O Evangelho de Maria – palestra 26.9.18
O Evangelho de Maria
Estudo – CELC 26.09.18 – Jane
Sinopse
Baseado no Evangelho Apócrifo da Virgem Maria encontrado por uma monja no final do século IV durante uma viagem que empreendeu à Terra Santa, este livro reconta a vida de Cristo sob o ponto de vista de sua mãe que, já no final da vida, tece suas recordações a João, o discípulo amado de Cristo, quem Ele encarregou de cuidar de Maria. Com sua leitura, vai surgindo a imagem de uma mulher corajosa, que amou e sofreu muito, viu matarem o seu filho e foi capaz de resistir à prova sem perder a fé nem a esperança. Mostra-nos as desconhecidas experiências e dificuldades que ela teve de atravessar para cumprir a missão de ser mãe, educadora e fiel escudeira de Cristo.
Naturalmente que Egeria, quando o recebeu, já traduzido para o latim, das mãos de um monge grego companheiro de São Jerônimo (que vivia em Belém, na época em que Egeria ali estivera, e havia residido na cidade natal de Jesus entre os anos 387 e 420), sentiu-se emocionada, porém teve receio -de tratar-se de um texto herético,…
“É possível que algum zeloso defensor da ortodoxia chegasse a pensar que as recordações da Virgem Maria pudessem diminuir a divindade de Cristo, pois nelas se mostra o lado humano de seu Filho. Poderia alguém ter receio que, na época mais dura da Inquisição, a inclusão de um apócrifo naquela biblioteca pudesse despertar suspeitas de conivência com as odiadas heresias. É possível até que algum severo inquisidor tenha ordenado separar e queimar os dois capítulos que faltavam à cópia italiana do Itinerarium.
Em todo o caso, na Espanha se conserva agora o texto integral e o melhor que se pode fazer é ler e interpretar o que durante séculos permaneceu oculto.
Este é, segundo uma piedosa tradição, O Evangelho Secreto da virgem Maria, suas memórias, narradas a João Evangelista em muitas daquelas tardes em que ambos descansavam de suas respectivas tarefas, nas cercanias da cidade grega de Éfeso. Que julgue o leitor o valor espiritual do texto e que deixe penetrar em si a ternura com que uma velha mãe fala de si mesma, de seu filho e da aventura que Deus, … havia posto em andamento.”
Baseado no Evangelho Secreto da Virgem Maria e mediado com os evangelhos de Mateus, João e principalmente de Lucas, realizei este estudo.
“A esse tempo, o ex-doutor de Jerusalém chamou a atenção de Lucas para o velho projeto de escrever uma biografia de Jesus, valendo-se das informações de Maria; lamentou não poder ir a Éfeso, incumbindo-o desse trabalho, que reputava de capital importância para os adeptos do Cristianismo, O médico amigo satisfez-lhe integralmente o desejo, legando à posteridade o precioso relato da vida do Mestre, rico de luzes e esperanças divinas. Terminadas as anotações evangélicas, o espírito dinâmico do Apóstolo da gentilidade encareceu a necessidade de um trabalho que fixasse as atividades apostólicas logo após a partida do Cristo, para que o mundo conhecesse as gloriosas revelações do Pentecostes, e assim se originou o magnífico relatório de Lucas, que é — Atos dos Apóstolos.” (Paulo e Estevão, pág.482)
TINHA QUINZE ANOS
Lembro, apesar de haver passado tanto tempo e tantas coisas, a ternura de minha mãe, Ana, e a suave firmeza de meu pai, Joaquim.
Elo de muito amor com os pais Joaquim e Ana, lar simples, mas com estudo das leis. O Pai sempre repassava os estudos da Sinagoga as duas em casa. Pois pelos estudos do profeta Isaías a vinda do Messias estava próxima. Diferente dos demais judeus que esperavam um líder militar capaz de expulsar os romanos de Israel sua família esperava um mensageiro de paz e amor.
As notícias que chegavam das cidades que abrigavam destacamentos romanos não eram boas. Falava-se de tumultos entre alguns dos nossos e, inclusive, se comentava que na longínqua Jerusalém havia muita inquietação e que alguns rabinos haviam dito que a chegada do Messias poderia estar próxima, segundo se podia deduzir de certa profecia que fazia referência a seu nascimento em Belém, a cidade de Davi.
… como Asaf, como meu pai ou como minha mãe, intuíam isso sem saber exatamente do que se tratava. Por isso o rabino escolhera o texto de Isaías; para transmitir uma mensagem de paz e esperança aos habitantes de nossa aldeia.
Se o Messias estava por vir, como alguns diziam, deveríamos manter a calma, porque sua chegada seria a do príncipe da paz.
Aguardávamos sua chegada e rezávamos todos os dias para que isto ocorresse o mais cedo possível…
… naquela noite de um sábado de primavera, minha mãe e eu ouvíamos atentamente Joaquim, que nos estava contando a prédica do rabino Asaf. Tudo ia bem e se desenrolava conforme gostavam meu venerado rabino e meus pais, até que Joaquim disse algo que nos surpreendeu. Disse que, chegando a um certo momento de sua exortação, Asaf pareceu emudecer. Lia parágrafo por parágrafo o texto de Isaías, explicando-os em seguida até que, de repente, ao ler o que estava escrito empalideceu, fechou o livro, sentou-se e se pôs a chorar. (Isaías 53:1 a 7)
Vários homens do povoado, entre eles meu primo José, com quem meus pais me haviam comprometido em matrimônio, e meu próprio pai, se acercaram de Asaf, porém não conseguiram extrair dele palavra alguma. A assembleia se dissolveu e não se parou de falar sobre o assunto, todos intrigados com o que tinha lido Asaf.
Como ninguém possuía o livro de Isaías, não se podia consultar o texto que tanto havia impressionado o nosso bom rabino, decidiram recorrer a um homem de Caná, chamado Adonias que lhes narrou a passagem por completo da profecia de Isaías… alguns dos que foram consultar Adonias não quiseram dar crédito ao que dizia, porque isto poderia significar que o Messias anunciado pelo profeta Isaías não era um Messias rei, um Messias libertador do jugo romano, e até poderia dar a entender que ele fora traído pelo próprio povo, o que era absurdo e impossível… o Senhor Todo-Poderoso enviara algum sinal ao nosso rabino Asaf, que o surpreendeu a ponto de fazê-lo emudecer “Estamos em tempos sublimes, tempos de Deus. Não devemos temer, porque o Senhor nunca abandona seu povo, porém devemos orar intensamente para que a cada instante se faça Sua divina vontade.”
Assim disse meu pai, dando por terminado o relato e indicando-nos em seguida o horário tardio, próprio para se deitar… No entanto, não podia dormir Assim, comecei a rezar Algo dentro de mim me dizia que o Senhor estava esperando uma palavra minha. Eu a pronunciei em seguida e lhe disse que se ele queria enviar um Messias diferente daquele que todos esperavam, para mim era igual. Eu não queria que sua vontade se adaptasse a meus desejos e sim o contrário.
Além disso, e agora a coisa já se complicava, parecia- me estranho e mais incomum ainda, que o Messias tivesse que padecer em nome de todos, sendo ele inocente e nós culpados.
Sentia fortemente que, naquela noite, o Senhor esperava algo de mim. Minha resposta foi positiva. Disse-lhe que, por mim, as coisas se fariam de acordo com a sua vontade e não segundo meus cálculos ou previsões. Portanto, se Ele, Yaveh, resolvera que as coisas iriam se desenvolver a seu modo, eu aceitava e, como em ocasiões anteriores, ofereci-me para ajudar no que fosse possível, sabedora, de antemão, que tudo o que eu fizesse seria pouco, jovem como era e a ponto de casar-me brevemente.
Foi quando tudo ocorreu.
Não havia pronunciado meu último sim, quando meu pequeno quarto se encheu de luz. Estava ajoelhada, … quando ele apareceu.
Confesso que não me assustei. Bem, me assustei sim, mas se tratava de um medo que não era medo.
O fato é que ali estava ele. Belo e luzidio, doce e cheio de paz. Nunca me ocorreu que fosse um enviado do Maligno, pois a paz que dele emanava era representativa apenas de Deus… Porém, quando começou a falar assustei-me um pouco… “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo”, foram suas primeiras palavras.
Naturalmente era de provocar espanto. O que significava “cheia de graça”? Não estávamos todos sob o efeito do pecado original, como nos ensinavam na sinagoga? Não seria, pois, um convite à soberba?
Não me havia deixado enganar com sua aparente espiritualidade?
Ele se deu conta em seguida e tentou tranquilizar-me: “Não temas, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Irás conceber em teu ventre e darás à luz um filho, a quem darás o nome de Jesus. Ele será grande e será chamado ‘Filho do Altíssimo’. O Senhor lhe dará o trono de Davi, seu pai. Reinará sobre a casa de Jacó pelos séculos e seu reino não terá fim”.
Na verdade não eram palavras muito tranquilizantes. Dizia-me “não temas”, mas o que vinha em seguida era mais sério e preocupante ainda.
Sem dúvida, acostumada a responder com um “sim” a tudo o que Deus me pedia e já com a certeza íntima de que aquele era um mensageiro seu, nem pensei no problema em que me metia, nem nas consequências que poderiam resultar do fato de eu já estar, de uma maneira ou de outra, casada, ou pelo menos comprometida com José. … Perguntei-lhe: “Como ocorrerá isso, se eu não conheço varão?”…
O anjo Gabriel soube dissipar todas as minhas dúvidas: “O Espírito Santo descerá sobre ti”, afirmou, “e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra. Por isso aquele que nascer será santo e será chamado Filho de Deus”.
Maria reflete uns instantes sobre o sim e suas consequências… (ISAÍAS 7;14)
Ainda estava tecendo estas conjecturas quando o anjo voltou a falar. Quem sabe pensava que eu ainda tinha dúvidas. O fato é que acrescentou: “Olha, também Isabel, tua parente, concebeu um filho em sua velhice e este já é o sexto mês daquela que chamam estéril, porque nada é impossível a Deus”.
De modo que, para evitar que suspeitasse de minha vontade de aceitar o que Deus me pedia, precipitei-me a dizer lhe o que gritava meu coração desde o primeiro momento, uma espécie de consentimento matrimonial, um “sim, quero”, que saía de mim com tanta força que me assustou, porque eu não estava acostumada a ímpetos semelhantes. “Eis aqui a Escrava do Senhor”, disse-lhe, “faça-se em mim segundo sua palavra.”
Então Gabriel foi embora. Sorriu-me e se foi.
Maria fica refletindo nas palavras que respondeu ao anjo…
O DIA SEGUINTE
Como compreenderás João, mal pude dormir naquela noite.
Minha oração era silenciosa, repleta de sensações, de perguntas, de consentimentos.
Fisicamente nada notei, chegando a supor que tudo tinha sido um sonho…
Que tipo de Messias era aquele que nasceria numa aldeia perdida da Galiléia, em vez da capital, Jerusalém? Quem, em seu juízo perfeito, teria escolhido por mãe uma pobre moça, filha de um artesão, em vez de buscar a proteção de uma família poderosa?…”Para Deus não há nada impossível”. Por isso não foi difícil aceitar que Deus tenha semeado em mim o Messias sem a intervenção de um varão… Além do mais, o filho que eu carregava em minhas entranhas, o que ele significava na razão de Deus? Poder-se-ia dizer que era seu filho? No entanto, como poderia um ser humano ser filho de Deus? Como o povo de Israel, que não consentia que se fizessem pinturas ou esculturas para representar Deus, iria aceitar um Messias considerado Filho do Altíssimo? Se esse mar de dúvidas fosse pequeno, existiam centenas de outras coisas mais. Por exemplo: seria meu filho um guerreiro ou um construtor da paz? Mancharia suas mãos com sangue ao empunhar espadas vitoriosas, ou seria um homem santo que conduziria o povo por caminhos de renovação interior, de conversão, de misericórdia? Bem, tenho que reconhecer que desta última pergunta eu imediatamente conheci a resposta.
Lembrei-me de uma frase de Isaías que meu pai sempre repetia porque era seu lema favorito: “Na confiança está vossa força…
Minha mãe entrou em meu quarto pouco depois. Com seu eterno sorriso sentou-se junto à minha cama e me despertou,…
Pensei que ia morrer quando comecei a falar. As palavras se negavam a sair. A boca ficou completamente seca. Tive que tossir várias vezes e no final disse-lhe, olhando os lençóis da cama em lugar de dirigir meu olhar a seus olhos: “Vou ser mãe”. Depois, fiquei em silêncio.
“Acredito em ti, filha” disse-me Ana. “Acredito porque a história que contas é incrível demais para que, se a tivesses inventado, pudesses conseguir a menor possibilidade de ser aceita.
Acredito, também, porque jamais tive motivos para duvidar de ti.
Tens sido uma filha exemplar. Nunca nos deste um desgosto, nem a teu pai nem a mim, e duvidar de ti, por mais difícil que seja aceitar tua palavra, seria uma ofensa que tu não mereces. Se eu não acreditasse em ti, estaria rompendo algo puro e limpo, a confiança que tu mereces. O Senhor também me contou algumas coisas. Faz muitos anos. Desde que nasceste, sempre tive a impressão de que eras mais sua do que minha e de teu pai. Não estou dizendo que tenha ocorrido algo de estranho em teu nascimento. Foste fruto de um amor autêntico entre Joaquim e eu. O que digo é que, tanto a teu pai como a mim, e a muitos outros de nosso povoado, sempre nos pareceu que por tua frente não passavam as mesmas águas turbulentas que passavam por todas as outras, incluídos os mais santos de nosso povo. Sempre foste de Deus e de um modo que, sem tu notares, chamava a atenção tanto por sua naturalidade como por sua intensidade. Tenho falado muito com Joaquim sobre ti. Tínhamos a impressão de que o Senhor te queria para si de uma maneira diferente da que nos chama à união com Ele, porém não sabíamos quando nem como. Inclusive relutamos em comprometer te com alguém, até que optamos por teu primo José, que parece ter sido feito da mesma matéria tua, ainda que não chegue à altura desse dom estranho que a ti foi concedido.
Ana vai ao encontro de Joaquim e narra o que Maria havia lhe dito sobre a visita do anjo do Senhor e sua gravidez.
Lembra o que dizem as profecias, o que temos falado tantas vezes e, inclusive, o que nos contaste ontem à noite. O Senhor quer salvar a seu povo e fomos nós, indignos e os últimos servos seus, os afortunados. Portanto, não me venhas agora com ditos sobre honra e desonra porque o que teremos que fazer é nos colocarmos a orar para dar graças a Deus e tranquilizar nossa filha…”
“Querida Ana, se não te conhecesse e não te quisesse tanto, a esta hora estaria farto de ti. Porque supões que vou colocar empecilhos, mulher? … Acreditas que somente tu, como mulher e como mãe, amas a nossa filha e a entendes? Ela, nossa menina Maria, é a alegria de minha alma, o sonho de minha vida e a esperança para meu futuro. E acima de tudo sei, como o sabes tu, que ela não é nossa filha – desde seu nascimento pertence a Deus. Isto que me contas, efetivamente, é duro de aceitar. Talvez ninguém do povoado acredite. Porém eu e tu sabemos que é verdade.
Joaquim e Ana oram ao Senhor em agradecimento.
Olha a minha fragilidade e dá-me forças para estar à altura da missão da qual, como pai de minha filha, acabas de me incumbir. Dá-me sabedoria para discernir o caminho correto. Ajuda a minha pequena, que esteve sempre a teu serviço… Nós, Senhor, não aspiramos a grandezas que superem nossa capacidade. Embora todos desejem contar com o Messias entre os membros de sua casa, nós nunca nos atrevemos a pensar nisso. Somente te pedimos uma coisa ao longo de nossa vida – poder ser úteis a ti, poder servir algo a ti, mesmo que seja no menor e mais humilde lugar. Agora, Eloí, tu nos escolheste e estamos em tuas mãos… Ajuda-nos tão somente a cumprir tua vontade e a não modificar com nossa torpeza teus projetos.”
Logo, mais calmos,… Minha mãe lembrou que o anjo me havia dito que Isabel, minha prima que morava ao sul, em Ain Karem, perto de Jerusalém, estava grávida. Era incrível e quase tão difícil de aceitar como o que em mim havia ocorrido, pois ela era mais idosa do que minha mãe e nunca pôde ter filhos. Portanto, impunha se uma visita a Isabel para ajudá-la, já que estava no sexto mês, e também para pedir-lhe conselhos – era casada com Zacarias… Meus pais se encarregariam de falar com José. Nenhum de nós desconhecia a gravidade da situação. Se José reagisse mal e eu ficasse na aldeia, minha sorte estaria traçada. Tratava-se, pois, de salvar-me de todo o perigo e também de salvar o filho que carregava em meu ventre e que era a esperança de nosso povo.
Decidimos, pois, que essa mesma tarde eu sairia de Nazaré rumo ao sul, para a casa de nossa prima. Isabel
LU 1:39 “Naqueles dias, Maria se levantou e foi às pressas às montanhas, a uma cidade de Judá…”
JOSÉ, UM NOIVO SURPRESO
Fazia um mês que me encontrava na casa de Isabel e tudo se desenvolvia do melhor modo possível, quando recebi uma mensagem de meu pai… Escrevo-te para que saibas que podes voltar quando quiseres.
Joaquim, como já disse, era um homem religioso. Religioso no melhor sentido da palavra. Não pertencia à seita dos fariseus, nem a nenhuma outra das seitas ou associações que tanto proliferavam em nosso povo. Melhor dizendo, era um anawin, um daqueles que Isaías havia profetizado quando disse que um resto ficaria em Israel, do qual nasceria o Messias.
O “resto”, a pequena porção de autênticos israelitas a que pertencia meu pai, caracterizava-se por buscar o espírito da lei e não se condicionar à letra. Sua relação com o Senhor era do coração… Estava acostumado a tratar com Deus, a falar com Ele com respeito e também com intimidade…
Joaquim ora ao Senhor e pede orientação e sabedoria para conversar com José, pois teme sua reação. E o Senhor lhe responde: “Joaquim, Joaquim”, disse o Senhor, “é assim que me entendes? Duvidas que eu, que construí o Universo e ante minhas palavras se abriram as águas do mar Vermelho, não seja capaz de resolver uma coisa tão simples? Tem confiança em mim e não temas. É na confiança, não te esqueças, que reside a tua força…
Joaquim procura José em sua casa.
Conforme contou meu pai, José se pôs a chorar….
Quando se acalmou, sem que meu pai se atrevesse a dizer lhe nada ou a colocar a mão em seu ombro, por medo de uma brusca reação, José levantou os olhos. Olhou meu pai e lhe pediu explicações.
Meu pai se negou a dar lhe explicações. Somente reiterou que eu era inocente do que ocorrera, não havia outro homem… Compreendendo a situação difícil, meu pai não quis levar as coisas até o extremo, porém insistiu em que eu era uma pessoa digna e que ninguém poderia me repreender José estava assombrado com o que ouvira. Como não havia homem algum nessa história? E então como poderia ter ocorrido a gravidez?
Quando José se acalmou um pouco, sufocado ainda pelas notícias, garantiu a meu pai que não ia me denunciar. Pediria meu repúdio ao rabino, porém em segredo, sem reclamar para mim o castigo que cai sobre as adúlteras e ao qual tinha direito para que sua honra não fosse manchada. Exigia sim, que eu jamais voltasse ao povoado e pedia a meu pai que não tornasse públicos a gravidez nem o parto quando ocorresse. Meu pai agradeceu sua generosidade. Era muito duro aquilo que contara e Joaquim sabia que José se comportara como poucos homens de Nazaré o teriam feito. Acabava de poupar-me a vida.
Minha sentença estava já traçada: era uma proscrita dos meus, e deveria viver errante, sem marido, com um filho sem pai, ajudada somente por Joaquim e Ana, enquanto pudessem fazê-lo, e depois condenada quem sabe a que tipo de escravidão. Porém, momentaneamente, respirava mais aliviada.
A noite já avançava quando José principiou o sono e sentiu a presença de alguém próximo.
Levantou-se sobressaltado e com medo. Por um momento pensou que se tratava de um pesadelo, de um sonho mau, fruto, quem sabe, de remorsos. Porém não, ali estava alguém, com uma luz tênue que clareava todo o quarto.
“Olhava-me com calma e silêncio”, explicou José quando me contou o ocorrido. “Parecia esperar, cheio de tranquilidade, que eu serenasse. Mais calmo, com a impressão de que esse alguém não me ia fazer dano algum, porém mantendo-me afastado o quanto podia, perguntei quem era e o que queria de mim. “José, filho de Davi, sou um anjo do Senhor, um mensageiro de boas novas. Venho de sua parte transmitir te uma ordem sua. Não temas em tomar Maria como tua mulher porque o que nela está semeado é obra do Espírito Santo.”… MT 1:20 a 25
O anjo foi conciso em suas explicações. Lembrou-lhe algumas profecias, particularmente as do profeta Isaías: “Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho e lhe colocará o nome Emanuel”. A ela foi pedida a permissão, como cabia. E agora ele tinha que cumprir a sua parte para que tudo resultasse bem e a obra salvadora de Deus pudesse ser levada a cabo. “Maria dará à luz um filho”, concluiu o anjo, dando por encerradas as explicações “e tu lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará seu povo de seus pecados.” Quanto à prova de que procedia do Altíssimo e de que era um mensageiro seu, disse com ironia: “Tanto tempo sendo amigo de Deus e ainda não sabes distinguir o que vem dele, pela paz que se produz em seu espírito? Se queres, posso deixar alguma prova mais contundente, porém seria preferível não tentar o Todo-Poderoso com tua desconfiança e te limitar a ouvir teu coração”. José abaixou a cabeça, envergonhado, sabendo se tratar efetivamente de um mensageiro divino e reconhecia ter se equivocado ao exigir lhe mais provas de que a sua certeza lhe dava.
Vestiu-se rapidamente e saiu à rua. Alvorecia, embora as sombras atingissem parte das ruelas estreitas de Nazaré. Chegou à casa de meus pais e bateu suavemente à porta para não despertar os vizinhos. Esperava o primeiro canto do galo. Sua surpresa foi ainda maior quando a porta se abriu e meu pai o recebeu completamente vestido e sorridente, fazendo-o entrar. Minha mãe estava dentro da casa, esperando por ele.
O mistério se dissipou em seguida, dadas as explicações. Ana e Joaquim haviam decidido passar a noite à luz de vela, orando para suplicar ao Senhor que acelerasse a hora e que ajudasse José a compreender que Ele estava por trás de toda aquela imensa confusão. Pouco antes de José bater à porta, ambos tiveram a certeza de que suas súplicas tinham sido ouvidas.
Depois traçaram planos. Era preciso dar ao povo a notícia da gravidez de Maria, passando pelo apuro de aceitar que José era o pai, sem fornecer maiores explicações. Era preciso preparar todo o necessário para o casamento, a fim de que a criança nascesse já no seio da família plenamente constituída.
A EXALTAÇÃO DA ESCRAVA
Neste capítulo Maria vai para casa de Zacarias e Isabel próximo à Jerusalém. Desabafa com Isabel, que também se encontra grávida pela graça de Deus, visto ser idade avançada. Lu 1:13
Ali permanece por quase 3 meses.
… finalmente cheguei. Ali estava, em estado avançado de gestação, mais velha do que eu me lembrava, porém tão enérgica e decidida como sempre. Não pude conter um grito de saudação: “Isabel,” exclamei, “vim!”. Ela voltou a cabeça… Mal me viu, deixou tudo que fazia e correu ao meu encontro. Estava com expressão de sobressalto, como se algo tivesse acabado de acontecer. Apertou-me em seus braços e, ante surpresa minha e de todos, ia ajoelhar-se, gesto que consegui impedir com grande esforço.
“Bem-aventurada sejas tu entre as mulheres”, disse em voz tão alta que todos interromperam o que estavam fazendo para olhar-nos, “e bendito o fruto de teu ventre. Como é possível que a mãe do Senhor venha a mim? Porque, apenas chegou a meus ouvidos tua saudação, o menino que trago no ventre agitou-se de alegria. Feliz é aquela que acreditou, porque se cumprirão as coisas que lhe foram ditas por parte do Senhor!”
… Ninguém, exceto meus pais, sabia. Podia ter acontecido que a notícia correra no povoado, porém era quase impossível que tivesse chegado à casa de meus primos antes de mim. Não, por trás disso haveria algo mais – a mão de Deus. Assim, exclamei:
“Minha alma proclama a grandeza do Senhor, alegra-se meu espírito em Deus, meu Salvador. Doravante me felicitarão todas as gerações, porque o Poderoso fez grandes obras através de mim.
Seu nome é santo e sua misericórdia chega aos fiéis de geração em geração. Faz proezas com seus braços, dispersa os soberbos de coração, derruba dos tronos os poderosos e enaltece os humildes. Aos famintos cobre de bens e aos ricos despede sem nada. Auxilia Israel, seu servo, enaltecendo sua misericórdia, conforme prometera a nossos pais, em favor de Abraão e sua descendência, para sempre.”
Ficamos as duas surpresas. Estávamos conscientes de que o Senhor havia se utilizado de nós para proclamar sua mensagem, tal como o havia feito em épocas passadas com juízes e profetas.
A vida transcorreu com normalidade. Isabel me amava muito e eu a ajudava estando a seu lado e colaborando na organização das coisas da casa, porque ela tampouco queria que eu me pusesse a trabalhar, já que era sua hóspede e não uma criada, e o que ela mais precisava de mim era companhia para conversar sobre Deus e suas coisas.
Assim transcorreram aqueles três meses. Durante esse tempo recebi a carta de meu pai, aquela de que te falei, e soube que tudo caminhava bem em Nazaré.
Porém, naquele momento, nem Isabel nem Zacarias, nem mesmo eu, sabíamos como se desenvolveria o futuro. A única coisa que eu sabia era que encontrara em minha idosa parente um poço sem fundo cheio de sabedoria.
Isabel era uma grande mulher. Tinha experiência, como cabia à esposa de um prestigioso sacerdote,… Assim decidi que, se Yaveh me enviara a Ain Karem, sem dúvida o fizera para que eu pudesse aprender algo do muito que naquela casa se sabia. Aprender para logo usar porque, como bem sabes, João, ser mãe é muito mais do que gerar um filho… Com Isabel passei uma das temporadas mais doces de minha vida.
DE VOLTA PARA CASA
Maria medita durante a viagem de volta e amadurece como mulher. Já sentindo o grande amor que a liga ao filho, em seu ventre. Sente a força e a coragem que os une.
Reencontra José e lhe esclarece que: seu casamento seria diferente dos outros e acrescenta que não teriam mais filhos, nem relações normais de marido e mulher e lhe coloca a permissão para escolher, mas acrescenta que ele é o esposo que ela gostaria de ter ao seu lado para auxiliar na educação de seu filho. Neste capítulo é descrito os preparativos da festa e o casamento de uma semana, segundo a lei judaica. Que lhes custou todas as economias das família e de José.
Relato de José: “Em nossa casa só haverá amor, e nesse amor educaremos nosso filho que, como disseste, é também meu. Por ele e por ti lutarei como um leão e te asseguro que não haverá pai na Galiléia mais abnegado que eu na hora de defender a minha família. Para mim é suficiente que tudo isso seja o que Deus quer E que me amas é o maior presente que podia esperar do Altíssimo e da vida.”
… Nós, José e eu, nos colocamos nas mãos de Deus porque sabíamos que a tarefa era árdua e nunca nos faltou a sua graça.
OS CAMINHOS TORTUOSOS
A gravidez aparece e as críticas também quanto à moral do casal.
“Foi oprimido, e se humilhou, e não abriu a boca”. Observa João, que desde o ventre meu filho foi o servo paciente anunciado por Isaías. Concebido milagrosamente, da maneira mais pura e limpa que pode imaginar um ser humano, teve que escutar, através dos ouvidos de sua mãe, calúnias que menosprezavam não só a minha honra como também a sua. Por isso meu silêncio oferecido a Deus foi, desde o início, a melhor escola para aquilo que depois teve que consumar na cruz.
Vem o anúncio do censo Romano, Maria se encontra no 8º mês de gestação.
Tratava se de um decreto do imperador Augusto, válido para todo o império e, portanto, também para Israel. Ordenava que cada homem voltasse com os familiares ao seu local de nascimento, ao lugar originário de sua família. Aquilo era politicamente terrível pois nos fazia sentir, mais uma vez, nossa submissão aos romanos…Porém para José e para mim o problema era muito diferente.
José era da estirpe de Davi. Via-se forçado a ir a Belém, que se encontra ao sul de Jerusalém. De Nazaré, e em meu estado, era uma longa viagem de uma semana… Riscos dos mais diversos, pois não sabíamos o que poderíamos encontrar em Belém, já que eram muitos em Israel os que tinham sua origem em Davi e, se todos regressassem, não haveria acomodações no povoado. Sem dúvida, teríamos que obedecer.
“Que vamos fazer, Maria?”,… Não crês tu que se Deus se preocupou tanto empreendendo esta obra, a do nascimento do Messias, não permitirá agora que tudo se complique por força de uma ordem do imperador romano? Não é Ele maior e mais poderoso do que todos os senhores da terra? Novamente, José, repito as palavras do profeta, palavras que nunca deveremos esquecer: ‘Na confiança está vossa força’. Portanto, vamos nos preparar para partir o quanto antes.” Não demoramos muitos dias para nos preparar. Como não éramos os únicos a viajar, organizaram-se numerosas caravanas em todas as partes do país, com o que os caminhos ficaram praticamente lotados. Era um problema a mais, porém era uma medida de proteção contra os bandidos. Meu marido preparou para mim com todo o esmero, um burrico que tínhamos em casa e fez uma espécie de cesta na qual eu poderia ir protegida do sol e com relativa comodidade (Aprox. 145 km). Devíamos nos instalar ali e nos preparar para regressar a Nazaré o mais breve possível, o que, no entanto, deveria ocorrer em alguns meses, pois o parto já estava se aproximando e eu não queria viajar com uma criança recém-nascida. A cidade era pequena e não tinha capacidade para acolher a tantos que se diziam descendentes do grande rei de Israel. De fato, muitos decidiram instalar-se em Jerusalém ou em outras aldeias, até que pudessem efetivar a inscrição no registro romano.
Não encontraram na cidade nenhuma casa ou hospedaria disponível mas indicaram-lhes umas grutas que haviam na saída da cidade :”Ali”, disse a senhora, “somente se abriga o gado, mas é provável que possam encontrar algum lugar para se abrigarem, ao menos por uma noite.”… Era uma gruta como tantas outras, mas que, além do mais, servia de abrigo para o gado… Cansada, limpei como pude um canto e ali estendemos nossas mantas e nos dispusemos a passar a noite. O burrico ficou junto de nós, para nos proporcionar calor e para proteger nos com seu corpo… “Não é este o lugar adequado para nascer o Messias”, disse com ênfase José…Que relutava em aceitar… . Eu estava segura de que tudo aquilo não era casual e que, por algum motivo que eu não entendia mas que começava a perceber, tudo estava nos planos do Todo-Poderoso.
Neste capítulo Maria conta que no outro dia que estavam na gruta apareceu um camponês com uma vaca, dizendo ser o proprietário da gruta, e que ali deixa seus animais para se protegerem do frio. Mesmo José explicando sobre a situação de Maria ele insiste para que desocupem. Foi quando a vaca empacou e suportou uma surra de seu dono que acabou desistindo e despertando quanto a maldade que iria cometer. Acabou deixando-os na gruta inclusive com a vaca, para que pudessem se alimentar com seu leite.
O VERBO SE FEZ CARNE
Neste capítulo Maria conta sobre o nascimento de Jesus e a visita dos pastores (Lu 2:8). Narra a apresentação de Jesus no templo e o reconhecimento pela profetisa Ana e por Simeão – médiuns que aguardavam a vinda do Messias (Lu 2:22 a 36).
“…Acredito que somente uma mulher compreenderia, pois o que se passou naquela noite, do mês de Tebet, não se assemelhava a nenhum outro parto. E sem dúvida o foi. Foi somente isso: um parto.O menino nasceu. José estava ali, ao meu lado, rompendo os costumes que os homens mantêm, nesse momento, ficando distantes das mulheres… Duas mulheres da aldeia aceitaram acompanhar-me quando chegasse o momento e José teve tempo de avisá-las antes que o parto ocorresse. … Porém, tudo isto são detalhes menores, comparados ao mais importante: meu filho estava ali, nascera e eu o tinha em meus braços. Como te explicar, João! Era mais uma criança e, ao mesmo tempo, única, diferente. Parecia uma luz, porém te digo, mais do que uma luz, era o próprio sol. José também olhava-o com curiosidade e com um pouco de temor. Quem sabe pensava que seria de outra maneira, que o menino nasceria com alguma marca de poder, que seria, desde o início, mais forte, mais esperto, mais sobre-humano. Porém nada disso ocorreu. Era um menino tão normal que nenhuma das mulheres se deu conta de nada. Assim, me felicitaram pelo nascimento e voltaram para suas casas.
Não podia deixar de contemplá-lo. Olhava e, pela primeira vez naquela gruta que eu desejava ter transformado em um palácio em sua honra, notei um sentimento que até então não havia tido. Olhava-o e, de repente, comecei a adorá-lo. Assustei-me. Tu sabes que em nossa religião é proibida toda e qualquer representação do Altíssimo e que somos muito severos inclusive na hora de mencionar o nome de Deus. O Onipotente não pode ser representado pelas mãos dos artistas, inclinados a fabricar ídolos aos quais logo passam a adorar, da mesma forma com que os manipulam. Sem dúvida, tinha dentro de mim esse sentimento. “Quem é este menino?”, perguntei-me enquanto meus olhos estavam perdidos em seu sono. “É o Messias… José, sempre tão calado,… disse, suavemente, para não despertá-lo: “Meu filho, eu também te amo… Não sei quem és, se um homem normal ou um ser extraordinário, sob esta aparência tão simples. Não sei nem sequer se devo prostrar me a teus pés, como ao Messias que és. O que sei é que agora precisas de mim e comigo podes contar para tudo. Dou graças ao Altíssimo por haver confiado em mim para colaborar em sua obra…
Era já noite alta quando alguns pastores se aproximaram da gruta: … contavam uma história muito a estranha, que contrastava com o normal que havia sido o nascimento a e as primeiras horas de vida de meu filho…. “. O chefe dos pastores, de nome Razão, disse também a que lhes parecera ouvir coros de anjos no céu e que alguns acreditaram ouvir uma espécie de hino como aquele que se canta no santo templo de Jerusalém, que dizia algo assim: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens que amam o Senhor”. (LU 2:8)
Isto aconteceu na primeira hora da noite… Entraram na gruta em fila de um a um…Levavam… a tiracolo, uma sacola de pele, onde colocaram apressadamente algum pobre presente. Contemplaram a mim e a Jesus, muito surpresos… José lhes pede um grande favor. “Queria pedir-vos, amigos”, disse, “que mantenhais em segredo o episódio do anjo. Se a notícia se espalhar, a vida do menino talvez possa correr algum perigo, pois não faltará quem possa sentir-se ameaçado com a chegada de um Messias…
Ainda permanecemos na gruta por duas semanas até que a multidão que fora a Belém para o recadastramento diminuísse,…… Durante a semana chamamos o mohel para que viesse circuncidar o menino, como manda a lei. Tivemos que fazer isso na gruta,… Ageu, o mohel de Belém, fez a José a pergunta ritual: “Que nome queres dar ao menino?”. Meu marido ante a surpresa de todos, respondeu como o anjo lhe havia proposto: “Chamar-se-á Jesus… Os dias transcorriam e, enquanto isso, José passava o tempo todo trabalhando para sustentar a casa. Geralmente pagavam-lhe os trabalhos em espécie… Por fim, pudemos abandonar a gruta. Encontrávamo-nos na nova casa (… uma velha casinha, nos arredores da aldeia, que nos foi cedida pela família de um dos pastores que nos visitaram), quando se cumpriram os quarenta dias desde o nascimento do menino, tempo que a lei prescreve para resgatar nosso filho no templo, que era o primogênito.
Compramos no mercado duas pombas rolas, que oferecemos ao levita, junto com os cinco ciclos do resgate pelo menino. Foi quando aquela mulher, Ana, que tinha fama de profetisa e levava toda a sua vida a serviço do templo, acercou-se de mim sem que eu percebesse. Ao que parecia, essa era uma de suas ocupações, investigar as mães que iam à casa de Deus com suas crianças… Quando viu Jesus, se desfez em elogios, nada comparáveis aos que dizia de outras crianças. Mal tive tempo de agradecer-lhe as belas palavras e bênçãos, quando Ana nos pediu que não nos movêssemos dali por uns instantes. Não demorou em voltar. Vinha acompanhada por um ancião, Simeão, outro dos habituais nos arredores do templo. Ana disse- lhe: “Olha, olha, fixa-te bem em seus olhos. Vê a luz que tem seu cabelo. Faze uso de teu velho olfato, Simeão, e reconhece a pureza da mãe. Está aqui, é ele, por fim nós o encontramos”. Simeão acercou-se de mim devagar… Eu, a princípio apertei o menino contra meu peito e fiz menção de ir embora, pois tudo aquilo me assustava. Tinha sempre muito medo que pudesse acontecer algo de mal àquela criatura tão frágil! Parecia sentir me observada pela força do Maligno, que não podia suportar que tivesse nascido o redentor dos homens. Então ele disse algo que me deixou imóvel. Chamou-me pelo mesmo título com que me havia chamado Isabel: “Cheia de graça”,… “Suplico-te que me deixes vê-lo”. Após contemplar o menino por alguns minutos, e elevar os olhos aos céus em profundo silêncio, exclamou: “Agora, Senhor, segundo tua promessa, podes deixar teu servo ir-se em paz, pois meus olhos já viram o Salvador, luz para iluminar as nações e glória de teu povo Israel”…. Havíamos já nos despedido dele e de Ana, e nos dirigíamos à saída do templo para evitarmos a turba de curiosos que queriam contemplar o menino, quando ouvimos um grito seu às nossas costas… Seu grito havia sido de dor, de dilaceração, quase de terror. Seu olhar estava cravado no céu e assim continuou durante alguns minutos… Assim, todos tiveram consciência de que acabara de receber uma inspiração do céu… “Este foi colocado”, disse, “para a queda ou a ascensão de muitos em Israel, e como sinal de contradição, a fim de que se revelem as intenções de muitos corações. E a ti, uma espada traspassará a alma.” José conforta Maria dizendo: . “Olha”, disse a meu marido “convém que vejamos o lado bom das coisas. Os dois anciãos nos deram uma lição maravilhosa e, sem dúvida, falaram por parte de Deus. O mais importante é que este menino de quem temos que cuidar é, efetivamente, o Messias. Mas Maria fica pensativa e nunca mais esquece as palavras de Simeão e só entenderá quando chega o sofrimento de Jesus na crucificação.
O GRITO DE RAQUEL
Aqui Maria narra a visitas dos três sábios- personagens misteriosos que trouxeram orientações e presentes e a aparição do anjo novamente lhes alertando que fossem para o Egito.
E no meio daquela manhã, ouvi um grande alvoroço no povoado… Eu me encontrava só, pois José havia saído para buscar trabalho, seja no campo com a terra ou com o gado, seja fazendo algum serviço nas casas…
José volta rápido e conta a Maria da chegada à cidade de uma comitiva perguntando sobre o Messias, em seguida chega na porta um criado que anuncia a visita: “Somos sábios”, responderam, “e viemos do Oriente. Nas terras de onde um dia saiu este povo eleito e numeroso, dedicamo-nos a pesquisar as estrelas. Conhecemos o Deus Altíssimo e somente a Ele cultuamos, apesar de não sermos da vossa raça. Por isso, há meses, um dia recebemos dele uma mensagem que nos convidava a deixar nossa terra, como fez o vosso pai Abraão, em busca de alguém que haveria de nos revelar a plenitude da sabedoria. Esse alguém não poderia ser outro senão o rei dos judeus, o descendente de Davi e do grande Salomão. Assim viemos à capital, Jerusalém, e fomos ao palácio de Herodes por supor que seria ali, dentre sua descendência, onde Yaveh teria escolhido o Messias. Herodes não sabe de nada e inclusive nos pediu que lhe disséssemos onde se encontra o Messias para vir também prestar -lhe homenagem e ceder- lhe seu trono.
Bastou Maria lhes apresentar a criança para que se emocionassem e caíssem de joelhos: Naquele mesmo instante puseram-se a chorar. Um deles, de nome Melchior, disse então, chamando-me pela primeira vez com o título que agora tantos me dão: “Senhora, mãe do Salvador de Israel e de todas as nações, não podes entender o que sentimos. Passamos a vida toda buscando a sabedoria. Deixamos nesse empenho nossa juventude e muitas possibilidades de prazeres, e tudo isto demos por bem feito com a finalidade de consegui-lo algum dia. Somos famosos não só em nossa cidade, como também na Grécia, em Roma e ainda na longínqua Índia. Nossos amigos são os mais célebres sábios do mundo e eles nos consideram como os primeiros dentre todos. Pois bem, o que acabamos de ver é a ruína de nosso conhecimento. . A sabedoria, senhora, é uma criança. A sabedoria é a vida. A sabedoria é que Deus se lembrou dos homens e decidiu voltar a intervir em seu auxílio. A sabedoria é o amor que há nessa criatura, tão frágil que qualquer tirano pode matar, mas tão poderosa que, sem violência, pode mudar o mundo. O amor, nobre senhora, é a soma de todos os conhecimentos e o resumo de todo o saber. E isto, embora nem tu nem teu marido saibais, é aquilo que proteges agora em teus braços”. Os magos nos ofereceram presentes de grande valor e cheios de simbolismo. O ouro, o incenso e a mirra.
Em seguida os sábios os advertem sobre Herodes… “ Assim nos disseram que, à saída, iriam contar a todos de Belém que tinham se equivocado, dizer que nós não éramos as pessoas que eles buscavam, para afastar as suspeitas, mas que seria bom que fôssemos embora o quanto antes.
O rei poderia ter mandado espiões lhe seguirem, então Maria e José resolvem fugir no dia seguinte para Nazaré mas na mesma noite eis que lhes aparece o anjo do Senhor e diz: …“O caso é que o anjo se ajoelhou diante do berço de Jesus e roçou o solo com sua face. Logo, como pela primeira vez, beijou minha mão e, por último, com uma reverência e voz respeitosa, se dirigiu a José: “Levanta-te,” disse, “toma contigo o menino e sua mãe e foge para o Egito. Ali aguarda até que eu te diga. “Herodes vai procurar o menino para matá-lo”.
Maria e José e o menino Jesus saem da aldeia em plena noite sem despedir de ninguém para não correr riscos.
JER 31:15: “Um clamor se ouviu em Ramá, muitos choros e lamentos. É Raquel que chora seus filhos e não quer se consolar, pois já não existem”…
Herodes com medo de perder seu trono e preocupado com sua sucessão manda, seus soldados matar todos os meninos menores de dois anos, de Belém e dos arredores, para assegurar se de que não deixaria vivo aquele que diziam ser o Messias.
MT 2:19 a 20: Com a morte de Herodes, o anjo do Senhor apareceu em sonhos a José, no Egito, e disse: “Levanta-te, toma o menino e sua mãe e retorna à terra de Israel, porque morreram os que atentavam contra a vida do menino.”
José assim fez… MT 2:22 Ao ouvir, porém que , Arquelau reinava na Judéia, em lugar de seu pai Herodes, não ousou ir pra lá. Avisado divinamente em sonhos, retirou-se para a província da Galiléia e veio habitar na cidade de Nazaré para que se cumprisse o que foi dito pelos profetas: Será chamado de nazareno.
Regresso a Nazaré. Havia mais de cinco anos que não recebiam notícias nossas. Inclusive alguns achavam que tínhamos morrido. Encontrei meus pais muito envelhecidos e bem preocupados conosco. Ana disse-me que em momento algum temera por mim e por meu filho, tampouco por José, porque isso seria o mesmo que duvidar de Deus…
Instalamo-nos em Nazaré, na antiga casa de José, que durante todo aquele tempo permanecera fechada, e ele pôde adquirir algumas ferramentas novas para seu trabalho, colocando em prática certas técnicas que aprendera nas oficinas dos artesãos do Egito. Isso nos permitiu viver com certa folga, sempre dentro da humildade… Apesar da distância, não perdíamos ocasião de enviar e receber notícias de Zacarias e de Isabel, bem como do pequeno João, que, desde o princípio, deu mostras de seu caráter decidido e de sua indiscutível fidelidade a Deus.
Nossa vida transcorria bem normal… Jesus era um menino como os outros, ao mesmo tempo bem diferente. Brincava, como todos… Um desses amigos fiéis foi seu primo Tiago, que muitos acreditavam ser seu irmão, porque se pareciam muito e andavam sempre juntos.
Lembro, por exemplo, de quando morreu Joaquim, meu pai. Não fazia muito tempo que estávamos instalados em Nazaré. Apenas alguns meses. Creio que Jesus já havia completado seis anos.
Neste dia Jesus diz a sua avó Ana a sua mãe, após observar seu avô morto: : “O momento da ressurreição está próximo”, afirmou. “O avô é um justo e não tardará em ser admitido no céu, que não tem nada a ver com o sheol de que falam na sinagoga.”… “E tu, que sabes disso?”, perguntou-lhe minha mãe, que ouvira interessada a resposta do menino. “Quem te falou da ressurreição, se nem todos de nosso povo acreditam nisso, e nós que acreditamos sequer sabemos como será?
Aquela foi a primeira vez que disse a palavra crucial, a primeira vez que se referiu a Yaveh, a Deus, como seu “Pai”. Esse fato leva Maria e José a refletirem muito, pois até então achavam que a relação de Deus com Jesus seria semelhante a de um profeta. Maria narra que José tinha nesses momentos dificuldade em lidar com o assunto, mas Jesus também lhe dirigia nos termos de papai e isso lhe consolava o coração.
Aos 7 anos Jesus já questionava Maria sobre o tratamento machista das leis do povo israelita, do porque só apedrejavam as mulheres pegas em adultério.
Aos 8 anos Jesus realiza a cura de um leproso, dando-lhe água pra beber em uma tigela quando estava na fonte com sua mãe. “Sabes do leproso?”, me perguntou Jesus muito contente. Os meninos do povoado, como os outros habitantes de Nazaré, não falavam de outra coisa. “É o nosso!”, exclamou. “Curou-se. Eu pedi a meu Pai que fizesse isso e Ele me ouviu. Estou muito contente, mãe.”
LU 2:41- Jesus aos 12 anos
Na volta da festa da páscoa em Jerusalém, Maria e José sentem a falta de Jesus, acreditando estar com seus primos, não o encontram na caravana e voltam o caminho de um dia até Jerusalém. Três dias depois reencontram Jesus no templo, em meio a um grupo de doutores da lei discutindo as escrituras, Maria comenta: Eu não aguentei e, embora contra os costumes, entrei no círculo e me plantei diante dele. Na frente de todos, e nervosa como estava, disse-lhe: “Filho, porque nos fizeste isso?… Com calma, como se compreendesse meu estado nervoso, dono total da situação e sem dar importância às gargalhadas de alguns de seus debatedores que pretendiam assim se vingar da derrota dialética que lhes havia infringido, sorriu e me disse: “Por que me procuráveis? Não sabíeis que eu deveria estar na casa de meu Pai?”. Em primeiro lugar pediu-nos perdão pelo mau pedaço que nos havia feito passar, porém assegurou que tudo fora fruto de uma confusão. Fez-me lembrar que, no dia da partida, pedira-me que o esperasse, pois teria que resolver urgentemente uma coisa no Pórtico Real, onde vira que os doutores da lei costumavam se reunir para discutir. No dia anterior, ficara ouvindo-os concentrado e tive que levá-lo embora quase à força. Eu, efetivamente, me dei conta de que falara disso, mas não imaginei que essa espera se prolongaria tanto. Com os preparativos da viagem me esqueci disso e partimos acreditando que estava com seus primos. Ele, ao dar falta de nós, achou que não demoraríamos em voltar para buscá-lo e, assim, passou dois dias e meio alojando-se na casa de um dos mestres com os quais discutia. Sua tranquilidade e absoluta confiança em Deus nunca deixavam de me surpreender… Aquele homem, a quem nem pudemos saudar quando tiramos Jesus do círculo de doutores aos quais ensinava, era alguém que tu conheceste muitos anos depois: José de Arimatéia. (Foi em sua casa que Jesus dormiu nas duas noites)
Neste dia na volta de Jerusalém Maria narra que perguntou claramente ao filho o que sabia sobre seu nascimento, pois para os judeus chamar o altissímo dessa forma soava blasfêmia: “Filho”, disse-lhe, “creio que chegou a hora de nos dizer o que sabes sobre ti mesmo, sobre teu nascimento, sobre tua missão e também porque chamas Deus com o título de Pai.”… “Mãe”, respondeu um pouco nervoso, “não sei quando eu soube tudo. Não sei nem como soube, mas o caso é que sempre soube, no entanto não estava consciente disso o tempo todo.
Jesus esclarece a Maria que sabe em seu espírito que Deus é seu Pai que sempre sentiu mas que ama José também e que o chama de pai porque também é.
Como te digo, João, o tempo passou rapidamente. Dois anos após aquela viagem a Jerusalém, morreu minha mãe.
Morte de José: José morreu quando Jesus tinha vinte anos. Trabalhando como carpinteiro, indo arrumar presépios às cabras de um amigo, pois era outono e nas montanhas o frio vinha em neve. Havia levado Jesus consigo mas não houve tempo de chegarem ao abrigo dos pastores quando uma forte tempestade de neve os atingiu no caminho. Maria sente em sua casa e ora a Deus pedindo que os ampare, no dia seguinte pede socorro aos seus primos que vão às montanhas e auxiliam Jesus e José: José não resistiu muitos dias. Uma febre altíssima o consumia e dois dias depois já havia perdido a consciência, embora logo a tenha recuperado. As dores lhe oprimiam o peito e, ao tossir, parecia que lhe fugia a vida… Em seguida conversou com Jesus a sós por muito tempo e … Depois disso, José não perdeu mais a paz em momento algum. Seu rosto estava transfigurado e nem as fortes dores que sentia lhe arrancavam da face a imagem da serenidade. veio a falecer… desde os seus doze anos, depois daquela escapada no templo, tanto ele quanto eu nos havíamos convertido também em discípulos… Desde então não deixei de falar com ele um dia sequer. Nos momentos mais difíceis, inclusive na morte de Jesus, sempre notei sua presença a meu lado.
A partir desse momento, Jesus foi para mim não só o principal motivo de preocupação, como também o único. Meus pais e meu marido já estavam mortos e eu não tinha outros filhos, … Não era fácil para ele essa espera, pois o tempo passava e já estava se tornando adulto. Estava chegando aos trinta anos e continuava em casa, cuidando de sua mãe e exercendo o oficio de carpinteiro, ele, o Messias, como se não tivesse coisas mais importantes para fazer. Uma vez mais, Deus o punha à prova. Com essa espera tão prolongada, que não se sabia quando iria acabar, Deus lhe ensinava a escutar sua voz e a discernir suas ordens. De alguma maneira, fazendo-o sofrer, ensinava-o a obedecer. E, sobretudo, como te disse antes, o ensinava a amar. Ensinava-o que o mais importante não era fazer milagres, nem grandes pregações, nem converter as multidões. o importante, e o que agradava a Deus, era fazer tudo por amor, através do amor
O AMOR SE FEZ PÚBLICO
Se um dia, querido João, trinta anos antes, o amor se fez carne, agora o amor queria se fazer público. Neste capítulo Maria narra sobre o encontro de Jesus com João Baptista, seu batismo, o encontro com cada um dos discípulos. Em seguida nos relata sobre as Bodas de Caná (Filho de Manassés e Lia) (JO 2:1)
… Nós não tivemos contato com ele desde a morte de seus pais. Soubemos, com certo atraso, de sua ida ao deserto e de sua permanência junto aos essênios que ali viviam, mas perdemos totalmente sua pista até que seu nome começou a circular de boca em boca por todo Israel, como o de um profeta parecido aos antigos que lançava críticas tempestuosas contra os poderosos, sacerdotes e nobres, e que, inclusive, repudiava o tetrarca Herodes por ele haver se casado com Herodías, a mulher de seu irmão, estando este ainda vivo. A pregação de João sobre a iminente chegada do Messias alertou meu filho.
Assim, se despediu de vós, convocando a todos para novo encontro em quarenta dias, ali mesmo, em Cafarnaum, e se foi. Eu regressei a Nazaré com meu sobrinho Tiago e com os outros rapazes que haviam saído com ele dias antes para ver o Batista.
Jesus volta do deserto procura Maria lhe explica que iria iniciar sua missão. E depois desse encontro poucas vezes voltou visita-la, em Nazaré.
DA RETAGUARDA
À distancia Maria acompanhava as notícias dos feitos de Jesus. Notícias estas que chegava sempre alteradas e com ações violentas. Que lhe faziam sofrer ainda mais, pois conhecia Jesus e o amor que pregava em nome de Deus. Logo João Batista é preso e decapitado.
Como em seu povoado não realizou milagres, houve muitas críticas e maledicências contra ele, que magoam muito Maria que decide ir para casa de Lia e Manassés em Caná, . “Ali aconteceu outro milagre, que na realidade se realizou à distância, em Cafarnaum. Refiro-me à cura do filho de um funcionário real, que veio das margens do lago até Caná para suplicar que curassem seu rapaz. Eu estava junto a meu filho quando aquele homem lhe suplicou insistentemente. Jesus estava muito cansado. Tanto que exclamou: “Se não virdes milagres e prodígios não credes!”. O bom homem, apesar de sua elevada posição, humilhou-se ante Jesus e voltou a pedir-lhe que fosse com ele a Cafarnaum antes que a criança morresse. Então vi Jesus ficar sério, fechar os olhos e estremecer suavemente. Logo lhe disse: “Vai-te, teu filho vive”. Neste capítulo Maria narra a cena do diálogo de Jesus com a mulher adúltera e a cura do cego de nascença.
Como descreve MT 12:46 (Quem é minha mãe e quem são meus irmãos).
Maria não presencia todos os relatos dos evangelistas, como o Julgamento e a escolha por Barrabás, mas sentia todo o sofrimento de Jesus em espírito. A tristeza de Maria aos pés da cruz de Jesus era diferente das demais mulheres e de João, que expressavam com desespero. Assim como os espíritas que têm os ensinamentos da reencarnação, Maria sofria mas conservava a esperança nos ensinamentos que o Cristo lhe havia transmitido sobre a continuidade da vida após a morte e que ao 3º dia Ele iria ressuscitar.
Ler Lázaro Redivivo, pelo Espírito IRMÃO X, Francisco Cândido Xavier cap. 2 “A Escravo do Senhor”
Ler Boa Nova, pelo Espírito HUMBERTO DE CAMPOS, Francisco Cândido Xavier, cap. 30 Maria
MARIA NO PLANO ESPIRITUAL
Há diversas mensagens e descrições sobre as obras de Maria no plano espiritual relatadas em obras psicografadas por Chico Xavier e Yvonne A. Pereira. Existem citações importantes a respeito dos trabalhos sublimes realizados junto aos sofredores e oprimidos nas esferas umbralinas.
O livro Ação e Reação, ditado por André Luiz, mostra o poder da prece à Maria que diz:
Mãe Santíssima! Anjo Tutelar dos náufragos da Terra, compadece-te de nós e estende-nos tuas mãos doces e puras! …
Sabemos que o teu coração compassivo é luz para os que tresmalham nas sombras do crime e amor para todos os que mergulham nos abismos do ódio…
Mãe, atende-nos!
Estrela de nossa vida, arranca-nos da escuridão do vale da morte! …
Mais adiante nas páginas 155-158, André Luiz descreve a sua visita ao santuário Mansão da Esperança, situada em regiões de extrema dor no plano espiritual.
O livro Memórias de um Suicida psicografado pela médium Yvonne A. Pereira, pelo Espírito de Camilo Cândido Botelho (cognome do suicida e escritor português Camilo Castelo Branco), descreve a tarefa da Legião dos Servos de Maria na ajuda aos suicidas.
Porém, mesmo em lugar tão terrível, a misericórdia de Deus se manifesta: periodicamente, singular caravana visitava esse antro de sombras. Vinha à procura daqueles dentre nós cujos fluídos vitais arrefecidos pela desintegração completa da matéria, permitissem locomoção para as camadas do invisível intermediário, ou de transição. Supúnhamos tratar-se, a caravana, de um grupo de homens. Mas na realidade eram espíritos que estendiam a fraternidade…
Senhoras faziam parte dessa caravana – Legião dos Servos de Maria.
O HOSPITAL DE MARIA DE NAZARÉ
Passaram-se os anos e finalmente Camilo tem condições de ser socorrido e é transferido para o hospital Maria de Nazaré. Vejamos o que ele nos narra:
… Dir-se-iam edifícios, ministérios públicos ou departamentos. Casas residenciais alinhavam-se, graciosas e evocativas na sua estilização nobre e superior, traçando ruas artísticas que se entendiam laqueadas de branco, como que asfaltadas de neve.
À frente de um daqueles edifícios parou o comboio e fomos convidados a descer. Sobre o pórtico definia-se sua finalidade em letras visíveis: Departamento de Vigilância. Tratava-se da sede do Departamento onde seríamos reconhecidos e matriculados pela direção, como internos da Colônia.
Daquele momento em diante estaríamos sob a tutela direta de uma das mais importantes agremiações pertencentes à Legião chefiada pelo grande Espírito Maria de Nazaré, ser angélico e sublime que na Terra mereceu a missão honrosa de seguir, com solicitudes maternais, Aquele que foi o redentor dos homens!…
… Ao contrário das demais dependências hospitalares, como o Isolamento e o Manicômio, o Hospital Maria de Nazaré, ou Hospital Matriz, não se rodeava de qualquer barreira. Apenas árvores frondosas, tabuleiros de açucenas e rosas teciam-lhe graciosas muralhas…
A MANSÃO DA ESPERANÇA : A Legião dos Servos de Maria mantém também no plano espiritual outras instituições, em clima vibratório mais ameno. Uma dessas instituições é a Mansão da Esperança.