Depressão: O preço da modernidade
A virada do milênio iniciou uma era da Melancolia, do mesmo modo como o século XX se tornou a era da Ansiedade. Dados internacionais mostram uma espécie de epidemia de depressão, que se espalha de mãos dadas com a adoção, em todo o mundo, de modos modernos. Desde o início do século XXI, cada nova geração tem vivido sob maior risco que aquela que a antecedeu de sofrer uma depressão grave – não a mera tristeza, mas uma paralisante apatia, desânimo e autopiedade – no transcorrer da vida. E esses episódios estão começando cada vez mais cedo. A depressão na infância, antes praticamente desconhecida, surge como um dado do panorama moderno.
Embora a probabilidade de ficar deprimido aumente com a idade, a maior incidência tem ocorrido com os jovens. Para os que nasceram após 1955, a probabilidade de sofrerem em algum momento da vida é, em muitos países três vezes maior que para seus avós. Entre americanos nascidos antes de 1905, o percentual dos que tiveram uma depressão grave em toda a vida foi apenas de 1%; para os nascidos após 1955, aos 24 anos cerca de 6% já tinham ficado deprimidos. Para os nascidos entre 1945 e 1954, a possibilidade de sofrer uma depressão grave antes dos 34 anos seria 10 vezes maior que para os nascidos entre 1905 e 1914. E para cada geração, o início do primeiro episódio de depressão tem tendido a ocorrer cada vez mais cedo.
Na infância, a depressão tem ocorrido numa idade cada vez menor, em qualquer parte do mundo. Quando pedi a especialistas que arriscassem um palpite sobre o motivo, surgiram várias hipóteses.
O Dr. Fraderick Goodwin, então diretor do Instituto Nacional de Saúde Mental Americano, especulou:
– Houve uma tremenda erosão da família nuclear: o dobro da taxa de divórcios, a redução do tempo que os pais têm para os filhos e o aumento da migração. Não somos mais educados conhecendo outros membros da família, além de pai e mãe. A perda dessas referências para a auto-identidade acarretam uma maior susceptibilidade a depressão.
O Dr. David Kupfer, presidende do conselho de psiquiatria da faculdade de Medicina de Pittsburgh, apontou para outra tendência:
– Um número cada vez maior de famílias, vem aumentando a indiferença dos pais pelas necessidades dos filhos enquanto eles crescem. Isso não é uma causa direta da depressão, mas cria uma vulnerabilidade que pode gerar efeitos décadas depois.
Já Martin Seligman, psicólogo da Universidade da Pensilvânia, sugeriu:
– Nos últimos 30 ou 40 anos, vimos o crescimento do individualismo e o desaparecimento das crenças maiores na religião e nos amparos da comunidade e da família maior. Isso importa numa perda dos recursos que podem nos proteger de reveses e fracassos. Na medida que encaramos um fracasso qualquer como uma coisa duradoura e o ampliamos de modo a atingir tudo em nossa vida, tendemos a deixar que uma derrota momentânea se torne uma fonte duradoura de desesperança. Mas se temos uma perspectiva maior, como a crença em Deus e numa outra vida e perdemos o emprego, é apenas uma derrota temporária.
Falando em depressão também não podemos deixar de falar em tratamento, pois como temos percebido nos últimos anos a Medicina “moderna” vem cada vez mais trabalhando estes casos como uma indústria trabalha suas linhas de montagem, para cada caso um remédio, esquecendo os médicos que os remédios tratam de sintomas, enquanto que o que devemos trabalhar consistentemente é o tratamento da causa, ou seja, o que levou a pessoa ao estado de depressão.
Um dos tratamentos mais potentes – e, diga-se um dos menos usados – antídotos para a depressão é ver as coisas de uma maneira diferente, ou como chamamos de contenção cognitiva. É natural lamentar o fim de um relacionamento e revolver-se e idéias de autopiedade, mas certamente tal atitude causa mais desespero. Contudo, recuar e pensar nos aspectos em que o relacionamento não era assim tão sensacional, e nas coisas em que os dois não combinavam – em outras palavras ver as perdas de um modo diferente, a uma luz mais positiva – funciona como um bálsamo para a tristeza. Do mesmo modo, pacientes de câncer, independente da gravidade da doença, ficavam com melhor estado de espírito quando eram capazes de se lembrar que havia outros pacientes piores do que eles (“Eu não estou tão mal assim, ao menos posso andar.”); já os que se comparavam aos mais saudáveis, eram os mais deprimidos.
Outro eficaz supressor da depressão é prestar ajuda a quem necessita. Como a depressão se nutre de ruminações e preocupações com o ego, ajudar aos outros nos tira dessas preocupações, na medida em que entramos em empatia com outras pessoas e seus próprios sofrimentos. Lançar-se no trabalho voluntário – ensinar algo de bom as pessoas, realizar trabalhos filantrópicos, dar ajuda as pessoas carentes – aparecia como um dos mais poderosos modificadores do estado de espírito neste estudo realizado com pessoas deprimidas, mas também não podemos deixar de citar que é um dos procedimentos mais raros a serem indicados pela medicina e quando feito, também tinha baixa aceitação pelo doente ou sua família.
Finalmente, outra maneira não menos eficaz de se combater a depressão, que tem se mostrado muito eficiente em fazer as pessoas saírem do estado de melancolia, voltando-se para um poder transcendente seria a PRECE. Quando se tem uma religião que nos faz acreditar num poder superior, funciona em todos estados de espírito, sobretudo a depressão.
(Artigo retirado do Livro: Inteligência Emocional Editora Objetiva– Autor: Daniel Goleman, ph.D.)