Entrevista Chico Xavier – Folha Espírita 10/91
ENTREVISTA CHICO XAVIER FOLHA ESPÍRITA – 10/1991 – SOBRE CRIANÇAS PERTUBADAS, DOENÇAS EM ANIMAIS, PREJUÍZOS DO FUMO, ETC – DESPREPARO DAS CRIANÇAS PARA AS SESSÕES DE DESOBSESSÃO.
Q: Chico, temos visto muitas crianças sendo encaminhadas às reuniões de tratamento desobsessivo. Que fazer diante deste problema, cada vez mais frequente?
Chico Xavier: Os Amigos Espirituais nos tem falado amiúde acerca da questão da criança em desequilíbrio, demanda larga dose de compreensão e carinho da família a que pertença. Lembram-nos os nossos mentores que em matéria de desajustes infantis o remédio eficaz será sempre o do acendrado amor dos pais, no recesso do próprio lar. O amor em família é a construção da harmonia com vistas ao futuro promissor de cada qual. Desajustes, muitas vezes, nada mais são que o reflexo da falta de amor nos lares, gerando perturbações. Ao tratarmos questões como a desobsessão, os instrutores Espirituais nos recomendam a utilização cotidiana de bom-senso. E o bom-senso nos indica que a mente infantil não está preparada para compreender os complexos fundamentos de uma reunião de desobsessão; que provavelmente as crianças se impressionariam de maneira contraproducente se freqüentassem estes serviços espirituais.
Então, se os pais não estão com o tempo necessário de dedicação e amor para com as crianças dentro do próprio lar; se por outro lado, não convém à mente infantil em desajuste freqüentar as reuniões de desobsessão, logo, devemos suplicar à Bondade Infinita de Deus que inspire aos trabalhadores das Casas Espíritas dedicados à Evangelização Infantil que organizem em seus quadros de serviços reuniões apropriadas ao amparo e ao acolhimento de crianças desajustadas. Reuniões específicas para a mente infantil, que funcionariam vinculadas aos núcleos ativos de desobsessão do Centro. Reuniões intermediárias de socorro e esclarecimento evangélico. Esta colaboração poderia trazer muitos benefícios em favor da tranquilidade familiar.
OS MÉDIUNS DEVEM EVITAR O FUMO
Q: Chico, muitos candidatos à mediunidade nos aparecem, confessando, no entanto, sua predileção pelo vício de fumar. Que fazer nesses casos?
Chico Xavier: Ponderam os Mentores da Vida Maior que o vício da utilização do fumo cotidianamente é considerado dos menores vícios da personalidade humana. Não obstante, qualquer candidato à mediunidade cristã deverá esforçar-se diariamente por superar suas próprias inibições, consciente de que o quadro de serviços redentores a que se candidata exigir-lhe-á renúncias e abnegações incessantes em favor do próximo. Dentro deste particular é que os Amigos Espirituais nos dizem que, principalmente nas tarefas de auxílio desobsessivo e nas tarefas de alívio aos doentes, é totalmente desaconselhável o hábito de fumar. Assim sendo, os médiuns psicofônicos, os passistas e os de efeitos físicos fazem muito bem quando abandonam o cigarro.
ABANDONO DAS OBRIGAÇÕES MEDIÚNICAS POR MELINDRE
Q: Chico, em algumas reuniões identificamos discussões estéreis em torno de opiniões particulares e pontos de vista exclusivista de determinados médiuns, que os conduzem, muitas vezes, ao afastamento do serviço, carregando no coração mágoas e desapontamento com a direção das reuniões e dos Centros Espíritas. Como devemos agir diante dos que se afastam das tarefas?
Chico Xavier: O quadro de nossas responsabilidades diante da Mensagem Cristã do “Amai-vos uns aos outro” é tão vasto; os serviços ainda incompletos e as tarefas por realizar em nome do amor ao próximo se desdobram com tanta intensidade que, sinceramente, cabe-nos a solução de aproveitar o tempo disponível às nossas limitadas possibilidades, trabalhando e servindo sem cessar em nome do Bem geral. Não podemos nos dar o luxo de correr atrás daqueles que abandonam o serviço espiritual, a pretexto de lhes oferecer explicações e homenagens. Isto porque nossas obrigações aí estão, exigindo-nos tempo e dedicação e não podem perder tempo. Se fulano ou ciclano considerou por bem abandonar as próprias obrigações espirituais, por este ou aquele melindre, que podemos nós fazer? Entreguemos-Lhe, pela oração, à Benção Misericordiosa de Deus, o Pai Amoroso de todos nós, e por nossa vez, perseveremos no trabalho do Bem até o fim.
PENSAMENTO SONORIZADO
Q: Chico, muitos candidatos à mediunidade nos dizem que sofrem assédio de entidades infelizes e acabam desistindo do serviço mediúnico, justificando-se pelos impedimentos emocionais que carregam. Que dizer de semelhante situação?
Chico Xavier: Curiosa esta pergunta, porque também passamos por esta experiência. Um ano antes de transferirmos nossa residência de Pedro Leopoldo para Uberaba, por volta do ano de 1959, uma crise alucinante de labirintite nos atacou. O desconforto que a doença causava, com aquele barulho característico, dentro do próprio crânio nos alterou o estado emocional. Quase não conseguíamos a necessária concentração para tarefa da psicografia nas reuniões públicas do Centro Espírita Luiz Gonzaga. Estávamos intranquilos. Quando aquele tormento atingiu o seu ápice procuramos nosso médico oftalmologista, na época o Dr. HILTON Rocha, de Belo Horizonte. Dissemos a eles:
– Dr. Hilton Rocha, eu já não agüento mais esta labirintite que me atazana. Este barulho incessante me tonteia e já não posso atender às minhas obrigações de psicografia com a tranquilidade desejável. De modo que o senhor tem a minha autorização, caso esta labirintite for causada pela minha enfermidade dos olhos, para remover os meus globos oculares. E o senhor pode arrancar os meus olhos por que eu preciso continuar trabalhando…
O Dr. Hilton Rocha nos tranqüilizou dizendo que de forma alguma a labirintite era devida às nossas enfermidades oculares. Recomendou-nos paciência e disse-nos que tudo iria passar. De fato, quando nos instalamos em definido aqui em Uberaba a crise de labirintite passou. Recentemente, no entanto, a questão voltou, mais ou menos há dois anos, com grande intensidade. Desta vez não só ouvimos o barulho característico da labirintite, como também registramos a voz nítida dos espíritos inimigos da Causa Espírita-Cristã, pertubando-nos a tranquilidade interior. Esta presença de espíritos infelizes, desde então tem sido constante. Ouvimos-lhes diariamente os ataques à Mensagem Cristã e à Doutrina Espírita; as sugestões desagradáveis; as induções ao desequilíbrio; os sarcasmos em relação aos episódios por nós vividos no decorrer desta existência; as alusões ferinas às ocorrências menos dignas de nossos círculos doutrinários; as calúnias em relação a fatos conhecidos por nós; e até maledicências dirigidas ao nosso círculo de amizades. Tudo isso de forma tal que nos sentimos tolhido na liberdade de pensar. Nossos Amigos Espirituais classificam este tipo de atuação como sendo PENSAMENTOS SONORIZADOS dos obsessores em nós mesmos. Dr. Bezerra de Menezes nos recomendou muita calma em relação ao assunto, incentivando-nos, inclusive, a conversar com estes irmãos infelizes pelo pensamento, mostrando-lhes o ângulo de visão que nos é próprio e rogando-lhes paciência e compreensão para as nossas atitudes mediúnicas. Mesmo assim, apesar de estarmos tentando dialogar com estes espíritos, somente em 80% dos casos eles desistem do sinistro propósito de nos retardar as tarefas. Assim, ainda 20% deles continuam renitentes em seu desiderato infeliz. Outro dia mesmo recorremos à vigilância de nosso mentor Emmanuel, e Emmanuel nos pediu mais paciência. Segundo a afirmativa dele isto ainda duraria por algum tempo e em breve tudo voltaria ao normal
ATITUDE IMPIEDOSA DO HOMEM PREJUDICA ANIMAIS
Q: Chico Xavier, a Doutrina dos Espíritos esclarece com muita propriedade a questão da Lei de Causa e Efeito, de Ação e Reação, que preside à organização do Universo. Ela também nos indica o Livre-Arbítrio como atributo fundamental da personalidade humana, pelo qual o ser humano tem a faculdade de optar livremente pelo caminho que deseja seguir, recebendo contudo, em contrapartida, o resultado inexorável de suas decisões boas ou más. Assim se concluiu que a plantação é livre aos seres humanos, mas, a colheita lhes é obrigatória. Assim se explicam todas as provações e resgates, doenças e deformidades físicas e mentais por que sofrem a maioria dos homens na Terra, como sendo o seu Karma ou resgate de delitos passados. Muito bem! Também nos ensina a Doutrina Espírita que os animais não gozam desta faculdade do livre-arbítrio, por não possuírem ainda o pensamento contínuo. Assim sendo, como devemos encarar a questão da existência de deformidade congênitas no seio dos animais. Por que nascem animais cegos ou deformados, se eles não tem o livre-arbítrio?
Chico Xavier: Nossos Benfeitores Espirituais nos esclarecem que é preciso que todos nós consideremos que os animais diversos, a nos rodearem a existência de seres humanos em evolução no planeta Terra, são nossos irmãos menores, desenvolvendo em si mesmos o próprio princípio inteligente. Se nós, seres humanos já alcançamos os domínios da inteligência, desenvolvendo agora as potências intuitivas, eles, os animais, estão aperfeiçoando paulatinamente seus instintos na busca da inteligência. Da mesma maneira que nós humanos aspiramos alcançar algum dia a angelitude na Vida Maior, personificada em Nosso Mestre e Senhor Jesus, eles, os animais, aspiram ser no futuro distante homens e mulheres inteligentes e livres. Assim sendo, nós podemos nos considerar como irmãos mais velhos e mais experimentados dos animais. Ora, nós já sabemos que a Lei Divina institui a Solidariedade entre os seres, e por isso, podemos facilmente concluir que a nós, seres humanos, Deus outorgou a condução e a proteção de nossos irmãos mais novos, os animais. E o que é que nós estamos fazendo com esta responsabilidade santa de proteger e guiar o reino animal? Como é que esta Humanidade Terrestre tem agido em relação aos animais, nos inúmeros séculos de nossa história?
Porventura nós, os homens, não temos nos convertido em algozes impiedosos dos animais ao invés de seus protetores fiéis? Quem ignora que a vaca sofre imensamente a caminho do matadouro? Quem desconhece que minutos antes do golpe fatal os bovinos derramam lágrimas de angústia? Não temos treinados determinadas raças de cães exaustivamente para marticínio e o ataque? Que dizermos das caçadas impiedosas de aves e animais silvestres, unicamente por prazer esportivo? Que dizermos das devastações inconseqüentes ao meio ambiente? Tudo isto se resume em graves responsabilidades para os seres humanos! A angústia, o medo e o ódio que provocamos os animais lhes altera o equilíbrio natural de seus princípios espirituais, determinando ajustes em posteriores existências, a se configurarem por deformidades congênitas. A responsabilidade maior recairá sempre nos desvios de nós mesmos, os seres humanos, que não soubemos guiar os animais à senda do Amor e do Progresso, segundo a Vontade de Deus.
Agora vejamos, se determinado cão é treinado para o ataque e a morte com requintes de crueldade, se ele é programado para o mal, pode ocorrer que em determinado momento de superexitação, este mesmo cão treinado para atacar os estranhos, ataque as criança de sua própria casa ou os próprios donos. Aí teremos um desajuste induzido pela irresponsabilidade humana. Ora, este mesmo cão aspira crescer espiritualmente para a Inteligência e o Livre-Arbítrio. Mas, para isso ele precisará experimentar o sofrimento que lhe reajuste o campo emotivo, aprendendo a pouco e pouco a Lei de Ação e Reação. Assim, ele provavelmente renascerá com sérias inibições congênitas. A responsabilidade de tudo isto, no entanto, dever-se-á à maldade humana.
RELIGIÃO É ASPECTO FUNDAMENTAL DO ESPIRITISMO
Q: Chico, qual o mais importante aspecto da Doutrina Espírita, o de Religião, o de Filosofia ou o de Ciência?
Chico Xavier: O espírito de Emmanuel costuma nos dizer que a coisa mais importante que cada um de nós poderá fazer na vida é seguir ao mandamento cristão que nos aconselha “Amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”.
Segundo Emmanuel tudo o mais é mera interpretação da verdade. Desta forma não temos dúvida ao crermos ser o aspecto religioso da Doutrina Espírita o seu ângulo fundamental. Muito nobre a Filosofia, mas em verdade a filosofia nada mais faz do que muita conversa. Muito nobre o esforço científico, mas em verdade a mesma ciência que inventou a vacina, construiu a bomba atômica. Então nós devemos reconhecer que todos nós, os seres humanos, trazemos dentro de nós um alto grau de periculosidade e, até hoje, a única força no mundo capaz de frear estes impulsos de periculosidade humana é, sem sombra de dúvida, a RELIGIÃO.