Ação da Lei nos Desvios de Rumo
16. Ação da Lei nos desvios de rumo
a) Prova, tentação, expiação, etc.
1. Vimos que a encarnação objetiva conduzir o espírito ao progresso, dando-lhe novos conhecimentos e experiências.
Para isso, há um programa de vida que determina os lances principais da existência na carne, ou seja, os acontecimentos capazes de influírem na evolução do espírito. O trabalho, as lutas materiais, desenvolvem a inteligência e o estudo, a razão.
No curso da evolução, o Espírito encarnado é, de vez em quando, submetido a exames pela vida com o fim de verificar o aproveitamento na posição em que se acha. Criam-se situações em torno do individuo envolvendo algumas de suas fraquezas, de maneira a despertá-lo. Situações que estimulam fraquezas (ou impulsos inferiores) são denominadas tentações.
A tentação é a situação que revela a posição do Espírito , mostra o que somos, de acordo com as nossas tendências. Liga-se sempre a uma fraqueza, ou seja, a um impulso ao qual temos dificuldade para resistir:
Somos tentados onde somos fracos. Por exemplo: a bebida, o sexo, o jogo, o furto, etc.
A prova é um exame que consiste em ser submetido a uma tentação para avaliar o progresso realizado e sua firmeza.
A Lei (vida) prepara as situações de prova, como dizia Adler, nas quais o sujeito, sofrendo uma tentação, passa por uma prova. Esta tem de ser enfrentada e vencida; mas muitos fogem e são derrotados.
Todos aqueles que têm compromissos de trabalho espiritual, envolvendo o progresso e a redução do mal, são compelidos a passar por provas ou , segundo expressão clássica, testemunhos antes de dar-lhes inicio. Aqui são exames prévios destinados a demonstrar a firmeza diante das tentações agradáveis, que tentam desviar a pessoa do rumo certo, e testar a perseverança de propósito no serviço do bem. Os médiuns (11.d a 11.g) passam por isso, como todos os que se candidatam à reforma interior. Vez por outra surge inesperadamente a situação que pode colher o sujeito desprevenido e fazê-lo vencido.
Em muitos casos, homens com missões importantes no planeta vêem-se na contingência de uma renúncia aos bens e prazeres materiais ou de não desempenharem o seu papel e fracassam. Sócrates renunciou a política, Buda ao palácio, Kardec à direção de educandários, Gandhi aos favores da casta, Ubaldi à fazenda, e até você, leitor que se julga insignificante, terá de fazer suas “renunciazinhas”…ou permanecer dominado pelas inferioridades da vida exclusivamente material. A prova, impondo-lhe uma tentação no campo de uma fraqueza patente, mede o seu aproveitamento.
Provação é palavra que apenas significa sofrimento.
2. Quase sempre, o espírito desviou-se do andamento normal da evolução entregando-se ao mal sob múltiplas formas, a imensa maioria das quais acarreta prejuízo para os seus semelhantes. Entra em cena a lei de ação e reação ou causa e efeito (15, 16) para promover os acertos devidos. Expiação é o castigo imposto pelo erro praticado; é sofrer o que fez o outro sofrer. É proporcional ao nível de adiantamento alcançado pelo Espírito e precisa ser antecedida pelo arrependimento. Enquanto o culpado mostrar-se endurecido, indiferente ou revoltado, permanecerá nas zonas espirituais de sofrimento (umbral, trevas). Quando desponta o primeiro sinal de arrependimento pelo mal praticado, missionários do bem Eterno começam a visitar o infeliz, ensinando-o e estimulando-o à auto-reforma; depois, levam-no para casas ali mesmo situadas onde ele é atendido e reeducado até o ponto possível para a reencarnação expiatória. Nasce mais um “desgraçado”, dizem. Para nós, felicitados por uma compreensão algo superior, renasceu um irmão necessitado de reforma drástica e urgente; apenas a evolução está em marcha de modo mais saliente.
Numa fase posterior, haverá a reparação, isto é, o esforço no reajustamento da vítima ou a devolução do que lhe é devido. Muitíssimas vidas estão centradas em torno da necessidade de reparar males anteriormente feitos a outros.
Esposos, filhos, parentes, amigos, etc., com freqüência envolvem situações reparatórias.
Quando retiramos alguém do seu caminho para servir aos nossos fins pessoais (egocêntricos), mais tarde recebê-lo-emos no lar para ajudá-lo a reequilibrar-se perante a vida… Aqui é preciso aplicar o amor, mediante o esforço pessoal na compreensão dos sofrimentos e deficiências alheias e das próprias dificuldades.
É bom notar que expiações e reparações servem também de provas. Um débito é cobrado ou um erro corrigido, mas, ao mesmo tempo, algum setor do espírito submetido a exame. Se o individuo expia seus crimes renascendo sem membros, sua paciência e resignação são testados. Se o sujeito casa-se para reparar antigo abuso, com pessoa menos agradável, sua constância e tolerância serão provadas.
3. Nesse contexto, o dever cumprido torna-se a maneira mais importante de viver; é o essencial para a felicidade do Espírito, pois, liberta-o de futuros obstáculos e penas.
Felicidade ou infelicidade não são estados mentais decorrentes de condições exteriores, mas estados de consciência derivados de condições interiores: o dever cumprido ou não, o bem ou o mal feito. Por isso, goza-se a primeira e sofre-se a segunda em qualquer lugar. A paz é conquista pessoal e depende da direção conscientemente escolhida pelo ser humano, em matéria de princípios e de conduta.
b) Paraíso e inferno. Umbral e Trevas
1. As considerações acima levam-nos a observar que não há lugares especialmente destinados ao sofrimento ou à paz e felicidade. Paraíso e inferno, como zonas de gozos e dores permanentes, não podem existir num Universo regido por uma lei de amor e justiça. Além desta inferência, temos informações seguras a respeito em número enorme (cf. O Céu e o Inferno, de Kardec, e Libertação de André Luiz, e. g. ).
Contudo, vimos antes, os Espíritos congregam-se segundo a afinidade vibratória, que é expressão do estado moral (do qual a noção de dever é uma súmula). Deste fato origina-se a constituição de “esferas”, “planos” ou mundos espirituais, onde eles vivem segundo o grau de adiantamento.
Naturalmente, espíritos perturbados pela culpa reúnem-se de modo automático pela sintonia em determinadas áreas. Seu estado mental degradado organiza o ambiente como lhes é possível, cheio de construções sórdidas e de monturos. Aí habitam as entidades votadas ao mal e para aí são atraídos todos os que desencarnam em idêntico estado íntimo. Tais são colônias de sofrimento e expiação para culpados e mal-intencionados. Colônias conhecidas coletivamente como Umbral, que começa na superfície da Terra e corresponde ao antigo purgatório, e como Trevas, na sua pior porção, que corresponde ao clássico inferno. Pode-se afirmar corretamente que não passam de produtos da atividade mental inferior. Ao invés de lugares fixos e definitivos para danação do ser humano; são construções mentais reles, onde os Espíritos juntam-se por força da atração, porém, transitoriamente; tão pronto mudem as disposições para o mal e passem a desejar o bem, fracamente que seja, aparecem os lidadores da Luz, do Amor e do Bem para retirá-los e encaminhá-los à regeneração mediante a reencarnação. Veja, em 9., notável exemplo do poder modelador da mente, mesmo perturbada, o qual ajudará a compreender o supra-exposto.
2. De Igual sorte, espíritos dos inúmeros graus de superioridade organizam esferas mais ou menos luminosas e ditosas, onde reinam a paz, a harmonia e o trabalho construtivo. Tais planos felizes equivalem ao velho paraíso teológico. Mas, este seria um local definitivamente destinado por Deus aos eleitos de sua graça… Na verdade, há múltiplos planos de luz através dos quais os filhos do Altíssimo vão ascendendo conforme o mérito alcançado (que se exprime na pureza do perispírito).
livro: Evolução para o Terceiro Milênio / EDICEL – CarlosToledo Rizzini
PARTE II – FUNDAMENTOS DO ESPIRITISMO – CAP. 4.º PRINCÍPIOS DOUTRINÁRIOS