O Necessário e o Supérfluo, palestra 10.10.24
O NECESSÁRIO E O SUPÉRFLUO
CELC 30.10.24 – Fernando
PARTE 1 – O DEVER
Iniciamos a palestra compreendendo o conceito de Dever (ou nossas obrigações).
Diante disso no Livro Depois da Morte de Leon Diniz no capítulo 43 O DEVER Diz:
“O dever é o conjunto das prescrições da lei moral, a regra pela qual o homem deve conduzir-se nas relações com seus semelhantes e com o Universo inteiro. Figura nobre e santa, o dever paira acima da Humanidade, inspira os grandes sacrifícios, os puros devotamentos, os grandes entusiasmos. Risonho para uns, temível para outros, inflexível sempre, ergue-se perante nós, apontando a escadaria do progresso, cujos degraus se perdem em alturas incomensuráveis.
O dever não é idêntico para todos; varia segundo nossa condição e saber. Quanto mais nos elevamos tanto mais a nossos olhos ele adquire grandeza, majestade, extensão. Seu culto é sempre agradável ao virtuoso, e a submissão às suas leis é fértil em alegrias íntimas, inigualáveis.”
No livro Evolução para o Terceiro Milênio de Carlos Toledo Rizzini no capítulo 8 Item 22 (Conceito de moral) diz:
Moral é um sistema de princípios e regras que objetivam orientar o uso da liberdade pessoal por meio da distinção entre o bem e o mal, de modo que a conduta não de origem a perturbações que venham a serem causas de sofrimentos futuros. Trata, portanto, do relacionamento da pessoa consigo mesma e dela com os semelhantes, ensinando a evitar conflitos internos (consigo mesma) e externos (com os outros). Na prática, é sinônimo de moralidade em vista da sutileza da distinção.
Esse conceito corresponde ao que se denomina moral pessoa, caracterizada pelo fato de o próprio indivíduo delimitar o seu código de conduta, cujo respeito é questão de consciência. Outro aspecto é representado pela chamada moral social. Conjunto de normas ou regras relativas ao comportamento permitido ou não, aceitas numa época em certa sociedade. Regula implicitamente as relações entre os cidadãos, juntamente com os demais sistemas de orientação e contenção (lei, modo, etc.). O desrespeito, a alguma daquelas regras pode acarretar tácita ou patente reprovação e até repulsa por parte dos demais. A despeito da forte tendência para reagir contra regras, disciplina e autoridades, julga-se que nem mesmo um navio pirata possa funcionar sem as normas coercitivas de um código moral, por exemplo, era severamente punido aquele que, no navio citado, furtasse uma jóia roubada, denunciasse um companheiro, dormisse em serviço, etc..
No livro Pensamento e vida de Emmanuel no capítulo 21 – Dever diz:
“O dever define a submissão que nos cabe a certos princípios estabelecidos como leis pela Sabedoria Divina, para o desenvolvimento de nossas faculdades.
Para viver em segurança, ninguém desprezará a disciplina”.
No Livro Evangelho Segundo o Espiritismo no Capítulo 17 Sede Perfeitos – 7 – O Dever diz:
O dever é a obrigação moral, primeiro para consigo mesmo e, em seguida, para com os outros. O dever é a lei da vida: encontra-se desde os menores detalhes, assim como nos mais elevados atos. Refiro-me apenas ao dever moral e não ao dever que as profissões impõem.
Na ordem dos sentimentos, o dever é muito difícil de ser cumprido, porque se acha em antagonismo com as seduções do interesse e do coração; suas vitórias não têm testemunhos, e suas derrotas não têm repressão. O dever íntimo do homem está entregue ao seu livre-arbítrio: o aguilhão da consciência, esse guardião da probidade interior, o adverte e o sustenta, mas permanece, frequentemente, impotente diante dos sofismas da paixão. O dever do coração, fielmente observado, eleva o homem; mas, esse dever, como precisá-lo? Onde começa ele? Onde se detém? O dever começa precisamente no ponto em que ameaçais a felicidade ou a tranquilidade do vosso próximo; termina no limite que não gostaríeis de ver ultrapassado em relação a vós mesmos.
Deus criou todos os homens iguais para a dor; pequenos ou grandes, ignorantes ou esclarecidos, sofrem pelas mesmas causas, a fim de que cada um julgue judiciosamente o mal que pode fazer. O mesmo critério não existe para o bem, infinitamente mais variado em suas expressões. A igualdade diante da dor é uma sublime previdência de Deus, que quer que seus filhos, instruídos pela experiência comum, não cometam o mal argumentando com a ignorância dos seus efeitos.
O dever é o resumo prático de todas as especulações morais; é uma bravura da alma que afronta as angústias da luta; é austero e flexível; pronto a dobrar-se às diversas complicações, permanece inflexível diante de suas tentações. O homem que cumpre o seu dever ama a Deus mais que as criaturas, e as criaturas mais do que a si mesmo; ele é, ao mesmo tempo, juiz e escravo em sua própria causa.
O dever é o mais belo laurel da razão; depende dela como o filho depende de sua mãe. O homem deve amar o dever, não porque o preserve dos males da vida, aos quais a Humanidade não pode se subtrair, mas porque dá à alma o vigor necessário ao seu desenvolvimento.
O dever cresce e irradia sob mais elevada forma em cada uma das etapas superiores da Humanidade; a obrigação moral não cessa jamais, da criatura para com Deus; ela deve refletir as virtudes do Eterno que não aceita um esboço imperfeito, porque quer que a beleza da sua obra resplandeça diante dele. (LÁZARO, Paris, 1863).
No livro O Consolador de Emmanuel na questão 56 diz:
Pode admitir-se, em Sociologia, o conceito de igualdade absoluta?
-A concepção igualitária absoluta é um erro grave dos sociólogos, em qualquer departamento da vida. A tirania política poderá tentar uma imposição nesse sentido, mas não passará das espetaculosas uniformizações simbólicas para efeitos exteriores, porquanto o verdadeiro valor de um homem está no seu íntimo, onde cada espírito tem sua posição definida pelo próprio esforço.
Nessa questão existe uma igualdade absoluta de direitos dos homens perante Deus, que concede a todos os seus filhos uma oportunidade igual nos tesouros inapreciáveis do tempo. Esses direitos são os da conquista da sabedoria e do amor, através da vida, pelo cumprimento do sagrado dever do trabalho e do esforço individual. Eis por que cada criatura terá o seu mapa de méritos nas sendas evolutivas, constituindo essa situação, nas lutas planetárias, um a grandiosa progressiva em matéria de raciocínios e sentimento, em que se elevará naturalmente todo aquele que mobilizar as possibilidades concedidas à sua existência para o trabalho edificante da iluminação de si mesmo, nas sagradas expressões do esforço individual.
No livro Missionários da luz de André Luiz, nos capítulos 2 e 3 diz: “O homem vive esquecido de que Jesus ensinou a virtude como esporte da alma, e nem sempre se recorda de que, no problema do aprimoramento interior, não se trata de retificar a sombra da substância e sim a substância em si mesma.” … “Acreditam no mecanismo absoluto da realização e esperam o progresso eventual e problemático, esquecidos de que toda edificação da alma requer disciplina, educação, esforço e perseverança.”
No livro O Consolador de Emmanuel na questão 351 diz:
Como entender o “amor a nós mesmos”, segundo a fórmula do Evangelho?
– O amor a nós mesmos deve ser interpretado como a necessidade de oração e de vigilância, que todos os homens são obrigados a observar.
Amar a nós mesmos não será a vulgarização de uma nova teoria de auto adoração. Para nós outros, a egolatria já teve o seu fim, porque o nosso problema é de iluminação íntima, na marcha para Deus. Esse amor, portanto, deve traduzir-se em esforço próprio, em auto-educação, em observação do dever, em obediência às leis de realização e de trabalho, em perseverança na fé, em desejo sincero de aprender com o único Mestre, que é Jesus-Cristo.
Quem se ilumina, cumpre a missão da luz sobre a Terra. E a luz não necessita de outros processos para revelar a verdade, senão o de irradiar espontaneamente o tesouro de si mesma.
Necessitamos encarar essa nova fórmula de amor a nós mesmos, conscientes de que todo bem conseguido por nós, em proveito do próximo, não é senão o bem de nossa própria alma, em virtude da realidade de uma só lei, que é a do amor, e um só dispensador dos bens, que é Deus.
Diante disso para o cumprimento das nossas obrigações vai depender unicamente do nosso esforço individual.
PARTE 2 – O NECESSÁRIO E O SUPÉRFLUO
Agora trago algumas definições sobre o que é necessário e supérfluo.
Segundo o dicionário Aurélio, a palavra ”necessário” significa: Aquilo de que não se pode prescindir; o que não pode deixar de ser ou de se fazer; Que é de necessidade; Que é preciso; de que não se pode abdicar. (https://dicionariodoaurelio.com/necessario )
E o termo ”supérfluo” significa o oposto: Aquilo que é supérfluo; Que é de mais; Desnecessário; Inútil; sobejo. (https://dicionariodoaurelio.com/superfluo)
No Livro dos Espíritos de Allan Kardec na questão 705 diz:
Por que nem sempre a terra produz bastante para fornecer ao homem o necessário?
É que o homem a negligência, o ingrato! É, todavia, uma excelente mãe. Frequentemente, também, ele acusa a Natureza pelo que resulta de sua imperícia (não sabe fazer e não procura aprender) ou de sua imprevidência. A terra produziria sempre o necessário se o homem soubesse se contentar. Se ela não basta a todas as necessidades é porque o homem emprega no supérfluo o que poderia ser dado ao necessário. Veja o árabe no deserto: ele encontra sempre com que viver, porque não cria para si necessidades artificiais. Quando a metade dos produtos é esbanjada para satisfazer fantasias, o homem deve se espantar de nada encontrar no dia de amanhã e há razão para se lastimar de estar desprovido quando vem o tempo da escassez? Em verdade, eu vo-lo disse, não é a Natureza que é imprevidente, mas o homem que não sabe se regrar.
No Livro Evangelho Segundo Espiritismo de Allan Kardec no Capítulo 5 item 23 diz:
“De quantos tormentos, ao contrário, se poupa aquele que sabe se contentar com o que tem, que vê sem inveja o que não tem, que não procura parecer mais do que é. Ele está sempre rico porque, se olha abaixo de si, em lugar de olhar acima, verá sempre pessoas que têm menos ainda; é calmo, porque não cria para si necessidades quiméricas, e a calma, no meio das tempestades da vida, não será felicidade? (FÉNELON, Lião, 1860).”
No Livro dos Espíritos de Allan Kardec nas questões 922, 926, 927 e 704 diz:
922 – A felicidade terrestre é relativa à posição de cada um; o que basta à felicidade de um faz a infelicidade de outro. Entretanto, há uma medida de felicidade comum a todos os homens?
– Para a vida material, é a posse do necessário; para a vida moral, é a consciência tranquila e a fé no futuro.
926 – A civilização, criando novas necessidades, não é a fonte de novas aflições?
– Os males deste mundo estão em razão das necessidades fictícias que criais para vós mesmos. Aquele que sabe limitar seus desejos e vê sem inveja o que está acima de si, poupa-se a muitas decepções desta vida. O mais rico é aquele que tem menos necessidades.
Invejais os gozos daqueles que vos parecem os felizes do mundo; mas sabeis o que lhes está reservado? Se não gozam senão para eles, são egoístas e virá o reverso. Antes, lastimai-os. Deus permite, algumas vezes, que o mau prospere, mas sua felicidade não é para invejar porque a pagará com lágrimas amargas. Se o justo é infeliz, é uma prova que lhe será tida em conta se a suportar com coragem. Lembrai-vos destas palavras de Jesus: Felizes aqueles que sofrem, porque serão consolados.
927 – O supérfluo, certamente, não é indispensável à felicidade, mas não se dá o mesmo com o necessário; ora, a infelicidade daqueles que estão privados do necessário não é real?
– O homem não é verdadeiramente infeliz senão quando sofre a falta do que é necessário à vida e à saúde do corpo. Pode ser que essa privação seja por sua culpa e, nesse caso, não deve imputá-la senão a si próprio. Se ela é por culpa de outrem, a responsabilidade recairá sobre aquele que lhe deu causa
704 – Deus, dando ao homem a necessidade de viver, fornece-lhe sempre os meios?
– Sim, e se não os encontra é porque não os compreende. Deus não poderia dar ao homem a necessidade de viver sem dar-lhe os meios, por isso faz a terra produzir para fornecer o necessário a todos os seus habitantes, porque só o necessário é útil; o supérfluo não o é jamais.
No Livro Evangelho Segundo Espiritismo de Allan Kardec no Capítulo 25 item 8
A Terra produzirá bastante para alimentar todos os seus habitantes, quando os homens souberem administrar os bens que ela dá, segundo as leis de justiça, de caridade e de amor ao próximo; quando a fraternidade reinar entre os diversos povos, como entre as províncias de um mesmo império, o supérfluo momentâneo de um suprirá à insuficiência momentânea do outro, e cada um terá o necessário. O rico, então, se considerará como um homem que tem uma grande quantidade de sementes; se as espalha, elas produzirão ao cêntuplo para ele e para os outros; mas se come essas sementes sozinho, e as esbanja deixando perder-se o excesso daquilo que comer, não produzirão nada, e não bastarão para todo o mundo; se as guarda em seu celeiro, os vermes as comerão; por isso Jesus disse: Não ajunteis tesouros na Terra, que são perecíveis, mas formai tesouros no céu, porque são eternos. Em outros termos, não ligueis, aos bens materiais, mais importância do que aos bens espirituais, e sabei sacrificar os primeiros em proveito dos segundos.
Não é com as leis que se decreta a caridade e a fraternidade; se elas não estão no coração, o egoísmo as sufocará sempre; fazê-las nele penetrar é a tarefa do Espiritismo.
No novo testamento da Bíblia no livro de 1 Timóteo 6: 7-11
7 Porque nada trouxemos para este mundo, e manifesto é que nada podemos levar dele.
8 Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes.
9 Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína.
10 Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores.
11 Mas tu, ó homem de Deus, foge destas coisas, e segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a paciência, a mansidão.
No novo testamento da Bíblia no livro de Mateus 4:4 Ele, porém, respondendo, disse: Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.
No livro O Consolador de Emmanuel na questão 55 diz:
A desigualdade verificada entre as classes sociais, no universo dos bens terrenos, perdurará nas épocas do porvir?
-A desigualdade social é o mais elevado testemunho da verdade da reencarnação, mediante a qual cada espírito tem sua posição definida de regeneração e resgate. Nesse caso, consideramos que a pobreza, a miséria, a guerra, a ignorância, como outras calamidades coletivas, são enfermidades do organismo social, devido à situação de prova da quase generalidade dos seus membros. Cessada a causa patogênica com a iluminação espiritual de todos em Jesus-Cristo; a moléstia coletiva estará eliminada dos ambientes humanos.
No Livro Evangelho Segundo Espiritismo de Allan Kardec no Capítulo 16 no item 8 diz:
A desigualdade das riquezas é um desses problemas que se procura em vão resolver, se não se considera senão a vida atual. (…)
Admitindo isso, pergunta-se por que Deus a dá a pessoas incapazes para fazê-la frutificar para o bem de todos. Aí ainda está uma prova da sabedoria e da bondade de Deus. Dando ao homem o livre-arbítrio, quis que ele alcançasse, por sua própria experiência, a distinção do bem e do mal, e que a prática do bem fosse o resultado dos seus esforços e da sua própria vontade. Ele não deve ser conduzido fatalmente, nem ao bem nem ao mal, sem o que não seria senão um instrumento passivo e irresponsável, como os animais. A fortuna é um meio de prová-lo moralmente; mas como, ao mesmo tempo, é um poderoso meio de ação para o progresso, Deus não quer que ela fique muito tempo improdutiva e, por isso, a desloca incessantemente. Cada um deve possuí-la para experimentar servir-se dela, e provar o uso que dela sabe fazer; mas como há a impossibilidade material de que todos a tenham ao mesmo tempo; que, aliás, se todo mundo a possuísse, ninguém trabalharia e o aprimoramento do globo com isso sofreria, cada um a possui a seu turno: quem não a tem hoje, já a teve ou terá numa outra existência, e quem a tem agora, poderá não tê-la mais amanhã. Há ricos e pobres porque Deus, sendo justo, cada um deve trabalhar a seu turno; a pobreza é para uns a prova da paciência e da resignação; a riqueza é para outros a prova da caridade e da abnegação.
Deplora-se com razão o lamentável uso que certas pessoas fazem de sua fortuna, as ignóbeis paixões que a cobiça provoca, e se pergunta se Deus é justo em dar a riqueza a tais pessoas. É certo que se o homem não tivesse senão uma só existência, nada justificaria essa repartição dos bens da Terra; mas se, em lugar de limitar a visão à vida presente, considerar-se o conjunto das existências, vê-se que tudo se equilibra com justiça. O pobre, pois, não tem mais motivo para acusar a Providência, nem para invejar os ricos, e os ricos não têm mais do que se glorificar pelo que possuem. Se dela abusam, não será nem com os decretos, nem com as leis suntuárias, que se remediará o mal; as leis podem, momentaneamente, mudar o exterior, mas não podem mudar o coração; por isso, elas não têm senão uma duração temporária, e são sempre seguidas de uma reação mais desenfreada. A fonte do mal está no egoísmo e no orgulho; os abusos de toda espécie cessarão por si mesmos quando os homens se regerem pela lei da caridade.
No livro Caminho, Verdade e Vida de Emmanuel no capítulo 57 diz:
“Porque o amor do dinheiro é a raiz de toda espécie de males; e, nessa cobiça, alguns se desviaram da fé e se traspassaram a si mesmos com muitas dores.” — Paulo. (1ª EPÍSTOLA A TIMÓTEO, capítulo 6, versículo 10.).
Paulo não nos diz que o dinheiro, em si mesmo, seja flagelo para a Humanidade. Várias vezes, vemos o Mestre em contacto com o assunto, contribuindo para que a nossa compreensão se dilate. Recebendo certos alvitres do povo que lhe apresenta determinada moeda da época, com a efigie do imperador romano, recomenda que o homem dê a César o que é de César, exemplificando o respeito às convenções construtivas. Numa de suas mais lindas parábolas, emprega o símbolo de uma dracma perdida. Nos movimentos do Templo, aprecia o óbolo pequenino da viúva.
O dinheiro não significa um mal. Todavia, o apóstolo dos gentios nos esclarece que o amor do dinheiro é a raiz de toda espécie de males. O homem não pode ser condenado pelas suas expressões financeiras, mas, sim, pelo mau uso de semelhantes recursos materiais, porquanto é pela obsessão da posse que o orgulho e a ociosidade, dois fantasmas do infortúnio humano, se instalam nas almas, compelindo-as a desvios da luz eterna.
O dinheiro que te vem às mãos, pelos caminhos retos, que só a tua consciência pode analisar à claridade divina, é um amigo que te busca a orientação sadia e o conselho humanitário. Responderás a Deus pelas diretrizes que lhe deres e ai de ti se materializares essa força benéfica no sombrio edifício da iniquidade!
No Livro Evangelho Segundo Espiritismo de Allan Kardec no Capítulo 16 no item 7 diz:
Se a riqueza devesse ser um obstáculo absoluto à salvação daqueles que a possuem, assim como se poderia inferir de certas palavras de Jesus interpretadas segundo a letra e não segundo o espírito, Deus, que a dispensa, teria colocado nas mãos de alguns um instrumento de perdição sem recursos, pensamento que repugna à razão. A riqueza, sem dúvida, é uma prova muito difícil, mais perigosa que a miséria pelos seus arrastamentos, as tentações que dá e a fascinação que exerce; é o excitante supremo do orgulho, do egoísmo e da vida sensual; é o laço mais poderoso que liga o homem à Terra e afasta seus pensamentos do céu; produz uma tal vertigem que se vê, frequentemente, aquele que passa da miséria à fortuna esquecer depressa a sua primeira posição, aqueles que o dotaram, aqueles que o ajudaram, e tornar-se insensível, egoísta e vão. Mas do fato de tornar o caminho difícil, não se segue que o torne impossível, e não possa tornar-se um meio de salvação nas mãos daquele que dela sabe se servir, como certos venenos podem devolver a saúde, se são empregados a propósito e com discernimento.
Quando Jesus disse ao jovem que o interrogou sobre os meios de ganhar a vida eterna: “Desfazei-vos de todos os vossos bens e segui-me”, ele não entendia estabelecer como princípio absoluto que cada um deva se despojar daquilo que possui, e que a salvação só tem esse preço, mas mostrar que o apego aos bens terrestres é um obstáculo à salvação. Esse jovem, com efeito, se acreditava quite porque tinha observado certos mandamentos e, todavia, recua ante a idéia de abandonar seus bens; seu desejo de obter a vida eterna não ia até esse sacrifício.
A proposição que Jesus lhe fez era uma prova decisiva para pôr a descoberto o fundo do seu pensamento; ele podia, sem dúvida, ser um perfeito homem honesto, segundo o mundo, não fazer mal a ninguém, não maldizer seu próximo, não ser vão nem orgulhoso, honrar a seu pai e a sua mãe; mas não tinha a verdadeira caridade, porque sua virtude não ia até à abnegação. Eis o que Jesus quis demonstrar; era uma aplicação do princípio: Fora da caridade não há salvação.
A consequência dessas palavras, tomadas em sua acepção rigorosa, seria a abolição da fortuna como nociva à felicidade futura, e como fonte de uma multidão de males na Terra, e seria, além disso, a condenação do trabalho que a pode obter; conseqüência absurda que conduziria o homem à vida selvagem, e que, por isso mesmo, estaria em contradição com a lei do progresso, que é uma lei de Deus.
Se a riqueza é a fonte de muitos males, se ela excita tanto as más paixões, se provoca mesmo tantos crimes, é preciso tomar-se não a coisa, mas ao homem que dela abusa, como abusa de todos os dons de Deus; pelo abuso, ele torna pernicioso o que lhe poderia ser mais útil; é a conseqüência do estado de inferioridade do mundo terrestre. Se a riqueza não devesse produzir senão o mal, Deus não a teria colocado sobre a Terra; cabe ao homem dela extrair o bem. Se ela não é um elemento direto do progresso moral, é, sem contradita, um poderoso elemento de progresso intelectual.
Com efeito, o homem tem por missão trabalhar pelo aprimoramento material do globo; deve desbravá-lo, saneá-lo, dispô-lo para receber um dia toda a população que a sua extensão comporta; para alimentar essa população que cresce sem cessar, é preciso aumentar a produção; se a produção de uma região é insuficiente, será preciso ir procurá-la fora. Por isso mesmo, as relações de povo a povo tornam-se uma necessidade; para as tornar mais fáceis é preciso destruir os obstáculos materiais que as separam, tornar as comunicações mais rápidas. Para esses trabalhos, que são a obra dos séculos, o homem teve de tirar materiais até das entranhas da terra; procurou na Ciência os meios de executá-los mais segura e rapidamente; mas para realizá-los lhe foram precisos recursos: a necessidade fê-lo criar a riqueza, como o fez descobrir a ciência. A atividade, necessitada por esses mesmos trabalhos, aumenta e desenvolve a sua inteligência; essa inteligência, que ele concentra primeiro na satisfação das necessidades materiais, o ajudará mais tarde a compreender as grandes verdades morais. A riqueza, sendo o primeiro meio de execução, sem ela não mais grandes trabalhos, não mais atividade, nem estímulo, nem pesquisas; é pois, com razão, considerada um elemento de progresso.
No Livro dos Espíritos de Allan Kardec nas questões 925, 923, 924, 534, 975 e 707 dizem:
925 – Por que Deus favorece com os dons da fortuna certos homens que não parecem merecê-los?
– É um favor aos olhos daqueles que não veem senão o presente; mas, sabei-o bem, a fortuna é uma prova frequentemente mais perigosa do que a miséria.
923 – O que seria supérfluo para um não se torna necessário para outros, e reciprocamente, segundo a posição?
– Sim, de acordo com as vossas ideias materiais, vossos preconceitos, vossa ambição e todos os vossos defeitos ridículos, aos quais o futuro fará justiça quando compreenderdes a verdade. Sem dúvida, aquele que tinha cinquenta mil libras de renda e se encontra reduzido a dez, se crê bem infeliz porque não pode mais fazer uma figura tão grande, ter aquilo que chama sua posição, ter cavalos, lacaios, satisfazer todas as suas paixões, etc. Ele crê faltar-lhe o necessário; mas, francamente, o crês com direito a lamentar-se quando ao seu lado há os que morrem de fome e de frio, e não têm um refúgio para repousar a cabeça? O sábio, para ser feliz, olha abaixo de si e jamais acima, a não ser para elevar sua alma até o infinito.
924 – Há males que são independentes da maneira de agir e que atingem o homem mais justo; não há algum meio de se preservar deles?
– Nesse caso, ele deve se resignar e suportá-los sem murmurar, se quer progredir. Mas ele possui sempre uma consolação na sua consciência, que lhe dá a esperança de um futuro melhor,se faz o que é preciso para obtê-lo.
534 – Quando os obstáculos parecem vir fatalmente se opor aos nossos projetos, seria por influência de algum Espírito?
– Algumas vezes, os Espíritos; de outras vezes, e o mais frequentemente, é que nisso escolheis mal. A posição e o caráter influem muito. Se vos obstinais em um caminho que não é o vosso, não é pelos Espíritos, mas por vós que sois o vosso próprio gênio mau.
975 – Os Espíritos inferiores compreendem a felicidade do justo?
– Sim, e é isso que faz seu suplício, porque compreendem que estão privados dela por suas faltas. É por isso que o Espírito, liberto da matéria, aspira depois a uma nova existência corporal, porque cada existência pode abreviar a duração desse suplício, se ela é bem empregada. Ele faz, então, a escolha das provas pelas quais poderá expiar suas faltas, porque, sabei-o bem, o Espírito sofre por todo o mal que faz, ou do qual foi a causa voluntária, por todo o bem que poderia fazer e que não fez, e por todo o mal que resulta do bem que ele não fez. O Espírito errante não tem mais véu, está como saído do nevoeiro e vê o que o afasta da felicidade. Então, sofre mais, porque compreende quanto é culpado. Para ele não há mais ilusão: vê a realidade das coisas.
O Espírito, no estado errante, abraça de um lado todas as suas existências passadas, de outro, vê o futuro prometido e compreende o que lhe falta para atingi-lo. Tal como um viajor que chegou ao alto de uma montanha, vê o caminho percorrido e o que lhe resta a percorrer para chegar ao seu objetivo.
707 – Os meios de existência, frequentemente, fazem falta a certos indivíduos, mesmo em meio à abundância que os cerca; a que se deve atribuir isso?
– Ao egoísmo dos homens, que não fazem sempre o que devem; depois, e o mais frequentemente, a eles mesmos. Procurai e encontrareis; estas palavras não querem dizer que basta olhar a terra para encontrar o que se deseja, mas que é preciso procurá-lo com ardor e perseverança, e não com fraqueza, sem se deixar desencorajar pelos obstáculos que, frequentemente, não são senão meios de pôr à prova vossa constância, vossa paciência e vossa firmeza.
Se a civilização multiplica as necessidades, ela multiplica também as fontes de trabalho e os meios de viver; mas é preciso convir que, sob esse aspecto, muito lhe resta ainda a fazer. Quando ela tiver terminado sua obra, ninguém poderá dizer que lhe falta o necessário, senão por sua falta. A infelicidade, para muitos, resulta de tomarem um caminho que não é aquele que a Natureza lhes traçou; então lhes falta a inteligência para terem êxito. Há para todos, lugar ao Sol, mas com a condição de aí tomar o seu, e não o dos outros. A Natureza não poderia ser responsável pelos vícios da organização social e pelas consequências da ambição e do amor-próprio.
Entretanto, precisar-se-ia ser cego para não se reconhecer o progresso que se efetua sob esse aspecto entre os povos mais avançados. Graças aos louváveis esforços que a filantropia e a ciência juntas não cessam de fazer para o melhoramento do estado material dos homens, e malgrado o aumento incessante das populações, a insuficiência da produção atenuada pelo menos em grande parte, e os anos mais calamitosos não têm nada de comparável aos de outrora. A higiene pública, esse elemento tão essencial da força e da saúde, desconhecida de nossos pais, é objeto de uma solicitude esclarecida. O infortúnio e o sofrimento encontram lugares de refúgio. Por toda a parte a Ciência contribui para aumentar o bem-estar. Pode-se dizer que se alcançou a perfeição? Oh, certamente, não; mas o que se fez dá medida do que se pode fazer com a perseverança, se o homem for bastante sábio para procurar a sua felicidade nas coisas positivas e sérias, e não nas utopias que o fazem recuar ao invés de avançar.
No Livro Evangelho Segundo Espiritismo de Allan Kardec no Capítulo 11 no item 11 (O Egoísmo) diz:
O egoísmo, esta chaga da Humanidade, deve desaparecer da Terra, cujo progresso moral retarda; ao Espiritismo está reservada a tarefa de fazê-la subir na hierarquia dos mundos. O egoísmo é, pois, o objetivo para o qual todos os verdadeiros crentes devem dirigir suas armas, suas forças e sua coragem; digo coragem porque é preciso mais coragem para vencer a si mesmo do que para vencer os outros. Que cada um, pois, coloque todos os seus cuidados para combatê-lo em si, porque esse monstro devorador de todas as inteligências, esse filho do orgulho, é a fonte de todas as misérias deste mundo. É a negação da caridade e, por conseguinte, o maior obstáculo à felicidade dos homens.
Jesus vos deu o exemplo da caridade e, Pôncio Pilatos, o do egoísmo; porque enquanto o Justo vai percorrer as santas estações do seu martírio, Pilatos lava as mãos dizendo: Que me importa! Ele disse aos judeus: Este homem é justo, por que quereis crucificá-lo? e, entretanto, deixa que o conduzam ao suplício.
É a esse antagonismo da caridade e do egoísmo, à invasão dessa lepra do coração humano, que o Cristianismo deve não ter cumprido ainda toda a sua missão. É a vós, apóstolos novos da fé e que os Espíritos Superiores esclarecem, a quem incumbe a tarefa e o dever de extirpar esse mal, para dar ao Cristianismo toda a sua força e limpar o caminho das sarças que lhe entravam a marcha. Extirpai o egoísmo da Terra, para que ela possa gravitar na escala dos mundos, porque já é tempo de a Humanidade vestir o seu traje viril e, para isso, é preciso primeiro extirpá-lo do vosso coração. (EMMANUEL, Paris, 1861).
No Livro dos Espíritos de Allan Kardec nas questões 715, 716, 717 e 893 diz:
715 – Como pode o homem conhecer o limite do necessário?
– O sábio o conhece por intuição. Muitos o conhecem por experiência e às suas custas.
716 – A Natureza não traçou o limite das nossas necessidades em nossa organização?
– Sim, mas o homem é insaciável. A Natureza traçou o limite de suas necessidades em sua organização, mas os vícios alteraram sua constituição e ele criou para si necessidades que não são reais.
717 – Que pensar daqueles que monopolizam os bens da terra para se obter o supérfluo em prejuízo daqueles a quem falta o necessário?
– Eles desconhecem a lei de Deus e responderão pelas privações que terão feito experimentar.
O limite do necessário e do supérfluo nada tem de absoluto. A civilização criou necessidades que a selvageria não tem, e os Espíritos que ditaram esses preceitos não pretendem que o homem civilizado deva viver como o selvagem. Tudo é relativo e cabe à razão distinguir cada coisa. A civilização desenvolve o senso moral e, ao mesmo tempo, o sentimento de caridade que leva os homens a se prestarem mútuo apoio. Os que vivem às custas das privações alheias exploram os benefícios da civilização em seu proveito; não têm da civilização senão o verniz, como há pessoas que não têm da religião senão a máscara.
893 – Qual a mais meritória de todas as virtudes?
– Todas as virtudes têm seu mérito, porque todas são sinais de progresso no caminho do bem. Há virtude toda vez que há resistência voluntária ao arrastamento das más tendências. Mas o sublime na virtude consiste no sacrifício do interesse pessoal para o bem do próximo, sem oculta intenção. A mais meritória é aquela que está fundada sobre a mais desinteressada caridade.
No Livro Moradas de Luz de Emmanuel. na Lição nº 10 (Supérfluo).
Por toda parte na Terra, vemos o fantasma do supérfluo enterrando a alma do homem no sepulcro da aflição.
Supérfluo de dinheiro gerando intranquilidade…
Supérfluo de posses estendendo a ambição…
Supérfluo de preocupações imaginárias abafando a harmonia…
Supérfluo de indagações empanando a fé…
Supérfluo de convenções expulsando a caridade…
Supérfluo de palavras destruindo o tempo…
Supérfluo de conflitos mentais determinando a loucura…
Supérfluo de alimentação aniquilando a saúde…
Supérfluo de reclamações arrasando o trabalho…
Entretanto, se o homem vivesse de acordo com as próprias necessidades, sem exigir o que ainda não merece, sem esperar o que não lhe cabe, sem perguntar fora do propósito e sem reprovar nos outros aquilo que ainda não retificou em si mesmo, decerto, a existência na Terra estaria exonerada de todos os tributos que aí se paga diariamente à perturbação.
Se procuras no Cristo o mentor de cada dia, soma as tuas possibilidades no bem, subtrai as próprias deficiências, multiplica os valores do próprio serviço e divide o amor para com todos, a fim de que aprendas com a vida o que te convém realmente à própria segurança.
O problema da felicidade não está em sermos possuídos pelas posses humanas, quaisquer que elas sejam, mas, em possuí-las, com prudência e serenidade, usando-as no bem de todos que é o nosso próprio bem.
Alija o supérfluo de teu caminho e acomoda-te com o necessário à tua paz.
Somente assim encontrarás em ti mesmo o espaço mental indispensável à comunhão pura e simples com o nosso Divino Mestre e Senhor.
No Livro Evangelho Segundo Espiritismo de Allan Kardec no Capítulo 25 nos itens 6 e 7 diz:
6. Não ajunteis tesouros na Terra, onde a ferrugem e os vermes os corroem, onde os ladrões os desenterram e roubam; mas formai tesouros no céu, onde nem a ferrugem, nem os vermes os corroem; porque onde está o vosso tesouro, aí também está o vosso coração.
Por isso eu vos digo: Não vos inquieteis por saber onde achareis do que comer para o sustento da vossa vida, nem de onde tirareis roupa para cobrir o vosso corpo; a vida não é mais do que o alimento, e o corpo mais do que a roupa?
Observai os pássaros do céu: eles não semeiam e não colhem, e não amontoam nada nos celeiros, mas vosso Pai celestial os alimenta; não sois muito mais do que eles? E quem é, dentre vós, aquele que pode, com todos os seus cuidados, aumentar à sua estatura a altura de um côvado?
Por que também vos inquietais pela roupa? Observai como crescem os lírios dos campos; eles não trabalham e não fiam; e, entretanto, eu vos declaro que Salomão, mesmo em toda a sua glória, jamais se vestiu como um deles. Se, pois, Deus tem o cuidado de vestir dessa maneira a erva dos campos, que hoje existe e que amanhã será lançada no fogo, quanto mais cuidado terá em vos vestir, oh homens de pouca fé!
Não vos inquieteis, pois, dizendo: Que comeremos, ou que beberemos, ou de que nos vestiremos? como fazem os pagãos que procuram todas essas coisas; porque vosso Pai sabe que delas tendes necessidade.
Procurai, pois, primeiramente o reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo. Por isso, não estejais inquietos pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã, cuidará de si mesmo. A cada dia basta o seu mal. (São Mateus, cap. VI, v. de 19 a 21 e 25 a 34).
7. Estas palavras, tomadas ao pé da letra, seriam a negação de toda previdência, de todo trabalho e, por conseguinte, de todo progresso. Com semelhante princípio, o homem se reduziria a uma passividade expectante; suas forças físicas e intelectuais estariam inativas; se tal tivesse sido a sua condição normal na Terra, não teria jamais saído do estado primitivo, e se dela fizesse a sua lei atual, não teria mais senão viver sem nada fazer. Tal não pode ter sido o pensamento de Jesus, porque estaria em contradição com o que disse em outro lugar, e mesmo com as leis da Natureza. Deus criou o homem sem roupa e sem abrigo, mas deu-lhe a inteligência para fabricá-los. (Cap. XIV, nº 6; cap. XXV, nº 2).
Não se deve, pois, ver nessas palavras senão uma poética alegoria da Providência, que não abandona jamais aqueles que colocam nela sua confiança, mas quer que trabalhem de seu lado. Se ela não vem sempre em sua ajuda por um socorro material, inspira as ideias com as quais se acham os meios de se livrar da dificuldade. (Cap. XXVII, nº 8).
Deus conhece as nossas necessidades, e as provê segundo o necessário; mas o homem, insaciável em seus desejos, não sabe sempre se contentar com o que tem; o necessário não lhe basta, lhe é preciso o supérfluo; é então que a Providência o deixa entregue a si mesmo; frequentemente, é infeliz por sua culpa e por ter desconhecido a voz que o advertia na sua consciência, e Deus o deixa sofrer as consequências, a fim de que isso lhe sirva de lição para o futuro. (Cap. V, nº 4).
No Livro dos Espíritos de Allan Kardec na questão 673 diz:
Não seria um meio de tornar essas oferendas mais agradáveis a Deus consagrando-as ao alívio daqueles a quem falta o necessário e, nesse caso, o sacrifício dos animais feito com um fim útil, não seria meritório, embora tivesse sido abusivo quando não servia para nada, ou não aproveitava senão às pessoas que de nada precisavam? Não teria alguma coisa de verdadeiramente piedosa consagrar-se aos pobres as premissas dos bens que Deus nos concedeu sobre a Terra?
– Deus abençoa sempre aqueles que fazem o bem; aliviar os pobres e aflitos é o melhor meio de honrá-lo. Não digo com isso que Deus desaprova as cerimônias que fazeis para pedir-lhe, mas há muito dinheiro que poderia ser empregado mais utilmente e não o é. Deus ama a simplicidade em todas as coisas. O homem que se liga às coisas exteriores e não ao coração, é um espírito de vistas estreitas; julgai se Deus deve interessar mais pela forma que pelo fundo.
No Livro Evangelho Segundo Espiritismo de Allan Kardec no Capítulo 16 no item 14 diz:
Que a fortuna venha de vossa família, ou que a ganhastes pelo vosso trabalho, há uma coisa que não deveis jamais esquecer: é que tudo vem de Deus e retorna a Deus. Nada vos pertence sobre a Terra, nem mesmo o vosso pobre corpo: a morte dele vos despoja, como de todos os bens materiais; sois depositários e não proprietários, disso não vos enganeis; Deus vos emprestou, deveis restituir, e ele vos empresta com a condição de que o supérfluo, pelo menos, reverta para aqueles que não têm o necessário.
Um dos vossos amigos vos empresta uma soma; por pouco que sejais honesto, tereis o escrúpulo de pagá-la, e lhe ficareis agradecido. Pois bem, eis a posição de todo homem rico; Deus é o amigo celeste que lhe emprestou a riqueza; não pede para ele senão o amor e o reconhecimento, mas exige que, a seu turno, o rico dê também aos pobres, que são seus filhos tanto quanto ele.
No Livro Evangelho Segundo Espiritismo de Allan Kardec no Capítulo 13 no item 16 diz:
16. A mulher rica, feliz, que não tem necessidade de empregar seu tempo nos trabalhos do lar, não pode consagrar algumas horas em trabalhos úteis aos semelhantes? Que, com o supérfluo de suas alegrias, compre com o que cobrir o infeliz que treme de frio; que com suas mãos delicadas, confeccione grosseiras mas quentes roupas; que ajude a mãe a cobrir a criança que vai nascer; se seu filho, com isso, ficar com algumas rendas a menos, o do pobre terá mais calor. Trabalhar para os pobres é trabalhar na vinha do Senhor.
E tu, pobre operária, que não tens o supérfluo, mas que queres, no amor por teus irmãos, dar também um pouco do que possuis, dá algumas horas da tua jornada, do teu tempo, do teu único tesouro; faze desses trabalhos elegantes que tentam os felizes; vende o trabalho de tua vigília e poderás também, proporcionar aos teus irmãos a tua parte de alívio; terás talvez algumas fitas e menos, mas darás sapatos àquele que anda descalço.
E vós, mulheres devotadas a Deus, trabalhai também na sua obra, mas que os vossos trabalhos delicados e custosos não sejam feitos somente para ornar as vossas capelas, para atrair a atenção sobre vossa agilidade e vossa paciência; trabalhai, minhas filhas, e que o preço do vosso trabalho seja consagrado ao alívio de vossos irmãos em Deus; os pobres são os seus filhos bem-amados; trabalhar por eles é glorificá-lo. Sede-lhes a Providência que diz: Às aves do céu Deus dá o alimento. Que o ouro e o dinheiro que se tecem sob os vossos dedos se transformem em roupas e em alimentos para aqueles a quem eles faltam. Fazei isto, e o vosso trabalho será abençoado.
E todos vós que podeis produzir, dai; dai o vosso gênio, dai a vossa inspiração, dai o vosso coração, que Deus abençoará. Poetas, literatos, que não sois lidos senão pelas pessoas da sociedade, satisfazei seus lazeres, mas que o produto de algumas de vossas obras seja consagrado ao alívio dos infelizes; pintores, escultores, artistas de todos os gêneros, que a vossa inteligência venha também em ajuda dos vossos irmãos; com isso não tereis menos glória, mas haverá alguns sofrimentos a menos.
Todos vós podeis dar; em qualquer classe que estiverdes, tendes alguma coisa que podeis partilhar; o que quer que seja que Deus vos tenha dado, disso deveis uma parte àquele a quem falta o necessário, porque em seu lugar estaríeis bem contentes que um outro dividisse convosco. Vossos tesouros da Terra serão um pouco menores, mas vossos tesouros no céu serão mais abundantes; nele recolhereis ao cêntuplo o que houverdes semeado em benefícios nesse mundo. (JOÃO, Bordéus, 1861).
No Livro Evangelho Segundo Espiritismo de Allan Kardec no Capítulo 14 no item 3 diz:
(…) É sobretudo para com os pais sem recursos que se mostra a verdadeira piedade filial. Satisfazem esse mandamento aqueles que crêem fazer um grande esforço dando-lhes apenas o necessário para não morrerem de fome, quando eles mesmos não se privam de nada? em os relegando aos mais ínfimos aposentos da casa, para não os deixar na rua, enquanto se reservam o que há de melhor, de mais confortável? Felizes ainda quando não o fazem de má vontade e não mercadejam o tempo que lhes resta de vida, descarregando sobre eles os trabalhos da casa! Cabe, pois, aos pais velhos e fracos serem os servidores de filhos jovens e fortes? Sua mãe regateou seu leite quando estavam no berço? contou suas vigílias quando estavam doentes, seus passos para lhes proporcionar o de que tinham necessidade? Não, não é somente o estritamente necessário que os filhos devem a seus pais pobres, mas também, tanto quanto possam, as pequenas doçuras do supérfluo, as amabilidades, os cuidados delicados, que não são do interesse do que eles receberam, o pagamento de uma dívida sagrada. Só aí está a piedade filial aceita por Deus
No Livro Evangelho Segundo Espiritismo de Allan Kardec no Capítulo 13 nos itens 5 e 6 diz:
5. Jesus, estando sentado defronte do gazofilácio, ( * ) considerava de que maneira o povo nele atirava o dinheiro, e que várias pessoas ricas tinham colocado muito. Veio também uma pobre viúva, que nele colocou somente duas pequenas moedas. Então Jesus tendo chamado seus discípulos, lhes disse: Eu vos digo em verdade, esta pobre viúva deu mais do que todos aqueles que colocaram no gazofilácio; porque todos os outros deram de sua abundância, mas esta deu de sua indigência, tudo mesmo o que tinha e tudo o que lhe restava para viver. (São Marcos, cap. XII, v. de 41 a 44 – São Lucas, cap. XXI, v. de 1 a 4).
6. Muitas pessoas lamentam não poderem fazer tanto bem quanto o gostariam, por falta de recursos suficientes, e se desejam a fortuna é, dizem elas, para dela fazerem um bom uso. A intenção é louvável, sem dúvida, e pode ser muito sincera em alguns; mas é certo que seja em todos completamente desinteressada? Não há aqueles que, desejando mesmo fazer o bem aos outros, estariam bem contentes em começar por fazê-lo a si mesmos, de se darem algumas alegrias a mais, de se proporcionarem um pouco do supérfluo que lhes falta, sob a condição de darem o resto aos pobres? Essa segunda intenção, dissimulada, mas que encontrariam no fundo do coração se quisessem nele rebuscar, anula o mérito da intenção, porque a verdadeira caridade pensa nos outros antes de pensar em si. O sublime da caridade, nesse caso, seria procurar no seu próprio trabalho, pelo emprego de suas forças, de sua inteligência, de seus talentos, os recursos que faltam para realizar suas intenções generosas; aí estaria o sacrifício mais agradável ao Senhor. Infelizmente, a maioria sonha com meios mais fáceis de se enriquecer de repente e sem trabalho, correndo atrás de quimeras, como descobertas de tesouros, uma chance incerta favorável, a recuperação de heranças inesperadas, etc. – Que dizer daqueles que esperam encontrar, para os secundar nas pesquisas dessa natureza, auxiliares entre os Espíritos? Seguramente, eles não conhecem nem compreendem o objetivo sagrado do Espiritismo, e ainda menos a missão dos Espíritos, aos quais Deus permite se comunicarem com os homens; também nisso são punidos pelas decepções. (O Livro dos Médiuns, nº 294 e 295).
Aqueles cuja intenção é pura de toda idéia pessoal, devem se consolar de sua impossibilidade em fazer tanto bem quanto gostariam, pelo pensamento de que o óbolo do pobre, que dá se privando, pesa mais na balança de Deus do que o ouro do rico, que dá sem se privar de nada. A satisfação seria grande, sem dúvida, em poder largamente socorrer a indigência; mas se ela é negada, é preciso se submeter e se limitar a fazer o que se pode. Aliás, não é apenas com o ouro que se podem secar as lágrimas, e é preciso ficar inativo por não possuí-lo? Aquele que quer sinceramente se tornar útil aos seus irmãos para isso encontra mil ocasiões; que as procure e as encontrará; se não é de uma maneira, será de outra, porque não há ninguém, tendo o livre gozo de suas faculdades, que não possa prestar um serviço qualquer, dar uma consolação, abrandar um sofrimento físico ou moral, fazer uma tentativa útil; à falta de dinheiro, cada um não tem seu trabalho, seu tempo, seu repouso, dos quais pode dar uma parte? Aí também está o óbolo do pobre, a moeda da viúva
No livro Evolução para o Terceiro Milênio de Carlos Toledo Rizzini no capítulo 9 Item 33-a diz:
Mahatma Gandhi.
Lutou durante toda a sua longa vida contra as próprias imperfeições e auxiliou a fazer isso. Explicava:
“Uma luta infinita para atingir a perfeição, eis o nosso dever humano. Esse dever traz em si sua própria recompensa. O resto está nas mãos de Deus”.
Julgava indispensável um mestre espiritual para alcançar a realização espiritual, pois sem ele não se consegue o verdadeiro conhecimento. Para Gandhi, a oração é o “banho de purificação para o espírito humano” e meio de comunicação com o Poder Supremo; Deus é o laço que une todos os seres humanos sem distinções de credo, cor, raça, posição, etc. Declarava insensatez considerar uma religião melhor do que outra; todas são igualmente boas, visto serem necessárias a grupos humanos.
“Viver simplesmente e pensar elevadamente”, desenvolver uma personalidade integrada pela elevação das qualidades físicas, emocionais e éticas. O verdadeiro progresso consiste em reduzir voluntariamente as nossas necessidades e não no aumento incessante delas. É inútil melhorar sempre o padrão e esquecer os valores morais. A cega perseguição de altos padrões de vida leva a afastar os pensamentos elevados.
As palavras chaves da atividade de Gandhi foram: verdade e não violência, que ele tomou como princípios básicos de sua vida. Com elas, enfrentou o domínio inglês na índia e conseguiu a libertação de sua pátria sem derramamento de sangue. Mais ainda; conseguiu que os dois povos permanecessem amigos, evitando o ódio habitual entre opressor e oprimido.
Por meio delas, enfrentou outros tipos de opressão e alcançou vitórias impas. Soube sempre servir, dando o exemplo de operosidade e renúncia a favor do próximo necessitado e sofredor. Nada obstante, era alegre e cordial.
Amante dos detalhes apreciava deixar tudo claro para que não houvesse qualquer dúvida sobre o que pretendia. Evitava palavras desnecessárias e durante um dia por semana não falava, meditava e escrevia.
Advertido pelo chefe de polícia de que não deveria sair à rua porque fanáticos desejavam matá-lo, perguntou se valeria à pena renegar toda a sua vida pelo medo de morrer, (Sócrates há 24 séculos…).
Declarou ter compromissos com o povo e, portanto, não poder faltar às orações públicas. Pedidos foram inúteis, inclusive do Primeiro Ministro. Gandhi compareceu ao local costumeiro e recebeu o rito fatal. Eis, portanto, a prova final da coragem moral, antes demonstrada por Sócrates e Jesus.
Referencias
Livro dos Espíritos – Allan Kardec
Livro Evangelho Segundo Espiritismo – Allan Kardec
Livro O Consolador – Emmanuel
Livro Depois da Morte – Leon Diniz
Livro Evolução para o Terceiro Milênio – Carlos Toledo Rizzini
Livro Pensamento e vida – Emmanuel
Livro Missionários da luz – André Luiz
Livro Caminho, Verdade e Vida – Emmanuel
Sites consultados:
http://bibliadocaminho.com/ocaminho/TRP/TDIndexLivros.htm
https://www.passatempoespirita.com.br/aulas/aula-80-o-necessario-e-o-superfluo/
http://bibliadocaminho.com.br/
https://centroespiritaleocadio.org.br/
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