporcional ao nível de adiantamento alcançado pelo Espírito e precisa ser antecedida pelo arrependimento.
A exemplo das escolas terrenas que se dividem em vários ciclos, cada planeta oferece aos espíritos que neles estagiam, o aprendizado de que necessitam. Quando o espírito já aprendeu tudo o que o mundo pode oferecer, passa para outro de evolução mais adiantada e assim, sucessivamente. Por outro lado, quando o planeta completa um ciclo evolutivo para entrar em outro, os espíritos que nele habitam e que não acompanharam a evolução do mesmo são emigrados para um planeta mais atrasado, a fim de se regenerarem. Os espíritos encarnados no mundo não estão ligados a ele indefinidamente, e não passam nesse mundo por todas as fases do progresso que devem realizar para chegar à perfeição, devemos, portanto, nos esforçar para poder aproveitar as oportunidades oferecidas em cada planeta.
Continuando no Cap. III do Evangelho Segundo o Espiritismo:
“6. Muitos se admiram de que na Terra haja tanta maldade e tantas paixões grosseiras, tantas misérias e enfermidades de toda natureza, e daí concluem que a espécie humana bem triste coisa é. Provém esse juízo do acanhado ponto de vista em que se colocam os que o emitem e que lhes dá uma falsa ideia do conjunto. Deve-se considerar que na Terra não está a Humanidade toda, mas apenas uma pequena fração da Humanidade. Com efeito, a espécie humana abrange todos os seres dotados de razão que povoam os inúmeros orbes do Universo. Ora, que é a população da Terra, em face da população total desses mundos? Muito menos que a de uma aldeia, em confronto com a de um grande império. A situação material e moral da Humanidade terrena nada tem que espante, desde que se leve em conta a destinação da Terra e a natureza dos que a habitam.
- Faria dos habitantes de uma grande cidade falsíssima ideia quem os julgasse pela população dos seus quarteirões mais ínfimos e sórdidos. Num hospital, ninguém vê senão doentes e estropiados; numa penitenciária, veem-se reunidas todas as torpezas, todos os vícios; nas regiões insalubres, os habitantes, em sua maioria, são pálidos, franzinos e enfermiços. Pois bem: figure-se a Terra como um subúrbio, um hospital, uma penitenciária, um sítio malsão, e ela é simultaneamente tudo isso, e compreender-se-á por que as aflições sobrelevam aos gozos, porquanto não se mandam para o hospital os que se acham com saúde, nem para as casas de correção os que nenhum mal praticaram; nem os hospitais e as casas de correção se podem ter por lugares de deleite.
Ora, assim como, numa cidade, a população não se encontra toda nos hospitais ou nas prisões, também na Terra não está a Humanidade inteira. E, do mesmo modo que do hospital saem os que se curaram e da prisão os que cumpriram suas penas, o homem deixa a Terra, quando está curado de suas enfermidades morais.
A questão 72 de O Consolador nos lembra:
“Existem planetas de condições piores que as da Terra?
-Existem orbes que oferecem piores perspectivas de existência que o vosso e, no que se refere a perspectivas, a Terra é um plano alegre e formoso, de aprendizado. O único elemento que aí destoa da Natureza é justamente o homem, avassalado pelo egoísmo. Conhecemos planetas onde os seres que os povoam são obrigados a um esforço contínuo e penoso para aliciar os elementos essenciais à vida; outros, ainda, onde numerosas criaturas se encontram em doloroso degredo. Entretanto, no vosso, sem que haja qualquer sacrifício de vossa parte, tendes gratuitamente céu azul, fontes fartas, abundância de oxigênio, árvores amigas, frutos e flores, cor e luz, em santas possibilidades de trabalho, que o homem há renegado em todos os tempos.
- Crença na ética moral dos ensinamentos de Jesus e na prática da Caridade
A doutrina Espírita é muito famosa pela Caridade, e esse é o principal ensinamento de Jesus para conosco. Em o Livro dos Espíritos temos:
Questão 625: “Qual o tipo mais perfeito que Deus já ofereceu ao homem para lhe servir de guia e modelo?
- Vede Jesus. (Para o homem, Jesus constitui o tipo da perfeição moral a que a Humanidade pode aspirar na Terra. Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo, e a doutrina que ensinou é a expressão mais pura da lei do Senhor, porque o espírito divino o animava, e porque foi o ser mais puro de quantos têm aparecido na Terra…)
Questão 627: “Uma vez que Jesus ensinou as verdadeiras leis de Deus, qual a utilidade do ensino que os Espíritos dão? Terão que nos ensinar mais alguma coisa?
- Jesus empregava amiúde, na sua linguagem, alegorias e parábolas, porque falava de conformidade com os tempos e os lugares. Faz-se mister agora que a verdade se torne inteligível para todo mundo. Muito necessário é que aquelas leis sejam explicadas e desenvolvidas, tão poucos são os que as compreendem e ainda menos os que as praticam. A nossa missão consiste em abrir os olhos e os ouvidos a todos, confundindo os orgulhosos e desmascarando os hipócritas: os que vestem a capa da virtude e da religião, a fim de ocultarem suas torpezas. O ensino dos Espíritos tem que ser claro e sem equívocos, para que ninguém possa pretextar ignorância, e para que todos o possam julgar e apreciar com a razão. Estamos incumbidos de preparar o reino do bem que Jesus anunciou. Daí a necessidade de que a ninguém seja possível interpretar a lei de Deus ao sabor de suas paixões, nem falsear o sentido de uma lei toda de amor e de caridade.”
No Evangelho Segundo o Espiritismo Cap XV, item 3: “Toda a moral de Jesus se resume na caridade e na humildade, isto é, nas duas virtudes contrárias ao egoísmo e ao orgulho. Em todos os seus ensinos, ele aponta essas duas virtudes como sendo as que conduzem à eterna felicidade: Bem-aventurados, disse, os pobres de espírito, isto é, os humildes, porque deles é o reino dos céus; bem-aventurados os que têm puro o coração; bem-aventurados os que são brandos e pacíficos; bem-aventurados os que são misericordiosos; amai o vosso próximo como a vós mesmos; fazei aos outros o que quereríeis vos fizessem; amai os vossos inimigos; perdoai as ofensas, se quiserdes ser perdoados; praticai o bem sem ostentação; julgai-vos a vós mesmos, antes de julgardes os outros. Humildade e caridade, eis o que não cessa de recomendar e o de que dá, ele próprio, o exemplo. Orgulho e egoísmo, eis o que não se cansa de combater. E não se limita a recomendar a caridade; põe-na claramente e em termos explícitos como condição absoluta da felicidade futura.
No quadro que traçou do juízo final, deve-se, como em muitas outras coisas, separar o que é apenas figura, alegoria. A homens como os a quem falava, ainda incapazes de compreender as questões puramente espirituais, tinha ele de apresentar imagens materiais chocantes e próprias a impressionar. Para melhor apreenderem o que dizia, tinha mesmo de não se afastar muito das idéias correntes, quanto à forma, reservando sempre ao porvir a verdadeira interpretação de suas palavras e dos pontos sobre os quais não podia explicar-se claramente. Mas, ao lado da parte acessória ou figurada do quadro, há uma idéia dominante: a da felicidade reservada ao justo e da infelicidade que espera o mau.
Naquele julgamento supremo, quais os considerandos da sentença? Sobre que se baseia o libelo? Pergunta, porventura, o juiz se o inquirido preencheu tal ou qual formalidade, se observou mais ou menos tal ou qual prática exterior? Não; inquire tão-somente de uma coisa: se a caridade foi praticada, e se pronuncia assim: Passai à direita, vós que assististes os vossos irmãos; passai à esquerda, vós que fostes duros para com eles. Informa-se, por acaso, da ortodoxia da fé? Faz qualquer distinção entre o que crê de um modo e o que crê de outro? Não, pois Jesus coloca o samaritano, considerado herético, mas que pratica o amor do próximo, acima do ortodoxo que falta com a caridade. Não considera, portanto, a caridade apenas como uma das condições para a salvação, mas como a condição única. Se outras houvesse a serem preenchidas, ele as teria declinado. Desde que coloca a caridade em primeiro lugar, é que ela implicitamente abrange todas as outras: a humildade, a brandura, a benevolência, a indulgência, a justiça, etc., e porque é a negação absoluta do orgulho e do egoísmo.”
Em S. PAULO, 1ª Epístola aos Coríntios, 13:1 a 7 e 13: “Ainda quando eu falasse todas as línguas dos homens e a língua dos próprios anjos, se eu não tiver caridade, serei como o bronze que soa e um címbalo que retine; – ainda quando tivesse o dom de profecia, que penetrasse todos os mistérios, e tivesse perfeita ciência de todas as coisas; ainda quando tivesse toda a fé possível, até ao ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, nada sou. – E, quando houvesse distribuído os meus bens para alimentar os pobres e houvesse entregado meu corpo para ser queimado, se não tivesse caridade, tudo isso de nada me serviria.
A caridade é paciente; é branda e benfazeja; a caridade não é invejosa; não é temerária, nem precipitada; não se enche de orgulho; – não é desdenhosa; não cuida de seus interesses; não se agasta, nem se azeda com coisa alguma; não suspeita mal; não se rejubila com a injustiça, mas se rejubila com a verdade; tudo suporta, tudo crê, tudo espera, tudo sofre.
Agora, estas três virtudes: a fé, a esperança e a caridade permanecem; mas, dentre elas, a mais excelente é a caridade”
Na questão 886 do Livro dos Espíritos: “Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus?
- Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas. (O amor e a caridade são o complemento da lei de justiça, pois amar o próximo é fazer-lhe todo o bem que nos seja possível e que desejaríamos nos fosse feito. Tal o sentido destas palavras de Jesus: Amai-vos uns aos outros como irmãos. A caridade, segundo Jesus, não se restringe à esmola, abrange todas as relações em que nos achamos com os nossos semelhantes, sejam eles nossos inferiores, nossos iguais, ou nossos superiores. Ela nos prescreve a indulgência, porque de indulgência precisamos nós mesmos, e nos proíbe que humilhemos os desafortunados, contrariamente ao que se costuma fazer. Apresente-se uma pessoa rica e todas as atenções e deferências lhe são dispensadas. Se for pobre, toda gente como que entende que não precisa preocupar-se com ela. No entanto quanto mais lastimoso seja a sua posição, tanto maior cuidado devemos pôr em lhe não aumentarmos o infortúnio pela humilhação. O homem verdadeiramente bom procura elevar, aos seus próprios olhos, aquele que lhe é inferior, diminuindo a distância que os separa.
André Luiz, define caridade como o Amor em ação, de fato, amor é sentimento e caridade é prática, amor é interior, a caridade exterior, o amor é invisível, a caridade visível. Somente a caridade revela o amor, mas dizer que ama não revela caridade. Lembramos assim da epístola de Tiago 2,14-18: “De que adianta, meus irmãos, alguém dizer que tem fé, se não tem obras? Acaso a fé pode salvá-lo? Se um irmão ou irmã estiver necessitando de roupas e do alimento de cada dia e um de vocês lhe disser: “Vá em paz, aqueça-se e alimente-se até satisfazer-se”, sem porém lhe dar nada, de que adianta isso? Assim também a fé, por si só, se não for acompanhada de obras, está morta. Mas alguém dirá: “Você tem fé; eu tenho obras”. Mostre-me a sua fé sem obras, e eu lhe mostrarei a minha fé pelas obras.
Para a benevolência, nos lembramos da questão 643 do livro dos espíritos: “Haverá quem, pela sua posição, não tenha possibilidade de fazer o bem?
Não há quem não possa fazer o bem. Somente o egoísta nunca encontra ensejo de o praticar. Basta que se esteja em relações com outros homens para que se tenha ocasião de fazer o bem, e não há dia da existência que não ofereça, a quem não se ache cego pelo egoísmo, oportunidade de praticá-lo. Porque fazer o bem não consiste, para o homem, apenas em ser beneficente, mas em ser útil, na medida do possível, todas as vezes que o seu concurso possa ser necessário.”
Para a indulgencia, lembramos do item 16 do cap. X de O Evangelho segundo o Espiritismo: “ A indulgência jamais se ocupa com os maus atos de outrem, a menos que seja para prestar um serviço; mas, mesmo neste caso, tem o cuidado de os atenuar tanto quanto possível. Não faz observações chocantes, não tem nos lábios censuras; apenas conselhos e, as mais das vezes, velados. Quando criticais, que consequência se há de tirar das vossas palavras? A de que não tereis feito o que reprovais, visto que, estais a censurar; que valeis mais do que o culpado. Ó homens! quando será que julgareis os vossos próprios corações, os vossos próprios pensamentos, os vossos próprios atos, sem vos ocupardes com o que fazem vossos irmãos? Quando só tereis olhares severos sobre vós mesmos?”
E para o perdão das ofensas, também no Evangelho segundo o Espiritismo, cap. X item 15: “ Mas, há duas maneiras bem diferentes de perdoar: há o perdão dos lábios e o perdão do coração. Muitas pessoas dizem, com referência ao seu adversário: “Eu lhe perdôo”, mas, interiormente, alegram-se com o mal que lhe advém, comentando que ele tem o que merece. Quantos não dizem: “Perdôo” e acrescentam: “mas, não me reconciliarei nunca; não quero tornar a vê-lo em toda a minha vida. Será esse o perdão, segundo o Evangelho? Não, o perdão verdadeiro, o perdão cristão é aquele que lança um véu sobre o passado; esse o único que vos será levado em conta, visto que Deus não se satisfaz com as aparências…Não olvides que o verdadeiro perdão se reconhece pelos atos, bem mais que pelas palavras.
Nessa mesma obra, no item 2 do cap. XVII, encontra-se um trecho que diz que a essência da perfeição é a caridade em sua mais larga acepção, porque ela implica a prática de todas as outras virtudes. Daí a grandíssima importância de procurarmos agir com caridade, na mente e no coração, sempre; pois levaremos para o outro lado da Vida o conhecimento obtido e consolidado e as virtudes conquistadas (e, naturalmente, os erros, males e equívocos que não conseguimos resolver e reparar).
Conclusão
Para concluir, gostaria de citar a Lenda Egípcia do Peixinho Vermelho que Emmanuel coloca no prefácio da obra Libertação, onde narra a estória de um peixinho que saiu de seu lago (presente num formoso jardim), através de grade muito estreita, e conheceu rios, lugares e companheiros jamais imaginados. Decidindo relatar sua descoberta aos companheiros do limitado lago, informou-lhes que havia outro mundo líquido, glorioso e sem fim. “Aquele poço era uma insignificância que podia desaparecer, de momento para outro. Além do escoadouro próximo desdobravam-se outra vida e outra experiência”, revelou o peixinho vermelho aos seus irmãos. Descreveu então o serviço das tainhas e dos salmões, das trutas e dos esqualos. Falou sobre o peixe-lua, o peixe-coelho e o galo-do-mar. Contou que vira o céu repleto de estrelas e que descobrira árvores gigantescas, barcos imensos, cidades praieiras, jardins submersos, e ofereceu-se para conduzi-los ao Palácio de Coral, onde viveriam todos, prósperos e tranquilos. Disse, por fim, que semelhante felicidade tinha, todavia, seu preço: “Deveriam todos emagrecer, convenientemente, abstendo-se de devorar tanta larva e tanto verme nas locas escuras e aprendendo a trabalhar e estudar tanto quanto era necessário à venturosa jornada”. Assim que terminou, gargalhadas estridentes coroaram-lhe a preleção. Ninguém acreditou nele. Alguns oradores disseram que o peixinho vermelho delirava, que a outra vida além do poço era francamente impossível e que aquela história de riachos, rios e oceanos era mera fantasia de cérebro demente.
O soberano da comunidade, para melhor ironizar o peixinho, foi com ele até à grade de escoamento, por onde o peixinho havia ganhado o mundo, e, tentando de longe a travessia, exclamou: “Não vês que não cabe aqui nem uma só de minhas barbatanas? Grande tolo! vai-te daqui! não nos perturbes o bem-estar… Nosso lago é o centro do Universo… Ninguém possui vida igual à nossa!…” Expulso a golpes de sarcasmo, o peixinho realizou a viagem de retorno, instalando-se, em definitivo, no Palácio de Coral, aguardando o tempo. Passados alguns anos, apareceu pavorosa e devastadora seca. As águas desceram de nível. E o poço onde viviam os peixes pachorrentos e vaidosos esvaziou-se, compelindo a comunidade inteira a perecer, atolada na lama.
Emmanuel compara a estória do peixinho com o esse o esforço de André Luiz, que busca acender luz nas trevas, que encantado com as descobertas do caminho infinito, realizadas depois de muitos conflitos no sofrimento, retorna ele aos recôncavos da Crosta Terrestre, anunciando aos antigos companheiros que, além dos cubículos em que se movimentam, resplandece outra vida, mais intensa e mais bela, exigindo, porém, acurado aprimoramento individual para a travessia da estreita passagem de acesso às claridades da sublimação. Ele fala, informa, prepara, esclarece… “Há, contudo, muitos peixes humanos — diz Emmanuel — que sorriem e passam, entre a mordacidade e a indiferença, procurando locas passageiras ou pleiteando larvas temporárias. Esperam um paraíso gratuito com milagrosos deslumbramentos depois da morte do corpo. Mas, foi Jesus quem pronunciou, muito antes de nós, as indeléveis palavras: “A cada um será dado de acordo com as suas obras”.
É assim que eu vejo também a Doutrina Espírita, muitas vezes, as pessoas não querem se instruir, porque não querem sair de suas zonas de conforto, e não percebem a grande oportunidade que estão perdendo de facilitar a caminhada nesse orbe, de compreender a vida aqui e acolá, de onde viemos, porque estamos e para onde vamos.
Fontes:
– Bíblia Sagrada
– Evolução para o Terceiro Milênio – Carlos Toledo Rizzini
– O evangelho Segundo o Espiritismo – Allan Kardec
– O livro dos Espíritos – Allan Kardec
– A Gênese – Allan Kardec
– O Consolador – Francisco Cândido Xavier, pelo espírito Emmanuel