CID 10 – Código Internacional de Doenças
CID 10 (Código Internacional de Doenças)
F20 – F29 ESQUIZOFRENIA, DISTÚRBIOS ESQUIZOTÍPICOS E DELIRANTES
F20 ESQUIZOFRENIA
Esta categoria geral inclui as variedades comuns da esquizofrenia, bem como algumas variedades menos comuns e distúrbios intimamente relacionados.
F20.0 – F20.3
Critérios gerais para os tipos de Esquizofrenia Paranóide, Hebefrênica, Catatônica e Indiferenciada:
G1: Pelo menos um dos sintomas e sinais das síndromes listados abaixo no item (1) ou pelo menos dois dos sintomas e sinais listados no item (2) devem estar presentes durante a maior parte do tempo de um episódio de doença psicótica, durando pelo menos um mês (ou pelo menos algum tempo durante grande parte do dia).
(1) Pelo menos um dos seguintes:
a) Eco de pensamento, inserção ou bloqueio de pensamento ou irradiação de pensamento.
b) Delírios de controle, influência ou passividade, claramente relacionados a movimentos do corpo ou membros ou pensamentos, ações ou sensações específicos; percepção delirante.
c) Vozes alucinatórias fazendo um comentário contínuo sobre o comportamento do paciente ou discutindo entre si ou outros tipos de vozes alucinatórias vindas de alguma parte do corpo.
d) Delírios persistentes de outros tipos, culturalmente inapropriados e completamente impossíveis, tais como identidade religiosa ou política, poderes e habilidades sobre-humanos (ex., ser capaz de controlar o tempo ou entrar em comunicação com seres alienígenas).
(2) Ou pelo menos dois dos seguintes:
e) Alucinações persistentes em qualquer modalidade, que ocorram cotidianamente durante pelo menos um mês, quando acompanhadas por delírios (que podem ser fugazes ou meio formados) sem conteúdo afetivo claro ou quando acompanhadas por idéias supervalorizadas persistentes.
f) Neologismos, quebras ou interpolação no curso do pensamento, resultando em incoerência ou fala irrelevante.
g) Comportamento catatônico, tal como excitação, postura inadequada ou flexibilidade cérea, negativismo, mutismo e estupor.
h) Sintomas “negativos” como apatia marcante, escassez de fala e embotamento ou incongruência de respostas emocionais (deve estar claro que estas não são devidas a depressão ou medicação neuroléptica).
G2: Critérios de exclusão mais comumente usados: Se o paciente também preenche critérios para episódio maníaco (F30) ou episódio depressivo (F32), os critérios listados sob G1.1 e G1.2 acima devem ser preenchidos antes do desenvolvimento do distúrbio de humor.
G3: O distúrbio não deve ser atribuído a doença cerebral orgânica ou a álcool ou intoxicação relacionada a drogas, dependência ou abstenção.
Comentários: Ao avaliar a presença destas experiências e comportamentos subjetivos anormais deve-se tomar cuidado especial para se evitar afirmações verdadeiro-falso, especialmente quando estão envolvidas formas de expressão e comportamento cultural ou subculturalmente influenciadas ou um nível inferior de inteligência.
Em vista da considerável variação do curso dos distúrbios esquizofrênicos, pode ser desejável (especialmente para fins de pesquisa) especificar o padrão do curso utilizando um quinto caráter. O curso usualmente não deve ser codificado a menos que tenha havido um período de observação de pelo menos um ano.
Padrão do Curso
F20.x0 Contínuo (sem remissão de sintomas psicóticos ao longo do período de observação);
F20.x1 Episódico, com um desenvolvimento progressivo de sintomas “negativos” em intervalos entre os episódios psicóticos;
F20.x2 Episódico, com sintomas “negativos” persistentes porém não progressivos nos intervalos entre os episódios psicóticos;
F20.x3 Episódico (em remissão) com remissões completas ou virtualmente completas entre episódios psicóticos;
F20.x4 Remissão incompleta;
F20.x5 Remissão completa ou virtualmente completa;
F20.x8 Outro padrão de curso;
F20.x9 Curso incerto, período de observação demasiado curto.
F20.0 Esquizofrenia Paranóide
- Os critérios gerais para Esquizofrenia (F20.0-F20.3 acima) devem ser satisfeitos.
B. Delírios ou alucinações devem ser proeminentes (tais como delírios de perseguição, referência, nascimento especial, missão especial, transformação corporal ou inveja; vozes ameaçadoras ou de comando, alucinações de odor ou sabor, sensações sexuais ou outras sensações corporais).
C. Embotamento ou incongruência de afeto, sintomas catatônicos ou fala incoerente não devem dominar o quadro clínico, embora possam estar presentes em um grau suave.
F20.1 Esquizofrenia Hebefrênica
A. Os critérios gerais para Esquizofrenia (F20.0-F20.3) acima devem ser preenchidos.
B. (1) ou (2):
(1) Afeto embotado ou raso, definido e sustentado;
(2) Afeto incongruente ou inapropriado definido e sustentado.
C. (1) ou (2):
(1) Comportamento sem objetivo e desarticulado ao invés de direcionado para uma meta;
(2) Distúrbio de pensamento definido manifestando-se como fala desarticulada, vaga ou incoerente.
D. Alucinações ou delírios não devem dominar o quadro clínico, embora possam estar presentes em um grau suave.
F20.2 Esquizofrenia catatônica
A. Os critérios gerais para Esquizofrenia (F20.0 – F20.3 acima) devem finalmente ser satisfeitos, embora isso possa não ser possível inicialmente se o paciente não estiver se comunicando.
B. Durante um período de pelo menos duas semanas, um ou mais dos seguintes comportamentos catatônicos deve mostrar-se proeminente:
(1) Estupor (diminuição marcante na capacidade de reação ao ambiente e redução de movimentos e atividade espontânea) ou mutismo;
(2) Excitação (atividade motora aparentemente sem propósito, não influenciada por estímulos externos);
(3) Postura inadequada (assumir e manter voluntariamente posturas inadequadas ou bizarras);
(4) Negativismo (uma resistência, aparentemente sem motivo, a todas as instruções ou tentativas de ser movido ou a movimentos na direção contrárias);
(5) Rigidez (manutenção de uma postura rígida contra esforços para ser movido);
(6) Flexibilidade cérea (manutenção de membros e do corpo em posições externamente impostas);
(7) Automatismo de comando (obediência automática a instruções).
C. Outros precipitantes possíveis do comportamento catatônico, incluindo doença cerebral e distúrbio metabólico, foram excluídos.
F20.3 Esquizofrenia Indiferenciada
A. Os critérios gerais para Esquizofrenia (F20.0 – F20.3) acima devem ser preenchidos.
B. (1) ou (2):
(1) Há sintomas insuficientes para satisfazer os critérios de quaisquer dos subtipos F20.0,.1,.4 ou .5;
(2) Há tantos sintomas que os critérios para mais de um dos subtipos listados em B(1) acima são preenchidos.
F20.4 Depressão pós-esquizofrênica
A. Os critérios gerais para esquizofrenia (F20.0 – F20.3 acima) devem ter sido preenchidos em algum momento no passado, mas não são preenchidos no presente.
B. Pelo menos quatro dos seguintes sintomas “negativos” estiveram presentes ao longo dos doze meses anteriores:
(1) Lentidão psicomotora;
(2) Embotamento definido de afeto;
(3) Passividade e falta de iniciativa;
(4) Pobreza da qualidade ou conteúdo da fala;
(5) Comunicação não verbal pobre através de expressão facial, contato olho a olho, modulação da voz ou postura;
(6) Desempenho social e autocuidado deficientes.
F20.6 Esquizofrenia simples
- Desenvolvimento lentamente progressivo ao longo de um período de pelo menos um ano, de todos os três dos seguintes:
(1) Uma mudança significativa e consistente na qualidade geral de alguns dos aspectos do comportamento pessoal, manifestado como perda de impulso e interesse, falta de objetivo, ociosidade, uma atitude introspectiva e de retraimento social.
(2) Surgimento gradual e aprofundamento de sintomas “negativos”, tais como apatia marcada, escassez de fala, lentidão, embotamento de afeto, passividade e falta de iniciativa e comunicação verbal pobre (através de expressão facial, contato olho a olho, modulação da voz e postura).
B. Ausência, a qualquer momento, das experiências subjetivas anormais relacionadas em G1 em F20.0-F20.3 e de alucinações ou delírios bem formados de qualquer tipo, ou seja, o indivíduo jamais deve ter preenchido os critérios para qualquer outro tipo de esquizofrenia ou qualquer outro tipo de distúrbio psicótico.
C. Ausência de evidências de demência ou qualquer distúrbio mental orgânico listado na seção F0.
F20.8 Outra esquizofrenia
F20.9 Esquizofrenia não especificada
F21 DISTÚRBIO ESQUIZOTÍPICO
A. O indivíduo deve ter manifestado ao longo de um período de pelo menos dois anos, pelo menos quatro dos seguintes, de modo contínuo ou repetido:
(1) Afeto inapropriado ou restrito, o indivíduo parece frio e indiferente;
(2) Comportamento ou aparência estranhos, excêntricos ou peculiares;
(3) Relacionamento pobre com outros e uma tendência ao retraimento social;
(4) Crenças estranhas ou pensamento mágico influenciando o comportamento e inconsistente com normas subculturais;
(5) Suspeita ou idéias paranóides;
(6) Ruminações sem resistência interna, muitas vezes com conteúdo dismorfofóbico, sexual ou agressivo;
(7) Experiências perceptivas incomuns, incluindo ilusões somato sensórias (corporais) ou outras, despersonalização ou fuga de realidade;
(8) Pensamento vago, circunstancial, metafórico, super elaborado ou muitas vezes estereotipado, manifesto por fala estranha ou de outros modos, sem incoerência grosseira;
(9) Episódios ocasionais transitórios quase psicóticos com ilusões intensas, alucinações auditivas ou outras e idéias semelhantes a delírios, geralmente ocorrendo sem provocação externa.
B. O indivíduo jamais deve ter preenchido os critérios para qualquer distúrbio em F20 (Esquizofrenia).
F22 DISTÚRBIOS DELIRANTES PERSISTENTES
F22.0 Distúrbio Delirante
A. A presença de um delírio ou de um conjunto de delírios relacionados a outros além dos listados como tipicamente esquizofrênicos sob F20G1.1b ou d (ou seja, delírios que são completamente impossíveis ou culturalmente inapropriados). Os exemplos mais comuns são delírios persecutórios, megalomaníacos, hipocondríacos, de ciúme ou eróticos.
B. O(s) delírio(s) em A deve estar presente durante pelo menos três meses.
C. Os critérios gerais para esquizofrenia (F20.0 – F20.3) não são preenchidos.
D. Alucinações persistentes em qualquer modalidade não devem estar presente (porém alucinações auditivas transitórias ou ocasionais que não estejam na terceira pessoa ou fazendo um comentário corrido podem estar presentes).
E. Se sintomas afetivos encontram-se presentes durante uma parte do episódio, os delírios devem persistir sem mudanças em relação ao conteúdo, na ausência de sintomas de humor.
F. Critérios de exclusão mais comumente usados: Não deve haver nenhuma evidência de doença cerebral primária ou secundária conforme listado sob F0 ou um distúrbio psicótico devido a uso de substância psicoativa.
Especificação para possíveis subtipos: Os tipos seguintes podem ser especificados, caso se deseje: tipo persecutório; tipo litigioso; tipo auto-referencial; tipo megalomaníaco; tipo hipocondríaco (somático); tipo ciumento; tipo erotomaníaco.
F22.8 Outros distúrbios delirantes persistentes
Esta é uma categoria residual para distúrbios delirantes persistentes que não preenchem os critérios para distúrbios delirantes (F22.0). Distúrbios, nos quais delírios são acompanhados por vozes alucinatórias persistentes ou por sintomas esquizofrênicos insuficientes para satisfazer critérios para esquizofrenia, deveriam ser codificados aqui. Distúrbios delirantes com duração inferior a três meses deveriam, no entanto, ser codificados, pelo menos temporariamente, em F23.
F22.9 Distúrbio Delirante Persistente, não especificado
F23 DISTÚRBIOS PSICÓTICOS AGUDOS E TRANSITÓRIOS
G1. Um início agudo de delírios, alucinações, distúrbio marcante na forma de pensamento ou qualquer combinação destes. Os intervalos de tempo entre o primeiro aparecimento de quaisquer sintomas psicóticos e a apresentação do distúrbio plenamente desenvolvido não deve exceder duas semanas.
G2. Se estados transitórios de perplexidade, identificação errônea ou deficiência de atenção e concentração encontram-se presentes, eles não preenchem os critérios para perda de consciência, de causa orgãnica, conforme especificado em F05 A.
G3. O distúrbio não satisfaz critérios sintomáticos para episódio maníaco (F30), episódio depressivo (F32) ou distúrbio depressivo recorrente (F33).
G4. Nenhuma evidência de uso recente de substância psicoativa suficiente para preencher os critérios de intoxicação. O uso contínuo e moderado de álcool ou drogas, sem mudanças nas quantidades ou freqüências às quais o sujeito está acostumado, não descarta o uso de F23; isso deve ser decidido por julgamento clínico e pelas exigências do projeto de pesquisa em questão.
G5. Critérios de exclusão mais comumente usados: ausência de doença cerebral (F0) ou distúrbios metabólicos sérios afetando o sistema nervoso central (isso não inclui parto).
Um quinto caráter deveria ser usado para especificar se o início agudo do distúrbio está associado a stress agudo (ocorrendo dentro de duas semanas antes das evidências dos primeiros sintomas psicóticos).
F23.x0 sem stress agudo associado.
F23.x1 com stress agudo associado.
Para propósitos de pesquisa, recomenda-se especificar adicionalmente o início do distúrbio de um estado não psicótico para um estado claramente psicótico: abrupto (início dentro de 48 horas) ou agudo (início em mais de 48 horas, mas menos de duas semanas).
F23.0 Distúrbio psicótico polimórfico agudo sem sintomas de esquizofrenia
A. Os critérios gerais para distúrbios psicóticos transitórios e agudos devem ser preenchidos.
B. Dia após dia ou dentro do mesmo dia, a sintomatologia está em mudança rápida tanto em tipo como em intensidade.
C. A presença de qualquer tipo de alucinação ou delírios, durante pelo menos algumas horas, em qualquer momento desde o início do distúrbio.
D. Sintomas de pelo menos duas das seguintes categorias, ocorrendo ao mesmo tempo:
(1) Tumulto emocional caracterizado por sentimentos intensos de felicidade ou êxtase ou ansiedade esmagadora ou irritabilidade marcante;
(2) Perplexidade ou identificação errônea de pessoas ou lugares;
(3) Aumento ou diminuição de motilidade, em um grau significativo.
E. Quaisquer dos sintomas listados em Esquizofrenia F20, G1.l e G2.2 que estão presentes encontram-se presentes apenas por pouco tempo desde o início, ou seja, o critério B de F23.1 não é preenchido.
F. A duração total do distúrbio não excede três meses.
F23.1 Distúrbio psicótico polimórfico agudo com sintomas de esquizofrenia
A. Critérios A,B,C e D de distúrbio psicótico polimórfico agudo (F23.0) devem ser preenchidos.
B. Alguns dos sintomas especificados para esquizofrenia (F20.0 – F20.3) devem ter estado presentes pela maior parte do tempo desde o início do distúrbio, mas não necessariamente preenchendo estes critérios completamente, ou seja, pelo menos:
(1) quaisquer dos sintomas em F20, G1.1a a d, ou
(2) qualquer um dos sintomas em F20, G1.2e a g.
C. Os sintomas de esquizofrenia em B, acima, não persistem por mais de um mês.
F23.2 Distúrbio psicótico semelhante à esquizofrenia aguda
A. Os critérios gerais para distúrbios psicóticos transitórios e agudos (F23) devem ser preenchidos.
B. Os critérios para esquizofrenia (F20.0 – F20.3) são preenchidos, com exceção, do critério de duração.
C. O transtorno não preenche os critérios B,C e D para distúrbio psicótico polimórfico agudo (F23.0).
D. A duração total do distúrbio não ultrapassa um mês.
F23.3 Outros distúrbios psicóticos agudos predominantemente delirantes
A. Os critérios gerais para distúrbios psicóticos transitórios e agudos (F23) devem ser satisfeitos.
B. Delírios e/ou alucinações encontram-se relativamente presentes, porém não preenchem os critérios sintomáticos para esquizofrenia (F20.0-F20.3).
C. O distúrbio não preenche os critérios para distúrbio psicótico polimórfico agudo (F23.0).
D. A duração total do distúrbio não ultrapassa três meses.
F23.8 Outros distúrbios psicóticos agudos e transitórios
Quaisquer outros distúrbios psicóticos agudos que não se classificam sob qualquer outra categoria em F23 (tal como estado psicótico agudo no qual delírios definidos ou alucinações ocorrem, persistindo, porém, apenas por pequenos espaços de tempo) deveriam ser codificados aqui. Estados de excitação indiferenciada deveriam também ser codificados aqui quando informações mais detalhadas sobre o estado mental do paciente não se encontram disponíveis e contanto que não haja qualquer evidência de causa orgânica.
F23. 9. Distúrbio psicótico agudo e transitório, não especificado
F24 DISTÚRBIO DELIRANTE INDUZIDO
A. O indivíduo deve desenvolver um delírio ou sistema delirante originalmente desenvolvido por alguém mais, com um distúrbio classificado em F20-F23.
B. As duas pessoas devem ter um relacionamento muito próximo e estar relativamente isoladas.
C. O indivíduo não deve ter mantido a crença em questão antes do contato com a outra pessoa e não deve ter sofrido de nenhum outro distúrbio classificado em F20-F23 no passado
F25 DISTÚRBIOS ESQUIZOAFETIVOS
Nota: Este diagnóstico depende de um “equilíbrio” aproximado entre o número, severidade e duração dos sintomas esquizofrênicos e afetivos; quando um equilíbrio aproximado for mantido, este diagnóstico poderá ser estabelecido em mais de um grau de severidade, caso necessário.
G1. O distúrbio satisfaz os critérios de um dos distúrbios afetivos de grau moderado ou severo, conforme especificado para cada subtipo.
G2. Os sintomas de pelo menos um dos grupos de sintomas listados abaixo estão claramente presentes durante a maior parte do tempo durante um período de pelo menos duas semanas (estes grupos e os da esquizofrenia são quase os mesmos (F20.0-F20.3):
(1) Eco de pensamento, inserção ou retração de pensamento, irradiação de pensamento (F20 G1 .1a)
(2) Delírios de controle, influência ou passividade, claramente relacionadas a movimento de corpo ou membros ou pensamentos, ações ou sensações específicos (F20 G1.1b)
(3) Vozes alucinatórias fazendo comentários sobre o comportamento do paciente ou discutindo entre si; ou outros tipos de vozes alucinatórias advindas de alguma parte do corpo (F20 G1.1c)
(4) Delírios persistentes de outros tipos que são culturalmente inapropriados e completamente impossíveis, porém não meramente megalomaníacos ou persecutórios (F20 G1.1d). Ex., visitou outros mundos; pode controlar as nuvens inspirando e expirando; pode comunicar-se com animais ou plantas sem falar, etc.
(5) Fala totalmente irrelevante ou incoerente ou uso freqüente de neologismos (uma forma marcada de F20 G1.2f)
(6) O surgimento intermitente, porém freqüente, de algumas formas de comportamento catatônico, tais como postura inadequada, flexibilidade cérea e negativismo (F20 G12.2g)
G3. Critérios G1 e G2 devem ser satisfeitos dentro do mesmo episódio do distúrbio e simultaneamente durante pelo menos algum tempo do episódio. Sintomas tanto dos critérios G1 como G2 devem ser proeminentes no quadro clínico.
G4. Critérios de exclusão mais comumente usados: o distúrbio não é atribuível à doença cerebral orgânica (F0) ou à intoxicação relacionada à substância psicoativa, dependência ou abstenção (F1).
F25.0 Distúrbio Esquizoafetivo, tipo maníaco
A. Os critérios gerais para distúrbio esquizoafetivo (F25) devem ser satisfeitos.
B. Os critérios de um distúrbio maníaco devem ser satisfeitos (F30.1 ou F31.l ).
F25.1 Distúrbio esquizoafetivo, tipo depressivo
A. Os critérios gerais de distúrbio esquizoafetivo (F25) devem ser satisfeitos.
B. Os critérios para distúrbio depressivo, pelo menos de severidade moderada, devem ser satisfeitos (F32.1 , F32.2, F31.3 ou F31.4).
F25.2 Distúrbio esquizoafetivo, tipo misto
A. Os critérios gerais para distúrbio esquizoafetivo (F25) devem ser satisfeitos.
B. Os critérios para distúrbio afetivo bipolar misto devem ser satisfeitos (F31.6).
F25.8 Outros distúrbios esquizoafetivos
F25.9 Distúrbio esquizoafetivo, não especificado
F28 OUTROS DISTÚRBIOS PSICÓTICOS NÃO ORGÂNICOS
Distúrbios psicóticos que não satisfazem os critérios para esquizofrenia (F20.-) ou para tipos psicóticos de distúrbios de humor (afetivos) (F30-F39) e distúrbios psicóticos que não satisfazem os critérios sintomáticos para distúrbio delirante persistente (F22.-) deveriam ser codificados aqui (tais como distúrbio alucinatório persistente). Incluídas aqui também estão combinações de sintomas não cobertas pelas categorias anteriores em F20, tais como delírios diferentes dos listados como esquizofrenicotípicos em F20 G1.1b ou d (ou seja, outras além de completamente impossíveis ou culturalmente inapropriadas) aliadas à catatonia.
F40 Transtornos fóbico-ansiosos
Grupo de transtornos nos quais uma ansiedade é desencadeada exclusiva ou essencialmente por situações nitidamente determinadas que não apresentam atualmente nenhum perigo real. Estas situações são, por esse motivo, evitadas ou suportadas com temor. As preocupações do sujeito podem estar centradas sobre sintomas individuais tais como palpitações ou uma impressão de desmaio, e freqüentemente se associam com medo de morrer, perda do autocontrole ou de ficar louco. A simples evocação de uma situação fóbica desencadeia em geral ansiedade antecipatória. A ansiedade fóbica freqüentemente se associa a uma depressão. Para determinar se convém fazer dois diagnósticos (ansiedade fóbica e episódio depressivo) ou um só (ansiedade fóbica ou episódio depressivo), é preciso levar em conta a ordem de ocorrência dos transtornos e as medidas terapêuticas que são consideradas no momento do exame.
F40.0 Agorafobia
Grupo relativamente bem definido de fobias relativas ao medo de deixar seu domicílio, medo de lojas, de multidões e de locais públicos, ou medo de viajar sozinho em trem, ônibus ou avião. A presença de um transtorno de pânico é freqüente no curso dos episódios atuais ou anteriores de agorafobia. Entre as características associadas, acham-se freqüentemente sintomas depressivos ou obsessivos, assim como fobias sociais. As condutas de evitação comumente são proeminentes na sintomatologia e certos agorafóbicos manifestam pouca ansiedade dado que chegam a evitar as situações geradoras de fobia.
Agorafobia sem antecedentes de transtorno de pânico
Transtorno de pânico com agorafobia
F40.1 Fobias sociais
Medo de ser exposto à observação atenta de outrem e que leva a evitar situações sociais. As fobias sociais graves se acompanham habitualmente de uma perda da auto-estima e de um medo de ser criticado. As fobias sociais podem se manifestar por rubor, tremor das mãos, náuseas ou desejo urgente de urinar, sendo que o paciente por vezes está convencido que uma ou outra destas manifestações secundárias constitui seu problema primário. Os sintomas podem evoluir para um ataque de pânico.
Antropofobia
Neurose social
F40.2 Fobias específicas (isoladas)
Fobias limitadas a situação altamente específicas tais como a proximidade de determinados animais, locais elevados, trovões, escuridão, viagens de avião, espaços fechados, utilização de banheiros públicos, ingestão de determinados alimentos, cuidados odontológicos, ver sangue ou ferimentos. Ainda que a situação desencadeante seja inofensiva, o contato com ela pode desencadear um estado de pânico como na agorafobia ou fobia social.
Acrofobia
Claustrofobia
Fobia(s) (de):
· animais
· simples
Exclui:
dismorfofobia (não-delirante) (F45.2)
nosofobia (F45.2)
F40.8 Outros transtornos fóbico-ansiosos
F40.9 Transtorno fóbico-ansioso não especificado
Estado fóbico SOE
Fobia SOE
F41 Outros transtornos ansiosos
Transtornos caracterizados essencialmente pela presença da manifestações ansiosas que não são desencadeadas exclusivamente pela exposição a uma situação determinada. Podem se acompanhar de sintomas depressivos ou obsessivos, assim como de certas manifestações que traduzem uma ansiedade fóbica, desde que estas manifestações sejam, contudo, claramente secundárias ou pouco graves.
F41.0 Transtorno de pânico [ansiedade paroxística episódica]
A característica essencial deste transtorno são os ataques recorrentes de uma ansiedade grave (ataques de pânico), que não ocorrem exclusivamente numa situação ou em circunstâncias determinadas mas de fato são imprevisíveis. Como em outros transtornos ansiosos, os sintomas essenciais comportam a ocorrência brutal de palpitação e dores torácicas, sensações de asfixia, tonturas e sentimentos de irrealidade (despersonalização ou desrrealização). Existe, além disso, freqüentemente um medo secundário de morrer, de perder o autocontrole ou de ficar louco. Não se deve fazer um diagnóstico principal de transtorno de pânico quando o sujeito apresenta um transtorno depressivo no momento da ocorrência de um ataque de pânico, uma vez que os ataques de pânico são provavelmente secundários à depressão neste caso.
Ataque |
ü |
|
Estado |
ý |
de pânico |
Síndrome |
þ |
|
Exclui:
transtorno de pânico com agorafobia (F40.0)
F41.1 Ansiedade generalizada
Ansiedade generalizada e persistente que não ocorre exclusivamente nem mesmo de modo preferencial numa situação determinada (a ansiedade é “flutuante”). Os sintomas essenciais são variáveis, mas compreendem nervosismo persistente, tremores, tensão muscular, transpiração, sensação de vazio na cabeça, palpitações, tonturas e desconforto epigástrico. Medos de que o paciente ou um de seus próximos irá brevemente ficar doente ou sofrer um acidente são freqüentemente expressos.
Estado |
î |
ansiosa(o) |
Neurose |
ì |
|
Reação de angústia
Exclui:
neurastenia (F48.0)
F41.2 Transtorno misto ansioso e depressivo
Esta categoria deve ser utilizada quando o sujeito apresenta ao mesmo tempo sintomas ansiosos e sintomas depressivos, sem predominância nítida de uns ou de outros, e sem que a intensidade de uns ou de outros seja suficiente para justificar um diagnóstico isolado. Quando os sintomas ansiosos e depressivos estão presentes simultaneamente com uma intensidade suficiente para justificar diagnósticos isolados, os dois diagnósticos devem ser anotados e não se faz um diagnóstico de transtorno misto ansioso e depressivo.
Depressão ansiosa (leve ou não-persistente)
F41.3 Outros transtornos ansiosos mistos
Sintomas ansiosos mistos se acompanham de características de outros transtornos citados em F42-F48. Nenhum tipo de sintoma é suficientemente grave para justificar diagnósticos isolados.
F41.8 Outros transtornos ansiosos especificados
Histeria de angústia
F41.9 Transtorno ansioso não especificado
Ansiedade SOE
F42 Transtorno obsessivo-compulsivo
Transtorno caracterizado essencialmente por idéias obsessivas ou por comportamentos compulsivos recorrentes. As idéias obsessivas são pensamentos, representações ou impulsos, que se intrometem na consciência do sujeito de modo repetitivo e estereotipado. Em regra geral, elas perturbam muito o sujeito, o qual tenta, freqüentemente resistir-lhes, mas sem sucesso. O sujeito reconhece, entretanto, que se trata de seus próprios pensamentos, mas estranhos à sua vontade e em geral desprazeirosos. Os comportamentos e os rituais compulsivos são atividades estereotipadas repetitivas. O sujeito não tira prazer direto algum da realização destes atos os quais, por outro lado, não levam à realização de tarefas úteis por si mesmas. O comportamento compulsivo tem por finalidade prevenir algum evento objetivamente improvável, freqüentemente implicando dano ao sujeito ou causado por ele, que ele(a) teme que possa ocorrer. O sujeito reconhece habitualmente o absurdo e a inutilidade de seu comportamento e faz esforços repetidos para resistir-lhes. O transtorno se acompanha quase sempre de ansiedade. Esta ansiedade se agrava quando o sujeito tenta resistir à sua atividade compulsiva.
Inclui:
neurose:
· anancástica
· obsessivo-compulsiva
Exclui:
personalidade (transtorno da) obsessivo-compulsiva (F60.5)
F42.0 Transtorno obsessivo-compulsivo com predominância de idéias ou de ruminações obsessivas
Pode-se tratar de pensamentos, imagens mentais ou impulsos para agir, quase sempre angustiantes para o sujeito. Às vezes trata-se de hesitações intermináveis entre várias opções, que se acompanham freqüentemente de uma incapacidade de tomar decisões banais mas necessárias à vida cotidiana. Existe uma relação particularmente estreita entre as ruminações obsessivas e a depressão, e deve-se somente preferir um diagnóstico de transtorno obsessivo-compulsivo quando as ruminações surgem ou persistem na ausência de uma síndrome depressiva.
F42.1 Transtorno obsessivo-compulsivo com predominância de comportamentos compulsivos [rituais obsessivos]
A maioria dos atos compulsivos está ligada à limpeza (particularmente lavar as mãos), verificações repetidas para evitar a ocorrência de uma situação que poderia se tornar perigosa, ou um desejo excessivo de ordem. Sob este comportamento manifesto, existe o medo, usualmente de perigo ao ou causado pelo sujeito e a atividade ritual constitui um meio ineficaz ou simbólico de evitar este perigo.
F42.2 Transtorno obsessivo-compulsivo, forma mista, com idéias obsessivas e comportamentos compulsivos
F42.8 Outros transtornos obsessivo-compulsivos
F42.9 Transtorno obsessivo-compulsivo não especificado
F43 Reações ao “stress” grave e transtornos de adaptação
Esta categoria difere das outras na medida que sua definição não repousa exclusivamente sobre a sintomatologia e a evolução, mas igualmente sobre a existência de um ou outro dos dois fatores causais seguintes: um acontecimento particularmente estressante desencadeia uma reação de “stress” aguda, ou uma alteração particularmente marcante na vida do sujeito, que comporta conseqüências desagradáveis e duradouras e levam a um transtorno de adaptação. Embora fatores de “stress” psicossociais (“life events”) relativamente pouco graves possam precipitar a ocorrência de um grande número de transtornos classificados em outra parte neste capítulo ou influenciar-lhes o quadro clínico, nem sempre é possível atribuir-lhes um papel etiológico, quanto mais que é necessário levar em consideração fatores de vulnerabilidade, freqüentemente idiossincráticos, próprios de cada indivíduo; em outros termos, estes fatores não são nem necessários nem suficientes para explicar a ocorrência e a natureza do transtorno observado. Em contraste, para os transtornos reunidos aqui sob F43, admite-se que sua ocorrência é sempre a conseqüência direta de um “stress” agudo importante ou de um traumatismo persistente. O acontecimento estressante ou as circunstâncias penosas persistentes constituem o fator causal primário e essencial, na ausência do qual o transtorno não teria ocorrido. Os transtornos reunidos neste capítulo podem assim ser considerados como respostas inadaptadas a um “stress” grave ou persistente, na medida em que eles interferem com mecanismos adaptativos eficazes e entravam assim o funcionamento social.
F43.0 Reação aguda ao “stress”
Transtorno transitório que ocorre em indivíduo que não apresenta nenhum outro transtorno mental manifesto, em seguida a um “stress” físico e/ou psíquico excepcional, e que desaparece habitualmente em algumas horas ou em alguns dias. A ocorrência e a gravidade de uma reação aguda ao “stress” são influenciadas por fatores de vulnerabilidade individuais e pela capacidade do sujeito de fazer face ao traumatismo. A sintomatologia é tipicamente mista e variável e comporta de início um estado de aturdimento caracterizado por um certo estreitamento do campo da consciência e dificuldades de manter a atenção ou de integrar estímulos, e uma desorientação. Este estado pode ser seguido quer por um distanciamento do ambiente (podendo tomar a forma de um estupor dissociativo – ver F44.2) ou de uma agitação com hiperatividade (reação de fuga). O transtorno se acompanha freqüentemente de sintomas neurovegetativos de uma ansiedade de pânico (taquicardia, transpiração, ondas de calor). Os sintomas se manifestam habitualmente nos minutos que seguem a ocorrência do estímulo ou do acontecimento estressante e desaparecem no espaço de dois a três dias (freqüentemente em algumas horas). Pode haver uma amnésia parcial ou completa (F44.0) do episódio. Quando os sintomas persistem, convém considerar uma alteração do diagnóstico (e do tratamento).
Choque psíquico
Estado de crise
Fadiga de combate
Reação aguda (à) (ao):
· crise
· “stress”
F43.1 Estado de “stress” pós-traumático
Este transtorno constitui uma resposta retardada ou protraída a uma situação ou evento estressante (de curta ou longa duração), de natureza excepcionalmente ameaçadora ou catastrófica, e que provocaria sintomas evidentes de perturbação na maioria dos indivíduos. Fatores predisponentes, tais como certos traços de personalidade (por exemplo compulsiva, astênica) ou antecedentes do tipo neurótico, podem diminuir o limiar para a ocorrência da síndrome ou agravar sua evolução; tais fatores, contudo, não são necessários ou suficientes para explicar a ocorrência da síndrome. Os sintomas típicos incluem a revivescência repetida do evento traumático sob a forma de lembranças invasivas (“flashbacks”), de sonhos ou de pesadelos; ocorrem num contexto durável de “anestesia psíquica” e de embotamento emocional, de retraimento com relação aos outros, insensibilidade ao ambiente, anedonia, e de evitação de atividades ou de situações que possam despertar a lembrança do traumatismo. Os sintomas precedentes se acompanham habitualmente de uma hiperatividade neurovegetativa, com hipervigilância, estado de alerta e insônia, associadas freqüentemente a uma ansiedade, depressão ou ideação suicida. O período que separa a ocorrência do traumatismo do transtorno pode variar de algumas semanas a alguns meses. A evolução é flutuante, mas se faz para a cura na maioria dos casos. Em uma pequena proporção de casos, o transtorno pode apresentar uma evolução crônica durante numerosos anos e levar a uma alteração duradoura da personalidade (F62.0).
Neurose traumática
F43.2 Transtornos de adaptação
Estado de sofrimento e de perturbação emocional subjetivos, que entravam usualmente o funcionamento e o desempenho sociais. ocorrendo no curso de um período de adaptação a uma mudança existencial importante ou a um acontecimento estressante. O fator de “stress” pode afetar a integridade do ambiente social do sujeito (luto, experiências de separação) ou seu sistema global de suporte social e de valor social (imigração, estado de refugiado); ou ainda representado por uma etapa da vida ou por uma crise do desenvolvimento (escolarização, nascimento de um filho, derrota em atingir um objetivo pessoal importante, aposentadoria). A predisposição e a vulnerabilidade individuais desempenham um papel importante na ocorrência e na sintomatologia de um transtorno de adaptação; admite-se, contudo, que o transtorno não teria ocorrido na ausência do fator de “stress” considerado. As manifestações, variáveis, compreendem: humor depressivo, ansiedade, inquietude (ou uma combinação dos precedentes), sentimento de incapacidade de enfrentar, fazer projetos ou a continuar na situação atual, assim como certa alteração do funcionamento cotidiano. Transtornos de conduta podem estar associados, em particular nos adolescentes. A característica essencial deste transtorno pode consistir de uma reação depressiva, ou de uma outra perturbação das emoções e das condutas, de curta ou longa duração.
Choque cultural
Hospitalismo da criança
Reação de luto
Exclui:
transtorno ligado à angústia de separação na infância (F93.0)
F43.8 Outras reações ao “stress” grave
F43.9 Reação não especificada a um “stress” grave
F44 Transtornos dissociativos [de conversão]
Os transtornos dissociativos ou de conversão se caracterizam por uma perda parcial ou completa das funções normais de integração das lembranças, da consciência, da identidade e das sensações imediatas, e do controle dos movimentos corporais. Os diferentes tipos de transtornos dissociativos tendem a desaparecer após algumas semanas ou meses, em particular quando sua ocorrência se associou a um acontecimento traumático. A evolução pode igualmente se fazer para transtornos mais crônicos, em particular paralisias e anestesias, quando a ocorrência do transtorno está ligada a problemas ou dificuldades interpessoais insolúveis. No passado, estes transtornos eram classificados entre diversos tipos de “histeria de conversão”. Admite-se que sejam psicogênicos, dado que ocorrem em relação temporal estreita com eventos traumáticos, problemas insolúveis e insuportáveis, ou relações interpessoais difíceis. Os sintomas traduzem freqüentemente a idéia que o sujeito se faz de uma doença física. O exame médico e os exames complementares não permitem colocar em evidência um transtorno físico (em particular neurológico) conhecido. Por outro lado, dispõe-se de argumentos para pensar que a perda de uma função é, neste transtorno, a expressão de um conflito ou de uma necessidade psíquica. Os sintomas podem ocorrer em relação temporal estreita com um “stress” psicológico e ocorrer freqüentemente de modo brusco. O transtorno concerne unicamente quer a uma perturbação das funções físicas que estão normalmente sob o controle da vontade, quer a uma perda das sensações. Os transtornos que implicam manifestações dolorosas ou outras sensações físicas complexas que fazem intervir o sistema nervoso autônomo, são classificados entre os transtornos somatoformes (F45.0). Há sempre a possibilidade de ocorrência numa data ulterior de um transtorno físico ou psiquiátrico grave.
Inclui:
histeria
histeria |
î |
de conversão |
reação |
ì |
|
psicose histérica
Exclui:
simulador [simulação consciente] (Z76.5)
F44.0 Amnésia dissociativa
A característica essencial é a de uma perda da memória, que diz respeito geralmente a acontecimentos importantes recentes, não devida a transtorno mental orgânico, e muito importante para ser considerado como expressão de esquecimento ou de fadiga. A amnésia diz respeito habitualmente aos eventos traumáticos, tais como acidentes ou lutos imprevistos, e é mais freqüente que seja parcial e seletiva. Uma amnésia completa e generalizada é rara, e diz respeito habitualmente a uma fuga (F44.1); neste caso, deve-se fazer um diagnóstico de fuga. Não se deve fazer este diagnóstico na presença de um transtorno cerebral orgânico, de uma intoxicação, ou de uma fadiga extrema.
Exclui:
amnésia:
· SOE (R41.3)
· anterógrada (R41.1)
· pós-convulsiva dos epilépticos (G40.-)
· retrógrada (R41.2)
síndrome amnésica orgânica não-alcoólica (F04)
transtorno amnésico induzido pelo álcool ou por outra substância psicoativa (F10-F19 com quarto caractere comum .6)
F44.1 Fuga dissociativa
Uma fuga apresenta todas as características de uma amnésia dissociativa: comporta além disto, um deslocamento motivado maior que o raio de deslocamento habitual cotidiano. Embora exista uma amnésia para o período de fuga, o comportamento do sujeito no curso desta última pode parecer perfeitamente normal para observadores desinformados.
Exclui:
fuga pós-convulsiva na epilepsia (G40.-)
F44.2 Estupor dissociativo
O diagnóstico de estupor dissociativo repousa sobre a presença de uma diminuição importante ou de uma ausência dos movimentos voluntários e da reatividade normal a estímulos externos, tais como luz, ruído, tato, sem que os exames clínicos e os exames complementares mostrem evidências de uma causa física. Além disto, dispõe-se de argumentos em favor de uma origem psicogênica do transtorno, na medida que é possível evidenciar eventos ou problemas estressantes recentes.
Exclui:
estado catatônico orgânico (F06.1)
estupor:
· SOE (R40.1)
· catatônico (F20.2)
· depressivo (F31-F33)
· maníaco (F30.2)
F44.3 Estados de transe e de possessão
Transtornos caracterizados por uma perda transitória da consciência de sua própria identidade, associada a uma conservação perfeita da consciência do meio ambiente. Devem aqui ser incluídos somente os estados de transe involuntários e não desejados, excluídos aqueles de situações admitidas no contexto cultural ou religioso do sujeito.
Exclui:
esquizofrenia (F20.-)
intoxicação por uma substância psicoativa (F10-F19 com quarto caractere comum .0)
síndrome pós-traumática (F07.2)
transtorno(s):
· orgânico da personalidade (F07.0)
· psicóticos agudos e transitórios (F23.-)
F44.4 Transtornos dissociativos do movimento
As variedades mais comuns destes transtornos são a perda da capacidade de mover uma parte ou a totalidade do membro ou dos membros. Pode haver semelhança estreita com quaisquer variedades de ataxia, apraxia, acinesia, afonia, disartria, discinesia, convulsões ou paralisia.
Afonia psicogênica
Disfonia psicogênica
Torcicolo histérico
F44.5 Convulsões dissociativas
Os movimentos observados no curso das convulsões dissociativas podem se assemelhar de perto àquelas observadas no curso das crises epiléticas; mas a mordedura de língua, os ferimentos por queda e a incontinência de urina são raros contudo; além disto, a consciência está preservada ou substituída por um estado de estupor ou transe.
F44.6 Anestesia e perda sensorial dissociativas
Os limites das áreas cutâneas anestesiadas correspondem freqüentemente às concepções pessoais do paciente, mais do que a descrições científicas. Pode haver igualmente uma perda de um tipo de sensibilidade dado, com conservação de outras sensibilidades, não correspondendo a nenhuma lesão neurológica conhecida. A perda de sensibilidade pode se acompanhar de parestesias. As perdas da visão e da audição raramente são totais nos transtornos dissociativos.
Surdez psicogênica
F44.7 Transtorno dissociativo misto [de conversão]
Combinação de transtornos descritos em F44.0-F44.6
F44.8 Outros transtornos dissociativos [de conversão]
Confusão psicogênica
Estado crepuscular psicogênico
Personalidade múltipla
Síndrome de Ganser
F44.9 Transtorno dissociativo [de conversão] não especificado
F45 Transtornos somatoformes
A característica essencial diz respeito à presença repetida de sintomas físicos associados à busca persistente de assistência médica, apesar que os médicos nada encontram de anormal e afirmam que os sintomas não têm nenhuma base orgânica. Se quaisquer transtornos físicos estão presentes, eles não explicam nem a natureza e a extensão dos sintomas, nem o sofrimento e as preocupações do sujeito.
Exclui:
arrancar-se os cabelos (F98.4)
disfunção sexual não devida a doença ou a transtorno orgânico (F52.-)
dislalia (F80.8)
fatores psicológicos ou comportamentais associados a doenças ou transtornos classificados em outra parte (F54)
lalação (F80.0)
roer unhas (F98.8)
síndrome de Gilles de la Tourette (F95.2)
sucção do polegar (F98.8)
tiques (na infância e na adolescência) (F95.-)
transtornos dissociativos (F44.-)
tricotilomania (F63.3)
F45.0 Transtorno de somatização
Transtorno caracterizado essencialmente pela presença de sintomas físicos, múltiplos, recorrentes e variáveis no tempo, persistindo ao menos por dois anos. A maioria dos pacientes teve uma longa e complicada história de contato tanto com a assistência médica primária quanto especializada durante as quais muitas investigações negativas ou cirurgias exploratórias sem resultado podem ter sido realizadas. Os sintomas podem estar referidos a qualquer parte ou sistema do corpo. O curso da doença é crônico e flutuante, e freqüentemente se associa a uma alteração do comportamento social, interpessoal e familiar. Quando o transtorno tem uma duração mais breve (menos de dois anos) ou quando ele se caracteriza por sintomas menos evidentes, deve-se fazer o diagnóstico de transtorno somatoforme indiferenciado (F45.1).
Transtorno de Briquet
Transtorno psicossomático múltiplo
Exclui:
simulador [simulação consciente] (Z76.5)
F45.1 Transtorno somatoforme indiferenciado
Quando as queixas somatoformes são múltiplas, variáveis no tempo e persistentes, mas que não correspondem ao quadro clínico completo e típico de um transtorno de somatização, o diagnóstico de transtorno somatoforme indiferenciado deve ser considerado.
Transtorno psicossomático indiferenciado
F45.2 Transtorno hipocondríaco
A característica essencial deste transtorno é uma preocupação persistente com a presença eventual de um ou de vários transtornos somáticos graves e progressivos. Os pacientes manifestam queixas somáticas persistentes ou uma preocupação duradoura com a sua aparência física. Sensações e sinais físicos normais ou triviais são freqüentemente interpretados pelo sujeito como anormais ou perturbadores. A atenção do sujeito se concentra em geral em um ou dois órgãos ou sistemas. Existem freqüentemente depressão e ansiedade importantes, e que podem justificar um diagnóstico suplementar.
Dismorfofobia (corporal) (não-delirante)
Hipocondria
Neurose hipocondríaca
Nosofobia
Exclui:
dismorfofobia delirante (F22.8)
idéias delirantes persistentes sobre o funcionamento ou a forma do corpo (F22.-)
F45.3 Transtorno neurovegetativo somatoforme
O paciente atribui seus sintomas a um transtorno somático de um sistema ou de órgão inervado e controlado, em grande parte ou inteiramente, pelo sistema neurovegetativo: sistema cardiovascular, gastrointestinal, respiratório e urogenital. Os sintomas são habitualmente de dois tipos, sendo que nenhum dos dois indica transtorno somático do órgão ou do sistema referido. O primeiro tipo consiste de queixas a respeito de um hiperfuncionamento neurovegetativo, por exemplo palpitações, transpiração, ondas de calor ou de frio, tremores, assim como por expressão de medo e perturbação com a possibilidade de uma doença física. O segundo tipo consiste de queixas subjetivas inespecíficas e variáveis, por exemplo dores e sofrimentos, e sensações de queimação, peso, aperto e inchaço ou distensão, atribuídos pelo paciente a um órgão ou sistema específico.
Astenia neurocirculatória
Formas psicogênicas (de um) (de uma):
· aerofagia
· cólon irritável
· diarréia
· dispepsia
· disúria
· flatulência
· hiperventilação
· piloroespasmo
· polaciúria
· soluço
· tosse
Neurose:
· cardíaca
· gástrica
Síndrome de Da Costa
Exclui:
fatores psicológicos e comportamentais associados a transtornos físicos classificados em outra parte (F54)
F45.4 Transtorno doloroso somatoforme persistente
A queixa predominante é uma dor persistente, intensa e angustiante, dor esta não explicável inteiramente por um processo fisiológico ou um transtorno físico, e ocorrendo num contexto de conflitos emocionais e de problemas psicossociais suficientemente importantes para permitir a conclusão de que os mesmos sejam a causa essencial do transtorno. O resultado é em geral uma maior atenção em suporte e assistência quer pessoal, quer médica. Uma dor considerada como psicogênica mas ocorrendo no curso de um transtorno depressivo ou de uma esquizofrenia não deve ser aqui classificada.
Cefaléia psicogênica
Dor(es):
· psicogênicas da coluna vertebral
· somatoforme
Psicalgia
Exclui:
cefaléias tensionais (G44.2)
dor:
· SOE (R52.9)
· aguda (R52.0)
· crônica (R52.2)
· irredutível (R52.1)
· lombar SOE (M54.9)
F45.8 Outros transtornos somatoformes
Todos os outros transtornos das sensações, das funções e do comportamento, não devidos a um transtorno físico que não estão sob a influência do sistema neurovegetativo, que se relacionam a sistemas ou a partes do corpo específicos, e que ocorrem em relação temporal estreita com eventos ou problemas estressantes.
Disfagia psicogênica, incluindo “bolo histérico”
Dismenorréia psicogênica
Prurido psicogênico
Ranger de dentes
Torcicolo psicogênico
F45.9 Transtorno somatoforme não especificado
Transtorno psicossomático SOE
F48 Outros transtornos neuróticos
F48.0 Neurastenia
Existem variações culturais consideráveis para a apresentação deste transtorno, sendo que dois tipos principais ocorrem, com considerável superposição. No primeiro tipo, a característica essencial é a de uma queixa relacionada com a existência de uma maior fatigabilidade que ocorre após esforços mentais freqüentemente associada a uma certa diminuição do desempenho profissional e da capacidade de fazer face às tarefas cotidianas. A fatigabilidade mental é descrita tipicamente como uma intrusão desagradável de associações ou de lembranças que distraem, dificuldade de concentração e pensamento geralmente ineficiente. No segundo tipo, a ênfase se dá mais em sensações de fraqueza corporal ou física e um sentimento de esgotamento após esforços mínimos, acompanhados de um sentimento de dores musculares e incapacidade para relaxar. Em ambos os tipos há habitualmente vários outras sensações físicas desagradáveis, tais como vertigens, cefaléias tensionais e uma impressão de instabilidade global. São comuns, além disto, inquietudes com relação a uma degradação da saúde mental e física, irritabilidade, anedonia, depressão e ansiedade menores e variáveis. O sono freqüentemente está perturbado nas suas fases inicial e média mas a hipersonia pode também ser proeminente.
Síndrome de fadiga
Usar código adicional, se necessário, para identificar a doença física antecedente.
Exclui:
astenia SOE (R53)
estafa (Z73.0)
mal estar e fadiga (R53)
psicastenia (F48.8)
síndrome da fadiga pós-viral (G93.3)
F48.1 Síndrome de despersonalização-desrealização
Trata-se de um transtorno raro no qual o paciente se queixa espontaneamente de uma alteração qualitativa de sua atividade mental, de seu corpo e de seu ambiente, estes últimos percebidos como irreais, longínquos ou “robotizados”. Dentre os vários fenômenos que caracterizam esta síndrome, os pacientes queixam-se mais freqüentemente de perda das emoções e de uma sensação de estranheza ou desligamento com relação aos seus pensamentos, seu corpo ou com o mundo real. A despeito da natureza dramática deste tipo de experiência, o sujeito se dá conta da ausência de alterações reais. As faculdades sensoriais são normais e as capacidades de expressão emocional intactos. Sintomas de despersonalização-desrealização podem ocorrer no contexto de um transtorno esquizofrênico, depressivo, fóbico ou obsessivo-compulsivo identificável. Neste caso, reter-se-á como diagnóstico aquele do transtorno principal.
F48.8 Outros transtornos neuróticos especificados
Neurose (de):
· profissional (incluindo cãibra dos escritores)
· psicastênica
Psicastenia
Síncope psicogênica
Síndrome de Dhat
F48.9 Transtorno neurótico não especificado
Neurose SOE
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PRINCIPAIS TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS DEFINIDOS PELA CID 10
DEPRESSÕES
Nos episódios típicos de cada um dos três graus de depressão: leve, moderado ou grave, o paciente apresenta um rebaixamento do humor, redução da energia e diminuição da atividade. Existe alteração da capacidade de experimentar o prazer, perda de interesse, diminuição da capacidade de concentração, associadas em geral à fadiga importante, mesmo após um esforço mínimo. Observam-se em geral problemas do sono e diminuição do apetite. Existe quase sempre uma diminuição da auto-estima e da autoconfiança e freqüentemente idéias de culpabilidade e ou de indignidade, mesmo nas formas leves. O humor depressivo varia pouco de dia para dia ou segundo as circunstâncias e pode se acompanhar de sintomas ditos “somáticos”, por exemplo perda de interesse ou prazer, despertar matinal precoce, várias horas antes da hora habitual de despertar, agravamento matinal da depressão, lentidão psicomotora importante, agitação, perda de apetite, perda de peso e perda da libido. O número e a gravidade dos sintomas permitem determinar três graus de um episódio depressivo: leve, moderado e grave.
TRANSTORNO DO HUMOR BIPOLAR
Transtorno caracterizado por dois ou mais episódios nos quais o humor e o nível de atividade do sujeito estão profundamente perturbados, sendo que este distúrbio consiste em algumas ocasiões de uma elevação do humor e aumento da energia e da atividade (hipomania ou mania) e em outras, de um rebaixamento do humor e de redução da energia e da atividade (depressão). Pacientes que sofrem somente de episódios repetidos de hipomania ou mania são classificados como bipolares.
TRANSTORNOS DE ANSIEDADE
– ANSIEDADE GENERALIZADA
Ansiedade generalizada e persistente que não ocorre exclusivamente nem mesmo de modo preferencial numa situação determinada (a ansiedade é “flutuante”). Os sintomas essenciais são variáveis, mas compreendem nervosismo persistente, tremores, tensão muscular, transpiração, sensação de vazio na cabeça, palpitações, tonturas e desconforto epigástrico. Medos de que o paciente ou um de seus próximos irá brevemente ficar doente ou sofrer um acidente são freqüentemente expressos.
– TRANSTORNOS FÓBICO-ANSIOSOS
Grupo de transtornos nos quais uma ansiedade é desencadeada exclusiva ou essencialmente por situações nitidamente determinadas que não apresentam atualmente nenhum perigo real. Estas situações são, por esse motivo, evitadas ou suportadas com temor. As preocupações do sujeito podem estar centradas sobre sintomas individuais tais como palpitações ou uma impressão de desmaio, e freqüentemente se associam com medo de morrer, perda do autocontrole ou de ficar louco. A simples evocação de uma situação fóbica desencadeia em geral ansiedade antecipatória. A ansiedade fóbica freqüentemente se associa a uma depressão. Para determinar se convém fazer dois diagnósticos (ansiedade fóbica e episódio depressivo) ou um só (ansiedade fóbica ou episódio depressivo), é preciso levar em conta a ordem de ocorrência dos transtornos e as medidas terapêuticas que são consideradas no momento do exame.
– TRANSTORNO OBSSESSIVO COMPULSIVO – TOC
Transtorno caracterizado essencialmente por idéias obsessivas ou por comportamentos compulsivos recorrentes. As idéias obsessivas são pensamentos, representações ou impulsos, que se intrometem na consciência do sujeito de modo repetitivo e estereotipado. Em regra geral, elas perturbam muito o sujeito, o qual tenta, freqüentemente resistir-lhes, mas sem sucesso. O sujeito reconhece, entretanto, que se trata de seus próprios pensamentos, mas estranhos à sua vontade e em geral desprazeirosos. Os comportamentos e os rituais compulsivos são atividades estereotipadas repetitivas. O sujeito não tira prazer direto algum da realização destes atos os quais, por outro lado,
não levam à realização de tarefas úteis por si mesmas. O comportamento compulsivo tem por finalidade prevenir algum evento objetivamente improvável, freqüentemente implicando dano ao sujeito ou causado por ele, que ele(a) teme que possa ocorrer. O sujeito reconhece habitualmente o absurdo e a inutilidade de seu comportamento e faz esforços repetidos para resistir-lhes. O transtorno se acompanha quase sempre de ansiedade. Esta ansiedade se agrava quando o sujeito tenta resistir à sua atividade compulsiva.
– REAÇÕES AO ESTRESSE GRAVE E TRANSTORNOS DE ADAPTAÇÃO
Esta categoria difere das outras na medida que sua definição não repousa exclusivamente sobre a sintomatologia e a evolução, mas igualmente sobre a existência de um ou outro dos dois fatores causais seguintes: um acontecimento particularmente estressante desencadeia uma reação de “stress” aguda, ou uma alteração particularmente marcante na vida do sujeito, que comporta conseqüências desagradáveis e duradouras e levam a um transtorno de adaptação. Embora fatores de “stress” psicossociais (“life events”) relativamente pouco graves possam precipitar a ocorrência de um grande número de transtornos classificados em outra parte neste capítulo ou influenciar-lhes o quadro clínico, nem sempre é possível atribuir-lhes um papel etiológico, quanto mais que é necessário levar em consideração fatores de vulnerabilidade, freqüentemente idiossincráticos, próprios de cada indivíduo; em outros termos, estes fatores não são nem necessários nem suficientes para explicar a ocorrência e a natureza do transtorno observado. Em contraste, para os transtornos reunidos aqui sob F43, admite-se que sua ocorrência é sempre a conseqüência direta de um “stress” agudo importante ou de um traumatismo persistente. O acontecimento estressante ou as circunstâncias penosas persistentes constituem o fator causal primário e essencial, na ausência do qual o transtorno não teria ocorrido. Os transtornos reunidos neste capítulo podem assim ser considerados como respostas inadaptadas a um “stress” grave ou persistente, na medida em que eles interferem com mecanismos adaptativos eficazes e entravam assim o funcionamento social.
– TRANSTORNO DE PÂNICO (ANSIEDADE PAROXÍSTICA EPISÓDICA)
A característica essencial deste transtorno são os ataques recorrentes de uma ansiedade grave (ataques de pânico), que não ocorrem exclusivamente numa situação ou em circunstâncias determinadas mas de fato são imprevisíveis. Como em outros transtornos ansiosos, os sintomas essenciais comportam a ocorrência brutal de palpitação e dores torácicas, sensações de asfixia, tonturas e sentimentos de irrealidade (despersonalização ou desrrealização). Existe, além disso, freqüentemente um medo secundário de morrer, de perder o autocontrole ou de ficar louco. Não se deve fazer um diagnóstico principal de transtorno de pânico quando o sujeito apresenta um transtorno depressivo no momento da ocorrência de um ataque de pânico, uma vez que os ataques de pânico são provavelmente secundários à depressão neste caso.
ESQUIZOFRENIA
Os transtornos esquizofrênicos se caracterizam em geral por distorções fundamentais e características do pensamento e da percepção, e por afetos inapropriados ou embotados. Usualmente mantém-se clara a consciência e a capacidade intelectual, embora certos déficits cognitivos possam evoluir no curso do tempo. Os fenômenos psicopatológicos mais importantes incluem o eco do pensamento, a imposição ou o roubo do pensamento, a divulgação do pensamento, a percepção delirante, idéias delirantes de controle, de influência ou de passividade, vozes alucinatórias que comentam ou discutem com o paciente na terceira pessoa, transtornos do pensamento e sintomas negativos.
RETARDO MENTAL
Parada do desenvolvimento ou desenvolvimento incompleto do funcionamento intelectual, caracterizados essencialmente por um comprometimento, durante o período de desenvolvimento, das faculdades que determinam o nível global de inteligência, isto é, das funções cognitivas, de linguagem, da motricidade e do comportamento social. O retardo mental pode acompanhar um outro transtorno mental ou físico, ou ocorrer de modo independentemente.