Violência e Evolução – palestra 25.8.21
VIOLÊNCIA E EVOLUÇÃO
Estudo CELC 25.08.21 – Tarcila L. Costa
Para organizar este estudo pensei em dividir em algumas questões principais?
ONDE A VIOLÊNCIA ESTÁ NO CAMINHO DA EVOLUÇÃO?
O QUE É A VIOLÊNCIA? QUAL A ESSÊNCIA DA VIOLÊNCIA?
QUAL O OBJETIVO DO USO DA VIOLÊNCIA? PARA QUE ELA NOS SERVE?
E O QUE FAZER COM A VIOLÊNCIA QUE VIVE EM MIM?
ONDE A VIOLÊNCIA ESTÁ NO CAMINHO DA EVOLUÇÃO?
Essa pergunta parece ter uma resposta muito óbvia, mas mesmo sendo óbvia, vamos lembrar um pouquinho:
Existem pelo menos três formas de pensarmos em percursos de evolução.
Podemos pensar na pluralidade dos mundos habitados (Mundos primitivos, mundos de prova e expiação, mundo regenerados, mundos ditosos ou felizes e mundo celestiais). Sendo que sabemos, também que em cada um deles a violência é mais presente. No caso, sabemos que é muito mais presente nos mundos primitivos e no mundo de provas e expiações, um pouco menos.
Outra forma que podemos pensar na evolução é através da escala espírita (questão 100 do L.E.) onde fomos ordenados como sendo espíritos de :
Primeira ordem , ou espíritos puros
Nenhuma influência da matéria. Superioridade Intelectual e moral absoluta, com relação aos Espíritos das Outras ordens.
Segunda ordem ou Bons Espíritos (Benévolos, sábios, de sabedoria e superiores)
Predominância do Espírito sobre a matéria; desejo do bem. Suas qualidades e poderes para o bem estão em relação com o grau de adiantamento que hajam alcançado; uns tem a ciência, outros a sabedoria e a bondade. Os mais adiantados reúnem o saber as qualidades morais.
Terceira ordem ou imperfeitos ( Impuros, Levianos, Pseudossábios, Neutros e perturbadores) “Predominância da matéria sobre o espírito. Propensão para o mal. Ignorância, orgulho, egoísmo e todas as paixões que lhes são consequentes” “Uns não fazem o bem nem o mal; mas, pelo simples fato de não fazerem o bem, já denotam a sua inferioridade. Outros, ao contrário, se comprazem no mal e rejubilam quando uma ocasião se lhes depara de praticá-lo.
A inteligência pode achar-se neles aliada a maldade ou a malícia; seja, porém, qual for o grau que tenham alcançado de desenvolvimento intelectual, suas ideias são pouco elevadas e mais ou menos abjetos seus sentimentos. Restritos conhecimentos têm das coisas do mundo espírita e o pouco que sabem se confunde com as ideias e preconceitos da vida corporal, eles veem a felicidade dos bons e esse espetáculo lhes constitui incessante tormento, porque os faz experimentar todas as angustias que a inveja e o ciúme podem causar.
Ainda uma outra maneira que temos para pensar na evolução está contida na Lei de Amor, presente no Evangelho Segundo o Espiritismo item 8
Que nos mostra um percurso onde passamos do instinto à sensação e depois da sensação ao sentimento, sendo o ponto mais alto do sentimento, o AMOR.
Podemos observar que em qualquer uma dessas formas de pensarmos a evolução, a violência está atrelada ao degrau mais inferior. Principalmente se considerarmos a essência da violência. E para isso, vamos tentar, na medida do possível, esmiuçar o conceito.
O QUE É A VIOLÊNCIA? QUAL A ESSÊNCIA DA VIOLÊNCIA?
A violência pode acontecer de diversas formas (fisicamente, moralmente) e por diferentes meios (ação física, palavras, pensamento, em espírito).
Apresenta forte ligação com a noção de instinto, de defesa, mas também acentua sua relação com a exacerbação do ego.
Será que a falta de atenção é uma paciência? A falta de paciência é uma violência?
Tudo aquilo que fere o outro pode ser considerado uma violência.
Evangelho segundo espiritismo Injurias e Violências pág. 95
Para começarmos a pensar no assunto, se lhes pergunto qual o contrário de violência, o que me diriam/ pacificação/ brandura/ o que eu devo aprender para diminuir a violência que existe em mim. Num primeiro momento a gente precisa primeiro reconhecer que existe ainda a violência em cada um de nós. Para alguns mais para outros menos. Mas ainda há. Em que momentos deixamos essa violência agir/ e se deixamos ela agir é porque no fundo de nós ainda acreditamos nela. E no que não estamos crendo, para ainda deixar que a violência aja/
Segundo o dicionário, o que é VIOLÊNCIA
ação ou efeito de empregar força física ou intimidação moral contra; ato violento
então é a característica daquilo que usa a força. Mas posso usar a força para mover uma pedra, levantar uma pessoa que está caída. Também é força. Então essa descrição não é suficiente.
Intimidação moral – esse termo já traz em essência um aspecto diferente da questão da força física. Pois aqui não se trata de fazer uso da força moral, uma vez que força pode estar relacionada ao bem ou ao mal, mas de fazer uso para suprimir a vontade moral de outra pessoa. Mas mesmo a intimidação moral, também pode ocorrer sobre alguém que está fazendo algo errado. Uma mãe pode intimidar um filho que está fazendo algo errado, para que não o faça mais. E isso é um bem. Então, essa descrição também ainda não é satisfatória.
Moral, diferença entre bem e mal. (MAS SABEMOS TUDO? PODEMOS USAR DE VIOLÊNCIA SOBRE OS OUTROS, INTIMIDANDO MORALMENTE, COM A DESCULPA DE QUE NÓS SABEMOS A VERDADE E O OUTRO NÃO?
ATÉ QUE PONTO PODEMOS AGIR/ ATÉ QUE PONTO DEVEMOS AGIR (EXPIAÇÃO PÁGINA 70 ATÉ QUE PONTO DEVEMOS DEIXAR UMA EXPIAÇÃO SEGUIR SEU CURSO)
E QUAL É O CONTRÁRIO DE VIOLÊNCIA – Capítulo do evangelho sobre injúrias e violências brandura, pacificação… é difícil dizer pois violência muda de significado de acordo com o contexto, com a motivação.
E é para entendermos melhor a essência da violência em n´s mesmo, desse hábito que temos em confrontar, em intimidar, em impor algo sobre a vontade de outro, ou sobre as circunstâncias da vida que a gente vai falar um pouco sobre nossa evolução
Vamos nos localizar no campo de evolução. Vamos entender um pouco melhor onde nos encontramos no caminho dessa evolução. Para olharmos para nós e enxergarmos nossos deveres na caminhada
Sabemos que certamente, ainda não somos bons.
Quando eu coloco aqui novamente essas escalas, não é porque eu acho que ninguém aqui sabe disso. A maioria de nós já sabe. Mas precisamos sempre lembrar, lembrar de quem nós ainda somos. Reconhecer o tanto de falha e de violência que ainda pode haver em nós. Para podermos repensar O quanto cada um de nós ainda pode estar admitindo violências diariamente, sem se dar conta, sem se lembrar de não é para fazermos as mesmas coisas, mas para avançarmos na direção da pacificação. Para buscarmos acreditar em outro tipo de força. Então, para evoluirmos precisamos de HUMILDADE, para reconhecermos que não sabemos tudo. Quando a igreja inventou a cruzada, ou mesmo a inquisição usava a desculpa de que sabia a verdade sobre o certo e o errado, sobre o bem e o mal. Mas não sabia. Qualquer um que queira avançar sobre o outro para mudar seu pensamento, tende a acreditar que sabe mais que o outro. As vezes, sabe, as vezes, não. E precisamos viver sempre com essa possibilidade de não estar certos.
EXISTE AQUILO QUE É O CERTO, DE DEUS, E EXISTE AQUILO QUE É O QUE AGENTE CONSEGUE FAZER. E tá tudo bem. Deus não espera que a gente já seja perfeito, mas que a gente reconheça que isso é só o que a gente consegue fazer.
- Onde está escrita a Lei de Deus?
“Na consciência.”
- Para respeitar a liberdade de consciência, dever-se-á deixar que se propaguem doutrinas perniciosas, ou poder-se-á, sem atentar contra aquela liberdade, procurar trazer ao caminho da verdade os que se transviaram obedecendo a falsos princípios?
“Certamente que podeis e até deveis; mas, ensinai, a exemplo de Jesus, servindo-vos da brandura e da persuasão e nao da forca, o que seria pior do que a crença daquele a quem desejaríeis convencer. Se alguma coisa se pode impor, e o bem e a fraternidade. Da lei de liberdade
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Mas não cremos que o melhor meio de fazê-los admitidos seja obrar com violência. A convicção não se impõe.”
EVOLUÇÃO PARA O TERCEIRO MILÊNIO
Os impulsos, segundo Karen Horney, são as forças que iniciam e sustentam as neuroses. Por isso, dá-lhes o nome de tendências neuróticas, isto é, impulsos destinados a atender a necessidades doentias do espírito. Acha que eles permitem atingir uma espécie de ajustamento precário às condições do mundo e da vida quando alguém está dominado por medos, insegurança e isolamento. As condições anômalas da mente da mente, então, não deixam que se usem os recursos normais de adaptação à vida social; cordialidade, solidariedade, cooperação, produtividade etc.
Além disso, vários desses impulsos são antagônicos, arrastando o infeliz em direções opostas com igual intensidade e estabelecendo os conflitos mentais, característicos do estado neurótico da mente. A principal dupla de impulsos contraditórios é necessidade de afeição hostilidade; precisa-se imensamente da amizade, atenções de uma dada pessoa e, ao mesmo tempo, é se forçado a irritar-se contra ela! Outro exemplo importante consiste, de um lado, do desejo de melhorar-se, da intenção de lutar contra as imperfeições, nos momentos de entusiasmo, quando o sujeito se reanima ao ouvir ou ler palavras edificantes; e de outro lado, da inércia, da falta de iniciativa, do esquecimento das boas intenções, da negação, depressão, aflição… E o tempo vai passando sem realizações, entre “a santidade do intento e a impossibilidade da execução” (Irmão X, Estante da Vida).
Este conflito moral é de todos os espíritos em evolução na Terra; contra os pequenos esforços no auto-aperfeiçoamento opõem-se, os impulsos seculares que nos impelem para a animalidade de onde procedemos.
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5. Muitos indivíduos, que parecem grosseiros, exibem os impulsos à flor da pele. Procuram satisfação imediata, não têm controle, reagem explosivamente diante das situações indicadas. Tais podem ser designados como impulsivos ou emotivos, tendo a mente carregada da animalidade primitiva; o seu nível evolutivo é baixo e precisam de tempo. Aí temos os impulsos primários em sua forma direta. Na maioria dos homens com inúmeras modalidades de impulsos que dependem de experiências anteriores malsucedidas e que estão por isso, ligadas à lembrança de um passado desditoso, cheio de ações menos ou nada dignas. Essas lembranças estão prontas para ressurgir do inconsciente, em atividade. São esses impulsos que definem as diferenças de caráter nos seres humanos, pois as experiências, mesmo semelhantes, têm um cunho pessoal. Como é produto do processo social, a questão dos impulsos, que levam o ser humano a agir irracionalmente, está situada no centro do problema máximo da Humanidade: relacionamento interpessoal – toda vez que um age, produzindo movimento no ambiente, interfere com outros; ora, uns dependem dos outros, pelo que é bom saber o que um faz e como os demais aceitam isso. 6. Um impulso pode renascer muitas vezes, fazendo que sinta o sujeito o choque emocional sem ter conhecimento consciente da situação desagradável que está representada em sua mente inconsciente. Ocorre, portanto, uma dissociação entre a emoção sentida e as imagens correspondentes. Estas permanecem ignoradas enquanto aquela se liberta, diante do novo fato que serve de estímulo e vem afetar o consciente. Nesse caso, a pessoa, diante de outra ou de algum acontecimento, sente-se invadida por imperioso impulso de agredir, ofender, fugir, tremer, gritar, calar-se, etc. – sem compreender a razão do que está se passando com ela, razão que jaz no inconsciente sob a forma de recordação completa de um evento semelhante (ou equivalente), desta ou mais comumente de outra vida. O que sobe ao consciente, por obra do estímulo, é parte da energia ligada às lembranças, a qual vai desencadear o estado emotivo incompreendido.
ENTRE A TERRA E O CÉU
Irmã clara fala sobre a palavra e a voz, quando é perguntada sobre a cólera e a indignação;
– Nossa vida pode ser comparada a grande curso educativo, em cujas classes inumeráveis damos e recebemos, ajudamos e somos ajudados. A serenidade, em todas as circunstâncias, será sempre a nossa melhor conselheira, mas, em alguns aspectos de nossa luta, a indignação é necessária para marcar a nossa repulsa contra os atos deliberados de rebelião ante as Leis do Senhor. Essa elevada tensão de espírito, porém, nunca deve arrojar-se à violência e jamais deve perder a dignidade de que fomos investidos, recebendo da Divina Confiança a graça do conhecimento superior. Basta, dentro dela, a nossa abstenção dos atos que intimamente reprovamos, porque a nossa atitude é uma corrente de indução magnética. Em torno de nós, quem simpatiza conosco geralmente faz aquilo que nos vê fazer. Nosso exemplo, em razão disso, é um fulcro de atração. Precisamos, assim, de muita cautela com a palavra, nos momentos de tensão alta do nosso mundo emotivo, a fim de que a nossa voz não se desmande em gritos selvagens ou em considerações cruéis que não passam de choques mortíferos que infligimos aos outros, semeando espinheiros de antipatia e revolta que nos prejudicarão a própria tarefa.
OBREIROS DA VIDA ETERNA
Gotuzo, meu filho, serei breve. Antes de adverti-lo, já roguei ao Senhor o
abençoe e inspire sempre. Ouça, desapaixonadamente, a palavra de sua mãe
e velha amiga. Desprenda-se das ideias antigas para compreender melhor. As concepções inferiores de nosso ““ também se cristalizam, impedindo a penetração da luz em nosso campo interno. Escute, filho meu! como pode menosprezar a santa oportunidade de elevação? como pode permanecer em repouso, perante as necessidades primordiais do espírito? O Mestre aproveita as qualidades utilizáveis do discípulo, em determinado setor do aprendizado, adiando, por misericórdia, a melhoria e o aprimoramento de certas zonas obscuras da personalidade. Por vezes, o aprendiz retarda-se meses, anos, séculos… Jesus não é senhor da violência e nunca impõe drásticos à obra evolutiva. É cultivador do trabalho, da esperança. Aguardará sempre, compassivo e bondoso, nossas decisões de colaborar no apostolado redentor, suportará nossas faltas muitas vezes; entretanto, em nosso próprio interesse, deveremos atentar, vigilantes, para os seus ensinamentos, com a sincera disposição de aplicá-los. Sem dúvida, não nos fulminará com raios destruidores pela nossa demora em desculpar alguém; no entanto, recomendou perdoemos setenta vezes sete vezes; naturalmente, não nos perseguirá pela nossa dificuldade em simpatizar com irmãos atualmente menos felizes que nós. Esforçou-se, contudo, para que nos amemos uns aos outros. Não virá em pessoa obrigar-nos a assumir determinada atitude evangélica, mas traçou todas as disposições necessárias ao estabelecimento de roteiros para a prática do bem. Seu esforço médico, nesta casa, é, de fato, apreciável. Companheiros dignos seguem-no com amizade e admiração. Multiplicam-se os valores que o cercam; amontoa você preciosidades e bênçãos, na parte das aquisições afetivas, porém… e o seu próprio destino? Seus amigos, não obstante a luz que lhes brilha no caráter santificado, não podem substitui-lo nas realizações que o esperam. Suas manifestações de natureza exterior instruem e confortam. Seus pensamentos mais íntimos, entretanto, dilaceram-nos o coração. Como conduzirá doentes à cura, se prossegue magoado com aqueles que o feriram aparentemente? como dará lições de bom ânimo aos tristes, se se demora tanto tempo na ilusão do desalento? O’ filho amado, ninguém serve à obra do Pai com a mente toldada pelo vinho amargoso das paixões! Abra o entendimento à passagem das bênçãos divinas! não guarde vermes destruidores no jardim da esperança… Estragariam as mais belas flores, aniquilando a promessa dos frutos…
QUAL O OBJETIVO DO USO DA VIOLÊNCIA? PARA QUE ELA NOS SERVE?
Em um primeiro momento podemos pensar na violência como uma resposta instintiva de defesa, conforme já mencionamos a respeito da Lei de Amor.
Mas ela também tem, em parte, seu aspecto “positivo”. Como tudo que Deus faz, mesmo em nossas imperfeições algo pode ser proveitoso. Mas não podemos pensar que por ser proveitoso está essencialmente bom e correto. Podemos pensar em alguns exemplos onde a violência tem um lado bom quando pensamos nas conquistas de territórios, nos resultados das guerras, na defesa em certas situações. Ela não é um bem em si, mas dela pode advir algum bem. Assim como as doenças, que nos são necessárias. Vejamos alguns exemplos:
A CAMINHO DA LUZ
No Livro A Caminho da Luz há um trecho que deixa claro a diferença entre espartanos e ateniense. Os espartanos ficaram reconhecidos como os guerreiros, belicosos, com conquistas materiais. Já os atenienses, ficaram com os estudos, o conhecimento e as artes.
“Esparta passou à história como um simples povo de soldados espalhando a destruição e os flagelos da guerra, sem nenhuma significação construtiva para a Humanidade. Atenas, ao contrário, é o berço da verdadeira democracia. Povo que amou profundamente a liberdade, sua dedicação à cultura e às artes iniciou as outras nações no culto da vida, da criação e da beleza.
BRASIL CORAÇÃO DO MUNDO PÁTRIA DO EVANGELHO
O Divino Mestre, porém, cingindo o ao seu coração augusto e magnânimo,
explicou brandamente:
— Ismael, asserena teu mundo íntimo no cumprimento dos sagrados deveres que te foram confiados. Bem sabes que os homens têm a sua responsabilidade pessoal nos feitos que realizam em suas existências isoladas e coletivas. Mas, se não podemos tolher-lhes aí a liberdade, também não podemos esquecer que existe o instituto imortal da justiça divina, onde cada qual receberá de conformidade com os seus atos. Havia eu determinado que a Terra do Cruzeiro se povoasse de raças humildes do planeta, buscando-se a colaboração dos povos sofredores das regiões africanas; todavia, para que essa cooperação fosse efetivada sem o atrito das armas, aproximei Portugal daquelas raças sofredoras, sem violências de qualquer natureza. A colaboração africana deveria, pois, verificar-se sem abalos perniciosos, no capítulo das minhas amorosas determinações. O homem branco da Europa, entretanto, está prejudicado por uma educação espiritual condenável e deficiente. Desejando entregar-se ao prazer fictício dos sentidos, procura eximir-se aos trabalhos pesados da agricultura, alegando o pretexto dos climas considerados impiedosos. Eles terão a liberdade de humilhar os seus irmãos, em face da grande lei do arbítrio independente, embora limitado, instituído por Deus para reger a vida de todas as criaturas, dentro dos sagrados imperativos da responsabilidade individual; mas, os que praticarem o nefando comércio sofrerão, igualmente, o mesmo martírio, nos dias do futuro, quando forem também vendidos e flagelados em identidade de circunstâncias. Na sua sede nociva de gozo, os homens brancos ainda não perceberam que a evolução se processa pela prática do bem e que todo o determinismo de Nosso Pai deve assinalar-se pelo “amai o próximo como a vós mesmos”. Ignoram voluntariamente que o mal gera outros males com um largo cortejo de sofrimentos. Contudo, através dessas linhas tortuosas, impostas pela vontade livre das criaturas humanas, operarei com a minha misericórdia. Colocarei a minha luz sobre essas sombras, amenizando tão dolorosas crueldades. Prossegue com as tuas renúncias em favor do Evangelho e confia na vitória da Providência Divina
LEGÍTIMA DEFESA
- Em caso de legítima defesa, escusa Deus o assassínio?
“Só a necessidade o pode escusar mas, desde que o agredido possa preservar sua vida, sem atentar contra a de seu agressor, deve faze-lo.”
- Pode-se considerar o duelo como um caso de legítima defesa?
“Não; e um assassínio e um costume absurdo, digno dos bárbaros. Com uma civilização mais adiantada e mais moral, o homem compreendera que o duelo e tão ridículo quanto os combates que outrora se consideravam como o juízo de Deus.”
- Que valor tem o que se chama ponto de honra, em matéria de duelo?
“Orgulho e vaidade: dupla chaga da Humanidade.”
- a) Mas não há casos em que a honra se acha verdadeiramente empenhada
e em que uma recusa fora covardia?
“Isso depende dos usos e costumes. Cada pais e cada século tem a esse respeito um modo de ver diferente. Quando os homens forem melhores e estiverem mais adiantados em moral, compreenderão que o verdadeiro ponto de honra esta acima das paixões terrenas e que não e matando, nem se deixando matar, que repararão agravos.” Há mais grandeza e verdadeira honra em confessar-se culpado o homem, se cometeu alguma falta, ou em perdoar, se de seu lado esteja a razão, e, qualquer que seja o caso, em desprezar os insultos, que o não podem atingir.
A história da cobra mostrar os dentes (Os mensageiros?)
OBREIROS DA VIDA ETERNA
Aproximando-nos, porém, do instituto, após atravessar a zona perigosa, a
Irmã Zenóbia tomou a palavra, agradecendo-nos em tom comovedor. Depois de carinhosas expressões de reconhecimento, acentuou, jubilosa:
— Felizmente, nosso trabalho foi abençoado e profícuo. Os cooperadores
novos estranharão, talvez, a minha afirmativa, lembrando, sem dúvida, que as faixas de salvamento voltaram vazias. No entanto, algo ocorreu de mais importante que a eventualidade de trazermos compulsoriamente conosco alguns irmãos infelizes. Refiro-me à semeadura das verdades eternas nos corações ignorantes, à ministração da esperança aos desalentados e tristes. Não somos apologistas da violência, mas semeadores do bem, e a base
natural da colheita segura é a sementeira cuidadosa. Os ensinos edificantes lançados ao solo do entendimento abrem horizontes novos e claros à investigação mental dos necessitados e sofredores. Muitos deles, ainda esta noite, cultivarão os princípios renovadores recebidos, em processo intensivo no campo interno, e amanhã, provavelmente, estarão em condições vibratórias adequadas à internação em nosso asilo. Mais desejável para nós é que todos caminhem, utilizando os próprios pés, para que, de futuro, em meio dos serviços naturais da regeneração, não se declarem vitimados por ações de arrastamento. Em todos os lugares encontraremos a compaixão e a justiça de Deus. Sorriu, benevolente.
O CONSOLADOR — Legítima Defesa
344 –O “amar ao próximo” deve ser levado até mesmo à sujeição, às ousadias e brutalidades das criaturas menos educadas na lição evangélica, sendo que o ofendido deve tolera-lo humildemente, sem o direito de esclarece-las, relativamente aos seus erros?
-O amor ao próximo inclui o esclarecimento fraterno, a todo tempo em que se faça útil e necessário. A sujeição passiva ao atrevimento ou à grosseria pode dilatar os processos da força e da agressividade; mas, ao receber as suas manifestações, saiba o crente pulveriza-las com o máximo de serenidade e bom senso, a fim de que sejam exterminada em sua fonte de origem, sem possibilidades de renovação. Esclarecer é também amar. Toda a questão reside em bem sabermos explicar, sem expressões de personalismo prejudicial, ainda que com a maior contribuição de energia, para que o erro ou o desvio do bem não prevaleça.
Quanto aos processos de esclarecimentos, devem eles dispensar, em qualquer tempo e situação, o concurso da força física, sendo justo que demonstrem as nuanças de energia, requeridas pelas circunstâncias, variando, desse modo, de conformidade com os acontecimentos e com fundamento invariável no bem geral.
345 –O preceito evangélico – “se alguém te bater numa face, apresenta-lhe a outra” –
deve ser observado pelo cristão, mesmo quando seja vítima de agressão corporal não
provocada?
-O homem terrestre, com as suas taras seculares, tem inventado numerosos
recursos humanos para justificar a chamada “legítima defesa”, mas a realidade é que toda a defesa da criatura está em Deus. Somos de parecer que, agindo o homem com a chave da fraternidade cristã, pode-se extinguir o fermento da agressão, com a luz do bem e da serenidade moral. Acreditando, contudo, no fracasso de todas as tentativas pacificas, o cristão
sincero, na sua feição individual, nunca deverá cair ao nível do agressor, sabendo estabelecer, em todas as circunstâncias, a diferença entre os seus valores morais e os instintos animalizados da violência física.
346 –Nas lutas da vida, como levar a fraternidade evangélica àqueles que mais
estimamos, se, por vezes, nosso esforço pode ser mal interpretado, conduzindo-nos a situações mais penosas?
-De conformidade com os desígnios evangélicos, compete-nos esclarecer os nossos semelhantes com amor fraternais, em todas as circunstâncias desagradáveis da existência, como desejaríamos ser assistidos, irmãmente, em situação idêntica dos que se encontram sem tranquilidade; mas, se o atrito dos instintos animalizados prevalece naqueles a quem mais desejamos serenidade e paz, convém deixar-lhes as energias, depois de nossos esforços supremos em trabalho de purificação, na violência que escolheram, até que possam experimentar a serenidade mental imprescindível para se beneficiarem com as manifestações afetuosas do amor e da verdade.
SOBRE A VIOLÊNCIA NOS ESPORTES
127 –O preceito do “corpo são, mentalidade sadia”, poderá ser observado tão somente pelo hábito dos esportes e labores atléticos?
-No que se refere ao; “corpo são”, o atletismo tem papel importante e seria de ação das mais edificantes nos problemas da saúde física, se o homem na sua vaidade e egoísmo não houvesse viciado, também, a fonte da ginástica e do esporte, transformando-a em tablado de entronização da violência, do abastardamento moral da mocidade, iludida com a força bruta e enganada pelos imperativos da chamada eugenia ou pelas competições estranhas dos grupos sectários, desviando de suas nobres finalidades um dos grandes movimentos coletivos em favor da confraternização e da saúde.
Bastará essa observação para compreendermos que a “mentalidade sadia” somente constituirá uma realidade quando houver um perfeito equilíbrio entre os movimentos do mundo e as conquistas interiores da alma.
Uma pergunta importante: se somos responsáveis por todo mal que fizemos e por todo bem que deixamos de fazer, somos responsáveis também por não impedirmos uma violência?
SOBRE PROVAS, EXPIAÇÕES E SEU FIM
Dever-se-á pôr termo às provas do próximo?
- Deve alguém pôr termo às provas do seu próximo quando o possa, ou deve, para respeitar os desígnios de Deus, deixar que sigam seu curso?
Já vos temos dito e repetido muitíssimas vezes que estais nessa Terra de expiação para concluírdes as vossas provas e que tudo que vos sucede é consequência das vossas existências anteriores, são os juros da dívida que tendes de pagar. Esse pensamento, porém, provoca em certas pessoas reflexões que devem ser combatidas, devido aos funestos efeitos que poderiam determinar. Pensam alguns que, estando-se na Terra para expiar, cumpre que as provas sigam seu curso. Outros há, mesmo, que vão até o ponto de julgar que, não só nada devem fazer para as atenuar, mas que, ao contrário, devem contribuir para que elas sejam mais proveitosas, tornando-as mais vivas. Grande erro. É certo que as vossas provas têm de seguir o curso que lhes traçou Deus; dar-se-á, porém, conheçais esse curso? Sabeis até onde têm elas de ir e se o vosso Pai misericordioso não terá dito ao sofrimento de tal ou tal dos vossos irmãos: “Não irás mais longe?” Sabeis se a Providência não vos escolheu, não como instrumento de suplício para agravar os sofrimentos do culpado, mas como o bálsamo da consolação para fazer cicatrizar as chagas que a sua justiça abrira? Não digais, pois, quando virdes atingido um dos vossos irmãos: “É a Justiça de Deus, importa que siga o seu curso.” Dizei antes: “Vejamos que meios o Pai misericordioso me pôs ao alcance para suavizar o sofrimento do meu irmão. Vejamos se as minhas consolações morais, o meu amparo material ou meus conselhos poderão ajudá-lo a vencer essa prova com mais energia, paciência e resignação. Vejamos mesmo se Deus não me pôs nas mãos os meios de fazer que cesse esse sofrimento; se não deu a mim, também como prova, como expiação talvez, deter o mal e substituí-lo pela paz.”
Ajudai-vos, pois, sempre, mutuamente, nas vossas respectivas provações e nunca vos considereis instrumentos de tortura. Contra essa ideia deve revoltar-se todo homem de coração, principalmente todo espírita, porquanto este, melhor do que qualquer outro, deve compreender a extensão infinita da bondade de Deus. Deve o espírita estar compenetrado de que a sua vida toda tem de ser um ato de amor e de devotamento; que, faça ele o que fizer para se opor às decisões do Senhor, estas se cumprirão. Pode, portanto, sem receio, empregar todos os esforços por atenuar o amargor da expiação, certo, porém, de que só a Deus cabe detê-la ou prolongá-la, conforme julgar conveniente. Não haveria imenso orgulho, da parte do homem, em se considerar no direito de, por assim dizer, revirar a arma dentro da ferida? De aumentar a dose do veneno nas vísceras daquele que está sofrendo, sob o pretexto de que tal é a sua expiação? Oh! considerai-vos sempre como instrumento para fazê-la cessar. Resumindo: todos estais na Terra para expiar; mas todos, sem exceção, deveis esforçar-vos por abrandar a expiação dos vossos semelhantes, de acordo com a lei de amor e caridade. – Bernardino, Espíritoprotetor. (Bordeaux, 1863.)
O egoísmo e o orgulho
Suas causas, seus efeitos e os meios de destruí-los
É bem sabido que a maior parte das misérias da vida tem sua origem no egoísmo dos homens. Desde que cada um pensa em si antes de pensar nos outros, e quer sua própria satisfação antes de tudo, cada um procura naturalmente proporcionar-se esta satisfação a qualquer preço, e sacrifica, sem escrúpulo, os interesses de outrem, desde as menores coisas até as maiores, na ordem moral como na ordem material; daí todos os antagonismos sociais, todas as lutas, todos os conflitos e todas as misérias, porque cada um quer afastar com intrigas seu vizinho. O egoísmo tem sua origem no orgulho. A exaltação da personalidade leva o homem a se considerar acima dos outros; julgando- se com direitos superiores, melindra-se com tudo o que, segundo ele, é um golpe contra os seus direitos. A importância que, por orgulho, dá à sua pessoa, torna-o naturalmente egoísta. O egoísmo e o orgulho têm sua origem num sentimento natural: o instinto de conservação. Todos os instintos têm sua razão de ser e sua utilidade, porque Deus nada pode ter feito de inútil. Deus não criou absolutamente o mal; é o homem que o produz pelo abuso que fez dos dons de Deus, em virtude de seu livre-arbítrio. Este sentimento, encerrado nos justos limites, é bom, portanto, em si mesmo; é o exagero que o torna mau e pernicioso; assim também se dá com todas as paixões que o homem desvia frequentemente do seu objetivo providencial. Deus não criou o homem egoísta e orgulhoso: criou-o simples e ignorante; é o homem que se faz egoísta e orgulhoso, exagerando o instinto que Deus lhe deu para sua conservação. Os homens não podem ser felizes se não viverem em paz, quer dizer, se não estiverem animados por um sentimento de benevolência, de indulgência e de condescendência recíprocas, numa palavra, enquanto procurarem se esmagar uns aos outros. A caridade e a fraternidade resumem todas as condições e todos os deveres
sociais; elas porém, supõem a abnegação; ora, a abnegação é incompatível com o egoísmo e o orgulho; portanto, com estes vícios, não há verdadeira fraternidade, logo, não há igualdade nem liberdade, porque o egoísta e o orgulhoso querem tudo para si. Aí estarão sempre os vermes roedores de todas as instituições progressistas; enquanto reinarem, os sistemas sociais mais generosos, os mais sabiamente combinados desabarão sob seus golpes.
É belo, sem dúvida, proclamar o reino da fraternidade, mas de que adianta, se existe uma causa destrutiva? É construir sobre um terreno movediço; tanto quanto decretar a saúde numa região malsã. Numa tal região, se quisermos que os homens estejam bem, não basta enviar médicos, pois eles morrerão como os outros: é preciso destruir as causas da insalubridade. Se desejam
que eles vivam como irmãos na Terra, não basta dar-lhes lições de moral, é preciso destruir as causas do antagonismo; é preciso atacar o princípio do mal: o orgulho e o egoísmo. Aí está a chaga; aí deve-se concentrar toda a atenção daqueles que querem seriamente o bem da humanidade. Enquanto subsistir este obstáculo, eles verão seus esforços paralisados, não somente por uma resistência da inércia, mas por uma força ativa que trabalhará incessantemente para destruir sua obra, porque toda ideia grande, generosa e emancipadora arruína as pretensões pessoais.
Destruir o egoísmo e o orgulho é coisa impossível, dir-se-á, porque estes vícios são inerentes à espécie humana. Se assim fosse, seria preciso desesperar-se com todo progresso moral; todavia, quando se considera o homem nas diferentes épocas, não se pode menosprezar um progresso evidente; logo, se ele progrediu, ainda pode progredir. Por outro lado, não se encontrará nenhum homem desprovido de orgulho e de egoísmo? Não se veem, ao contrário, dessas naturezas generosas, em quem o sentimento de amor ao próximo, de humildade, de devotamento e de abnegação parece inato? O número é menor do que o dos egoístas, isto é certo, de outra forma não fariam estes últimos a lei; mas há mais dessas criaturas do que se imagina, e se parecem tão pouco numerosos, é que o orgulho coloca-se em evidência, enquanto que a virtude modesta permanece na sombra. Se, portanto, o egoísmo e o orgulho fossem as condições necessárias da humanidade, como as de se alimentar para viver, não haveria aí exceções; o ponto essencial é, pois, de conseguir fazer com que a exceção passe a constituir a regra; para isso, trata-se, antes de tudo, de destruir as causas que produzem e entretêm o mal. A principal dessas causas se deve, evidentemente, à falsa ideia que o homem faz da sua natureza, de seu passado e de seu futuro. Não sabendo de onde vem, acredita-se mais do que é; não sabendo para onde vai, concentra todo seu pensamento na vida terrestre; deseja-a tão agradável quanto possível; deseja todas as satisfações, todos os gozos; é por isso que pisa no seu vizinho, se este lhe opõe algum obstáculo; mas para isso, é preciso que ele domine: a igualdade daria, aos outros, direitos que ele quer só para si; a fraternidade lhe imporia sacrifícios, em detrimento do seu bem-estar; a liberdade, ele a quer para si, e não a concede aos outros, senão quando ela não traz nenhum prejuízo às suas prerrogativas. Tendo cada um as mesmas pretensões, daí resultam conflitos perpétuos que fazem pagar bem caro os poucos gozos que chegam a obter. Que se identifique o homem com a vida futura, e sua maneira de ver mudará completamente, como a do indivíduo, que deve permanecer por apenas poucas horas numa habitação ruim, e que sabe que à sua saída, terá uma magnífica, para o resto dos A importância da vida presente, tão triste, tão curta, tão efêmera, apaga-se diante do esplendor do futuro infinito que diante dele se abre. A consequência natural, lógica desta certeza, é de sacrificar um presente fugidio a um futuro durável, enquanto que, antes, sacrificava tudo ao presente. A vida futura tornando-se seu objetivo, pouco lhe importa ter um pouco mais ou um pouco menos nesta outra; os interesses mundanos são o acessório, ao invés de ser o principal; ele trabalha no presente visando a assegurar sua posição no futuro, e além disso, sabe em que condições pode ser feliz.
Os homens podem opor obstáculos aos interesses mundanos:
é preciso que ele os afaste, e se torna egoísta pela força das coisas; se ele lançar seu olhar para mais alto, para uma felicidade que nenhum homem pode entravar, não tem interesse em esmagar ninguém, e o egoísmo não tem mais objetivo; todavia, resta-lhe sempre o estimulante do orgulho.
A causa do orgulho está na crença que o homem tem da sua superioridade individual; e é ainda aqui que se faz sentir a influência da concentração do pensamento na vida terrestre. No homem que nada vê atrás de si, nada adiante de si, nada acima de si, o sentimento da personalidade leva a melhor, e o orgulho não tem contrapeso.
A incredulidade não somente não possui nenhum meio de combater o orgulho, ela porém, o estimula e lhe dá razão, negando a existência de uma potência superior à humanidade. O incrédulo só crê em si mesmo; é, pois, natural que tenha orgulho; enquanto que, nos golpes que o atingem, não vê senão o acaso e se endireita; aquele que tem a fé vê a mão de Deus e se submete.
Crer em Deus e na vida futura é, portanto, a primeira condição para temperar o orgulho, mas isto não basta; ao lado do futuro, é preciso ver o passado, para se ter uma ideia justa do presente.
Para que o orgulhoso deixe de crer na sua superioridade, é preciso provar-lhe que ele não é mais que os outros, e que os outros são tanto quanto ele; que a igualdade é um fato e não simplesmente uma bela teoria filosófica; verdades que ressaltam da
preexistência da alma e da reencarnação. Sem a preexistência da alma, o homem é levado a crer que Deus concedeu-lhe vantagens excepcionais, quando ele crê em Deus; quando não crê, dá graças ao acaso e ao seu próprio mérito.
A preexistência, iniciando-o na vida anterior da alma, ensina-lhe a distinguir a vida espiritual infinita da vida corporal temporária; daí fica sabendo que as almas partem iguais das mãos do Criador; que têm um mesmo ponto de partida e um mesmo objetivo, que todas devem chegar, em mais ou menos tempo, conforme seus esforços; que ele próprio não chegou a ser o que é, senão depois de ter por longo tempo e penosamente vegetado, como os outros, nos degraus inferiores; entre os mais atrasados e os mais adiantados há apenas uma questão de tempo, que as vantagens do nascimento são puramente corporais e independentes do espírito; que o simples proletário pode, numa outra existência, nascer num trono, e o mais poderoso renascer proletário. Se apenas considera a vida corporal, vê as desigualdades sociais do momento; elas o chocam;
porém, se coloca seu olhar sobre o conjunto da vida do espírito, sobre o passado e sobre o futuro, desde o ponto de partida até o da chegada, estas desigualdades se apagam, e ele reconhece que Deus nenhuma vantagem concedeu a qualquer de seus filhos em prejuízo dos outros; que deu parte igual a cada um e não aplainou a estrada para uns, mais do que para outros; que aquele que é menos adiantado que ele na Terra, pode chegar antes dele, se trabalhar mais que ele no seu aperfeiçoamento; reconhecerá, finalmente, que, nenhum chegando senão através de seus esforços pessoais, o princípio de igualdade é, assim, um princípio de justiça e uma lei da Natureza, perante os quais, cai o orgulho do privilégio.
A reencarnação, provando que os espíritos podem renascer em diferentes condições sociais, seja como expiação, seja como prova, ensina que naquele que se trata com desdém pode se
encontrar um homem que foi nosso superior ou nosso igual numa outra existência, um amigo ou um parente. Se o homem soubesse disso, ele o trataria com consideração, mas, então, nenhum mérito teria; por outro lado, se soubesse que seu amigo atual foi seu inimigo, seu servo ou seu escravo, ele o rejeitaria; ora, Deus não quis que fosse assim, é por isso que lançou um véu sobre o passado; desta maneira, o homem é levado a ver, em todos, irmãos seus e seus iguais; daí uma base natural para a fraternidade; sabendo que ele próprio pode ser tratado como haja tratado os outros, a caridade se torna um dever e uma necessidade fundados na própria Natureza.
Jesus assentou o princípio da caridade, da igualdade e da fraternidade; fazendo dele uma condição expressa para a salvação; mas, estava reservado à terceira manifestação da vontade de Deus, ao Espiritismo, pelo conhecimento que faculta da vida espiritual, pelos horizontes novos que ele descortina, e as leis que revela, de sancionar este princípio, provando que não é somente
uma doutrina moral, mas uma lei da Natureza, e que é do interesse do homem praticá-lo. Ora, ele o praticará quando, deixando de encarar o presente como o princípio e o fim, ele compreenderá a solidariedade que existe entre o presente, o passado e o futuro.
No campo imenso do infinito que o Espiritismo lhe faz entrever, sua importância pessoal anula-se; ele compreende que só, ele não é nada, ele não pode nada; que todos têm necessidade uns dos outros e que uns não são mais do que os outros: duplo golpe para seu orgulho e seu egoísmo.
Mas, para isso, é-lhe necessária a fé, sem a qual ele permanecerá forçosamente na rotina do presente; não a fé cega que foge da luz, restringe as ideias, e por isso mesmo entretém o egoísmo, mas a fé inteligente, raciocinada, que quer a claridade e não as trevas, que rasga corajosamente o véu dos mistérios e alarga o horizonte; é esta fé, primeiro elemento de todo progresso, que o Espiritismo lhe traz, fé robusta porque está fundamentada na experiência e nos fatos, porque lhe dá provas palpáveis da imortalidade de sua alma, ensina-lhe de onde vem, para onde vai, obras póstumas
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O egoísmo e o orgulho e por que está na Terra; finalmente porque ela fixa suas ideias
incertas sobre seu passado e sobre seu futuro.
Uma vez que tenha entrado decisivamente neste caminho, o egoísmo e o orgulho não tendo mais as mesmas causas de superexcitarão, se extinguirão pouco a pouco por falta de objetivo
e de alimento, e todas as relações sociais se modificarão sob o império da caridade e da fraternidade bem compreendidas.
Isto poderá acontecer por uma brusca modificação? Não, isto é impossível: nada se opera bruscamente na Natureza; jamais a saúde volta subitamente a um enfermo; entre a doença e a saúde, há sempre a convalescência. O homem não pode, pois, instantaneamente, mudar seu ponto de vista, e desviar seu olhar da Terra para o céu; o infinito o confunde e o deslumbra; ele precisa de tempo para assimilar as ideias novas. O Espiritismo é, sem contradita, o mais poderoso elemento moralizador, porque ele solapa o egoísmo e o orgulho pela base, dando um ponto de apoio à moral: ele fez milagres de conversão; é verdade que são ainda apenas curas individuais, e, com frequência, parciais; porém, o que ele produziu sobre os indivíduos, é a garantia do que produzirá, um dia, sobre as massas. Ele não pode arrancar de uma só vez todas as ervas daninhas; ele dá a fé; a fé é a boa semente, mas é preciso dar a essa semente o tempo de germinar e de dar frutos; eis porque todos os espíritas não são ainda perfeitos. Ele tomou o homem no meio da vida, no fogo das paixões, na força dos preconceitos, e se, em tais circunstâncias, ele operou prodígios, o que será quando o tomar desde o nascimento, ainda virgem de todas as impressões malsãs; quando este sugar a caridade com o leite, e for embalado pela fraternidade; quando, finalmente, toda uma geração for educada e alimentada com ideias que a razão, desenvolvendo-se, fortificará ao invés de desunir? Sob o império dessas ideias transformadas na fé de todos, o progresso, não encontrando mais obstáculo no egoísmo e no orgulho, as instituições se reformarão por si mesmas e a humanidade avançará rapidamente para os destinos que lhe foram prometidos na Terra, esperando os do céu.
PARA ENCERRAR
E O QUE FAZER COM A VIOLÊNCIA QUE VIVE EM MIM?
Em primeiro lugar, reconhecer que a violência vive em nós ainda.
Também é importante lembrar que temos a violência em nós mesmos, em nossas memórias. Ou as violências que já perpetramos ou as que sofremos.
Então, podemos observar os resquícios da violência que já praticamos nas tendências que temos em nossas ações. Da mesma maneira podemos observar nossos medos, nossas angústias, segundo as violências que vivenciamos. Em ambos os casos, revivem em nós para que as modifiquemos.
Após essa reflexão, importa reforçarmos nossas crenças no BEM e no AMOR, COMO FORÇAS e não como fraqueza.
E importa deixarmos nossos pensamentos bem esclarecidos de que aquilo que aqui na Terra é força, para a espiritualidade é erro. No máximo, um erro que contém uma contribuição para a marcha das coisas, mas ainda assim, um erro.
18 – ANTE A FORÇA DO BEM
… Deus é caridade; e quem está em caridade está em Deus e Deus nele – João I, 4:16.
Muitos acreditam simplesmente na força e agem sob o domínio da imposição.
A força, no entanto, comanda apenas coisas e corpos, e tudo o que ela faça, em matéria de condução ou vivência, depende de mais força para continuar.
No reino da alma somente o amor, fonte da vida, consegue estabelecer verdadeiro apoio ao equilíbrio e à governança.
A força não resolve um cálculo aritmético nem compõe leve trecho de melodia; entretanto, pelo amor ao estudo o homem prevê a movimentação das estrelas e pelo amor à arte produz a sinfonia que tange os sentimentos da multidão.
* * *
Em qualquer departamento da vida é necessário amar para entender e construir.
Se forçamos a posse disto ou daquilo, tão somente reteremos a sombra ou a casca daquilo ou disto, porquanto, escoada a energia que mantém o processo de violência, perdemos de imediato o domínio da posição que intentamos assegurar.
A força tiraniza.
O amor reina.
* * *
“Deus é caridade”, afirma o Evangelho. Consequentemente, Deus está no bem verdadeiro que é, mais propriamente, o bem de todos.
Auxiliando, compreendemos.
Dando, possuímos.
Quanto mais baixo nas esferas da Natureza, mais intensamente se mostra o bem da força, e quanto mais alto, nos planos do espírito, mais pura se revela a força do bem.
19 – ANTE O PODER DO AMOR
Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna – João, 3:16
Ninguém conseguiria manter a ordem sem a justiça, mas ninguém constrói a paz sem amor.
* * *
Não se negará merecimento à colônia penal que reúne os doentes de espírito, como não se recusa apreço ao hospital que congrega os doentes do corpo; mas assim como na instituição de saúde somente o desvelo do amor é capaz de assegurar o preciso êxito às instruções da medicina, nos estabelecimentos de regeneração apenas o trabalho do amor garante a recuperação da lei que traça disposições para o equilíbrio social.
* * *
Muitos falarão de esforço corretivo perante os erros do mundo: não lhes desconsiderarás as razões, quando justas, todavia, precedendo quaisquer medidas de coerção referir-te-ás
ao amor que restaura.
Muitos apontarão os perigos resultantes das deficiências do próximo; não lhes desrespeitarás a argumentação, quando sincera, mas antes de tudo providenciarás a obtenção de remédio que as reduza.
Assim, deve ser, de vez que por enquanto, na Terra, para legiões de acusadores, diante das vítimas do mal, existem raros advogados para o socorro do bem.
* * *
Ama sempre. E quando estiveres a ponto de descrer do poder do amor, lembra-te do Cristo; o Senhor sabia que o mundo de seu tempo estava repleto de espíritos endividados perante a Lei, que Ele não poderia invalidar os arrestos da justiça para o reajustamento dos culpados, compreendia que as criaturas hipnotizadas pelo vício não lhe dariam atenção, que deveria contar com a hostilidade daqueles mesmos a quem se propunha beneficiar, permanecia convicto de que o extremo sacrifício lhe seria o coroamento da obra; entretanto, consubstanciando em si mesmo o infinito amor que Deus consagra à Humanidade, veio ao mundo, mesmo assim.