Quando e Onde Nasceu Jesus
O autor do quarto evangelho registra que se fossem narrar todas as obras realizadas por Jesus, o mundo não teria espaço para conter os livros que se deveriam escrever (João, 21:25). A vida e os feitos de Jesus são narrados apenas nos Evangelhos, mas as interpretações que eles sugerem vêm gerando milhares de livros ao longo desses dois mil anos. Em razão disso, podemos adequar a hipérbole do “discípulo amado” sobre os atos de Jesus para os livros que tratam das interpretações e conseqüências das ações daquele que ele chamou de Luz do Mundo (João, 9:5).
Devido à importância de Jesus para a Humanidade, os estudiosos têm buscado, não somente a melhor compreensão e justa aplicação dos ensinamentos do Rabi da Galiléia, mas, também, os verdadeiros dados de sua identidade. Entre muitas preocupações legítimas dos cientistas do Novo Testamento estão as verdadeiras circunstâncias do nascimento de Jesus, que permanecem misteriosas, já que sobre a data e o local os próprios evangelistas se contradizem.
Parece-nos que esses detalhes – para os quais têm-se dado tanta importância –, Jesus apagou-os da sua biografia, num gesto consonante com sua magnanimidade, pois, vindo do Esplendor da Luz, deveria humilhar-se e apagar-se para que o homem pudesse brilhar um dia.
Ano do nascimento de Jesus
Segundo Mateus (2:1, 19, 22), Jesus nasceu durante o Império de Augusto, por volta do ano 750 da fundação de Roma, que corresponde ao ano 4 a.C. Sabe-se, mais ainda, que um erro de cálculo de Dionísio, o Jovem, no século VI, fez coincidir o nascimento de Jesus com o ano 754 de Roma.
Logo, fazendo-se o cálculo, o Mestre nasceu no ano 747-748 da fundação de Roma, isto é, 6 a 7 anos antes da data estabelecida por Dionísio.
John L. Mackenzie, no seu Dicionário Bíblico, conclui que não se pode calcular com segurança a data do nascimento de Jesus.
Segundo a revelação espiritual no livro Crônicas de Além-túmulo, psicografia de Francisco C. Xavier, pelo Espírito Humberto de Campos, cap. 15, p. 89-90, o nascimento de Jesus se deu no ano 749 a.C. que corresponde ao ano 5. a.C.*
Belém ou Nazaré da Galiléia?
Para Lucas (2:1-7), Jesus nasce em Belém, porém, os demais evangelistas informam que Ele era cidadão de Nazaré da Galiléia (Mateus, 13:54 ss.; Marcos, 6:1 ss.; João, 1:45-46). O registro do terceiro evangelista pode ser verdadeiro, pois ele consultou Maria, a mãe de Jesus (Lucas, 2:19), e, talvez por isso, quem oferece a mais completa biografia do Redentor.
Mas Ernest Renan, autor do clássico Vida de Jesus, assegura que a pátria de Jesus é a cidade de Nazaré, embora ela não seja mencionada nos escritos do Velho Testamento, nem no Talmude e nem por Flavius Josefo.1 Encontra ele, no entanto, uma série de informações que confirmam sua tese. Provavelmente, as dúvidas continuarão, ainda, por muito tempo para os pesquisadores da verdade histórica.
Nascimento de Jesus em nós
Nascer é passar a existir no mundo. No caso de Jesus, sendo Ele a luz que deve brilhar em nossas almas, não basta ter existido historicamente, é necessário que nasça em cada um de nós. Há dois mil anos que o Mestre vem nascendo em almas empedernidas, nos momentos de sublime redenção.
Para ilustrar esses momentos, escolhemos alguns personagens de romances históricos, ditados pelo Espírito Emmanuel, através do médium Francisco Cândido Xavier. Neles encontramos personalidades, umas conhecidas, outras não, que se negaram por muito tempo a abrir a janela da alma para a entrada da luz do Nazareno; Espíritos que recalcitraram ao aguilhão e lutaram contra a mensagem de consolo e renovação da Humanidade, trazida pelo Arauto Divino. Destaquemos algumas.
Paulo de Tarso
Fariseu fanático, de nome Saulo, obstinado perseguidor de cristãos, fez de tudo para impedir a propagação do Cristianismo nascente.
Defendia com honestidade as leis mosaicas, mas usou de crueldade com os cristãos, sendo o responsável pelo apedrejamento de Estevão – o primeiro mártir do Cristianismo –, pela devassa de muitos lares em Jerusalém, mortes e emigração de centenas de judeus convertidos.
No auge da sua perseguição aos seguidores do Cristo, Saulo, a caminho de Damasco, na intenção de prender o velho Ananias, montado em seu corcel, “sente-se envolvido por luzes diferentes da tonalidade solar”. Confuso, pede socorro aos seus soldados, mas, conturbado, tomba do animal e “[…] vê surgir a figura de um homem de majestática beleza”, que lhe fala: “– Saulo!… Saulo!… por que me persegues?”. Saulo com voz trêmula interroga:
“– Quem sois vós, Senhor? […]
– Eu sou Jesus!…”, responde-lhe a voz. E o perseguidor curva-se para o solo e pergunta, intimorato como sempre fora: “– Senhor, que quereis que eu faça?”,2 entregando-se, dessa forma, ao Guia da Humanidade.
A partir de então, surgiu Paulo de Tarso, que ficou conhecido como o Apóstolo dos Gentios, porque pregou o Evangelho para todos os povos não-monoteístas, no Oriente e no Ocidente; para ricos e pobres, governantes e governados.
Se perguntarmos a Paulo de Tarso quando e onde nasceu Jesus ele responderá, sem dúvida, que foi no ano 36, na estrada de Damasco.
Públio Lentulus
O nobre senador romano, extremamente orgulhoso e tenaz conservador das tradições religiosas do seu povo, recebeu o chamamento de Jesus por diversas vezes. A primeira, às margens do lago de Genesaré, quando fora ao seu encontro, na esperança de obter a cura para sua filha Flávia, acometida de lepra. A menina foi curada, mas o insensível Lentulus não se rendeu ao poder amoroso do Cristo.Após perder a esposa Lívia, sacrificada na arena, juntamente com outros cristãos, é que o nobre Tribuno abdicou do seu orgulho, de suas tradições e voltou-se para a luz: “– Jesus de Nazaré! disse com voz súplice e dolorosa – foi preciso perdesse eu o melhor e mais querido de todos os meus tesouros, para recordar a concisão e a doçura de tuas palavras!… Não sei compreender a tua cruz e ainda não sei aceitar a tua humildade dentro da minha sinceridade de homem, mas, se podes ver a enormidade de minhas chagas, vem socorrer, ainda uma vez, meu coração miserável e infeliz!…”3
Para o senador Públio Lentulus, Jesus nasceu no ano 64, em Roma, no momento mais doloroso daquela sua existência.
Helvídio Lucius Patrício romano honesto e de muitas virtudes, mas igualmente orgulhoso e preso às tradições pagãs do seu povo, era impenetrável às idéias do Evangelho. Em razão de sua aversão ao Cristo, cometeu uma terrível injustiça com a filha Célia, jovem cristã, que assumiu as conseqüências de uma trama contra sua mãe, buscando, assim, salvaguardar a honra da família.
Depois de expulsar a filha de casa, sem buscar compreender as razões do seu sacrifício, Helvídio passou a viver no inferno que construiu na consciência. Transcorridos os anos, ao saber da verdade sobre a filha e ficar viúvo, entrou em desespero total e se isolou no sofrimento.
Àquela altura da vida, desejoso de encontrar uma saída que o levasse à luz, recebeu o convite de um amigo para assistir à pregação da Boa Nova. “[…] onde, pela primeira vez, Helvídio Lucius ouviu a leitura do Evangelho […] e, apesar de não lhe sentir as lições inteiramente, admirava o profeta simples e amoroso, que abençoava os pobres e os aflitos do mundo, prometendo um reino de luz e de amor, para além das ingratas competições da Terra”.4
Se interrogado, diria Helvídio Lucius que Jesus nasceu para ele no ano 146, próximo à Porta Ápia, no lar humilde de um pregador do Evangelho, em Roma.
Taciano Varro
Patrício romano e próspero comerciante, durante toda a sua existência foi implacável combatente do Cristianismo. Devoto fanático da deusa Cíbele, mãe dos demais deuses romanos, Taciano sempre se rendeu ao orgulho e à força das tradições mitológicas do seu povo.
Em razão do seu ódio contra o Cristo, cometeu terríveis atrocidades e injustiças, chegando mesmo a cooperar para o sacrifício do seu próprio pai, Quinto Varro. A partir de um certo momento, sua vida passou a ser um pesadelo.Abandonado pelos amigos e lutando pela subsistência, sofreu um acidente em corrida de bigas e ficou cego.A partir de então, passou a ser amparado pelo filho adotivo Quinto Celso, que era cristão.Após dolorosos reveses, foi levado à arena, tido como cristão, pois estava em companhia de seu filho.Cego e ao lado de Quinto Celso, amarrado a um poste para servir de tocha humana, o orgulhoso romano, em meio aos gritos selvagens dos espectadores abriu a janela do coração:“– Meu filho! meu filho!… – soluçava Taciano, feliz, tateando o corpo de Celso, cujas mãos de carne não mais poderiam acariciá-lo – eu senti o poder de Cristo em mim!… agora, eu também sou cristão!…”5
Sem dúvida o patrício Taciano jamais esquecerá aquele momento redentor de sua vida em que Jesus nasceu para ele, no ano 258, no Anfiteatro Flaviano, em Roma.
Jesus Cristo é como o Sol: nasce todos os dias, em vários lugares do mundo ao mesmo tempo. Para recebermos sua luz e seu calor amoroso resta-nos apenas abrir a janela da alma. Tem sido assim para muitos de nós que habitamos a Terra, escola milenar de regeneração.
Referências: 1____RENAN, Ernest. Vida de Jesus. Tradução de Eliane Maria de A. Martins. São Paulo:
Editora Martin Claret Ltda. p. 89. 2_____XAVIER, Francisco Cândido. Paulo e Estêvão. Pelo Espírito Emmanuel. 4. ed. especial. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Primeira parte, cap. X, p. 212-214. 3______. Há dois mil anos. Pelo Espírito Emmanuel. 4. ed. especial. Rio de Janeiro: FEB, 2002. Segunda parte, cap. V, p. 329. 4______. Cinqüenta anos depois. Pelo Espírito Emmanuel. Ed. especial. Rio de Janeiro: FEB, 2002. Segunda parte, cap. V, p. 287. 5______. Ave, Cristo! Pelo Espírito Emmanuel. Ed. especial. Rio de Janeiro: FEB, 2002. Segunda parte, cap. VII, p. 380.
*N. da R.: Ver o artigo “História da Era Apostólica – Nascimento de Jesus”, de Haroldo Dutra Dias, em Reformador de junho/ 2008, p. 30.
WALDEHIR BEZERRA DE ALMEIDA Reformador 08.2008