Homeopatia: a arte de enriquecer as defesas
Homeopatia, a arte de enriquecer as defesas naturais do organismo.
Utilizando remédios naturais destinados a aumentar as capacidades curativas que o organismo possui, a Homeopatia trata a pessoa dentro da sua globalidade.
A doença é concebida como um desequilíbrio interno e os homeopatas se esforçam para resolver os problemas subjacentes sem atacar unicamente os sintomas.
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A Carta de Dr. S. Hahnemann
“O delicado engenho humano não foi projetado para o excesso de trabalho. Se algum ser humano assim proceder por ambição, amor ao lucro, ou por qualquer outro motivo pleno de louvor ou de censura, coloca-se em oposição à ordem da Natureza, e sujeita o seu corpo a sofrer dano ou destruição. Tanto mais
Da Homeopatia nas Doenças Morais
REVISTA ESPÍRITA -JORNAL DE ESTUDOS PSICOLÓGICOS – 10º ANO Nº. 3 – MARÇO 1867
Pode a homeopatia modificar as disposições morais? Tal é a questão que se colocam certos médicos homeopatas, e à qual eles não hesitam em responder afirmativamente, apoiando-se sobre os fatos. Tendo em vista a sua extrema gravidade, vamos examiná-la com cuidado de um ponto de vista a que nos parece ter sido negligenciado por esses senhores, todos Espiritualistas e mesmo Espíritas que são, sem dúvida, porque há bem poucos médicos homeopatas que não sejam um ou o outro. Mas, para a inteligência de nossas conclusões, algumas explicações preliminares, sobre as modificações dos órgãos cerebrais, são necessárias, sobretudo para as pessoas estranhas à fisiologia.
Um princípio que a simples razão faz admitir, que a ciência constata cada dia, é que não há nada de inútil na Natureza, que, até nos mais imperceptíveis detalhes, tudo tem um objetivo, uma razão de ser, uma destinação. Este princípio é particularmente evidente pelo que se prende ao organismo dos seres vivos.
De todos os tempos, o cérebro foi considerado como o órgão da transmissão do pensamento, e a sede das faculdades intelectuais e morais. É hoje reconhecido que certas partes do cérebro têm funções especiais, e são afetadas a uma ordem particular de pensamentos e sentimentos, ao menos no que concerne à generalidade; é assim que, instintivamente, coloca-se, na parte anterior, as faculdades que são do domínio da inteligência, e que uma fronte fortemente deprimida e estreita tem para todo o mundo um sinal de inferioridade intelectual. As faculdades afetivas, os sentimentos e as paixões, por isto mesmo, têm sua sede nas outras partes do cérebro.
Ora, considerando-se que os pensamentos e os sentimentos são excessivamente múltiplos, e falando deste princípio de que tudo tem sua destinação e sua utilidade, é permitido concluir que, não só cada feixe fibroso do cérebro corresponde a uma faculdade geral distinta, mas que cada fibra corresponde à manifestação de uma das nuanças desta faculdade, como cada corda de um instrumento corresponde a um som particular. É uma hipótese, sem dúvida, mas que tem todos os caracteres da probabilidade, e cuja negação não infirmaria as conseqüências que deduziremos do princípio geral; ela nos ajudará em nossa explicação.
O pensamento é independente do organismo? Não vamos discutir aqui esta questão, nem refutar a opinião materialista segundo a qual o pensamento é secreta do pelo cérebro, como a bile o é pelo fígado, nasce e morre com esse órgão; além de suas funestas conseqüências morais, esta doutrina tem contra si de nada explicar.
Segundo as doutrinas espiritualistas, que são as da imensa maioria dos homens, a matéria, não podendo produzir o pensamento, este é um atributo do Espírito, do ser inteligente, que, quando está unido ao corpo, se serve dos órgãos especialmente destinados à sua transmissão, como se serve dos olhos para ver, dos pés para caminhar.
O Espírito, sobrevivendo ao corpo, o pensamento também o segue.
Segundo a Doutrina Espírita, não só o Espírito sobrevive, mas preexiste ao corpo; não é um ser novo; quando nasce, traz as idéias, as qualidades e as imperfeições que possuía; assim se explicam as idéias, as aptidões e as tendências inatas. O pensamento é, pois, preexistente e sobrevivente ao organismo. Este ponto é capital, e é por falta de telo reconhecido, que tantas questões permaneceram insolúveis.
Todas as faculdades e todas as aptidões estando na natureza, o cérebro contém os órgãos, ou pelo menos o germe dos órgãos necessários à manifestação de todos os pensamentos. A atividade do pensamento do Espírito sobre um ponto determinado leva ao desenvolvimento da fibra, ou, querendo-se, do órgão correspondente; se uma faculdade não existe no Espírito, ou se, existindo, ela deve permanecer no estado latente, o órgão correspondente, estando inativo, não se desenvolve ou se atrofia. Se o órgão está atrofiado congenitamente, a faculdade não podendo se manifestar, o Espírito parece dela estar privado, se bem que a possua, em realidade, uma vez que lhe é inerente.
Enfim, se o órgão primitivamente em seu estado normal, se deteriora no curso da vida, a faculdade, de brilhante que era, se ofusca, depois se apaga, mas não se destrói; não é senão um véu que a obscurece.
Segundo os indivíduos, há faculdades, aptidões, tendências que se manifestam desde o próprio início da vida, outras se revelam em épocas mais tardias, e produzem as mudanças de caráter e de disposições que se notam em certas pessoas. Neste último caso, geralmente, não são disposições novas, mas aptidões preexistentes que dormitam até que uma circunstância venha estimular e despertar. Pode-se estar certo de que as disposições viciosas que se manifestam às vezes subitamente e tardiamente, tinham seu germe preexistente nas imperfeições do Espírito, porque este, caminhando sempre para o progresso, se for essencialmente bom, não pode se tornar mau, ao passo que, se for mau pode se tornar bom.
O desenvolvimento ou a depressão dos órgãos cerebrais segue o movimento que se opera no Espírito. Essas modificações são favorecidas em toda idade, mas sobretudo na juventude, pelo trabalho íntimo de renovação que se opera incessantemente no organismo da maneira seguinte:
Os principais elementos do organismo são, como se sabe, o oxigênio, hidrogênio, o azoto e o carbono que, pelas suas múltiplas combinações, formam o sangue, os nervos, os músculos, os humores, e as diferentes variedades de substâncias. Pela atividade das funções vitais, as moléculas orgânicas são incessantemente expulsas do corpo pela transpiração, pela exalação e todas as secreções, de sorte que se elas não forem substituídas. O corpo se enfraquece, acaba por perecer. A nutrição e a aspiração trazem, sem cessar, novas moléculas destinadas a substituir aquelas que dele se vão; de onde se segue que, num tempo dado, todas as moléculas orgânicas são inteiramente renovadas, e que numa certa idade, delas não existe mais uma única daquelas que formaram o corpo em sua origem. É o caso de uma casa da qual se arrancassem as pedras uma a uma, substituindo-as na medida por uma nova pedra da mesma forma e do mesmo tamanho, e assim por diante até a última. Ter-se-ia sempre a mesma casa, mas formada de pedras diferentes.
Assim ocorre com o corpo, cujos elementos constitutivos são, dizem os fisiologistas, totalmente renovados a cada sete anos. As diversas partes do organismo subsistem sempre, mas os materiais são mudados. Destas mudanças, gerais ou parciais, nascem as modificações que sobrevêm, com a idade, no estado sanitário de certos órgãos, as variações que sofrem os temperamentos, os gostos, os desejos que influem sobre o caráter.
As aquisições e as perdas não estão sempre em perfeito equilíbrio. Se as aquisições se sobrepõem às perdas, o corpo cresce ou engrossa; se o contrário ocorre, o corpo diminui. Assim se explicam o crescimento, a obesidade, o emagrecimento, a decrepitude.
A mesma causa produz a expansão ou aparada do desenvolvimento dos órgãos cerebrais, segundo as modificações que se operam nas preocupações habituais, das idéias e do caráter. Se as circunstâncias e as causas que agem diretamente sobre o Espírito, provocando o exercício de uma aptidão ou de uma paixão, permanecida até então no estado de inércia, a atividade que se produz no órgão correspondente, a ele faz afluir o sangue e com ele as moléculas constitutivas do órgão que cresce e toma da força em proporção dessa atividade. Pela mesma razão, a inatividade da faculdade produz o enfraquecimento do órgão; como também uma atividade muito grande e muito persistente pode conduzi-lo à desorganização ou ao enfraquecimento, por uma espécie de desgaste, assim como ocorre a uma corda muito esticada.
As aptidões do Espírito são, pois, sempre uma causa, e o estado dos órgãos um efeito. Pode ocorrer, no entanto, que o estado dos órgãos seja modificado por uma causa estranha ao Espírito, tal como doença, acidente, influência atmosférica ou climática; então são os órgãos que reagem sobre o Espírito, não em alterando suas faculdades, mas em perturbando-lhe a manifestação.
Um efeito semelhante pode resultar das substâncias ingeridas no estômago como alimentos ou medicamentos. Estas substâncias ali se decompõem, e os princípios essenciais que elas contêm, misturados ao sangue, são levados, pela corrente da circulação em todas as partes do corpo. Está reconhecido, pela experiência, que os princípios ativos de certas substâncias se dirigem mais particularmente sobre tal ou tal víscera: o coração, o fígado, os pulmões, etc., e ali produzem efeitos reparadores ou deletérios segundo sua natureza e suas propriedades especiais. Alguns, agindo desta maneira sobre o cérebro, podem exercer sobre o conjunto ou sobre partes determinadas, uma ação estimulante ou estupefaciente, segundo a dose e o temperamento, como por exemplo, as bebidas alcoólicas, o ópio e outros.
Nós nos estendemos um pouco sobre os detalhes que precedem, a fim de fazer compreender o princípio sobre o qual se apoia, com uma aparência de lógica, a teoria das modificações do estado moral por meios terapêuticos. Este princípio é o da ação direta de uma substância sobre uma parte do organismo cerebral tendo por função especial servir à manifestação de uma faculdade, de um sentimento ou de uma paixão, porque não pode vir ao pensamento de ninguém que essa substância possa agir sobre o Espírito.
Estando, pois, admitido que o princípio das faculdades está no Espírito, e não na matéria, suponhamos que se lhe reconhecesse, a uma substância, a propriedade de modificaras disposições morais, de neutralizar um mau pendor, isto não poderia ser senão pela sua ação sobre o órgão correspondente a esse pendor, a ação que teria por efeito deter o desenvolvimento desse, de atrofiá-lo ou de paralisá-lo se está desenvolvido; torna-se evidente que, neste caso, não se suprime o pendor, mas a sua manifestação, absolutamente como se se tirasse a um músico o seu instrumento.
Provavelmente, foram os efeitos dessa natureza que certos homeopatas observaram, e lhes fizeram acreditar na possibilidade de corrigir, com a ajuda de medicamentos apropriados, os vícios tais como o ciúme, o ódio, o orgulho a cólera, etc.
Uma tal doutrina, se fosse verdadeira, seria a negação de toda responsabilidade moral, a sanção do materialismo, porque então a causa de nossas imperfeições estaria só na matéria; a educação moral se reduziria a um tratamento médico; o homem mais mau poderia tornar-se bom sem grandes esforços, e a Humanidade poderia ser regenerada com a ajuda de algumas pílulas. Se, ao contrário, como isto não parece duvidoso, as imperfeições são inerentes à própria inferioridade do Espírito, não se o melhoraria mais modificando seu envoltório carnal, do que não endireitando um corcunda, dissimulando sua disformidade sob o talhe de sua roupa.
Não duvidamos, no entanto, que tais resultados tenham sido obtidos em alguns casos particulares, porque, para firmar um fato tão sério, é preciso ter observado; mas estamos convencidos de que se desprezou sobre a causa e sobre o efeito. Os medicamentos homeopáticos, por sua natureza etérea, têm uma ação de alguma sorte molecular; sem contradita, eles podem, mais do que outros, agir sobre as partes elementares e fluídicas dos órgãos, e modificar-lhes a constituição íntima. Se, pois, é racional admiti-lo, todos os sentimentos da alma têm sua fibra cerebral correspondente para a sua manifestação, um medicamento que agisse sobre esta fibra, seja para a paralisá-la, seja para exaltar-lhe a sensibilidade, paralisaria ou exaltaria por isto mesmo a expressão do sentimento, do qual seria o instrumento, mas o sentimento com isto não subsistiria menos. O indivíduo estaria na posição de um assassino ao qual se tirasse a possibilidade de cometer os crimes cortando-lhe os braços, mas que nisto não conservaria menos o desejo de matar. Seria, pois, um paliativo, mas não um remédio curativo. Não se pode agir sobre o ser espiritual senão pelos meios espirituais; a utilidade dos meios materiais, se o efeito acima fosse constatado, seria talvez de dominar mais facilmente o Espírito, de torná-lo mais flexível, mais dócil e mais acessível às influências morais; mas se embalaria de ilusões esperando-se de um medicamento qualquer um resultado definitivo e durável.
Isto seria de outro modo tratando-se de ajudar à manifestação de uma faculdade existente. Suponhamos um Espírito inteligente encarnado, não tendo ao seu serviço senão um cérebro atrofiado, e não podendo, consequentemente, manifestar as suas idéias, seria para nós um idiota. Em admitindo, o que cremos possível à homeopatia mais do que a todo outro gênero de medicação, que se possa dar mais flexibilidade e sensibilidade às fibras cerebrais, o Espírito manifestaria seu pensamento, como um mudo ao qual teria se desamarrado a l íngua. Mas se o Espírito sendo idiota por si mesmo, tivesse a seu serviço o cérebro do maior gênio, com isto não seria menos idiota. Um medicamento qualquer não podendo agir sobre o Espírito, não poderia dar-lhe o que ele não tem, nem tirar-lhe o que ele tem; mas agindo sobre o órgão de transmissão do pensamento, pode facilitar esta transmissão sem que, por isto, nada seja mudado ao estado do Espírito. O que é difícil, o mais freqüentemente mesmo impossível no idiota de nascença, porque ele tem a parada completa e quase sempre geral do desenvolvimento nos órgãos, torna-se possível quando a alteração é acidental e parcial. Neste caso, não é o Espírito que se aperfeiçoa, são seus meios de comunicação.
DA HOMEOPATIA NO TRATAMENTO DAS DOENÇAS MORAIS.
Junho 1867 (Ver o no de março de 1867, página 65.)
O artigo que publicamos no número de março sobre a ação da homeopatia nas doenças morais nos valeu, de um dos mais ardentes partidários deste sistema, e ao mesmo tempo um dos mais fervorosos adeptos do Espiritismo, o doutor Charles Grégory, a carta seguinte que nos fazemos um dever inserir, em razão da luz que a discussão pode trazer à questão.
“Caro e venerado mestre, ‘Vou tratar de vos explicar como compreendo a ação da homeopatia sobre o desenvolvimento das faculdades morais.
“Admitis, como eu, que todo homem, com saúde, possui os rudimentos de todas as faculdades e de todos os órgãos cerebrais necessários à sua manifestação. Admitis também que certas faculdades vão sempre se desenvolvendo, ao passo que outras, as que não são, sem dúvida, senão rudimentares, depois de terem apenas dado alguns clarões, parecem se extinguir inteiramente. No primeiro caso, segundo vós, os órgãos cerebrais estando de acordo com as faculdades em pleno desenvolvimento, teriam sua livre manifestação, ao passo que aqueles que são rudimentares, e que, o mais freqüentemente, estão de acordo também com aptidões rudimentares, se atrofiam completamente com o progresso da idade, por falta de atividade vital.
“Se, pois, por meio de medicamentos apropriados, eu atuo sobre os órgãos imperfeitos, se neles desenvolvo um acréscimo de atividade vital, se lhes peço uma nutrição mais poderosa, é bem claro que, aumentando o volume, permitirão à faculdade rudimentar se manifestar melhor, e que, pela transmissão das idéias e dos sentimentos que terão haurido, pelos sentidos, no mundo exterior, imprimirão à faculdade correspondente uma influência salutar e a desenvolverão, a seu turno, porque tudo se liga e se prende no homem; a alma influi sobre o físico, como o corpo influi sobre a alma.
Portanto, já, por isto mesmo, primeira influência dos medicamentos por meio do aumento dos órgãos sobre as faculdades correspondentes da alma; portanto, possibilidade de aumentar o homem por forças tiradas do mundo material, de aumentá-lo, digo eu, em virtudes e aptidões.
“Agora, não me está de todo provado que nossas pequenas doses chegadas a um estado de sublimação e de sutileza que ultrapassam todos os limites, não tenham nelas alguma coisa de espiritual, de alguma sorte, que age, a seu turno, sobre o Espírito.
Nossos medicamentos, dados no estado de divisão que a arte lhes faz sofrer, não são mais substâncias materiais, mas bem forças que devem, necessariamente, na minha opinião, ao menos, agir sobre as faculdades da alma que, elas também, são forcas.
“E depois, como creio que o Espírito do homem, antes de se encarnar na humanidade, sobe todos os graus da escala e passa pelo mineral, a planta e o animal e na maioria dos tipos de cada espécie onde preludia seu completo desenvolvimento como ser humano, quem me diz que, dando-lhe medicamente o que não é mais nem o mineral, nem a planta, nem o animal, mas o que se poderia chamar a sua essência, de alguma sorte seu espírito, não se atua sobre a alma humana composta dos mesmos elementos?
Porque, é preciso dize-lo, o espírito é bem alguma coisa, e uma vez que se desenvolveu e se desenvolve sem cessar, precisou tomar esses elementos de alguma parte.
‘Tudo o que posso dizer é que nós não agimos sobre a alma, com nossa 200ª e 600ª diluições, materialmente, mas virtualmente e, de alguma sorte, espiritualmente.
“Agora, os fatos aí estão, fatos numerosos, bem observados, e que poderão bem demonstrar que não estou completamente errado. Para citara mim mesmo, embora não goste muito das questões pessoais, direi que, experimentando em mim, há trinta anos, os remédios homeopáticos, de alguma sorte, criei em mim novas faculdades, rudimentares sem dúvida, masque, em minha mais luxuriante juventude, não tinha conhecido, quando eu ignorava a homeopatia, e que hoje, com cinqüenta e dois anos, acho bem desenvolvidas: o sentimento da cor e das formas.
“Acrescentaria ainda que, sob a influência de nossos meios, vi caracteres mudarem completamente; à leviandade sucederam a reflexão e a solidez do julgamento; à lubricidade, a continência; à maldade a benevolência; ao ódio, a bondade e o perdão das injúrias. Evidentemente, este não é o assunto de alguns dias; é preciso bem alguns anos de cuidados, mas chega-se a esses belos resultados por meios tão cômodos, que não há nenhuma dificuldade em nele decidir os clientes que vos são devotados, e um médico os tem sempre. Eu mesmo notei que os resultados obtidos por nossos meios eram adquiridos para sempre, ao passo que aqueles que nos dão a educação, os bons conselhos, as exortações seguidas, os livros de moral, não se obtêm quase diante da possibilidade de satisfazer uma paixão ardente, e as tentações relacionadas com as nossas fraquezas, antes adormecidas e entorpecidas do que curadas. Se os triunfes, neste último caso se manifestam, não é sem lutas violentas que não bastam para prolongá-los por muito tempo.
Eis, caro mestre, as observações que tinha a vos submeter sobre essa questão tão grave da influência da homeopatia sobre o moral humano.
“Para concluir: que seja pelo cérebro que o medicamento atue sobre as faculdades, ou que atue ao mesmo tempo e sobre a fibra cerebral e sobre a faculdade correspondente, não o está menos demonstrado por mim, por centenas de fatos, que a ação sutil e profunda de nossas doses sobre o moral humano é muito real. Além disso, me está demonstrado, que a homeopatia deprime certas faculdades, certos sentimentos ou certas paixões muito exaltadas, para levantar de novo outras muito abatidas, e como paralisadas, e, por isto mesmo, conduz ao equilíbrio e à harmonia, de onde: melhoria real e progresso do homem em todas as suas aptidões, e facilidade para vencer a si mesmo.
“Não creiais que esse resultado aniquile a responsabilidade humana, e que se chegue a esse progresso tão desejado sem sofrimentos e sem combates; não basta tomar um medicamento e dizer-se: “Vou triunfar de minha tendência à cólera, ao ciúme, à luxúria.”
Oh! não! O remédio apropriado, uma vez introduzido no organismo, nele leva a uma modificação profunda que ao preço de violentos sofrimentos morais e físicos, e, freqüentemente, de longa e muito longa duração. – sofrimentos que é preciso repetir várias vezes, variando os medicamentos e as doses, e isto durante meses, e algumas vezes anos, querendo-se chegar a resultados concludentes. Está aí o salário ao qual é preciso pagar a sua melhoria moral; está aí a prova e a expiação pelas quais tudo se resgata neste baixo mundo, e eu vos confesso que não é coisa fácil se corrigir, mesmo pela homeopatia. Não sei se, pelas angústias interiores que se sofre, não se paga mais caro esse progresso do que pela modificação mais lenta, é verdade, mas seguramente mais branda e mais suportável da ação puramente moral de todos os dias, pela observação de si mesmo e o desejo ardente de se vencer.
“Termino aqui; mais tarde, vos contarei numerosos fatos que poderão muito vos convencer.
“Recebei, etc.”
Esta carta não modifica em nada a opinião que emitimos sobre a ação da homeopatia no tratamento das doenças morais, e que vêm confirmar, ao contrário, os próprios argumentos do Sr. doutor Grégory. Persistimos, pois, em dizer que: se os medicamentos homeopáticos podem ter uma ação sobre o moral, é agindo sobre os órgãos das manifestações, o que pode ter a sua utilidade em certos casos, mas não sobre o Espírito; que as qualidades, boas ou más, e as aptidões são inerentes ao grau de adiantamento ou de inferioridade do Espírito, e que não é com um medicamento qualquer que se pode fazê-lo avançar mais depressa, nem lhe darás qualidades que não pode adquirir senão sucessivamente e pelo trabalho; que uma tal doutrina, fazendo as disposições morais dependerem do organismo, tira ao homem toda a responsabilidade, o que quer disso diga o Sr. Grégory, e o dispensa de todo trabalho sobre si mesmo para se melhorar, uma vez que se poderia torná-lo bom, com seu desconhecimento, administrando-lhe tal ou tal remédio; que se, com a ajuda dos meios materiais, podem-se modificar os órgãos das manifestações, o que admitimos perfeitamente, esse meio não pode mudar as tendências instintivas do Espírito, não mais do que em cortando a língua a um tagarela não lhe lhe tira o desejo de falar. Um uso do Oriente vem confirmara nossa afirmação por um fato material muito conhecido.
O estado patológico influi certamente sobre o moral em certos aspectos, mas as disposições que têm essa origem são acidentais, e não constituem o fundo do caráter do Espírito; são aquelas, sobretudo, que uma medicação apropriada pode modificar. Há pessoas que não são benevolentes senão depois de haverem jantado, e a quem não é preciso nada pedir quando estão em jejum; disto é preciso concluir que um bom jantar é um remédio contra o egoísmo? Não, porque essa benevolência, provocada pela plenitude da satisfação sensual, é um efeito do próprio egoísmo; não é senão uma benevolência aparente, um produto deste pensamento: “Agora que não tenho mais necessidade de nada, posso me ocupar um pouco com os outros.”
Em resumo, não contestamos que certos medicamentos, e a homeopatia mais do que qualquer outra, não produzem alguns dos efeitos indicados, mas não lhes contestamos mais senão os resultados permanentes, e sobretudo tão universais que alguns o pretendem. Um caso em que a homeopatia, sobretudo, pareceria particularmente aplicável com sucesso, é o da loucura patológica, porque aqui a desordem moral é a conseqüência da desordem física, e que está constatado agora, pela observação dos fenômenos espíritas, que o Espírito não é louco; não se tem o que modificá-lo, mas dar-lhe os meios de se manifestar livremente. A ação da homeopatia pode ser aqui tanto mais eficaz quanto ela atue principalmente, pela natureza espiritualizada de seus medicamentos, sobre o perispírito, que desempenha um papel preponderante nesta afecção.
Teríamos mais de uma objeção a fazer sobre algumas das proposições contidas nesta carta; mas isto nos levaria muito longe; contentamo-nos, pois, em colocar as duas opiniões em frente. Como em tudo, os fatos são mais concludentes do que as teorias, e são eles, em definitivo, que confirmam ou derrubam estas últimas, desejamos ardentemente que o Sr. o doutor Grégory publique um tratado especial prático da homeopatia aplicada ao tratamento das moléstias morais, a fim de que a experiência possa se generalizar e decidir a questão. Mais do que qualquer outro, ele nos parece capaz para fazer esse trabalho ex-professo.