Adolfo Bezerra de Menezes – palestra 24.02.21
ADOLFO BEZERRA DE MENZES CAVALCANTE
CELC. Estudo 24.02.21 – João O.
Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti nasceu no dia 29 de agosto de 1831, na fazenda Santa Bárbara, antiga Freguesia do município de Riacho do Sangue (hoje Jaguaretama), no Estado do Ceará. Descendia de antiga família, das primeiras a povoar o território cearense, filho de Antônio Bezerra de Menezes, capitão das antigas milícias e tenente-coronel da Guarda Nacional, e Fabiana Cavalcanti de Albuquerque.
Iniciou sua vida estudantil em 1838; aos sete anos de idade, ingressou na escola pública da Vila do Frade, adjacente ao Riacho do Sangue, em apenas dez meses, absorve todos os conhecimentos que o seu próprio professor detinha, demonstrando a sua fulgurante inteligência.
Com onze anos, e devido a perseguições políticas, a sua família muda-se para o Rio Grande do Norte, para a região onde atualmente se situa a cidade de Martins.
Na antiga Vila Maioridade, é matriculado na Escola Pública de Latinidade, dirigida pelos Jesuítas. Em apenas dois anos, se tornou tão fluente em Latim, que chegou a substituir o professor da classe em seus impedimentos.
Em 1846 a família retornou à Província do Ceará, fixando residência na capital, Fortaleza. Bezerra foi matriculado no Liceu, com acompanhamento do irmão mais velho, o Dr. Manoel Soares da Silva Bezerra, conceituado intelectual e líder católico. Efetuou os estudos preparatórios destacando-se entre os primeiros alunos do tradicional Liceu do Ceará.
Seu pai, o capitão das antigas milícias e tenente-coronel da Guarda Nacional, Antônio Bezerra de Menezes, homem severo, de honestidade a toda prova e de ilibado caráter, tinha bens de fortuna em fazendas de criação. Com a política, e por efeito do seu bom coração, que o levou a dar abonos de favor a parentes e amigos, que o procuravam para explorar-lhe os sentimentos de caridade, comprometeu aquela fortuna. Percebendo, porém, que seus débitos igualavam seus bens, procurou os credores e lhes propôs entregar tudo o que possuía, o que era suficiente para integralizar a dívida. Os credores, todos seus amigos, recusaram a proposta, dizendo-lhe que pagasse como e quando quisesse. O velho honrado insistiu; porém, não conseguiu convencer os credores sobre essa resolução, por isso deliberou tornar-se mero administrador do que fora sua fortuna, não retirando dela senão o que fosse estritamente necessário para a manutenção da sua família, que assim passou da riqueza às privações.
Bezerra queria tornar-se médico, mas o pai, que enfrentava dificuldades financeiras, não poderia pagar-lhe os estudos.
A família, que passou da abundância às privações, perde o patriarca, que desencarnou no dia 29 de setembro de 1851, de febre amarela.
Foi nessa fase que Adolfo Bezerra de Menezes, aos 19 anos, tomou ele a iniciativa de ir para o Rio de Janeiro, a então capital do Império, a fim de seguir a carreira que sua vocação lhe inspirava: A Medicina, levando consigo a importância de 400 mil réis, que os parentes lhe deram para ajudar na viagem.
Em novembro de 1852, ingressou como praticante interno no Hospital da Santa Casa de Misericórdia no Rio de Janeiro.
Pobre, precisando lecionar para sustentar-se, passando às vezes grandes privações, a fé em Deus e a prece diuturna o amparavam nos momentos mais difíceis. Mantinha linha de conduta impecável não só como cidadão, mas, sobretudo como estudante.
Para poder estudar, dava aulas particulares de Filosofia e Matemática, e como não podia comprar livros, estudava nas bibliotecas, mas sempre tirou ótimas notas, pois se esforçava muito.
Digno de registro foi um caso sucedido com o Dr. Bezerra de Menezes, quando ainda era estudante de Medicina. Ele estava em sérias dificuldades financeiras, precisando da quantia de cinquenta mil réis, para pagamento das taxas da Faculdade e para outros gastos indispensáveis em sua habitação, pois o senhorio, sem qualquer contemplação, ameaçava despejá-lo. Desesperado – uma das raras vezes em que Bezerra se desesperou na vida – e como não fosse incrédulo, ergueu os olhos ao Alto e apelou a Deus. Poucos dias após bateram-lhe à porta. Era um moço simpático e de atitudes polidas que pretendia tratar algumas aulas de Matemática. Bezerra recusou, a princípio, alegando ser essa matéria a que mais detestava, entretanto, o visitante insistiu e por fim, lembrando-se de sua situação desesperadora, resolveu aceitar.
O moço pretextou então que poderia esbanjar a mesada recebida do pai, pediu licença para efetuar o pagamento de todas as aulas adiantadamente. Após alguma relutância, convencido, concordou. O moço entregou-lhe então a quantia de cinquenta mil réis. Combinado o dia e a hora para o início das aulas, o visitante despediu-se, deixando Bezerra muito feliz, pois conseguiu assim pagar o aluguel e as taxas da Faculdade. Procurou livros na biblioteca pública para se preparar na matéria, mas o rapaz nunca mais apareceu.
Graduou-se em 1856, com a defesa da tese: “Diagnóstico do Cancro”.
Nesse ano (1856), o Governo Imperial decretou a reforma do Corpo de Saúde do Exército Brasileiro e nomeou para chefiá-lo como Cirurgião-mor o Dr. Manuel Feliciano Pereira Carvalho, seu antigo professor, que o convidou para trabalhar como seu assistente.
Em março de 1857, solicitou sua admissão no Corpo de Saúde do Exército, sentando praça em 20 de fevereiro de 1858, como cirurgião tenente. Ainda em 1857, candidatou-se ao quadro dos membros titulares da Academia Imperial de Medicina com a memória “Algumas considerações sobre o cancro, encarado pelo lado do seu tratamento”, sendo empossado em sessão de 1º de junho.
Nesse mesmo ano, passou a colaborar na “Revista da Sociedade Físico-Química”.
Abriu com um colega o consultório no centro do comércio, onde esteve espantando moscas durante longos meses. Mas, em sua casa, a clínica ia crescendo, pois era de pessoas que não tinham condições de pagar.
Não abandonou, entretanto, a sua clientela pobre. Ela foi ao contrário crescendo ao ponto de não lhe dar tempo para comer: se não lhe pagava, dava-lhe “o mais glorioso dos títulos: o médico dos pobres”. (Dr. Bezerra de Menezes)
Corria sempre ao refúgio do pobre, onde houvesse um mal a combater, levando ao aflito o conforto de sua palavra de bondade, o recurso da ciência de médico e o auxílio da sua bolsa minguada e generosa. Missionário que sempre fora, um dia ao atender uma mulher, prescreveu os remédios e lhe disse que poderia compra-los ali mesmo, ao que esta respondeu que não tinha nem para o que comer, quanto mais comprar remédios. Bezerra procurou nos bolsos e nada encontrou, olhou em volta e nada viu, reparou então em seu anel de formatura, e deu-o, sem pestanejar para comprar medicamento para o filho doente.
Outra vez, um homem o procurou dizendo estar desempregado e doente, como os seus. Bezerra olhou nos bolsos e nada encontrou, perguntou então se ele acreditava em Nossa Senhora, o que ele disse que sim, então lhe deu um abraço dizendo que era em nome dela, e disse para repetir o gesto em casa. Na semana seguinte o homem voltou para agradecer, pois ficou curado e arranjara emprego.
No consultório da Farmácia Cordeiro, de propriedade do seu grande amigo José Guilherme Cordeiro, Bezerra realizou um trabalho do Senhor, que até hoje ecoa na Espiritualidade. Dedicava-se unicamente aos pobres, dando consultas gratuitas. Como não conseguia cobrar, seu amigo, dono da farmácia onde atendia é quem pedia ajuda aos que podiam.
Costumava dizer aos seus íntimos que, ali, aprendia todos os dias uma verdadeira página de geologia humana.
Toda a crosta social estava ali representada e podia ser estudada, tal como o geólogo estuda as estratificações de um terreno multissecular.
O seareiro espírita olhava todas aquelas pessoas com as lentes do amor.
Sentia de uns seus casos mais íntimos; lia-lhes os pensamentos e sentimentos; traduzia-lhes a angústia, os problemas econômicos e morais.
E receitava pelo coração e pela mente. Pelo coração, conselhos, vestidos de emoção e ternura, acordando nos consulentes o cristão que dormia pela mente, homeopatia, água fluídica e passes. E finalizava pedindo que cada um tivesse às mãos, no lar, o grande livro, O Evangelho, que o lesse com alma, com sinceridade e confiança no seu autor, Nosso Senhor Jesus Cristo!
E os resultados eram os mais promissores.
Cada doente deixava seu consultório, satisfeito, melhorado, pois que havia deixado lá dentro o seu peso, a sua tristeza, algo que o oprimia.
(Lindos casos de Bezerra de Menezes. Geologia humana. Ramiro Gama).
Deixou para seus colegas o retrato do verdadeiro médico, que deseja fazer da medicina um apostolado.
– “Um médico não tem o direito de terminar uma refeição, nem de escolher hora, nem de perguntar se é longe ou perto, quando um aflito lhe bate à porta. O que não acode por estar com visita, por ter trabalhado muito e achar-se fatigado, ou por ser alta noite, mal o caminho ou o tempo, ficar longe ou no morro; o que, sobretudo pede um carro a quem não tem com que pagar a receita, ou diz a quem lhe chora à porta que procure outro, – esse não é médico, é negociante da medicina, que trabalha para recolher capital e juros dos gastos da formatura. Esse é um desgraçado, que manda para outro o anjo da caridade que lhe veio fazer uma visita e lhe trazia a única ajuda que podia saciar a sede de riqueza do seu espírito; a única que jamais se perderá no vaivém da vida”. (Lindos casos de Bezerra de Menezes. O apostolado da medicina. Ramiro Gama).
Em 6 de novembro de 1858, casou-se com a Sra. Maria Cândida de Lacerda. Contudo, o destino reservava-lhe uma difícil provação para o ano de 1863. Depois de uma doença rápida e repentina, sua esposa desencarnava em menos de vinte dias no outono desse ano. Deixava o marido com dois filhos: um com três anos e outro com um ano de idade.
O golpe da viuvez moveu os sentimentos religiosos que a dor sempre traz à tona. Em busca de consolação, Dr. Bezerra passou a ler a Bíblia com frequência. Verificava a expansão vertical que a dor oferece às almas dos que sofrem, ligando-os a Deus.
Em 21 de janeiro de 1865, casou-se, em segunda núpcias com Dona Cândida Augusta de Lacerda Machado, irmã materna de sua primeira esposa, com quem teve sete filhos.
Já em franca atividade médica, Bezerra de Menezes demonstrava o grande coração que iria semear, até o fim do século, sobretudo entre os menos favorecidos da fortuna, o carinho, a dedicação e o alto valor profissional.
Um exemplo disso foi o Caso da filha doente que ele deixou de ajudar para visitar um enfermo pobre como exemplo de fé:
Certa vez sua esposa foi procura-lo, pois sua filha estava muito doente, mas ao sair foi chamado por outra mulher, pedindo ajuda para o filho que também adoecera, então ele disse que não pode deixar de atender a quem chama, de modo que entrega a filha a Jesus, e vai até o outro enfermo, ao retornar à casa esperava encontrar a filha morta, mas a doença passara completamente, conclui então que Jesus é melhor médico que ele.
Foi também o respeito e o reconhecimento de numerosos amigos que o levaram à política.
Elegeu-se vereador para Câmara Municipal do Rio de Janeiro em 1860, pelo Partido Liberal.
Tentaram impugnar sua candidatura, sob a alegação de ser médico militar, demitiu-se do Corpo de Saúde do Exército. Na Câmara Municipal, desenvolveu grande trabalho em favor do “Município Neutro” e na defesa dos humildes e necessitados.
Foi reeleito com simpatia geral para o período de 1864-1868.
Em 1867, foi eleito deputado-geral (correspondente hoje a deputado federal) pelo Rio de Janeiro. Dissolvida a Câmara dos Deputados em 1868, com a subida dos conservadores ao poder, Bezerra dirigiu suas atividades para outras realizações que beneficiassem a cidade.
Não se candidatou ao exercício de 1869 a 1872.
Em 1869, lança o opúsculo “A Escravidão no Brasil e as medidas que convém tomar para extingui-la sem danos para a nação” (Rio de Janeiro, Tipografia Progresso, Rua Gonçalves Dias, número 60), onde não só defende a liberdade aos escravos, mas também a inserção e adaptação dos mesmos na sociedade por meio da educação.
Nesta obra, Bezerra se auto-intitula um liberal, e propõe que se imitassem os ingleses, que na época já haviam abolido a escravidão de seus domínios. Expôs os problemas de sua região natal em outro ensaio publicado, “Breves considerações sobre as secas do Norte” (1877). Alguns indicam que ele foi autor de biografias sobre o visconde do Uruguai e o visconde de Caravelas, personalidades ilustres do Império do Brasil.
Foi redator d’A Reforma, órgão liberal no Município Neutro, e, de 1869 a 1870, redator do jornal Sentinela da Liberdade.
Sabe-se que Bezerra de Menezes era fluente em pelo menos três línguas além do português: latim, espanhol e francês.
Escreveu também outras obras, como “A Casa Assombrada”, “A Loucura sob Novo Prisma”, “A Doutrina Espírita como Filosofia Teogônica”, “Casamento e Mortalha”, “Pérola Negra”, “Lázaro, o Leproso”, “Os Carneiros de Panúrgio”, “História de um Sonho” e “Evangelho do Futuro”.
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Cabe aqui um aparte, trecho do livro “A Loucura sob Novo Prisma”, em que Dr. Bezerra trata o tema da loucura como o grande passivo da medicina e relata o caso de um de seus filhos, tomado de alienação mental, mas que na verdade vinha sofrendo obsessão:
“Um de nossos filhos, moço de grande inteligência e de coração bem formado, foi subitamente tomado de alienação mental. Os mais notáveis médicos do Rio de Janeiro fizeram o diagnóstico: loucura; e como loucura o trataram sem que obtivessem o mínimo resultado.
Notávamos nós um singular fenômeno: quando o doente, passado o acesso e entrado no período lúcido, ficava calmo, manifestava perfeita consciência, memória completa e razão clara, de conversar criteriosamente sobre qualquer assunto, mesmo literário ou científico, pois estudava Medicina, quando foi assaltado. Mais de uma vez, afirmou-nos que bem conhecia estar praticando mal, durante os acessos, mas que era arrastado por uma força superior à sua vontade, a que em vão tentava resistir.
Apesar de não podermos explicar como, continuando o cérebro lesado, se dava aquele fenômeno de perfeita clarividência ou de nítida transmissão dos pensamentos, acompanhamos o juízo dos médicos, nossos colegas, de ser o caso verdadeira loucura.
Desanimados, por falharem todos os meios empregados, disseram-nos aqueles colegas que era inconveniente e perigoso conservar o doente em casa, e que o correto era mandá-lo para o hospício. Foi ante esta dolorosa contingência de uma separação mais dolorosa que a da morte, que resolvemos atender a um amigo que a muito nos orientava a recorrermos ao Espiritismo.
Obsessão, respondeu-nos o Espírito que veio à nossa evocação; acrescentando: além do tratamento terapêutico, que deve ser rígido sobre o baço, que, no homem, como o útero na mulher, é a porta às obsessões, sempre ligadas a uma lesão orgânica, é indispensável evocar o obsessor, e alcançar dele que desista da perseguição.
Foi marcado o dia para a aconselhada evocação, a primeira a que assistimos. Veio o Espírito inimigo, que se dirigiu exclusivamente à nossa pessoa, de quem, principalmente, queria tirar vingança, por mal que lhe havíamos feito em passada existência.
– Não posso fazer-te o que, a ele faço, disse bramindo, porque és mais adiantado; mas castigo-te indiretamente na pessoa de teu filho amado, que também concorreu para meu mal.
Não foi possível acalmar-lhe a sanha, que refervia à medida que se lhe falava em paz, amor e perdão. Saímos abatidos e confusos por tudo o que vimos e ouvimos, principalmente porque o Espírito se referiu a um pensamento nosso, a ninguém revelado.
A este trabalho, sem nenhum resultado, seguiram-se outros, parecendo às vezes que o inimigo se abrandava, esperança que em breve se dissipava, vindo ele, noutro dia, mais cheio de ódio e sedento de vingança.
Neste ínterim, um amigo nosso, tão distinto por sua ilustração como pelo seu caráter, nos comunicou o nos esclareceu sobre aquele ódio intransigente: Orava ele, à hora de deitar-se, e à sua prece do costume ajuntou uma especial em favor do Espírito nosso perseguidor, para que tivesse a luz e reconhecesse o mal que a si próprio estava fazendo. Ouviu então uma voz que lhe disse: Vê; e olhando na direção da voz, viu aquele amigo numa masmorra imunda e tenebrosa, onde um homem, acorrentado e agrilhoado, gemia suas misérias e as de sua mulher e filhinhos, privados de todo apoio.
– Queres que perdoe a quem me reduziu a este estado, e o pior reduziu os entes que mais amei na vida? perguntou a voz que vinha do prisioneiro. Travou-se entre os dois uma discussão, que não vem a propósito transcrever aqui. O que é essencial saber é que a justiça de Deus se cumpria no fato que tão dolorosamente nos fazia sangrar o coração.
Devemos acrescentar ao que acabamos de referir, que o cavalheiro com quem se deu este fato era médium inconsciente, e hoje se acha na plenitude das mediunidades – vidente, auditiva, psicográfica e sonambúlica.
O moço era vítima de seus abusos noutra existência, continuou a sofrer a perseguição, e por tanto tempo a sofreu, que seu cérebro se ressentiu, de forma que, quando o obsessor, afinal arrependido, o deixou, ele ficou calmo, sem mais ter acessos, porém não recuperou a vivacidade de sua inteligência. O instrumento ainda não se restabeleceu. (págs. 100-102).
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Em 1873, após quatro anos afastados da política, retomou suas atividades, novamente como vereador. Em 1878, com a volta dos liberais ao poder, foi novamente eleito à Câmara dos Deputados, representando o Rio de Janeiro, cargo que exerceu até 1885.
Vamos encontrar Bezerra de Menezes engajado também na Companhia Arquitetônica de Vila Isabel, como um de seus diretores. Foi a partir deste projeto que surgiu o desenho urbanístico do bairro Vila Isabel, com destaque para o Boulevard 28 de Setembro, um marco, à época, da evolução paisagística do Rio de Janeiro.
Em outra frente de negócios, encontraremos o Dr. Bezerra ainda atuando também como Presidente da Cia. Carris Urbanos de S. Cristóvão que, em seu auge, chegou a ter 150 carros, 2 mil animais e 600 empregados. Ele presidira também a presidência da Companhia de Seguro Mútuo contra Fogo, administrando na época 5.900 contratos.
Neste período, criou a Companhia de Estrada de Ferro Macaé a Campos, que veio proporcionar-lhe pequena fortuna.
Por má vontade e perseguição do governo imperial, em virtude da independência de caráter, foram-lhe negados todos os meios de desenvolvimento da empresa, obrigando o a sacrifícios tais, que sua fortuna foi completamente arruinada.
Numa certa manhã a situação estava muito ruim e sua mulher lhe disse que não teriam o que comer à noite, e ele respondeu que confiasse em Jesus; ao voltar de noite ela reclamou do seu exagero, o que ele estranhou, então ela mostrou uma enorme quantidade de alimentos que lhe foi entregue de manhã, cuja origem jamais souberam.
Em 1885, atingiu o fim de suas atividades políticas.
Outra missão o aguardava, está mais nobre ainda, não para o coroar de glórias, que perecem, mas para trazer sua mensagem à imortalidade.
Espiritismo, qual novo maná celeste, já vinha atraindo multidões de crentes, a todos saciando na sua missão de consolador. Logo que apareceu a primeira tradução brasileira de “O Livro dos Espíritos”, em 1875, foi oferecido a Bezerra de Menezes um exemplar da obra pelo tradutor, Dr. Joaquim Carlos Travassos, que se ocultou sob o pseudônimo de Fortúnio.
Foram palavras do próprio Bezerra de Menezes, ao proceder à leitura de monumental obra:
“Deu-me na cidade que eu morava na Tijuca, a uma hora de viagem de bonde. Embarquei com o livro e, como não tinha distração para a longa viagem, disse comigo: ora, Deus! Não hei de ir para o inferno por ler isto…depois, é ridículo confessar-me ignorante desta filosofia, quando tenho estudado todas as escolas filosóficas. Pensando assim, abri o livro e prendi-me a ele, como acontecera com a Bíblia. Lia. Mas não encontrava nada que fosse novo para meu Espírito. Entretanto, tudo aquilo era novo para mim!… Eu já tinha lido ou ouvido tudo o que se achava no ‘O Livro dos Espíritos’. Preocupei-me seriamente com este fato maravilhoso e a mim mesmo dizia: parece que eu era espírita inconsciente, ou, mesmo como se diz vulgarmente, de nascença”
DA TEORIA À PRÁTICA
Não há como deixar de considerar a influência que as curas realizadas no próprio Dr. Bezerra e na esposa, além do filho mais velho, mediante tratamento mediúnico, tiveram na sua adesão por completo ao espiritismo.
A primeira ocorreu em 1882, quando ele, sofrendo de uma dispepsia (sensação de dor ou desconforto na parte superior do abdome) que já o torturava há cinco anos, e utilizando-se de um seu amigo de confiança obteve receita do médium João Gonçalves do Nascimento com a descrição da moléstia que o atormentava e as causas determinantes. Segundo o próprio Adolfo, “não acreditava nem deixava de acreditar na medicina medianímica, e confesso que propendia mais para a crença de que o tal médium era um especulador”.
No entanto, o resultado do tratamento, que, segundo ele, o levou a cura do mal no intervalo de três meses, o impressionou sobremaneira, principalmente por já haver consultado vários médicos famosos da Corte, sem obter nenhuma melhora.
Não bastasse a cura, Adolfo declararia que “nada me impressionou mais do que ver um homem, sem conhecimentos médicos e até sem instrução regular, discorrer sobre moléstias, com proficiência anatômica e fisiológica, sem claudicar, como bem poucos médicos o podem fazer”.
A segunda cura, obtida através do mesmo médium, foi relativa à esposa, diagnosticada com tuberculose em terceiro grau por importantes médicos da Corte. Utilizou-se Adolfo dos mesmos procedimentos quando da primeira consulta. Enviou, também segundo relato após a sua conversão, através do sobrinho, Sra Maria de Lacerda, o primeiro nome da esposa, sem nenhuma outra indicação que pudesse facultar ao médium a identificação e a relação da doente com Adolfo. A resposta e o tratamento indicado por Nascimento foi-lhe ainda mais perturbador:
Enganam-se os médicos que diagnosticaram tuberculose (quem lhe disse que os médicos haviam feito tal diagnóstico?). Esta doente não tem tubérculo algum. Seu sofrimento é puramente uterino, e, se for convenientemente tratada, será curada. Se os médicos soubessem a relação que existe entre o útero, o coração e o pulmão esquerdo, não cometeriam erros como este.
Adolfo submeteu a esposa ao tratamento prescrito por Nascimento, remédios homeopaticamente produzidos pelo próprio médium, e em poucos meses ela restabeleceu-se. Esses fatos, segundo ele, foram os que determinaram a sua intenção de aprofundar-se no conhecimento experimental do espiritismo e o que o levou a considerar o “espiritismo uma ciência cujos postulados são demonstrados perfeitamente como se demonstra o peso de um corpo”.
Mais que um adepto, Bezerra de Menezes foi um defensor e um divulgador da Doutrina Espírita. Em 1883, recrudescia, de súbito, um movimento contrário ao Espiritismo e, naquele mesmo ano, fora lançado por Augusto Elias da Silva o “Reformador”, órgão oficial da Federação Espírita Brasileira e o periódico mais antigo do Brasil, ainda em circulação.
Elias da Silva consultava Bezerra de Menezes sobre as melhores diretrizes a seguir em defesa dos ideais espíritas. O venerável médico aconselhava-o a contrapor-se ao ódio, o amor, e a agir com discrição, paciência e harmonia.
Bezerra passa a frequentar a Sociedade Espírita Fraternidade, onde estuda, em profundidade, a fenomenologia espirita acerca de efeitos físicos – inclusive, inicialmente, com materializações – “à luz das obras dadas a Allan Kardec e da Revelação dada a Roustaing”. (Reformador, 1916, pág. 382)
Bezerra não ficou, porém, no conselho teórico. Com as iniciais A. M., principiou a colaborar com o “Reformador”, emitindo comentários judiciosos sobre o Catolicismo.
Fundada a Federação Espírita Brasileira em 1884, Bezerra de Menezes não quis inscrever-se entre os fundadores, embora fosse amigo de todos os diretores e sobremaneira, admirado por eles.
Embora sua participação tivesse sido marcante até então, somente em 17 de agosto de 1886, aos 55 anos de idade, Bezerra de Menezes, perante grande público, em torno de 1.500 a 2.000 pessoas, no salão de Conferência da Guarda Velha, em longa alocução, Dr. Bezerra declara-se pública e formalmente espírita, causando grande alvoroço na sociedade da época, dada a sua notoriedade.
A maior e mais célebre coleção de artigos espíritas na imprensa brasileira tem inicio em 09 de outubro de 1887, no jornal O Paiz, então o maior jornal da América Latina, por iniciativa da União Espírita do Brasil.
Dr. Bezerra recebe o encargo de dar sequência ao esforço inicial alguns dias mais tarde, começando a série “Estudos Filosóficos” a 27 de outubro do mesmo ano, assinando os artigos com o pseudônimo “Max”. É a propósito desta incomparável série de textos que Bezerra recebe o título de “Kardec Brasileiro”.
Escreveu em jornais como “O Paiz”, redigiu “Sentinela da Liberdade”, os “Anais Brasilienses de Medicina”, colaborou na “Reforma”, na “Revista da Sociedade Físico-química” e no “Reformador”.
Daí por diante Bezerra de Menezes foi o incentivador de todo o movimento espírita na Pátria do Cruzeiro, exatamente como previsto. Com sua cultura privilegiada, aliada ao descortino de homem público e ao inexcedível amor ao próximo, conduziu o barco de nossa doutrina por sobre as águas atribuladas pelo iluminismo fátuo, pelo cientificismo presunçoso, que pretendia deslustrar o grande significado da Codificação Kardequiana.
Na década de 1880 o incipiente movimento espírita na capital (e no país) estava marcado pela dispersão de seus adeptos e das entidades em que se reuniam. Já havia também uma clara divisão entre dois “grupos” de espíritas: os que aceitavam o Espiritismo em seu aspecto religioso (maior grupo, o qual se incluía Bezerra) e os que não aceitavam o Espiritismo nesse aspecto.
Em 1889, Bezerra foi percebido como o único capaz de superar as divisões, vindo a ser eleito presidente da Federação Espírita Brasileira. Nesse período, iniciou o estudo sistemático de “O Livro dos Espíritos” nas reuniões públicas das sextas-feiras, passando a redigir o Reformador; exerceu ainda a tarefa de doutrinador de espíritos obsessores. Organizou e presidiu um Congresso Espírita Nacional (Rio de Janeiro, 14 de abril), com a presença de 34 delegações de instituições de diversos estados.
Assumiu a presidência do Centro da União Espírita do Brasil a 21 de abril e, a 22 de dezembro de 1890, oficiou ao então presidente da República, marechal Deodoro da Fonseca, em defesa dos direitos e da liberdade dos espíritas contra certos artigos do Código Penal Brasileiro de 1890. De 1890 a 1891 foi vice-presidente da FEB na gestão de Francisco de Menezes Dias da Cruz, época em que traduziu o livro “Obras Póstumas” de Allan Kardec, publicado em 1892.
Em fins de 1891, registravam-se importantes divergências internas entre os espíritas e fortes ataques exteriores ao movimento. Bezerra de Menezes afastou-se por algum tempo, continuando a frequentar as reuniões do Grupo Ismael e a redação dos artigos semanais em “O Paiz”, que encerrou ao final de 1893. Aprofundando-se as discórdias na instituição, foi convidado em 1895 a reassumir a presidência da FEB (eleito em 3 de agosto desse ano), função que exerceu até à data de seu falecimento.
Mas ele não aceitou de pronto. Em vista da relutância dele em assumir aquele espinhoso encargo, travou-se a seguinte conversação:
– Querem que eu volte para a Federação.
Como vocês sabem aquela velha sociedade está sem presidente e desorientada. Em vez de trabalhos metódicos sobre Espiritismo ou sobre o Evangelho, vive a discutir teses bizantinas e a alimentar o espírito de hegemonia. O trabalhador da vinha, disse Bittencourt Sampaio, é sempre amparado. A Federação pode estar errada na sua propaganda doutrinária, mas possui a Assistência aos Necessitados, que basta por si só para atrair sobre ela as simpatias dos servos do Senhor.
– De acordo. Mas a Assistência aos necessitados está adotando exclusivamente a Homeopatia no tratamento dos enfermos, terapêutica que eu adoto em meu tratamento pessoal, no de minha família e recomendo aos meus amigos, sem ser, entretanto, médico homeopata. Isto, aliás, me tem criado sérias dificuldades, tornando-me um médico inútil e deslocado que não crê na medicina oficial e aconselha a dos Espíritos, não tendo assim o direito de exercer a profissão.
– E por que não te tornas médico homeopata? disse Bittencourt.
– Não entendo patavinas de Homeopatia. Uso a dos Espíritos e não a dos médicos.
Nessa altura, o médium Frederico Júnior, incorporando o Espírito de Santo Agostinho, que era o guia espiritual de Bezerra deu um aparte:
– Tanto melhor. Ajudar-te-emos com maior facilidade no tratamento dos nossos irmãos.
– Como, bondoso Espírito? Tu me sugeres viver do Espiritismo?
– Não, por certo! Viverás de tua profissão, dando ao teu cliente o fruto do teu saber humano, para isso estudando Homeopatia como te aconselhou nosso companheiro Bittencourt. Nós te ajudaremos de outro modo: Trazendo-te, quando precisares, novos discípulos de Matemática…
Não teve como dizer não, ficando ora no cargo de presidente, ora de vice-presidente, até a sua desencarnação.
À frente da FEB, conciliou, em nome do amor, místicos e cientistas, empunhando sempre o slogan “Deus, Cristo e Caridade”, e muito trabalhando pelo bem comum.
Em um dos trabalhos de desobsessão na FEB, um espírito não queria aceitar a Deus, dizendo que este não existia. Como nada mais lhe restava a dizer, decidiu orar, fazendo-o tão sentidamente que convenceu o espírito reticente:
“Basta! para que vocês orem desse modo, é preciso que um Deus exista”.
Também na desobsessão, após convencer um espírito obsessor, este lhe disse: “Bom velhinho, não foram suas palavras que me convenceram, mas os seus sentimentos”.
O Dr. Bezerra de Menezes foi membro da Sociedade de Geografia de Lisboa, da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional, da Sociedade Físicoquímica, sócio e benfeitor da Sociedade Propagadora das Belas-Artes, membro do Conselho do Liceu de Artes e presidente da Sociedade Beneficente Cearense.
Aos 69 anos, em 5 de janeiro de 1900 sofreu um derrame. Ficou completamente imobilizado, de cama, sem poder falar, nem trabalhar, preso num quartinho que tinha apenas uma cama e uma cadeira.
Foram cerca de quatro longos meses de sofrimentos atrozes, de sublimes testemunhos, em modestíssimo e desguarnecido quarto de sua residência humilde, pois o impacto produzido por esse mal violentíssimo o privara de qualquer movimento e da própria fala.
Apenas seus lindos olhos verdes se moviam e falavam naquela linguagem misteriosa da expressão nascida da pureza de seu coração e da grandeza extraordinária de sua fé de apóstolo.
Bezerra fez questão de que os remédios fossem prescritos pelas entidades espirituais, e de receber passes mediúnicos, indo os médiuns à sua residência, para esse fim caridoso.
A miséria passaria a residir em seu lar, e faltar-lhe-ia a própria alimentação e os remédios para amenizarem o seu grande martírio físico, não fossem os corações bondosos e agradecidos que, em verdadeira romaria, afluíam dia e noite de seu calvário, para levar-lhe a sua solidariedade e o testemunho de seu reconhecimento, postando-se, um de cada vez, diante de seu leito, enquanto ele, com os olhos lacrimosos, agradecia, assim, através dessas lágrimas, que eram realmente a palavra de sua alma, a voz de seu sentimento.
Recebeu visitas todos os dias, apenas um de cada vez, que nada diziam, para que ele não tivesse que responder, todos sabiam da penúria em que vivia, mas tinham medo de oferecer e serem recusados, de modo que lhe deixavam dinheiro debaixo do travesseiro, desde grandes notas até pequenos tostões.
Desencarnou as 11:30hs do dia 11 de abril de 1900 com 69 anos, tendo ao lado a dedicada companheira de tantos anos, Cândida Augusta. Morreu pobre, embora seu consultório estivesse cheio de uma clientela que nenhum médico queria; eram pessoas pobres, sem dinheiro para pagar consultas. Foi preciso constituir-se uma comissão para angariar donativos visando a possibilitar a manutenção da família. A comissão fora presidida por Quintino Bocaiuva.
Por ocasião de sua morte, assim se pronunciou Leon Denis, um dos maiores discípulos de Kardec: “Quando tais homens deixam de existir, enluta-se não somente o Brasil, mas os espíritas de todo o mundo”.
Um dia perguntado ao Dr. Bezerra de Menezes qual foi a sua maior felicidade quando chegou ao plano espiritual. Ele respondeu:
– A minha maior felicidade, meu filho, foi quando Celina, a mensageira de Maria Santíssima, se aproximou do leito em que eu ainda estava dormindo e, tocando-me, falou suavemente:
– Bezerra, acorde, Bezerra!
Abri os olhos e vi-a, bela e radiosa.
– Minha filha, é você Celina?!
– Sim, sou eu, meu amigo. A mãe de Jesus pediu-me que lhe dissesse que você já se encontra na Vida Espiritual, havendo atravessado a porta da imortalidade. Agora, Bezerra, desperte feliz.
Chegaram os meus familiares, os companheiros queridos das hostes espíritas que me vinham saudar. Mas eu ouvia um murmúrio, que me parecia vir de fora. Então, Celina me disse:
– Venha ver, Bezerra.
Ajudando a erguer-me do leito, amparou-me até a escada, e eu vi uma multidão que acenava, com ternura e lágrimas nos olhos.
– Quem são, Celina – perguntei – não conheço ninguém. Quem são?
– São aqueles a quem você consolou, sem nunca perguntar-lhes o nome. São aqueles espíritos atormentados, que chegaram às sessões mediúnicas e a sua palavra caiu sobre eles como um bálsamo numa ferida em chaga viva; são os esquecidos da Terra, os destroçados do mundo, a quem você estimulou e guiou. São eles, que o vêm saudar no pórtico da eternidade…
E o Dr. Bezerra concluiu:
– A felicidade sem lindes existe, minha filha, como decorrência do bem que fazemos, das lágrimas que semeamos no caminho, para atapetar a senda que um dia percorremos.
No Plano Espiritual, em 1950, Maria de Nazaré chamou-o para zonas superiores, mas ele preferiu ficar aqui, junto de seus pobres e doentes.
Ao longo da vida Dr. Bezerra acumulou inúmeros títulos de cidadania.
Com relação ao aspecto missionário da vida de Bezerra de Menezes, a obra Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, de Chico Xavier, atribuído ao espírito de Humberto de Campos, afirma: “Descerás às lutas terrestres com o objetivo de concentrar as nossas energias no país do Cruzeiro, dirigindo-as para o alvo sagrado dos nossos esforços. Arregimentarás todos os elementos dispersos, com as dedicações do teu espírito, a fim de que possamos criar o nosso núcleo de atividades espirituais, dentro dos elevados propósitos de reforma e regeneração”.
Pela atuação destacada no movimento espírita da capital brasileira nos últimos anos do século XIX, Bezerra de Menezes foi considerado um modelo para muitos adeptos da Doutrina. Destacam-lhe a índole caridosa, a perseverança, e a disposição amorosa para superar os desafios.
É considerado patrono de centenas de instituições espíritas em todo o mundo.
Bezerra de Menezes era incapaz de ofender a quem quer que fosse, preferindo sofrer a fazer os outros sofrerem; suportava, individualmente, todas as críticas e comentários desfavoráveis à sua pessoa, e até insultos horríveis, chegando a ponto de políticos despeitados, invejosos de seu prestígio no seio das massas populares e também das elites, usarem de baixos expedientes, fazendo publicar, em jornais inescrupulosos, desenhos nos quais apresentavam esse homem de ilibada honestidade como um salteador de estradas!
Era preciso, para tanto, possuir, como ele possuía, “uma fé viva, ativa e produtiva, que não se abala com coisa alguma, que nada teme; um amor fecundo, que espalha por toda a terra a semente santa de dar bons frutos; e aqui está para nós a maior dificuldade, estar de posse de uma abnegação completa, um absoluto esquecimento das ofensas, uma caridade do coração e dos lábios, que não só perdoe, como ainda esqueça que tenha havido ofensa.”
BEZERRA DE MENDEZES: O 13º APOSTOLO
(BASEADO NA OBRA “O 13º. APÓSTOLO” – As Reencarnações de Bezerra de Menezes, de Jorge Damas Martins)
O CASO ZAQUEU-MATIAS
FOI POR INTERMÉDIO DA MEDIUNIDADE DE YVONE PEREIRA QUE SE SOUBE SER BEZERRA DE MENEZES A REENCARNAÇÃO DE ZAQUEU, O PUBLICANO.
Lucas 19: 1-10:
“Jesus entrou em Jericó e atravessava a cidade. Havia ali um homem rico chamado Zaqueu, chefe dos publicanos. Ele queria ver quem era Jesus, mas, sendo de pequena estatura, não o conseguia, por causa da multidão. Assim, correu adiante e subiu numa figueira brava para vê-lo, pois Jesus ia passar por ali. Quando Jesus chegou àquele lugar, olhou para cima e lhe disse: Zaqueu desça depressa. Quero ficar em sua casa hoje. Então ele desceu rapidamente e o recebeu com alegria. Todo o povo viu isso e começou a se queixar: “Ele se hospedou na casa de um pecador”. Mas Zaqueu levantou-se e disse ao Senhor: Olha, Senhor! Estou dando a metade dos meus bens aos pobres; e se de alguém extorqui alguma coisa, devolverei quatro vezes mais. Jesus lhe disse: Hoje houve salvação nesta casa! Porque este homem também é filho de Abraão. Pois o Filho do homem veio buscar e salvar o que estava perdido.”
ZAQUEU = “PURO”, “JUSTO“ (HEBRAICO)
Clemente de Roma (papa clemente I, entre 88 e 97 DC) revela em suas homilías (III,63), que após a estada de Jesus em sua casa, Zaqueu passou a seguir Simão Pedro e, por solicitação deste apóstolo, tornou-se bispo na igreja cristã de Cesaréia.
Consta que Zaqueu (alguns falam Matias), chefe dos publicanos, ao ouvir a voz do senhor, que tinha concedido em hospedar-se em sua casa, disse: “senhor, eis que dou de esmola a metade de meus bens, e se desfraldei alguém em alguma coisa, restituo-lhe o quádruplo”. E o Senhor disse, por sua vez: “vindo hoje aqui, o filho do homem encontrou o que estava perdido”.
“Então deitaram sortes a respeito deles e caiu a sorte sobre Matias, e por voto comum foi ele contado com os onze apóstolos”. (Atos 1:26)
O PORQUÊ DO NOME MATIAS
(Levi), que também era publicano, talvez tenha sido o primeiro a falar de Jesus a Zaqueu. Este, depois de sua conversão, possivelmente tenha homenageado ao amigo adotando um nome que deriva do seu…
APOSTOLADO
Matias inicia a sua atividade missionária na casa do caminho, fundada por Pedro e Tiago, em Jerusalém. Só depois de transcorridos muitos anos após a epopeia da cruz é que terá a sua própria casa de atividades, em Cesaréia. E, depois, na Etiópia.
A CASA DO CAMINHO COMO MODELO E PROPÓSITO
“Tudo o que fizerdes ao menor dos meus irmãos, é a Mim que o fazeis” (MT 25, 40)
Um lugar no mundo…
Para os pobres para os pecadores…
Para os desesperançados…
Para os perdidos…
Para os de coração despedaçado…
Para os infelizes…
Para os trôpegos…
Para os injustiçados…
Para os arrependidos…
Para todos os sem lugar em nossa sociedade, mas que nos braços de Maria, e de Jesus, encontrariam novamente refúgio, paz e… Recuperação!
Esse sonho e propósito alimentam a alma de Bezerra de Menezes desde então…
Conta a tradição que o 13º. Apóstolo morreu num incêndio na Etiópia, tentando salvar as crianças de sua igreja…
O CASO QUINTO VARRO, QUINTO CELSO…
No século III, temos as vidas triunfantes em cristo de Quinto Varro e quinto Celso, duas encarnações sucessivas e imediatas do espírito Matias, segundo diversas informações mediúnicas, ambas realizadas com o objetivo de regenerar a alma retardatária de Taciano, filho espiritual do apóstolo de Jesus. Esse drama foi registrado por Emanuel e Chico Xavier na obra “Ave Cristo”.
Quinto Varro adota o pseudônimo de Irmão Corvino e as funções deste na igreja de São João, em Lion, em homenagem ao amigo que morre a punhaladas em seu lugar, numa emboscada.
Tempos depois, seu filho, Taciano, obcecado em perseguir os operários de Jesus, faz desaparecer, pela violência do ódio, o “risonho lar dos meninos” dirigido pelo “Irmão Corvino”, sem saber que este era seu pai…
Varro é preso, julgado como feiticeiro e condenado à morte pelo Gládio…
Poucos anos após o martírio, Varro novamente reencarna para continuar a missão de resgatar Taciano para Cristo. Agora ele se apresenta como Quinto Celso. Aos sete anos já é possível vê-lo cantando e tangendo o alaúde em praça pública, como pedinte. As “mãos do destino”, no entanto, levam o pequeno Quinto Celso aos braços de Taciano, como filho adotivo…
Tanto ouve falar em Jesus, tantos de seus afetos se ligam à mensagem do Cristo, que Taciano finalmente se rende à palavra viva do Nazareno…
Pai e filho acabam sendo martirizados juntos, como cristãos.
“meu filho, meu filho, eu senti o poder de Cristo em mim! Agora eu também sou cristão!” – diz Taciano a Celso, nos momentos finais.
Celso, então, já a contorcer-se com o corpo em chamas, pronuncia a frase conclusiva da missão cumprida: “louvores sejam entoados a Deus, meu pai. Viva Jesus”
O CASO PARMÊNIO
Posteriormente no século V, reencarna como Irmão Parmênio, onde, como as suas outras vidas, mais uma vez é martirizado. Irmão Parmênio, que, em idade avançada é abandonado pela família anticristã, construíra o recanto a que chamava Casa dos Benefícios, para melhor cumprir os seus deveres de homem, cujo coração se represara dos ensinos do Divino Mestre, abrigando sofredores de qualquer procedência.
Nessa mesma época, duas meninas gêmeas eram vistas numa residência nobre de Roma, suscitando admiração pela beleza com que se distinguiam, embora com opostos traços psicológicos.
Ceres trazia no coração pessimista, um processo de inadaptação ao mundo que a incompatibilizava com a vida. Rancorosa e apaixonada pelas próprias fantasias, fazia-se difícil pelo temperamento complexo.
Cecília, porém, guardava o íntimo possuído por belos ideais. Amava a natureza, praticava a benemerência com espontaneidade de sentimento e conquistava a simpatia de quantos lhe desfrutassem o convívio.
Não tardou muito e Cecília atraiu atenções de nobre romano, Coriolano Rufus .
Depois de algum tempo, conquanto o ciúme de Ceres, o casamento de Cecília e Coriolano se realizou com os vinhos e alegrias.
Após doze meses de felicidade, os cônjuges foram agraciados pela Divina Providência com o nascimento de um filho, ao qual deram o nome de Pompílio.
Coriolano e Cecília, porém, ignoravam que Apio Claudius, um rico rapaz do tempo, fixava Cecília com a lascívia a se lhe desprender dos próprios olhos. Não conseguindo aproximar-se de Cecília, Claudius aliciara, por interesse, a afeição de Ceres.
Acontece, no entanto, que o menino Pompílio foi acometido pela escarlatina complicada (erupções vermelhas pelo corpo, escamação e febre alta), revelando-se a medicina humana impotente para aliviá-lo de inumeráveis padecimentos.
Cecília, mãe aflita, soube, por amiga fiel, que na povoação de Possidônia, havia um homem piedoso, que não só abraçara o Cristianismo, mas também se dedicara à sustentação de uma casa rústica em que hospedava os doentes e os infelizes. Tratava-se do Irmão Parmênio.
A Casa dos Benefícios se localizava, no ano de 513, no sexto século do Cristianismo, em pequena colina. Era a escola e o lar, o templo e o recanto de cura para centenas de pessoas dos mais diversos níveis sociais, que lá se irmanavam pelos desenganos e pelas próprias lágrimas.
Valendo-se de uma viagem breve de Coriolano se ausentara, Cecília resolveu tomar o filho nos braços e procurar o irmão Parmênio, em Possidônia, para que o doentinho lá recebesse a cura da enfermidade que o feria.
Em casa, porém, Ceres convidou Claudius para uma refeição íntima, alegando haver recebido preciosos vinhos da Sicília, e solicitou de Túlia, uma servidora de sua confiança pessoal, a seguisse de perto no ágape, pelo tempo em que se prolongassem os serviços.
Enquanto se fartava, Claudius notou o interesse de Ceres, e acabou se envolvendo com ela.
Retornando à sua casa, Coriolano foi informado pela serva do ocorrido, sem deixar claro, no entanto, se a personagem do episódio, junto a Claudius, era Ceres ou Cecília.
Diante de semelhante calúnia, Coriolano organizou uma legião de homens fortes e colocou o pelotão em caminho, atingindo a Casa dos Benefícios, nas sombras da noite.
Informado, no entanto, pela guarda, de que era proibido incomodar os doentes na hora tardia em que se apresentava, deixou que todas as suas reservas de desespero e inclemência lhe assomassem o pensamento, exigindo que o fogo fosse atirado à instituição por todos os lados. Em poucas horas o Irmão Parmênio e a sua obra humanitária não passavam de um montão de cinzas fumegantes.
O CASO CARLOS FELIPE I
A informação é surpreendente e foi dada pela médium Yvone Pereira em uma sensacional entrevista, no dia 17 de junho de 1979, ao casal Elizabeth e Mauro Operti, que estava acompanhado do caro confrade Altivo Carissimi Pamphiro.
Até novembro de 2006 esta pérola de entrevista estava esquecida numa fita cassete que o casal Operti fez chegar ao pesquisador Pedro Camilo, que a publicou na obra Pelos Caminhos da Mediunidade Serena, organizada por ele e publicada pela editora Lachâtre, SP, 1ª. Ed. 2006:
“Numa ocasião, ele (Chico Xavier) me disse que devo ter sido filha do Dr. Bezerra. Não acreditei… Ele disse: “Tenho certeza do que lhe estou falando…” Quando recebi o livro “Nas Voragens do Pecado”, tive a intuição de que Dr. Bezerra estava ali. Dr. Bezerra é um dos personagens que foi massacrado por aquela matança na Noite de S. Bartolomeu (século XVI). Ele foi Carlos Felipe I [Carlos Felipe de Brethencourt de La-Chapelle]. Naturalmente, meu pai, porque estou ali, também. Ele foi massacrado; era médico também. Aqueles fidalgos lá da margem do Reno, que estavam em “Nas Voragens do Pecado” eram bons… Eram adiantados demais para a época deles” (págs. 118 e 119).
O CASO BEZERRA DE MENEZES
Ismael reúne no espaço os seus dedicados companheiros de luta e, organizada a venerável assembleia o grande mensageiro do Senhor esclarece a todos sobre os seus elevados objetivos.
“Concentremos agora os nossos esforços na Terra do Evangelho, para que possamos plantar no coração de seus filhos as sementes benditas que, mais tarde, frutificarão no solo abençoado do Cruzeiro. Se as verdades novas devem surgir primeiramente, segundo os imperativos da lei natural, nos centros culturais do Velho Mundo, é na Pátria do Evangelho que lhes vamos dar vida…Alguns dos nossos auxiliares já se encontram na Terra, esperando o toque de reunir de nossas falanges.”
Depois, encaminhando-se para um dos destacados e fiéis discípulos falou-lhe assim: “Descerás as lutas terrestres com o objetivo de concentrar as nossas energias no país do Cruzeiro, dirigindo-as para o alvo sagrado dos nossos esforços. Arregimentarás todos os elementos dispersos com a dedicação do teu espírito, a fim de que possamos criar o núcleo de atividades espirituais, dentro dos elevados propósitos de reforma e regeneração. Não precisamos encarecer aos teus olhos a delicadeza dessa missão; mas, com a plena observância do código de Jesus e com a nossa assistência espiritual, pulverizará todos os obstáculos, à força de perseverança e de humildade, consolidando os primórdios de nossa obra, que é a de Jesus, no seio da Pátria do Evangelho. Se a luta vai ser grande, considera que não será menor a compensação do Senhor, que é o Caminho, a Verdade e a Vida”.
(“Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”, Humberto de Campos, psic. F.C. Xavier, 1974, pp. 177-80).
Finalmente, reencarna no Brasil como Adolfo Bezerra de Menezes, com o objetivo de concretizar a fixação do Espiritismo em terras brasileira e à união dos espíritas.
Não foi por acaso que chegou ao status de Bezerra de Menezes, em quem se realizaram as virtudes da humildade, desapego e simplicidade: tudo isso já vinha sendo trabalhado no seu íntimo há milênios, pois as virtudes somente se consolidam com o exercício, a repetição, a impregnação, a troca dos valores do “homem velho” pelos do “homem novo”, ou seja, as coisas e interesses do mundo material vão sendo substituídas pelas coisas e interesses do mundo espiritual, o que demanda esforço de milênios.
Estas informações sobre reencarnações devemos encarar de forma educativa, para nos inspirar em cada vez mais tomar o caminho do bem, do amor, da caridade, para progredirmos como esses amados espíritos que já percorreram tais caminhos e que hoje nos passam exemplos por meio das suas vidas passadas, em sabermos quem foram antes e quem hoje são, com uma consciência madura nos caminhos do progresso evolutivo. E que nos avisa por meios de suas mensagens e de seus históricos de vida, que também é possível para nós avançarmos e levantarmos vôos mais altos como eles alcançaram, por meio do trabalho com sinceridade, perseverança, caridade, amor, esperança, alegria..
PRECE A BEZERRA DE MENEZES
Publicado por SBEBM – SOCIEDADE BENEFICENTE ESPÍRITA BEZERRA DE MENEZES em 26 de abril de 2013
Nós Te rogamos, Pai de infinita bondade e justiça, as bênçãos de Jesus Cristo, através do Espírito Bezerra de Menezes e sua legião de companheiros. Que eles nos assistam, Senhor, consolando os aflitos, curando os que se tornem merecedores, confortando aqueles que têm provas e expiações por passar, esclarecendo aos que desejam obter conhecimento espiritual e assistindo a todos os que apelem para o Teu infinito amor. Jesus, divino portador da graça e da verdade, estende tuas mãos dadivosas em socorro daqueles que te reconhecem como despenseiro fiel e prudente.
Seja o nosso divino modelo, através de tuas legiões consoladoras, de teus santos espíritos, a fim de que a fé se eleve, a esperança aumente, a bondade se expanda e o amor triunfe sobre todas as coisas.
Bezerra de Menezes, apóstolo do bem e da paz, amigo dos humildes e dos enfermos, movimenta as tuas falanges amigas em benefício daqueles que sofrem males físicos ou espirituais.
Bons espíritos, dignos obreiros do Senhor, derramai as virtudes e as curas sobre a humanidade sofredora, a fim de que as criaturas se tornem amigas da paz e do discernimento, da harmonia e do perdão, semeando pelo mundo os divinos exemplos de Jesus Cristo.
Referência Bibliográfica:
- “Lindos casos de Bezerra de Menezes”, de Ramiro Gama;
- “A Loucura sob Novo Prisma”, Bezerra de Menezes, pelo pseudônimo Max;
- “O 13º Apóstolo”, de Jorge Damas Martins;
- “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”, de Humberto de Campos, psicografada por Francisco C. Xavier;
- “Vida e Obra de Bezerra de Menezes”, de Sylvio Brito Soares;
- “Bezerra de Menezes, o Médico dos Pobres”, de Francisco Acquarone;
- “Bezerra de Menezes”, de Canuto Abreu;
- “Os Grandes Vultos do Espiritismo”, de Paulo Alves Godoy
- Revista Reformador;
- Site www.febnet.org.br;
- Site www.sbebm.org.br;
- Site www.crbbm.org (Casa de Recuperação e Benefícios Bezerra de Menezes);
- Site www.souleitorespirita.com.br;
- Site www.luzespirita.org.br;
- Site www.bibliaonline.com.br;
- Site www.passatempoespirita.com.br;
- Site www.verdadeluz.com