Suicídio moral
Suicídio moral
“Pois o que aproveitará ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” (Marcos, 8:36.)
Suicidar-se é causar a própria ruína.
Indagados, sabiamente por Kardec, se seria suicida o homem que perece vítima de paixões que ele sabia lhe haviam de apressar o fim, os Espíritos responderam:
“É um suicídio moral.”1
Na interrogação seguinte, para situar a gravidade deste comportamento em relação à culpa do que tira de si mesmo a vida, num ato de desespero, os Espíritos, referindo-se ao primeiro, esclareceram:
“É mais culpado, porque tem tempo de refletir sobre o seu suicídio”1
No suicídio direto ou intencional,o suicida, num momento de insanidade e desespero, empregam veículo de ação imediata; uma arma de fogo disparada e endereçada a um centro vital, um instrumento cortante para lesar os punhos,a ingestão de veneno corrosivo ou tóxico, precipita-se de grandes alturas ou promove o próprio enforcamento. São todas sinistramente a cessação da vida material, instantaneamente.
“(…) O suicídio não consiste somente no ato voluntário que produza morte instantânea, mas em tudo quanto se faça conscientemente para apressar a extinção das forças vitais.”2
Aqui o suicídio é indireto ou não intencional, porque embora exista a consciência de se estar causando um mal orgânico, por inconseqüência não se consegue a ele resistir, devido à vinculação por hábito ou vício a este fator desencadeante, que vai corroendo o organismo aos poucos, ou o coloca em risco desnecessário, acabando por provocar a morte física. Também aqui, o muito é feito de muitos poucos. Neste caso, creio que os termos intencional ou não intencional sejam mais apropriados do que involuntário ou inconsciente, porque a prática do suicídio direto ou indireto exige justamente vontade e consciência, como foi definido acima. No primeiro caso existe a nítida intenção de se extinguira vida com brevidade, no segundo,mesmo não existindo, chega-se a este fim; é como se ingerisse um veneno em dose única, letal, ou em doses fracionadas, homeopáticas, respectivamente, com plena consciência destes malefícios.
Cometem, neste último caso, suicídio não intencional os que se entregam aos vícios do tabagismo,do etilismo, das drogas alucinógenas,dos jogos de azar; são ainda suicidas, “os gastrônomos e filopanças,que não comem para viver, mas vivem para comer,”3 ocasionando, devido a dieta desregrada,acúmulo de substâncias indesejáveis no organismo (colesterol, glicose,lipídios etc.) que irão propiciar o desencadeamento de doenças (arteriosclerose,diabete, obesidade etc.), com todas as suas consequências, que podem assim levar, em longo prazo, à morte prematura.
“Antes de se fazer perceptível na organização física, a doença, como disfunção dos centros vitais, já se encontrava instalada no perispírito.”4
Tais sintonias repercutem-se no psicossoma, causando ou desencadeando doenças nos órgãos predispostos, como nos relata André Luiz em Nosso Lar 5, quando foi considerado suicida por ter levado uma vida desregrada, à custa de excessos de alimentação e bebidas alcoólicas, além de descomedimentos que lhe ocasionaram a sífilis; os centros vitais assim atingidos vieram ocasionar sua desencarnação precoce, por isso considerado um suicida, advertindo ainda o mentor espiritual que o orientava, de que Cometem também suicídio os que imprimem, desnecessariamente, altas velocidades em seus veículos, sujeitando-os a colisões e colocando suas vidas em alto risco, os torcedores fanatizados que levam às últimas circunstâncias suas paixões clubísticas e os praticantes do sexo desregrado.
“(…) tua posição é a do suicida inconsciente (…); centenas de criaturas se ausentam diariamente da Terra, nas mesmas condições.”5
“Mas não é somente aí, no domínio das causas visíveis, que se originamos processos patológicos multiformes. Nossas emoções doentias mais profundas, quaisquer que sejam, geram estados enfermiços.(…).
Tendo-se presente que a mente é geradora de saúde e de doença, mágoas, ressentimentos, desesperos, atritos e irritações entretecem crises do pensamento, estabelecendo lesões mentais que culminam em processos patológicos.”4
Atentam ainda contra a vida os que anseiam a morte, desejando que se concretize a cada instante e solicitando-a constantemente ao Criador, na tentativa de burlar a Lei Natural, num ultraje ao Senhor da Vida.
Assim, tais pensamentos e tais vontades têm uma aparência fluídica que imprime marcas significativas no perispírito a se transmitirem ao corpo físico.
“O invólucro fluídico do ser depura-se, ilumina-se ou obscurece-se, segundo a natureza elevada ou grosseira dos pensamentos em si refletidos. Qualquer ato, qualquer pensamento repercute-se e grava-se no perispírito.”6
O Espírito vai assim calcando sua marca vibratória no perispírito e este, por sua vez, no corpo físico e via pineal repercutindo-se finalmente nos bióforos, “unidades de força psicossomática atuando no citoplasma e através dos quais são projetadas sobre as células os estados da mente, determinando inclusive a saúde e a doença.”4
Tais perturbações energéticas, alterando progressivamente as células, podem acabar por ocasionar a cessação da vida orgânica.
A ciência vem provando que emoções negativas e a depressão (raiva, medo ou tristeza) enfraquecem a resposta do sistema imunológico, que produz menos anticorpos, com conseqüente queda das defesas orgânicas. Nada mais do que, nós espíritas, já sabíamos.
“A glândula pineal regula, provavelmente, esta atividade imunológica; exerce sua ação no mais importante centro de integração do sistema vegetativo e do sistema nervoso cérebro-espinhal: o hipotálamo.”7
Todas são formas de, negligenciando o corpo, abreviar a estada terrena, com sérias conseqüências espirituais, denotando o assim suicida, covardia moral, que há de ser combatida com urgência, pela coragem moral e amor à vida, e zelando por ela, utilizaremos deste empréstimo divino, não para o destruir, mas para construir sobre ele a depuração de nosso Espírito.
“Preserva o teu corpo, preparando-o para servir-te de domicílio pelo período mais largo possível, afim de que, ao desencarnares, não te dês conta de que te encontras entre aqueles que chegaram à Pátria espiritual antes da hora, pelo nefando instrumento do suicídio indireto.”8
Referências Bibliográfica:
1 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 68. ed., Rio de Janeiro: FEB, 1987, p. 442,perg. 952.
2 O Céu e o Inferno. 37. ed., Rio de Janeiro: FEB, 1991, 2a Parte, cap. V, p. 300.
3 VALLE, Waldo Lima do. Morrer e Depois?2. ed., João Pessoa: Ed. A União, 1997, p. 239.
4 ZIMMERMANN, Zalmiro. Perispírito.1. ed., São Paulo: CEAK, 2000, p. 366, 375,376, 508.
5 XAVIER, Francisco Cândido. Nosso Lar, pelo Espírito André Luiz. 6. ed., Rio de Janeiro:FEB, cap. 4, p. 27-28.
6 DENIS, Léon. Depois da Morte. 18. ed., Rio de Janeiro: FEB, 1994, Parte Quarta, cap.XXXII, p. 208.
7 NOBRE, Marlene R.S. Obsessão e Suas Máscaras.7. ed.: Ed. Jornalística, 1997, p. 230.
8 FRANCO, Divaldo. Reformador, setembro//2003, pelo Espírito Joanna de Ângelis, p. 20.
Revista Reformador 01/2004