Os Fluidos – A Gênese
OS FLUIDOS
A GÊNESE- CAPÍTULO XIV
NATUREZA E PROPRIEDADES DOS FLUIDOS
ELEMENTOS FLUÍDICOS.
1. – A ciência deu a chave dos milagres que resultam, mais particularmente, do elemento material, seja explicando-os, seja demonstrando-lhes a impossibilidade, pelas leis que regem a matéria; mas os fenômenos em que o elemento espiritual toma parte preponderante, não podendo ser explicados unicamente pelas leis da Natureza, escapam às investigações da ciência: é por isso que eles têm, mais que os outros, os caracteres aparentes do maravilhoso. É, pois, nas leis que regem a vida espiritual que se pode encontrar a chave dos milagres desta categoria.
2. – O fluido cósmico universal é, assim como foi demonstrado, a matéria elementar primitiva, da qual as modificações e transformações constituem a inumerável variedade de corpos da Natureza. (Cap. X.) Quanto ao princípio elementar universal, ele oferece dois estados distintos:
o da eterização ou de imponderabilidade, que se pode considerar como o estado normal primitivo, e o da materialização ou de ponderabilidade que, de alguma sorte, não lhe é senão consecutivo. O ponto intermediário é o da transformação do fluido em matéria tangível; mas, ainda aí, não há transição brusca, porque se podem considerar nossos fluidos imponderáveis como um termo médio entre os dois estados. (Cap. IV, nº 10 e seguintes).
Cada um destes dois estados dão, necessariamente, lugar a fenômenos especiais: ao segundo pertencem os do mundo visível, e aos primeiros os do mundo invisível. Uns, chamados fenômenos materiais, são da alçada da ciência propriamente dita; os outros, qualificados de fenômenos espirituais ou psíquicos, porque se ligam mais especialmente à existência dos Espíritos, estão nas atribuições do Espiritismo; mas como a vida espiritual e a vida corpórea estão em contato incessante, os fenômenos destas duas ordens se apresentam, com freqüência, simultaneamente. O homem, no estado de encarnação, não pode ter a percepção senão dos fenômenos psíquicos que se ligam à vida corpórea; aqueles que são do domínio exclusivoda vida espiritual escapam aos sentidos materiais, e não podem ser percebidos senão no estado de Espírito (1).
3. – No estado de eterização, o fluido cósmico não é uniforme; sem deixar de ser etéreo, ele sofre modificações bastante variadas em seu gênero, e mais numerosas talvez que no estado de matéria tangível. Essas modificações constituem os fluidos diferentes que, se bem que procedendo do mesmo princípio, estão dotados de propriedades especiais, e dão lugar aos fenômenos particulares do mundo invisível.
Tudo sendo relativo, esses fluidos têm, para os Espíritos, que são eles mesmos fluídicos, uma aparência tão material quanto à dos objetos tangíveis para os encarnados, e são para eles o que são para nós as substâncias
do mundo terrestre; eles os elaboram, os combinam para produzirem efeitos determinados, como fazem os homens com os seus materiais, todavia, por procedimentos diferentes.
Mas lá, como neste mundo, não é dado senão aos Espíritos mais esclarecidos compreenderem o papel dos elementos constitutivos de seu mundo. Os ignorantes do mundo invisível são tão incapazes de explicar os fenômenos de que são testemunhas, e para os quais, com freqüência, concorrem maquinalmente, quanto os ignorantes da Terra o são para explicarem os efeitos da luz ou da eletricidade, de dizerem como vêem e ouvem.
4. – Os elementos fluídicos do mundo espiritual escapam aos nossos instrumentos de análise e à percepção de nossos sentidos, feitos para a matéria tangível e não para a matéria etérea. Há os que pertencem a um meio de tal modo diferente do nosso, que não podemos julgá-los senão por comparações, tão imperfeitas quanto aquelas pelas quais um cego de nascença procura fazer para si uma idéia da teoria das cores.
Mas, entre estes fluidos, alguns estão intimamente ligados à vida corpórea, e pertencem, de alguma sorte, ao meio terrestre. Na falta de percepção direta, pode-se observar-lhes os efeitos, como se observa os do fluido do ímã, que nunca se viu, e adquirir sobre a sua natureza conhecimentos de uma certa precisão. Este estudo é essencial, porque é a chave de uma multidão de fenômenos inexplicáveis unicamente pelas leis da matéria.
5. – O ponto de partida do fluido universal é o grau de pureza absoluta, de que nada pode nos dar uma idéia; o ponto oposto é a sua transformação em matéria tangível. Entre estes dois extremos, existem inumeráveis transformações, que se aproximam, mais ou menos, de um ou do outro. Os fluidos mais vizinhos da materialidade, os menos puros por conseqüência, compõem o que se pode chamar a atmosfera espiritual terrestre. É neste meio, onde se encontram igualmente diferentes graus de pureza, que os Espíritos encarnados e desencarnados da Terra haurem os elementos necessários à economia de sua existência. Estes fluidos, por sutis e impalpáveis que sejam para nós, não o são menos de uma natureza grosseira, comparativamente aos fluidos etéreos das regiões superiores.
Ocorre o mesmo na superfície de todos os mundos, salvo as diferenças de constituição e as condições de vitalidade próprias a cada um. Quanto menos a vida é material, menos os fluidos espirituais têm afinidade com a matéria, propriamente dita.
A qualificação de fluidos espirituais não é rigorosamente exata, uma vez que, em definitivo, é sempre da matéria mais ou menos quintessenciada. Não há de realmente espiritual senão a alma ou princípio inteligente. São assim designados por comparação, e em razão, sobretudo, de sua afinidade com os Espíritos. Pode-se dizer que são a matéria do mundo espiritual: é por isso que são chamados fluidos espirituais.
6. – Quem conhece, aliás, a constituição íntima da matéria tangível? Talvez não seja ela compacta senão em relação aos nossos sentidos, e o que o provaria é a facilidade com que é atravessada pelos fluidos espirituais, e os Espíritos, para os quais não são mais obstáculos do que os corpos transparentes não o são para a luz.
A matéria tangível, tendo por elemento primitivo o fluido cósmico etéreo, deve poder, em se desagregando, retornar ao estado de eterização, como o diamante, o mais duro dos corpos, pode se volatizar em gás impalpável. A solidificação da matéria, em realidade, não é senão um estado transitório do fluido universal, que pode retornar ao seu estado primitivo quando as condições de coesão deixam de existir.
Quem sabe mesmo se, no estado de tangibilidade, a matéria não seria suscetível de adquirir uma espécie de eterização que lhe daria propriedades particulares? Certos fenômenos, que parecem autênticos, tendem a fazê-lo supor. Não possuímos ainda senão as balizas do mundo invisível, e o futuro nos reserva, sem dúvida, o conhecimento de novas leis que nos permitirão compreender o que é ainda, para nós, um mistério.
FORMAÇÃO E PROPRIEDADES DO PERISPÍRITO.
7. – O perispírito, ou corpo fluídico dos Espíritos, é um dos produtos mais importantes do fluido cósmico; é uma condensação desse fluido ao redor de um foco de inteligência ou alma. Viu-se que o corpo carnal tem igualmente seu princípio neste mesmo fluido transformado e condensado em matéria tangível; no perispírito, a transformação molecular se opera diferentemente, porque o fluido conserva a sua imponderabilidade e as suas qualidades etéreas. O corpo perispiritual e o corpo carnal têm, pois, a sua fonte no mesmo elemento primitivo; um e o outro, são da matéria, embora sob dois estados diferentes.
8. – Os Espíritos haurem o seu perispírito no meio onde se encontrem, quer dizer que este envoltório é formado de fluidos ambientes; disso resulta que os elementos constitutivos do perispírito devem variar segundo os mundos. Sendo dado como um mundo muito avançado, comparativamente à Terra, Júpiter, onde a vida corpórea não tem a materialidade da nossa, os envoltórios perispirituais devem ser ali de uma natureza infinitamente mais quintessenciada do que sobre a Terra. Ora, do mesmo modo que nós não poderíamos existir nesse mundo com o nosso corpo carnal, nossos Espíritos não poderiam ali penetrar com o seu perispírito terrestre. Deixando a Terra, o Espírito nela deixa o seu envoltório fluídico, e se reveste de um outro apropriado ao mundo onde deve ir.
9. – A natureza do envoltório fluídico está sempre em relação com o grau de adiantamento moral do Espírito. Os Espíritos inferiores não podem mudá-lo à sua vontade e, por conseqüência, não podem, à vontade, se transportar de um mundo para outro. Alguns há cujo envoltório fluídico, se bem que etéreo e imponderável, com relação à matéria tangível, é ainda muito pesado, se assim se pode exprimir, com relação ao mundo espiritual, para permitir-lhe sair de seu meio. É necessário classificar, nesta categoria, aqueles cujo perispírito é bastante grosseiro para que o confundam com o seu corpo carnal, e que, por esta razão, se crêem sempre vivos. Estes Espíritos, e o número deles é grande, permanecem na superfície da Terra, como os encarnados, crendo sempre vagar em suas ocupações; outros, um pouco mais desmaterializados, não são, entretanto, o bastante para se elevarem acima das regiões terrestres (2).
Os Espíritos superiores, ao contrário, podem vir para os mundos inferiores e mesmo neles se encarnarem. Eles retiram, nos elementos constitutivos do mundo onde entram, os materiais do envoltório fluídico, ou carnal, apropriado ao meio onde se encontrem. Fazem como o grande senhor que deixa as suas belas vestes para se revestir momentaneamente do burel, sem deixar, por isso, de ser grande senhor.
Assim é que, Espíritos de ordem mais elevada, podem se manifestar aos habitantes da Terra, ou se encarnar em missão entre eles. Estes Espíritos carregam consigo, não o seu envoltório, mas a lembrança, por intuição, das regiões de onde vêm, e que vêem pelo pensamento. São videntes entre cegos.
10. – A camada dos fluidos espirituais que envolvem a Terra pode ser comparada com as camadas inferiores da atmosfera, mais pesadas, mais compactas, menos puras do que as camadas superiores. Estes fluidos não são homogêneos, são uma mistura de moléculas de diversas qualidades, entre as quais se encontram, necessariamente, as moléculas elementares que lhes formam a base, mas, mais ou menos alteradas. Os efeitos produzidos por estes fluidos estarão em razão da soma das partes puras que encerram. Tal é, por comparação, o álcool retificado ou misturado, em diferentes proporções, com água ou outras substâncias: seu peso específico aumenta com esta mistura, ao mesmo tempo que a sua força e sua inflamabilidade diminuem, se bem que no todo haja o álcool puro.
Os Espíritos são chamados a viver nesse meio e aí haurem o seu perispírito; mas, segundo o Espírito seja mais ou menos depurado, ele mesmo, seu perispírito se forma das partes mais puras, ou as mais grosseiras, do fluido próprio do mundo onde se encarna. O Espírito aí produz, sempre por comparação e não por assimilação, o efeito de um reativo químico que atrai para si as moléculas que se assemelham à sua natureza.
Disto resulta este fato capital, que a constituição íntima do perispírito não é idêntica entre todos os Espíritos, encarnados ou desencarnados, que povoam a Terra ou o espaço circundante. Não ocorre o mesmo com o corpo carnal, que, como isso foi demonstrado, está formado dos mesmos elementos, qualquer que seja a superioridade ou a inferioridade do Espírito. Também, entre todos, os efeitos produzidos pelo corpo são os mesmos, as necessidades semelhantes, ao passo que diferem por tudo o que é inerente ao perispírito.
Disso resulta ainda que: o envoltório perispiritual do mesmo Espírito se modifica com o progresso deste, a cada encarnação, se bem que encarnando num mesmo meio; queos Espíritos superiores se encarnando, excepcionalmente, em missão num mundo inferior, têm um perispírito menos grosseiro do que o dos indígenas desse mundo.
11. – O meio está sempre em relação com a natureza dos seres que devem nele viver; os peixes estão na água; os seres terrestres estão no ar; os seres espirituais estão no fluido espiritual ou etéreo, mesmo sobre a Terra. O fluido etéreo é para as necessidades do Espírito o que a atmosfera é para as necessidades dos encarnados. Ora, do mesmo modo que os peixes não podem viver no ar; que os animais terrestres não podem viver numa atmosfera muito rarefeita para os seus pulmões, os Espíritos inferiores não podem suportar o brilho e a impressão dos fluidos mais etéreos. Não morrem com isso, porque o Espírito não morre, mas uma força instintiva os mantêm deles distantes, como se distancia de um fogo muito ardente ou de uma luz muito ofuscante. Eis porque eles não podem sair do meio apropriado à sua natureza; para isto mudar, é preciso que mudem primeiro a sua natureza; que se despojem dos instintos materiais que os retêm nos meios materiais; em uma palavra, que se depurem e se transformem moralmente; então, gradualmente, eles se identificam com um meio mais depurado, que se torna para eles uma falta, uma necessidade, como os olhos daquele que, por muito tempo, viveu nas trevas se habituam insensivelmente à luz do dia e ao brilho do Sol.
12. – Assim, tudo se liga, tudo se encadeia no Universo; tudo está submetido à grande e harmoniosa lei da unidade, desde a materialidade mais compacta até a espiritualidade mais pura. A Terra é como um vaso de onde escapa uma fumaça espessa, que se clareia à medida que se eleva, e cujas partes rarefeitas se perdem no espaço infinito.
A força divina brilha em todas as partes deste conjunto grandioso, e se quereria que, para melhor atestar o seu poder, Deus, não contente com aquilo que fez, viesse perturbar essa harmonia! Que se abaixe ao papel de mágico, por pueris efeitos dignos de um prestigitador! E se ousa, para crescer, dar-lhe por rival, em habilidade, o próprio Satanás! Nunca, em verdade, se rebaixou mais a majestade divina, e se espanta com o progresso da incredulidade!
Tendes razão em dizer: A fé se vai”, mas é a fé em tudo o que choca o bom senso e a razão que se vai; a fé semelhante àquela que fez dizer outrora:” Os deuses se vão!” Mas a fé nas coisas sérias, a fé em Deus e na imortalidade está sempre viva no coração do homem, e se ela foi abafada sob as pueris histórias com as quais a sobrecarregaram, ela se revela mais forte desde que esteja liberta, como a planta comprimida se eleva desde que receba o Sol!
Sim, tudo é milagre na Natureza, por que tudo é admirável e testemunha da sabedoria divina. Estes milagres são para todo o mundo, para todos aqueles que têm olhos para ver e ouvidos para ouvir, e não em proveito de alguns. Não! Não há milagres no sentido que se liga a este nome, porque tudo ressalta das leis eternas da criação e essas leis são perfeitas.
AÇÃO DOS ESPÍRITOS SOBRE OS FLUIDOS. CRIAÇÕES FLUÍDICAS. FOTOGRAFIA DO PENSAMENTO.
13. – Os fluidos espirituais, que constituem um dos estados do fluido cósmico universal, são, propriamente falando, a atmosfera dos seres espirituais; é o elemento de onde eles retiram os materiais sobre os quais operam; é o meio onde se passam os fenômenos especiais, perceptíveis à visão e ao ouvido do Espírito, e que escapam aos sentidos carnais, impressionáveis unicamente pela matéria tangível; onde se forma essa luz particular ao mundo espiritual, diferente da luz ordinária por suas causas e seus efeitos; é, enfim, o veículo do pensamento, como o ar é o veículo do som.
14. – Os Espíritos agem sobre os fluidos espirituais, não os manipulando como os homens manipulam os gases, mas com a ajuda do pensamento e da vontade. O pensamento e a vontade são para o Espírito o que a mão é para o homem. Pelo pensamento, eles imprimem a estes fluidos tal ou tal direção; aglomeram-nos, combinam ou dispersam; formam conjuntos tendo uma aparência, uma forma, uma cor determinadas; mudam-lhes as propriedades como um químico muda a dos gases ou outros corpos, combinando-os segundo certas leis. É a grande oficina ou laboratório da vida espiritual.
Algumas vezes estas transformações são o resultado de uma intenção; freqüentemente, elas são o produto de um pensamento inconsciente; basta ao Espírito pensar em uma coisa para que esta coisa se produza, como basta modular o ar para que este ar repercuta na atmosfera.
Assim é que, por exemplo, um Espírito se apresenta à visão de um encarnado, dotado da visão psíquica, sob as aparências que tinha quando vivo, à época em que se conheceram, tivesse tido várias encarnações depois. Apresenta-se com a roupa, os sinais exteriores, – enfermidades, cicatrizes, membros amputados, etc. – que tinha então; um decapitado se apresentará com a cabeça de menos. Não é para dizer que haja conservado estas aparências; não certamente, porque, como Espírito, ele não é nem coxo, nem maneta, nem vesgo, nem decapitado; mas o seu pensamento, reportando-se à época em que era assim, seu perispírito toma-lhe imediatamente as aparências, que deixa, do mesmo modo, instantaneamente, desde que o pensamento cesse de agir. Se, pois, foi uma vez negro e uma outra vez branco, apresentar-se-á como negro ou como branco, segundo aquela, destas duas encarnações, sob a qual for evocado e onde se reportará o seu pensamento.
Por um efeito análogo, o pensamento do Espírito cria fluidicamente os objetos de que tinha o hábito de se servir; um avarento manejará o ouro, um militar terá as suas armas e o seu uniforme, um fumante o seu caximbo, um lavrador a sua charrua e os seus bois, uma velha a sua roca de fiar. Estes objetos fluídicos são tão reais para o Espírito, que ele mesmo é fluídico, quanto estão no estado material para o homem vivo; mas, pela mesma razão que são criados pelo pensamento, a sua existência é tão fugidia quanto o pensamento (3).
15. – Sendo os fluidos o veículo do pensamento, este age sobre os fluidos como o som age sobre o ar; eles nos trazem o pensamento como o ar nos traz o som. Pode-se dizer, pois, com toda a verdade, que há, nestes fluidos, ondas e raios de pensamento, que se cruzam sem se confundirem, como há no ar ondas e raios sonoros.
Há mais: O pensamento, criando imagens fluídicas, ele se reflete no envoltório perispiritual como num vidro; aí toma um corpo e se fotografa de alguma sorte. Que um homem, por exemplo, tenha a idéia de matar um outro, por impassível que seja o seu corpo material, seu corpo fluídico é colocado em ação pelo pensamento, do qual reproduz todas as nuanças; ele executa fluidicamente o gesto, o ato que tem o desejo de cumprir; o pensamento cria a imagem da vítima, e a cena inteira se desenha, como num quadro, tal como está em seu espírito.
É assim que os movimentos mais secretos da alma repercutem no envoltório fluídico; que uma alma pode ler em outra alma como num livro, e ver o que não é perceptível aos olhos do corpo. Contudo, vendo a intenção, ela pode pressentir o cumprimento do ato, que lhe será a seqüência, mas não pode determinar o momento em que se cumprirá, nem precisar-lhe os detalhes, nem mesmo afirmar que ocorrerá, porque circunstâncias ulteriores podem modificar os planos detidos e mudar as disposições. Ela não pode ver o que não está ainda no pensamento; o que ela vê é a preocupação habitual do indivíduo, seus desejos, seus projetos, seus propósitos bons ou maus.
QUALIDADES DOS FLUIDOS.
16. – A ação dos Espíritos sobre os fluidos espirituais tem conseqüências de uma importância direta e capital para os encarnados. Desde o instante que estes fluidos são o veículo do pensamento, que o pensamento pode modificar-lhes as propriedades, é evidente que eles devem estar impregnados de qualidades boas ou más dos pensamentos que os colocam em vibração, modificados pela pureza ou pela impureza dos sentimentos. Os maus pensamentos corrompem os fluidos espirituais, como os miasmas deletérios corrompem o ar respirável. Os fluidos que cercam ou que projetam os maus Espíritos são, pois, viciados, ao passo que aqueles que recebem a influência de bons Espíritos são tão puros quanto o comporta o grau da perfeição moral destes.
17. – Seria impossível fazer uma enumeração ou classificação dos bons e dos maus fluidos, nem especificar as suas qualidades respectivas, tendo em vista que a sua diversidade é tão grande quanto a dos pensamentos.
Os fluidos não têm qualidades sui generis, mas as que adquirem no meio onde se elaboram; modificam-se pelos eflúvios desse meio, como o ar pelas exalações, a água pelos sais das camadas que atravessa. Segundo as circunstâncias, essas qualidades são, como o ar e a água, temporárias ou permanentes, o que os torna mais especialmente próprios à produção de tais ou tais efeitos determinados.
Os fluidos não têm denominações especiais; como os odores, são designados por suas propriedades, seus efeitos e seu tipo original. Sob o aspecto moral, carregam a marca dos sentimentos do ódio, da inveja, do ciúme, do orgulho, do egoísmo, da violência, da hipocrisia, da bondade, da benevolência, do amor, da caridade, da doçura, etc.; sob o aspecto físico, são excitantes, calmantes, penetrantes, adstringentes, irritantes, dulcificantes, suporíferos, narcóticos, tóxicos, reparadores, eliminadores; tornam-se força de transmissão ou de propulsão, etc. O quadro dos fluidos seria, pois, o de todas as paixões, das virtudes e dos vícios da Humanidade, e das propriedades da matéria correspondendo aos efeitos que eles produzem.
18. – Sendo os homens os Espíritos encarnados, eles têm, em parte, as atribuições da vida espiritual, porque vivem desta vida quanto da vida corpórea: primeiro, durante o sono, e, freqüentemente, no estado de vigília. O Espírito, em se encarnando, conserva o seu perispírito com as qualidades que lhe são próprias, e que, como se sabe, não está circunscrito pelo corpo, mas irradia todo ao redor e o envolve como de uma atmosfera fluídica.
Pela sua união íntima com o corpo, o perispírito desempenha um papel preponderante no organismo; pela sua expansão, coloca o Espírito encarnado em relação mais direta com os Espíritos livres, e também com os Espíritos encarnados.
O pensamento do Espírito encarnado age sobre os fluidos espirituais como o dos Espíritos desencarnados; ele se transmite de Espírito a Espírito pela mesma via, e, segundo seja bom ou mau, saneia ou vicia os fluidos circundantes.
Se os fluidos ambientes são modificados pela projeção dos pensamentos do Espírito, seu envoltório perispiritual, que é parte constituinte de seu ser, que recebe diretamente e de maneira permanente a impressão de seus pensamentos, deve mais ainda carregar a marca de suas qualidades boas ou más. Os fluidos viciados pelos eflúvios dos maus Espíritos podem se depurar pelo distanciamento destes, mas o seu perispírito será sempre o que é, enquanto o próprio Espírito não se modificar.
Sendo o perispírito dos encarnados de uma natureza idêntica à dos fluidos espirituais, assimila-os com facilidade, como uma esponja se embebe de líquido. Estes fluidos têm, sobre o perispírito, uma ação tanto mais direta que, por sua expansão e sua irradiação, se confunde com eles.
Estes fluidos agindo sobre o perispírito, este, por sua vez, reage sobre o organismo material, com o qual está em contato molecular. Se os eflúvios são de boa natureza, o corpo sente-lhes uma impressão salutar; se são maus, a impressão é penosa; se os maus são permanentes e enérgicos eles podem determinar desordens físicas: certas doenças não têm outra causa.
Os meios onde superabundam os maus Espíritos são, pois, impregnados de maus fluidos, que são absorvidos por todos os poros perispirituais, como se absorvem, pelos poros do corpo, os miasmas pestilentos.
19. – Assim se explicam os efeitos que se produzem nos lugares de reunião. Uma assembléia é um foco onde se irradiam pensamentos diversos; é como uma orquestra, um coro de pensamentos onde cada um produz a sua nota. Disso resulta uma multidão de correntes e de eflúvios fluídicos, dos quais cada um recebe a impressão pelo sentido espiritual, como num coro de música cada um recebe a impressão dos sons pelo sentido do ouvido.
Mas, do mesmo modo que há raios sonoros harmônicos e discordantes, há também pensamentos harmônicos e discordantes. Se o conjunto é harmonioso, a impressão é agradável; se é discordante, a impressão é penosa. Ora, por isso, não há necessidade de que o pensamento seja formulado em palavras; a irradiação fluídica não existe menos, quer seja expressada ou não.
Tal é a causa do sentimento de satisfação que se experimenta numa reunião simpática, animada de bons e benevolentes pensamentos; ali reina como uma atmosfera moral saudável, onde se respira com facilidade; ali sente-se reconfortado, porque está impregnado de eflúvios fluídicos salutares; mas se ali se misturam alguns pensamentos maus, eles produzem o efeito de uma corrente de ar gelado num meio tépido, ou de uma nota falsa num concerto. Assim se explicam também a ansiedade, o mal-estar indefinível que se sente num meio antipático, onde os pensamentos malévolos provocam como correntes de ar nauseante.
20. – O pensamento produz, pois, uma espécie de efeito físico que reage sobre o moral; é o que só o Espiritismo poderia fazer compreender. O homem o sente instintivamente, uma vez que procura as reuniões homogêneas ou simpáticas, onde sabe que pode haurir novas forças morais; poder-se-ia dizer que ali recupera as perdas fluídicas, que tem cada dia pela irradiação do pensamento, como recupera, pelos alimentos, as perdas do corpo material. É que, com efeito, o pensamento é uma emissão que ocasiona uma perda real nos fluidos espirituais e, por conseqüência, nos fluidos materiais, de tal sorte que o homem tem necessidade de se retemperar nos eflúvios que recebe de fora.
Quando se diz que um médico cura os seus doentes com boas palavras, enuncia-se uma verdade absoluta, porque o pensamento benevolente leva com ele fluidos reparadores, que agem sobre o físico tanto quanto sobre o moral.
21. – Sem dúvida, dir-se-á, é possível evitar os homens que se sabe mal-intencionados, mas como se subtrair à influência dos maus Espíritos, que pululam ao redor de nós e penetram por a toda parte sem serem vistos!
O meio é muito simples, porque depende da vontade do próprio homem, que carrega em si o preservativo necessário. Os fluidos se unem em razão da semelhança de sua natureza; os fluidos dessemelhantes se repelem; há incompatibilidade entre os bons e os maus fluidos, como entre o óleo e a água.
Que se faz quando o ar está viciado? É saneado, é depurado, destruindo o foco dos miasmas, expulsando os eflúvios malsãos, por correntes de ar saudável mais forte. À invasão dos maus fluidos, é necessário, pois, opor os bons fluidos; e, como cada um tem no seu perispírito uma fonte fluídica permanente, carrega-se o remédio em si mesmo; não se trata senão de depurar esta fonte e dar-lhe qualidades tais, que elas sejam, para as más influências, um contraste, em lugar de ser uma força atrativa. O perispírito é, pois, uma couraça à qual é necessário dar a melhor têmpera possível; ora, como as qualidades do perispírito estão em razão das qualidades da alma, é necessário trabalhar no seu próprio melhoramento, porque são as imperfeições da alma que atraem os maus Espíritos.
As moscas vão onde focos de corrupção as atraem; destruí estes focos e as moscas desaparecerão. Do mesmo modo os maus Espíritos vão onde o mal os atrai; destruí o mal, e eles se afastarão. Os Espíritos realmente bons, encarnados ou desencarnados, nada têm a temer da influência dos maus Espíritos.
EXPLICAÇÃO DE ALGUNS FATOS REPUTADOS SOBRENATURAIS
VISÃO ESPIRITUAL OU PSÍQUICA; DUPLA VISTA; SONAMBULISMO; SONHOS.
22. – O perispírito é o traço de união entre a vida corpórea e a vida espiritual: é por ele que o Espírito encarnado está em contínua relação com os Espíritos; é por ele, enfim, que se cumprem, no homem, fenômenos especiais que não têm a sua causa primeira na matéria tangível, e que, por esta razão, parecem sobrenaturais.
É nas propriedades e na irradiação do fluido perispiritual que se deve procurar a causa da dupla vista, ou visão espiritual, que se pode também chamar visão psíquica, da qual muitas pessoas estão dotadas, freqüentemente com o seu desconhecimento, assim como da visão sonambúlica.
O perispírito é o órgão sensitivo do Espírito; é por seu intermédio que o Espírito encarnado tem a percepção das coisas espirituais que escapam aos seus sentidos carnais. Pelos órgãos do corpo, a vista, o ouvido e as diversas sensações estão localizadas e limitadas à percepção das coisas materiais; pelo sentido espiritual, ou psíquico, elas estão generalizadas; o Espírito vê, ouve e sente por todo o seu ser o que está na esfera de irradiação de seu fluido perispiritual.
Estes fenômenos são, no homem, a manifestação da vida espiritual; é a alma que age fora do organismo. Na dupla vista, ou percepção pelo sentido psíquico, ele não vê pelos olhos do corpo, se bem que, freqüentemente, por hábito, os dirija para o ponto sobre o qual leva a sua atenção; vê pelos olhos da alma, e a prova disto é que vê tudo tão bem com os olhos fechados, e além do alcance de seu raio visual; ele lê o pensamento representado figuradamente no raio fluídico (nº15). (4).
23. – Embora, durante a vida, o Espírito esteja preso ao corpo pelo perispírito, ele não é de tal modo escravo que não possa alongar o seu laço e se transportar ao longe, seja na Terra, seja sobre qualquer ponto do espaço. O Espírito não está senão com pesar ligado ao seu corpo, porque a sua vida normal é a liberdade, ao passo que a vida corpórea é a do servo preso à gleba.
O Espírito é, pois, feliz por deixar o seu corpo, como o pássaro deixa a sua gaiola; ele agarra todas as ocasiões para dele se libertar, e se aproveita, por isto, de todos os instantes em que a sua presença não é necessária à vida de relação. É o fenômeno designado sob o nome de emancipação da alma; sempre ocorre no sono; todas as vezes que o corpo repousa, e que os sentidos estão em inatividade, o Espírito se desliga. (O Livro dos Espíritos,cap. VIII).
Nestes momentos, o Espírito vive da vida espiritual, ao passo que o corpo não vive senão da vida vegetativa; ele está em parte no estado que estará depois da morte; percorre o espaço, conversa com os seus amigos e outros Espíritos livres, ou encarnados como ele.
O laço fluídico que o retém ao corpo não está definitivamente rompido senão na morte; a separação completa não ocorre senão pela extinção absoluta da atividade do princípio vital. Tanto que o corpo viva, a qualquer distância que esteja, o Espírito para ele é instantaneamente chamado, desde que a sua presença seja necessária; ele, então, retoma o curso de sua vida exterior de relação. Por vezes, ao despertar, conserva uma lembrança de suas peregrinações, uma imagem mais ou menos precisa, que constitui o sonho; dele traz, em todos os casos, intuições que lhe sugerem idéias e pensamentos novos, e justificam o provérbio: A noite traz conselho.
Assim se explicam igualmente certos fenômenos característicos do sonambulismo natural e magnético, da catalepsia, da letargia, do êxtase, etc. e que não são outras do que as manifestações da vida espiritual (5).
24. – Uma vez que a visão espiritual não se efetua pelos olhos do corpo, é que a percepção das coisas não ocorre pela luz comum: com efeito, a luz material está feita para o mundo material; para o mundo espiritual existe uma luz especial cuja natureza nos é desconhecida, mas que, sem dúvida, é uma das propriedades do fluido etéreo impressionando as percepções visuais da alma. Há, pois, a luz material e a luz espiritual. A primeira tem focos circunscritos nos corpos luminosos; a segunda tem seu foco por toda a parte: é a razão pela qual não há obstáculos para a visão espiritual; ela não se detém nem pela distância, nem pela opacidade da matéria; a obscuridade não existe para ela. O mundo espiritual é, pois, iluminado pela luz espiritual, que tem seus efeitos próprios, como o mundo material é iluminado pela luz solar.
25. – A alma, envolvida pelo seu perispírito, carrega assim nela seu princípio luminoso; penetrando a matéria, em virtude de sua essência etérea, não há corpos opacos para a sua visão.
Entretanto, a visão espiritual não tem nem a mesma extensão, nem a mesma penetração em todos os Espíritos; só os puros Espíritos a possuem em todo o seu poder; nos Espíritos inferiores, ela é enfraquecida pela grosseria relativa do perispírito, que se interpõe como uma espécie de névoa.
Ela se manifesta em diferentes graus nos Espíritos encarnados pelo fenômeno da segunda vista, seja no sonambulismo natural ou magnético, seja no estado de vigília. Segundo o grau de poder da faculdade, diz-se que a lucidez é mais ou menos grande. É com a ajuda desta faculdade que certas pessoas vêem o interior do organismo e descrevem a causa das doenças.
26. – A visão espiritual dá, pois, percepções especiais que, não tendo por sede os órgãos materiais, se operam em condições diferentes da visão corpórea. Por esta razão, não se podem esperar efeitos idênticos e experimentar pelos mesmos procedimentos. Cumprindo-se fora do organismo, ela tem uma mobilidade que frustra todas as previsões. É necessário estudá-la em seus efeitos e em suas causas, e não por assimilação com a visão comum, que ela não está destinada a suprir, salvo casos excepcionais e que não se poderiam tomar por regra.
27. – A visão espiritual é necessariamente incompleta e imperfeita entre os Espíritos encarnados, e, por conseqüência, sujeita a aberrações. Tendo a sua sede na própria alma, o estado da alma deve influir sobre as percepções que ela dá. Segundo o grau de seu desenvolvimento, as circunstâncias e o estado moral do indivíduo, ela pode dar, seja no sono, seja no estado de vigília: 1º a percepção de certos fatos materiais reais, como o conhecimento de acontecimentos que se passam ao longe, os detalhes descritivos de uma localidade, as causas de uma doença, e os remédios convenientes; 2º a percepção de coisas igualmente reais do mundo espiritual, como a visão dos Espíritos; 3º imagens fantásticas criadas pela imaginação, análogas às criações fluídicas do pensamento. (Ver acima, nº 14). Estas criações estão sempre em relação com as disposições morais do Espírito que as cria. É assim que o pensamento de pessoas fortemente imbuídas e preocupadas de certas crenças religiosas lhes apresenta o inferno, suas fornalhas, suas torturas e seus demônios, tal como as sejam figuradas: às vezes, é toda uma epopéia; os pagãos viam o Olimpo e o Tártaro, como os cristãos viam o inferno e o paraíso. Se, ao despertar, ou ao sair do êxtase, essas pessoas conservam uma lembrança precisa de suas visões, elas as tomam por realidades e confirmações de suas crenças, ao passo que isso não é senão um produto de seus próprios pensamentos (6). Há, pois, uma escolha muito rigorosa a fazer nas visões extáticas, antes de aceitá-las. O remédio para a demasiada credulidade, sob este aspecto, é o estudo das leis que regem o mundo espiritual.
28. – Os sonhos propriamente ditos apresentam as três naturezas de visões descritas acima. É às duas primeiras que pertencem os sonhos de previsões, pressentimentos e advertências (7); é na terceira, quer dizer, nas criações fluídicas do pensamento que se pode encontrar a causa de certas imagens fantásticas, que nada têm de real com relação à vida material, mas que têm, para o Espírito, uma realidade por vezes tal que o corpo lhe sofre o contra-golpe, e que se tem visto os cabelos embranquecerem sob a impressão de um sonho. Estas criações podem ser provocadas: pelas crenças exaltadas; por lembranças retrospectivas; pelos gostos, os desejos, as paixões, o medo, os remorsos; pelas preocupações habituais; pelas necessidades do corpo, ou um embaraço nas funções do organismo; enfim, por outros Espíritos, com um fim benevolente ou malévolo, segundo a sua natureza (8).
CATALEPSIA; RESSURREIÇÕES.
29. – A matéria inerte é insensível; o fluido perispiritual o é também, mas ele transmite a sensação ao centro sensitivo que é o Espírito. As lesões dolorosas do corpo repercutem, pois, no Espírito como um choque elétrico, por intermédio do fluido perispiritual, do qual os nervos parecem ser os fios condutores. É influxo nervoso dos fisiologistas, que, não conhecendo as relações desse fluido com o princípio espiritual, dele não puderam explicar todos os efeitos.
Esta interrupção pode ter lugar pela separação de um membro ou a secção de um nervo, mas também, parcialmente ou de maneira geral, e sem nenhuma lesão, no momento de emancipação, de grande superexcitação ou preocupação do Espírito. Nesse estado, o Espírito não pensa mais no corpo e em sua febril atividade, ele atrai, por assim dizer, a ele o fluido perispiritual que, se retirando da superfície, ali produz uma insensibilidade momentânea. Poder-se-ia ainda admitir que, em certas circunstâncias, se produz, no próprio fluido perispiritual, uma modificação molecular que lhe tira temporariamente a propriedade de transmissão. Assim é que, freqüentemente, no ardor do combate, um militar não percebe que foi ferido; que uma pessoa cuja atenção está concentrada sobre um trabalho, não ouve o ruído que se faz ao redor dela. É um efeito análogo, porém, mais pronunciado, que ocorre em certos sonâmbulos, na letargia e na catalepsia. É assim, enfim, que se pode explicar a insensibilidade dos convulsionários e de certos mártires. (Revista Espírita, janeiro 1868:Estudo sobre os Aïssaouas.)
A paralisia não tem, de nenhum modo, a mesma causa: aqui o efeito é todo orgânico; são os próprios nervos os fios condutores que não estão mais aptos para a circulação fluídica; são as cordas do instrumentos que estão alteradas.
30. – Em certos estados patológicos, quando o Espírito não está mais no corpo, e que o perispírito a ele não adere senão em alguns pontos, e corpo tem todas as aparências da morte, e se está na verdade absoluta, dizendo que a vida não se prende senão por um fio. Este estado pode durar mais ou menos tempo; certas partes do corpo podem mesmo entrar em decomposição, sem que a vida estiver definitamente extinta. Enquanto o último fio não estiver rompido, o Espírito pode, seja por uma ação enérgica de sua própria vontade, seja por um influxo fluídico estranho, igualmente poderoso, ser chamado ao corpo. Assim se explicam certos prolongamentos da vida contra toda probabilidade, e certas pretensas ressurreições. É a planta que desabrocha, às vezes, com uma única fibrila da raiz; mas quando as últimas moléculas do corpo fluídico se destacaram do corpo carnal, ou quando este último está num estado de degradação irreparável, todo retorno à vida se torna impossível (9).
CURAS.
31. – O fluido universal, como se viu, é o elemento primitivo do corpo carnal e do perispírito, que dele não são senão transformações. Pela identidade de sua natureza, este fluido, condensado no perispírito, pode fornecer ao corpo os princípios reparadores; o agente propulsor é o Espírito, encarnado ou desencarnado, que infiltra num corpo deteriorado uma parte da substância de seu envoltório fluídico. A cura se opera pela substituição de uma molécula sã a uma molécula malsã. O poder curador está, pois, em razão da pureza da substância inoculada; ele depende ainda da energia da vontade, que provoca uma emissão fluídica mais abundante, e dá ao fluido uma maior força de penetração; enfim, as intenções que animam aquele que quer curar, quer seja homem ou Espírito. Os fluidos que emanam de uma fonte impura são como substâncias medicinais alteradas.
32. – Os efeitos da ação fluídica sobre as enfermidades são extremamente variados, segundo as circunstâncias; esta ação, algumas vezes, é lenta e reclama um tratamento continuado, como no magnetismo comum; de outras vezes, ela é rápida como uma corrente elétrica. Há pessoas dotadas de uma força tal que elas operam, sobre certos enfermos, curas instantâneas pela só imposição das mãos, ou mesmo só por um ato da vontade. Entre os dois pólos extremos desta faculdade, há nuanças ao infinito. Todas as curas deste gênero são variedades do magnetismo e não diferem senão pelo poder e a rapidez da ação. O princípio é sempre o mesmo: é o fluido que desempenha o papel de agente terapêutico, e cujos efeitos estão subordinados à sua qualidade e às circunstâncias especiais.
33. – A ação magnética pode se produzir de várias maneiras:
1º Pelo próprio fluido do magnetizador; é o magnetismo propriamente dito, oumagnetismo humano, cuja ação está subordinada ao poder e, sobretudo, à qualidade do fluido;
2º Pelo fluido dos Espíritos agindo diretamente, e sem intermediário, sobre um encarnado, seja para curar ou acalmar um sofrimento, seja para provocar o sono sonambúlico espontâneo, seja para exercer, sobre o indivíduo, uma influência física ou moral qualquer. É o magnetismo espiritual, cuja qualidade está em razão das qualidades do Espírito (10).
3º Pelos fluidos que os Espíritos despejam sobre o magnetizador e ao qual este serve de condutor. É o magnetismo misto, semi-espiritual ou, querendo-se, humano-espiritual. O fluido espiritual, combinado com o fluido humano, dá a este as qualildades que lhe faltam. O concurso dos Espíritos, em semelhante circunstância, é por vezes espontâneo, mas, o mais freqüentemente, é provocado pelo pedido do magnetizador.
34. – A faculdade de curar por influência fluídica é muito comum, e pode se desenvolver pelo exercício; mas a de curar instantaneamente, pela imposição das mãos, é mais rara, e o seu apogeu pode ser considerado como excepcional. Entretanto, foram vistos em diversas épocas, e quase entre todos os povos, indivíduos que a possuíam em grau eminente. Nestes últimos tempos, viram-se vários exemplos notáveis, cuja autenticidade não pode ser contestada. Uma vez que estas espécies de cura repousam sobre um princípio natural, e que o poder de operá-las não é um privilégio, é que elas não saem da Natureza e não têm de miraculosas senão a aparência (11).
APARIÇÕES; TRANSFIGURAÇÕES.
35. – Em seu estado normal, o perispírito é invisível para nós, mas, como está formado com matéria etérea, o Espírito pode, em certas circunstâncias, fazê-lo sofrer, por um ato de sua vontade, uma modificação molecular que o torne momentaneamente visível. É assim que se produzem as aparições, que, não mais do que os outros fenômenos, não estão fora das leis da Natureza. Este não é mais extraordinário do que aquele do vapor, que é invisível quando está muito rarefeito, e que se torna visível, quando está condensado.
Segundo o grau de condensação do fluido perispiritual, a aparição, algumas vezes, é vaga e vaporosa; de outras vezes, ela é mais nitidamente definida; de outras vezes, enfim, tem todas as aparências da matéria tangível; pode mesmo ir até a tangibilidade real, ao ponto de se equivocar sobre a natureza do ser que se tem à frente.
As aparições vaporosas são freqüentes, e ocorrem, a miúdo, quando os indivíduos se apresentam assim, depois de sua morte, às pessoas que estimam. As aparições tangíveis são mais raras, embora delas se tenham exemplos bastante numerosos, perfeitamente autênticos. Se o Espírito quer se fazer conhecer, dará, ao seu envoltório, todos os sinais exteriores que tinha quando vivo (12).
36. – É de se notar que as aparições tangíveis não têm senão as aparências da matéria carnal, mas não poderiam dela ter as qualidades; em razão de sua natureza fluídica, elas não podem ter a mesma coesão, porque, em realidade, não são da carne. Formam-se instantaneamente e desaparecem do memo modo, ou se evaporam pela degradação das moléculas fluídicas. Os seres que se apresentam nestas condições não nascem e nem morrem como os outros homens; são vistos e não são mais vistos, sem saber-se de onde vêm, como vieram, nem onde vão; não se poderia matá-los, nem acorrentá-los, nem encarcerá-los, uma vez que não têm corpo carnal; as pancadas que se lhes dessem feririam o vazio.
Tal é o caráter dos agêneres, com os quais se pode conversar sem suspeitar daquilo que são, mas que nunca fazem longas permanências, e não podem se tornar os comensais habituais de uma casa, nem figurar entre os membros de uma família.
Há, aliás, em toda a sua pessoa, em seus passos, alguma coisa de estranha e de insólita que resulta da materialidade e da espiritualidade: seu olhar, vaporoso e penetrante ao mesmo tempo, não tem a nitidez do olhar pelos olhos da carne; a sua linguagem breve e quase sempre sentenciosa, nada tem do brilho e da volubilidade da linguagem humana; sua aproximação faz sentir uma sensação particular indefinível de surpresa que inspira uma espécie de medo, e, tomados como indivíduos semelhantes a todos os outros, se diz involuntariamente: Eis um ser singular (13).
37. – Sendo o perispírito o mesmo nos encarnados e nos desencarnados, por um efeito completamente idêntico, um Espírito encarnado pode aparecer, em um momento de liberdade, sobre um outro ponto além daquele onde seu corpo repousa, sob seus traços habituais e com todos os sinais de sua identidade. Este fenômeno, do qual se têm exemplos autênticos, foi que deu lugar à crença nos homens duplos (14).
38. – Um efeito particular desta espécie de fenômenos, é que as aparições vaporosas, e mesmo tangíveis, não são perceptíveis indistintamente por toda a gente; os Espíritos não se mostram senão quando querem, e a quem querem. Um Espírito poderia, pois, aparecer numa assembléia a um ou a vários assistentes, e não ser visto pelos outros. Isto vem de que estas espécies de percepções se efetuam pela visão espiritual, e não pela visão carnal; não somente a visão espiritual não é dada a todas as pessoas, mas pode, se for necessário, ser retirada, pela vontade do Espírito, daquele a quem não se quer mostrar, como pode dá-la momentaneamente, se o julga necessário.
A condensação do fluido perispiritual nas aparições, mesmo até a tangibilidade, não tem, pois, as propriedades da matéria comum: sem isso, as aparições, sendo perceptíveis pelos olhos do corpo, o seriam por todas as pessoas presentes (15).
39. – Podendo o Espírito operar transformações na contextura de seu envoltório perispiritual, e este envoltório irradiando-se ao redor do corpo como uma atmosfera fluídica, um fenômeno análogo ao das aparições pode se produzir na própria superfície do corpo. Sob a camada fluídica, a figura real do corpo pode se apagar mais ou menos completamente e revestir outros traços; ou bem os traços primitivos vistos através da camada fluídica modificada, como através de um prisma, podem tomar uma outra expressão. Se o Espírito encarnado, saindo do terra-a-terra, se identifica com as coisas do mundo espiritual, a expressão de um rosto pode se tornar bela, radiosa, e, por vezes, mesmo luminosa; se, ao contrário, o Espírito está exaltado pelas más paixões, um belo rosto pode tomar um aspecto horrível.
É assim que se operam as transfigurações, que são sempre um reflexo das qualidades e dos sentimentos predominantes do Espírito. Este fenômeno é, pois, o resultado de uma transformação fluídica; é uma espécie de aparição perispiritual que se produz sobre o próprio corpo vivo e, algumas vezes, no momento da morte, em lugar de se produzir ao longe, como nas aparições propriamente ditas. O que distingue as aparições deste gênero é que, geralmente, elas são perceptíveis por todos os assistentes e pelos olhos do corpo, precisamente porque elas têm por base a matéria carnal visível, ao passo que, nas aparições puramente fluídicas, não há matéria tangível (16).
MANIFESTAÇÕES FÍSICAS. MEDIUNIDADE.
40. – Os fenômenos das mesas girantes e falantes, da suspensão etérea dos corpos pesados, da escrita medianímica, tão antigos quanto o mundo; mais vulgares hoje, dão a chave de alguns fenômenos análogos espontâneos, aos quais, na ignorância da lei que os regia, lhes atribuíram um caráter sobrenatural e miraculoso. Esses fenômenos repousam sobre as propriedades do fluido perispiritual, seja de encarnados, seja de Espíritos livres.
41. – É com a ajuda de seu perispírito que o Espírito age sobre o seu corpo vivo; é ainda com este mesmo fluido que se manifesta agindo sobre a matéria inerte, que produz os ruídos, os movimentos de mesas e outros objetos que levanta, tomba ou transporta. Este fenômeno nada tem de surpreendente, considerando-se que, entre nós, os mais poderosos motores se encontram nos fluidos mais rarefeitos e mesmo imponderáveis, como o ar, o vapor e a eletricidade.
É igualmente com a ajuda de seu perispírito que o Espírito faz os médiuns escreverem, falarem ou desenharem; não tendo mais corpo tangível para agir ostensivamente, quando quer se manifestar, serve-se do corpo do médium, do qual empresta os órgãos, que faz agir como se fora o seu próprio corpo, e isso pelo eflúvio fluídico que derrama sobre ele.
42. – É pelo mesmo meio que o Espírito age sobre a mesa, seja para fazê-la mover-se sem significação determinada, seja para fazê-la dar golpes inteligentes indicando as letras do alfabeto, para formar palavras e frases, fenômeno designado sob o nome de tiptologia. A mesa não é, aqui, senão um instrumento de que ele se serve, como faz do lápis para escrever; dá-lhe uma vitalidade momentânea pelo fluido com a qual a penetra, mas em nada se identifica com ela. As pessoas que, em sua emoção, vendo se manifestar um ser que lhe é querido, se abraçam à mesa, fazem um ato ridículo, porque é absoltamente como se abraçassem o bastão de que um amigo se serve para dar pancadas. Ocorre o mesmo com aquelas que dirigem a palavra à mesa, como se o Espírito estivesse encerrado na madeira, ou como se a madeira se tornasse Espírito.
Quando as comunicações ocorrem por este meio, é necessário supor que o Espírito, não na mesa, mas ao lado, tal como era quando vivo, e tal como seria visto, podendo se tornar visível. A mesma coisa ocorre nas comunicações pela escrita; ver-se-á o Espírito ao lado do médium, dirigindo a sua mão ou transmitindo-lhe o seu pensamento por uma corrente fluídica.
43. – Quando a mesa se destaca do solo e flutua no espaço sem ponto de apoio, o Espírito não a ergue com a força do braço, mas a envolve e a penetra com uma espécie de atmosfera fluídica que neutraliza o efeito da gravidade, como o faz o ar com os balões e os papagaios. O fluido com a qual ela está penetrada, lhe dá, momentaneamente, uma leveza específica maior. Quando ela está pregada ao solo, está num estado análogo ao da campânula pneumática sob a qual se faz o vácuo. Aqui não temos senão comparações para mostrarmos a analogia dos efeitos e não a semelhança absoluta das causas. (O Livro dos Médiuns, cap. IV).
Compreende-se, depois disto, que não é mais difícil a um Espírito levantar uma pessoa do que levantar uma mesa, transportar um objeto de um lugar para outro, ou lançá-lo em qualquer parte; estes fenômenos se produzem pela mesma lei (17).
Quando a mesa persegue alguém, não é o Espírito quem corre, porque ele pode permanecer tranqüilamente no mesmo lugar, mas lhe dá impulso por uma corrente fluídica com a ajuda do qual a faz mover a sua vontade.
Quando os golpes se fazem ouvir nas mesas ou em outra parte, o Espírito não bate nem com sua mão, nem com objeto qualquer; ele dirige sob o ponto onde parte o ruído, um jato de fluido que produz o efeito de um choque elétrico. Ele modifica o ruído como se podem modificar os sons produzidos pelo ar (18).
44. – Um fenômeno muito freqüente na mediunidade é a aptidão de certos médiuns para escrever numa língua que lhes é estranha; o tratar, pela palavra ou pela escrita, de assuntos fora do alcance de sua instrução. Não é raro ver os que escrevem correntemente sem terem aprendido a escrever; outros que fazem poesias sem nunca saberem fazer um verso em sua vida; outros desenham, pintam, esculpem, compõem músicas, tocam um instrumento, sem conhecerem o desenho, a pintura, a escultura, ou a ciência musical. É muito freqüente que um médium escrevente reproduza, a ponto de enganar-se, a escrita e a assinatura que os Espíritos que se comunicam por ele tinham quando vivos, embora nunca os haja conhecido.
Este fenômeno não é mais maravilhoso do que o de ver uma criança escrever quando se lhe conduz a mão: pode-se, assim, fazê-la executar tudo o que se quer. Pode-se fazer o primeiro que chegar escrever numa língua qualquer ditando-se-lhe as palavras letra a letra. Compreende-se que possa ser o mesmo na mediunidade, reportando-se à maneira pela qual os Espíritos se comunicam com os médiuns, que não são para eles, em realidade, senão instrumentos passivos. Mas se o médium possui o mecanismo, se venceu as dificuldades práticas, se as expressões lhe são familiares, enfim, se tem em seu cérebro os elementos daquilo que o Espírito quer fazê-lo executar, ele está na posição do homem que sabe ler e escrever correntemente; o trabalho é mais fácil e mais rápido; o Espírito não tem senão que transmitir o pensamento que o seu intérprete reproduz pelos meios de que dispõe.
A aptidão de um médium para coisas que lhe são estranhas, freqüentemente, prende-se também aos conhecimentos que possuiu numa outra existência, e dos quais seu Espírito conservou a intuição. Se foi poeta ou músico, por exemplo, terá mais facilidade para assimilar o pensamento poético ou musical que se quer fazê-lo reproduzir. A língua que ignora hoje pode lhe ter sido familiar numa outra existência: daí, para ele, uma aptidão maior para escrever mediunicamente nessa língua (19).
OBSESSÕES E POSSESSÕES.
45. – Os maus Espíritos pululam ao redor da Terra, em conseqüência da inferioridade moral de seus habitantes. Sua ação malfazeja faz parte dos flagelos aos quais a Humanidade está exposta neste mundo. A obsessão, que é um dos efeitos desta ação, como as doenças e todas as atribulações da vida, deve, pois, ser considerada como uma prova ou uma expiação, e aceita como tal.
A obsessão é a ação persistente que um mau Espírito exerce sobre um indivíduo. Ela apresenta caracteres muito diferentes, desde a simples influência moral, sem sinais exteriores sensíveis, até a perturbação completa do organismo e das faculdades mentais. Ela oblitera todas as faculdades mediúnicas; na mediunidade auditiva e psicográfica, se traduz pela obstinação de um Espírito em se manifestar com a exclusão de todos os outros.
46. – Do mesmo modo que as doenças são o resultado das imperfeições físicas, que tornam o corpo acessível às influências perniciosas exteriores, a obsessão é sempre o de uma imperfeição moral, que dá presa a um mau Espírito. A uma causa física, opõe-se uma força física; a uma causa moral, é necessário se opor uma força moral. Para se preservar das doenças, fortifica-se o corpo; para se garantir da obsessão, é necessário fortificar a alma; daí, para o obsidiado, a necessidade de trabalhar no seu próprio melhoramento, o que, o mais freqüentemente, basta para desembaraçá-lo do obsessor, sem o socorro de pessoas estranhas. Esse socorro se torna necessário quando a obsessão degenera em subjugação e em possessão, porque então o paciente perde, às vezes, a sua vontade e o seu livre arbítrio.
A obsessão é, quase sempre, o fato de uma vingança exercida por um Espírito, e que, o mais freqüentemente, tem a sua fonte nas relações que o obsidiado teve com ele numa precedente existência.
Nos casos de obsessão grave, o obsidiado está como envolvido e impregnado com um fluido pernicioso, que neutraliza a ação dos fluidos salutares e os repele. É deste fluido que é necessário desembaraçar-se; ora, um mau fluido não pode ser repelido por um mau fluido. Por uma ação idêntica à de um médium curador, no caso de doença, é necessário expulsar o fluido mau com a ajuda de um fluido melhor.
Isto é a ação mecânica, mas que nem sempre basta; é necessário também, e sobretudo, agir sobre o ser inteligente com o qual é preciso ter o direito de falar com autoridade, e esta autoridade não é dada senão pela superioridade moral; quanto maior é esta, tanto maior é a autoridade.
Ainda não é tudo: para assegurar a libertação, é necessário levar o Espírito perverso a renunciar aos seus maus desejos; é preciso fazer nascer nele o arrependimento e o desejo do bem, com a ajuda de instruções habilmente dirigidas, nas evocações particulares feitas com vista à sua educação moral; então pode-se ter a doce satisfação de livrar um encarnado e converter um Espírito imperfeito.
A tarefa se torna mais fácil quando o obsidiado, compreendendo a sua situação, traz o seu concurso de vontade e de prece; assim não o é quando este, seduzido pelo Espírito enganador, se ilude sobre as qualidades de seu dominador, e se compraz no erro em que este último o mergulha; porque, então, longe de secundar, ele repele toda a assistência. É o caso da fascinação, sempre infinitamente mais rebelde do que a mais violenta subjugação. (O Livro dos Médiuns, cap. XXIII).
Em todos os casos de obsessão, a prece é o mais poderoso auxiliar para agir contra o Espírito obsessor.
47. – Na obsessão, o Espírito age exteriormente com a ajuda de seu perispírito, que ele identifica com o do encarnado; este último se encontra então como numa rede e constrangido a agir contra a sua vontade.
Na possessão, em lugar de agir exteriormente, o Espírito livre se substitui, por assim dizer, ao Espírito encarnado; faz eleição de domicílio em seu corpo, sem, contudo, que este o deixe definitivamente, o que não pode ocorrer senão na morte. A possessão é, pois, sempre temporária e intermitente, porque um Espírito desencarnado não pode tomar definitivamente o lugar de um Espírito encarnado, tendo em vista que a união molecular do perispírito e do corpo não se opera senão no momento da concepção. (Cap. XI, nº 18).
O Espírito, na posse momentânea do corpo, dele se serve como de seu próprio; fala por sua boca, vê pelos seus olhos, age com os seus braços, como o faria quando vivo. Não é mais como na mediunidade falante, onde o Espírito encarnado fala transmitindo o pensamento de um Espírito desencarnado; é este último, ele mesmo, quem fala e age, e se foi conhecido quando vivo, será reconhecido pela sua linguagem, pela sua voz, pelos seus gestos e até pela expressão de sua fisionomia.
48. – A obsessão é sempre o fato de um Espírito malfazejo. A possessão pode ser o fato de um bom Espírito que quer falar e, para fazer mais impressão sobre os seus ouvintes, empresta o corpo de um encarnado, que este lhe empresta voluntariamente, como empresta a sua roupa. Isto se faz sem nenhuma perturbação ou mal-estar, e, durante esse tempo, o Espírito se encontra em liberdade, como no estado de emancipação, e, o mais freqüentemente, se coloca ao lado de seu substituto para escutá-lo.
Quando o Espírito possuidor é mau, as coisas se passam de outro modo; ele não empresta o corpo, dele se apodera se o titular não tem força moral para lhe resistir. Fá-lo por maldade contra este, que tortura e martiriza de todas as maneiras, até querer fazê-lo perecer, seja por estrangulamento, seja empurrando-o para o fogo ou outros lugares perigosos. Servindo-se dos membros e dos órgãos do infeliz paciente, blasfema, injuria e maltrata aqueles que o cercam; entrega-se a excentricidades e atos que têm todos os caracteres da loucura furiosa.
Os fatos deste gênero, em diferentes graus de intensidade, são muito numerosos, e muitos dos casos de loucura não têm outra causa. Freqüentemente, a isso se juntam desordens patológicas que não são senão consecutivas, e contra as quais os tratamentos médicos são impotentes, enquanto subsiste a causa primeira. O Espiritismo, fazendo conhecer esta fonte de uma parte das misérias humanas, indica o meio de remediá-las: o meio é agir sobre o autor do mal que, sendo um ser inteligente, deve ser tratado pela inteligência (20).
49. – A obsessão e a possessão, o mais freqüentemente, são individuais, mas, às vezes, são epidêmicas. Quando uma nuvem de maus Espíritos se abate sobre uma localidade, é como quando uma tropa de inimigos vem invadi-la. Neste caso, o número de indivíduos atingidos pode ser considerável. (21).
(1) A denominação de fenômeno psíquico expressa mais exatamente o pensamento do que a de fenômeno espiritual, tendo em vista que estes fenômenos repousam sobre as propriedades e os atributos da alma, ou melhor, dos fluidos perispirituais que são inseparáveis da alma. Esta qualificação liga-os mais intimamente à ordem dos fatos naturais, regidos por leis; pode-se, pois, admiti-los como efeitos psíquicos, sem admiti-los a título de milagres
(2) Exemplos de Espíritos que se crêem ainda deste mundo: Revista Espírita, dez. 1859, p.310; – nov. 1864, p. 339; – abril, 1865, p.117
(3)Revista Espírita, julho de 1859, página 184. – O Livro dos Médiuns, cap. VIII.
(4) Fatos de dupla vista e de lucidez sonambúlica narrados na Revista Espírita: janeiro 1858, página 25; – novembro 1858, página 213 – julho 1861, página 197; novembro 1865, página 352
(5) Exemplos de letargia e de catalepsia: Revista Espírita: Senhora Schwabenhaus, setembro 1858, página 255; – A jovem cataléptica de Souabe, janeiro 1866, página 18.
(6) É assim que se podem explicar as visões da irmã Elmerich, que, se reportando ao tempo da paixão de Cristo, disse ter visto coisas materiais que nunca existiram senão nos livros que ela leu; as da senhora Cantanille (Revista Espírita, agosto 1866, página 240), e uma parte das de Swedenborg.
(7) Ver adiante, cap. XVI, Teoria da presciência, nºs 1,2,3.
(8) Resvista Espírita, junho 1866, página 172; – setembro 1866, página 284. – O Livro dos Espíritos, cap. VIII, nº 400.
(9) Exemplos: Revista Espírita, O doutor Cardon, agosto 1863, página 251; – A mulher corsa, maio 1866, página 134.
(10) Exemplos: Revista Espírita, fevereiro 1863, página 64; – abril 1865, página 113; – setembro 1865, página 264.
(11) Exemplos de curas instantâneas reportadas na Revista Espírita: O príncipe de Hohenlohe, dezembro 1866, página 368; – Jacob, outubro e novembro 1866, páginas 312 e 345; outubro e novembro 1867, páginas 306 e 339; – Simonet, agosto 1867, página 232; – Caïd Hassan, outubro 1867, página 303; – O cura Gassner, novembro 1867, página 331.
(12) O Livro dos Médiuns, caps. VI e VII.
(13) Exemplos de aparições vaporosas ou tangíveis e de agêneres: Revista Espírita, janeiro 1858, página 24; – outubro 1858, página 291; – fevereiro 1859, página 38; – março 1859, página 80; – janeiro de 1859, página 11; – novembro 1859, página 303; – agosto 1859, página 210; – abril 1860, página 117; – maio 1860, página 150; – julho 1861, página 199; – abril 1866, página 120; – O lavrador Martim, apresentado a Louis XVIII, detalhes completos; dezembro 1866, p. 353.
(14) Exemplos de aparições de pessoas vivas: Revista Espírita, dezembro 1858, páginas 329 e 331; – fevereiro 1859, página 41; – agosto 1859, página 197; – novembro 1860, página 356.
(15) Não é necessário aceitar, senão com uma extrema reserva, os relatos de aparições puramente individuais que, em certos casos, poderiam ser o efeito da imagninação superexcitada, e, por vezes, uma invenção feita num objetivo interessado. Convém, pois, ter uma conta escrupulosa das circunstâncias, da honradez da pessoa, assim como do interesse que ela poderia ter abusando da credulidade do indivíduo muito confiante.
(16) Exemplos e teoria da tansfiguração. Revista Espírita, março 1859, página 62. (O Livro dos Médiuns, cap. VII, página 142).
(17) Tal é o princípio do fenômeno dos transportes; fenômeno muito real, mas que convém não aceitar senão com uma extrema reserva, porque é um daqueles que mais se prestam à imitação e à charlatanice. A honradez irrecusável da pessoa que os obtém, seu desinteresse absoluto, material e moral, e o concurso de circunstâncias acessórias, devem ser tomados em séria consideração. É necesário, sobretudo, desconfiar da excessiva facilidade com que tais efeitos são produzidos, e ter por suspeitos aqueles que se renovam muito freqüentemente e, por assim dizer, à vontade; os prestidigitadores fazem coisas mais extraordinárias.
O erguimento de uma pessoa é um fato não menos positivo, mas muito mais raro talvez, porque é mais difícil imitá-lo. É notório que o Sr. Home, mais de uma vez, se elevou até o teto, fazendo a volta da sala. Diz-se que São Cupertino tinha a mesma faculdade, o que não é mais miraculoso para um do que para o outro.
(18) Exemplos de manifestações materiais e de perturbações pelos Espíritos: Revista Espírita, Jovem dos Panoramas, janeiro 1858, página 13; – Senhorita Clairon, fevereiro 1858, página 44; – Espírito batedor de Bergzabern, relato completo, maio, junho e julho 1858, páginas 125, 153, 184; – Dibbelsdorf, agosto 1858, página 219; – Padeiro de Dieppe, março 1860, página 76; – Comerciante de São Petersburgo, abril 1860, página 115; – Rua dos Noyers, agosto 1860, página 236; – Espírito batedor de Aube, janeiro 1861, página 23; – Id. no século, dezesseis janeiro 1864, página 32; – Poitiers, maio 1864, página 156, e maio 1865, página 134; – Irmã Maria, junho 1864, página 185; – Marseille, abril 1865, página 121; – Fives, agosto 1865, página 225; – Os ratos de Equihen, fevereiro 1866, página 55.
(19) A aptidão de certas pessoas para línguas que elas sabem, por assim dizer, sem tê-las aprendido, não tem outra causa do que uma lembrança intuitiva daquilo que souberam numa outra existência. O exemplo do poeta Méry, narrado na Revista Espírita de novembro de 1864, página 328, disso é uma prova. É evidente que se o Sr. Méry fora médium em sua juventude, teria escrito em latim tão facilmente quanto em francês, e ter-se-ia apregoado o prodígio.
(20) Exemplos de curas de obsessões e de possessões: Revista Espírita, dezembro 1863, página 373; – janeiro de 1864, página 11; – junho de 1864, página 168; – janeiro de 1865, página 5; – junho de 1865, página 172; – de fevereiro 1866, página 38; – junho 1867, página 174.
(21) Foi uma epidemia deste gênero que grassou há alguns anos na aldeia de Morzine, em Savoie (ver a narração completa na Revista Espírita de dezembro de 1862, página 353; de janeiro, fevereiro, abril e maio de 1863, páginas 1, 33, 101, 133.