O Espiritismo e a Medicina um novo paradigma para o milênio
Sérgio Thiesen
Objetivos: Demonstrar que o Espiritismo, uma vez revelado a existência da alma e sua anterioridade à reencarnação, permite localizar a origem de muitas enfermidades em sua complexa estrutura e inaugura diversas modalidades terapêuticas, redirecionando e ampliando os objetivos da Medicina que, até então restrita às manifestações físicas das doenças, conseguirá abarcar toda a realidade do ser e tornar-se progressivamente capaz de alcançar a cura integral e definitiva do Espírito imortal
Introdução: Ora, sucedeu achar-se na sinagoga um homem possuído de um espírito imundo, que exclamou: Que tens tu conosco, Jesus de Nazaré? Vieste para nos perder? Sei quem és: és o santo de Deus. Jesus, em tom de ameaça, disse-lhe: Cala-te e sai desse homem. Logo, o espírito impuro agitando-o em convulsões violentas e soltando um grito estridente, saiu do homem. (Marcos, 1-23-26)
Tendo em vista que o ser humano, na Terra, é antes de tudo um Espírito reencarnado, com seu, perispírito e seu corpo transitório, e como este último tem sido o único objeto da Medicina, faz-se necessário o estudo de suas relações com as enfermidades ou desequilíbrios do Espírito que se manifestam no perispírito e por conseqüência no próprio corpo físico, no decorrer da encarnação.
Apesar de todas as luzes acumuladas em milênios de civilização, até meados do século XIX ainda não surgira uma tentativa racional, embasada em métodos científicos, de estabelecer uma ponte entre a Ciência _ materialista _ e a imaterialidade do Espírito. Em 1857, com o advento da Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec e alicerçada em bases experimentais, foram estabelecidas concepções bastante avançadas a respeito de um universo (ou dimensão) diferente do nosso, mundo palpitante de vida. O trabalho e as investigações de Kardec levaram-nos mais além: possibilitaram o intercâmbio entre nosso mundo e esse outro, com base no fato de que os habitantes de um e de outro são os mesmos homens, diferentes apenas em razão da vestimenta, carnal ou imaterial. Primeira ponte entre dois universos, Kardec possibilitou o estudo e o melhor entendimento do Homem em seu duplo aspecto. Leis foram reveladas, novas concepções nasceram, mistérios foram, decifrados e os ensinamentos evangélicos deixaram a poeira dos altares para se transformarem em filosofia de vida.
O Homem-Espírito eterno, que preexiste ao berço e sobrevive ao túmulo, necessita de mecanismos, diagnósticos e processos terapêuticos que incluam o Espírito, principalmente nos casos em que os males detectados provêm dele, diretamente. Tal como as correntes filosóficas orientais, o espiritismo se embasa em princípios da Palingenesia ou reencarnação _ com o que se explica a Lei da Evolução. Além disso, incorpora em seus ensinamentos a Lei de Causa e efeito ou lei da responsabilidade pessoal, através da qual débitos e desvios morais são registrados ao longo de múltiplas existências, em que também se adquirem os valores positivos imprescindíveis ao aperfeiçoamento de nosso ser imortal.
O espiritismo mostra que a maioria das enfermidades, psíquicas e físicas são do Espírito; exigem, portanto, tratamento espiritual _ com técnicas específicas.
A Terra é considerada planeta-hospital porque, no dizer dos Espíritos, reúne, por planejamento superior, espíritos encarnados e desencarnados (mais de 20 bilhões de seres conscientes), que trazem imperfeições, desarmonias, vícios e enfermidades adquiridas na sua trajetória evolutiva durante milênios em suas peregrinações por diversos orbes.
Justifica-se, pois, toda uma dedicação no sentido de estudar as raízes espirituais dos muitos males que existem nas almas que aqui residem, encarnadas ou não.
Desenvolvimento: Vamos fazer a descrição de casos ou estudos que indicam as conseqüências positivas desta mudança de paradigma.
Estudo 1: Publicado em julho de 1988, na revista Southern Medical Journal, da autoria de Dr. Randolph C. Byrd, um estudo que buscava verificar a importância da prece intercessória e seus efeitos segundo critérios aceitos pela Medicina por sua própria metodologia. Foi realizado numa população de 393 pacientes internados por problemas cardíacos graves numa Unidade Coronariana de São Francisco (Califórnia, EUA), analisando de maneira prospectiva, randomizada e duplo-cega** a evolução comparada de dois grupos semelhantes de pacientes, com diagnósticos de Infarto Agudo do Miocárdio ou Angina Instável. Um dos grupos recebeu a prece intercessória a distância (preces e irradiações, segundo a prática espírita) e o outro não.
Os pacientes do grupo que recebeu o tratamento espiritual apresentaram menos falência cardíaca, necessitaram menos de diuréticos e antibióticos, tiveram menos episódios de pneumonia, tiveram menos episódios de paradas cardíacas e necessitaram menos de respiradores mecânicos artificiais. Estes resultados sugerem, de forma objetiva, o valor da prece em ambiente hospitalar ou mesmo a distância como modalidade terapêutica. Podemos estender estes resultados para outras doenças físicas ou mentais! Pesquisas semelhantes poderão confirmar tais resultados. Este é um exemplo da Ciência Médica incorporando terapêutica típica, de caráter coletivo, de Centros Espíritas. Ressalte-se que estes resultados foram obtidos pela prece realizada por sacerdotes católicos e judeus, solicitados pelo autor da pesquisa.
Estudo 2: Caso do Sr. R.S.: Paciente de 53 anos, engenheiro, apresentou quadro súbito de mal-estar epigástrico me elevação de pressão arterial. Foi constatado Infarto Agudo do Miocárdio de parede anterior do coração. Realizou cineangiocoronariografia, em março de 1996, que revelou lesão obstrutiva coronária crítica, tenso sido submetido à angioplastia para desobstrução. O mesmo exame mostrou uma zona inativa resultante do infarto (necrose miocárdica). O paciente procurou grupo espírita de tratamento, tendo se submetido a três atendimentos, sendo dois a distância. Em novo exame, realizado seis meses após, foi constatada a presença de uma artéria que não estava presente no exame anterior, que nutria a região anteriormente afetada do miocárdio e esta mesma região apresentava recuperação de função contrátil. Estes resultados são surpreendentes, sob o ponto de vista da Cardiologia, já que qualquer área necrosada por infarto não é recuperável, mesmo havendo a revascularização da mesma região. O fenômeno de angiogênese ou formação e desenvolvimento de novas artérias coronárias, se espontâneo, é muito lento e se induzido é motivo ainda de pesquisas de biologia molecular e genética e só será aplicado no futuro pela Medicina tradicional. “Não acredito no que estou vendo”, foi a frase di hemodinamicista que fez os dois exames deste paciente, ao verificar as alterações entre um e outro. Exemplo de manipulação fluídica, efeito físico, com angiogênese desencadeada por entidades espirituais em órgão vital.
Estudo 3: Caso de menino autista, C.H.J.: Paciente com quadro típico de autismo, há dois anos, foi atendido a distância em atividade espiritual, tendo sido constatados dois aspectos: havia um processo obsessivo em que o paciente se encontrava aprisionado, no passado, por entidade que tentava obstaculizar seu processo reencarnatório e seu conseqüente progresso espiritual e rejeição do Espírito da criança aos pais terrenos, antigos algozes, fazendo com que ele se mantivesse mais no mundo espiritual em constante desdobramento. Com apenas uma reunião de tratamento, o obsessor foi doutrinado, e ao Espírito-enfermo foi-lhe mostrada a sua perspectiva de felicidade junto à nova família com apagamento temporário da memória espiritual das desavenças anteriores envolvendo seus pais atuais. Após este único atendimento, o quadro do autismo desapareceu e a criança segue bem até hoje, seis meses após.
Estudo 4: Em reuniões de assistência aos desencarnados comparecem ou são trazidos Espíritos portadores de inúmeras e graves deficiências “física” (perispirituais), quais sejam, aquelas que estes adquiriram em sua última encarnação, vítimas de acidentes, crimes violentos, guerras, incêndios, suicídios, doenças crônicas, abortos, etc. A terapêutica desses desencarnados, com sintomas de dor intensa, angústias acerbas e sinais de amputação de partes do perispírito, orifícios de penetrações de projéteis de arma de fogo, lesões deforman-tes de segmentos corporais conseqüentes a abortos provocados, perda de substância de composição de estruturas ou órgãos nobres, visa à reconstituição das partes lesadas do corpo perispiritual, que é procedida a partir da mentalização, por parte do terapeuta encarnado de estruturas semelhantes íntegras e saudáveis que substituem aquelas outras. Esta modalidade de tratamento pressupõe a veiculação de energia ectoplasmática sutil dos encarnados do grupo em atividade, sua impregnação em matriz mais tênue do perispírito e os efeitos harmonizantes da prece sobre o Espírito enfermo. Tratar os Espíritos, enquanto doentes na erraticidade, por vezes em estado deplorável. Porque não conseguiram espontânea recuperação após a desencarnação, tanto por sua escassa evolução espiritual como em virtude da sua ignorância sobre as coisas do espírito, não só possibilita a cura dos problemas perispirituais que resultam da última experiência reencarnatória, como se evitam patologias físicas nas encarnações futuras destes mesmos Espíritos. Muitas vezes esta reconstituição, pelo alívio e alegria que causa ao ex-enfermo, que se percebe completamente são, serve-lhe de estímulo ao perdão e ao esquecimento dos males que seus algozes lhe infligiram e lhe permite a ascensão para regiões mais elevadas do mundo espiritual, levado pelos bons Espíritos que sustentam esta terapêutica. O Espiritismo faculta, pois, em centros ou Grupos para este fim preparados, a complementação da atividade médica que, em vida, não possibilitou a recuperação integral do ser enfermo, bem como a profilaxia de novos males nas encarnações seguintes do mesmo Espírito. Ressalte-se que a formação pela mente, com as energias de suporte necessárias, de partes do corpo reconstituídas, tem analogia com processo mental semelhante, descrito por André Luiz no livro “Obreiros da Vida Eterna”, no capítulo O Sublime Visitante, quando ele nos descreve o convite para que mentalizassem, ele e outros Espíritos, uma paisagem artificial para o ambiente necessário à materialização de um Espírito muito superior proveniente de outra esfera espiritual.
Estudo 5: Caso de A.L.T.: esta paciente de 41 anos, procurou-nos no ambulatório de Clínica Médica por apresentar dor de cabeça(cefaléia) intensa, universal(por toda a cabeça), diária, há muitos anos. Apresentava-se deprimida, vestia-se de preto, como que de luto, desesperançada, haja vista que todos os exames médicos, incluindo tomografia computadorizada, eram normais, nenhum diagnóstico pode ser feito e seu tratamento era à base de analgésicos potentes e de uso freqüente. Mesmo assim suas dores a impediam de dormir, trabalhar e havia me separado do marido que a abandonara. Como todos os exames mais importantes já haviam sido feitos e, portanto, a Medicina não tinha mais nada a lhe oferecer, sugeri que procurasse atendimento espiritual. A paciente foi atendida por grupo espírita de desobsessão e os médiuns perceberam a presença de uma espécie de capacete em sua cabeça, metálico, com parafusos e fios que ligados a este, em uma de suas extremidades, as outras se deslocavam a grande distância… A se iniciar o atendimento, compareceram duas entidades que se diziam técnicos e que desenvolviam em seu “laboratório” aparelhos de diferente3s tipos e para variadas finalidades e todos com funções constrangedoras, coercitivas, capazes de causar sintomas físicos, alucinações e perda de energia vital de suas vítimas. Após a doutrinação feita por mentor espiritual através de um dos médiuns, os “técnicos” aquiesceram em retirar o capacete em processo quase “cirúrgico”. Meses depois a paciente retornou à consulta e eu não a reconheci. Ela percebeu e disse: O senhor não se lembra de mim? Estava tão diferente, com aparência saudável, alegre, e nos contou que sua dor de cabeça, desde a semana do atendimento, nunca mais lhe surgiu e que sua vida voltara ao normal. Tratava-se , pois de um caso de obsessão complexa, com a presença de “aparelho parasita” colocado no perispírito com ação direta desarmônica sobre o corpo físico. Acerca de aparelhos eletrônicos implantados no sistema nervoso de obsidiados, encontramos no livro “Nos bastidores da Obsessão”, de Manoel Philomeno de Miranda, obra psicografada por Divaldo Pereira Franco (edição FEB, 1972(, à página 159, uma técnica, narrada por um Espírito de regiões trevosas:
Iremos fazer uma implantação _ disse, em tom de inesquecível indiferença o Dr. Teofrastus _ de pequena célula fotoelétrica gravada, de material especial, nos centros da memória do paciente. Operando sutilmente o perispírito, faremos que a nossa voz lhe repita insistentemente a mesma ordem: ‘Você vai enlouquecer! Suicide-se!’Somos obrigados a utilizar os mais avançados recursos, desde que estes nos ajudem a colimar os nossos fins. Este é um dos muitos processos de que nós podemos utilizar em nossas tarefas(…).”
Cabe ressaltar que existem mais de vinte causas de cefaléia descritas pela Medicina, mas, a fisiopatologia de muitas, especialmente as chamadas cefaléias primárias, é desconhecida. Talvez aí, maus uma vez, como no caso em questão, a origem se estabeleça noutra dimensão de vida, e para resolver o problema, necessitamos de um diagnóstico correto e, como se viu, tratamento adequado.
Conclusão: No campo da Medicina, o Espiritismo está destinado a ajudar a Ciência a descobrir e entender que, sendo o ser humano um complexo mento-físico-espiritual, participa da natureza de dois mundos distintos, que, todavia se interpenetram e interagem: o mundo espiritual e o mundo físico. Em conseqüência desta conscientização, compreender-se-á que esses dois mundos, ou planos de vida, estão sujeitos, cada qual, a leis e condições evolutivas específicas, tudo neles se encontrando, desde as expressões mais rudes, até as mais sublimadas. Estaremos lidando com doenças espirituais de conseqüências físicas, com terapêuticas que visem o Espírito e sua matriz perispiritual, além do que já se faz no plano físico pela Medicina do presente. A Medicina espiritualizada, cujo alvorecer já se faz notar, utilizar-se-á da Física das radiações do eletromagnetismo transcendente, da Química dos fluídos, dos poderes anímicos, e de médicos e profissionais de saúde ou terapeutas evangelizados, bem como das forças da Natureza planetária e extra planetária para, como fazia o Médico Divino, interromper o sono catalé4ptico. Libertar possessos e obsidiados, curar paralíticos, cegos e leprosos, devolvera audição aos surdos e a luz da paz aos desesperançados. Na Psiquiatria, o Espiritismo, está fadado a introduzir profunda inovação de conceitos e de métodos, a partir da aceitação científica da ascendência do Espírito sobre os cérebros perispiritual e físico e sobre todo o cosmo orgânico de cada ser humano. Isso e mais o conhecimento objetivo dos processos obsessivos e dos desequilíbrios de natureza mediúnica darão novas dimensões de entendimento e grandeza à psiquiatria, induzindo-a a estudar as repercussões mútuas das lesões físicas, perispirituais, para reformular todas as suas técnicas de diagnósticos e de tratamento.
Através do conhecimento espírita e sua integração com a Medicina, os médicos e terapeutas formados ou em formação pelas Universidades conhecerão e trabalharão o universo causal das enfermidades físicas e mentais, tanto quanto os trabalhadores espíritas, nos centros bem preparados, cada vez mais contribuirão com as ações terapêuticas que visem à recuperação daqueles que lhes batam às portas em busca de alívio ou cura de males.
Sobre a passagem do Evangelho de Marcos, é preciso lembrar, como afirma Kardec, em “A Gênese”, que, naquela época, os hebreus acreditavam na influência dos maus Espíritos na maior parte das enfermidades humanas. Durante muitos séculos, o homem manteve esta crença, mas como não encontrou método ou mecanismo para a detecção e análise sistemáticas dessa participação do invisível nem soube livrar-se da influência dos Espíritos inferiores, porque não reconheceu o valor da necessidade de sua evolução moral e evangelização, do cultivo do perdão e da fraternidade, para que gradativamente os liames dolorosos e os vínculos de sombra se dissipassem, foi buscar no próprio cérebro a causas destes males. Aí só encontrou os efeitos,nas intrincadas redes neuronais e na bioquímica complexa e variada.
E é no próprio Evangelho que ele pode encontrar tanto as evidências da influenciação de criaturas perniciosas sobre os encarnados, chegando ao extremo da subjugação e possessão, como a noção muito claramente estudada pelo Espiritismo, de que os algozes e as vítimas se revezam e se influenciam mutuamente na esteira do tempo e das reencarnações. E como não poderia deixar de ser, de que só a renovação dos sentimentos, a substituição voluntária das viciações em torno do egoísmo pelas virtudes da alma, a partir dos sentimentos, a substituição voluntária das viciações em torno do egoísmo pelas virtudes da alma, a partir do esclarecimento das criaturas sobre seus sofrimentos e suas causas, poderá reverter tão doloroso quadro espiritual de nossa Terra. Quebrar-se-ao enfim, as cadeias fluídicas que nos atrelam uns aos outros, auferindo o Homem-Espírito imortal e redimido o galardão da liberdade e da vitória sobre si mesmo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA:
- KARDEK,Allan. O Livro dos Espíritos. Edição FEB
- Idem, O Livro dos Médiuns. Edição FEB.
- Idem, A gênese. Edição FEB>
- Xavier,F.C. A Caminho da Luz. Emmanuel. Edição FEB.
- FRANCO, Divaldo P. Nos Bastidores da Obsessão, de Manoel Philomeno de Miranda. Edição FEB.
- Xavier,F.C. Obreiros da Vida Eterna. André Luiz, edição FEB
- SANT’ANA, Hernani T. Universo e Vida. Áureo, edição FEB.
- AZEVEDO. José L. Espírito e Matéria, Novos Horizontes para a Medicina, edição Pallotti
*Trabalho apresentado no 2º Congresso Espírita Mundial, em Lisboa, em outubro de 1998
** Os trabalhos de pesquisa em Medicina são realizados com algumas características, para que seus resultados possam ser avaliados. Randomização é a característica que torna as composições do grupo principal em dois grupos-controle semelhantes. Duplo cego significa que, na análise dos resultados, o analista não sabe, de antemão, se o caso pertence ao grupo tratado pela modalidade terapêutica ou ao grupo-controle, que não recebeu o tratamento em questão.
Revista Reformador 03/1999