Obediência e Resignação – Palestra 3.2016
CELC – Tarcila L. Costa – 3/2016
O Evangelho terá de florescer, primeiramente, na alma das criaturas, antes de frutificar para o espírito dos povos.
(Boa nova Humberto de Campos)
- De qual obediência estamos falando?
- O que é obediência. Obediência, e desobediência. Como obedecer? Vontade e livre arbítrio. Lei de Deus, Reino de Deus. Exemplos de obediência.
- O que é resignação. Exemplos de resignação. resignação e revolta. Resignação como força ativa de evolução.
- Caminhos para compreendermos a obediência e a resignação como caminhos de libertação.
1. De qual obediência estamos falando?
Para começarmos a pensar na obediência, é preciso que tenhamos claro, de qual obediência estamos falando.
No livro, Pão Nosso (Chico Xavier/ Emmanuel), temos a seguinte mensagem:
“A quem obedeces?
“E, sendo ele consumado, veio a ser a causa de eterna salvação para todos os que lhe obedecem.” Paulo (Hebreus, 5:9)
Toda criatura obedece a alguém ou a alguma coisa. Ninguém permanece sem objetivo. A própria rebeldia está submetida às forças corretoras da vida. O homem obedece a toda hora. Entretanto, se ainda não pôde definir a própria submissão por virtude construtiva, é que, não raro, atende, antes de tudo, aos impulsos baixos da natureza, resistindo ao serviço de autoelevação. Quase sempre transforma a obediência que o salva em escravidão que o condena. O Senhor estabeleceu as gradações do caminho, instituiu a lei do próprio esforço, na aquisição dos supremos valores da vida, e determinou que o homem lhe aceitasse os desígnios para ser verdadeiramente livre, mas a criatura preferiu atender à sua condição de inferioridade e organizou o cativeiro. O discípulo necessita examinar atentamente o campo em que desenvolve a própria tarefa. A quem obedeces? Acaso, atendes, em primeiro lugar, às vaidades humanas ou às opiniões alheias, antes de observares o conselho do Mestre Divino? É justo refletir sempre, quanto a isso, porque somente quando atendemos, em tudo, aos ensinamentos vivos de Jesus, é que podemos quebrar a escravidão do mundo em favor da libertação eterna.”
No mesmo caminho de pensamento, temos a mensagem do livro Caminho, Verdade e Vida (Chico Xavier).
“QUE BUSCAIS? “E Jesus, voltando-se e vendo que eles o seguiam, disse lhes: Que buscais?”
(JOÃO, 1: 38)
A vida em si é conjunto divino de experiências. Cada existência isolada oferece ao homem o proveito de novos conhecimentos. A aquisição de valores religiosos, entretanto, é a mais importante de todas, em virtude de constituir o movimento de iluminação definitiva da alma para Deus. Os homens, contudo, estendem a esse departamento divino a sua viciação de sentimentos, no jogo inferior dos interesses egoísticos. Os templos de pedra estão cheios de promessas injustificáveis e de votos absurdos. Muitos devotos entendem encontrar na Divina Providência uma força subornável, eivada de privilégios e preferências. Outros se socorrem do plano espiritual com o propósito de solucionar problemas mesquinhos. Esquecem-se de que o Cristo ensinou e exemplificou. A cruz do Calvário é símbolo vivo. Quem deseja a liberdade precisa obedecer aos desígnios supremos. Sem a compreensão de Jesus, no campo íntimo, associada aos atos de cada dia, a alma será sempre a prisioneira de inferiores preocupações. Ninguém olvide a verdade de que o Cristo se encontra no umbral de todos os templos religiosos do mundo, perguntando, com interesse, aos que entram: “Que buscais?”
Essas duas mensagens vêm nos lembrar de que a palavra obediência pode estar direcionada aos instintos inferiores, que nos aproximam também de espíritos inferiores ou ao esforço para o cumprimento da vontade de Deus, que nos aproxima dos espíritos superiores. Depende de qual dos dois nós ouvimos mais. Considerando que passamos por uma escala evolutiva, descrita na questão 100 em diante do livro dos espíritos, sabemos que primeiramente obedecemos aos nossos instintos, e paulatinamente vamos aprendendo a direcionar a nossa vontade na direção de Deus. Ou seja, a obediência e a resignação estão diretamente relacionadas com a evolução espiritual. Quanto mais grosseiro o espírito, mais este obedece aos instintos, e mais se revolta com os acontecimentos que contrariem a sua vontade, até que paulatinamente, esse espírito, vai se afastando do instinto primitivo até que um dia se torne um espírito puro.
Estamos em mundo de provas e expiações, cercados por todos os lados de sofrimentos, desequilíbrios, envoltos no fluído universal. Recebemos influências dos pensamentos dos outros encarnados e desencarnados, enquanto aprendemos a lidar com os acontecimentos que nos ocorrem. Não temos ainda domínio absoluto sobre nós mesmos. Não temos ainda o discernimento para lidar de forma equilibrada com as ocorrências. Mas estamos no caminho, estamos procurando aprender e seguir para a porta estreita que é o retorno ao equilíbrio da Vida.
No Capítulo IX, intervenção dos espíritos no mundo corporal, temos algumas questões relativas a como estamos submetidos às influências de toda ordem e também, como podemos aprender a discernir, sobre a qual influência ceder.
459. Influem os Espíritos em nossos pensamentos e em nossos atos?
“Muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto, que, de ordinário, são eles que vos dirigem.”
460. De par com os pensamentos que nos são próprios, outros haverá que nos sejam sugeridos?
“Vossa alma é um Espírito que pensa. Não ignorais que, frequentemente, muitos pensamentos vos acodem a um tempo sobre o mesmo assunto e, não raro, contrários uns aos outros. Pois bem! No conjunto deles, estão sempre de mistura os vossos com os nossos. Daí a incerteza em que vos vedes. É que tendes em vós duas idéias a se combaterem.”
461. Como havemos de distinguir os pensamentos que nos são próprios dos que nos são sugeridos?
“Quando um pensamento vos é sugerido, tendes a impressão de que alguém vos fala. Geralmente, os pensamentos próprios são os que acodem em primeiro lugar. Afinal, não vos é de grande interesse estabelecer essa distinção. Muitas vezes, é útil que não saibais fazê-la. Não a fazendo, obra o homem com mais liberdade. Se se decide pelo bem, é voluntariamente que o pratica; se toma o mau caminho, maior será a sua responsabilidade.”
621. Onde está escrita a lei de Deus?
“Na consciência.”
a) — Visto que o homem traz em sua consciência a lei de Deus, que necessidade havia de lhe ser ela revelada?
“Ele a esquecera e desprezara. Quis então Deus lhe fosse lembrada.
122. Como podem os Espíritos, em sua origem, quando ainda não têm consciência de si mesmos, gozar da liberdade de escolha entre o bem e o mal? Há neles algum princípio, qualquer tendência que os encaminhe para uma senda de preferência a outra?
“O livre-arbítrio se desenvolve à medida que o Espírito adquire a consciência de si mesmo. Já não haveria liberdade, desde que a escolha fosse determinada por uma causa independente da vontade do Espírito. A causa não está nele, está fora dele, nas influências a que cede em virtude da sua livre vontade. É o que se contém na grande figura emblemática da queda do homem e do pecado original: uns cederam à tentação, outros
resistiram.”
a) — Donde vêm as influências que sobre ele se exercem?
“Dos Espíritos imperfeitos, que procuram apoderar-se dele, dominá-lo, e que rejubilam com o fazê-lo sucumbir. Foi isso o que se intentou simbolizar na figura de Satanás.”
b) — Tal influência só se exerce sobre o Espírito em sua
origem?
“Acompanha-o na sua vida de Espírito, até que haja conseguido tanto império sobre si mesmo, que os maus desistem de obsidiá-lo.”
Somos responsáveis por acelerarmos nosso processo evolutivo, definido q que tipo de influência desejamos estar expostos ou não. A responsabilidade é uma aquisição do espírito, que se torna consciente de sua própria existência como ser pensante.
O livro Evolução em dois mundos, no cap. 10, nos comenta sobre o momento da evolução do homem , em que surge a responsabilidade
LUTA EVOLUTIVA — Entre a alma que pergunta, a existência que se expande, a ansiedade que se agrava e o Espírito que responde ao Espírito, no campo da intuição pura, esboça-se imensa luta.
O homem que lascava a pedra e que se escondia na furna, escravizando os elementos com a violência da fera e matando indiscriminadamente para viver, instado pelos Instrutores Amigos que lhe amparam a senda, passou a indagar sobre a causa das coisas… Constrangido a aceitar os princípios de renovação e progresso, refugia-se no amor-egoísmo, na intimidade da prole, que lhe entretém o campo íntimo, ajudando-o a pensar.
Observa-se tocado por estranha metamorfose.
Vê, instintivamente, que não mais se poderia guiar pela excitabilidade dos seus tecidos orgânicos ou pelos apetites furiosos herdados dos animais…
Desligado lentamente dos laços mais fortes que o prendiam às Inteligências Divinas, a lhe tutelarem o desenvolvimento, para que se lhe afirmem as diretrizes próprias, sente-se sozinho, esmagado pela grandeza do Universo.
A idéia moral da vida começa a ocupar-lhe o crânio.
O Sol propicia-lhe a concepção de um Criador, oculto no seio invisível da Natureza, e a noite povoa-lhe a alma de Visões nebulosas e pesadelos imaginários, dando-lhe a idéia do combate incessante em que a treva e a luz se digladiam.
Abraça os filhinhos com enternecimento feroz, buscando a solidariedade possível dos semelhantes na selva que o desafia.
Mentaliza a constituição da família e padece na defesa do lar.
Os porquês a lhe nascerem fragmentários, no íntimo, insuflam-lhe aflição e temor.
Percebe que não mais pode obedecer cegamente aos impulsos da Natureza, ao modo dos animais que lhe comungam a paisagem, mas sim que lhe cabe agora o dever de superar-lhes os mecanismos, como quem ve no mundo em que vive a própria moradia, cuja ordem lhe requisita apoio e cooperação.
NASCIMENTO DA RESPONSABILIDADE — A idéia de Deus iniciando a religião, a indagação prenunciando a Filosofia, a experimentação anunciando a Ciência, o instinto de solidariedade prefigurando o amor puro, e a sede de conforto e beleza inspirando o nascimento das indústrias e das artes, eram pensamentos nebulosos torturando-lhe a cabeça e inflamando-lhe o Sentimento.
Nesse concerto de forças, a morte passou a impor-lhe angustiosas perquiriçoes e, enterrando os seus entes amados em sepulcros de pedra, o homem rude, a iniciar-se na evolução de natureza moral, perdido na desértica vastidão do paleolítico, aprendeu a chorar, amando e perguntando para ajustar-se às Leis Divinas a se lhe esculpirem na face imortal e invisível da própria Consciência.
Foi, então, que, em se reconhecendo ínfimo e frágil diante da vida, compreendeu que, perante Deus, seu Criador e seu Pai, estava entregue a si mesmo.
O Princípio da responsabilidade havia nascido.
Dentro dessa ideia de obediência à vontade de Deus, como caminho de evolução, que vamos dar continuidade ao estudo, entendendo-a como expressão de responsabilidade do espírito para consigo mesmo e para com Deus.
115. Dos Espíritos, uns terão sido criados bons e outros maus?
“Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes, isto é, sem saber. A cada um deu determinada missão, com o fim de esclarecê-los e de os fazer chegar progressivamente à perfeição, pelo conhecimento da verdade, para aproximá-los de si. Nesta perfeição é que eles encontram a pura e eterna felicidade. Passando pelas provas que Deus lhes impõe é que os Espíritos adquirem aquele conhecimento. Uns aceitam submissos essas provas e chegam mais depressa à meta que lhes foi assinada. Outros, só a suportam murmurando e, pela falta em que desse modo incorrem, permanecem afastados da perfeição e da prometida felicidade.”
522. O pressentimento é sempre um aviso do Espírito protetor?
“É o conselho íntimo e oculto de um Espírito que vos quer bem. Também está na intuição da escolha que se haja feito. É a voz do instinto. Antes de encarnar, tem o Espírito conhecimento das fases principais de sua existência, isto é, do gênero das provas a que se submete. Tendo estas caráter assinalado, ele conserva, no seu foro íntimo, uma espécie de impressão de tais provas e esta impressão, que é a voz do instinto, fazendo-se ouvir quando lhe chega o momento de sofrê-las, se torna pressentimento.”
523. Acontecendo que os pressentimentos e a voz do instinto são sempre algum tanto vagos, que devemos fazer, na incerteza em que ficamos?
“Quando te achares na incerteza, invoca o teu bom Espírito, ou ora a Deus, soberano senhor de todos, e ele te
enviará um de seus mensageiros, um de nós.”
626. Só por Jesus foram reveladas as leis divinas e naturais? Antes do seu aparecimento, o conhecimento
dessas leis só por intuição os homens o tiveram?
“Já não dissemos que elas estão escritas por toda parte?Desde os séculos mais longínquos, todos os que meditaram sobre a sabedoria hão podido compreendê-las e ensiná-las. Pelos ensinos, mesmo incompletos, que espalharam, prepararam o terreno para receber a semente. Estando as leis divinas escritas no livro da natureza, possível foi ao homem conhecê-las, logo que as quis procurar. Por isso é que os preceitos que consagram foram, desde todos os tempos, proclamados pelos homens de bem; e também por isso é que elementos delas se encontram, se bem que incompletos ou adulterados pela ignorância, na doutrina moral de todos os povos saídos da barbárie.”
Na questão 495 a respeito dos anjos da guarda:
“Ah! se conhecêsseis bem esta verdade! Quanto vos ajudaria nos momentos de crise! Quanto vos livraria dos maus Espíritos! Mas, oh! quantas vezes, no dia solene, não
se verá esse anjo constrangido a vos observar: ‘Não te aconselhei isto? Entretanto, não o fizeste. Não te mostrei o abismo? Contudo, nele te precipitaste! Não fiz ecoar na tua consciência a voz da verdade? Preferiste, no entanto, seguir os conselhos da mentira!’ Oh! interrogai os vossos anjos guardiães; estabelecei entre eles e vós essa terna intimidade
que reina entre os melhores amigos. Não penseis em lhes ocultar nada, pois que eles têm o olhar de Deus e não podeis enganá-los. Pensai no futuro; procurai adiantar-vos na vida presente. Assim fazendo, encurtareis vossas provas e mais felizes tornareis as vossas existências. Vamos, homens, coragem!
Na questão 544 a respeito da orientação a um general, por exemplo
544. Poderiam maus Espíritos suscitar-lhe planos errôneos com o fim de levá-lo à derrota?
“Podem; mas, não tem ele o livre-arbítrio? Se não tiver critério bastante para distinguir uma idéia falsa, sofrerá as consequências e melhor faria se obedecesse, em vez de
comandar.”
O que é obediência. O que é resignação.
O evangelho nos diz que obediência é o consentimento da razão, e resignação é o consentimento do coração. A razão nos leva a compreender os motivos pelos quais devemos realizar isso ou aquilo.
Capítulo IX (ESSE) item 8
“Obediência e resignação”
8. A doutrina de Jesus ensina, em todos os seus pontos, a obediência e a resignação, duas virtudes companheiras da doçura e muito ativas, se bem os homens erradamente as confundam com a negação do sentimento e da vontade. A obediência é o consentimento da razão; a resignação é o consentimento do coração, forças ativas ambas, porquanto carregam o fardo das provações que a revolta insensata deixa cair.
O pusilânime não pode ser resignado, do mesmo modo que o orgulhoso e o egoísta não podem ser obedientes. Jesus foi a encarnação dessas virtudes que a antiguidade material desprezava. Ele veio no momento em que a sociedade romana perecia nos desfalecimentos da corrupção. Veio fazer que, no seio da Humanidade deprimida, brilhassem os triunfos do sacrifício e da renúncia carnal.
Cada época é marcada, assim, com o cunho da virtude ou do vício que a tem de salvar ou perder. A virtude da vossa geração é a atividade intelectual; seu vício é a indiferença moral. Digo, apenas, atividade, porque o gênio se eleva de repente e descobre, por si só, horizontes que a multidão somente mais tarde verá, enquanto a atividade é a reunião dos esforços de todos para atingir um fim menos brilhante, mas que prova a elevação intelectual de uma época. Submetei-vos à impulsão que vimos dar aos vossos espíritos; obedecei à grande lei do progresso, que é a palavra da vossa geração. Ai do espírito preguiçoso, ai daquele que cerra o seu entendimento! Ai dele! porquanto nós, que somos os guias da Humanidade em marcha, lhe aplicaremos o látego e lhe submeteremos a vontade rebelde, por meio da dupla ação do freio e da espora. Toda resistência orgulhosa terá de, cedo ou tarde, ser vencida. Bem-aventurados, no entanto, os que são brandos, pois prestarão dócil ouvido aos ensinos. – Lázaro. (Paris, 1863.)
Esse trecho nos mostra que a obediência e a resignação não são a negação do sentimento e da vontade. Mas, respectivamente, são o consentimento da razão e do coração. Consentir é concordar, aceitar. É quando o sentimento e a vontade concordam com a Lei de Deus. Um espírito que esteja em condições de concordar com as Leis de Deus, já estão no caminho de uma evolução consciente. A razão consente quando compreende a lógica que rege a verdade de Deus. O coração consente quando já erigiu em si, ainda que um pouco das luzes da compreensão do amor, mesmo que em forma de esforço.
A questão 204 do livro O Consolador de Emmanuel/Chico Xavier nos fala a respeito da razão e do sentimento
204 –A alma humana poder-se-á elevar para Deus, tão-somente com o progresso
mora, sem os valores intelectivos?
O sentimento e a sabedoria são as duas asas com que a alma se elevará para a
perfeição infinita.
No círculo acanhado do orbe terrestre, ambos são classificados como adiantamento moral e adiantamento intelectual, mas, como estamos examinando os valores propriamente do mundo, em particular, devemos reconhecer que ambos são imprescindíveis ao progresso, sendo justo, porém, considerar a superioridade do primeiro sobre o segundo, porquanto a parte intelectual sem a moral pode oferecer numerosas perspectivas de queda, na
repetição das experiências, enquanto que o avanço moral jamais será excessivo, representando o núcleo mais importante das energias evolutivas.
Na questão 199 , do mesmo livro O consolador, temos:
199 –Poderá a Razão dispensar a Fé?
-A razão humana é ainda muito frágil e não poderá dispensar a cooperação da fé que a ilumina, para a solução dos grandes e sagrados problemas da vida.
Em virtude da separação de ambas, nas estradas da vida, é que observamos o homem terrestre no desfiladeiro terrível da miséria e da destruição.
Pela insânia da razão, sem a luz divina da fé, a força faz as suas derradeiras tentativas para assenhorear-se de todas as conquistas do mundo.
Joanna de Angelis no livro As leis Morais da Vida diz:
“O trilho estreito que obriga a locomotiva à obediência salva-a de desastres lamentáveis.”
Boa Nova – Comunhão com Deus
— Mestre — disse ele, solícito —, tenho desejado sinceramente compreender os meus deveres atinentes à oração, mas sinto que minha alma está tomada de certas hesitações. Anseio por esta comunhão perene com o Pai; todavia, as idéias mais antagônicas se opõem aos meus desejos. Ainda agora, manifestando meu pensamento, acerca de minhas
necessidades espirituais, a um amigo que se instrui com os essênios, asseverou-me ele que necessito compreender que toda edificação espiritual se deve processar num plano oculto. Mas, suas observações me confundiram ainda mais. Como poderei entender isso? Devo, então, ocultar o que haja de mais santo em meu coração? O Messias, arrancado de suas meditações, respondeu com brandura:
— João, todas as dúvidas que te assaltam se verificam pelo motivo de não haveres compreendido, até agora, que cada criatura tem um santuário no próprio espírito, onde a sabedoria e o amor de Deus se manifestam, através das vozes da consciência. Os essênios levam muito longe a teoria do labor oculto, pois, antes de tudo, precisamos considerar que a verdade e o bem devem ser patrimônio de toda a Humanidade em comum. No entanto, o que é indispensável é saber dar a cada criatura, de acordo com as suas necessidades próprias. Nesse ponto, estão muito certos quanto ao zelo que os caracteriza, porque os unguentos reservados a um ferido não se ofertam ao faminto que precisa de pão. Também eu tenho afirmado que não poderei ensinar tudo o que desejara aos meus discípulos, sendo compelido a reservar outras lições do Evangelho do Reino para o futuro, quando a magnanimidade divina permitir que a voz do Consolador se faça ouvir entre os homens sequiosos de conhecimento. Não tens observado o número de vezes em que necessito recorrer a parábolas para que a revelação não ofusque o entendimento geral? No que se refere à comunhão de nossas almas com Deus, não me esqueci de recomendar que
cada espírito ore no segredo do seu íntimo, no silêncio de suas esperanças e aspirações mais sagradas. É que cada criatura deve estabelecer o seu próprio caminho para mais alto, erguendo em si mesma o santuário divino da fé e da confiança, onde interprete sempre a vontade de Deus, com respeito ao seu destino. A comunhão da criatura com o Criador é, portanto, um imperativo da existência e a prece é o luminoso caminho entre o coração humano e o Pai de infinita bondade.
*
O apóstolo escutou as observações do Mestre, parecendo meditar austeramente. Entretanto, obtemperou:
— Mas, a oração deve ser louvor ou súplica?
Ao que Jesus respondeu com bondade:
Por prece devemos interpretar todo ato de relação entre o homem e Deus. Devido a isso mesmo, como expressão de agradecimento ou de rogativa, a oração é sempre um esforço da criatura em face da Providência Divina. Os que apenas suplicam podem ser ignorantes, os que louvam podem ser somente preguiçosos. Todo aquele, porém, que trabalha pelo
bem, com as suas mãos e com o seu pensamento, esse é o filho que aprendeu a orar, na exaltação ou na rogativa, porque em todas as circunstâncias será fiel a Deus, consciente de que a vontade do Pai é mais justa e sábia do que a sua própria.
— E como ser leal a Deus, na oração? — interrogou o apóstolo,evidenciando as suas dificuldades intelectuais. — A prece já não representa em si mesma um sinal de confiança? Jesus contemplou-o com a sua serenidade imperturbável e retrucou:
— Será que também tu não entendes? Não obstante a confiança expressa na oração e a fé tributada à providência superior, é preciso colocar acima delas a certeza de que os desígnios celestiais são mais sábios e misericordiosos do que o capricho próprio; é necessário que cada um se una ao Pai, comungando com a sua vontade generosa e justa, ainda que seja contrariado em determinadas ocasiões. Em suma, é imprescindível que sejamos de Deus. Quanto às lições dessa fidelidade, observemos a própria natureza, em suas manifestações mais simples. Dentro dela, agem as leis de Deus e devemos reconhecer que todas essas leis correspondem à sua amorosa sabedoria, constituindo-se suas servas
fiéis, rio trabalho universal. Já ouviste falar, alguma vez, que o Sol se afastou do céu, cansado da paisagem escura da Terra, alegando a necessidade de repousar? A pretexto de indispensável repouso, teriam as águas privado o globo de seus benefícios, em certos anos? Por desagradável que seja em suas características, a tempestade jamais deixou
de limpar as atmosferas. Apesar das lamentações dos que não suportam a umidade, a chuva não deixa de fecundar a terra! João, é preciso aprender com as leis da natureza a fidelidade a Deus! Quem as acompanha, no mundo, planta e colhe com abundância. Observar a lealdade para com o Pai é semear e atingir as mais formosas searas da alma no infinito. Vê,pois, que todo o problema da oração está em edificarmos o reino do céu
entre os sentimentos de nosso íntimo, compreendendo que os atributos divinos se encontram também em nós. O apóstolo guardou aqueles esclarecimentos, cheio de boa vontade no sentido de alcançar a sua perfeita compreensão.
Edificando o reino de Deus em nós mesmos estaremos em melhores condições em comunhão com Deus, para escutarmos e agirmos segundo Sua Vontade.
A questão 354 do livro O consolador, também nos fala da Fé.
354 –Poder-se-á definir o que é ter fé?
-Ter fé é guardar no coração a luminosa certeza em Deus, certeza que ultrapassou o âmbito da crença religiosa, fazendo o coração repousar numa energia constante de realização divina da personalidade.
Conseguir a fé é alcançar a possibilidade de não mais dizer “eu creio”, mas afirmar “eu sei”, com todos os valores da razão tocados pela luz do sentimento. Essa fé não pode estagnar em nenhuma circunstância da vida e sabe trabalhar sempre, intensificando a amplitude de sua iluminação, pela dor ou pela responsabilidade, pelo esforço e pelo dever cumprido.
Traduzindo a certeza na assistência de Deus, ela exprime a confiança que sabe enfrentar todas as lutas e problemas, com a luz divina no coração, e significa a humildade redentora que edifica no íntimo do espírito a disposição sincera do discípulo, relativamente ao “faça-se no escravo a vontade do Senhor”.
355 –Será fé acreditar sem raciocínio?
-Acreditar é uma expressão de crença, dentro da qual os legítimos valores da fé em si mesma. Admitir as afirmativas mais estranhas, sem um exame minucioso, é caminhar para o desfiladeiro do absurdo, onde os fantasmas dogmáticos conduzem as criaturas a todos os despautérios. Mas também interferir nos problemas essenciais da vida, sem que a razão esteja iluminada pelo sentimento, é buscar o mesmo declive onde os fantasmas impiedosos da negação conduzem as almas a muitos crimes.
No trecho do Evangelho sobre obediência e resignação, temos ainda a seguinte frase:
“O pusilânime não pode ser resignado, do mesmo modo que o orgulhoso e o egoísta não podem ser obedientes.” (ESSE- obediência e resignação)
Aquele que dá muito valor à sua própria vontade, não consegue resignar-se diante das contrariedades. Aquele que se acha mais importante que todos, maior que todos, não consegue conceber a ideia da obediência a quem quer que seja. E assim, colocando–se no centro da própria vida, e revoltando-se quando sua vontade não é feita, deixa o fardo das provas caírem.
Boa Nova – Maria de Magdala
O que verdadeiramente ama, porém, conhece a renúncia suprema a todos os bens do mundo e vive feliz, na sua senda de trabalhos para o difícil acesso às luzes da redenção.
O amor sincero não exige satisfações passageiras, que se extinguem no mundo com a primeira ilusão; trabalha sempre, sem amargura e sem ambição, com os júbilos do sacrifício. Só o amor que renuncia sabe caminhar para a vida suprema…
Maria o escutava, embevecida. Ansiosa por compreender inteiramente aqueles ensinos novos, interrogou atenciosamente:
— Só o amor pelo sacrifício poderá saciar a sede do coração? Jesus teve
um gesto afirmativo e continuou:
— Somente o sacrifício contém o divino mistério da vida. Viver bem é saber imolar-se. Acreditas que o mundo pudesse manter o equilíbrio próprio tão-só com os caprichos antagônicos e por vezes criminosos dos que se elevam à galeria dos triunfadores? Toda luz humana vem do coração experiente e brando dos que foram sacrificados. Um guerreiro coberto de louros ergue os seus gritos de vitória sobre os cadáveres que juncam o chão; mas, apenas os que tombaram fazem bastante silêncio, para que se ouça no mundo a mensagem de Deus. O primeiro pode fazer a experiência para um dia; os segundos constroem a estrada definitiva na eternidade.
No Livro Boa Nova – Humberto de Campos/ Chico Xavier – Bom Ânimo
“Em geral, os homens abusam desse ensejo precioso para anteporem a sua vontade imperfeita aos desígnios superiores, perturbando a própria marcha. Daí resultam as mais ásperas jornadas obrigatórias para retificação das faltas cometidas e muitas vezes infrutíferos labores. Em vista destas razões observamos que os viajores da Terra estão sempre desalentados. Na obcecação de sua vontade própria, ferem a fronte nas pedras da estrada, cerram os ouvidos à realidade espiritual, vendam os olhos com a sombra da rebeldia e passam em lágrimas, em desesperadas imprecações e amargurados gemidos, sem enxergarem a fonte cristalina, a estrela caridosa do céu, o perfume da flor, a palavra de um amigo, a claridade das experiências que Deus espalhou, para a sua jornada, em todos os aspectos do caminho.”
- Como obedecer? Obediência, e desobediência. Vontade e livre arbítrio. Lei de Deus, Reino de Deus. Exemplos de obediência. Não basta escutar, é preciso agir.
A respeito de escutar, para entender a qual obedecer temos algumas questões:
Temos o livre arbítrio, podemos e devemos decidir sobre nossas existências, plantando hoje para colhermos amanhã.
Mas Paulo já nos disse:
I Coríntios, 6,12 –Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas; mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas.
E como podemos então escolher, reconhecer o que me convém ou não me convém, aprender a obedecer? De que maneira? Com a oração e a educação de si mesmos. A oração nos aproxima e nos ajuda a ouvir a orientação dos nossos amigos espirituais. Temos as intuições, os pressentimentos, a oração, e principalmente a educação moral de nós mesmos, para que estejamos em condições de escutar as boas intuições e não as más.
Mas além de escutarmos, é preciso que tenhamos a força ativa de agir. Agir em nós mesmos, principalmente. Se ouvimos uma intuição, ou se somos orientados espiritualmente para agir dessa ou daquela forma, é preciso que mobilizemos nossas energias na direção da obediência. É preciso que estejamos resignados diante da intuição que ouvimos
Mundo de Provas e Expiações
Vivemos em mundo de provas e expiações. As provas são as dificuldades do caminho, que colocam em avaliação as condições reais que nós temos, quais serão as nossas decisões, as nossas reações diante de alguma situação. A prova não é algo só imposto, mas algo que podemos decidir a direção que vamos tomar diante de uma situação. Assim como um estudante é colocado diante de uma avaliação para responder a assuntos que já deveria saber, ter a resposta, se foi bom aluno. Mas isso só será evidenciado, de acordo com a resposta que ele der. Já a expiação é uma consequência direta de um erro passado, pelo qual devemos acertar as contas com a Vida. A expiação pode também servir de prova, de acordo com a maneira pela qual reagimos diante de um sofrimento imposto.
Exemplos de obediência
A Bíblia é cheia de exemplos de pessoas que sonharam, ouviram vozes e obedeceram. No antigo Testamentos como no Novo.
Desde Abraão que ia sacrificar a Isaac, por ter supostamente ouvido a Deus. (Será que foi a Deus, que ele ouviu?)
Moisés recebia orientações. Mas quantas vezes duvidou ou se enganou? Quando viu a sarça ardente e Deus o chamava ao trabalho, Moisés não aceitou de pronto. No início, não perguntou “Quem sou eu para ir ter com o faraó e tirar do Egito os israelitas?”. (êxodo 3,11) ou “Eles não me crerão e não me ouvirão, e vão dizer que o Senhor não me apareceu.” (êxodo, 4,1). E então Deus deu-lhe a vara que virava cobra. E Deus tornou sua mão leprosa e depois curada. E disse para que ele fosse, e que lhes mostrasse tudo isso. E Moisés disse “Ah, Senhor! Eu não tenho o dom da palavra; nunca o tive, nem mesmo depois que falastes ao vosso servo; tenho a boca e a língua pesadas”. Deus disse “Quem deu uma boca ao homem?” e Moisés, pela quarta vez, duvidou: “Ah, Senhor! Mandai quem quiserdes!” E então o Senhor irritou-se com Moisés: “Não tens Aarão, disse ele, teu irmão, o levita?”. E só então, Moisés começou a entender que deveria obedecer.
Zacarias foi visitado por um anjo que lhe avisou do nascimento de seu filho. Mas Zacarias respondeu “Donde terei certeza disto? Pois sou velho e minha mulher é de idade avançada?” E o anjo Gabriel disse que ele ficaria mudo até o nascimento de João.
Já Maria, independente da polêmica de como se deu a concepção de Jesus, de qualquer forma, o que surge de Maria, na Bíblia é a seguinte frase: “Faça-se em mim, segundo a tua palavra.”
Futuramente, já com Jesus pregador, algo que sempre me chamou a atenção, foi que Ele chamava os discípulos e estes o atendiam. Chamou Pedro e André que estavam pescando e no mesmo instante eles foram. Logo em seguida chamou Tiago e João, que estavam numa barca, eles deixaram o pai na barca e o seguiram. Levi estava sentado no posto de arrecadação, Jesus disse “Segue-me. E Levi, levantando-se , seguiu-o.”
No livro Boa Nova, no capítulo Primeiras Pregações, há um relato sobre essas passagens. A razão de terem atendido tão prontamente.
“A manhã era bela, no seu manto diáfano de radiosas neblinas. As águas transparentes vinham beijar os eloendros da praia, como se brincassem ao sopro das virações perfumadas da Natureza. Os pescadores entoavam uma cantiga rude e, dispondo inteligentemente as barcaças móveis, deitavam as redes, em meio de profunda alegria.
Jesus aproximou-se do grupo e, assim que dois deles desembarcaram em terra, falou-lhes com amizade:
— Simão e André, filhos de Jonas, venho da parte de Deus e vos convido a trabalhar pela instituição de seu reino na Terra!
André lembrou-se de já o ter visto, nas cercanias de Betsaida, e do que lhe haviam dito a seu respeito, enquanto que Simão, embora agradavelmente surpreendido, o contemplava, enleado. Mas, quase a um só tempo, dando expansão aos seus temperamentos acolhedores e sinceros, exclamaram respeitosamente:
— Sede bem-vindo!…
(…)
O Senhor esboçou um sorriso sereno e, como se adiasse com prazer as suas explicações para mais tarde, inquiriu generosamente:
— Quereis ser meus discípulos?
André e Simão se interrogaram a si mesmos, permutando sentimentos de admiração embevecida. Refletia Pedro: que homem seria aquele? Onde já lhe escutara o timbre carinhoso da voz íntima e familiar? Ambos os pescadores se esforçavam por dilatar o domínio de suas lembranças, de modo a encontrá-lo nas recordações mais queridas, Não sabiam, porém, como explicar aquela fonte de confiança e de amor que lhes brotava no
âmago do espírito e, sem hesitarem, sem uma sombra de dúvida, responderam simultaneamente:
— Senhor, seguiremos os teus passos.
(…) Entrou calmamente na coletoria e, avistando um funcionário culto, conhecido publicano da cidade, perguntou-lhe:
— Que fazes tu, Levi?
O interpelado fixou-o com surpresa; mas, seduzido pelo suave magnetismo de seu olhar, respondeu sem demora:
— Recolho os impostos do povo, devidos a Herodes.
— Queres vir comigo para recolher os bens do céu? — perguntou-lhe Jesus, com firmeza e doçura.
Levi, que seria mais tarde o apóstolo Mateus, sem que pudesse definir as santas emoções que lhe dominaram a alma, atendeu, comovido:
— Senhor, estou pronto!..
— Então, vamos — disse Jesus, abraçando-o.
Ou seja, assim compreendemos que não basta que procuremos ouvir, mas é necessário que estejamos sintonizados com o bem para que ouçamos o bem e para que isso nos fortaleça, nos dê a coragem e a certeza para agirmos, em obediência à vontade de Deus.
Pedis e não recebeis, porque pedis mal, com o fim de satisfazerdes vossas paixões. Tiago 4,3
— Senhor, tenho procurado, por todos os modos, manter inalterável a
minha comunhão com Deus, mas não tenho alcançado o objetivo de minhas súplicas.
— E que tens pedido a Deus? — interrogou o Mestre, sem se perturbar.
— Tenho implorado à sua bondade que aplaine os meus caminhos, com a solução de certos problemas materiais.
Jesus contemplou longamente o discípulo, como se examinasse a fragilidade dos elementos intelectuais de que podia dispor para a realização da obra evangélica. Contudo, evidenciando mais uma vez o seu profundo amor e boa vontade, esclareceu com brandura e convicção:
— Pedro, enquanto orares pedindo ao Pai a satisfação de teus desejos e caprichos, é possível que te retires da prece inquieto e desalentado. Mas, sempre que solicitares as bênçãos de Deus, a fim de compreenderes a sua vontade justa e sábia, a teu respeito, receberás pela oração os bens divinos do consolo e da paz.
Resignação
- Resignação O que é resignação. Exemplos de resignação. resignação e revolta. Resignação como força ativa de evolução.
O que é resignação?
É o consentimento do coração, do sentimento, como já vimos na citação do Evangelho Segundo o Espiritismo. É a outra asa, que junto com a obediência da razão, nos ajudará a alçar vôo.
Uma grande parcela de nossos erros, de nossas faltas cometidas está relacionada com a revolta com a vontade de Deus. A revolta é filha do orgulho. Do homem que crê que sua vontade está acima de tudo e de todos, não admitindo que nada o contrarie.
No livro Obras póstumas (O orgulho e o egoísmo) Allan Kardec.
“A principal dessas causas se liga, evidentemente, à falsa idéia que o homem faz de sua natureza, de seu passado e de seu futuro. Não sabendo de onde vem, se crê mais do que não o é; não sabendo para onde vai, concentra todo o seu pensamento sobre a vida terrestre; ele a vê tão agradável quanto possível; quer todas as satisfações, todos os gozos: é porque caminha, sem escrúpulos, sobre o seu vizinho, se este lhe faz obstáculo; mas, para isso, é necessário que ele domine; a igualdade daria a outros direitos que quer ter sozinho; a fraternidade lhe imporia sacrifícios que estariam em detrimento de seu bem-estar; a liberdade, ele a quer para si, e não a concede, aos outros, senão quando ela não leve nenhum prejuízo às suas prerrogativas. Tendo cada um as mesmas pretensões, disso resultam conflitos perpétuos, que fazem pagar bem caro alguns dos gozos que venham a se proporcionar. Que o homem se identifique com a vida futura, e a sua maneira de ver muda completamente, como a de um indivíduo que não deve permanecer senão poucas horas numa habitação má, e que sabe que, à sua saída, terá outra magnífica, para o resto de seus dias. A importância da vida presente, tão triste, tão curta, tão efêmera, se apaga diante do esplendor do futuro infinito que se abre diante dele. A conseqüência natural, lógica, dessa certeza, é a de sacrificar um presente fugidio a um futuro durável, ao passo que antes sacrificava tudo ao presente.
(…) A causa do orgulho está na crença que o homem tem de sua superioridade individual; e é aqui que se faz sentir ainda a influência da concentração do pensamento sobre a vida terrestre. No homem que nada vê diante dele, nada depois dele, nada acima dele, o sentimento da personalidade o arrebata, e o orgulho não tem nenhum contrapeso.
- 2. Exemplos de resignação. Resignação e revolta.
Assim como a obediência, todo o ensino cristão é cheio de exemplos de resignação
Leis morais da Vida Joana de Angelis
38
DIANTE DO DESTINO
(…)
Açodado por inspiração obsessiva ou compelido pela impulsividade malsã de companheiros aturdidos, a responsabilidade da decisão te pertence.
Não transfiras culpas, escudando-te no destino, ou no propelimento da natureza íntima, ou nos fatores circunstanciais.
Reencarnação é oportunidade de soerguimento e não de desaire ou queda.
Acumpliciamento com o mal é afinidade para com ele.
Sintonia com o bem é sede de amor e ânsia de felicidade.
A ascensão ou a queda será decorrência do teu livre arbítrio, desde que, em todo momento, o Senhor te faculta recursos excelentes com que podes discernir, optar e agir…
*
Em situação que te pareça aziaga, ao invés da deserção do dever, da revolta precipitada, do desvario, recolhe sensatez, prudência, amadurecendo intimamente e interiormente modificando-te.
Lição é o prêmio da vida, como a experiência representa aquisição preciosa do esforço pessoal, intransferível.
De forma alguma desistas de lutar, de tentar em esforço de reabilitação, de repetir a tarefa até lograr a vitória.
Só há fatalidade para o bem sendo as determinações de provação e expiação, capítulos e ensaios redentores para os equivocados que se demoram nas experiências primárias da evolução.
Uma frase que pode nos ajudar nesse estudo é a conhecida frase de Francisco de Assis: “ Senhor, ajuda-me a ter serenidade para aceitar as coisas que não posso mudar, coragem para mudar as que posso e sabedoria para perceber a diferença”
O que posso mudar? A mim mesmo, meu presente. O que não posso mudar? Os outros e o passado. Precisamos de coragem modificarmos a nós mesmos. para agir corretamente diante de uma prova, obedecendo aquela que seja a vontade de Deus e de serenidade para aceitar resignadamente aquilo que não temos como mudar. E precisamos de sabedoria para compreender a diferença. Para não insistirmos na mudança de uma situação que nos cabe apenas aceitar resignadamente. Para não aceitarmos resignadamente uma situação que deve ser modificada. Precisamos de sabedoria.
E precisamos de sabedoria também para compreendermos a quem estamos obedecendo.
A resignação e o Reino de Deus
Jesus sempre fala da edificação do Reino de Deus no coração dos homens. Na Bíblia, ou em vários outros livros, o termo Reino de Deus surge. No livro Boa nova, aparece diversas vezes;
(A Família Zebedeu) – E Jesus, como se aproveitasse o momento para esclarecer todos os
pontos em dúvida, continuou:
— O reino de Deus tem de ser fundado no coração das criaturas; o trabalho árduo é o meu gozo; o sofrimento o meu cálice; mas, o meu Espírito se ilumina da sagrada certeza da vitória.
— Então, Senhor — exclamou Zebedeu, respeitoso —, o vosso reino é o da paz e da resignação que os crentes de Elias esperavam!
Jesus com um sorriso de benignidade acrescentou:
— A paz da consciência pura e a resignação suprema à vontade de meu Pai são do meu reino; mas os homens costumam falar de uma paz que é ociosidade de espírito e de uma resignação que é vício do sentimento. Trago comigo as armas para que o homem combata os inimigos que lhe subjugam o coração e não descansarei enquanto não tocarmos o porto da vitória. Eis por que o meu cálice, agora, tem de transbordar de fel, que são os esforços ingentes que a obra reclama.
E, como se quisesse pormenorizar os esclarecimentos, prosseguiu:
— Há homens poderosos no mundo que morrem comodamente em seus palácios, sem nenhuma paz no coração, transpondo em desespero e com a noite na consciência os umbrais da eternidade; há lutadores que morrem na batalha de todos os momentos, muita vez vencidos e humilhados, guardando, porém, completa serenidade de espírito, porque, em todo o bom combate, repousaram o pensamento no seio amoroso de Deus. Outros há que aplaudem o mal, numa falsa atitude de tolerância, para lhe sofrer amanhã os efeitos destruidores. Os verdadeiros discípulos das verdades do céu, esses não aprovam o erro, nem exterminam os que os sustentam. Trabalham pelo bem, porque sabem que Deus também está trabalhando. O Pai não tolera o mal e o combate, por muito amar a seus filhos. Vê, pois, Zebedeu, que o nosso reino é de trabalho perseverante pelo bem real da Humanidade inteira.
Joana de Cusa (Boa Nova)
(…) A sabedoria celeste não extermina as paixões: transforma-as. Aquele que semeou o mundo de cadáveres desperta, às vezes, para Deus, apenas com uma lágrima. O Pai não impõe a reforma a seus filhos: esclarece-os no momento oportuno. Joana, o apostolado do Evangelho é o de colaboração com o céu, nos grandes princípios da redenção. Sê fiel a Deus, amando o teu companheiro do mundo, como se fora teu filho. Não percas tempo em discutir o que não seja razoável. Deus não trava contendas com as suas criaturas e trabalha em silêncio, por toda a Criação. Vai!… Esforça-te também no silêncio e, quando convocada ao esclarecimento, fala o verbo doce ou enérgico da salvação, segundo as circunstâncias! Volta ao lar e ama o teu companheiro como o material divino que o céu colocou em tuas mãos para que talhes uma obra de vida, sabedoria e amor!…
Joana de Cusa experimentava um brando alívio no coração. Enviando a Jesus um olhar de carinhoso agradecimento, ainda lhe ouviu as últimas palavras:
— Vai, filha!… Sê fiel!
*
Desde esse dia, memorável para a sua existência, a mulher de Cusa experimentou na alma a claridade constante de uma resignação sempre pronta ao bom trabalho e sempre ativa para a compreensão de Deus. Como se o ensinamento do Mestre estivesse agora gravado
indelevelmente em sua alma, considerou que, antes de ser esposa na Terra, já era filha daquele Pai que, do Céu, lhe conhecia a generosidade e os sacrifícios. Seu espírito divisou em todos os labores uma luz sagrada e oculta. Procurou esquecer todas as características inferiores do companheiro, para observar somente o que possuía ele de bom, desenvolvendo, nas menores oportunidades, o embrião vacilante de suas virtudes eternas. Mais tarde, o céu lhe enviou um filhinho, que veio duplicar os seus trabalhos; ela, porém, sem olvidar as recomendações de fidelidade que Jesus lhe havia feito, transformava suas dores num hino de triunfo silencioso em cada dia.
Vinha de Luz _ Emmanuel
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OBEDIÊNCIA CONSTRUTIVA
“E assim vos rogo eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados.” – Paulo. (EFÉSIOS, 4:1.)
Na leitura do Evangelho, é necessário fixar o pensamento nas lições divinas, para que lhes sorvamos o conteúdo de sabedoria. No versículo sob nossa atenção, reparamos em Paulo de Tarso o exemplo da suprema humildade, perante os desígnios da Providência.
Escrevendo aos Efésios, declara-se o apóstolo prisioneiro do Senhor. Aquele homem sábio e vigoroso, que se rendera a Jesus, incondicionalmente, às portas de Damasco, revela à comunidade cristã a sublime qualidade de sua fé. Não se afirma detento dos romanos, nem comenta a situação que resultava da intriga judaica. Não nomeia os algozes, nem se refere às sentinelas que o acompanham de perto. Não examina serviços prestados.
Não relaciona lamentações. Compreendendo que permanece a serviço do Cristo e cônscio dos deveres sagrados que lhe competem, dá-se por prisioneiro da Ordem Celestial e continua tranquilamente a própria missão. Simples frase demonstra-lhe a elevada concepção de obediência. Anotando-lhe a nobre atitude, conviria lembrar a nossa necessidade de conferir primazia à vontade de Jesus, em nossas experiências. Quando predominarem, nos quadros da evolução terrestre, os discípulos que se sentem administradores do Senhor, operários do Senhor e cooperadores do Senhor, a Terra alcançará expressiva posição no seio das esferas. Imitando o exemplo de Paulo, sejamos fiéis servidores do Cristo, em toda parte. Somente assim, abandonaremos a caverna da impulsividade primitiva, colocando-nos a caminho do mundo melhor.
No livro boa nova, Jesus cita as escolhas cristãs. Dizem que ser cristão traz muito sofrimento, mas não lhe falaram dos sofrimentos de quem escolhe não ser cristão? (Fidelidade a Deus, item 6 página 44)
Ou seja, todos vamos sofrer, mas aqueles que escolhem obedecer ao chamado do mundo, permanecerá na mesma condição, enquanto aquele que escolher o sofrimento cristão, evolui. Não há como não sofrer e um mundo de expiação e provas. A ideia de prazer é ilusão, e o primeiro passo para começarmos um processo de libertação é compreendermos e enxergarmos nossas ilusões.
Pensamento e vida Chico Xavier
DEVER O dever define a submissão que nos cabe a certos princípios estabelecidos como leis pela Sabedoria Divina, para o desenvolvimento de nossas faculdades. Para viver em segurança, ninguém desprezará a disciplina. Obedecem as partículas elementares no mundo atômico, obedece a constelação na glória da Imensidade. O homem viajará pelo firmamento, a longas distâncias do lar em que se lhe vincula o corpo físico; no entanto, não logrará fazê-lo sem obediência aos princípios que vigem para os movimentos da máquina que o transporta. Dessa forma, pode-se simbolizar o dever como sendo a faixa de ação no bem que o Supremo Senhor nos traça à responsabilidade, para a sustentação da ordem e da evolução em Sua Obra Divina, no encalço de nosso próprio aperfeiçoamento. Cada consciência bafejada pelo sol da razão será interpretada, assim, à conta de raio na esfera da vida, evolvendo da superfície para o centro, competindo-lhe a obrigação de respeitar e promover, facilitar e nutrir o bem comum, atitude espontânea que lhe valerá o auxilio natural de todos os que lhe recolhem a simpatia e a cooperação. Com semelhante atitude, cada espírito plasma os reflexos de si mesmo, por onde passa, abrindo-se aos reflexos das mentes mais elevadas que o impulsionam à contemplação de mais vastos horizontes do progresso e à adequada assimilação de mais altos valores da vida. Desse modo, pela execução do dever — região moral de serviço em que somos constantemente alertados pela consciência —, exteriorizamos a nossa melhor parte, recolhendo a melhor parte dos outros. Acontece, porém, que muitas vezes criamos perturbações na linha das atividades que o Senhor nos confia, e não apenas desconjuntamos a peça de nossa existência, como também colocamos em desordem muitas existências alheias, desajustando outras muitas peças na máquina do destino. Surge então para nós o inexorável constrangimento à luta maior, que podemos nomear como sendo o dever regeneração, pelo qual somos compelidos a produzir reflexos inteiramente renovadores de nossa individualidade, à frente daqueles que se fizeram credores das nossas quotas de sacrifício. É dessa maneira que recebemos, por imposição das circunstâncias, a esposa incompreensiva, o esposo atrabiliário, o filho doente, o chefe agressivo, o subalterno infeliz, a moléstia pertinaz ou a tarefa compulsória a beneficio dos outros, como gleba espiritual para esforço intensivo na recuperação de nós mesmos. E por esse motivo que de nada vale desertar do campo de duras obrigações em que nos vejamos sitiados, por força dos acontecimentos naturais do caminho, de vez que na intimidade da consciência, ainda mesmo que a apreciação alheia nos liberte desse ou daquele imposto de devotamento e renúncia, ordena a razão estejamos de sentinela na obra de paciência e de tolerância, de humildade e de amor, que fomos chamados intimamente a atender; sem isso, não obstante a aparência legal de nosso afastamento da luta, somos invencivelmente onerados por ocultas sensações de desgosto ante 38 as nossas próprias fraquezas, que, começando por ligeiras irritações e pequeninos desalentos, acabam matriculando-nos o espírito nos institutos da enfermidade ou na vala da frustração.
Tendo obedecido ou não, nos chegarão situações, consequências de nossas decisões, que poderão ser para nós, motivo de sofrimento. As expiações. E dependendo da maneira que passarmos por nossas expiações, poderemos sair dela mais evoluídos, mais próximos de deus, ou não.
Assim, quando expiamos nossas faltas, passando pelos sofrimentos necessários, se não ajustarmos nossos corações àquela que seja a orientação divina, ou ajuste ao equilíbrio da Lei de Deus, então estaremos apenas expiando, apenas sofrendo, mas não evoluindo. E o objetivo de Deus não é o nosso sofrimento, mas a nossa educação para que retornemos ao objetivo de equilíbrio da vida. Resgatas mas não evoluis.
Muito nos é falado do reino de Deus que deve ser edificado em nossos corações. Todo o evangelho nos fala do reino de Deus, e nos lembra de que esse reino não ocorre fora de nós, mas dentro. Que é o encontro de cada um de nós com sua fagulha divina e sua integração nas leis divinas.
Vamos lembrar que resignação é o consentimento do coração. Diante de
Joanna de Angelis livro As leis morais da vida
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HEROÍSMO DA RESIGNAÇÃO
O imediatismo dos interesses apaixonados confunde-a com demência ou tem-na em conta de deficiência de forças para poder investir violentamente contra as circunstâncias.
Não falta quem se rebele contra os seus necessários impositivos.
Taxam-na de covardia moral.
Crêem-na ultrapassada, nos dias voluptuosos do tecnicismo moderno.
Todavia, a resignação é bênção lenificadora, quando a vida responde em dor e sombra, infortúnio e dificuldade aos apelos do homem.
Alternativa redentora, que somente os bravos só conseguem impor, reforça os valores espirituais para as lutas mais ingentes da inteligência e do sentimento.
Não deflui de uma atitude de medo, porquanto isto seria receio injustificado ante as Leis Superiores, mas resulta de morigerada e lúcida reflexão que favorece o perfeito entendimento das imposições evolutivas.
O conhecimento dos fatores causais dos sofrimentos premia o homem com a tranquila responsabilidade que assume, em relação aos gravames que os motivaram.
*
Quiçá a resignação exija mais força dinâmica da coragem para submeter-se, do que requereria a reação rebelada da violência.
Entrementes, a atitude resignada não significa parasitismo nem desinteresse pela luta. Ao contrário, enseja fecundo labor ativo de reconstrução interior, fixação de propósitos salutares em programa eficaz de enobrecimento.
*
Ceder, agora, a fim de conseguir mais tarde.
Aguardar o momento oportuno, de modo a favorecer-se com melhores resultados.
Reagir pela paciência e mediante a confiança imbatível em Deus, apesar do quanto conspire, aparentemente contra.
Crer sem desfalecimento, embora as aparências aziagas.
Porfiar no serviço edificante sem engendrar técnicas da astúcia permissiva, quando tudo se apresenta em oposição.
Manter-se na alegria, não obstante sofrendo ou incompreendido, abandonado ou vencido, expressa os triunfos da resignação no homem consciente dos objetivos reais da existência na Terra.
*
O metal em altas temperaturas funde-se.
O rio caudaloso na planície espalha-se.
A semente no solo adubado transforma-se.
O cristão ativo na constrição do testemunho resigna-se.
A própria reencarnação é um ato de submissão, quanto a desencarnação, desde que ocorrem à mercê da vontade do aprendiz que se deve resignar às exigências superiores da evolução.
Resignação, por conseguinte, é conquistada da não violência do espírito que supera paixões e impulsos vis, a fim de edificar-se e triunfar sobre si mesmo em consequência, sobre os fatores negativos que lhe obstaculam o avanço libertador.
- Obediência e desobediência as leis de Deus e lei de evolução O suicídio é maior crime, a maior desobediência cometida contra a lei de Deus. No evangelho segundo o espiritismo No capítulo ‘bem aventurados os aflitos’ temos o trecho relativo ao suicídio que diz:
O suicídio e a loucura
14. A calma e a resignação hauridas da maneira de considerar a vida
terrestre e da confiança no futuro dão ao espírito uma serenidade que é o melhor preservativo contra a loucura e o suicídio. Com efeito, é certo que a maioria dos casos de loucura se deve à comoção produzida pelas vicissitudes que o homem não tem a coragem de suportar. Ora, se encarando as coisas deste mundo da maneira por que o Espiritismo faz que ele as considere, o homem recebe com indiferença, mesmo com alegria, os reveses e as decepções que o houveram desesperado noutras circunstâncias, evidente se torna que essa força, que o coloca acima dos acontecimentos, lhe preserva de abalos a razão, os quais, se não fora isso, a conturbariam.
- 3. Obediência e Resignação como forças ativas de evolução.
O livro Memórias de um suicida nos mostra alguns caminhos utilizados para trazer os espíritos que tentaram fugir à lei de Deus, para o aprendizado da realidade espiritual.
Para isso, foi utilizado o seguinte percurso: estudo da moral de Jesus Cristo (evangelho), estudo da Ciência Universal, e estudo de si mesmos
“Que, por isso mesmo, iríamos também receber os rudimentos do Ensino Secreto, rudimentos, apenas, o bastante para nos fortalecermos para a eficácia da reparação que devíamos à Lei, pois éramos ainda muito frágeis, mentes traumatizadas pela violência do ato que exorbitara da Lei da Natureza, caracteres viciados pelo abuso de séculos e séculos submersos no demérito da materialidade!”
Memórias de um suicida
Acautela-te por isso mesmo, ó Homem! Sendo tu, por direitos de filiação, fadado à glória divina no seio da Eternidade, não poderás fugir aos serviços da evolução que é imprescindível faças, dos movimentos de ascensão próprios da tua natureza, a fim
de atingires a órbita de que descendes!… e, nesse longo trajeto que te será indispensável, quantas vezes infringires os dispositivos que determinam a harmoniosa escala da tua elevação, tantas sofrerás os efeitos da dissonância que criaste contrariando a Lei a que estás sujeito como criatura de um Ser Perfeito!… Cuida de ti enquanto é tempo!…
enquanto estás a caminho do trajeto normal, que te solicita apenas realizações benemerentes… Não vá a Dor visitar-te, obrigando-te a estágios penosos, por negligência tua no cumprimento do Dever, forçando-te a lixiviar a consciência, com reparações inapeláveis, a par daquelas realizações!… Aprende com teu Pai Altíssimo, que tão bem te prendou para a glória do Seu Reino, o amor e o respeito ao Bem, base inconfundível em que te deverás apoiar para atingires a magnífica vitória que és convidado a concretizar em honra de ti mesmo, felicidade que, por lei, é apanágio do teu Espírito imortal!… Trata, pois, de modelar teu caráter abrilhantando de virtudes essa alma que deverá refletir, em algum dia da Eternidade, a imagem e semelhança do seu Criador!
Trecho da ciência universal, evangelho e conhecimento de si mesmos
Assim foi que o respeitável ancião ministrou-nos o encantamento de presenciarmos o nascimento e progressão, lenta e esplendente, do próprio Globo Terrestre! O que superficialmente conhecíamos (permitam-me que assim me expresse ante a magnificência do que, então, me foi concedido apreciar) através dos códigos de Ciência terrestre, isto é, da Geologia, da Arqueologia, da Geografia, da Topografia, o ilustre instrutor levantou da dobagem dos milênios para nos ofertar como o presente descrito em cenas vivas, em atividades reais, como se houvéramos participado, com efeito, do nascimento e crescimento da generosa estância do sistema solar que um dia nos abrigaria, protegendo nossa ascensão para o Infinito, auxiliando-nos no aperfeiçoamento do germe divino que em nós outros, Homens, como nela própria, também palpita! Tudo presenciamos: a centelha em ebulição, as trevas do caos, os aguaceiros e dilúvios aterrorizantes, os grandes cataclismos para a formação dos oceanos e rios, o maravilhoso advento dos continentes como o nascimento das montanhas majestosas, cadeias graníticas eternas como o próprio globo, tão conhecidas e amadas por aqueles que na Terra têm feito ciclo de progresso: os Alpes sombranceiros quais monarcas poderosos desafiando as idades, os Pirineus graciosos, o Himalaia e o Tibet venerandos, a Mantiqueira sombria e majestosa, todos, em épocas diversas, surgiram do berço diante de nossos olhos deslumbrados, arrancando lágrimas de nossas almas, que se prosternavam, tímidas ante tanta grandeza, tanta beleza e majestade! Mas, antes disso, em prosseguimento feérico de maravilhas, a luta dos elementos furiosos para o crescimento do pequeno continente do céu, o oceano conflagrado em convulsões pavorosas, sacudindo o seio nascente do mundo imerso em solidão, o cataclismo dos ventos e tempestades a que nada poderá fornecer ao homem idéia aproximada… assim como os primeiros sinais de movimento e vida no leito imenso das águas convulsas, a vegetação, fabulosa e tétrica, no gigantesco volume das proporções… os dinossauros monstruosos, os lagartos de forma e força inconcebíveis à delicadeza corporal do Homem, os mastodontes, a Pré História!
Era um livro tenebroso, imenso, magnífico, Epopéia Divina da Criação, desferindo alguns poucos acordes da sua Imortal Sinfonia através do Infinito do Tempo, da Eternidade das Coisas! E nesse livro soletrávamos o a b c da Iniciação, gradativamente, pacientemente, às vezes empolgados até ao delírio; de outras, banhados em lágrimas até ao temor, mas sempre ávidos e encantados, ansiosos por mais conhecimentos, lamentando mais do que nunca nossas diminutas forças de suicidas, que nem a terça parte nos permitia entrever do programa excelso ofertado pela Natureza! Um desfile indescritível de períodos genesíacos patenteou-se à nossa observação, à análise elucidativa e sadia, durante o qual, diariamente, se radicava em nosso Espírito o respeito, a veneração por Aquele Ser Supremo e Criador a quem havíamos negado, de quem descrêramos pela dobadoura dos séculos, mas a quem agora rendíamos graças, apavorados e ínfimos que nos sentíamos frente à sua Grandeza, ao passo que também felicíssimos ao nos reconhecermos seus filhos, herdeiros da sua glória eterna!
“- Nenhuma tentativa para o reerguimento moral será eficiente se continuarmos presos à ignorância de nós mesmos! Será indispensável, primeiramente, averiguarmos quem somos, donde viemos e para onde iremos, a fim de que nos convençamos do valor da nossa própria personalidade e à sua elevação moral nos dediquemos, devotando a nós próprios toda a consideração e o máximo apreço. Até aqui, meus caros discípulos (ao contrário de Anibal, que nos mimoseava com o terno tratamento de irmão, Epaminondas só nos permitia a cerimônia de um trato disciplinar), tendes caminhado cegamente, pelas etapas das migrações na Terra e estágios no Astral, movimentando-vos em círculo vicioso, sem conhecimentos nem virtudes que vos induzissem a progresso satisfatório. Engolfados nos desejos impuros da matéria, passivos aos impulsos cegos das mais danosas paixões ou embrutecidos na canga obscura dos instintos, tendes ignorado, propositadamente, graças à má vontade, ou absorvidos por criminosa indiferença, que ao nosso ser o Todo Poderoso enalteceu com essências que Lhe são próprias, as quais nos é dever cultivar sob as bênçãos do progresso, até que floresçam e frutifiquem na plenitude da vitória para que fomos, por isso mesmo, destinados!…”
FORTALEZA (Vinha de luz)
“Sabendo que a tribulação produz fortaleza.” – Paulo. (ROMANOS, 5:3.)
Quereis fortaleza? Não vos esquiveis à tempestade.
Muita gente pretende robustecer-se ao preço de rogativas para evitar o serviço áspero. Chegada a preciosa oportunidade de testemunhar a fé, internam-se os crentes, de maneira geral, pelos caminhos largos da fuga, acreditando-se em segurança. Entretanto, mais dia menos dia, surge a ocasião dolorosa em que abrem falência de si mesmos.
Julgam-se, então, perseguidos e abandonados.
Semelhantes impressões, todavia, nascem da ausência de preparo interno.
Esquecem-se os imprevidentes de que a tempestade possui certas funções
regeneradoras e educativas que é imprescindível não menosprezar.
A tribulação é a tormenta das almas. Ninguém deveria olvidar-lhe os benefícios.
Quando a verdade brilhar, no caminho das criaturas, ver-se-á que obstáculos e sofrimentos não representam espantalho para os homens, mas sim quadros preciosos de lições sublimes que os aprendizes sinceros nunca podem esquecer.
Que seria da criança sem a experiência? que será do espírito sem a necessidade?
Aflições, dificuldades e lutas são forças que compelem à dilatação de poder, ao alargamento de caminho.
É necessário que o homem, apesar das rajadas aparentemente destruidoras do destino, se conserve de pé, desassombradamente, marchando, firme, ao encontro dos sagrados objetivos da vida. Nova luz lhe felicitará, então, a esfera íntima, conduzindo-o, desde a Terra, à gloriosa ressurreição no plano espiritual.
Escutemos as palavras de Paulo e vivamo-las! Ai daqueles que se deitarem sob a tempestade! Os detritos projetados do monte pelas correntes do aguaceiro poderão sufocá-los, arrastando-os para o fundo do abismo.
Que em todos os tempos, quando estivermos em dúvida quanto ao caminho a seguir, a decisão a tomar, possamos abrir os nossos ouvidos à advertência e orientação de Deus. Que possamos pedir a Deus não que aplaine os nossos caminhos, mas que nos ajude a ter a fortaleza para lidar com qualquer coisa que nos aconteça ao redor. Para que assim venhamos a ter paulatinamente, império sobre nós mesmo, e edificando o Reino de Deus em nossos corações.
E se um dia a dúvida nos assaltar, que nos lembremos da frase do livro memórias de um suicida:
“Lembrai-vos outrossim de que Aquele que estabeleceu a sabedoria das leis que regem o Universo também vos saberá fortalecer para a vitória sobre vós mesmos!… “