O Apóstolo desconhecido – palestra 25.9.19
O APÓSTOLO DESCONHECIDO
Estudo CELC – 25.09.19 – Jane
Durante o estudo dos Evangelhos, deixado pelos apóstolos encontramos figuras anônimas, mas participativas, como a mulher samaritana, o moço rico, o filho pródigo, os amigos que auxiliaram o paralítico a descer pelo telhado, entre outros. Dentre essas figuras anônimas um nos despertou maior interesse, pois praticava os ensinamentos de Jesus em segredo; como consta no evangelho de Marcos Cap. 9:38 a 40:
Disse-lhe João: “Mestre, vimos alguém, que não nos segue, expulsar demônios em teu nome; e lho proibimos. Jesus porém, disse-lhe: – Não lho proibais, porque não há ninguém que faça um prodígio em meu nome, e que em seguida possa dizer mal de mim.”
“Porque quem não é contra nós é a nosso favor.” … (Grifo nosso)
E a partir do trecho estudado buscamos desenvolver o estudo dentro da doutrina Espírita, sempre procurando pesquisar a identidade do apóstolo desconhecido.
Assim, primeiramente encontramos muito material nos Livros de Theodomiro Rossini, intitulado como “O Apóstolo Desconhecido” I e II, logo depois mais informações no Livro Ressurreição e Vida de Yvonne do Amaral Pereira, no Cap. “O Discípulo Anônimo” e ainda outros fragmentos como no Livro Pão Nosso, de Chico Xavier entre outros que aqui citaremos no decorrer do estudo, para que cada um possa retirar suas próprias conclusões.
No Cap. CONVIVÊNCIA E AMIZADE” Rossini descreve que o apóstolo desconhecido foi amicíssimo de Jesus desde a infância, mas preferia o anonimato… “Não seguia com os demais apóstolos; era assim como que desvinculado do grupo, mas participava do novo movimento com tanto ardor como os demais apóstolos. Nascera em Belém, na Judéia. Seus pais moravam na cidade, mas suas atividades eram campestres.
No ano 2 depois da era cristã, mudaram-se para Nazaré, na Galiléia, justamente no ano em que a sagrada família ali se fixara…” Cresceram próximos porque seus pais estudavam as escrituras e viram no menino o Messias prometido.
Segundo Rossini… Jesus adorava a presença do amigo, por ser afável, dedicado e acima de tudo, amoroso. Caráter forte e firme, sem ser austero, nem sisudo. Adorava tudo que era belo e divino. O que mais os distraia era A contemplação do céu à noite e as belezas naturais dos montes, vales e planícies. Rossini narra que sempre saíam juntos …
No capítulo JESUS ENTRE OS ESSÊNIOS, o autor narra a iniciação do apóstolo desconhecido junto a ordem, que Jesus conheceu quando tinha 12 anos (Lu cap.2:41 a 50), em Jerusalém e ficou 3 dias com os doutores do templo, sem José e Maria, que seguiram com a caravana. O espírito explica que a organização era a que mais se aproximava das verdades eternas… Mas Jesus conta a ele que nunca foi aluno de nenhum mestre essênio, mas sim Irmão e Mestre desde o começo na ordem. Ensina sobre o papel de cada apóstolo e ressalta que ele deveria se manter desconhecido até futuras ordens.
No capítulo O APÓSTOLO DESCONHECIDO EM AÇÃO, o autor informa que Jesus designou-o como um “Secretário Particular”, a fim de colaborar em seu ministério, de modo mais discreto possível e que não deveria revelar a ninguém, sua ligação com Jesus. O apóstolo desconhecido costumava aproximar de Jesus e alguns poucos intelectuais. Como tivera uma discussão com Nicodemos que também já era Mestre entre os essênios, convidou-o a se encontrar com Jesus e fazer as mesmas perguntas ao Mestre dos Mestres. Como Nicodemos aceitara o desafio, combinou-se que o mesmo procuraria o Senhor logo mais à noite, sem que os outros tomassem conhecimento do encontro, como foi registrado em João cap. 3.
No capítulo “EM CESARÉIA”, o autor narra que Jesus ao chegar na entrada da cidade encontra um velho muito extrovertido chamado Amplíato (citado em Rom. 16;8) que se dirigiu ao grupo bendizendo ao Senhor e já os convidando para se hospedarem em sua humilde cabana. Com essa atitude Jesus inteirou-se de que se tratava da ação do Apóstolo Desconhecido. E por contato telepático, como transmissão de pensamento, que muito usava com seus discípulos, vai até ele em meio a noite, que se encontrava instalado na saída da cidade e lhe orienta a pregar o Evangelho do Reino, despertar consciências adormecidas e curar enfermos, expulsando espíritos malignos, mas mantendo contato telepático constante com Ele, a fim de se proteger contra as investidas das trevas….
Já nos últimos capítulos do 2º livro, Rossini comenta sobre as orientações que Jesus lhe dá quanto o caminho de Gólgota. E lhe determina que fosse para junto de Rufo e Alexandre, seus filhos, e à tardinha, quando visse que Ele caminhava, carregando sua cruz, que ele viesse em sentido contrário, para dar, impressão de que estava voltando do campo. E dessa maneira os guardas que lhe conheciam, ordenariam que ele conduzisse a cruz pra Jesus por um trecho. E assim o apóstolo procedeu como descreve: …” DA janela da casa de Rufo e Alexandre, acompanhei todo o movimento sádico da população sediciosa. LER Jo cap. 18:15 a 18
Na hora e local determinados pelo Mártir do Gólgota saí ao seu encontro.
Eis como o episódio está registrado no Evangelho de Marcos: E obrigaram a Simão Cirineu que passava, vindo do campo, pai de Alexandre e Rufo, a carregar-lhe a Cruz”. (Grifo nosso)
Agora o prezado leitor já sabe quem fui…
Sou aquele homem que doutrinava um espírito em nome de Jesus, mas João que não me conhecia, supôs que poderia me proibir de fazer o bem, coisa que o Senhor me havia autorizado; sou aquele que intercedeu junto a Zedequias, no sentido de tomar como empréstimo, um jumentinho para o senhor entrar em Jerusalém; sou o rapaz que tinha cinco pães de cevada e dois peixinhos, com os quais Jesus alimentou quase mil pessoas; sou o tal homem que emprestou a casa (Cenáculo) para que o Senhor e seus discípulos comessem a última Páscoa…
Agora todos já sabem que fui “Simão Cirineu”, cujo nome completo é SIMÃO BARNEIFF…
O apóstolo também narra ser o que acompanhava Cléopas na estrada de Emaús quando Jesus lhes apareceu.
No entanto Emmanuel, pela psicografia de Chico Xavier, no livro Pão Nosso, nos esclarece no capítulo 103: Cruz e disciplina
… E constrangeram um certo Simão Cireneu, pai de Alexandre e de Rufo, que por ali passava, vindo do campo, a que levasse a cruz. – (Marcos, 15:21.)
… Vários discípulos tecem comentários extensos, em derredor da cruz do Senhor, e costumam examinar com particularidades teóricas os madeiros imaginários que trazem consigo.
Entretanto, somente haverá tomado a cruz de redenção que lhe compete aquele que já alcançou o poder de negar a si mesmo, de modo a seguir nos passos do Divino Mestre.
Muita gente confunde disciplina com iluminação espiritual. Apenas depois de havermos concordado com o jugo suave de Jesus-Cristo, podemos alçar aos ombros a cruz que nos dotará de asas espirituais para a vida eterna.
Contra os argumentos, quase sempre ociosos, dos que ainda não compreenderam a sublimidade da cruz, vejamos o exemplo do Cireneu, nos momentos culminantes do Salvador. A cruz do Cristo foi a mais bela do mundo, no entanto, o homem que o ajuda não o faz por vontade própria e, sim, atendendo a requisição irresistível. E, ainda hoje, a maioria dos homens aceita as obrigações inerentes ao próprio dever, porque a isso é constrangida. (Grifo nosso)
TRAÇO DO CIRINEU
Aqui o espírito de Maria Dolores, sob a forma de poema, e psicografia do médium Chico Xavier, publicado no livro A Vida Conta, mostra outra história sobre Simão Cirineu.
O Senhor carregava a cruz dificilmente…
A sentença cruel, afinal se cumpria.
Liberto Barrabás, Jesus no mesmo dia,
Era levado à morte, ante a ironia
Do fanatismo deprimente.
Brados, altercações, zombaria, algazarra…
O Excelso Benfeitor, no lenho a que se agarra,
Curva-se de fadiga, arrasta-se, tressua,
Escutando em silêncio os palavrões da rua.
O cortejo prossegue… O Cristo, passo em passo,
Por um momento só, exânime, fraqueja:
Ajoelha-se e cai vencido de cansaço.
O povo exige a marcha, excede-se, pragueja…
Nisso, um campônio vem da gleba com que lida.
É Simão de Cirene, homem simples e forte,
Um meirinho lhe pede apoio na subida,
Deve prestar auxílio ao condenado à morte…
-“Como, senhor? Não posso!…”_ exclama o interpelado,
“Tenho pressa!…” No entanto, o funcionário insano
Grita-lhe em rosto; “-Cão, obedece ao chamado!”
E mostra-lhe o rebenque a gesto desumano…
Calado, o lavrador atende e silencia,
Toma parte da cruz sobre o ombro robusto,
Fita o Mestre cansado, o suor que o cobria…
A turba escala o monte e alcança o topo a custo.
Contemplando Jesus, por fim, deposto o lenho,
Diz-lhe Simão:-“Senhor, achava-me apressado…
a filha cega e muda é o tesouro que eu tenho,
Não queria ferir-te o peito atribulado.
Perdoa, se aleguei a urgência em que me via…
É o coração de pai que falava a chorar…
Sei que estás inocente, ampara-me, alivia
A dor que me avassala e me atormenta o lar…”
Jesus endereçou-lhe um aceno de ternura,
Em meio à multidão, apupado, sozinho
E acentuou: -“Simão, guarda a fé que te apura,
Todo o Bem que se faz é uma luz no caminho.”
O Cirineu, de volta, acha a enorme surpresa…
Fala-lhe a filha: -“oh, pai, uma luz veio a mim,
Agora vejo e falo, acabou-se a tristeza,
Tenho a impressão que a Terra, é um formoso jardim!…”
Simão chora, lembrando a cruz que traz na mente
E reconhece o Bem por divino troféu,
Que mesmo praticado involuntariamente
É uma força atraindo a intercessão do Céu!…
Simão, o Cireneu – a cruz em nossas vidas
O Espírito Amélia Rodrigues, na obra “Quando Voltar a Primavera”, psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, esclarece que Simão havia nascido em Cirene, província romana a partir de 67 a.C., e vinha do campo, passando a acompanhar a sinistra procissão que conduzia Jesus à crucificação.
QUANDO VOLTAR A PRIMAVERA – AMÉLIA RODRIGUES – DIVALDO
SIMÃO, O CIRINEU
Trecho
… Cirenaica, o antigo reino, fora colonizado pelos gregos, que fundaram Cirene. Posteriormente, sob a dinastia que tivera origem com Bato, de Tera, progrediu, nascendo outras cidades. Depois da desencarnação de Alexandre, o Grande, caiu em mãos dos Ptolomeus que passaram a chamá-la Pentápolis, em razão das cinco cidades que a formavam: Arsinoé, Berenice, Ptolomaide, Apolônia e Cirene. EX: ATOS 2:10
No ano 67 a. C, passou à Província romana. São de Cirene: Aristipo, Calímaco, Eratóstenes…
Cirene, sua capital, passaria à narração evangélica graças a Simão, ali nascido, judeu de família grega que se encontrava acompanhando a sinistra procissão pelas vias estreitas de Jerusalém, naquele dia.
Aquele homem de olhar triste fascinou-o.
A pesada cruz, com quase setenta quilos, a dilacerar os ombros e as mãos do condenado, que cambaleia, comove-o.
A noite de vigília demorada, as viagens entre Anaz e Caifaz, o Pretório exauriram o Filho de Deus.
O centurião fustigava o preso, a fim de que não desfalecesse. A penalidade deveria ser cumprida.
Enfurecido, experimenta o soldado um misto de piedade e dever, ferido pelo amor do prisioneiro pacífico e escravo, serviçal pela paixão a César. No tormento que o vence, deseja diminuir a carga que ameaça esmagá-l0. Perpassa o olhar injetado pelas filas de mudos espectadores e chama o homem de Cirene.
O convocado não reage. Parece até que se rejubila interiormente. Submisso curva-se, oferece o ombro e auxilia o estranho.
A cruz se ergue mais leve. Jesus dirige-lhe um olhar de profundo amor.
Lampeja um lucilar de ternura e de gratidão que penetra o benfeitor inesperado e fá-lo tremer de emoção desconhecida.. .
Pai de dois jovens, Rufo e Alexandre, pensa nos filhos e apiada-se dos pais do condenado, umedecendo os olhos.
Estranha voz balbucia no seu coração uma cantilena de esperança. ..
Tem a impressão de que o Homem lhe devassa o pensamento e responde às inquirições que lhe brotam na alma, espontâneas.
As lágrimas se misturam ao suor que molha o rosto queimado, coberto de pó.
Viera do campo, sendo surpreendido pela alucinação da intolerância e do ódio.
Claro, que ouvira falar de Jesus. Conhecia-o, admirava-o à distância. Agora, porém, O amava.
O amor é um sentimento veloz. Toma do coração e reina absoluto. Dar-lhe-ia a vida se fosse necessário — pensou.
Nesse momento, a comitiva torva chegava ao topo do monte. O crime deveria ser consumado antes do cair do dia, quando se iniciava o sábado, reservado ao repouso, ao esconder-se o Sol. . .
Viu-o ser preso ao madeiro.
A patética do martelo nos pregos repercutiria nos seus ouvidos por muito tempo. ..
O som metálico e as contrações musculares do Submisso dilaceraram-no, também. Os semblantes suarentos dos crucificadores e os olhares de lince, a agonia e o sangue a fluir abundante, eram a moldura vergonhosa que contrastava com a nobre serenidade dEle.
Quando as cordas O arrastaram nas traves, Ele oscilou no ar. O corpo arriou, rasgado. A linha vertical tombou no fundo da grota calcada por pedras que a impediam de cair. Culminava a injustiça criminosa dos homens que se arrastariam por milênios futuros, tentando repará-la.
Permitiu-se ficar a contemplá-lo…
Percebeu as mulheres que choravam e participou, intimamente, daquela dor honesta e corajosa.
Era, sim, o estoicismo feminino que se Lhe fazia solidário, quando todos O abandonaram. . .
Quedou-se ali, petrificado, a meditar até o Seu último hausto.
Jamais O esqueceria.
Volveu ao lar e penetrou-se do Espírito de Jesus.
Buscou mais tarde os Seus discípulos, ouviu-lhes as narrativas tardias e luminosas, passando a segui-los e fazendo que seus filhos se convertessem àquele incomparável amor. . .
Simão, o cireneu, é o testemunho da solidariedade que o mundo nos solicita até hoje.
Símbolo e ação de bondade, imortaliza-se e liberta-se da timidez, da escravidão a que se jugula crescendo no rumo do Infinito.
Quinhentos metros eram a distância a percorrer entre o local do julgamento arbitrário e o cume do monte da Caveira. . .
Em curta distância, a impiedade e a zombaria são grandes. Também o testemunho da solidariedade fraternal fez-se enorme.
Todos encontraremos pelo caminho da aflição os cireneus em nome e honra de Jesus. A nosso turno devemos tornar-nos novos homens de Cirene a ajudar os que passam sobrecarregados aguardando, esperando socorro. Amélia Rodrigues
A cruz será o testemunho diário que confirma a fidelidade a Jesus.
Léon Tolstoi, por Yvonne Pereira, também nos conta a história do O DISCÍPULO ANÔNIMO ou O Moço do Manto Marrom, no Livro Ressurreição e Vida, e inicia o capítulo com o mesmo trecho de Marcos 9:36 a 39.
Meditação sobre o versículo 37 do capítulo 9 de São Marcos: – “Se ele lançava demônios, em nome de Jesus, era virtuoso, porque a virtude é o primordial poder para se expulsarem demônios.” NOTA: Entendamos por demônios Espíritos desencarnados de ordem inferior, ou obsessores.
E se os expulsava em nome de Jesus era porque amava Jesus. E se amava Jesus era porque seguia seus ensinamentos. E se seguia seus ensinamentos, necessariamente os ouvia do próprio Jesus, perdido no anonimato das turbas, sem ser notado por ninguém, como certamente sucederia a muitos outros simpatizantes do Senhor, que deram até a própria vida por seu nome e sua Doutrina, mas cujos nomes a posteridade não logrou conhecer.”
“Há, porém, ainda muitas outras cousas que fez Jesus. Se todas elas fossem relatadas uma por uma, creio eu que nem no mundo todo caberiam os livros que seriam escritos.” (João, 21:25)
Moreno, de olhos cinzentos e sonhadores, cabelos negros e abundantes que iam até à altura do pescoço, barba pequena, negra como a cabeleira, sempre tratada e limpa, vestia uma túnica de algodão azul escuro, alpercatas gregas e um manto marrom.
A tiracolo trazia, de um lado, um saco de couro de carneiro onde guardava, envoltos em retalhos de linho muito alvo, dois roletes de madeira, espécie de carretéis, um deles sempre suprido com papiros, utilizados para a escrita pelos intelectuais da época, conforme o uso grego; estiletes, sais coloridos e uma espécie de flauta, um pífano. Do outro lado, em outro saco trazia um alaúde.
Ele era visto sempre sozinho. Jamais falava, e difícil seria dizer de sua nacionalidade. Poderia ser egípcio, não fosse a cor dos olhos. Talvez fosse mesmo grego, dadas as particularidades dos apetrechos para a escrita.
Era pensativo, sonhador, observador, discreto, equilibrado, eis tudo!
… Não lhe conheciam sequer o nome. Mas parecia estrangeiro, porque, sendo a sua tez de uma cor morena muito suave, os olhos mostravam um belo tom azul-cinzento de agradável contraste. E ninguém ligava importância à sua pessoa, justamente por suspeitá-lo estrangeiro….
O que o mesmo observador saberia com certeza era que ele procurava sempre esgueirar-se por entre a massa de povo para se aproximar de Jesus. Parecia um apaixonado do manso “Rabboni”…
Seguindo Jesus, o moço do manto marrom procurava se sentar, no chão, ou em um banco improvisado com uma pedra, ou na soleira de uma porta e punha-se a escrever o que ouvia.
À noite, na pensão modesta a que se recolhesse ou no celeiro de alguma casa particular, ele desenrolava os papiros e, à luz de uma candeia de azeite, tudo relia. Estudava mesmo, até alta madrugada, fazendo anotações, comentários em outros retalhos de papiros ou peles de ovelhas, colecionando tudo caprichosamente. É como se, em sua mente, já se estivesse delineando algo que surgiria bem mais tarde, o livro.
Muito erudito, escrevia em grego, aramaico ou latim, e por vezes, compunha versos, acerca do que ouvira e vira, pois mais de uma vez presenciou as extraordinárias curas realizadas pelo Meigo Rabi. Ele estava presente, quando o chefe da sinagoga de Cafarnaum procurou Jesus, suplicando-lhe ir à sua casa, pois sua filha, menina de doze anos, estava presa de febre violenta. (MT 9:18, Mc 5:21, Lu 8:40)
Assistiu, assim, à cura da mulher portadora de terríveis hemorragias. Jesus, então empurrado daqui e dali, aproximou-se tanto do jovem, que nessa oportunidade, seu manto lhe roçou o rosto. Emocionado, o moço tomou da ponta do manto e ali depositou um ósculo de veneração.
O Nazareno voltou-Se, fitou-o em silêncio e pousou, por um único instante, Sua mão sobre a cabeça do moço, abençoando-o. Os dois olhares se cruzaram. Nenhuma palavra foi pronunciada.
Logo mais, o alarido festivo anunciava que a filha de Jairo estava curada. Ali mesmo, o jovem retirou o tubo de estiletes, os carretéis com os papiros, os sais coloridos e escreveu sobre o que presenciara.
Alguns dias depois, estando em uma praça aguardando a vinda de Jesus, o moço começou a observar a quase multidão que também ali esperava. Por onde andariam Jesus e os Apóstolos?
Possivelmente em outra localidade, esparzindo bênçãos. Mas ali, os doentes começaram a ficar impacientes. Havia gemidos de um lado, queixas de outro.
Finalmente, em torno do meio-dia, tomado de profunda compaixão, o moço se levantou da sombra da videira, onde estava assentado, desde o alvorecer, e aproximou-se de um daqueles endemoninhados em convulsão. Colocou sua mão sobre a cabeça do pobre homem e exclamou:
Em nome de Jesus Nazareno, o Filho de Deus vivo, retira-te deste homem e vai em paz!
O doente ainda rolou pelo chão, gritou roucamente. Finalmente, surpreso, parecendo acordar de um pesadelo, se ergueu, um tanto envergonhado, limpou a poeira da túnica e se foi. Estava curado.
O restante daquele dia foi dedicado todo a curas de obsedados. Parecia ser a especialidade daquele moço. Nos dias seguintes, ele continuou. Foi então que João, em presenciando a sua tarefa, lhe proíbe de continuar, visto não pertencer ao grupo de Jesus, não ser um dos Apóstolos.
Estranhamente, não demorou muito a que o mesmo João retornasse a ele, desculpando-se humildemente e participando-lhe que continuasse no seu ministério. O próprio Mestre, informou, o autorizava , mesmo não gozando ele da intimidade dos verdadeiros discípulos, pois reconhecia nele um amigo digno de confiança…1
Vieram depois os dias tristes da prisão e crucificação de Jesus. Sete dias se tinham passado. O jovem acabara de escrever sobre as notícias da ressurreição tão falada. Cansado de escrever, de ler e de chorar, adormeceu e sonhou.
Sonhou que Jesus o visitava em seu pobre albergue, radioso, e lhe pedia que tratasse de curar também as almas, não somente os corpos, eis que essas são eternas.
Assim, o moço do manto marrom passou a atrair crianças e jovens para perto de si, através da música. Tocava melodias doces em sua flauta e, quando se via rodeado, dizia que se sentassem, porque ele tinha histórias muito lindas para contar. Histórias de um Príncipe que descera dos Céus.
E ele narrava o que vira e ouvira. Depois declamava ou cantava seus versos, que falavam das verdades eternas, revelando-se emérito professor e educador.
Durante o dia trabalhava remendando mantos e túnicas, carregando água e cestos de compras, levando camelos e cavalos de estrangeiros a beberem e para serem lavados. Pela manhã e ao cair do crepúsculo, dava suas aulas.
Aos discípulos interessados presenteava uma cópia das suas anotações sobre o Nazareno e Sua Boa Nova.
Quando reconhecia que seus ouvintes haviam assimilado as lições, partia para outras terras. Na sua velhice, foi visto na cidade dos Césares, ainda de olhos sonhadores, tocando velhas melodias em seu pífano, ou recitando e cantando lindos poemas ao som de seu alaúde. Poemas que falavam de um Príncipe que abandonara temporariamente as estrelas para ensinar aos homens a Lei de Amor.
Nunca ninguém lhe registrou o nome. Na juventude, chamavam-no Moço. Na velhice, Avozinho.
Personagem grandiosa, trabalhador da Seara de Jesus, a ele se refere o Evangelho com rapidez. No entanto, seu nome está escrito no Livro dos Céus, pelo desempenho da grande tarefa: amar a Deus, ao próximo e ao Evangelho do Mestre de Nazaré.
Na Revista Reformador de Agosto de 2013
O trabalho anônimo – O discípulo anônimo do manto marrom não buscava o aplauso ou sequer exigia integrar o grupo que de mais perto acompanhava Jesus. Bastava-lhe saber que o Mestre nele confiava. Assim devem ser os tarefeiros da evangelização: trabalhadores anônimos que não buscam o “destaque”, mas que realizam, silenciosamente, o serviço que o Pastor sublime lhes confiou. (Sueli Borba Pereira)
Trecho/ Há 2000 anos…Emmanuel
É que, detrás daquelas púrpuras suntuosas e além daqueles risos estridentes e impropérios sinistros, estava uma legião de mensageiros celestes fortalecendo as energias espirituais dos que iam sucumbir de morte infamante, para regar a semente do Cristianismo com as suas lágrimas fecundas. Uma estrada luminosa, invisível aos olhos mortais, abrira-se nas claridades do firmamento e, por ela, descia todo um exército de arcanjos do Divino Mestre, para aureolar com as bênçãos da sua glória os valorosos trabalhadores da sua causa. Sob os aplausos delirantes e ensurdecedores da turba numerosa, soltaram-se os leões famintos, para a espantosa cena de impiedade, de pavor e sangue, mas nenhum dos apóstolos desconhecidos, que iam morrer no depravado festim de Nero, sentiu as torturas angustiosas de tão horrenda morte, porque o brando anestésico das potências divinas lhes balsamizou o coração dorido e dilacerado no tormentoso momento.
(Grifo nosso)
No livro A convite do Pai, psicografado por Oneida Terra, no capítulo “O Tanque de Betesda”, o espírito de irmã Virgínia expõe sobre esta passagem do evangelho de Jo 5:2 a 10. Narra com mais detalhes sobre a cura desse homem que por 38 anos ficou aguardando alguém que o conduzisse até o tanque, quando lá vinha um anjo do Senhor e agitava as águas, e curava os doentes que lá se banhavam. …” Ignorava aquele homem que a bondade celeste se cumpria na justiça que o conduzira a ressarcir débitos antigos.”
Até que …”Certa noite forte torpor o prostara de todo. Tentara resistir, não se entregar, mas fora inútil. Em meio a estranhas sensações, percebera alguém que se aproximava com semblante feliz convidando-o a caminhar.
… Quase sem perceber o que se passava, reconhecera-se lado a lado com Jesus. Estranha emoção o invadira e, penetrado por seu olhar firme e afável, começara a caminhar. Após alguns passos, estendendo o olhar, percebera que um pequeno reino se descortinava à sua visão. Apesar do inusitado do momento, sentira profundas ligações com a panorâmica que se compusera a seus olhos.
Homens e mulheres, em expressões de amargura, na ausência de fraternidade e de respeito, sob o domínio do desamor. Parecia-lhe que inibira as esperanças, matara os ideais e instigara, nesses homens e mulheres, a obediência cega.
Sob sua direção os outros não tinham o direito de seguir conquistando o que desejavam … Seres atados ao seu poder insano, escravizados para que ele pudesse viver desfrutando do supérfluo, em exageros sem conta.
A presença de Jesus levava-o a reconsiderar suas atitudes.
Tocava-o fortíssima sensação de que Ele sempre o conhecera, bastando seu olhar firme e determinado para fazê-lo rever-se interiormente.
Longo silêncio o envolvia, dando-lhe a exata percepção de que não mais retornaria aos caminhos tormentosos da maldade. E como névoa que se afastava, Jesus começara a desaparecer, … intentou seguí-lo, para perceber, tristonho que lhe voltava a paralisia.
… Nunca uma noite lhe parecera tão longa e amarga, tão abençoada e feliz…
Aquele dia jamais seria esquecido pelo paralítico de Betesda. O calendário assinalaria sua libertação…
Era um sábado e Jesus seguia para lá no mesmo dia. E logo, pode se deparar com a presença do Mestre ali próximo. O paralítico em lágrimas identificou o Mestre que o visitara à noite. Tentou gritar, mas não conseguiu de tamanha emoção, mas Jesus que já o conhecia e sabendo de sua dor, vai até ele e lhe pergunta: – Queres ficar são? Os olhos permaneceram fixos n’Ele Nenhuma palavra, impossíveis os gestos. – Levante-te ,toma tua cama e anda…
Estranho magnetismo o envolvera e ele caminhou até o Mestre.
Os olhares se integraram. Um agradecimento mudo transbordava de seu coração. Jesus era complacente alegria…
O ex-paralítico se distraiu com as sensações da cura que havia acabado de receber do Mestre e quando se voltou novamente a Jesus, Ele havia partido. Sentira-se sem saber o que fazer ou para onde ir porque… Percebera que a velhice se aproximara sem que ele a visse chegar…
A parentela não o queria mais ver… Foi quando se dirigiu-se às cercanias do templo. As horas passavam célebres. Resolveu entrar para uma oração. Curvou-se em longa meditação e contrito permaneceu a conversar com as Forças Superiores. Respeitosamente, com calma, reabriu os olhos e deparou-se com Jesus.
O curado encaminhou-se para Ele. Inusitada felicidade explodiu-se no íntimo, chamando a atenção dos presentes que O ouviam.
O Senhor voltou-se, convidando-o a trabalhar.
O acaso deitou os seus raios esmaecentes e o Divino Amigo voltou a percorrer as estradas ásperas do mundo. Como um dos discípulos, o ex-paralítico irmanou-se aos demais do Colégio Renovador.
OBS: No Consolador Q. 316 – Aceitando Jesus o auxílio de Simão, o Cirineu, desejava deixar um novo ensinamento às criaturas?
– Essa passagem evangélica encerra o ensinamento do Cristo, concernente à necessidade de cooperação fraternal entre os homens, em todos os trâmites da vida.
920 do L. E: O homem pode desfrutar sobre a Terra, de uma felicidade completa?
R: Não, visto que a vida lhe foi dada como prova e expiação. Mas depende dele amenizar seus males e ser tão feliz quanto pode ser sobre a Terra.
Conclusão do Estudo:
Podemos observar pelo estudo, que nos livros de Theodomiro Rossini o Apóstolo Desconhecido, revelado como sendo Simão Cirineu, foi um espírito preparado e orientado na ordem dos essênios (Teoria espiritual e intelectual da época) e pelo próprio Cristo, para que recebesse os ensinamentos e pudesse contribuir secretamente para o efetivo cumprimento das escrituras, como também no momento do caminho de Gólgota, pudesse auxiliar Jesus e nos deixar mais este ensinamento.
Maria Dolores em seu poema nos informa mais detalhes de Simão Cirineu, este sendo pai de uma filha cega e muda e por isso relutou ao chamado do soldado, mas cumpriu seu dever e recebeu de Jesus mesmo nas horas finais a cura de sua filha, quando retorna ao lar. Amélia Rodrigues contribui com detalhes sobre Simão Cirineu, confirmando seu nascimento em Cirene (cidade ao Norte da África), e ressalta que Simão pai de Alexandre e de Rufo, já tinha ouvido falar de Jesus e que O admirava à distância. Já Ivone Pereira nos mostra outro perfil de um apóstolo desconhecido: O observador. Aquele que acompanhava Jesus de longe, aprendendo a cada dia com seus ensinamentos sem ao menos lhe dirigir uma única palavra. Este rapaz buscava ao final de cada dia refletir e anotar tudo, como um bom aluno. Até que chegou o momento oportuno de estar com Jesus, em meio à multidão. E bastou Jesus pousar, sua mão sobre a cabeça do moço, sem nenhuma palavra, apenas pela troca de olhares, para despertar a força interior desse discípulo anônimo. Que se tornou em um dedicado trabalhador, curando, expulsando demônios e evangelizando, principalmente crianças e jovens, com auxílio de sua música.
Por isso, concluímos que muitos apóstolos desconhecidos houveram na História do Cristianismo e muitos há, que se dedicam ao trabalho da seara, sempre no anonimato, buscando efetivar o que o próprio Cristo nos ensinou: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura.” (Marcos 16:15).