O Egoísmo – variações sobre tema relevante
Nazareno Tourinho
Estamos suficientemente informados, pelos ensinos doutrinários, a respeito da nocividade do egoísmo, causa maior de nosso atraso moral. Em “O Livro dos Espíritos”, Questão 917, quando Allan Kardec perguntou as entidades superiores responsáveis pela sua obra qual o meio de destruir-se o egoísmo, elas, representadas por Fénelon, iniciaram a resposta por um apontamento realista, nestes termos:
“De todas as imperfeições humanas, o egoísmo é a mais difícil de desenraizar-se porque deriva da influência da matéria, influência de que o homem, ainda muito próximo de sua origem, não pode libertar-se e para cujo entretenimento tudo ocorre: suas leis, sua organização social, sua educação”.
Comentando este e outros esclarecimentos, o Codificador oferta-nos brilhantes considerações relativas ao assunto, as quais deixamos de reproduzir porque o objetivo da presente crônica não é dissertar em torno do egoísmo na forma habitual; como o seu título indica, buscamos algumas variações sobre o tema.
A primeira que nos ocorre é que o egoísmo se expressa em três formas distintas, ou pelo menos sutilmente diferençadas:
– a egolatria ( vaidade)
– o egocentrismo (ambição)
– e o egotismo (orgulho)
A egolatria, segundo o Novo Dicionário Aurélio, é a adoração de si mesmo, bastante comum nos indivíduos vaidosos.
O egocentrismo, consoante o citado Dicionário, é o defeito daquele que refere tudo no próprio eu, tomado como cento de todo o interesse, fato típico dos ambiciosos.
E o egotismo, conforme o LELO UNIVERSAL, é o sentimento exagerado da própria personalidade, seu valor e seus direitos, traço característico dos orgulhosos.
Vemos assim, como o egoísmo tem colorações diversificadas, mascando nossa inferioridade, e seria deveras interessante notarmos como ele se manifesta dentro do Movimento Espírita…
“Kardec teve inteira razão quando demonstrou a imperiosa necessidade de o egoísmo ser atacado, em sua raiz, pela educação que tende a fazer homens de bem”
Todos trabalhamos com denodo, honestidade e devotamento pelo ideal que abraçamos, mas cada um de nós tem seus pontos fracos, neste ou naquele sentido, porque o velho egoísmo não foi completamente superado, em uma ou outra de suas três ou mais expressões.
Às vezes abrimos mão de elogios alimentadora da vaidade, e de deferências agradáveis ao orgulho, porém não de míseros cruzeiros porque a ambição fala alto quando, por exemplo, efetuamos transações financeiras com organizações doutrinárias exigindo vantagens que elas não podem dar, sob pena de comprometerem suas atividades altruísticas.
Inversamente, às vezes assumimos uma postura de mecenas, doando vultuosas somas para iniciativas institucionais meritórias mas reclamando, em contrapartida, reconhecimento, público ou cargo honorífico, porque a vaidade e o orgulho também falam alto.
Como deixar de ouvir tais vozes?…
É aí que entra a sabedoria evangélica, tão desprezada pelo falacioso intelectualismo quando desfigurada pelo tendencioso misticismo. Pois só a firme crença em Deus e o sincero amor ao próximo vivenciado em ações fraternas e generosas serão capazes de nos colocar acima das infantilidades do egoísmo.
Kardec teve inteira razão quando, no comentário a que aludimos linhas atrás, demonstrou a imperiosa necessidade de o egoísmo ser atacado em sua raiz,
“pela educação, não por essa educação que tende a fazer homens instruídos, mas pela que tende a fazer homens de bem”.
Revista Reformador, Maio/1993